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ADMINISTRAÇÃO DE MARKETING Aline Poggi Lins de Lima Marketing de serviços II Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar o mix de marketing. Construir os ciclos dos serviços. Estabelecer a relação entre a satisfação e o serviço. Introdução Entender a importância de criar ações e estratégias que possam fidelizar a clientela é fundamental hoje em dia, com mercados cada vez mais dispu- tados. Primando pela qualidade nos serviços e pelo bom atendimento, é preciso entender o ciclo de serviços e identificar o momento da verdade dos clientes e como eles experimentam os processos dentro das empresas para que, assim, tenham suas necessidades satisfeitas. Neste capítulo, você vai conhecer os sete elementos do mix de marke- ting, do mix de marketing tradicional ao mix de marketing expandido de serviços. Além disso, você vai entender como funciona o ciclo de serviços e, por fim, vai aprender a estabelecer uma relação entre a satisfação e o serviço prestado. Mix de marketing de serviços O mix de marketing é formado por componentes essenciais para que as em- presas possam atingir seus objetivos. Para Kotler e Armstrong (2007, p. 42), o mix de marketing “[...] é o conjunto de ferramentas de marketing táticas e controláveis que a empresa combina para produzir a resposta que deseja”. A noção de mix signifi ca que todas as variáveis estão relacionadas e dependem umas das outras até certo ponto (ZEITHAML; BITNER, 2014). Além dos quatro elementos já trabalhados nos compostos do marketing tradicional — produto, preço, praça e promoção —, alguns autores, como Zeithaml e Bitner (2014), consideram ainda mais três elementos importantes para as empresas, o chamado mix expandido do marketing de serviços: as pessoas, as evidências físicas e os processos, como exemplificado no Quadro 1. Nesse sentido, é importante lembrar que as estratégias para os quatro P’s iniciais (produto, preço, praça e promoção) requerem modi- ficações sempre que aplicadas a serviços. Assim, os 7 P’s mencionados representam um conjunto de variáveis de decisões inter-relacionadas que “[...] têm como propósito oferecer auxílio às empresas para que elas pos- sam alcançar seus objetivos e, atrelado a isso, satisfazer e fidelizar seus clientes” (SOUZA; SILVA, 2015, documento on-line). Produto Ponto Promoção Preço Características físicas do produto Tipo de canal Combinado de promoções Flexibilidade Nível de qualidade Exposição Pessoal de vendas Nível de preço Acessórios Intermediários Seleção Termos Embalagem Locais das lojas Treinamento Diferenciação Garantias Transporte Incentivos Descontos Linhas de produto Armazenagem Propaganda Abatimentos Branding Gestão de canais Tipos de mídia Tipos de anúncio Promoção de vendas Publicidade Estratégias para a internet/Web Quadro 1. Mix de marketing de serviços (Continua) Marketing de serviços II2 Zeithaml e Bitner (2014, p. 26) afirmam que: Em função de os serviços serem produzidos e consumidos simultaneamente, os clientes muitas vezes estão presentes na fábrica da companhia, interagem diretamente com seus funcionários e, na verdade, fazem parte do processo de geração de serviços. Além disso, visto que os serviços são intangíveis, os clientes frequentemente procuram pontos tangíveis que os auxiliem a entender a natureza da experiência do serviço. O primeiro item que vamos conhecer melhor é o produto. Para Kotler e Armstrong (2007), produto é algo que pode ser oferecido a um mercado para apreciação, aquisição, uso ou consumo e para satisfazer um desejo ou uma necessidade dos consumidores. É composto por atributos tangíveis, no caso bens de consumo, como cores, embalagem e design, e intangíveis, referentes aos serviços, como a reputação da marca da empresa e a prestação de serviços pós-venda. Ainda pode haver Fonte: Adaptado de Zeithaml e Bitner (2014). Pessoas Evidência Processo Funcionários Projeto das instalações Fluxo de atividades Recrutamento Equipamentos Padronizado Treinamento Sinalização Customizado Motivação Vestuário dos funcionários Número de etapas Recompensas Outros tangíveis Simples Trabalho em equipe Relatórios Complexas Clientes Cartões de visita Envolvimento do cliente Educação Balanços Treinamento Garantias Quadro 1. Mix de marketing de serviços (Continuação) 3Marketing de serviços II uma combinação dos dois atributos, que pode ser oferecido a um mercado, para sua apreciação e aquisição, uso ou consumo e que pode satisfazer um desejo ou uma necessidade (GRIFFIN, 2001). Para tanto, o produto é considerado parte palpável do serviço. Nesse sentido, é preciso focar em criar uma marca forte e que possa competir no mercado. É a partir da marca que a empresa consegue espelhar credibilidade e referência, fazendo o consumidor escolher seu produto ou serviço pela confiança passada pela marca. O preço, segundo ponto que veremos, normalmente é atribuído para se gerar receita, lucro. No contexto de serviços, os consumidores atrelam ao preço uma forma de mensurar a qualidade. Cabe lembrar que os preços são diferentes na percepção de cada consumidor, pois as pessoas têm vários desejos, mas as condições financeiras para saciá-los não são as mesmas; assim, só comprarão se constarem satisfação em função do preço cobrado (LAS CASAS, 2000). O preço tem significados ou sentidos distintos no mix de marketing. Alguns elementos têm o poder de criar valor para o cliente e implicam desembolsos para a empresa; com o preço, recupera-se parte do valor investido (URDAN; URDAN, 2011). Além disso, é importante ressaltar que o preço pode ser um fator determinante na escolha do consumidor. A praça, também chamada de canais de distribuição, é responsável pela distribuição física (do armazenamento dos produtos ao transporte) e também pela coleta e distribuição de informações relevantes, obtenção de financia- mentos, entre outros. Para Urdan e Urdan (2011, p. 126), “[...] os profissionais administram o composto de marketing para realizar trocas com o mercado. Eles começam cuidando do produto. Mas a troca só acontece se o produto estiver no lugar, momento e forma que o consumidor espera”. É correto destacar que, antes de iniciar um negócio ou até mesmo na decisão de escolha da sua localização, é preciso saber o que você quer do seu e para o seu negócio. Definir as suas características, conhecer o mercado-alvo que se pretende alcançar, os tipos de produtos que serão ofertados, a cultura local, dis- ponibilidade de transporte, o nível de concorrência, localização dos fornecedores e até mesmo a leis que estão diretamente ligadas ao seu negócio é essencial. No que se refere à promoção, a comunicação é fundamental. Segundo Kotler (2007, p. 30), “[...] promoção é a parte da comunicação que se compõe das mensagens destinadas a estimular as pessoas a tomar consciência dos vários produtos e serviços da empresa, interessando-se por eles e comprando-os”. A ideia é buscar estímulos que fixem as informações na mente dos consumi- dores, principalmente nos novos, que as empresas precisam cativar, a fim de influenciar na decisão de escolha. Marketing de serviços II4 De acordo com Urdan e Urdan (2011, p. 253), “[...] para alcançar os objetivos de comunicação, existem as ferramentas: propaganda, marketing direto, venda pessoal, promoção de vendas e relações públicas”. Cada ferramenta tem pontos fortes e fracos, e cabe ao profissional definir a que melhor se aplica ao negócio. Concluído o mix de marketing tradicional, agora podemos analisar os 3 P’s do mix expandido do marketing de serviços: as pessoas, evidências físicas e os processos. Como já sabemos, por ser uma das características dos serviços a intangibilidade, os clientes frequentemente procuram pontos tangíveis que os auxiliem a entender a natureza da experiência do serviço, como, por exemplo, a aparência, a empatia e o atendimento dos funcionários, a limpeza, entre ou- tros. Tudo podeinfluenciar nas percepções, escolhas e satisfação dos clientes. Zeithaml e Bitner (2014) descrevem bem as características desses três últimos P’s a serem estudados. Pessoas: “[...] todos os atores humanos que desempenham um papel na execução do serviço e que, por isso, influenciam as percepções do comprador: o quadro de pessoal da empresa, o cliente e outros clientes no ambiente de serviços” (ZEITHAML; BITNER, 2014, p. 343). As atitudes, os comportamentos, o modo de vestir e a aparência física dos atores são elementos que influenciam nas percepções dos clientes em relação ao serviço. Além disso, os clientes não apenas alteram os desfechos de seus próprios serviços, mas também influenciam os de outros clientes. Evidência física: “[...] ambiente em que o serviço é consolidado e em que a empresa e o cliente interagem, do qual fazem parte muitos com- ponentes tangíveis que facilitam o desempenho ou a comunicação do serviço” (ZEITHAML; BITNER, 2014, p. 27). Aqui são incluídos todos os elementos tangíveis do serviço, como brochuras, papel timbrado, cartões de visita, relatórios, sinalização e equipamentos, evidências físicas a partir das quais a empresa pode enviar mensagens fortes e consistentes sobre a finalidade da organização, os mercados almejados e a natureza do serviço. Processo: “[...] processos, mecanismos e fluxo de atividades reais pelos quais o serviço é executado — a concretização do serviço e os sistemas operacionais” (ZEITHAML; BITNER, 2014, p. 27). Pode ser necessária uma extensa série de ações por parte do cliente para completar o processo quando os serviços são complexos. Logo, o que o cliente vivencia, isto é, o fluxo operacional do serviço, também oferece elementos para a avaliação de um serviço. 5Marketing de serviços II Esses três novos elementos no mix de marketing são especialmente visíveis nos serviços, nos quais “[...] estão sob o controle da empresa e qualquer um ou todos eles têm a capacidade de influenciar a decisão inicial do cliente de adquirir um serviço, o nível de satisfação deste cliente e as decisões de recompra” (ZEITHAML; BITNER, 2014, p. 29). Além disso, podem ser capazes de fazer com que os clientes influenciem outras pessoas na decisão de compra. Veja uma síntese dos 7 P’s do marketing no link a seguir, que apresenta um vídeo de Ju Tôledo, CEO e proprietária e diretora de relacionamento da Cookie Tecnologia e Marketing. https://qrgo.page.link/Cn2Mw Os ciclos de serviços Como já se sabe, a satisfação do cliente deve ser o foco de qualquer empresa que pretenda oferecer um serviço de qualidade, e essa qualidade deve estar relacionada à satisfação dos desejos, necessidades e expectativas da clientela que busca esses serviços. Para tanto, devemos ter ciência de que qualidade é uma medida da extensão do valor de algo ou experiência que satisfaz as expectativas e necessidades, resolve um problema ou adiciona valor para alguém (ALBRECHT, 1998). Levando em consideração o que já estudamos até agora e a relação entre qualidade e satisfação dos clientes, devemos entender, agora, como se dá o processo de experiência do cliente com a empresa que presta serviços e, para isso, conceituaremos o ciclo de serviços. O ciclo de serviços é a sequência completa de “momentos da verdade” que o cliente experimenta para ter satisfeita uma necessidade. O denominado “momento da verdade”, acentuado pelos autores Albrecht (1998) e Machado, Queiroz e Martins (2006), pode ser observado na Figura 1 e refere-se ao momento em que o consumidor mantém relacionamento com algumas áreas da organização e forma o seu julgamento quanto à qualidade dos serviços então adquiridos — pois o cliente analisa não apenas o resultado final, mas o sistema como um todo. Marketing de serviços II6 Figura 1. O clico dos serviços. Fonte: Adaptada de Albrecht (1998). Segundo Albrecht (1998), esse ciclo de serviços é a cadeia contínua de eventos pela qual o cliente passa à medida que experimenta o serviço prestado por uma empresa. Sendo assim, é uma configuração natural e inconsciente que está na cabeça do cliente e que pode não ter coisa alguma a ver com o enfoque “técnico” estabelecido pela empresa. Observando essa configuração, Gianesi e Corrêa (2006) afirmam que podem existir três estados distintos nesse ciclo de serviços: o de qualidade excelente, quando o serviço supera o desejo ou a expectativa do consumidor; o de qualidade inadmissível, quando o serviço oferecido é inferior à expectativa do cliente; e o de qualidade gratificante, quando o serviço prestado satisfaz a expectativa do cliente. São momentos em que a empresa que presta serviços e o cliente se encontram frente a frente e que o cliente tem a oportunidade de experimentar a qualidade do serviço. Observando como se concretizam os diferentes momentos que constituem um ciclo de serviços, a empresa pode repensar inúmeros aspectos da gestão internos e externos, visto que um ciclo constitui ferramenta de auxílio tanto para o planejamento quanto para o controle de um serviço. Assim, é possível nortear decisões gerenciais do ciclo capazes de construir uma estratégia de serviço solidificada e válida. Qualidade na relação entre satisfação e serviço A satisfação é um dos principais elementos capazes de fi delizar um cliente e está intimamente ligada à qualidade do serviço prestado e à experiência viven- ciada pelo cliente junto a empresa. Ou seja, para o cliente, toda a experiência 7Marketing de serviços II adquirida durante a prestação do serviço infl uirá na determinação de sua percepção de qualidade, e a satisfação quase sempre está ligada às questões de comunicação e atendimento ao consumidor. Segundo Las Casas (2000, p. 225) “[...] comunicação e relacionamento formam a base da interpretação entre a empresa e seus clientes”. Quando os clientes sabem que são “ouvidos” e suas opiniões melhoram os processos, sentem-se gratifi cados e mantêm relação com a empresa, pois acreditam que serão atendidos quanto às suas necessidades e desejos. Segundo Kotler e Keller (2006, p. 139), “[...] a probabilidade de satisfação e repetição da compra depende de a oferta atender ou não a essa expectativa de valor” que o cliente busca. Essa relação entre satisfação e prestação de serviços deve ser muito bem observada pelos profissionais de marketing que atuam nas organizações, principalmente nos dias atuais, em que os clientes estão cada vez mais exigentes, que perdoam menos e têm poder de voz — sem falar que são abordados por mais concorrentes com ofertas iguais ou melho- res. Reconhecer que a satisfação dos clientes é um dos objetivos centrais da empresa é essencial. Para Gummesson (2005), é o momento, então, de as organizações volta- rem-se ao básico, de entender que o seu ponto central é o atendimento das necessidades humanas, sejam elas quais forem. No entanto, é necessário que as empresas vejam seu negócio do ponto de vista do consumidor, com foco no cliente e orientado para o mercado. Não podemos esquecer que a satisfação deve ser um processo contínuo, cíclico, pois os consumidores sempre buscam informações sobre o produto ou serviço antes mesmo de entrar numa loja física ou site. Por isso, também é importante que os funcionários detenham conhecimento da sua atividade, de modo a passar segurança ao cliente e satisfazer de forma rápida e eficaz as dúvidas desses clientes em potencial, conquistando-os e fidelizando-os. Essa relação entre o funcionário e o cliente, dentro da proposta do marketing de serviço, mostra-nos que a satisfação é largamente influenciada pelos valores dos serviços percebidos pelos consumidores e que, por consequência, tanto tem o poder de gerar maior lealdade dos consumidores na compra de seus produtos ou serviços quanto pode aumentar as vendas e lucratividade das empresas (HESKETT et al., 1994) (Figura 2). Marketing de serviços II8 Figura 2. Cadeia dos serviços. Fonte: Heskett et al. (1994, documento on-line). Grönroos (2003)também destaca que, nesse novo paradigma, o ponto central da diferenciação passa a ser a criação de valor para o consumidor, e esse valor não está necessariamente no produto ou serviço entregue, mas, sim, nos processos e nas interações, ou seja, nos encontros entre o cliente e seu fornecedor ou provedor de serviço. Kotler e Keller (2006, p. 139) contribuem ainda afirmando que: De modo geral, a satisfação é a sensação de prazer ou desapontamento re- sultante da comparação entre o desempenho (ou resultado) percebido de um produto e as expectativas de um comprador. Se o desempenho não alcançar as expectativas, o cliente ficará insatisfeito. Se alcançá-las, ele ficará satisfeito. Assim, devemos entender que o grande desafio do marketing de serviços não é deixar apenas seus clientes satisfeitos, mas, acima de tudo, tornar seus clientes fiéis, já que eles são termômetros de suas ações e estratégias. “Para empresas centradas no cliente, a satisfação de seus clientes é ao mesmo tempo uma meta e uma ferramenta de marketing” (KOTLER; KELLER, 2006, p. 144). 9Marketing de serviços II Os clientes fiéis serão aqueles que também divulgarão a marca e a empresa e, por meio do buzz marketing, farão o que chamamos de marketing boca a boca, disseminando sua satisfação em relação à empresa até que outras pessoas sejam influenciadas e impactadas por eles, já que a fidelidade cria um compromisso de comprar e recomendar repetidamente certos produtos e serviços. ALBRECHT, K. Revolução nos serviços: como as empresas podem revolucionar a maneira de tratar os seus clientes. 5. ed. São Paulo: Pioneira, 1998. GIANESI, I. G. N.; CORRÊA, H. L. Administração estratégica de serviços. 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