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Aquisição e Desenvolvimento de Linguagem Profª. Karissa Cristina Aued Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Beatriz Longen Rohling Caroline da Silva Marques Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Geovane Vinícius da Broi Maciel Jéssica Eugênio Azevedo Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt Carlos Firmino de Oliveira 2022 by Editora Edufatecie Copyright do Texto C 2022 Os autores Copyright C Edição 2022 Editora Edufatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Per- mitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP A917d Aued, Karissa Cristina Aquisição e desenvolvimento de linguagem / Karissa Cristina Aued. Paranavaí: EduFatecie, 2022. 76 p. : il. Color. 1. Psicolinguística. 2. Psicologia infantil. 3. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD : 23 ed. 401.93 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Cândido Bertier Fortes, 2178, Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rodovia BR - 376, KM 102, nº 1000 - Chácara Jaraguá , Paranavaí, PR (44) 3045-9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site Shutterstock. AUTOR Professora Karissa Cristina Aued Graduação: ● Fonoaudiologia ● Pós Graduação: ● Pós-Graduação Completa em Educação Especial com Ênfase em Educação Inclusiva, Universidade Salgado de Oliveira - RJ); ● Pós-Graduação Completa em Neuro psicopedagogia (Faculdade UNIMA); ● Pós-Graduação em Fonoaudiologia Escolar, (Faculdade UNIMA); ● Ampla experiência nas áreas de fonoterapia, audiometrias ocupacionais, indicação e adaptação de aparelhos auditivos. Penso que ser fonoaudióloga é oferecer ciência com muito amor. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/2847594489258917 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja bem-vindo (a)! Prezado (a) aluno (a), falar de fonoaudiologia de maneira clara é o que nos traz a este momento, os assuntos abordados nessa disciplina são de suma importância no labor fonoaudiológico. Minha proposta é iniciar nossa aprendizagem e trazer o conhecimento básico para um futuro fonoaudiólogo de sucesso. Na unidade I, nos será apresentado conceitos básicos á fonoaudiologia, assim como algumas teorias essenciais para o desenvolver do pensar fonoaudiológico. E na unidade II, nos será apresentado conhecimento para facilitar a compreensão de como acontece a aquisição de fala e linguagem, entendendo a comunicação efetiva; A estimulação de fala e linguagem e algumas alterações que acontecem ou podem acontecer nesse processo de desenvolvimento. Chegando à unidade III, nos será apresentado algumas patologias fonoaudiológicas específicas, como identifica-las e encaminhar para o tratamento adequado. Por fim, na unidade IV, nos será apresentado como elaborar anamnese, avaliação e tratamento das patologias específicas anteriormente relatadas. Iniciando assim o projeto de saber das funções fonoaudiológicas, no qual o aluno é convidado a compreender não apenas a função do fonoaudiólogo, mas também a base que fará parte do seu conhecimento, assim como a organização terapêutica para o desempenho desta função. Meu convite se faz a você, futuro fonoaudiólogo, para iniciar e continuar esta jornada de conhecimento, pois conhecimento necessita ser multiplicado, compartilhado e renovado. Meus sinceros agradecimentos! Bons estudos! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 3 Conceitos Básicos UNIDADE II ................................................................................................... 21 Aquisição de Fala e Linguagem UNIDADE III .................................................................................................. 37 Alterações Comuns na Fala e Linguagem UNIDADE IV .................................................................................................. 56 Avaliação 3 Plano de Estudo: ● Conceitos básicos; ● Jean Piaget; ● Vygotsky; ● Chomsky; ● Skinner. Objetivos da Aprendizagem: ● Estudar os pensadores da aquisição de fala e linguagem; ● Desenvolver pensamento crítico pertinente a fonoaudiologia; ● Entender as diferentes teorias e como elas podem ajudar nossa construção do conhecimento; ● Engrandecer nossos estudos e nossa prática. . UNIDADE I Conceitos Básicos Profª. Karissa Cristina Aued 4UNIDADE I Conceitos Básicos INTRODUÇÃO Prezado (a) aluno (a)! Considerando que a emissão dos primeiros sons e das primeiras palavras são momentos esperados com grande expectativa pela família sabemos que o desenvolvimento de fala e linguagem e suas Teorias vem sendo estudado a anos por profissionais de diversas áreas tais como: medicina, psicologia, fonoaudiologia entre outros. A linguagem é um processo em que através de métodos inerentes a cada indivíduo transmitimos algo a outra pessoa, nesse contexto esperamos que a linguagem esteja sempre evoluindo ou se adaptando ao meio onde a pessoa vive. Nossa disciplina abordará os conceitos, principais teorias de aquisição de linguagem, desenvolvimento de fala e linguagem normais, avaliação, diagnóstico e tratamento fonoaudiológico (estimulação e intervenção). Desejo a você, uma boa leitura e aprendizado! 5UNIDADE I Conceitos Básicos 1. CONCEITOS BÁSICOS 1.1 O que é linguagem? O conceito de linguagem refere-se ao processo de interação entre as pessoas, onde usamos mecanismos para transmitir nossas ideias, assim como recebe – lá quando ofertadas pelo próximo. É um conjunto de signos estruturados por um meio, normalmente desde o nascimento da criança que facilitando sua interação com o outro. 1.2 O que é voz? O conceito de voz refere – se ao som ou conjunto de sons produzidos pelas vibrações das pregas vocais sob pressão do ar que percorre a laringe. Sendo assim a respiração se faz de suma importância para a produção vocal, sendo que a voz acontece quando durante a expiração as pregas vogais vibram produzindo a voz propriamente dita. 1.3 O que é a fala? A fala se refere à como as pessoas de comunicam oralmente, sendo a forma pessoal de expressão do indivíduo que possui organização própria de pensamentos, ideias e opiniões (linguagem). A fala é o resultado da voz articulada. A fala, de forma genérica, pode ser entendida como a maneira de se comunicar oralmente, assim como é o processo observável da linguagem oral. Ela está diretamente relacionada com a voz e aos órgãos fonoarticulatórios, é considerada individual e normalmente recebe influência cultural ganhando assim o que chamamos de “sotaques”. 6UNIDADE I Conceitos Básicos 1.4 O que é língua? O conceitode língua, está ligado intimamente a uma estruturação verbal que organiza os significados em um local pré-determinado. Podemos dizer que a língua se estrutura através da linguagem. Lembramos que em nosso país utilizamos a Língua portuguesa e a Língua Brasileira de Sinais, porém a Língua Brasileira de Sinais se restringe a um grupo pequeno considerando a Língua Brasileira. 1.5 Gramática e Linguística É um conjunto de regras e normais que existem para estruturar nossa língua, para que assim ela se organize da melhor maneira possível. Isso significa que pessoas de um mesmo meio (no caso país) consigam uma comunicação efetiva através da mesma língua. A linguística é a ciência que estuda a linguagem. 1.6 Tipos de Linguagem A comunicação entre as pessoas é chamada de linguagem e a dividimos em 3 vertentes: ● Linguagem verbal (oral ou gráfica); ● Linguagem Não-Verbal; ● Linguagem Mista. 1.6.1 Linguagem verbal A fala é um tipo de linguagem verbal. Na fonoaudiologia, normalmente chamamos de fala. Na fonoaudiologia dividimos estas definições e chegamos a comunicação oral (palavras emitidas) e comunicação gráfica (palavras escritas). A linguagem verbal, ou seja, a fala é composta essencialmente por palavras faladas. Porém a linguagem gráfica composta por leitura e escrita também é considerada linguagem verbal, pois em ambas utilizamos a mesma organização de regras, ou seja, a mesma gramática para direcionar sua organização. Na linguagem verbal utilizamos as codificações neurais elaboradas desde o nascimento e que nos fazem subsistir em sociedade, pois este compõe o sistema de troca de informações através dos sons da fala e nos transforma em seres capazes de subsistir e evoluir com a troca de informações e sentimentos. Cada indivíduo possui uma linguagem própria sendo autônomo para construí – lá de acordo com suas bases familiares e cognitivas, entendamos que a interação entre os indivíduos sempre acontece porque ali está presente e estruturada uma forma de linguagem. 7UNIDADE I Conceitos Básicos Diante de todas essas informações nos deparamos com o termo Fala Funcional esta é o meio pelo qual um indivíduo se comunica, falando de forma clara e espontânea comunicando seus desejos e necessidades, ou seja, é uma fala com significado. 1.6.2 Linguagem não-verbal Placas informáticas como placas de trânsito, assim como semáforos são exemplos de linguagem não-verbal. Nem toda forma de linguagem utiliza-se necessariamente de palavras. Podemos citar placas de trânsito, placas informativas, gestos, expressões faciais, símbolos, entre outros para exemplificar a linguagem não-verbal. 1.6.3 Linguagem mista A linguagem mista é composta por palavras e imagens como nas tirinhas, quadri- nhos ou placas informativas. A Linguagem mista é aquela que une a linguagem verbal e não-verbal, como o cinema, o teatro ou as revistas. 1.6.4 Linguagem formal e informal Em situações diversas utilizamos a linguagem de maneira diferenciada, a estas linguagens podemos chamar de linguagem formal e informal. Uma pessoa normalmente faz uso das duas linguagens o que difere é a situação, esta será determinante na escolha das palavras determinando assim uma linguagem formal ou informal. Na linguagem formal escolhemos uma linguagem mais rica em detalhes e organização gramatical, já a linguagem informal é definida por uma linguagem mais simples e pouco estruturada. Por exemplo, o uso da linguagem informal é mais comum entre uma conversa de amigos. Por outro lado, uma reunião de trabalho costuma requerer uma linguagem formal. 1.7 Aquisição da linguagem Quando o bebê nasce ele não apresenta linguagem, esta vai se estruturando a partir do nascimento com as necessidades básicas do bebê, ou seja o mesmo precisa comer, sente – se desconfortável quando não está trocado e a partir desses sentimentos que ainda não tem nome para esta criança os pais ou responsáveis vão falando, o bebê vai processando e iniciando seu processo comunicativo, quando o bebê mama no seio e olha para a mãe acontece uma mágica, a primeira comunicação entre mãe e filho, logo após isso ele chora e percebe que a mãe o troco quando o faz sentindo – se bem com a troca, ou o bebê chora e a mãe o alimenta, iniciando uma comunicação sem palavras e organização de linguagem. 8UNIDADE I Conceitos Básicos Para a fonoaudiologia a amamentação é muito importante pois além de nutrir e hidratar, aumenta os laços afetivos e fortalece musculatura facial. Informações a respeito das alterações da linguagem infantil devem estar ao alcance de todos os profissionais que trabalham com crianças afim de que estes possam orientar e encaminhar as famílias cujos filhos por algum motivo, não estejam conseguindo evoluir satisfatoriamente (ZORZI, 2000, p. 12). A linguagem oral acontece devido a ação conjunta dos órgãos fonoarticulatórios, tendo como coadjuvante o Sistema Nervoso Central que coordena a produção da fala. Entendendo que as palavras faladas chegam aos receptores da orelha sob forma de ondas sonoras, estas são transmitidas por vias auditivas ao córtex cerebral sendo ali interpretadas. Os centros da linguagem são acionados para produzir a resposta coerente e rápida, resposta que chega as áreas motoras que coordenam os músculos do mecanismo da fala. Sendo assim a linguagem oral ou fala pressupões duas ou mais pessoas participantes. O cérebro humano é dividido em dois hemisférios direito e esquerdo, a produção da linguagem acontece graças a ação dos dois hemisférios simultaneamente, porém a ação do hemisfério esquerdo é dominante na produção da fala e linguagem. FIGURA 1 - LATERALIDADE CEREBRAL E PRINCIPAIS ATIVIDADE Fonte: COMO funciona o nosso cérebro. Home Seniors Day Care. 2022. Disponível em: https://home- seniors.blogspot.com/2018/11/como-funciona-o-nosso-cerebro.html Acesso em: 15 dez. 2021. 9UNIDADE I Conceitos Básicos O hemisfério esquerdo é responsável pelo ritmo de fala, significado verbal, entonação timbre, sequenciação, relação entre os elementos e formação de conceitos. Neste hemisfério encontra – se a área de Broca (Codifica a linguagem) e Werneck (processa a compreensão verbal) O hemisfério direito domina a sintaxe de imagens visuais e auxilia a formação da entonação, timbre e formação de conceitos. FIGURA 2 - CONEXÃO ENTRE A ÁREA DE BROCA E WERNICKE ATRAVÉS DO FASCÍCULO ARQUEADO Fonte: PARDO, D. T. Guia Visual Rápido para Neurofisiologia da Fala e da Audição. PsicoSabedoria, 2016. Disponível em: https://psicowisdom.wordpress.com/2015/02/13/guia-visual-rapida-sobre-neurofisio- logia-del-habla-y-escucha/. Acesso em: 15 dez. 2021. Saber a função e localização destas áreas são de suma importância para a fonoaudiologia, pois a partir daí pode-se avaliar, diagnosticar e tratar patologias da fala e linguagem decorrentes de disfunções e ou traumatismos neurológicos. Segundo Lyons (1987), a linguagem é um sistema de comunicação utilizado para a interação social. De modo que a linguagem é todo tipo de comunicação em que se pode ser compreendido. Borges e Salomão (2003, p. 327) afirma que “A linguagem corresponde ainda a uma das habilidades especiais e significativas dos seres humanos, compreendida como um sistema de sinais de duas faces – significante e significado”. Ao analisarmos o desenvolvimento de fala e linguagem da criança notamos que existe uma sequência no desenvolvimento neural, a esta sequência chamamos Marcos do Desenvolvimento e em cada marco podemos notar uma evolução linguística, ou seja o desenvolvimento de fala e linguagem acontece concomitantemente ao amadurecimento das funções neurais e cognitivas da criança. 10UNIDADE I Conceitos Básicos Considerando as afirmativas acima vemos que a criança inicia seu processo de fala por uma necessidade de comunicar o que quer ou o que não quer (instintivamente), assim a mãe oferece modelos linguísticos aos quais a criança modela da melhor maneira possível,iniciando balbucios seguidos de fala. As palavras estão ligadas a conceitos, ideias, sentimentos, experiências que enfatizam o “ser”, afinal somos o que pensamos. A aquisição da linguagem insere – se no quadro de evolução do processo global de comunicação, que engloba símbolos verbais e não verbais (ZORZI, 2000, p. 12). O responsável direto pelo bebê é que oferece os significados quando o mesmo nos oferta uma expressão facial “um choro, uma risada, etc.”, falando com o bebê fazen- do-o entender involuntariamente que a comunicação se faz como aquela pessoa que lhe oferece conforto faz. O contexto do desenvolvimento de fala e linguagem parece simples, porém é um processo complexo e estruturado a partir de um sistema neural organizado, também pelas funções pragmática, sintática, fonética e fonológica, isso tudo nos lembra da necessidade da intenção comunicativa pois sem ela não existe comunicação. Considerando a linguagem necessitamos compreender alguns pensadores que nos auxiliaram com seus estudos e teorias, sendo assim serão apresentados 4 estudiosos que fizeram diferença, porém muitos outros também não são menos importantes. A Teoria Construtivista de Jean Piaget diz que o homem possui potencial e que de forma receptiva o conhecimento é desenvolvido. A Teoria Interacionista é a definida por Vygotsky diz que existe uma interação entre o homem e o seu meio em que o conhecimento é construído continuamente através desta relação. A Teoria Inativista é a defendida por Chomsky diz que o homem possui conhecimento inato, ou seja, que o homem é pré-disposto a desenvolver a fala e linguagem. A Teoria Behaviorista de Skinner é elaborada a partir do princípio de ação e reação. Várias teorias buscam explicar aquisição da linguagem e apresentaremos as principais abordagens: 11UNIDADE I Conceitos Básicos 2. JEAN PIAGET Piaget nos diz que a existência da criança em um contexto, ou seja, no meio onde vive desenvolve estruturas cognitivas fundamentais para o desenvolvimento. Considera “esquema” um padrão de comportamento ou pensamento que acontece com a integração das unidades mais simples em um todo, levando em conta que este todo é mais complexo e organizado. Piaget usa o termo esquema para um padrão de comportamento ou pensamento, no bebê este “esquema” é o conjunto de reflexos que este apresenta e quanto mais estes se organizam e se desenvolvem vão amadurecendo e se tornando generalizados, diferenciados e numerosos formando estrutura intelectual que percebe, compreende e classifica os acontecimentos de acordo com suas características comuns. Tendo em vista aquisição da linguagem propriamente dita, Piaget enfatiza que a mesma inicia seu processo de desenvolvimento após uma elaboração cognitiva individual, não sendo dessa forma inata, pois vê o indivíduo como construtor e dependente do meio para esta organização e manifestação de seus processos de assimilação. Piaget entende o desenvolvimento individual como uma função de atividades múltiplas em seus aspectos de exercício, de experiência e de ação sistemáticos onde estes aspectos se coordenam, se autorregulam e se equilibram e dependem das circunstancias, potencialidades e condições de cada indivíduo, gerando uma assimilação e acomodação e quando estes dois fatores sem desvios dissemos que o indivíduo está adaptado (em equilíbrio). 12UNIDADE I Conceitos Básicos Entende assimilação um processo cognitivo em que o indivíduo integra, ou seja, aprende algo novo (na área da percepção, motora ou se tratando de conceitos). Pensemos numa criança na praia, ela absorve está experiencia ouvindo, vendo e sentindo coisas diferentes do seu cotidiano e tenta adaptar-se a situação criando novos estímulos e adaptando-os as estruturas cognitivas pré-existentes. Piaget entende “acomodação” toda mudança de esquemas de assimilação sob a influência de fatores (situações) externos, ou seja, a acomodação acontece quando indivíduo (normalmente a criança) não consegue assimilar (entender) um novo estímulo, pois ainda não apresenta estruturas cognitivas para tal. Piaget considera “Acomodação” toda modificação dos esquemas de assimilação sob a influência de situações exteriores ao quais se aplicam, por não ter condições cognitivas no momento para tal; novas informações não são processadas ou assimiladas da maneira esperada, porém nesse momento a criança consegue criar e modificar um “esquema pré- existente” alterando sua estrutura mental para que compreenda a situação a sua maneira. Quando ocorre acomodação, a criança pode tentar assimilar o estímulo novamente, e uma vez modificado a estrutura cognitiva, o estímulo é prontamente assimilado. Sendo a linguagem para Piaget uma função do pensamento, seu trabalho trata das formas que ela assume e do papel que ela desempenha em cada um dos estágios do desenvolvimento do pensamento lógico. A fala da criança é, assim, enfocada a partir do processamento do pensamento (FONTANA e CRUZ, 1997, p. 89). Piaget divide o desenvolvimento em quatro estágios ou períodos: ● Sensório-motor (0 – 2 anos); ● Pré-operatório (2 – 7 a 8 anos); ● Operatório-concreto (8 – 11 anos) e ● Operatório-formal (12 – 14 anos). ● Período sensório-motor (0 - 2 anos): Este nome é dado a um período bastante complexo na vida da criança, pois nessa fase ou período acontece a organização e desenvolvimento dos aspectos perceptivo, motor, intelectual, afetivo e social, ou seja, é a fase em que a criança está iniciando a capitação e decodificação das informações do mundo ao seu redor. Esse período inicia-se com reflexos que aos poucos são estruturados. 13UNIDADE I Conceitos Básicos ● Período pré-operacional (2 - 7 anos): Período em que a atividade sensório motora é refinada, nesta fase surge inicia a abstração no qual a criança inicia a substituição de algo concreto por algo abstrato – função simbólica (diferenciação de significante e significado), em que ocorre uma possibilidade de elaboração mais requintada, possibilitando maior exploração do mundo, a criança já faz uso de mais movimentos e apresenta percepções intuitivas. • A criança nesse estágio apresenta algumas características: é egocêntrica, centrada em si mesma, e não consegue se colocar, abstratamente, no lugar do outro; • Não aceita a ideia do acaso e tudo deve ter uma explicação (é fase dos “por quês”); • Já pode agir por simulação, “como se”; • Possui percepção global sem discriminar detalhes; • Deixa se levar pela aparência sem relacionar fatos. Exemplo: mostram-se para a criança duas bolinhas de massa iguais e dá-se a uma delas a forma de salsicha. A criança nega que a quantidade de massa continue igual, pois as formas são diferentes. Não relaciona as situações. ● Período das operações concretas (7 - 12 anos): Período no qual a criança desenvolve noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, casualidade, relacionando fatos e melhorando a organização dos fatos abstrato, mesmo assim ainda necessita do apoio do mundo concreto agindo como facilitador para a abstração. Um fato importante é que nesse período a criança adquire o conceito de reversibilidade. ● Período das operações formais (dos 12 anos em diante): Período em que a estrutura cognitiva da criança encontra-se mais elaboradas, em um nível de desenvolvimento mais elaborado. Nesta fase a criança consegue fazer uma abstração total. Já existe um pensamento logico, a capacidade de formular hipóteses buscando soluções. Cognitivamente a criança está em um nível elevado, conseguindo elaborar raciocínios lógicos, pensamento crítico para todos os tipos de assunto. 14UNIDADE I Conceitos Básicos 3. VYGOTSKY Para Vygotsky, o desenvolvimento da linguagem implica o desenvolvimento do pensamento, pois pelas palavras o pensamento ganha existência. Vygotsky afirma que a linguagem possui duas funções básicas intercâmbio social e pensamento generalizante. Para o autor, o desenvolvimentoda linguagem da criança inicia quando esta usa de formas de comportamento que outras pessoas usaram com ela, (o que chamamos de imitação lógica), ou seja, a criança repete o que lhe foi ofertado iniciando assim a comunicação e estruturando sua linguagem, onde seu ambiente auxilia na criação de situação em que a criança consiga atingir seu objetivo. Em um momento de futura organização cognitiva, estes fatores envolverão a fala. Acreditando no desenvolvimento da fala e linguagem de forma natural em que o conhecimento é aprendido e desenvolvido por conta própria, ou seja, independente de situações ofertadas pelo meio. Vygotsky nos apresenta três conceitos fundamentais a nossa profissão: O conceito de desenvolvimento real: Entendendo pelo que a criança é capaz de nos ofertar ou de produzir sem a interferência de outra pessoa; O conceito de desenvolvimento potencial: Entendendo a capacidade da criança em adquirir novos conhecimentos com cooperação de outras pessoas; O conceito de zona proximal de desenvolvimento: Entendendo a capacidade da criança baseada nos dois ambientes anteriormente expostos. [...] à distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto, ou em colaboração com os companheiros capazes (VYGOTSKY, 1932/1996, p. 97). 15UNIDADE I Conceitos Básicos 4. CHOMSKY A Teoria Inativista é a defendida por Chomsky está se estabeleceu a partir do estudo de que o ser humano desenvolve a fala e a linguagem por ter um conhecimento inato, pré-determinado; afirmando que a linguagem não poderia se desenvolver apenas por fontes externas. Chomsky se apoiou na ideia de que o ser humano é auto suficiente para o desenvolvimento da linguagem, como se houvesse um receptor independente para este desenvolvimento criativo e exclusivo do ser humano. [...] os seres humanos são, então, dotados de uma capacidade inata para a linguagem, e possuem um conhecimento sobre o sistema linguístico, chamado de “competência”. Isso explica como uma criança, exposta a tão poucos dados no seu ambiente, consegue desenvolver um sistema tão complexo em tão pouco tempo. Assim, a existência da GU, acionada por meio de um Dispositivo de Aquisição da Linguagem – DAL – nas primeiras versões da teoria, é o que desencadeia a competência linguística da criança (QUADROS e FINGER, 2007, p. 28). Mesmo acreditando nas potencialidades inatas da criança para o desenvolvimento de fala e linguagem, Chomsky não descartou que estímulos facilitadores facilitam e favorecem e melhoram o desempenho desta competência. O que um professor ensina para uma criança fazendo com que as crianças des- cubram por elas mesmas por meio da curiosidade e da exploração, faz com que elas aprendam por elas mesmas de forma muito mais significativa e produtiva, do que o que a elas é passado de forma passiva (CHOMSKY, 1988, p. 135). 16UNIDADE I Conceitos Básicos 5. SKINNER Skinner pressupões que o desenvolvimento de fala e linguagem acontece devido a processos de imitação e repetição, processo em que a criança repete o que ouve e é recompensada por isso. B.F Skinner acredita em desenvolvimento de fala e linguagem através de reforços positivos e negativos, que farão a criança manter, construir ou eliminar comportamentos linguísticos e assim construir uma fala elaborada, mas não considerou os processos imaginativos e criativos inerentes as crianças. Os teóricos behavioristas rejeitam veementemente a existência de qualquer tipo de conhecimento inato, pois, segundo eles, o conhecimento – resultado do processo de aprendizagem – é produto da interação do organismo com o seu meio através de condicionamento estímulo-resposta-reforço (QUADROS e FINGER, 2007, p. 13). Para a teoria behaviorista, o ser humano é um ser moldável pelo seu meio. Dessa forma, nessa abordagem teórica, o comportamento linguístico de uma criança é uma resposta à estimulação realizada por um fator externo: família, professor ou outros estímulos (QUADROS e FINGER, 2007). 17UNIDADE I Conceitos Básicos SAIBA MAIS A linguagem é o resultado de uma atividade nervosa complexa que permite a comunicação interindividual de estados psíquicos através da materialização de signos multimodais que simbolizam estes estados de acordo com uma convenção inerente a uma comunidade linguística. Lecours e Cols (1979). Fonte: Lecours e Cols (1979, p. 35). REFLITA Procurar entender o que os pensadores acima estudaram e como suas teorias foram estruturadas faz parte do saber fonoaudiológico, portanto não nos permitamos estagnar nos estudos! Fonte: A autora (2021). 18UNIDADE I Conceitos Básicos CONSIDERAÇÕES FINAIS Algumas teorias nos foram apresentadas, mas com o pensamento crítico sempre devemos nos questionar sobre os fatores que desenvolvem a linguagem: Seriam apenas fatores biológicos ou apenas fatores externos. Hoje sabemos que vários são os fatores responsáveis pela aquisição da fala e da linguagem. Para a fonoaudiologia conhecer as diferentes teorias é de suma importância pois diante destes desenvolveremos análise para avaliação e planejamento terapêutico. 19UNIDADE I Conceitos Básicos LEITURA COMPLEMENTAR As teorias de aquisição de fala e linguagem são variadas, para conhecer mais sobre o tema, aprender sobre outras teorias que não foram citadas nesse material e conhecer sobre pesquisas no Brasil a respeito de aquisição de linguagem. Fonte: QUADROS, R. M.; FINGER, I. Teorias de aquisição da linguagem. Editora UFSC: Santa Catarina, 2007.Disponível em: https://www.researchgate.net/ publication/268366651. Acesso em: 10 nov. 2021. https://www.researchgate.net/publication/268366651 https://www.researchgate.net/publication/268366651 20UNIDADE I Conceitos Básicos MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Manual de Fonoaudiologia Autor: J. Peña-Casanova. Editora: Artmed. Sinopse: A segunda edição desta obra chega num momento de grandes mudanças e avanços no âmbito da patologia e da reabilitação da linguagem. O acumulo progressivo de conhecimentos e o desenvolvimento de novas tecnologias irão representar uma revolução na atividade clínica. Dentre as contribuições dos últimos tempos, destacam-se: a eclosão das abordagens cognitivas, o desenvolvimento da psicolinguística e da neurolinguística, o espetacular avanço das técnicas de neuroimagem, a expressiva introdução dos computadores no diagnóstico e na reabilitação, os avanços na neurobiologia, a decisiva introdução do controle metodológico e de estudos sobre a eficácia das diferentes formas de terapia e a aplicação de abordagens antropológicas, sociológicas e socio terapêuticas. Muitas dessas contribuições marcam os conhecimentos atuais em fonoaudiologia e fazem com que o futuro da patologia da linguagem e a sua recuperação sejam muito mais promissores. Nesse contexto de inovações, o foi reescrito e acrescido de capítulos, propiciando ao leitor - estudante ou profissional - um texto-fonte completo e contemporâneo. FILME/VÍDEO Título: Especial Síndrome de Down Ano: 2017. Sinopse: Dia 21 de março é o Dia Internacional da Síndrome de Down. Conheça histórias de famílias que contém membros com essa deficiência e como eles lidam e aprendem com eles. 21 Plano de Estudo: ● Aquisição de fala e linguagem; ● Estimulação de fala e linguagem. Objetivos da Aprendizagem: ● Iniciar o estudo da comunicação humana efetiva; ● Conhecer o estudo das Alterações de fala e linguagem. UNIDADE II Aquisição de Fala e Linguagem Profª. Karissa Cristina Aued 22UNIDADE I Conceitos Básicos 22UNIDADE II Aquisição de Fala e Linguagem INTRODUÇÃO Prezado (a) aluno (a)! Estudar e compreender os processos de aquisição de fala e linguagem se fazem imprescindíveis para a classe fonoaudiológica, tendo em vista que tais conhecimentos são a base do nosso estudo enquanto ciência,compreender o desenvolvimento normal faz com que tenhamos um raciocínio clinico amplo e preciso em nossas avaliações, diagnósticos e intervenções. Tenhamos um olhar delicado e voraz frente as informações como ferramentas ofertadas entendendo que cada uma delas faz parte de um todo para a construção do saber que necessita ser diário para que possamos crescer pessoal e profissionalmente. Desejo a você, uma boa leitura e aprendizado! 23UNIDADE I Conceitos Básicos 23UNIDADE II Aquisição de Fala e Linguagem 1. AQUISIÇÃO DE FALA E LINGUAGEM A aquisição da fala e da linguagem de uma criança sempre foi motivo muitos estudos, sendo ela uma manifestação perfeita ou imperfeita, fato é que na atualidade a vemos como algo que depende de múltiplos fatores para se desenvolver com veemência. A fonoaudiologia vem aprimorando seu conhecimento no sentido de ter um olhar mais humano considerando a singularidade do indivíduo e o percebendo como um todo e nessa proposta temos uma visão do indivíduo, onde não podemos esquecer de analisar seus sentimentos pois estes repercutem diretamente na produção da fala. A comunicação, objeto de estudo desta profissão, é vista como forma de integra- ção social do indivíduo por meio das diversas modalidades da linguagem, que possibilita ao indivíduo se colocar como agente transformador da sociedade e de sua realidade (SOUZA; CUNHA e SILVA, 2005). Cada pessoa tem uma maneira diferente de se expressar, nesse momento vamos dar início aos estudos do desenvolvimento da linguagem oral no que chamamos de “padrões de normalidade”, lembrando que os estudos continuam e marcos e conceitos podem ser reelaborados com o passar do tempo. 24UNIDADE I Conceitos Básicos 24UNIDADE II Aquisição de Fala e Linguagem Nas funções da linguagem podemos definir que: ● Emissor é que envia a mensagem; ● Receptor é que recebe a mensagem; ● Mensagem é o conteúdo a ser passado; ● Canal de Comunicação é o meio pela qual a mensagem é enviada, no nosso caso a fala (linguagem oral). ● Código é a língua usada no momento da comunicação; ● Contexto é o objetivo ou a situação a que a mensagem se refere. Sobre a importância da fala e da linguagem, Luria (1986, p. 57) afirma: A palavra não somente designa objetos do mundo externo, ações, traços e relações, mas também analisa e generaliza esses objetos. A palavra é o instrumento de análise da informação que o sujeito recebe do mundo externo. Se no início da vida da criança o significado da palavra possui um caráter afetivo, ao finalizar a idade pré-escolar e no começo da escolar, no significado da palavra já se encerram as impressões concretas sobre a experiência direta real e prática. Nas etapas posteriores começam a haver por trás das palavras sistemas complexos de enlaces e relações abstratas, e a palavra começa a introduzir o objeto em uma determinada categoria de sistemas conceituais hierarquicamente organizados (LURIA, 1986, p. 57). Veremos a seguir os estudos de Vygotsky em que nos é apresentada as etapas do desenvolvimento da seguinte forma: ● Fala social de 0 a 03 anos primeira fase de desenvolvimento de fala e linguagem onde a fala está associada a ações e fazem parte de uma comunicação comum (pouca organização linguística); ● Fala egocêntrica de 3 aos 6 anos, este estágio apresenta – se transitório onde a fala expressa pensamentos mais organizados linguisticamente; ● Função planejada a partir dos 6 anos este é um período de autorregulação em que a criança apresenta controle de fala, linguagem interna e comportamento. Nesse momento a fala vai se tornando elaborada, a criança domina a ação e faz uso da linguagem interna (expressa pensamentos). Vygotsky também nos direciona com as etapas do desenvolvimento das operações mentais: ● Estágio natural ou primitivo considera um período de fala pré-intelectual e os pensamentos pré-verbais, no qual as características marcantes são choro, balbucios e sorrisos essas características são aspectos comunicativos que antecedem a fala; ● Estágio das experiencias psicológicas ingênuas considera um período no qual a criança passa por experiencias psicológicas mesmo antes de entendê-las; 25UNIDADE I Conceitos Básicos 25UNIDADE II Aquisição de Fala e Linguagem ● Estágio dos signos exteriores, período de evolução das experiências psicológicas ingênuas, em que a criança traz o pensamento a seu favor para planejar e ou executar as ações que deseja; ● Estágio do crescimento Interior, no qual a criança interioriza pensamentos e fala. Vygotsky enfatiza em seus escritos: O estudo do pensamento e da linguagem é uma das áreas da psicologia em que é particularmente importante ter-se uma compreensão clara das relações interfuncionais existentes. Enquanto não compreendermos a inter-relação entre o pensamento e a palavra, não poderemos responder a nenhuma das questões mais específicas deste domínio, nem sequer levantá- las (VYGOTSKY, 2009, p. 06). Piaget em seus estudos entende as etapas do desenvolvimento de linguagem da seguinte forma: ● Período Sensório-motor de 0 a 02 anos em que a criança associa a função simbólica a ação motora, iniciando o processo de reconhecimento do próprio corpo e fala, algumas vezes apresenta ecolalia; ● Período Simbólico de 02 a 04 anos etapa de forte simbolismo, monólogos e acontece a socialização das ações (período de fantasias); ● Período Intuitivo de 05 a 07 anos, etapa de buscas constante por explicações (fase do por que), separando a fantasia da realidade e conseguindo manter diálogos. ● Período Operatório concreto de 01 a 11 anos existe a elaboração do pensa- mento lógico, a criança apresenta boa interação social e comunicativa; ● Período Operatório Abstrato a partir dos 11 anos existe o desenvolvimento do pensamento hipotético – dedutivo, assim como abstrações, a linguagem já é usada em discussões gerando pensamento crítico e ideias. Tendo em vista a Teoria de Piaget chegamos à conclusão de que a evolução da fala e linguagem está ligado ao desenvolvimento de suas funções psicológicas superiores, não sendo possível separar o desenvolvimento de fala e desenvolvimento de pensamento, pois estes estão intimamente relacionados. 1.1 Sinais de Alerta para fonoaudiólogos: ● 0 a 06 meses a criança não reage a estímulos sonoros, não sorri ou não mantém contato visual; ● 06 a 12 meses a criança não produz sons (balbucios), não reage quando chamada pelo nome, não reage a sons familiares (campainha, batidas de palmas, telefone...); 26UNIDADE I Conceitos Básicos 26UNIDADE II Aquisição de Fala e Linguagem ● Não mantém contato visual; ● 12 a 18 meses a criança não produz palavras isoladas, não reage sorrindo em situações de conforto, não mantém contato visual; ● 18 a 24 meses a criança não compreender ordens simples e ter um 24 a 36 meses a criança não combinar duas palavras para formar frases; ● Vocabulário reduzido a 4 ou 6 palavras; Atenção: Após aos 48 meses toda troca, omissão ou distorção fonêmica deve-se observada atentamente. A família da criança deve procurar avaliação fonoaudiológica sempre que tiver dúvidas quanto ao desenvolvimento de fala da criança e o fonoaudiólogo necessita ter conhecimento específico dos marcos do desenvolvimento infantil para uma estimulação, intervenção ou para orientação a família. O desenvolvimento da linguagem depende não somente das condições biológicas inatas de cada indivíduo, como também sofre influência de fatores ambientais presentes nos meios em que as crianças estão inseridas, como por exemplo, a família e a escola (SCOPEL et al., 2011, p. 734). QUADRO 1 - DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM DA CRIANÇA Fonte: BOONE, D; PLANTE, E. Comunicação Humana e seus distúrbios. Ed. Artes médicas, 1994.; BEE, H. A criança em desenvolvimento. Ed. Artes Médicas, 1996; FRANKENBURG, W.K e cols. Manual de aplicação do teste de desenvolvimento, Denver II, 1992. 27UNIDADE I Conceitos Básicos 27UNIDADE II Aquisição de Fala eLinguagem Tendo base a afirmação acima e a experiência clínica chegamos à conclusão que muitos fatores podem influenciar o desenvolvimento de fala e linguagem, dentre eles: fato- res biológicos, fatores emocionais e fatores sociais. Considerando os fatores biológicos pensamos na integridade de Sistema Nervoso, de Sistema Auditivo, de OFAs e de Cognição em que cada um se faz essencial para uma organização e produção de fala e linguagem; Como fatores emocionais podemos pensar nas desestruturas familiares onde pais não ofertam o afeto necessário e a criança não adquire ou maturidade emocional esperada. Toda família pode estimular o desenvolvimento de fala e linguagem de suas crian- ças, porém na maioria das vezes estas necessitam de orientação ao chegar ao consultório fonoaudiológico. Orientações básicas as famílias de crianças com dificuldades ou atrasos no desen- volvimento de fala e linguagem: ● Ofertar a criança um ambiente aconchegante e tranquilo em que ela se sinta segura; ● Enriquecer a rotina da criança com situações que favoreçam o diálogo; ● Interagir sempre com a criança ofertando possibilidades de emissões e ou possibilidades de diálogo; ● Dar reforço positivo as intenções comunicativas da criança; ● Estimular aspectos cognitivos da linguagem; ● Observar a criança procurando identificar as atividades que ela mais gosta e se valer dessas para criar um ambiente que favoreça a comunicação oral (fala). Concluímos que para muitas crianças produzir sons de acordo com a língua é um desafio, em alguns casos esta dificuldade está relacionada a alterações neurológicas, auditivas, orgânicas em OFAs (órgãos fonoarticulatórios), autismo ou síndromes. Porém há casos em que as crianças apresentam alterações na fala e não apresentam nenhuma das condições citadas são casos de possíveis Desvios Fonológicos. Considerando as alterações na fala, é imprescindível que o fonoaudiólogo tenha conhecimento da fonética, da fonologia e do desenvolvimento normal da fala para que a partir daí exista uma avaliação da história pregressa dos distúrbios atuais, avaliando e concluindo e em qual patologia fonoaudiológica o mesmo se enquadra e a partir daí estruturar o melhor tratamento. 28UNIDADE I Conceitos Básicos 28UNIDADE II Aquisição de Fala e Linguagem Yavas (2001) indica em um de seus estudos que muitas crianças apresentam desordens na comunicação ou tem dificuldades no âmbito fonológico. Isto é, dificuldade quanto a organização dos sons, escolha dos sons em sua sequência correta, na constituição de palavras ou até mesmo na utilização desse conhecimento. Segundo Spíndola (2007), a Fonologia, em um sentido mais restrito é o estudo dos padrões de sons de uma língua, ou seja, é o estudo sistemático dos sons, entendendo a função desses sons em determinada língua, organização e classificação desses sons. Em um sentido mais amplo, a Fonologia refere-se ao estudo em todos os aspectos da fala, entendendo a percepção, produção, aspectos cognitivos e motores da fala. A aquisição dos sons da nossa Língua Portuguesa especificamente quanto as idades esperadas para aquisição de cada fonema estão apresentadas no quadro abaixo: QUADRO 2 - IDADE DE AQUISIÇÃO FONÊMICA Fonte: Adaptado de FERNANDES, B. Aquisição dos sons do Português Brasileiro. Smarty Ears, Estados Unidos, 2017. Disponível em: http://www.ipadfono.com/aquisicao-dos-sons-do-portugues-brasileiro/. Acesso em: 10 jan. 2021. 29UNIDADE I Conceitos Básicos 29UNIDADE II Aquisição de Fala e Linguagem 2. ESTIMULAÇÃO DE FALA E LINGUAGEM Desde o momento em que uma criança nasce ela passa por várias fases até adquirir competências no desenvolvimento geral, em se tratando de fala e linguagem observando o quadro abaixo perceberemos as nuances da evolução da fala e linguagem em um curto período de existência. QUADRO 3 - ETAPAS DA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM 0-3 meses Produção de sons (choro/consolo, gritos, barulhos), “discriminação de sons familiares” 4-6 meses Discriminação dos sons da fala – compreensão de palavras – “balbucio”, produção de vogais e despois consoantes, “expressões faciais” 7-9 meses Balbucio reduplicado (“babada”) de forma interativa e produção gestual comunicativa – “aponta para objetos” 10-12 meses Primeiras palavras reais + jargão (balbucio com fala) “contato visual, expressões faciais, vocalizações e gestos (se faz entender por meio dessas formas de comunicação antes mesmo de falar)” 12-18 meses Produção de 10-50 palavras e algumas frases de duas palavras – chama atenção para receber uma resposta verbal do adulto. 2 anos Produz 150 a 200 palavras e frases de 2 a 3 palavras – nomeia objetos quando inquirida. 3 anos Sentenças gramaticais (artigo, preposição, plurais), formula questões 4 anos Clara sintaxe – completa inteligibilidade é esperada aos 4 anos e 6 meses (meninas em média um pouco antes) para fonologia do português e do inglês. Fonte: Adaptado de: ATTACHMENT: Etapas do desenvolvimento da linguagem oral. Psicosol, Blumenau, 2021. Disponível em: https://psicosol.com/tabela-com-desenvolvimento-da-linguagem/etapas-do- desenvolvimento-da-linguagem-oral-4-jpg/#top_of_page. Acesso em: 10 jan. 2021. 30UNIDADE I Conceitos Básicos 30UNIDADE II Aquisição de Fala e Linguagem A estimulação da fala e linguagem tem início logo após o nascimento do bebê, durante a amamentação, onde a mãe troca palavras de carinho, mantém contato visual com seu bebê e inicia o trabalho de estimulação de OFAs, todo esse processo faz com que a criança obtenha uma maturidade mastigatória e evolução linguística. FIGURA 1 - O DESENVOLVIMENTO DE FALA E LINGUAGEM O desenvolvimento de fala e linguagem acontece continuamente na maioria das crianças, quando bebê a criança se comunica através do choro, das risadas, evoluindo para sons, palavras e frases, porém nesse percurso podem ocorrer alguns percalços que pre- judicam intimamente o desempenho da criança nessas atividades ressaltando novamente questões orgânicas, sensoriais, sociais, afetivas e cognitivas. Na atualidade não podemos deixar de considerar que o isolamento social decorrente da Pandemia de Covid-19 afetou diretamente o desempenho das crianças em suas habilidades sociais e de fala. Os distúrbios da comunicação constituem algumas das doenças infantis mais prevalentes, manifestando-se como atraso ou desenvolvimento atípico envolvendo componentes funcionais da audição, fala e/ou linguagem em níveis variados de gravidade. Na maioria das vezes esses distúrbios são percebidos pelos pais, que referem que a criança tem dificuldade para falar ou que não fala, é dificilmente compreendida, incapaz de dizer alguns sons corretamente ou que gagueja (PRATES e MARTINS, 2011, p. 54). Em caso de comorbidades, no qual já existe uma patologia ou existe a suspeita desta é orientado aos pais procurar ajuda fonoaudiológica o mais rápido possível para análise de uma possível estimulação ou intervenção precoce. Souza (2005, p. 427) indica: As ações de promoção, proteção e recuperação da saúde devem ser garantidas nos variados aspectos associados à comunicação humana em todo ciclo vital, uma vez que a comunicação humana abrange o falar, o ouvir, o ler, o escrever e os informes não verbais (expressões faciais, gestos, hesitações e o próprio silêncio. Sua qualidade é determinante para autoconfiança, felicidade e segurança, propiciando uma comunicação mais efetiva e fundamental para saúde do sujeito (SOUZA, 2005, p. 427). 31UNIDADE I Conceitos Básicos 31UNIDADE II Aquisição de Fala e Linguagem A fonoaudiologia se faz importante para prevenir e tratar alterações de linguagem, pois como ciência da comunicação lhe cabe reverter aspectos alterados evitando que as demais etapas do desenvolvimento sejam prejudicadas, um exemplo é a criança que troca fonemas na fase de alfabetização fazer a mesma troca na escrita (troca de grafemas). O número de crianças com atraso do desenvolvimento de fala e linguagem cresceuconsideravelmente juntamente com os diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista e no cenário atual de um mundo pós-pandemia. Pesquisadores afirmam que crianças com atraso no desenvolvimento de linguagem podem vir a apresentar dificuldades fonológicas, morfológicas, de semântica e em vários outros aspectos. Por isso a importância do atendimento fonoaudiológico precoce. As alterações no desenvolvimento da fala e da linguagem podem causar sérios problemas no desenvolvimento cognitivo e socioemocional na idade escolar ou adolescência. Estudos demonstram que a detecção de tais alterações aos dois a três anos reduz 30% a necessidade de acompanhamento terapêutico (fonoaudiologia, psicologia, educação especial, entre outros) aos oito anos de idade (PRATES e MARTINS, 2011, p. 58). Esta visão, a estimulação de fala e linguagem se faz indispensável no sentido de prevenção de possíveis alterações, pois a criança está em evolução contínua, apta a receber, relacionar e decodificar as informações do meio, sendo que devemos lembrar e considerar que nesta fase a plasticidade cerebral está mais sensível, assim como a linguagem verbal caminha lado a lado com outras habilidades desenvolvidas pela criança. Portanto, todo processo evolutivo da criança necessita ser observado durante a avaliação. Em casos de atraso no desenvolvimento da fala e linguagem, o papel do fonoaudiólogo tem pertinência desde a avaliação até a intervenção, sendo que muitas vezes uma orientação direcionada a família faz diferença no cotidiano da criança e na construção linguística da mesma. O termo “Estimulação Precoce” normalmente é utilizado quando o objetivo é estimu- lar a criança mesmo que ela não tenha alterações no desenvolvimento. Já quando utilizamos o termo “Intervenção Precoce” a criança está fora dos padrões considerados normais para sua idade cronológica, ou seja, apresenta um atraso nos “marcos do desenvolvimento” e a terapia fonoaudiológica visa adequação de fala ou de linguagem, nesse caso usamos o termo reabilitação. Esta intervenção visa readequar o que está alterado possibilitando um prognóstico favorável para a criança em questão. O diagnóstico precoce, ou melhor, o mais cedo possível direciona a intervenção no que consideramos período crítico de maturação e plasticidade de Sistema Nervoso Central (SNC). A intervenção precoce acontece desde os primeiros dias de vida da criança pois muitas vezes o fonoaudiólogo é solicitado para auxiliar as mamadas, onde acontece as primeiras intenções comunicativas do bebê. 32UNIDADE I Conceitos Básicos 32UNIDADE II Aquisição de Fala e Linguagem Estimular fala e linguagem significa proporcionar condições favoráveis para que a criança consiga adquirir um desenvolvimento tranquilo, dentro do que consideramos normal. Já fazer uma Intervenção de fala e linguagem significa proporcionar condições favoráveis dentro de um contexto terapêutico para que a criança consiga desenvolver as funções linguísticas, (de fala e linguagem) que estão aquém dos marcos esperados em sua idade cronológica, lembrando que esta intervenção necessita ser lúdica, prazerosa e que nunca a criança deverá sentir-se cobrada. A intervenção de linguagem necessita trabalhar ludicamen- te a vontade da criança comunicar-se através da fala correta. Para crianças com “transtornos” a intervenção e estimulação ganha importância ainda maior devendo acontecer de forma sistematizada e especializada, sendo o acompanhamento profissional imprescindível. As diretrizes educacionais brasileiras definem: Um conjunto dinâmico de atividades e de recursos humanos e ambientais incentivadores que são destinados a proporcionar à criança, nos seus primeiros anos de vida, experiências significativas para alcançar pleno desenvolvimento no seu processo evolutivo (BRASIL, 1995, p. 11). Com nosso estudo concluímos que muitos fatores interferem no desenvolvimento de fala e linguagem das crianças. No atual cenário de pandemia em que o isolamento social tornou-se uma realidade podemos perceber o quanto a socialização faz diferença, pois tivemos um aumento considerável de crianças com dificuldades na fala, linguagem e socialização; cabendo ao fonoaudiólogo avaliar e reestruturar a desorganização causada neste intervalo de tempo, para que as crianças readquiram suas habilidades comunicativas. Estas crianças normalmente apresentam dificuldade nas dimensões fonológica, morfológica, semântica e pragmática da fala. Nessas condições necessitamos refletir sobre a consciência fonológica que entendemos como o conjunto de habilidades que vão desde a percepção global do tamanho da palavra e de semelhanças fonológicas entre elas, até a segmentação e manipulação de fonemas ou sílabas, esta consciência fonológica faz parte de um processo de operações mentais no qual existe um processamento de informações baseado na estrutura fonológica da nossa fala. Assim a consciência fonológica refere-se à habilidade de manipular segmentos de fala, na medida em que a criança vai percebendo o sistema sonoro da língua, ou seja, palavras, sílabas e fonemas como unidades identificáveis vai estruturando sua comunicação com maior riqueza de detalhes. 33UNIDADE I Conceitos Básicos 33UNIDADE II Aquisição de Fala e Linguagem Vamos pensar, nós vimos todos os marcos de aquisição da linguagem, sendo assim quando uma criança não se encontra com a evolução esperada precisamos avaliar quais fatores podem estar gerando as alterações por isso uma anamnese minuciosa se faz necessária para uma avaliação da história pregressa dos distúrbios atuais, a partir da anamnese teremos alicerce para direcionar nossa avaliação onde ficará claro se a criança necessita ou não de terapia fonoaudiológica. A decisão de iniciar ou não intervenção fonoaudiológica dependerá do grau de atraso na criança em questão, mas normalmente indicamos o início da terapia o mais breve possível, todos os casos terão evolução com a terapia, porém alguns podem evoluir para uma Dislalia. Não podemos esquecer que a criança em questão estará mais suscetível a apresentar dificuldades no processo de alfabetização. SAIBA MAIS Quando a criança adquire (produz) palavras e lhes atribui significados as áreas de Broca, Werneck e Córtex de Associação Adjacente, estão atuantes. Fonte: A autora (2021). REFLITA A postura familiar pode influenciar no desenvolvimento de fala e linguagem da criança? Sendo assim a família pode ser uma facilitadora para nosso tratamento? Fonte: A autora (2021). 34UNIDADE I Conceitos Básicos 34UNIDADE II Aquisição de Fala e Linguagem CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro (a) Aluno (a) Acabamos de aprender sobre o desenvolvimento típico, ou seja, o desenvolvimento normal de fala e linguagem, e neste percebemos que a aquisição fonológica está intimamente relacionada a este processo. Contar histórias, ler livros, cantar músicas, explorar o ambiente ao redor, todas as cores, formas, objetos, cheiros e sons faz com que a criança desenvolva sua habilidade perceptiva ao mundo, desenvolvendo assim a fala e linguagem, a criança faz uso dos neurônios espelho onde a mesma repete o que ouve ou vê e esta organização é feita desde o seu nascimento. Toda pessoa que convive com a criança é um estimulador, sendo assim pais, babás e professores são de suma importância pois fazem parte da vida da criança em maior tempo e necessitam cuidar para que o ambiente seja favorável ao desenvolvimento das habilidades da criança. E mesmo que a criança necessite de um apoio fonoaudiológico existe a necessidade de os pais atenderem as solicitações realizadas pelo profissional para que a criança tenha estímulos corretos em seu ambiente natural sentindo – o encorajador e acolhedor à fala. O fonoaudiólogo além de estimulador, readequador também é um facilitador as habilidades comunicativas. 35UNIDADE I Conceitos Básicos 35UNIDADE II Aquisição de Fala e Linguagem LEITURA COMPLEMENTAR Para maiorconhecimento sobre as Diretrizes Educacionais Brasileira sobre Estimulação Precoce uma indicação de leitura interessante é: Diretrizes educacionais sobre estimulação precoce. Secretaria de Educação Especial. Brasília: MEC, SEESP, 1995. Fonte: BRASIL. Diretrizes educacionais sobre estimulação precoce. Secretaria de Educação Especial. Brasília: MEC, SEESP, 1995. Disponível em: http://www.dominiopubli- co.gov.br/download/texto/me002557.pdf. Acesso em: 10 nov. 2021. http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me002557.pdf http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me002557.pdf 36UNIDADE I Conceitos Básicos 36UNIDADE II Aquisição de Fala e Linguagem MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Linguagem e linguística: uma introdução Autor: John Lyons. Editora: LTC; 1ª edição. Sinopse: Escrito por um dos mais conhecidos linguistas britânicos, Lingua(gem) e linguística – uma introdução começa com uma exposição geral sobre os objetivos, métodos e princípios básicos da teoria linguística, seguindo-se uma introdução a cada um de seus principais subcampos: os sons da língua, a gramática, a semântica, as modificações linguísticas, a psicolinguística, a sociolinguística, a linguagem e a cultura. Em cada uma dessas seções, John Lyons refere-se às tendências atuais mais significativas e examina obras afins, dando ênfase aos aspectos da disciplina que parecem mais fundamentais e duradouros. Ressalta também, ao longo de todo o livro, o contexto biológico da linguagem humana e mostra como as preocupações e os interesses dos linguistas se conectam produtivamente aos interesses das ciências humanas e sociais. Esta obra consiste em uma introdução geral à linguística e ao estudo da linguagem, destinada particularmente aos estudantes que se iniciam na matéria e aos leitores sem conhecimentos prévios do assunto. A cada capítulo seguem-se um amplo questionário e exercícios de revisão, com o objetivo de testar o aproveitamento da leitura. FILME/VÍDEO Título: Vídeo dia do Fonoaudiólogo Ano: 2017. Sinopse: O vídeo aborda as áreas de atuação da Fonoaudiologia. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=pvcD9GWivmM 37 Plano de Estudo: ● Desvio fonológico; ● Autismo; ● Gagueira; ● Alterações neurológicas e Síndromes. Objetivos da Aprendizagem: ● Iniciar o estudo de como acontecem as patologias fonoaudiológicas acima citadas; ● Identificar e direcionar para o tratamento específico quando este for necessário. UNIDADE III Alterações Comuns na Fala e Linguagem Profª. Karissa Cristina Aued 38UNIDADE III Alterações Comuns na Fala e Linguagem INTRODUÇÃO Nesta unidade iniciaremos o estudo específico de patologias comuns a fonoaudiologia, assim como conceitos básicos que norteiam o desenvolver de nossas atividades diárias, considerando estes conteúdos inerentes ao trabalho diário do fonoaudiólogo, necessitamos de um olhar carinhoso e atento a todas as informações aqui relacionadas entendendo que cada criança tem sua própria característica independentemente de apresentar ou não uma patologia fonoaudiológica. Entender as patologias e como elas acontecem em cada indivíduo faz diferença no desenvolver dos processos terapêuticos e demanda o sucesso do nosso trabalho. A visão do profissional ao avaliar uma criança, ou um indivíduo necessita ser precisa e humanizada para a elaboração de uma hipótese diagnóstica, esta Unidade é altamente relevante para o aprendizado fonoaudiológico, pois é o início de uma longa jornada. 39UNIDADE III Alterações Comuns na Fala e Linguagem 1. DESVIO FONOLÓGICO Quando a criança adquire a fala com alterações fonológicas sem causas aparentes consideramos que esta apresenta um Desvio Fonológico, nesse transtorno existe a ausência de alterações anatômicas dos órgãos fonoarticulatórios ou de outra ordem, sendo assim consideramos Desvio Fonológico uma dificuldade de usar o sistema fonológico de maneira correta (fonemas e/ou estruturas silábicas), nessa patologia a criança apresenta substituições, omissões ou distorções na fala. Yavas, Hernandorena e Lamprecht (2001) afirma que a maioria das crianças apresentam desordens na comunicação ou tem dificuldades no âmbito fonológico, isto é, dificuldade quanto a organização dos sons, escolha dos sons em sua sequência correta, na constituição de palavras ou até mesmo na utilização desse conhecimento. Nessa organização temos a consciência fonológica como algo de suma importância para o desenvolvimento de fala e linguagem, pois de forma simplória é a capacidade de segmentar as palavras em sua menor unidade, sendo assim muitas vezes o diagnóstico acontece em idade escolar. A consciência fonológica se faz pela competência em várias habilidades: reconhecimento e produção de rimas, diferenciação de pares mínimos, habilidades de segmentação, subtração de fonemas, segmentação de palavras em sílabas, entre outras deixando claro a sua importância na aquisição de fala e na alfabetização da criança A consciência fonológica na aprendizagem da comunicação gráfica é amplamente referenciada na literatura, assim como sua importância no emprego de atividades de cons- ciência fonológica de forma preventiva ou reabilitadora. 40UNIDADE III Alterações Comuns na Fala e Linguagem Considerando uma criança com Desvio Fonológico e seu sistema de fonologia notamos que este sistema é semelhante ao de crianças sem alterações consideráveis. Verificamos que cada criança desenvolve seu sistema fonológico em sua linguagem de maneira única com variações particulares, onde mesmo dentro destas particularidades nós direcionamos pelos Marcos do Desenvolvimento analisando as peculiaridades do desenvolvimento fonológico. A avaliação de um desvio fonológico é um dos momentos mais importantes para um terapeuta, pois ao analisar as características dos desvios de fala o terapeuta terá um melhor conhecimento dos padrões de fala a serem analisados na sua comunidade de fala. No entan- to, apesar de existir modos de avaliação diferentes, os tratamentos são sempre os mesmos. Na década 90 utilizamos muitas vezes o termo Dislalia para definir o que chamamos hoje de Desvio Fonológico, a Dislalia era o distúrbio da palavra falada podendo ter origem orgânica (fissuras, freios linguais ou labiais alterados, arcada dentaria, etc.) ou funcional (falha na musculatura de OFAs). Definimos o desvio fonológico de uma forma simples como uma dificuldade no domínio da fonologia. Sendo assim, o termo tem a possibilidade de imprecisões articulatórias e problemas na organização do sistema de sons. Anteriormente utilizamos diversas nomenclaturas para intitular o, como conhecido hoje, desvio fonológico, entre essas nomenclaturas destacam-se: dislalia, distúrbio articulatório, transtorno fonológico, distúrbio fonológico, até chegar ao desvio fonológico. Na etiologia das alterações fonológicas tem sido observado que existe relação entre o transtorno fonológico e questões biológicas, psicossociais e ambientais. Quanto a isso, Pappa e Wertzner (2006) concluíram em seu estudo que o transtorno fonológico está associado ao histórico familiar da criança e ao reforço que a família faz na fala da criança, ou seja, se a criança tem um familiar com trocas fonológicas, sua chance de apresentar tal transtorno é maior que uma criança sem o mesmo histórico na família, assim como quando a família estimula ou reforça a fala infantilizada. Quando o uso dos processos fonológicos continua além da idade esperada, ou, apresentam processos não observados no desenvolvimento fonológico típico, ocorre o que chamamos de desvios fonológicos, que são os desvios na fala, na ausência de problemas orgânicos como deficiência auditiva, anormalidades anatômicas ou neurofisiológicas e para tratar tal alteração de fala, a terapia fonoaudiológica é primordial (GALEA e WERTZNER, 2005) 41UNIDADE III Alterações Comuns na Fala e Linguagem 2. AUTISMO Existem muitas patologias que apresentam como sintomatologiaa ausência ou dificuldade de fala dentre elas encontramos o Transtorno do Espectro Autista (TEA). O Transtorno do Espectro Autista (TEA), também conhecido como Autismo, é um transtorno do desenvolvimento, que se caracteriza por alterações comportamentais, dificuldades de interação social e de comunicação, com prevalência cinco vezes maior em meninos, para cada um do sexo feminino (FOMBONNE, 2009; RICE, 2007). O transtorno do espectro autista é um novo transtorno do DSM-5 que engloba o transtorno autista (autismo), o transtorno de Asperger, o transtorno desintegrativo da infância, o transtorno de Rett e o transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação do DSM-IV. Ele é caracterizado por déficits em dois domínios centrais: 1) déficits na comunicação social e interação social e 2) padrões repetitivos e restritos de comportamento, interesses e atividades (DSM-5, 2014, p. 853). Atualmente muitos neuropediatras já percebem os sintomas do TEA antes dos 3 anos de idade e o diagnóstico precoce tem sido um diferencial na intervenção e evolução destas crianças. O DSM-V trouxe mudanças importantes para este diagnóstico que é sintomatológico, ou seja, é realizado a partir das observações dos sintomas da criança. 42UNIDADE III Alterações Comuns na Fala e Linguagem 2.1 Critérios diagnósticos de autismo segundo DSM-5 ● Com base nas informações do DSM-5 vimos que o indivíduo com TEA apresenta uma dificuldade nas relações sociais, pois não existe reciprocidade nas relações comuns a sociedade. Apresentando pouca ou nenhuma comunicação verbal usual. Sendo TEA diagnosticado principalmente pelos sintomas vale lembrar que mesmo estes estando presentes desde o início do desenvolvimento infantil, as manifestações se fazem mais efetivas com o passar do tempo quando as intenções comunicativas são restritas e os pais consideram que a criança na maioria das vezes não fala. O fonoaudiólogo necessita conhecer a respeito do TEA, qual a sintomatologia e as possibilidades de tratamento, pois o TEA provoca atrasos e desvios no desenvolvimento global da criança, em que o diagnóstico precoce juntamente com a intervenção multidisciplinar, fazem a diferença para um prognóstico favorável. Devemos ter em mente que cada criança tem suas peculiaridades, ou seja, cada criança é única assim também as crianças com TEA não são diferentes e cada uma pode apresentar sintomas diferentes da outra. Sendo assim alguns sintomas requerem atenção mesmo antes de um diagnóstico fechado: ● Comunicação: atraso ou não emissão de fala, dificuldade de compreensão de fala, não compreende metáforas, repetição de palavras ou frases (ecolalia) e ausência de contato visual durante a comunicação; ● Comportamento: brinca ou utiliza o brinquedo de forma fora do padrão, interesses atípicos ou excessivos, dificuldade em aceitar mudanças de rotina e realização de movimentos repetitivos/estereotipados; ● Interação social: dificuldade de se relacionar com crianças da mesma faixa etária, prefere ficar isolado, dificuldade para compreender e aceitar ordens, ausência ou pouco contato visual; ● Alterações no âmbito sensorial: alterações nos aspectos de visão, audição, tato, olfato e paladar. Como sensibilidade excessiva para toques físicos, sons ou estímulos visuais, grande incômodo para cortar unhas ou cabelos, limiar de dor reduzido e preferência por tipos de consistências alimentares; No Brasil a pessoa diagnosticada com Autismo se enquadra na Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo (Lei 12.764 de 27/12/12), considerado assim, pelas Leis vigentes, o autista uma pessoa com uma deficiência. Sendo que uma das áreas mais afetadas é a comunicação expressiva e receptiva (fala e linguagem) 43UNIDADE III Alterações Comuns na Fala e Linguagem Atualmente, o autismo é definido por única classificação. O que também ficou evidente no DSM 5, em que o autismo, transtorno do espectro autista e Síndrome de Asperger, passaram a ser classificados com Transtorno do Espectro Autista – TEA e usar um único CID. Pais de crianças com diagnóstico de autismo relatam que de 74 a 88% destas crianças apresentam indícios significativos antes dos 2 anos de idade e 31 a 55% antes de 1 ano (YOUNG; BREWER e PATTISON, 2003). 2.2 Sintomas do Autismo nos primeiros meses de vida: ● Não olha ou retém atenção quando a mãe ou responsável falam com ele; ● Gosta de brinquedos ou objetos, mas não faz interação social; ● Não demostra sentimentos (sorri, faz carinha triste ou de bravo; ● Não apresenta foco visual nos pais ou responsáveis; ● Não emite sons com significado; ● Mostra-se ausência de olhar durante a amamentação; ● Não imita adultos com os sorrir, dar tchau ou mandar beijos; ● Não estende os braços quando quer colo. 2.3 Sintomas do Autismo no 1º ano de vida: ● Não chama os pais usando a fala; ● Não dá tchau, não manda beijo; ● Não apresenta emissões com significado; ● Não apresenta emissão verbal do que quer; ● Mostra-se indiferente ou apresenta reações irritativas a presença de pessoas ou mudanças no cotidiano. 2.4 Sintomas do Autismo aos 2 anos A partir do segundo ano os sinais ficam um pouco mais evidentes. ● Não pede o que quer e muitas vezes usa a mão do responsável levando a até o objeto, ou perto do objeto desejado. ● Não mantém atenção quando alguém lhe mostra algo, muitas vezes nem olha. ● Quando chamado pelo nome não atende, muitas vezes parece não ouvir. ● Não demostra emoções, não apresenta expressões faciais. ● Isola-se, evitando contato humano. ● Apresenta aversão a certos sons e muitas vezes reage ao som alto. 44UNIDADE III Alterações Comuns na Fala e Linguagem 2.5 Sintomas do Autismo entre 3 e 5 anos: ● Normalmente o atraso no desenvolvimento de fala e linguagem fica evidenciado claramente. ● Muitas vezes a Escola ou Creche faz reclamações quanto aos comportamentos inadequados da criança. ● Existe situações em que a mãe relata que a criança falava e parou de falar. ● Não apresentam ou apresentam pouco contato visual. ● Fica mais claro a falta de expressão facial. ● Quando quer algo normalmente aponta ou leva a mão da pessoa presente ao local desejado. ● Não compreende ordens. ● Apresenta preferência por um tipo de brinquedo. ● Normalmente gostam de objetos girantes (ventilador, rodinha do caminhão). ● Coloca os brinquedos em sequência ou prefere brinquedos em que tem que montar uma fila. ● Gostam da rotina e reagem a qualquer mudança. ● Hipersensibilidade a sons. ● Podem apresentar seletividade alimentar. ● Apresentam alterações sensoriais. Reagindo de forma negativa a texturas diferentes (na comida, roupa, etc). A etiologia do Transtorno do Espectro do Autismo vem sendo muito estudada, porém não se chegou a uma conclusão definitiva, o que sabemos é que fatores genéticos e hereditários podem estar intimamente relacionados ao Transtorno, assim como os fatores ambientais podem influenciar o desenvolvimento da criança. As diretrizes de atenção à Reabilitação da pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo (TEA), sugerem que a anamnese com os responsáveis pelo paciente, componha questionamentos a respeito de aspectos qualitativos da comunicação, linguagem e interação social, atenção compartilhada, comportamentos de apego, afetividade, brincadeira, comportamentos repetitivos e estereotipados, sensibilidade sensorial e problemas de comportamento. Além disso, as diretrizes apontam que a observação do paciente se faz imprescindível para o diagnóstico e tratamento, de forma que deve ser observada a atenção compartilhada, busca de assistência, responsividade social, sorriso, outras expressões afetivas identificáveis pelo observador, linguagem, relação com objetos, brincadeiras e atividades, brincadeira funcional, brincadeira simbólica, atividade gráfica, movimentos estereotipados do corpo e aspectos sensoriais (BRASIL, 2013). 45UNIDADE III Alterações Comuns na Falae Linguagem O diagnóstico é realizado através das observações e testes de comportamento, ou seja, o diagnóstico é realizado através da análise dos sintomas do paciente, este normalmente é feito por uma equipe formada por: Médico neurologista, pediatra, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicólogo e outros profissionais que venham a compor a equipe multidisciplinar. Sabemos que quanto mais rápido for o diagnóstico melhor será o prognóstico da criança quando devidamente tratada. A questão envolvendo a possibilidade de identificação da melhor abordagem terapêutica para essas crianças também tem sido discutida na literatura. As pesquisas tem identificado a efetividade de diversas abordagens terapêuticas e chama a atenção para o fato de que qualquer comparação deve levar em conta os dados a respeito do contexto familiar social (FERNANDES, 2008, p. 268). Nessa linha de pensamento o fonoaudiólogo necessita ter conhecimento para fazer a intervenção precoce mesmo sem diagnóstico fechado e encaminhar ao neurologista sempre que necessário. 46UNIDADE III Alterações Comuns na Fala e Linguagem 3. GAGUEIRA Gagueira (Disfemia) é um transtorno na fluência da palavra, ou seja, o ritmo da linguagem oral (fala) é interrompido. Estas interrupções podem ou não ser bruscas. A interrupção do discurso normalmente vem associada a alterações no tônus e uma incoordenação pneumofonoarticulatória. Van Riper (1973) propõe: “(...) uma palavra mal organizada temporariamente, mais a consecutiva reação do falante a esta palavra”. Nesse transtorno no ritmo da fala (gagueira) acrescentamos uma série de fatores psicopatológicos, que complicam o quadro e transformam a disfemia em uma síndrome complexa e difícil de tratar. Van Riper (1973), deixou claro à comunidade científica que, apesar das consequências emocionais que uma gagueira poderia gerar em algumas pessoas, ele já intuía que as dificuldades estavam no cérebro. E ele chegou a essa conclusão mesmo sem nenhuma tecnologia à disposição. Atualmente, há um número expressivo de técnicas e procedimentos de avaliação que possibilitam um diagnóstico diferencial e tratamento da gagueira, sendo que o profissional fonoaudiólogo deve estar atento a estes avanços e novas possibilidades de sucesso no tratamento. 47UNIDADE III Alterações Comuns na Fala e Linguagem O início da gagueira acontece por volta dos 33 meses, porém encontramos relatos sobre crianças que começaram a gaguejar com 18 meses, fator que não difere entre meninos e meninas, porém em adultos a proporção de gênero é de quatro homens para uma mulher, fato não visível na infância, então fica a pergunta o que determina essa mudança em adultos? E nessa resposta existe grande discordância entre os autores. Entendemos a gagueira como uma alteração ou desordem na organização à linguagem oral em que não temos uma etiologia pautada, mas sim muitas possibilidades. Sendo que alguns fatores podem colaborar para que esta se instale de forma permanente alterando em grau de severidade, a análise destes fatores são fundamentais para organização de um processo terapêutico efetivo. Fatores predisponentes ou fatores de risco à Gagueira: 1. Hereditariedade, quando a criança apresenta pessoas na família com tais dificuldades ou convive com pessoas que apresentam uma alteração nos processos de fala; 2. Quando a criança convive em ambiente adverso em fase de desenvolvimento; 3. Quando a criança convive com bilinguismo; 4. Quando a família exige mais do que a criança pode ofertar, neste caso esta cobrança não necessita estar relacionada a fala. 3.1 A semiologia da Disfemia nos leva a duas formas de Gagueira: ● Gaguejar tônico: fala entrecortada com espasmos, isto afeta os grupos musculares da fonação provocando bloqueio de fala. O paciente normalmente procura falar sem bloqueios isso demanda grande esforço intensificando o tônus muscular causando fala explosiva e violenta; ● Gaguejar clônico: acontece em rápidas e breves contrações bucais tendo uma repetição compulsiva de vocábulos. Devemos considerar que as duas formas de gaguejar podem ocorrer em um mesmo paciente e em uma única fase ou tentativa de comunicação (gagueira tônico-clônica). 48UNIDADE III Alterações Comuns na Fala e Linguagem 4. ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS E SÍNDROMES Na fonoaudiologia das alterações e síndromes a Síndrome mais conhecida é a Síndrome de Down, pois nela existe um atraso no desenvolvimento de fala e linguagem e alterações no tônus muito característica. A Síndrome de Down como o próprio nome já diz não é uma doença, mas sim uma condição genética, onde o ser humano ao invés de 23 pares de cromossomos apresenta 24 pares em seu código genético. 4.1 Características da criança com Síndrome de Down: As características clássicas da criança com Síndrome de Down são possuir rosto mais arredondado, olhos amendoados, orelhas menores que o habitual, as extremidades também são reduzidas principalmente o tamanho das mãos e dedos, a hipotonicidade corporal e facial que favorece a protrusão de língua onde o tamanho da mesma também é aumentado, o desenvolvimento de suas funções intelectuais acontecem de maneira lenta (neste quesito devemos sempre levar em consideração a estimulação que é ofertada a esta criança), as condições cardíacas congênitas normalmente precisam de atenção. Como em outras síndromes nem todas as características estão presente em todas os indivíduos com esta síndrome. 49UNIDADE III Alterações Comuns na Fala e Linguagem 4.1.1 Etiologia Muitos estudos foram realizados acerca da etiologia, porém nada que indique que os pais possam fazer algo para prevenir a síndrome, alguns estudos nos indicam a alta ida- de materna como fator predominante na maioria dos casos de crianças com esta síndrome. 4.1.2 Diagnóstico O diagnóstico pode ser realizado antes do bebê nascer por meio de exames es- pecíficos solicitados pelo médico responsável (ginecologista). Após o nascimento do bebê, quando existe a suspeita desta síndrome o médico responsável solicita um exame chamado cariótipo, que avalia a posição dos cromossomos para saber se existe trissomia. 4.2 Síndrome de Pierre Robin A Síndrome de Pierre Robin também pode ser chamada de “Sequência de Pierre Robin” se caracteriza por anomalias faciais, o que faz da intervenção fonoaudiológica imensurável a esta criança. Características: ● Mandíbula diminuída; ● Queda da língua na garganta; ● Obstrução de vias pulmonares; ● Fenda palatina; ● Úvula bífida; ● Infecções de ouvido frequentes; ● Alterações na anatomia de nariz; ● Malformações dentárias; ● Refluxo; ● Alterações cardíacas; ● Crescimento de um dedo a mais nos pês ou nas mãos. Tudo isso pode favorecer um atraso no desenvolvimento de fala e linguagem, atraso na evolução das funções intelectuais, a criança também pode apresentar epilepsia ou hidrocefalia. 50UNIDADE III Alterações Comuns na Fala e Linguagem 4.2.1 Diagnóstico O diagnóstico normalmente é realizado após o nascimento do bebê, com um exa- me físico, onde o médico responsável muitas vezes solicita o cariótipo para confirmar sua hipótese diagnóstica. 4.3 Síndrome de Treacher Collins FIGURA 1 - SÍNDROME DE TREACHER COLLINS A Síndrome de Treacher Collins, também chamada de disostose mandibulofacial, é uma doença genética rara, que pode acontecer com homens e mulheres. Características ● Mal formações de cabeça e de face; ● Olhos caídos, fissuras labiais ou palatinas; ● Orelhas pequenas ou ausentes o que nos leva a outra característica: a perda auditiva; ● Não apresenta cílios; ● Ausência de alguns ossos da face; ● Maxilar descentralizados; ● Desenvolvimento incompleto do crânio; ● Dificuldades na mastigação e deglutição; ● Problemas respiratórios. Nesta síndrome o paciente normalmente tem dificuldades de ouvir, respirar e se alimentar, mesmo assim o Treacher Collins não é evidenciada pelo risco de morte do paciente quando devidamente
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