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Modalidades de Extinção de Obrigações

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1 Modos extraordinários de cumprimento da obrigação: extinção sem pagamento
Conforme definição de Caio Mário Pereira (2018), as formas de cumprimento da obrigação se dividem em três grupos: 1) pagamento; 2) pagamentos especiais; e 3) extinção das obrigações sem pagamento. Dando continuidade aos estudos do Título III do Livro I do Código Civil, intitulado “Do Adimplemento e Extinção das Obrigações”, analisar-se-ão as hipóteses de extinção das obrigações sem pagamento: novação (art. 360 a 367); compensação (art. 368 a 380); confusão (art. 381 a 384); e remissão (art. 385 a 388). Pontua-se, por fim, que estas modalidades de cumprimento da obrigação também são denominadas pela doutrina de “sucedâneos do pagamento”, pois produzem o mesmo efeito que este, ainda que não haja a satisfação do débito propriamente dito (GONÇALVES, 2019).
1.1 Novação
Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2019, p. 341), “novação é a criação de obrigação nova, para extinguir uma anterior. É a substituição de uma dívida por outra, extinguindo-se a primeira”. Ainda, de acordo com o referido autor (2019, p. 336),
a noção tem, pois, duplo conteúdo: um extintivo, referente à obrigação antiga; outro gerador, relativo à obrigação nova. O último aspecto é o mais relevante, pois a novação não extingue uma obrigação preexistente para criar outra nova, mas cria apenas uma nova relação obrigacional, para extinguir a anterior. Sua intenção é criar para extinguir.
Percebe-se assim que, ao contrário da dação, a novação vai além da mera substituição de uma dívida por outra. A novação cria uma nova obrigação visando extinguir uma obrigação anterior. Suas hipóteses estão previstas no artigo 360 do Código Civil, in verbis (BRASIL, 2002, on-line):
Dá-se a novação:
I - quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior;
II - quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o credor;
III - quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo, ficando o devedor quite com este.
Observando os incisos deste artigo, a doutrina consagra que existem três modalidades de novação. A primeira, tratada no inciso I, é a modalidade objetiva, em que se altera o objeto da prestação. A segunda modalidade é a subjetiva, na qual ocorre a substituição dos sujeitos da relação jurídica, com quitação do título (inciso II). Por fim, o inciso III apresenta a modalidade mista, em que se tem, simultaneamente, a nova obrigação - tanto a mudança de objeto quanto a substituição de sujeitos.
A novação possui quatro requisitos. Veja a seguir.
	Requisito 1
	
	Requisito 2
	
	Requisito 3
	
Por fim, tem-se o requisito do animus novandi, que nada mais é do que a presença de intenção de novar. Este requisito, previsto expressamente no artigo 361 do Código Civil, segundo Gonçalves (2019, p. 345), “é imprescindível que o credor tenha a intenção de novar, pois importa renúncia ao crédito e aos direitos acessórios que o acompanham”. O animus novandi deve ser certo, não podendo restar qualquer dúvida sobre ele para haver a novação. O animus novandi se materializar de forma expressa ou tácita, sendo que a forma tácita deve ser deduzida de conduta clara do agente, não podendo ser confundida com declaração presumida ou com o silêncio. Se houver qualquer dúvida quanto à existência da intenção de novar, entende-se que não há novação, pois esta não se presume (GONÇALVES, 2019).
Quanto aos efeitos da novação, o mais evidente trata-se da extinção do débito anterior, sendo que todos os demais efeitos decorrerão desta lógica. O artigo 364 do Código Civil dispõe que, salvo estipulação em sentido contrário, a novação extingue os acessórios e garantias na antiga dívida. Justamente por extinguir o débito anterior, a novação não atingirá terceiros que não fizerem parte dela, não aproveitando-se, assim, bens dados em garantia que pertençam a estes terceiros. Também é nesse sentido que o Código Civil previu expressamente a exoneração de fiador da novação, caso a novação tenha ocorrido sem seu consentimento expresso (art. 366, CC).
Por sua vez, o artigo 365 do Código Civil trata dos efeitos da novação na hipótese em que esta se operar entre credor e um dos devedores em uma obrigação com solidariedade passiva. Aqui, como a dívida anterior é extinta pela novação, a nova dívida não poderá vincular os devedores solidários do antigo débito (FARIAS; ROSENVALD, 2017). Assim como o artigo 365 supra analisado, os artigos 362 e 363 também trabalham com a novação por substituição de devedor, porém, de maneira ampla, indo além da hipótese de solidariedade passiva. O artigo 362 dispõe: “A novação por substituição do devedor pode ser efetuada independentemente de consentimento deste” (BRASIL, 2002, on-line). Por sua vez, o artigo 363 determina que, em caso de insolvência do novo devedor, não poderá o credor recorrer ao antigo devedor, a menos que a novação tenha ocorrido por má fé do substituído. 
Assista aí
1.2 Compensação
Compensação, outra modalidade de extinção sem pagamento, é o meio de cumprimento da obrigação entre pessoas que são, ao mesmo tempo, credor e devedor. Segundo Clóvis Bevilaqua (1957, p. 112), a compensação é “a extinção de obrigações recíprocas, que se pagam uma pela outra” (apud GONÇALVES, 2019, p. 354). Ainda, nas palavras do Código Civil, em seu artigo 368: “Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem” (BRASIL, 2002, on-line).
 A compensação visa eliminar a circulação inútil de moeda, pois evita o duplo pagamento. É a regularização eficaz entre credores recíprocos, que pode se dar de forma total (dívidas idênticas), ou parcial (dívidas de valores distintos) (GONÇALVES, 2019). Existem quatro modalidades de compensação. Veja abaixo as definições conforme, Farias e Rosenvald (2017).
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A compensação legal possui quatro requisitos essenciais para ocorrer:
1. 
 
2. 
 
3. 
 
4. 
Ainda, deve haver exigibilidade das prestações, o que significa que elas só poderão ser exigidas depois que as dívidas estiverem vencidas.
Previous
Em decorrência do requisito da reciprocidade de créditos, o Código Civil veta, em seu artigo 376, a compensação em caso de representante (legal ou convencional) que tente opor crédito de representado para compensar debito próprio (PEREIRA, 2018). 
O artigo 377 do Código Civil traz a mesma noção do artigo 294 do mesmo diploma, pois determina que a compensação, assim como as exceções, só pode ser oposta pelo devedor em caso de cessão de crédito quando este for notificado. O diploma legal aqui em tela apresenta hipóteses de dívidas não compensáveis em seus artigos 373, 375 e 380 (GONÇALVES, 2019). Primeiramente, o artigo 375 preconiza que, em caso de compensação convencional, as partes podem realizar exclusão bilateral, vetando, assim, a hipótese de compensação.
Por sua vez, o artigo 373 traz causas de exclusão legal. In verbis (BRASIL, 2002, on-line): 
Art. 373. A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto:
I - se provier de esbulho, furto ou roubo;
II - se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos;
III - se uma for de coisa não suscetível de penhora.
Por fim, o artigo 380 prevê que não é possível realizar compensação caso esta prejudique direito de terceiro. Também prevê que, tratando-se de penhora, caso o devedor tenha se tornado credor de seu credor depois de ter ocorrido a penhora, a compensação não poderá ser utilizada contra o credor. Apesar do requisito da reciprocidade de créditos, o Código Civil prevê uma exceção a esta regra: o caso do fiador, conforme redação do artigo 371. Este pode realizar compensação de sua dívida de fiança com aquela que o credor tiver com sujeito afiançado. Pontua-se que, quanto ao local de pagamento de dívidas na compensação, deve-se deduzir as custas com despesas necessárias à operação (art. 378, CC). Finalmente, destaca-se que no caso de múltiplas dívidas compensáveis, o Código Civil determinou a aplicação das regras da imputação de pagamento à compensação (art.379, CC). 
1.3 Confusão
A confusão encontra-se prevista no artigo 381 do Código Civil. Esta modalidade de extinção da obrigação ocorre quando, em uma mesma pessoa, encontram-se qualidades de credor e de devedor, simultaneamente. Neste caso, a obrigação se extingue não por haver satisfação do débito, mas em razão de ninguém poder ser obrigado para consigo mesmo. Então, não há extinção da dívida, mas sim em razão da esfera subjetiva da obrigação, ou seja, da mistura entre sujeito ativo e passivo (FARIAS; ROSENVALD, 2017).
O artigo 384 do Código Civil prevê que “cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a obrigação anterior” (BRASIL, 2002). À primeira vista, pode parecer que, então, a confusão não extingue a obrigação, afinal, esta pode ser restaurada. Contudo, Pereira esclarece que é necessário fazer uma compatibilização entre este artigo e o artigo 381 supra citado. Primeiramente, esclarece-se que existem dois tipos de confusão: a temporária e a e definitiva. Ambas estão, diretamente, ligadas à perdura da confusão, ou seja, enquanto esta existir, há extinção. Neste sentido, caso a confusão cesse (confusão temporária), pode ocorrer a restauração da obrigação de modo retroativo (PEREIRA, 2018). A confusão pode ser total, ou parcial (art. 382, CC). Ainda, pode se dar por ato inter vivos (casamento em regime de comunhão universal de bens, por exemplo), ou por causa mortis, sendo o caso mais comum o da herança. 
Um herdeiro torna-se devedor e credor do falecido. Em ambos os casos, a confusão não exige manifestação de vontade. O vínculo se extingue automaticamente pela simples verificação do pressuposto, qual seja, o acúmulo do papel de credor e devedor em um dado sujeito (GONÇALVES, 2019).
Finalmente, pontua-se que, conforme redação do artigo 383 do Código Civil, tratando-se de hipótese de solidariedade passiva, “A confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a solidariedade” (BRASIL, 2002). 
1.4 Remissão de dívidas
A remissão nada mais é que o perdão da dívida, conforme artigo 385 do Código Civil, que preceitua: “A remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro”. O sujeito ativo abre mão de seu poder de cobrar prestação do respectivo devedor, seja de forma total, parcial, tácita ou presumida. O artigo 386 traz o requisito da remissão, que nada mais é que a capacidade do credor de alienar e a capacidade do remitido de adquirir. Também é necessário que o devedor aceite a remissão de forma expressa ou tácita.
Mister destacar, também, a previsão apresentada pelo artigo 388 do Código Civil, que trata da remissão em caso de solidariedade de devedores. É uma mera repetição do artigo 277 do mesmo diploma, reafirmando-se que tanto a solidariedade quanto o débito subsistem para os demais codevedores, deduzindo-se o valor devido pelo devedor remitido (GONÇALVES, 2019).
Remissão e renúncia de dívidas não são sinônimos. A remissão é um ato bilateral, espécie do gênero “renúncia” e necessita de aceite do devedor. A renúncia, em geral, ocorre unilateralmente. A remissão só se aplica aos direitos creditórios. A renúncia se utiliza amplamente, até mesmo para direitos de natureza não patrimonial (GONÇALVES, 2019).
2 Adimplemento substancial
Conforme estudado anteriormente, o princípio da pontualidade trata da exigência que a prestação da obrigação seja cumprida em tempo, no momento ajustado, de forma integral, no lugar e modo devidos. Todavia, tal princípio comporta exceção, como é o caso do adimplemento substancial. Portanto, analisar-se-á este.
2.1 Conceito e consequências
O adimplemento substancial, também chamado de inadimplemento mínimo, ocorre em casos em que o devedor não cumpre a obrigação em sua integralidade, mas seu inadimplemento é mínimo, a ponto que o credor é obrigado a aceitar a prestação conforme paga, sob pena de incidir em abuso de direito (FARIAS; ROSENVALD, 2017). Nas palavras de Clóvis do Couto e Silva (1997, p. 45, apud Farias e Rosenvald, 2017, p. 443), o adimplemento substancial trata-se de um “adimplemento tão próximo do resultado final que, tendo-se em vista a conduta das partes, exclui-se o direito de resolução, permitindo-se tão somente o pedido de indenização”.
Como principal consequência da aplicação da Teoria do Adimplemento Substancial, primeiramente tem-se a manutenção da relação contratual, pois, não configurando-se inadimplemento, não há que se falar em resolução contratual por esta razão. Todavia, como a obrigação não foi cumprida em sua integralidade, abre-se possibilidade de perdas e danos (BECKER, 1993). No mesmo sentido é o Enunciado 371 do Conselho de Justiça Federal, que definiu: “A mora do segurado, sendo de escassa importância, não autoriza a resolução do contrato, por atentar ao princípio da boa-fé objetiva” (BRASIL, CJF, IV Jornada de Direito Civil).
2.2 Adequação da cláusula penal e poder discricionário do juiz
A cláusula penal, segundo Carlos Gonçalves (2019, p. 424), é “obrigação acessória, pela qual se estipula pena ou multa destinada a evitar o inadimplemento da principal, ou o retardamento de seu cumprimento”. Ainda segundo o douto doutrinador, o valor da cláusula penal tem como limite o valor da obrigação principal (art. 412, CC), contudo, o juiz possui certa margem de discricionariedade pare reduzir o valor da cláusula em razão de excesso, conforme o caso concreto. Nas palavras de Farias e Rosenvald, tratando do adimplemento substancial (2017, p. 565):
Podemos conceber uma alteração de paradigma, vazada da impossibilidade de dar-se eficácia a uma cláusula resolutória expressa, sem que o Poder Judiciário possa avaliar o grau de sacrifício das partes, em cotejo ao que já foi objeto de cumprimento e à parcela restante. Não podemos mais cogitar de direitos absolutos ou da parêmia ‘tudo que não é proibido é permitido’. A relativização de direitos subjetivos ou potestativos é uma forma de acomodação das pretensões patrimoniais individuais ao respeito aos direitos da personalidade da contraparte.
O adimplemento substancial é uma construção jurisprudencial e doutrinária, assim, observa-se que os tribunais brasileiros tem decidido, por vezes, no caso de adimplemento substancial, em afastar a aplicação da cláusula penal. Nesse sentido, observa-se a ementa das seguintes decisões:
AGRAVO REGIMENTAL CONHECIDO COMO AGRAVO INTERNO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE CIVIL. EXECUÇÃO DE ACORDO. ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. CLÁUSULA PENAL. AFASTAMENTO
Verificado nos autos o adimplemento substancial do acordo, a pretensão de pagamento de valores oriundos da cláusula por inadimplemento deve ser rechaçada. Ausência de razoabilidade ou boa-fé. Conhecido o recurso como agravo interno e, no mérito, desprovido. Unânime.
(Agravo Regimental nº 70055367569, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Relator: Iris Helena Medeiro Nogueira. Julgado em 14. Ago. 2013.) (grifos nossos)
JUIZADO ESPECIAL. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. CLÁUSULA PENAL COMPENSATÓRIA. NÃO CABIMENTO. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. NÃO OCORRÊNCIA.
1. A parte ré/recorrida teve acesso a todos os documentos juntados pela autora/recorrente e não houve qualquer impugnação tempestiva dos mesmos, restando preclusa a alegação de falsidade documental. 2. A controvérsia cinge-se à discussão quanto à incidência de multa contratual por suposto inadimplemento ou descumprimento das cláusulas contratuais. 3. Prescreve a cláusula oitava, parágrafo segundo, do contrato de prestação de serviços (ID 9298742 – p.3) que o contrato fica rescindido em caso inadimplência ou do não cumprimento de quaisquer de suas cláusulas e condições, ficando a parte infratora sujeita à penalidade de 20% do valor total do contrato. 4. No caso, restou incontroversa a execução de 90% do contrato por parte da autora/recorrente, ou seja, houve seu adimplemento substancial, que corresponde ao cumprimento do contrato e enseja a condenaçãodo réu/recorrido ao pagamento do valor total pactuado. Desse modo, em face da mora do Recorrido, em realizar o pagamento, o valor faltante deverá ser corrigido monetariamente, desde a data em que deveria ter sido pago, e acrescido de juros de mora, desde a citação. A cláusula penal compensatória não incide, na hipótese, pois não houve a rescisão do contrato. Em contrapartida, consoante bem salientado na r. sentença, os hidrômetros deverão ser disponibilizados ao recorrido, para evitar-se o enriquecimento sem causa, vedado pelo ordenamento jurídico (...)
(TJ-DF 07023078720198070020 DF 0702307-87.2019.8.07.0020. Relator: Soníria Rocha Campos D’Assunção. Data de julgamento: 08. Ago. 2019. Primeira turma recursal. Data de publicação - Publicado no DJE: 14. Ago. 2019.) (grifos nossos)
3 Enriquecimento sem causa e pagamento indevido
O enriquecimento sem causa e o pagamento indevido estão previstos no Código Civil, em seus artigos 876 a 886. Tais temas foram brevemente tratados na Unidade I, dentro do escopo dos Atos Unilaterais. Aqui, serão tratados de modo mais aprofundado, com especial atenção aos dispositivos do referido diploma legal.
3.1 Enriquecimento sem causa
O enriquecimento sem causa é definido pelo Código Civil em seu artigo 884, caput, in verbis: “Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários.” Em outras palavras, enriquecimento sem causa é aquele que se dá à custa de outrem, através de vantagem patrimonial sem fundamento em fato jurídico. Para se caracterizar, deve haver diminuição patrimonial do prejudicado e enriquecimento patrimonial de outrem. Trata-se de um instituto que visa a proteção do patrimônio (PEREIRA, 2018).
O enriquecimento sem causa, conforme depreende-se da redação do artigo 884 do Código Civil, pode se dar muito além das obrigações pecuniárias. Conforme parágrafo único do referido dispositivo, tratando-se de obrigação de dar coisa certa, deve haver restituição do objeto e caso isso não seja possível, deve-se restituir valor equivalente. Aqui, mister destacar que a restituição por enriquecimento sem causa tem caráter subsidiário, só sendo utilizada caso não existam outros meios para ressarcir o prejuízo sofrido (art. 886, CC).
3.2 Pagamento indevido
Segundo Caio Mário Pereira (2018), o pagamento indevido trata-se de modalidade específica de enriquecimento sem causa, pois ocorre um acréscimo indevido no patrimônio de outrem. Trata-se da hipótese em que um terceiro recebe o que não lhe era direito, nascendo para este a obrigação de restituir a coisa (art. 876, CC). Aqui, quem pagou indevidamente a este terceiro deve provar que o fez por erro (art. 887, CC). O pagamento indevido cria para quem o recebe um enriquecimento sem causa e ainda cria para o devedor que pagou indevidamente uma repetição de indébito. Aqui, esclarece-se que o termo “repetição”, utilizado pelo Código Civil, nada mais é do que justamente a devolução de valor recebido indevidamente (PEREIRA, 2018).
O artigo 878 do Código Civil trata da hipótese em que o terceiro recebeu a coisa indevida de boa-fé, onde aplicar-se-á o disposto no referido diploma legal sobre o possuidor de boa-fé e má-fé. Assim, caso esteja em boa-fé, terá direito a ficar com os frutos e benfeitorias e deteriorações que realizar na coisa. Se estiver em má-fé, terá que devolver tudo que recebeu, sem direito a indenizações (arts. 1214 a 1220, CC). Por sua vez, o artigo 879 também trata da hipótese de recebimento de coisa indevida em boa-fé, mas nesse caso, especificamente do caso de bem imóvel. Caso o imóvel seja alienado, basta que quem havia recebido o imóvel indevidamente restitua a quantia recebida pela alienação. Todavia, caso haja má-fé, além de restituir pelo que recebeu, arcará com perdas e danos. Por sua vez, o parágrafo único trata do caso de alienação de imóvel por doação, onde caberá direito de reivindicação contra quem alienou o imóvel de má-fé.
Ainda quanto a boa-fé, o artigo 880 determina hipótese em que quem recebeu pagamento indevidamente fica isento do dever de restituir: “Fica isento de restituir pagamento indevido aquele que, recebendo-o como parte de dívida verdadeira, inutilizou o título, deixou prescrever a pretensão ou abriu mão das garantias que asseguravam seu direito; mas aquele que pagou dispõe de ação regressiva contra o verdadeiro devedor e seu fiador.” (BRASIL, 2002, on-line). O artigo 881 trata da hipótese do pagamento recebido indevidamente tratar-se de prestação de obrigação de fazer ou não fazer, onde caberá indenização por lucro obtido.
Finalmente, os artigos 882 e 883 tratam de hipóteses onde não ocorrerá a repetição de indébito. O artigo 882 preconiza: “Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir obrigação judicialmente inexigível.” (BRASIL, 2002, on-line) Por sua vez, o artigo 883 determina que não há que se falar em direito à repetição caso quem pagou indevidamente o tenha feito para obter fim ilícito, imoral ou proibido em lei. Neste caso, inclusive, o pagamento indevido poderá ser revertido em favor de estabelecimento local de beneficência.
4 Preferências e privilégios creditícios
As preferencias e privilégios creditícios encontram embasamento na noção de responsabilidade patrimonial, que determina a disponibilidade do patrimônio de devedor para seus credores, não respondendo este pessoalmente (PEREIRA, 2018). 
4.1 Par conditio creditorum e a insolvência do devedor
Há insolvência do credor quando a dívida excede o valor de seu patrimônio (art. 955,CC) e é justamente quando esta ocorre que deve-se analisar como ocorrerá o pagamento dos credores múltiplos do devedor (PEREIRA, 2018). O artigo 957 do Código Civil preconiza o princípio da igualdade entre credores, chamado pela doutrina de par conditio creditorum. Tendo este princípio em vista, os artigos 955 a 965 tratam de organização de como deve se proceder em caso de insolvência, estabelecendo regras gerais de preferência e privilégios creditícios.
5 Inadimplemento das obrigações
A análise do inadimplemento trata-se de um estudo voltado para a patologia do direito das obrigações, pois há um foco nas condutas das partes que agem em desconformidade com o que era esperado delas (DINIZ, 2007). O inadimplemento das obrigações encontra-se previsto no Código Civil, no Título IV da Parte Especial, artigos 389 a 420. Nesse sentido, estuda-se aqui a teoria geral do inadimplemento, as principais es deste (inadimplemento absoluto, relativo, total, parcial e violação positiva da obrigação), além de suas principais sanções e consequências, quais sejam, a mora (arts. 394 a 401), perdas e danos (arts. 402 a 405), juros legais (arts. 406 e 407), cláusula penal (arts. 408 a 416) e arras ou sinal (arts. 417 a 420). 
Assista aí
5.1 Teoria geral do inadimplemento e espécies de inadimplemento
Segundo Pereira (2018), inadimplemento da obrigação nada mais é que a falta da prestação devida. Em qualquer obrigação, há o direito do credor de receber e, consequentemente, há submissão do devedor a este direito. Nesse sentido, quando ocorre o inadimplemento, existem duas consequências possíveis: 1) em caso de culpa do devedor pelo não cumprimento, caberá o credor exercer seu direito sobre o patrimônio do devedor; ou 2) em caso de ausência de culpa do devedor pelo não cumprimento, quando este é inimputável pelo inadimplemento, ocorre a mera extinção da obrigação. Ainda, conforme Gonçalves (2019), a primeira consequência supra apontável é denominada inadimplemento culposo (art. 389 e 391, CC), enquanto a segunda é chamada de inadimplemento fortuito da obrigação (art. 393, CC). O inadimplemento da obrigação pode ser absoluto ou relativo.
Inadimplemento absoluto
Inadimplemento relativo
Aqui, faz-se mister ressaltar que a doutrina moderna compreende que o inadimplemento pode ocorrer para além da esfera da prestação devida, entendendo-se que pode haver inadimplemento no caso de descumprimento dos interesses envolvidos na obrigação. Trata-se da violaçãopositiva da obrigação (FARIAS; ROSENVALD, 2017). Assim, nota-se que pode ocorrer inadimplemento ainda que não seja caso de inadimplemento absoluto ou relativo. A chamada violação positiva da obrigação ocorre quando o sujeito ofende a boa-fé objetiva, descumprimento com deveres anexos da prestação e, consequentemente, inadimplindo (GONÇALVES, 2019).
Nesse sentido, é a o entendimento do Enunciado nº 24 da I Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal (2013), que preconiza: “Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa.. Do exposto, compreende-se a violação positiva da obrigação como um alargamento do conceito de inadimplemento. A obrigação não objetiva apenas o cumprimento da obrigação, mas também o respeito aos deveres anexos, que integram os interesses contratuais das partes. Nesse sentido, Farias e Rosenvald (2017, p. 586 e 587) definem que deveres anexos “alcançam todos os interesses conexos à execução do contrato. Excluem-se de seu âmbito todos aqueles deveres que não possam ser relacionados como necessários à realização da prestação.”
O respeito aos deveres de proteção, informação e cooperação integram os deveres anexos. Para identificar a violação positiva da obrigação, a doutrina ressalta (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 588):
A violação positiva do contrato como rompimento da relação de confiança que conecta as partes, mesmo que não atrelada aos deveres de prestação, deverá ser identificada em seus efeitos patrimoniais com o inadimplemento, para que dela se possa extrair o direito da parte ofendida à resolução do vínculo obrigacional, ou mesmo, à oposição da exceptio non adimplenti, inclusive com todas as consequências da responsabilidade civil, sobremaneira o dever de indenizar em prol do lesado.
Para diferenciar o inadimplemento absoluto do relativo (mora), observa-se que existe o fato determinante do interesse do credor na prestação em mora, dependendo, assim, da análise do caso concreto. Nesse sentido, observa-se que a mora da prestação converte-se em inadimplemento absoluto a depender da utilidade para o credor (art. 395, parágrafo único, CC). 
Segundo Diniz (2007, p. 382), “a) haverá mora quando o credor ainda puder cumprir a obrigação, possibilitando ao credor receber a prestação que lhe interessa, e inadimplemento absoluto se não houver tal possibilidade, ou porque a coisa devida pereceu, ou porque se tornou inútil ao credor; b) a mora poderá ser purgada, o mesmo não acontecendo com o inadimplemento absoluto".
5.2 Culpa e o inadimplemento 
Observando as principais espécies de inadimplemento, evidente que a culpa se trata de conceito determinante para os efeitos do não cumprimento da obrigação. De acordo com Pereira (2018), o conceito de culpa, para o direito civil não se relaciona necessariamente com a consciência da violação de uma norma pelo sujeito, mas sim com a presença de dois fatores: o dever violado e a imputação do agente. Havendo culpa, haverá direito de reparação para o credor. Nesse sentido, é a redação do artigo 392: “Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei” (Brasil, 2002). O artigo 389 também tem a culpa como pressuposto para a aplicação das consequências para o inadimplemento nele listadas.
A culpa pode ser contratual ou extracontratual. Conheça-as a partir do recurso abaixo: 
· 
Culpa contratual
· 
Culpa extracontratual
Aquela que decorre de infração de cláusula ou disposição em contrato estabelecido entre as partes.
Ambas modalidades de culpa tem como consequência a obrigação de ressarcir o prejuízo causado, conforme artigos 389, 395 e 927 do Código Civil. Todavia, a principal diferença entre elas é que na culpa contratual, esta é presumida, diferentemente da extracontratual, onde deve haver demonstração que a culpa ocorreu (GONÇALVES, 2019). 
5.3 Inadimplemento fortuito da obrigação: inimputabilidade
Conforme previamente conceituado, em caso de ausência de culpa do devedor pelo não cumprimento, ocorre a mera extinção da obrigação, chamada pela doutrina de inadimplemento fortuito da obrigação. Segundo Gonçalves, as circunstâncias da inimputabilidade do devedor podem ser provocas por terceiro, pelo próprio credor ou em decorrência de caso fortuito ou força maior. Nas palavras do doutrinador (2019, p. 384):
[…] provocadas por terceiro (que inutilizou a coisa devida ou reteve ilicitamente o devedor em determinado local, p. ex.), pelo credor (que não posou para o pintor contratado para fazer o seu retrato), pelo próprio devedor, embora sem culpa dele (confundindo, justificadamente, a data do pagamento ou destruindo a coisa devida num acesso de loucura), bem como pode decorrer de caso fortuito e de força maior.
Ainda, de acordo com Gonçalves, a exoneração do devedor em decorrência de sua ausência de culpa tem como requisitos a presença de impossibilidade objetiva superveniente, inevitável e prévia à mora do devedor. 
5.4 Da mora
A mora encontra-se prevista no Código Civil em seus artigos 394 a 401. O artigo 394 preceitua que “Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer” (BRASIL, 2002, on-line). Nesse sentido, evidencia-se que a mora é “não só a inexecução culposa da obrigação, mas também a injusta recusa de recebe-la no tempo, no lugar e na forma devidos” (DINIZ, 2007, p. 382). Ainda, destaca-se que a mora vai muito além do aspecto temporal do cumprimento da obrigação, pois também leva em conta o lugar e a forma de adimplemento.
Existem três espécies de mora: 1) mora do devedor; 2) mora do credor; e a 3) mora de ambos os contratantes (DINIZ, 2007). O artigo 395, caput, preceitua as consequências da mora do devedor, trata, em resumo, da responsabilização do devedor por todos os prejuízos causados ao credor. In verbis: “Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado” (BRASIL, 2002, on-line). Por sua vez, ainda a respeito da mora do devedor, o artigo 399 do Código Civil preconiza a perpetuação da obrigação durante o período da mora. Assim, caso a prestação se torne impossível por caso fortuito ou força maior durante a mora do devedor, este responderá pela impossibilidade da prestação (inversão de risco gerada pela mora). O referido artigo ainda traz uma ressalva para esta responsabilização: caso o dano que causou a impossibilidade sobreviria ainda que não houvesse mora.
Conforme preceitua Diniz (2007), a mora do devedor manifesta-se sob dois aspectos. Primeiro, tem-se a mora ex re, que é aquela que ocorre em razão de fato previsto na lei. Aqui, o devedor incorre em mora sem necessidade de qualquer ação por parte do credor (art. 390; 397, caput e 398, CC). A segunda trata-se da mora ex persona, que é aquela em que há necessidade de interposição do credor para existir (art. 397, parágrafo único, CC). Veja abaixo os requisitos para que haja mora do devedor.
Mora 1
Mora 2
Mora 3
Ainda quando a mora do devedor, observa-se que esta também poderá nascer da prática de ato ilícito por parte deste (art. 398, CC). Passando-se para a análise da mora do credor, esta ocorre quando o credor “se recusa a receber o pagamento no tempo e lugar indicados no título constitutivo da obrigação, exigindo-o por forma diferente ou pretendendo que a obrigação se cumpra de modo diverso” (GONÇALVES, 2019, p. 399). Nesse sentindo, trata-se da ausência de cooperação do credor, prevista no artigo 394 do Código Civil. Ressalta-se que a mora do credor não exonera o devedor, sendo que este mantem seu legítimo interesse em solver a obrigação para livrar-se desta. 
Os requisitos da mora do credor são o vencimento da obrigação, a ofertada prestação (efetivo interesse do devedor em solver a dívida) e recusa injustificada em receber. Ainda, no caso específico da mora em obrigações sem termo, a mora do credor necessidade de interpelação judicial ou extrajudicial do devedor para se constituir (art. 397, parágrafo único, CC). Quanto aos efeitos da mora do credor, estes encontram-se previstos no artigo 400 do Código Civil, in verbis: “A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação” (BRASIL, 2002, on-line).
 Por último, analisa-se a mora de ambos os contraentes. Quando a mora parte de ambos os sujeitos da relação, ela compensa-se, de forma que “as situações permanecem como se nenhuma das partes houvesse incorrido em mora. Se ambas nela incidem, nenhuma pode exigir da outra perdas e danos” (GONÇALVES, 2019, p. 402). Passando para o último tema a ser analisado quanto a mora, observa-se a redação do artigo 401 do Código Civil (Brasil, 2002, on-line):
Art. 401. Purga-se a mora:
I - por parte do devedor, oferecendo este a prestação mais a importância dos prejuízos decorrentes do dia da oferta;
II - por parte do credor, oferecendo-se este a receber o pagamento e sujeitando-se aos efeitos da mora até a mesma data.
“Purgar” é um termo empregado pelo legislador no sentido de neutralizar os efeitos da mora. Quando ao momento de purgação da mora, tendo em vista as hipóteses trazidas pelo artigo 401 supra transcrito, hoje em dia entende-se que a purgação pode ocorrer a qualquer tempo, desde que não tenha causado dano à outra parte (GONÇALVES, 2019).
5.5 Das perdas e danos
Em regra, o inadimplemento de uma obrigação causa dano ao contraente da obrigação, podendo este ser material e também moral. O Código Civil ao versar sobre o assunto utiliza a expressão “dano”, “prejuízo” e “perdas e danos” como sinônimos. O tema aqui tratado encontra-se previsto no referido diploma legal em seus artigos 402 a 405. 
Art. 402 do CC
Art. 403 do CC
Art. 404 do CC
Art. 405 do CC
Conforme preceitua o artigo 402 do Código Civil, as perdas e danos abrangem tanto o que o sujeito efetivamente perdeu em decorrência do inadimplemento, quanto o que deixou de lucras. Tratam-se dos conceitos de danos emergentes e lucros cessantes, respectivamente.
Conforme jurisprudência fixada pelo Superior Tribunal de Justiça, a indenização por lucros cessantes não pode ser cumulada com a cláusula penal. Nesse sentido, preconizou o tribunal: “A cláusula penal moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da obrigação, e, em regra, estabelecida em valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros cessantes” (BRASIL, 2019. Superior Tribunal de Justiça, Tema 970).
5.6 Dos juros legais
Juros são considerados pela doutrina como frutos cíveis, coisas acessórias que representam rendimento de capital (art. 92, CC). Os juros legais estão previstos no Código Civil nos artigos 406 e 407. Podem ser classificados sob duas esferas: “(a) conforme a sua destinação, podem ser divididos em juros compensatórios ou moratórios; (b) de acordo com a origem, temos os juros legais e os convencionais” (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 611).
	Compensatórios
	
	Moratórios
	
5.7 Da cláusula penal
Segundo Orlando Gomes (2005, p. 159), “a cláusula penal, também chamada pena convencional, é o pacto acessório pelo qual as partes de um contrato fixam, de antemão, o valor das perdas e danos que por acaso se verifiquem em consequência da inexecução culposa da obrigação” (apud FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 625). Em outras palavras, trata-se de previsão expressa do contrato, de natureza acessória, que visa reforçar o pacto obrigacional, fixando liquidação de eventuais perdas e danos caso ocorra inadimplemento. Tal cláusula pode ser fixada junto com a obrigação principal ou em ato posterior (art. 409, CC). 
Evidencia-se que a cláusula penal possui uma dupla função: além de seu caráter ressarcitório, possui justamente natureza coercitiva, objetivando constranger ao cumprimento da obrigação. Esta é fruto da autonomia das partes, podendo servir tanto para hipótese de inadimplemento, quanto como uma penalidade caso alguma das partes decidam rescindir o contrato unilateralmente ao denunciá-lo de modo indevido (art. 472, CC) (FARIAS; ROSENVALD, 2017). O artigo 408 do Código Civil preconiza a hipótese de cabimento da cláusula penal, qual seja: “Incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal, desde que, culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou se constitua em mora” (BRASIL, 2002, on-line).
A nulidade da obrigação principal invalida cláusula penal, pois a última tem natureza acessória. A cláusula penal não precisa necessariamente ser uma pena pecuniária, podendo-se estipular uma obrigação de fazer ou não fazer, por exemplo. Ainda, não é necessário que haja dano para que a cláusula penal seja imposta (art. 416, CC)
O artigo 410 do Código Civil preconiza que, em caso de inadimplemento total da obrigação, a cláusula penal se converterá em obrigação alternativa, caso isto beneficie o credor. Já para o caso de mora, a cláusula penal poderá tanto ser exigida juntamente com a obrigação principal, como separadamente de modo a satisfazer a obrigação como um todo (art. 411, CC). Ainda observando a redação dos artigos 410 e 411 do Código Civil, constata-se que existem duas modalidades de cláusula penal. 
1. 
 
2. 
Já a cláusula penal compensatória é aquela voltada para a total inexecução da obrigação, conforme artigo 410 do CC (FARIAS; ROSENVALD, 2017).
Previous
Interessante notar que o Código Civil estipula um valor máximo para a cláusula penal, que não pode exceder o valor da obrigação principal (art. 412, CC). Noutro giro, o Código Civil abre espaço para discricionariedade do juiz para reduzir a cláusula penal conforme o caso concreto, visando evitar excessos. Trata-se de uma valoração do princípio da proporcionalidade. Observa-se que, inclusive, a cláusula penal poderá ser reduzida de ofício pelo juiz, conforme Enunciado 356 da IV Jornada de Direito Civil, que preconiza: “Nas hipóteses previstas no artigo 413 do Código Civil, o juiz deverá reduzir a cláusula de ofício” (BRASIL, STJ-CJF, on-line). O referido diploma legal também estipula que não pode haver aumento do valor previsto na cláusula penal caso o prejuízo tenha excedido o ali determinado, salvo se as partes houverem assim convencionado (art. 416, CC). Aqui, mister ressaltar o entendimento de Farias e Rosevald (2017, p. 636):
Por todo o exposto, percebe-se uma nítida preocupação do legislador ordinário com a formação de um sistema de freios e contrapesos no capítulo da cláusula penal. Em princípio, a medida da pena convencional ajustada pelas partes servirá como tetos mínimo e máximo de indenização. O devedor não pode alegar o seu valor excessivo e o credor também não pode reclamar a timidez da cláusula penal. Mas os arts. 413 e 416, parágrafo único, permitem que, em alguns casos, a pena convencional sirva como mínimo da indenização - acrescida da indenização suplementar - e, em outros, que possa ser objeto de redução. Trata-se de uma perfeita simetria. 
Nesse sentido, observa-se que o artigo 414 do CC determinou que, no caso de obrigações indivisíveis, a cláusula penal se aplicará a todos os devedores, independente de culpa. Contudo, a integralidade da cláusula penal só poderá ser exigida do culpado, enquanto que os demais responderão no limite de sua quota-parte. Ainda, cabe ação regressiva dos codevedores para com o devedor culpado. Por sua vez, em caso de obrigação divisível, a cláusula penal só se aplicará a quem desrespeitá-la e dentro dos limites de sua quota-parte.
Assista aí
5.8 Das arras ou sinal
Arras ou sinal “é quantia ou coisa entregue por um dos contraentes ao outro, como confirmação do acordo de vontade e princípio de pagamento” (GONÇALVES, 2019, p. 439). Em outraspalavras, trata-se de uma importância em dinheiro utilizada para firmar o objetivo maior da obrigação, que é seu cumprimento. Trata-se de pacto acessório que se divide em duas espécies: arras confirmatórias e arras penitenciais. 
· As arras confirmatórias, como o nome diz, são aquelas que visam a confirmação do contrato (art. 418 e 419, CC).
· As arras penitenciais são aquelas que atuam em caso de convenção de direito de arrependimento no contrato (art. 420, CC).
Observa-se, assim, que as arras possuem três funções: confirmar o contrato, prefixar perdas e danos para o inadimplemento e ainda, representar o início de um pagamento, conforme preceitua o artigo 417, uma vez que, em caso de execução do contrato, as arras devem ser restituídas ou devem integrar o valor total da prestação (GONÇALVES, 2019). 
É ISSO AÍ!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
· entender os modos extraordinários de cumprimento da obrigação;
· conhecer sobre novação, compensação, confusão e remissão;
· aprender sobre o adimplemento substancial das obrigações; 
· compreender o cumprimento indevido da obrigação, enriquecimento sem causa e preferências e privilégios creditícios;
· estudar sobre o inadimplemento das obrigações, além de suas principais sanções e consequências - mora, perdas e danos, juros legais, cláusula penal e arras ou sinal.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988.
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 1 dez. 2017.
BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Institui o Código de Processo Civil. Diário Oficial da União, 17 mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 31 out. 2019.
BRASIL, Conselho da Justiça Federal - Superior Tribunal de Justiça. Enunciado 434, IV Jornada de Direito Civil. Disponível em:  https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/434. Acesso em 5. nov. 2019.
BRASIL, Conselho da Justiça Federal - Superior Tribunal de Justiça. Enunciado 670, IV Jornada de Direito Civil. Disponível em:  https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/670. Acesso em 5. nov. 2019.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Primeira Turma Recursal. Processo n. 0702307-87.2019.8.07.0020 DF 0702307-87.2019.8.07.0020. Relatora Soníria Rocha Campos D’Assunção. Data de julgamento: 8 ago. 2019. Data de publicação - Publicado no DJE: 14 ago. 2019. Disponível em: https://tj-df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/744028200/7023078720198070020-df-0702307-8720198070020?ref=serp. Acesso em: 4 nov. 2019.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. 9ª Câmara Cível. AGR n. 70055367569 RS. Relatora Iris Helena Medeiros Nogueira. Data de julgamento: 14 ago. 2013. Disponível em: https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/113161254/agravo-regimental-agr-70055367569-rs?ref=serp. Acesso em: 4 nov. 2019.
BECKER, A. A doutrina do Adimplemento Substancial no Direito brasileiro e em perspectiva comparativista. Revista da Faculdade de Direito da UFRGS. Porto Alegre, 9(1), p. 60-77, nov. 1993. Disponível em: https://www.seer.ufrgs.br/revfacdir/article/download/68813/38913. Acesso em: 4 nov. 2019.
COELHO, F. U. Curso de direito civil. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 2.
DINIZ, M. H. Curso de direito civil brasileiro. 22 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 2.
FARIAS, C. C; ROSENVALD, N. Curso de direito civil. 11 ed. Salvador: JusPODIVM, 2017. v. 2.
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2019. v. 2.
PEREIRA, C. M. S. Instituições de direito civil. 30 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. v. 2.

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