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Reforma Psiquiátrica Brasileira

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28/02/2022 15:34 Uma breve e recente história da Reforma Psiquiátrica brasileira – Desinstitute
https://desinstitute.org.br/noticias/uma-breve-e-recente-historia-da-reforma-psiquiatrica-brasileira/?gclid=CjwKCAiAgvKQBhBbEiwAaPQw3P4mMw6PpxhgZXWxJxh7Wzk8aHFpm7xuecZrIZ7ITwAEBGi9aKpP2xoCw… 1/3
Notícias e publicações
Uma breve e recente história da Reforma Psiquiátrica brasileira
Atualmente ameaçada, conquista histórica resultou da luta de trabalhadores da saúde, associações familiares
e pessoas com longo histórico de internações psiquiátricas no país
#ParaTodosVerem: Foto de uma bandeira verde com a seguinte frase escrita em tinta preta e amarela: "Liberdade é o melhor cuidado". Foto por: André Antunes
(EPSJV/Fiocruz)
8 de julho de 2021
POR MANUELA RACHED PEREIRA
Era junho de 1979, quando o renomado psiquiatra italiano Franco Basaglia desembarcou no Brasil. Precursor do movimento de
Psiquiatria Democrática na Itália e crítico ferrenho do poder opressor que a psiquiatria é capaz de exercer sobre a população, Basaglia
visitava o país pela terceira vez para um ciclo de conferências realizadas em São Paulo, Belo Horizonte e no Rio de Janeiro, conforme
descrito por André Ricardo Nader, em artigo da Revista Lacuna:
“Basaglia fazia uma breve fala, traduzida simultaneamente para sua plateia, sobre o controle que a psiquiatria exercia sobre a
população e expunha o uso perverso do discurso científico dessa disciplina que, utilizando-se da instituição manicômio, fazia a gestão
das massas de indesejáveis do ponto de vista econômico (na figura daqueles que não produzem), social (na figura daqueles que não
seguem a ordem moral) e político (na figura daqueles que não obedecem ao regime vigente). Transmitia também as experiências
práticas que acumulara na Itália nas décadas de sessenta e setenta (…). Sua mensagem era clara: além de denunciar a situação da
psiquiatria, queria incentivar que seus ouvintes abandonassem a discussão e fossem à prática iniciar mudanças — ‘contra o
pessimismo da razão, o otimismo da prática’, dizia ele. Dia a dia, cidade a cidade, o ritual era basicamente o mesmo. No entanto, algo
mudou quando chegou a Minas Gerais. Após sua visita ao Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, conhecido como Colônia ou
Cidade dos Loucos, não pôde proferir sua conferência. O horror era visível e, segundo relatos, Basaglia pareceu ter ficado
profundamente deprimido. Declarou que o que vira era ‘pior que um campo de concentração'(…)”.
A experiência italiana de desinstitucionalização em psiquiatria e sua crítica radical ao manicômio foi inspiradora aos movimentos
antimanicomiais que emergiam no país naquele período, como o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), fundado em
1978 e formado por trabalhadores da saúde, associações de familiares, sindicalistas e pessoas com longo histórico de internações
psiquiátricas.
Ao longo das décadas seguintes, impulsionados pela Constituição de 1988 e pela criação do SUS (Sistema Único de Saúde), os
movimentos nacionais e seus apoiadores fizeram avançar ações práticas de cuidado em liberdade sob o lema “por uma sociedade sem
manicômios”. Entre elas, as primeiras experiências regionais bem sucedidas de atendimento psicossocial de base comunitária que
site acessível EN • ES

https://cutt.ly/3cTZI4i
http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2017/05/manifesto-de-bauru.pdf
https://desinstitute.org.br/
https://desinstitute.org.br/en/
https://desinstitute.org.br/es/
28/02/2022 15:34 Uma breve e recente história da Reforma Psiquiátrica brasileira – Desinstitute
https://desinstitute.org.br/noticias/uma-breve-e-recente-historia-da-reforma-psiquiatrica-brasileira/?gclid=CjwKCAiAgvKQBhBbEiwAaPQw3P4mMw6PpxhgZXWxJxh7Wzk8aHFpm7xuecZrIZ7ITwAEBGi9aKpP2xoCw… 2/3
inspiraram, ainda nos anos 80, a formulação – e posterior aprovação – da Lei nº 10.216, conhecida como “Lei da Reforma Psiquiátrica”. 
Promulgada em 6 de abril de 2001, a Lei 10.216 estabeleceu novas diretrizes para políticas de saúde mental, ao prever a substituição
progressiva dos manicômios no país por uma rede complexa de serviços que compreendem o cuidado em liberdade como elemento
fundamentalmente terapêutico.
Dessa forma, estabeleceu-se, entre outras garantias, que a pessoa com transtorno mental, “sem qualquer forma de discriminação
quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e gravidade ou
tempo de evolução de seu transtorno (…)”, deve ser “tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua
saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade [art. 2º, § II]”.
Materializada na lei, a reforma psiquiátrica buscava, portanto, orientar os poderes executivos a investirem em processos de
desinstitucionalização de pessoas internadas por longos períodos de permanência – grande parte delas sem qualquer vínculo
remanescente com a sociedade. Ou seja, procurava incidir sobre discursos, saberes e práticas psiquiátricas seculares que, no passado
e até hoje, sustentam o estigma da loucura pelo diagnóstico da “doença mental” e, em muitos casos, da “dependência química” pelo
consumo de drogas, a fim de defender a internação hospitalar, o absenteísmo e a segregação social como princípios básicos de
tratamento em saúde mental.
Reconhecimento internacional
A mudança de paradigma da política nacional de saúde mental, bem como a construção de novos serviços de base comunitária no
campo, levaram a Organização Mundial da Saúde (OMS) a reconhecer, em 2003, a relevância global da política pública brasileira. Foi
também sob esse novo contexto que a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), principal órgão autônomo da Organização
dos Estados Americanos (OEA), condenou o Estado brasileiro, em 2006, pelo que ficou conhecido como o “caso Damião Ximenes
Lopes”, que leva o nome do jovem brasileiro espancado e morto em um hospital psiquiátrico no município de Sobral, Ceará, naquele
mesmo ano.
Outras conquistas no campo normativo acompanhadas de forte mobilização internacional foram a aprovação, pelo Congresso
brasileiro, da Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência (com status de Emenda Constitucional) no ano de 2009, e a
criação da Lei 13.146/2015, conhecida como Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI), que abarca os direitos das
pessoas com transtornos mentais ou decorrentes do uso de álcool e outras drogas.
Nas últimas décadas, portanto, a pressão popular de movimentos antimanicomiais, somada ao monitoramento de órgãos de controle
nacionais e internacionais, contribuiu para o fortalecimento e a ampliação de leis, políticas e serviços públicos comunitários de atenção
psicossocial no Brasil. Um processo recente que resultou no fechamento de milhares de leitos em hospitais psiquiátricos pelo país – de
80 mil até os anos de 1980, para cerca de 19 mil, em 2020. 
Cenário de desmonte da política nacional
Apesar das significativas conquistas alcançadas com a implementação do SUS e pelo processo gradativo de reforma psiquiátrica no
Brasil, políticas e serviços públicos de saúde e assistência social vêm sendo desmontados e aparelhados por grupos de interesse
privado desde o final de 2016. A falta de monitoramento e transparência sobre o desenvolvimento das políticas de saúde mental no
país são algumas das marcas que inauguram essa mudança.
Durante a gestão federal interina de Michel Temer e, nos últimos anos, sob o governo do atual presidente da República Jair Bolsonaro,
recursos federais, antes voltados à ampliação de serviços de base comunitária inseridos no SUS, foram paralisados, ao passo em que
representantes de entidades privadas, que incluem associações psiquiátricas e empresários ligados a instituições asilares, passaram a
incidir cada vez mais sobre a agenda pública. 
Em 2017, por exemplo, o Ministério da Saúde, à revelia de qualquer diálogo com a população, a sociedade civil ou mesmo órgãosvoltados ao controle social, como o Conselho Nacional de Saúde (CNS), incluiu os hospitais psiquiátricos no centro da Rede de
Atenção Psicossocial (RAPS), que estrutura a política de saúde mental brasileira, por meio da alteração de portarias ministeriais.
Já em 2019, as comunidades terapêuticas, que baseiam seus serviços no tripé laborterapia (trabalho não remunerado), oração e
abstinência, passaram a ser regulamentadas pela Lei 13.840, conhecida como “Nova Lei de Drogas”, e amparadas na Política Nacional
sobre Drogas (Pnad), que desde então prevê “estimular e apoiar, inclusive financeiramente, o aprimoramento, o desenvolvimento e a
estruturação física e funcional das Comunidades Terapêuticas (…)”. 
Segundo informações do Ministério da Cidadania, o repasse de recursos públicos a entidades que administram comunidades
terapêuticas no país passou de R$157 milhões, em 2019, para R$300 milhões, em 2020. À medida em que a ampliação do investimento
ocorria, órgãos e mecanismos públicos nacionais denunciavam a falta de fiscalização, publicização de informações, diretrizes práticas
e critérios técnicos que garantiriam o funcionamento legal dessas instituições no país. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm#:~:text=LEI%20No%2010.216%2C%20DE,modelo%20assistencial%20em%20sa%C3%BAde%20mental.
https://desinstitute.org.br/noticias/audiencia-caso-ximenes-lopes/
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt3588_22_12_2017.html
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13840.htm
https://www.gov.br/pt-br/noticias/assistencia-social/2019/12/ministerio-da-cidadania-lanca-edital-para-selecao-de-comunidades-terapeuticas
https://desinstitute.org.br/noticias/cidh-expressa-preocupacao-com-situacao-de-comunidades-terapeuticas-no-brasil/
28/02/2022 15:34 Uma breve e recente história da Reforma Psiquiátrica brasileira – Desinstitute
https://desinstitute.org.br/noticias/uma-breve-e-recente-historia-da-reforma-psiquiatrica-brasileira/?gclid=CjwKCAiAgvKQBhBbEiwAaPQw3P4mMw6PpxhgZXWxJxh7Wzk8aHFpm7xuecZrIZ7ITwAEBGi9aKpP2xoCw… 3/3
A despeito da “Lei da Reforma Psiquiátrica”, que proíbe a “internação de pacientes com transtornos mentais em instituições com
características asilares”, comunidades terapêuticas e hospitais psiquiátricos brasileiros seguem recebendo grandes investimentos
públicos e funcionando como locais de privação de liberdade e graves violações de direitos humanos, como revelam os relatórios das
últimas inspeções nacionais em Comunidades Terapêuticas (2019) e Hospitais Psiquiátricos (2019).
Sob a coordenação de órgãos e conselhos públicos como o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, o Conselho
Federal de Psicologia e o Conselho Nacional do Ministério Público, as inspeções brasileiras alertam, desde 2015, para a situação
alarmante de desassistência na atenção à saúde em hospitais psiquiátricos e comunidades terapêuticas pelo país, onde foram
verificadas graves e múltiplas violações cotidianas de direitos humanos contra pessoas em sofrimento ou com transtorno mental, que
incluem aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas. Entre as ilegalidades, foram constatadas condições
sanitárias degradantes, falta de infraestrutura e equipe técnica, práticas de tortura, medicalização excessiva, trabalho forçado e crimes
de cárcere privado, que remontam o passado de violações em hospícios e manicômios judiciários.
Adicionalmente, a insuficiência de dados públicos atualizados limita a possibilidade de análise da evolução dos gastos federais nos
últimos anos com políticas de saúde mental, álcool e outras drogas. Mas o acesso ao orçamento do Ministério da Saúde destinado aos
procedimentos de internação em hospitais psiquiátricos brasileiros, em 2017 e 2018, permite constatar um crescimento expressivo do
financiamento público em hospitais psiquiátricos em detrimento dos recursos aplicados na rede pública extra-hospitalar, composta por
serviços como os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), as UAs (Unidades de Acolhimento) e os Centros de Convivência e Cultura.
Segundo dados do último Relatório de Inspeção Nacional em Hospitais Psiquiátricos, em 2018, o Ministério da Saúde destinou à
Política Nacional de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas o montante de aproximadamente R$ 1,5 bilhão, o que representa um
aumento de aproximadamente 5% sobre o orçamento de 2017. No mesmo período, porém, o aumento do financiamento destinado aos
hospitais psiquiátricos cresceu cerca de 26%, com um aporte de R$ 97 milhões às instituições – que incluem aquelas que haviam sido
“indicadas para descredenciamento, por não disporem das condições mínimas de assistência”.
Para mais informações, acesse aqui o relatório na íntegra e leia mais em: desinstitute.org.br/noticias/por-que-somos/.
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