Buscar

Impacto das Mudanças Climáticas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 100 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 100 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 100 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Universidade de Lisboa 
Instituto de Geografia e Ordenamento do Território 
 
 
 
Impactes das mudanças climáticas projetadas na distribuição de 
espécies arbóreas no sudoeste de Angola 
 
José Camôngua Luís 
 
Dissertação orientada pelo Prof. Doutor Albano Augusto Figueiredo 
Rodrigues e Prof. Doutor Carlos Silva Neto 
 
Mestrado em Geografia Física e Ordenamento do Território 
 
 
2020 
 
 
 
Universidade de Lisboa 
Instituto de Geografia e Ordenamento do Território 
 
 
Impactes das mudanças climáticas projetadas na distribuição de 
espécies arbóreas no sudoeste de Angola 
 
José Camôngua Luís 
 
Dissertação orientada pelo Prof. Doutor Albano Augusto Figueiredo 
Rodrigues e Prof. Doutor Carlos Silva Neto 
 
 
Júri: 
Presidente: Professor Doutor António Manuel Saraiva Lopes do Instituto de 
Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa 
Vogais: 
- Professor Doutor José Carlos Augusta da Costa do Instituto Superior de 
Agronomia da Universidade de Lisboa 
- Professor Doutor Albano Augusto Figueiredo Rodrigues da Faculdade de 
Letras da Universidade de Coimbra 
 
2020 
 
i 
 
Agradecimentos 
A materialização deste feito, é certamente o culminar e o início de um 
sonho há muito desejado, sobre o qual me recusava despertar e a projeção de 
muitos outros, que contou com importantes apoios e impulsos, sem os quais 
não teria sido efetivado. A todos os que tornaram este sonho possível, estou 
eternamente grato. Primeiramente dou graças a Deus, o todo poderoso pelas 
bênçãos que me tem concedido durante toda esta trajetória, permitindo assim a 
materialização deste grande feito. 
Aos meus estimados orientadores Professor Doutor Carlos Silva Neto, 
Professor Doutor Albano Augusto Figueiredo Rodrigues, que sem medir 
esforço, abraçaram o compromisso e a ideia de guiarem de forma sábia, 
pedagógica, científica e profissional este processo, os meus mais sinceros 
sentimentos de gratidão. Ao Professor Luís Catarino e toda sua equipa do ex-
Herbário Tropical de Lisboa. 
Aos meus pais, tios, irmãos que nunca pouparam esforço nesta minha 
longa trajetória, sempre acreditando em mim, sou-vos eternamente grato. 
Aos meus mestres e amigos António Válter Chisingui, José Luís Mateus 
Alexandre, Hélder Alicerces Bahu, Francisco Maiato P. Gonçalves, José da 
Silva, Isabel Galamba, Vladi Sénio Pereira, João Hequer, vocês foram a peça 
basilar para esta obra por terminar. Entretanto, palavras sempre hão-de faltar 
para exprimir a tamanha gratidão. Os meus agradecimentos estendem-se 
ainda aos meus amigos e colegas do CIDE – Centro de Investigação e 
Desenvolvimento da Educação do ISCED Huíla, e ao sub-projeto 154 do 
SASSCAL, nomeadamente Marina Rafael, José Tchamba, Hervé Vela, Abel 
Bala, Manuel Cachissapa, Joaquim Txifunga, Paula Páscoa, José Alexandre, 
Gelson Canísio, Teixeira, José Maria, Mário Tchipuputua, José Nkelleka, Edgar 
Mahapi, Evaristo das Mangas, os meus profundos votos de gratidão. Também 
devo aqui destacar os meus colegas e Professores do Mestrado pelo forte 
apoio incondicional e contributo que tiveram neste processo. 
Ao Instituto Nacional de Gestão de Bolsas de Estudo (INAGBE) pela 
concessão da bolsa de estudo, o que garantiu o financiamento da minha 
formação nestes pouco mais e dois anos de estadia em Portugal, ao Governo 
Provincial da Huíla na pessoa da Sua Excia Senhora Vice-Governadora para 
 
ii 
 
Setor Político, Social e Económico Dra. Maria João Tchipalavela, ao Gabinete 
Provincial de Educação da Huíla (GPE-Huíla), a Secção Municipal de 
Educação do Lubango e finalmente ao ISCED-Huíla pela oportunidade e por 
acreditar nas minhas capacidades individuais. 
A todos, os meus mais profundos agradecimentos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
iii 
 
Dedicatória 
à minha família 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
iv 
 
Resumo 
As mudanças climáticas constituem uma das principais ameaças para os 
ecossistemas, uma fragilidade que está potenciada pela ação antrópica. Esta 
realidade é bem evidente no território angolano, onde a pressão humana sobre 
os recursos naturais tem promovido profundas alterações dos ecossistemas. 
Os modelos de nicho ecológico constituem uma potente ferramenta neste 
contexto, pois fornecem informações detalhadas sobre a distribuição e 
requisitos ambientais, auxiliando na gestão sustentável dos habitats mais 
vulneráveis. O presente trabalho visa avaliar os impactes das mudanças 
climáticas projetadas na distribuição de espécies arbóreas no sudoeste de 
Angola para o período de 2061 - 2080, tendo como referência os cenários 
climáticos RCP 4.5 e RCP 8.5. Esta análise baseou-se na modelação de nicho 
ecológico, suportada no princípio da máxima entropia, com recurso ao software 
MAXENT. Os dados de presenças das espécies foram extraídos de diversas 
fontes, como herbários físicos e digitais, bases de dados online, como o GBIF, 
a base de dados da flora da Zâmbia e a BiotaBase. No sentido de avaliar a 
resposta de espécies associadas às condições ecológicas distintas, foram 
selecionadas quatro espécies caraterísticas das principais comunidades 
florestais do SW angolano descritas por Barbosa (1970): Brachystegia boehmii, 
Baikiaea plurijuga, Colophospermum mopane e Terminalia prunioides. As 
variáveis climáticas foram extraídas da base de dados worldclim com uma 
resolução de 1 km, tendo sido selecionadas as variáveis não correlacionadas. 
Quanto aos resultados, os modelos projetam expansão da área 
ecologicamente adequada para ocorrência das espécies ao nível da África 
Austral, em oposição a uma contração significativa projetada para o SW de 
Angola para ambos os cenários de referência. Estas projeções apontam para 
uma elevada suscetibilidade do SW de Angola, onde os efeitos das mudanças 
climáticas, nomeadamente a diminuição da precipitação e o aumento da 
temperatura podem ser reforçadas pela forte pressão antrópica sobre a 
biodiversidade. 
Palavras chaves: Distribuição de espécies, Nicho ecológico, Maxent, Cenários climáticos. 
 
 
v 
 
Abstract 
Climate change is identified as a major threat to ecosystems, a susceptibility 
that is reinforced by negative impacts from human activities. Such reality is 
clear in Angola, where pressure on natural resources from human activities 
increased during the last decades, promoting deep impacts on ecosystems. The 
knowledge about plants distribution and their resilience considering climate 
change scenarios is useful, namely, to set and implement measures focused on 
the sustainable management, a goal that is critical to the maintenance of 
functions and services associated to ecosystems under future climatic 
scenarios. Niche modelling can be a powerful tool in this context, providing 
detailed information about changes on suitable area comparing current and 
future climatic scenarios, giving support on the identification of the most 
vulnerable habitats. This work, supported on the maximum entropy algorithm, 
aims to assess changes on distribution for tree species associated to different 
ecologies in south-western Angola, considering the time-window 2061-2080 and 
having by reference two climatic scenarios (RCP 4.5 and RCP 8.5). Data for 
species occurrences were collected from different herbarium collections and 
from online databases. To represent the different ecologies, in this exercise we 
considered species associated to different vegetation types described by 
Barbosa (1970): Brachystegia boehmii, Baikiaea plurijuga, Colophospermum 
mopane e Terminalia prunioides. Aiming to ensure the production of robust 
models, only non-correlated variables were used in models’ calibration, and 
validation of models’ results was based on two different strategies: i) 
independent sample and ii) creation of a subset (30%) based on a random splitof the occurrences database. Despite the restriction of the analysis to south-
western Angola, the models were projected to a broader area (Southern Africa). 
The results point to an expansion of suitable area for the broad territory and a 
significant contraction for the SW Angola. 
Keywords: Species distribution, Niche modelling, Maxent, Climatic scenarios. 
 
 
 
vi 
 
Índice 
Agradecimentos .................................................................................................. i 
Dedicatória ......................................................................................................... iii 
Resumo .............................................................................................................. iv 
Abstract .............................................................................................................. v 
1 Introdução .................................................................................................... 1 
1.1 Enquadramento ..................................................................................... 1 
1.2 Objetivo geral: ....................................................................................... 4 
1.3 Mudanças climáticas: passado, presente e futuro ................................ 5 
1.4 Os cenários climáticos .......................................................................... 8 
1.4.1 Cenários climáticos para África .................................................... 10 
1.5 Os impactes potenciais das mudanças climáticas em África .............. 11 
1.6 Impactes das mudanças climáticas nos ecossistemas ....................... 13 
1.7 Modelos de nicho ecológico: vantagens e limitações .......................... 15 
1.7.1 Algoritmos de modelação ............................................................. 21 
2 Enquadramento geográfico ........................................................................ 22 
2.1 Condições biofísicas da área em estudo ............................................. 22 
2.1.1 Clima ............................................................................................ 24 
2.1.2 Geologia ....................................................................................... 27 
2.1.3 Solos ............................................................................................. 29 
2.1.4 Vegetação e flora .......................................................................... 30 
2.2 Atividades económicas e uso do solo ................................................. 32 
3 Metodologia ............................................................................................... 34 
3.1 Caracterização das espécies .................................................................. 34 
3.2 Fontes e tratamento de dados ............................................................ 39 
3.2.1 Registos de ocorrência ..................................................................... 39 
3.2.2 Variáveis ambientais ......................................................................... 40 
3.3 Processo de modelação .......................................................................... 41 
3.4 Binarização dos modelos ........................................................................ 43 
4 Resultados e discussão ............................................................................. 44 
4.1 Resultados .......................................................................................... 44 
4.1.1 Distribuição potencial atual e fatores ambientais determinantes ...... 44 
4.1.1 Alterações na distribuição em função dos cenários futuros .......... 53 
4.2 Discussão dos resultados ................................................................... 63 
4.2.1 Espécies mais suscetíveis às alterações climáticas ..................... 65 
 
vii 
 
Conclusões....................................................................................................... 67 
Referências bibliográficas ................................................................................ 69 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
viii 
 
Índice de figuras 
Figura 1. Emissões antropogénicas globais de GEE. ............................................. 6 
Figura 2. Diagrama representando a influência dos fatores na distribuição 
espacial das espécies e diferenciação dos tipos de nicho. .................................. 19 
Figura 3. Situação geográfica da área de estudo. ................................................. 24 
Figura 4. Variação da temperatura média anual. ................................................... 26 
Figura 5. Distribuição da precipitação média anual. .............................................. 27 
Figura 6- Pormenor das estruturas reprodutivas de Baikiaea plurijuga. ............. 35 
Figura 8. Detalhe das folhas e favas da Brachystegia boehmii. .......................... 36 
Figura 8. Detalhes das folhas e frutos do Colophospermum mopane. ............... 38 
Figura 9. Detalhes das folhas e estruturas reprodutivas da Terminalia 
prunioides. ..................................................................................................................... 39 
Figura 10. Taxa de omissão para o modelo produzido para a Brachystegia 
boehmii. ......................................................................................................................... 45 
Figura 11. Teste do Jackknife para variáveis ambientais para a espécie 
Brachystegia boehmii. ................................................................................................. 45 
Figura 12. Distribuição potencial da Brachystegia boehmii na África Austral e no 
Sudoeste de Angola. ................................................................................................... 46 
Figura 13.Taxa de omissão para o modelo produzido para a espécie Baikiaea 
plurijuga. ........................................................................................................................ 47 
Figura 14. Teste do Jackknife para variáveis ambientais para a espécie 
Baikiaea plurijuga. ....................................................................................................... 47 
Figura 15. Distribuição potencial atual da Baikiaea plurijuga na África Austral e 
no Sudoeste de Angola. ............................................................................................. 48 
Figura 16. Taxa de omissão para o modelo produzido para a espécie 
Colophospermum mopane. ........................................................................................ 49 
Figura 17. Teste do Jackknife para variáveis ambientais no caso do modelo da 
espécie Colophospermum mopane. ......................................................................... 50 
Figura 18. Distribuição potencial atual do Colophospermum mopane na África 
Austral e no Sudoeste de Angola. ............................................................................. 51 
Figura 19. Taxa de omissão para o modelo produzido para a espécie 
Terminalia prunioides. ................................................................................................. 52 
 
ix 
 
Figura 20. Teste de Jackknife da distribuição potencial atual da Terminalia 
prunioides. ..................................................................................................................... 52 
Figura 21. Distribuição potencial atual da Terminalia prunioides na África 
Austral e no Sudoeste de Angola. ............................................................................. 53 
Figura 22. Variação da área de ocorrência potencial da Brachystegia boehmii 
na África Austral e no Sudoeste de Angola segundo cenário RCP 4.5. ............. 54 
Figura 23. Alterações na área de distribuição potencial da Brachystegia boehmii 
na África Austral (A) e no Sudoeste de Angola (B) segundo cenárioRCP 4.5. 55 
Figura 24. Alterações na área de ocorrência potencial da Brachystegia boehmii 
na África Austral e Sudoeste de Angola segundo cenário RCP 8.5. .................. 55 
Figura 25. Alterações na área de distribuição potencial da Brachystegia boehmii 
na África Austral (A) e no Sudoeste de Angola (B) segundo cenário RCP 8.5. 56 
Figura 26. Alterações na área de ocorrência potencial da Baikiaea plurijuga na 
África Austral e Sudoeste de Angola segundo cenário RCP 4.5. ........................ 57 
Figura 27. Alterações na área de distribuição potencial da Baikiaea plurijuga na 
África Austral (A) e no Sudoeste de Angola (B) segundo cenário RCP 4.5. ..... 57 
Figura 28. Variação da área de ocorrência potencial da Baikiaea plurijuga na 
África Austral e no Sudoeste de Angola segundo cenário RCP 8.5. .................. 58 
Figura 29. Alterações na área de distribuição potencial da Baikiaea plurijuga na 
África Austral (A) e no Sudoeste de Angola (B) segundo cenário RCP 8.5. ..... 58 
Figura 30. Variação da área de ocorrência potencial da Terminalia prunioides 
na África Austral e Sudoeste de Angola segundo Cenário RCP 4.5. ................. 59 
Figura 31. Alterações na área de distribuição potencial da Terminalia prunioides 
na África Austral (A) e no Sudoeste de Angola (B) segundo cenário RCP 4.5. 59 
Figura 32. Variação da área de ocorrência potencial da Terminalia prunioides 
na África Austral e Sudoeste de Angola segundo Cenário 8.5. ........................... 60 
Figura 33. Alterações na área de distribuição potencial da Terminalia prunioides 
na África Austral (A) e Sudoeste de Angola (B) segundo Cenário 8.5. .............. 60 
Figura 34. Variação da área de ocorrência potencial do Colophospermum 
mopane na África Austral e Sudoeste de Angola segundo Cenário 4.5. ........... 61 
Figura 35. Alterações na área de distribuição potencial do Colophospermum 
mopane na África Austral (A) e Sudoeste de Angola (B) segundo Cenário 4.5.61 
 
x 
 
Figura 36. Variação da área de ocorrência potencial do Colophospermum 
mopane na África Austral e Sudoeste de Angola segundo Cenário 8.5. ........... 62 
Figura 37. Alterações na área de distribuição potencial de Colophospermum 
mopane na África Austral (A) e no Sudoeste de Angola (B) segundo cenário 
8.5. ................................................................................................................................. 62 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
xi 
 
Índice de tabelas 
Tabela 1. Lista das variáveis bioclimáticas utilizadas. ...................................... 41 
 
Lista de siglas e acrónimos 
AUC - Area Under The Curve 
CBD- Convenção da Biodiversidade 
COP - Conferência das Partes 
CQNUAC - Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações 
Climáticas 
ENB - Earth Negotiations Bulletin 
ENM - Ecological Niche Modelling 
GAM - Generalized Additive Models 
GARP - Genetic Algorithm for Rule-Set Production 
GBAD – Grupo do Banco de Desenvolvimento de África 
GCM - General Circulation Model 
GEE – Gases de Efeitos Estufa 
GIBF – Global Information Biodiversity Facility 
GLM - Generalized Linear Models 
INE – Instituto Nacional de Estatística 
IPCC – Intergovernmental Panel on Change Climate 
ISCED - Instituto Superior de Ciências de Educação da Huíla 
MEA – Millennium Ecosystem Assessment 
NGOWP- National Geographic Okavango Wilderness Project 
PK - Protocolo de Kyoto 
PPM – Partes Por Milhão 
RCP - Representative Concentration Pathways 
ROC - Receiver Operating Characteristic 
SABONET- Southern African Botanical Diversity Network 
SAREP – Southern Africa Regional Environmental Programme 
SASSCAL- 
Southern African Science Service Centre for Climate Change and Adaptive Lan
d Management 
 
xii 
 
SDM – Species Distribution Model 
SIG – Sistemas de Informação Geográfica 
SRC – Sistema de Referências de Coordenadas 
SRESS - Special Report on Emission Scenarios 
TFO - The Future Okavango 
UNCCD – United Nations Conventions to Combat Desertification 
UNEP - United Nations Environment Programme 
WCMC - World Conservation Monitoring Centre 
WGS 84 - World Geodetic System 1984 
 
 
1 
 
 
1 Introdução 
1.1 Enquadramento 
Angola, apesar de ocupar somente 4% da área terrestre do continente 
africano, é do ponto de vista florístico um dos maiores hotspots da África 
Austral, dada a sua rica diversidade fisiográfica, climática, que se traduz numa 
grande diversidade de biomas (White, 1983), com cerca de 7.296 táxons em 
250 famílias e 1.765 géneros, e com mais de 1000 espécies endémicas 
(Figueiredo, Smith, & César, 2009), superada apenas pela África do Sul, tendo 
em conta o número de ecorregiões (Burgess et al., 2004; Huntley et al, 2019). 
Angola, possui uma superfície total de 1 246 700 km2, situada na costa oeste 
da África Central, entre os paralelos de 4°22' e 18°02' de latitude Sul e os 
meridianos de 11°41' e 24°05' de longitude Este. 
Do ponto de vista fisiográfico, é caracterizada por um gradiente 
bioclimático que se manifesta em várias comunidades vegetais, desde 
estépicas da faixa desértica, savanas, formações de escarpa ou Afro montana 
e formações mais densas e húmidas de altitude (Diniz, 1991). Apesar desta 
grande diversidade biológica, existem poucos estudos atualizados. Sendo que 
os primeiros estudos sobre a flora e vegetação de Angola foram realizados 
ainda na época colonial (finais do século XIX e meados do século XX), através 
de várias expedições realizadas no país por botânicos, tais como: Friedrich 
Welwitsch (1806-1872), Hugo Baum (1867-1950); John Gossweiler (1873-
1952). Outros coletores da era colonial que contribuíram para o estudo da flora 
e vegetação de Angola, cujos trabalhos serviram de base para a elaboração do 
Conspectus Florae de Angola (Excell e Mendonça, 1937) e do primeiro mapa 
de vegetação de Angola, que conta com 19 unidades vegetais (Gossweiler e 
Mendonça, 1939), Joaquim Monteiro e Rosa Monteiro, Luís W. Carrisso, 
Francisco Mendonça, Arthur Excell, Francisco de Sousa, Christian, Smith 
Joaquim José da Silva e muitos outros (Goyder & Gonçalves, 2019). Estes 
trabalhos resultaram numa grande coleção de plantas espalhadas nos mais 
variados herbários europeus, com destaque para o Royal Botanical Gardens, 
Kew (K), Museu de História Natural, Londres (BM), Museu Nacional de Historia 
 
2 
 
Natural, Paris (P), LISC do ex-Instituto de Investigação Científica Tropical de 
Lisboa (IICT), LISU da Universidade de Lisboa (Figueiredo et al., 2009). 
Um passo importante é dado em 1970 por Grandavaux Barbosa, com a 
publicação da Carta Fitogeográfica de Angola, contendo 32 comunidades de 
vegetação, baseando-se em trabalhos anteriores de Gossweiler & Mendonça 
de 1939, nos trabalhos de Friedrich Welwitsch (1806-1872), e em várias 
expedições botânicas realizadas no país durante cerca de 15 anos. Esta carta 
constitui até hoje, a principal obra de referência para os estudos de flora e 
vegetação de Angola (Huntley & Matos, 1994). 
No período de 1975-2002 registou-se uma rotura no avanço do estudo da 
biodiversidade angolana, devido à guerra civil que atingiu o país por mais de 
três décadas, o que impediu a realização de qualquer tipo de avanço científico 
neste domínio. Com o advento da paz efetiva em 2002, começam a reascender 
alguns trabalhos de investigação em biodiversidade, que têm sido garantidos 
principalmente com a participação de investigadores angolanos nos vários 
projetos de cooperação regional entre diferentes instituições, nomeadamente o 
Southern African Botanical Diversity Network (SABONET), o Programa 
Regional Ambiental da África Austral (SAREP), The Future Okavango Project 
(TFO), Centro da África Austral para Ciência e Serviços para Adaptação às 
Alterações Climáticas e Gestão Sustentável dos Solos (SASSCAL), o projeto 
de vida selvagem do Okavango da National Geographic (NGOWP), (Huntley& 
Almeida, 2019). Todos estes trabalhos resultaram em importantes contributos 
para o conhecimento da flora e vegetação de Angola, com destaque para o 
Livro dos nomes comuns de plantas de Angola (Figueiredo & Smith 2012), a 
Checklist de plantas de Angola (Figueiredo & Smith 2008). Importantes 
relatórios sobre o estado da biodiversidade, bem como estudos florísticos para 
a caracterização de importantes habitats regionais (ex: Vegetation survey of the 
woodlands of Huíla Province - Chisingui et al. 2018), e a mais recente 
contribuição sobre o estado actual da biodiversidade de Angola publicado 
recentemente (Huntley et al., 2019), são algumas das mais importantes 
contribuições. 
Apesar da importância dos projetos referidos e do trabalho de 
investigação associado, é muito evidente a falta de estudos com vista à 
 
3 
 
atualização da informação fitogeográfica. É muito evidente a falta de 
informação sobre a biodiversidade em geral, e particularmente da flora e 
vegetação deste vasto território da África Austral. Esta realidade dificulta ou 
mesmo impossibilita a implementação de medidas de proteção e conservação 
para espécies individuais, num momento em que se fala muito da contribuição 
da biodiversidade e das paisagens do país no grande esforço que tem de ser 
feito para o crescimento e desenvolvimento do país, baseado essencialmente 
no crescimento e desenvolvimento do setor do turismo. Para Jiménez et al., 
(2008), a preservação da biodiversidade requer o conhecimento dos padrões 
de distribuição e a abundância das espécies, trabalho este que está em grande 
medida por realizar no território nacional angolano. 
Para além do conhecimento da biodiversidade, no que respeita aos 
táxons presentes em Angola, e da sua corologia, são fundamentais estudos 
tendentes à compreensão da sua ecologia, principalmente no que respeita a 
variáveis ambientais determinantes para a sua distribuição espacial. Uma 
dessas variáveis ambientais é sem dúvida o clima, pois este está na base da 
distribuição potencial da flora e da vegetação de uma dada região. Desta 
forma, o estudo da relação entre a corologia e o clima é fundamental, não só 
para o entendimento dos atuais padrões de distribuição, mas também para a 
compreensão da forma como os seres vivos serão afetados no contexto das 
alterações climáticas projetadas para as próximas décadas, o que permitirá a 
implementação de medidas estritas de proteção, conservação e gestão dos 
recursos naturais, com base numa sólida compreensão dos fenómenos que 
afetam a biodiversidade e na identificação das principais ameaças. 
A opção pela avaliação da suscetibilidade às mudanças climáticas para o 
desenvolvimento deste trabalho, prende-se com o facto de praticamente não 
existirem resultados sobre esta problemática em Angola, podendo estas 
alterações ter implicações importantes em termos de alteração dos padrões de 
distribuição das espécies. E vários estudos apresentam as alterações 
climáticas como estando na base das principais ameaças aos ecossistemas, 
uma fragilidade que está reforçada pela pressão direta e indireta, resultantes 
das atividades humanas (MEA, 2005). Esta realidade é bem evidente no 
território angolano, onde a pressão sobre os recursos naturais tem aumentado 
 
4 
 
nas últimas décadas. As florestas são especialmente vulneráveis a este tipo de 
pressão, a qual resulta em processos de degradação e de fragmentação, 
efeitos que diminuem a sua resiliência perante mudanças ambientais. Tendo 
em conta a ameaça que representam as mudanças climáticas para os 
ecossistemas, torna-se premente avaliar os seus impactes potencias, uma 
tarefa que se revela de grande utilidade para a identificação de áreas 
prioritárias de intervenção e para a definição de medidas de adaptação e/ou 
mitigação. 
Neste contexto, o trabalho aqui apresentado, irá abordar os impactes 
potenciais das mudanças climáticas sobre a distribuição de espécies 
indicadoras de comunidades vegetais no Sudoeste de Angola, tendo por 
referência dois cenários climáticos (RCP 4.5 e RCP 8.5) projetados para o 
horizonte 2061-2080. 
Para a realização deste trabalho consideram-se os seguintes objetivos: 
1.2 Objetivo geral: 
Avaliar os Impactes potenciais das mudanças climáticas na distribuição 
de espécies florestais indicadoras das principais comunidades vegetais da 
região Sudoeste de Angola, tendo como referências cenários RCP 4.5 e RCP 
8.5. 
Objetivos específicos: 
▪ Contribuir para melhorar o conhecimento da distribuição atual de espécies 
arbóreas selecionadas para este estudo; 
▪ Explorar a influência de diferentes fatores ambientais na distribuição destas 
espécies arbóreas; 
▪ Avaliar a suscetibilidade das espécies arbóreas segundo dois cenários de 
alteração climática (RCP 4.5 e RCP 8.5); 
▪ Identificar as áreas mais suscetíveis a mudanças climáticas no Sudoeste de 
Angola. 
 
 
5 
 
1.3 Mudanças climáticas: passado, presente e futuro 
O clima do planeta Terra sofreu muitas mudanças desde a sua 
formação. Contudo, as que têm caracterizado as últimas décadas, e que se 
preveem ampliadas nas próximas, têm um claro fundo antrópico (IPCC, 2013). 
No entanto, os modelos apontam para que as mudanças climáticas, apesar da 
escala global, tenham impactes diferenciados dependendo das condições 
geográficas dos territórios, necessitando de ações concertadas a diferentes 
escalas: local, nacional, continental, regional e global (Moreira & Ramos, 2016). 
Constituem um dos maiores desafios do século XXI e um dos assuntos 
mais debatidos pela comunidade científica, por políticos e Organizações Não- 
governamentais, refletindo a preocupação com um processo com impactes à 
escala mundial (Figueiredo, 2013). Esta preocupação reside no facto de os 
seus impactes negativos serem globais que afetarão as próximas gerações, 
podendo ser um fator projetado através de cenários climáticos. 
Apesar das incertezas existentes, o atual conhecimento científico sobre 
as mudanças climáticas já é suficiente para afirmar que as atividades humanas 
afetam no padrão e na velocidade das mudanças climáticas. Segundo o IPCC 
(2007), só entre 1970 e 2004 as emissões globais derivadas das atividades 
humanas aumentaram 70% (Figura 1), valores significativos dada a sua 
interferência na redução em cerca de 2% da quantidade de energia que o 
planeta liberta para o espaço (Alcoforado et al., 2009). 
Durante o século XX, o efeito da ação antrópica sobre o planeta Terra 
teve influências significativas no clima global, como a subida do nível médio 
das águas do mar, o aumento das chuvas nas latitudes médias e altas e 
diminuição considerável em muitas regiões de latitude média e regiões 
subtropicais dos hemisférios norte e sul, aumento da frequência de episódios 
de chuvas extremas e consequentes ocorrências de inundações, e o aumento 
da frequência das secas em várias regiões subtropicais, principalmente na 
África e na Ásia (Santos, 1990), tendência esta que se irá prolongar até finais 
do século XXI (IPCC, 2013). 
Segundo o IPCC (2007), a ação antrópica foi responsável pelo 
incremento de dióxido de carbono (CO2) em cerca de 32% (emitido em maior 
 
6 
 
quantidade pela queima de combustíveis fósseis – 2/3 do total e pela 
desflorestação e outras alterações no uso do solo) (Figura 1), com uma 
variação significativa de 280 ppm (partes por milhão) para 370 ppm em 2005 e 
383 ppm em 2007. Em 2019 ultrapassou-se pela primeira vez as 400 ppm. 
 
 Figura 1. Emissões antropogénicas globais de GEE. (Fonte: IPCC, 2007). 
Tendo em conta este aumento rápido da concentração de gases de 
efeito estufa na atmosfera, e segundo os impactes potenciais que daí advêm, 
vários instrumentos internacionais legais foram criados com vista à redução da 
emissão destes gases. 
Foi assim que em 1979 foi dado o primeiro grande passo em matéria de 
mudança climática, através da primeira Conferênciado Clima convocada pelo 
Organização Meteorológica Mundial, realizada em Genebra, onde foi criado o 
Programa Mundial sobre o Clima, onde se discutiu sobre a existência deste 
fenómeno, seus impactes e a severidade das emissões antrópicas de GEE ( 
Santos, 1990). O relatório final desta cimeira solicitava aos governos a 
sensibilização das populações sobre os impactes da ação antrópica sobre o 
clima. Neste âmbito, passados dez anos (1988) a Organização Meteorológica 
Internacional cria o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP) e o 
Painel Internacional para as Alterações Climáticas (IPCC) (Borrego, Ribeiro, & 
Miranda, 2010). 
A Cimeira Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável foi o 
Desenvolvimento, realizada na cidade do Rio Janeiro, em 1992, onde foram 
adotados diferentes tratados e discutidas formas e estratégias de mitigação dos 
 
7 
 
efeitos das mudanças climáticas, nomeadamente a Convenção da 
Biodiversidade (CBD), a Convenção das Nações Unidas de Combate à 
Desertificação (UNCCD) e a Convenção Quadro das Nações Unidas para às 
Alterações Climáticas (CQNUAC) ((Santos, 2006; Santos, 2014). 
Da Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações 
Climáticas (CQNUAC), deriva a Terceira Conferência das Partes (COP3), que 
ocorreu no período de 1 a 10 de dezembro do ano de 1997 em Kyoto, Japão. 
Nesta conferência foi adotado o Protocolo de Kyoto (Santos, 2006). Um tratado 
que estabeleceu pela primeira vez, através de compromissos juridicamente 
vinculados a redução global das emissões de 6 GEE, principalmente para os 
países industrializados (Dióxido de Carbono - CO2, Metano - CH4, Óxido 
Nitroso - N2O, Hexafluoreto de Enxofre - SF6; Hidrofluorcarbonetos - HFC, 
Perfluorcarbonetos - PFC) de 5,2% no período 2008 a 2012, relativamente à 
1990 (Pittock, 2009). 
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas 
(CQNUAC), Protocolo de Kyoto (PK), o Acordo de Copenhague, o Acordo de 
Cancun e a Plataforma Durban e o Acordo de Paris, constituem os principais 
instrumentos internacionais legais de índole jurídico para mitigação e combate 
às alterações climáticas (ENB, 2009; Borrego, Ribeiro, & Miranda, 2010; 
Ferreira, 2017). 
A última Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas 
(COP25), decorreu em Junho de 2019, na cidade de Madrid, projetada para dar 
os próximos passos cruciais no processo e concluir vários assuntos sobre a 
operacionalização completa do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas. 
Além disso, serviu para mostrar a importância da ação climática empreendida 
por partes interessadas não partidárias e ajudou a galvanizar a ação de 
regiões, cidades, empresas, investidores e sociedade civil (https://unfccc.int/). 
Em relação à COP26 que tinha sido agendada para Novembro de 2020 em 
Glasgow, Reino Unido, teve de ser reagendada para 2021 face aos efeitos 
mundiais em curso da COVID-19. 
 
https://unfccc.int/
 
8 
 
1.4 Os cenários climáticos 
Os modelos climáticos, constituem os principais instrumentos 
disponíveis para avaliação das respostas do sistema climático à diferentes 
escalas espaciais (da escala regional à global) e temporais, com vista a fazer 
simulações climáticas, compreender o comportamento do clima atual e a partir 
daí projetar cenários climáticos (Santos, 2006; Bernardino & Santo, 2015). 
Os cenários climáticos são importantes ferramentas de análise da 
influência dos gases de efeito estufa e os resultados das emissões projetadas 
para o futuro, que auxiliam no estudo das mudanças climáticas, pois envolvem 
a modelação climática e avaliação dos respetivos impactes, mitigação e 
adaptação (IPCC, 2000; IPCC, 2007). 
Obtêm-se por meio de métodos quantitativos que simulam o sistema 
climático global com os seus subsistemas - atmosfera, hidrosfera, criosfera, 
biosfera e litosfera e as interações entre eles (Santos, 1990). Sendo, que os 
mais recentes e mais usados, apresentam uma certa ambiguidade e 
complexidade por incluírem os subsistemas atmosfera e oceano, e as 
interações dos vários processos (físicos, químicos e biológicos), que 
condicionam o clima (IPCC, 2007; Santos, 2006). 
Até ao Quarto Relatório IPCC (2007), os cenários de referência estavam 
associados a cenários de emissão, tendo o IPCC criado um relatório especial 
sobre os mesmos (SRES-Special Report on Emission Scenarios - 1992), num 
grupo que abrange quatro combinações de mudança demográfica, 
desenvolvimento social e económico e desenvolvimentos tecnológicos, 
correspondentes a quatro famílias distintas (A1, A2, B1, B2), cada uma delas 
com a sua cenarização caraterística (IPCC, 2000; IPCC, 2007). 
➢ A família A1, traduz um crescimento económico, tecnológico, 
demográfico global acelerado, cuja população atinge o auge em 
meados do século e diminui rapidamente, e a rápida introdução 
das novas tecnologias. Está dividido em três subfamílias: i) A1FI- 
alto uso de combustíveis fósseis; ii) A1T- recursos energéticos 
não-fósseis; iii) A1B- equilíbrio em todas as fontes; 
 
9 
 
➢ A família A2, corresponde a um mundo mais heterogéneo do ponto 
de vista económico, com economias não autossuficientes, com um 
aumento continuo da população, e mais orientado para o 
desenvolvimento económico regional; 
➢ O cenário B1, caracterizado por um mundo convergente com 
crescimento populacional baixo, igual à família A1, mas com 
rápidas mudanças económicas em direção a uma economia de 
serviços e de informações; introdução de recursos limpos e 
tecnologias eficientes, com ênfase em soluções globais para a 
sustentabilidade económica, social e ambiental; 
➢ A família B2, traduz um mundo que valoriza as soluções locais 
para a sustentabilidade económica, social e ambiental. É um 
mundo com crescimento populacional moderado, níveis médios de 
desenvolvimento económico e mudanças tecnológicas menos 
rápidas e mais diversificadas em relação a família B1 e A1. 
De acordo com o Quinto Relatório de avaliação do IPCC, (2013) houve 
necessidade de se incluir uma nova família de cenários climáticos para facilitar 
a avaliação de futuras mudanças climáticas, devido às seguintes razões 
(Vuuren et al., 2011): 
▪ Necessidade de informações mais detalhadas para a geração 
atual de cenários climático do que as fornecidas pelos cenários 
anteriores (SRES); 
▪ Interesse crescente em cenários que exploram claramente os 
impactes de diferentes políticas climáticas, permitindo a avaliação 
dos custos e benefícios das metas climáticas; 
▪ Interesse crescente em explorar os conceitos de adaptação e 
mitigação. 
Esta nova família baseia-se no forçamento radiativo e antrópico de 
gases de efeito estufa, até aproximadamente ao ano de 2100, em relação a 
1750, num conjunto de quatro cenários denominados RCP (Representative 
Concentration Pathways): RCP 8.5, RCP 6.0, RCP 4.5 e RCP 2.6, que 
correspondem a forçamentos radiativos de 8.5, 6.0, 4.5 e 2.6 W/m2, 
respetivamente. O primeiro cenário (RCP 8.5) é o pessimista, caraterizado pelo 
 
10 
 
crescimento contínuo nas emissões de gases de efeito estufa, dois cenários de 
estabilização (RCP 4.5 e RCP 6.0), caraterizado por um crescimento 
socioeconómico em que o forçamento radiativo é estabilizado antes de 2100, 
devido a adoção de um conjunto de políticas mitigadoras com vista reduzir as 
emissões de GEE, e um cenário otimista (RCP 2.6), que traduz um forçamento 
global relativamente baixo, equivalente a um aumento global de 1,5ºC (Vuuren 
et al., 2011; IPCC, 2014). 
Os cenários RCPs preveem de forma geral alteração nos padrões de 
distribuição da precipitação, onde as altas e as baixas latitudes poderão 
registar um aumento nos valores de precipitação média anual. Ao passo que as 
regiões secas e áridas das médias latitudes e subtropicais poderão assistir a 
uma redução significativa dos valores de precipitação, com destaque para os 
cenários RCP 4.5 e RCP 8.5. Os cenários projetam ainda um aumentoda 
frequências de eventos extremos de precipitação em todas latitudes 
(Serdeczny et al., 2016; IPCC, 2013). 
Em relação à temperatura, os cenários projetam aumentos substanciais 
em diferentes cenários de emissão de GEE para o período de 2046 a 2065. A 
temperatura média global deverá aumentar em cerca de 1,5ºC - RCP 2.6; 
2,4ºC - RCP 4.5; 3ºC - RCP 6.0; e 4,9ºC – RCP 8.5 (IPCC, 2013). 
1.4.1 Cenários climáticos para África 
Para o continente Africano os cenários climáticos projetam variações 
significativas de temperatura, precipitação, com especial significado nas 
regiões áridas, semiáridas e subtropicais, onde a taxa de aumento da 
temperatura mínima sobrepõe-se à das temperaturas máximas. Estima-se, 
portanto, que as temperaturas em África aumentarão mais rápido do que a 
média global (Niang et al., 2014). 
Enquanto que no cenário mais gravoso (RCP 8.5) o aumento de 
temperatura poderá atingir cerca de 3,5 a 6,5ºC, no caso do cenário mais 
otimista (RCP 2.6) prevê-se um aumento que poderá variar de 1,5 a 3ºC até 
finais do século XXI (IPCC, 2013; Niang et al., 2014). 
 
11 
 
Em relação às precipitações projetadas para a África até finais do século 
XXI, existem ainda muitas incertezas associadas. Para esta variável, os 
modelos projetam reduções prováveis de precipitação média anual na região 
mediterrânea do norte de África e em todo o extremo sul de África sob cenário 
RCP 8.5 em meados do século XXI, que se irá prolongar até finais do século 
XXI. Esta redução prevê-se acentuada nas zonas áridas e semiáridas da região 
Austral nos meses de verão e um aumento significativo na zona equatorial e 
nas maiores altitudes (Dike et al., 2015; Niang et al., 2014). 
No caso do SW de Angola, o registo cíclico de períodos de seca 
prolongados, a par de uma redução progressiva nos valores de precipitação e 
com significativos aumentos das temperaturas, identificam-no como um 
território suscetível às mudanças climáticas. 
As projeções sobre as mudanças climáticas para o território angolano 
apontam para um aumento da temperatura média na ordem dos 4,9ºC e 
diminuição da precipitação em cerca de 2%, com maior incidência na região sul 
de Angola, principalmente durante os meses mais seco, tendo em conta que 
esta zona já é afetada, atualmente, pela escassez de precipitação, e continuará 
previsivelmente a sê-lo até finais do século XXI (Carvalho, Santos, & Pulquério, 
2017; Dike et al., 2015). 
1.5 Os impactes potenciais das mudanças climáticas em 
África 
O IPCC (2014), identifica o continente africano como uma das regiões do 
mundo mais vulneráveis aos impactes das mudanças climáticas. Durante o 
período de 2070-2099, mais de metade (60%) dos meses de verão da África 
Subsariana registarão temperaturas mais altas do que atualmente, com 
destaque para a África ocidental e tropical (Serdeczny et al., 2016). 
A situação geográfica (maioritariamente entre os trópicos e limitadas a 
norte e sul por dois grandes desertos) faz com que o continente seja 
particularmente vulnerável à variabilidade às mudanças climáticas (Zolho, 
2007). Esta vulnerabilidade é agravada pela crescente pressão antrópica sobre 
os recursos naturais devido à grande dependência de uma agricultura pouco 
desenvolvida, caraterizada por ser itinerante e de subsistência, bem como a 
 
12 
 
fraca capacidade de resiliência resultante do desenvolvimento socioeconómico 
e tecnológico, o acelerado crescimento demográfico e o modo de vida da 
população nesta região (Santos & Miranda, 2006; Chisingui, 2017). 
 Serdeczny et al., (2016), carateriza a população africana como sendo 
uma das que mais cresce. Tendo em conta que a África Subsariana deverá 
atingir os 2 mil milhões de pessoas até 2050, número que pode vir a aumentar 
em 2100 (Angel et al., 2011), aumentando igualmente a necessidade alimentar, 
água potável e outros recursos naturais, promovendo uma forte pressão sobre 
a biodiversidade, e às funções e serviços ecossistémicos (Chisingui, 2017), o 
que irá acelerar a fragmentação dos habitats, reduzindo a capacidade de 
dispersão e fixação de organismos, bem como o aparecimento ou a instalação 
de outras populações com diferentes variabilidades genéticas e capacidade de 
adaptação a diferentes condições ambientais (Costa, 2006; Fahrig et al., 2019). 
Estes aspetos fazem de África um dos maiores “hotspots” no que respeita a 
mudanças climáticas e uso do solo (Alcamo et al., 2011). 
A região Austral de África é essencialmente dominada por formações do 
tipo miombo, cuja cobertura é estimada em cerca de 2.4 milhões de km2
 
(Dewees, 1994; Dewees et al., 2010). Fortemente modificada pelo uso intensivo 
dos seus recursos, uma tendência que varia muito de país para país. Estima-se 
uma perda anual da cobertura florestal extremamente alta nos países com este 
tipo de vegetação, variando entre 33.000 a 445.000 hectares associada à 
redução dos valores de precipitação em cerca de 5 a 15% (Moura, et al., 2017) 
e à pressão humana associada à dependência das populações em relação a 
recursos florestais (Chirwa, Syampungani, & Geldenhuys 2009). Estes são 
aspetos, entre outros responsáveis pela elevada vulnerabilidade do continente 
africano às mudanças climáticas. 
Para além dos aspetos associados à utilização dos recursos, há ainda a 
probabilidade de um acelerado processo de desertificação no Sul, Norte e 
Oeste de África, devido à diminuição da precipitação anual projetada nos 
cenários climáticos. A acontecer, é expectável que ocorra uma perda 
significativa da biodiversidade (Heubes et al., 2013). 
 
13 
 
Em relação à temperatura, prevê-se um aumento de cerca de 1,6ºC até 
2050 no Saara e nas regiões semiáridas da África Austral. Nas regiões 
equatoriais (Camarões, Uganda, Uganda, Quénia), esse aumento poderá 
atingir cerca de 1,4ºC. Quanto à precipitação, prevê-se uma diminuição nas 
áreas mais áridas e um aumento na faixa intertropical, com impactes 
significativos na biodiversidade, principalmente nas espécies endémicas no 
centro de endemismo da África do Sul (White, 1983; Burgess, et al., 2004). 
Os estudos sobre mudanças climáticas em Angola estão de alguma 
forma limitados pela escassez de séries climáticas consistentes e pela 
qualidade dos dados atuais, resultado da decadência registada nas estações 
meteorológicas instaladas no período colonial, pelo antigo Serviço 
Meteorológico Nacional, que terá sofrido uma queda de 225 para zero (0) em 
2010. Atualmente a rede de estações meteorológicas conta com cerca de 22 
estações, muitas delas instaladas no âmbito do projeto SASSCAL (Centro da 
África Austral para Ciências e Serviços para Adaptação às Alterações 
Climáticas e Gestão Sustentável dos Solos) (Huntley, 2019). 
1.6 Impactes das mudanças climáticas nos ecossistemas 
As mudanças climáticas constituem uma das principais ameaças à 
biodiversidade, promovendo um conjunto de impactes que vão desde a 
fenologia e/ou modo de vida das espécies, até às alterações na corologia ou 
mesmo contribuindo para processos de extinção, os quais se irão manifestar a 
diferentes níveis: desde os territórios de baixa altitude até aos mais elevados, 
desde os lagos e lagoas, ribeiros e rios até aos oceanos e mares (Bhattarai, 
2017). Desta forma, as mudanças climáticas irão traduzir-se em grandes 
alterações na estrutura e composição dos habitats, com graves implicações 
no fornecimento de bens e serviços oferecidos pelos ecossistemas (Moura et 
al., 2017). 
A avaliação dos impactes resultantes das mudanças climáticas nos 
ecossistemas começaram a merecer maior atenção nas ultimas décadas, 
principalmente em estudos ecológicos (Figueiredo, 2013). 
Os serviços ecossistémicos desempenham um papel crucial na 
adaptação e mitigação das consequências das mudanças climáticas. 
 
14 
 
Deveremos estar preparados para que estas mudanças possam ocorrer a uma 
velocidade superior à capacidade de regeneraçãodos ecossistemas, 
crescimento, reprodução e estabelecimento de novas espécies florestais 
(Zolho, 2007). 
Os impactes provocados pelas mudanças climáticas variam de espécie 
para espécie, e os mais importantes registar-se-ão naquelas que estão 
inseridas nos ecossistemas localizados nos limiares de temperatura ou secura, 
com corologia limitada ou em populações fragmentadas, e portanto, podem 
apresentar variadas respostas em função das diferentes características 
biológicas de cada uma delas: movimento, adaptação e extirpação (Hickling et 
al., 2006). 
 Santos & Miranda (2006) defendem que a perda da diversidade biológica 
reduz a capacidade de dispersão dos taxa devido à diminuição do número de 
potenciais colonizadores e, portanto, esse fato reduz a capacidade de ajuste 
dos ecossistemas às novas condições. Nestas circunstâncias há, necessidade 
de um maior número de espécies e de indivíduos por espécie, para manter as 
condições da estabilidade face às mudanças climáticas. 
Ao nível de África, os cientistas advertem que os efeitos das mudanças 
climáticas terão efeitos dramáticos na vida selvagem, demostrados através de 
estudos que apontam para a extinção de cerca de 40% de habitats das 
espécies vegetais e animais, enquanto que mais de 90% de habitats 
adequados às espécies irão restringir-se devido as mudanças climáticas em 
2085 (ONU, 2008). Sendo África, o continente que apresenta uma 
biodiversidade com menores índices de impacto antrópico, quando comparada 
com outros continentes, esta situação pode inverter-se rapidamente pela 
imprevisibilidade do clima, pelo aumento rápido das populações humanas, 
pelos conflitos, pelas economias locais, nacionais e regionais e as políticas de 
governança altamente voláteis na sua evolução. Todos estes fatores, estão na 
base das maiores ameaças ao equilíbrio dos ecossistemas e sobrevivência de 
uma boa parte da biodiversidade desta parte do mundo (Burgess et al., 2004). 
O aumento da temperatura de cerca de 1 a 2ºC acima dos níveis 
verificados em 1999 levou a uma perda da biodiversidade vegetal na ordem de 
 
15 
 
40 a 50%. Da mesma forma uma subida de cerca de 2.5 a 3ºC poderá implicar 
uma diminuição da produtividade das savanas, sobretudo devido à seca, e à 
extinção de cerca de 10% de taxa endémicos (Lesolle, 2012). 
A maior ameaça reside na combinação entre a elevada suscetibilidade 
às mudanças climáticas e a elevada pressão antrópica sobre os ecossistemas, 
associada a extrema pobreza de alguns países africanos, tendo em conta que 
cerca de 60 milhões de habitantes vivem nas florestas da África subsariana, 
onde a lenha e o carvão vegetal constituem as principais fontes de energia de 
80% da população (Mayaux et al., 2013). As mudanças no uso e ocupação do 
solo, a urbanização rápida e a exploração desenfreada da madeira são, entre 
outras, apontadas como os motores de elevada fragmentação dos habitats 
africanos (Burgess et al., 2004). Devemos ter em conta as altas taxas de 
expansão urbana a que se assiste nesta região, apontadas por Angel et al., 
(2011) como sendo das mais elevadas do mundo, (estima-se um aumento em 
cerca de 12 vezes (1.232.083) até 2050, valor este só superado pela Ásia). 
Estes números vão-se refletir, certamente, numa crescente urbanização, e na 
necessidade alimentar de um número crescente de pessoas com consequente 
diminuição das áreas dos ecossistemas e decréscimo da biodiversidade. 
Tendo em conta os possíveis impactes das mudanças climáticas, 
assume-se como importante o desenvolvimento de estudos que visam não só 
determinar a magnitude desses mesmos impactes, como identificar os 
territórios mais suscetíveis e vulneráveis. Neste contexto, a modelação de 
nicho ecológico tem sido uma ferramenta importante para prever os efeitos das 
mudanças climáticas sobre a distribuição espacial das espécies, com o objetivo 
de definir medidas de mitigação de tais efeitos (Gomes et al., 2018). 
1.7 Modelos de nicho ecológico: vantagens e limitações 
Um dos principais impactes das mudanças climáticas é a alteração das 
condições ambientais de adequabilidade para ocorrência das espécies ou em 
potenciais áreas de ocorrência futura, tendo em conta que os indivíduos se 
estabelecem em habitats onde as condições edafoclimáticas são favoráveis à 
sua sobrevivência e reprodução, (Pearson & Dawson, 2003). Entretanto, esta 
adequabilidade pode ser influenciada pelos fatores e elementos climáticos, 
 
16 
 
modificando os padrões de distribuição das espécies, expressa pela ecologia e 
história evolutiva de cada uma delas, em diferentes intensidades e escalas por 
um longo período de tempo, (Soberón & Peterson, 2005). 
Os modelos de nicho ecológico (ecological niche modelling - ENM), têm-
se tornado numa importante ferramenta de investigação nos campos da 
biogeografia, ecologia, evolução e na biologia da conservação (Gomes et al., 
2018). Têm sido amplamente usados para definir estratégias e medidas de 
mitigação dos efeitos negativos das mudanças climáticas sobre os 
ecossistemas, que se baseia na correlação entre dados de presenças 
conhecidas e as camadas ambientais projetadas para diferentes cenários 
climáticos (Guisan & Thuiller, 2005; Gomes et al., 2018). Estes modelos têm 
sido usados em vários estudos de análise da dinâmica de distribuição espacial 
de espécies, sob diferentes cenários climáticos, seleção de habitats, definição 
de novas áreas protegidas para espécies raras e endémicas (Lopes, Rocha & 
Rocha, 2007). A sua importância e utilização tem sido impulsionada pela 
crescente procura de dados de ocorrências de espécies (principalmente 
georreferenciadas) disponíveis online, facilidade de acesso às várias 
plataformas que disponibilizam gratuitamente as camadas ambientais e a 
disponibilidade de vários métodos de modelação, desenvolvidos nos últimos 
anos com o progresso significativo da informática, estatística e principalmente 
pelo contributo teórico da ecologia preditiva (Guisan & Thuiller, 2005, Gomes et 
al., 2018). 
Diferentes abordagens têm sido utilizadas para definir o conceito de 
nicho, criando alguma ambiguidade entre diferentes autores, devido às 
diferentes componentes ou elementos que cada um considera (Araújo & 
Guisan, 2006). 
A primeira abordagem ao conceito de nicho ecológico, foi proposta por 
Joseph Grinnell (1917), que considerava o nicho ecológico como sendo uma 
subdivisão do habitat de uma espécie, incluindo todos fatores bióticos como a 
temperatura, humidade, precipitação, assim como fatores abióticos, como a 
presença de alimentos, concorrência, predação, abrigo, etc. Sem levar em 
consideração a presença de interações com outras espécies, considerando 
somente os locais que reúne as condições favoráveis para a ocorrência da 
 
17 
 
espécie (Pocheville, 2015). Mais tarde Charles Elton, enfatizou o papel 
funcional de uma espécie numa comunidade, as interações bióticas, as 
dinâmicas de consumo de alimento e a sua posição na cadeia alimentar 
(Wiens, et al., 2009). 
O conceito de nicho ecológico ganhou protagonismo com os trabalhos 
de Hutchinson (1944), tendo definido o nicho como o conjunto de fatores 
ambientais que condicionam a presença de espécies; “um híper-espaço n-
dimensional”. Mais tarde, o conceito “híper-espaço” foi substituído por “híper-
volume”, em que os valores mínimos e máximos dos limites de tolerância para 
cada fator constituiria um hiper volume com n-dimensões. 
O fundamento da abordagem de Hutchinson (1944), está na distição 
entre o nicho fundamental e o nicho realizado. Em que o nicho fundamental 
representa um conjunto de variáveis ambientais que permitem a sobrevivência 
e reprodução da espécie num determinado local. E o nicho realizado 
corresponde ao subconjunto do nicho fundamental, no qual uma espécie 
ocorre realmente e onde está restringida por interações com outras espécies 
através da competição e/ou predação (Araújo& Guisan, 2006; Wiens et al., 
2009). 
Geralmente a modelação de nicho ecológico assenta em duas 
abordagens: a mecanicista e correlativa, que correspondem respetivamente 
aos modelos de nicho ecológicos descritos por Hutchinson (1944): Nicho 
fundamental e Nicho realizado. 
A abordagem mecanicista baseia-se nas propriedades intrínsecas das 
espécies que determinam a sua sensibilidade às características físicas do 
ambiente, fisiologia, história de vida, plasticidade comportamental ou genética 
para cartografar áreas atuais ou futuras, enquadradas nos limites de tolerância 
das espécies (Wiens et al., 2009). 
A abordagem correlativa baseia-se na correlação estatística entre as 
variáveis bioclimáticas e os dados de presença das espécies, para aferir 
implicitamente os processos que limitam a sua distribuição, sendo amplamente 
usadas para prever a distribuição futura das espécies face às mudanças 
climáticas (Kearney et al., 2010). Mostram-se mais vantajosos em relação aos 
 
18 
 
modelos mecanicistas, devido à simplicidade e à disponibilidade dos dados. 
Este atributo explica o facto de ter sido amplamente usado na definição de 
politicas conservacionistas (Kearney et al., 2010). 
A área de distribuição das espécies é, segundo Pearson & Dawson 
(2003), determinada por diversos fatores que atuam com diferentes 
intensidades e a escalas diferentes. Para Soberón & Peterson (2005) estes 
fatores dividem-se em quatros grupos: 
i- Condições abióticas, que correspondem aos aspetos climáticos, 
ambiente físico e condições edáficas, que impõem limites 
fisiológicos à capacidade de persistência da espécie; 
ii- Condições bióticas, referem-se ao conjunto de interações 
interespecíficas, que interfere na capacidade de sobrevivência 
das espécies. Estas interações podem ser positivas (mutualismo 
e comensalismo) ou negativas (concorrência, competição e 
doenças); 
iii- As áreas que são acessíveis à dispersão pelas espécies de 
algumas regiões. Portanto, este fator é muito útil para distinguir a 
distribuição real da distribuição potencial; 
iv- Capacidade evolutiva das espécies para se adaptar às novas 
condições. 
Estes fatores interagem de forma dinâmica e a diferentes escalas, 
definindo os padrões de distribuição de uma espécie. Soberón & Peterson 
(2005), sintetizaram estas interações através de um diagrama, denominado 
diagrama de Venn ou diagrama de bam, (Figura 2) onde se pode ter uma 
perceção da influência de cada grupo de fatores na definição dos diferentes 
tipos de nicho. 
 
19 
 
G 
B 
A = GA 
GI 
GO 
 
 
Figura 2. Diagrama representando a influência dos fatores na distribuição espacial das 
espécies e diferenciação dos tipos de nicho. Adaptado de Soberón, Osorio-olvera, & 
Peterson, 2017. 
O diagrama de BAM é a representação abstrata de uma região 
geográfica (G), onde são ilustradas diferentes áreas com condições distintas e 
os fatores limitantes na distribuição das espécies. Onde A (fatores abióticos) 
representa a região geográfica com um conjunto de condições ambientais 
adequadas para a espécie, e pode ser considerada como sendo a expressão 
geográfica do Nicho Fundamental da espécie (NF); a área B (fatores bióticos) 
representa as regiões onde as condições biológicas (mutualismo, 
comensalismo, competição, predação, doenças) são favoráveis; a área M 
(Migração) representa as regiões do mundo acessíveis às espécies, sem 
impedimento à migração e colonização; a área G0, corresponde ás regiões de 
distribuição real, onde há condições bióticas e abióticas favoráveis e com uma 
grande capacidade de dispersão dos indivíduos constituindo o Nicho 
Realizado (NR); a área GI representa as regiões geográficas com condições 
bióticas, ambientais favoráveis e que não são colonizáveis (área invisível). Os 
pontos negritos correspondem às presenças e pontos brancos às ausências 
(Peterson et al., 2011; Soberón et al., 2017). 
Os modelos de nicho ecológico têm muitas aplicações, principalmente 
na definição de medidas conservacionistas, tendo em conta que têm sido 
usados com frequência no estudo das relações entre os fatores ambientais e a 
 
20 
 
presença de espécies, permitindo o entendimento dos padrões de distribuição 
dos ecossistemas, traduzindo-se numa ferramenta útil aos investigadores para 
a exploração de questões ecológicas, evolução e conservação (Thuiller et al., 
2006). No entanto, os modelos de nicho ecológico apresentam vantagens e 
limitações. 
 Thuiller et al., (2006); Elith et al., (2006); Illoldi & Tania, (2016), 
enumeram as seguintes vantagens dos modelos de nicho ecológico: 
• Permitem obter cartogramas de distribuição com boa capacidade de 
discriminação das áreas preditas à ocorrência da espécie com base em 
duas medidas, o índice Kappa e o ROC (Receiver Operating 
Characteristic); 
• Permitem a realização de análises rápidas, precisas e realistas sobre a 
resposta das espécies às mudanças climáticas individualmente em 
relação a outros modelos; 
• Fornecem informações importantes sobre os possíveis impactes das 
mudanças climáticas na biodiversidade através dos modelos preditivos. 
Paralelamente às vantagens acima descritas, os modelos de nicho 
ecológicos também estão sujeitos a certas limitações. Estas limitações estão 
principalmente relacionadas às incertezas associadas aos dados de entradas 
(Wiens et al., 2009), como a seguir se apresentam: 
• A resolução espacial e temporal das variáveis climáticas afeta o 
downscaling dos GCM (General Circulation Model) e as diferenças nas 
amplas variáveis climáticas usadas para conduzir os GCMs podem 
resultar em projeções indiferentes; 
• A confiabilidade dos registos de ocorrência das espécies usadas para 
derivar os modelos depende da área de abrangência da área amostral, o 
que pode resultar em vieses nos registos de ocorrências; 
• O tamanho das amostras ou a cobertura espacial inadequada diminui a 
confiança estatística das correlações subjacentes aos modelos de nicho, 
aumentando a incerteza, tendo em conta que os modelos gerados com 
poucos pontos geram modelos menos robustos (Thuiller et al., 2006). 
 
21 
 
1.7.1 Algoritmos de modelação 
O progresso registado na área informática, o desenvolvimento e o 
surgimento de vários algoritmos matemáticos permitiu modelar cada vez mais 
com maior precisão o nicho ecológico dos taxa (Illoldi & Tania, 2016). Este 
progresso impulsionou o surgimento de vários algoritmos de modelação com 
abordagens diferentes, cuja seleção do algoritmo a usar depende 
principalmente dos dados à disposição e do objetivo que se pretende. Sendo 
assim, podem ser divididos em dois grupos (Elith et al., 2006). 
O primeiro grupo inclui apenas abordagens correlacionais que usam 
dados de presença e variáveis ambientais para caracterizar paisagens 
ambientais, nomeadamente: o BIOCLIM, que usa o envelope bioclimático para 
encontrar uma regra que identifica as áreas com condições adequadas para a 
ocorrência da espécie (Busby, 1991; Illoldi & Tania, 2016), o DOMAIN que 
calcula distribuições potenciais baseadas numa métrica de similaridade ponto-
a-ponto padronizada em faixas e fornece um método simples e robusto para 
modelar a distribuição de espécies animais e vegetais (Gillison, 1997) e o 
MAXENT, que é um algoritmo baseado no principio da máxima entropia, 
fundamentada numa abordagem mecanicista para estimar a distribuição 
probabilística uniforme em toda área de estudo a partir de informações 
incompletas (Phillips, Anderson, & Schapire, 2006). 
O segundo grupo inclui várias abordagens de regressão que englobam 
dados de presenças e ausências como por exemplo o GAM (Generalized 
Additive Models) e GLM (Generalized Linear Models), amplamente utilizados 
em modelação de distribuição de espécie devido a uma forte base estatística e 
uma grande capacidade de modelar realisticamente as relações ecológicas. 
GARP (Genetic Algorithm for Rule-Set Production), que usa umalgoritmo 
genético para encontrar associações entre variáveis ambientais e as 
ocorrências conhecidas das espécies (Elith et al., 2006). 
 
 
 
 
 
22 
 
2 Enquadramento geográfico 
2.1 Condições biofísicas da área em estudo 
A área de estudo compreende a região Austral de África, desde o 
paralelo de 5º 22’ 50” N até à África do Sul, mas a análise e discussão dos 
resultados irá limitar-se ao sudoeste de Angola. 
A área em referência é fortemente influenciada pelo gradiente latitudinal 
e altitudinal, constituindo assim um dos principais fatores modeladores do 
clima, tendo em conta que os valores de precipitação sofrem influências destes 
elementos. Os referidos gradientes (latitudinal e altitudinal) definem, em grande 
medida, os padrões de distribuição da vegetação os quais variam desde as 
florestas densas até à vegetação desértica (ex: o Deserto do Namibe) e como 
tal repartem-se por cinco das unidades vegetais descritas por White (1983), 
sendo que de norte a sul, o Centro de Endemismo da Zambézia, a Zona de 
transição regional do Kalahari, o Centro de endemismo do Karoo-Namibe, o 
Arquipélago afro montano e o centro de endemismo do Cabo. 
O Sudoeste de Angola abrange administrativamente três províncias 
nomeadamente a Huíla, Namibe e Cunene, (Figura 3) sensivelmente entre os 
paralelos 17º 26’ 14” e 17º 24’ 22” de Latitude Sul e os meridianos 11º 40’ 24’’ e 
17º 24’ 22” de Longitude Este. É caraterizada por planaltos extensos, que se 
prolongam para leste e nordeste e muito além dos limites dela, e por um 
majestoso degrau, formando a escarpa da Chela que, a pouco mais de 150 km 
do mar, na área do Lubango (ex-Sá da Bandeira) apresenta um degrau com 
mais de 1000 m de desnível (Feio, 1981). Junto ao mar, encontra-se uma 
estreita faixa de sedimentos, que se estende desde a Lucira à Foz do Cunene, 
atingindo uma largura superior a 20 km na parte central. 
A região Austral de África é caraterizada por apresentar um relevo muito 
acidentado, o qual varia desde o nível médio das águas do mar e se eleva 
bruscamente até acima dos 5000 metros de altitude no Kilimanjaro onde se 
encontra o pico mais alto de África, originando assim as comunidades vegetais 
Afro-montanas, que constituem um grande centro de endemismo (White, 1983). 
Em relação o Sudoeste angolano, o relevo é segundo Medeiros (1976) 
 
23 
 
caraterizado por uma sucessão de superfícies planas, extensas, escalonadas a 
diferentes altitudes e isoladas por escarpas menos vigorosas, formando 
escadarias de aplanações, cuja Serra da Chela constitui o ponto mais alto, 
atingindo cerca de 2000 metros de altitude. 
Em termos hidrográficos, a região é drenada de norte a sul pelas bacias 
hidrográficas do Zaire ou Congo no extremo norte, do Alto Zambeze na faixa 
leste, as bacias hidrográficas do Cuanza e Cunene, que nascem ambos no 
planalto central de Angola, a bacia hidrográfica do Okavango, com as 
cabeceiras instaladas no planalto central de Angola, e a bacia hidrográfica do 
Limpopo na África do Sul (White, 1983). 
Para Diniz, (1991), o sudoeste de Angola é de Norte a Sul drenada por 
três (3) principais bacias hidrográficas: Bacia hidrográfica do Cunene, Bacia 
hidrográfica do Sudoeste angolano e a Bacia hidrográfica do Cuanhama. 
A bacia hidrográfica do Cunene, integra a maior parte da área de estudo, 
cujas cabeceiras se encontram no planalto central e que de norte a sul 
atravessa grande parte de região, sendo por isso a mais importante da região 
centro e sul, recebendo ao longo do seu curso a água de vários afluentes de 
regime permanente nas suas duas margens (Diniz, 1991; Diniz, 1973). As duas 
últimas caraterizam-se por serem de regime intermitente, devido principalmente 
às condições climáticas desta parte de Angola. E são drenadas por pequenas 
linhas de água não bem definidas, designadas localmente por “Mulolas”. 
Entretanto, estes aspetos formam por si só fortes condicionantes ao 
comportamento das precipitações e são, portanto, responsáveis pelo mosaico 
da flora e vegetação da região. 
 
24 
 
 
 Figura 3. Situação geográfica da área de estudo. 
2.1.1 Clima 
O clima constitui um dos fatores mais importantes em estudos 
biogeográficos, dada a sua influência na fisionomia, cobertura e determinação 
dos padrões de distribuição espacial da diversidade biológica (Mucina, 2019). 
A África Austral é segundo a classificação de Köppen-Geiger 
(http://koeppen-geiger.vu-wien.ac.at/) caracterizada pelos climas do tipo A- 
Clima equatorial ou tropical (das regiões equatoriais e subtropicais), B-Clima 
árido e semiárido (climas das regiões áridas e dos desertos das regiões 
costeiras ocidentais dos continentes) e C-Clima temperado (clima das regiões 
oceânicas e marítimas e das regiões costeiras ocidentais dos continentes). 
Quanto ao Sudoeste de Angola, o clima varia por duas causas 
principais, uma que está relacionada ao gradiente latitudinal, que provoca 
redução da precipitação a medida que nos afastamos da zona equatorial em 
direção ao anticiclone subtropical, outro relacionado com a proximidade ao mar 
e a corrente fria de Benguela, que provoca elevada humidade atmosférica e 
ausência de chuva junto a costa, caraterística que se enfraquece para o 
http://koeppen-geiger.vu-wien.ac.at/
 
25 
 
interior. Também deve-se aqui destacar a influência da altitude no 
comportamento das chuvas (Feio, 1981). 
Destacam-se quatro subtipos climáticos: o BSh- (clima semiárido ou de 
estepe) que ocupa a faixa que se estende desde a província do Namibe até a 
província do Cunene, (Diniz, 1991) e é caraterizado pela existência plantas 
xerófitas como acácias, que resistem ao deficit hídrico (Chisingui, 2017); o 
BWh (clima desértico ou árido), compreende toda faixa desértica do litoral Sul 
(Deserto do Namibe) desde a Lucira, estendendo-se até a fronteira sul com a 
Namíbia (Deserto do Kalahari); o Cwa (Clima subtropical húmido com Inverno 
seco e Verão quente), compreende uma pequena faixa à Norte da província de 
Moçâmedes; o Cwb (Clima subtropical de altitude com Inverno seco e Verão 
temperado), abrange maior parte da província da Huíla e uma pequena porção 
da província do Cunene (Diniz, 1973). 
A temperatura nesta região varia desde -4 a 30 ºC, sendo também 
influenciada principalmente pela altitude e latitude. Registando-se por isso, 
temperaturas negativas nas maiores elevações (ex: Kilimanjaro e a cordilheira 
de Drakesmberg) e as temperaturas mais altas, nas baixas latitudes (Zona 
equatorial) e nas regiões costeiras (Figura 4). 
Quanto ao SW de Angola, as temperaturas médias anuais apresentam 
uma variação significativa, aumentando com o afastamento em relação ao mar 
até a base da escarpa da Chela, que por sua vez passam a ser condicionadas 
pelo gradiente altitudinal e também pela quantidade de precipitação, variando 
de 14,5 a 24,8 ºC. E apresenta uma amplitude térmica que varia de 5 a 19 ºC. 
 
26 
 
 
 Figura 4. Variação da temperatura média anual. 
Existe uma variação considerável na quantidade e na distribuição das 
chuvas, sendo estas influenciadas pelo gradiente latitudinal e principalmente 
pela altitude (White, 1983) apresentando uma variação média anual entre 50 à 
3000 mm (Figura 5), com os maiores valores observados nas baixas latitudes 
(zona equatorial) e nas grandes altitudes onde chegam a atingir 5 000 mm por 
ano. 
Em relação ao sudoeste de Angola, a distribuição da precipitação muda 
com a altitude, com o afastamento em relação ao mar e com a latitude, 
variando de 26 mm em toda faixa desértica a 1226 mm na cordilheira da Chela 
e no Planalto Principal. Onde os maiores valores registam-se nas terras altas 
da Chela e no planalto principal, que compreende toda faixa norte do SW 
 
27 
 
angolano, (< 1000 mm), (Medeiros, 1976). 
É caracterizado por duas estações principais (chuvosa e seca - também 
designada por estação do cacimbo) euma de transição. Sendo seis meses de 
chuvas (Novembro, Dezembro, Janeiro, fevereiro, Março e Abril), dois de 
transição (Maio e Outubro) e quatro meses secos (Junho, Julho, Agosto e 
Setembro) (Feio, 1981). 
 
 Figura 5. Distribuição da precipitação média anual. 
2.1.2 Geologia 
Segundo White, (1983) a área de estudo é dominada no extremo norte 
por formações Pré-câmbricas cobertas por sedimentos que vão desde a era 
Paleozoica até às mais recentes (depósitos fluviais modernos e areais de praia 
 
28 
 
e dunares litorais, entre outros). As rochas são constituídas maioritariamente 
por: quartzitos, xisto, anfibolito, gnaisse, migmatito, diorito e mechas. O centro 
da área de estudo, precisamente no vale do Zimbabwe é caracterizado por 
formações pré-câmbricas, extraordinárias, que se estendem até 480 km na 
direção NNE-SSW, com 5-6 km de largura que consistem em intrusões 
ultrabásicas e básicas de diorito, gabro, peridotite, serpentina, as quais 
constituem importante fonte de níquel e crómio. A região do Karoo-Namibe e 
Kalahari são dominados por basaltos triássicos, intrusões de soleira e tilita. A 
região do Cabo é dominada por arenito e quartzito, sendo que a faixa costeira é 
constituída por sedimentos terciários, conglomerados e calcários. 
 Diniz (1991), considera a região Sudoeste de Angola constituída pelas 
seguintes estruturas geológicas: 
1- Formações marinhas Ceno-Mesozoicas (orla sedimentar do litoral) de 
Plataformas arenosas, argilas, calcários, arenitos e margas, depositados 
desde o Cretáceo inferior até ao Miocénico, que se evidenciam 
principalmente na bacia sedimentar do Namibe. 
2- Formações continentais cenozoicas: 
➢ De dunas, que correspondem aos extensos depósitos de areias 
quartzosas de origem eólica, desde o Curoca até a foz do rio 
Cunene; 
➢ De depósitos quaternários de aluviões e areias os quais dizem 
respeito às formações sedimentares de maior continuidade, que 
corresponde com a aplanação da bacia sedimentar do Cuanhama e 
com o Planalto Antigo constituídas essencialmente por aluviões de 
areias, granitos, granodioritos e gabro-norito; 
➢ Do Kalahari (terciário) e areias quaternárias de coberturas. 
Caraterizadas por materiais arenosos mais ou menos soltos, 
conhecidos geralmente por areias do Kalahari. Corresponde, 
portanto, à parte leste da área de estudo, cujo desenvolvimento teve 
lugar desde o Terciário inferior até ao Holocénico. 
3- Formações continentais Pré-Câmbricas: 
➢ De Calcário, Xistos, Arenitos, Quartzitos, Grauvaques, Arcoses, 
Argilitos, que incluem o grupo da formação da Chela e da Leba; 
 
29 
 
➢ Doleritos e noritos; 
➢ Granitos e granitos porfiroides; 
➢ Complexo gabro-arnotositico; 
➢ Complexo xisto-quartzítico. 
2.1.3 Solos 
O solo constitui um dos elementos responsável pela heterogeneidade 
dos habitats, influenciando os padrões de distribuição da flora e vegetação. 
Segundo a carta global de solos da FAO (1977) na escala 
1:5 000 000, o continente africano abrange 53 grandes regiões edáficas, sendo 
que, a área de estudo compreende cerca de 22 grandes regiões de solo, 
repartidas em três grandes unidades: Acrisóis, Cambissolos e Chernossolos. 
Estas 22 regiões edáficas apresentam uma grande diversidade de solos que se 
reflete na riqueza e diversidade da flora que carateriza esta região. 
O Sudoeste de Angola é de acordo a Carta de solos apresentada por 
Diniz (1991) constituída de norte a sul por 6 principais unidades pedológicas 
relacionadas às caraterísticas climáticas, referindo-se principalmente aos 
valores de precipitação e ao grau de secura do solo como afirma Cardoso, 
(2015): 
▪ Dunas do Deserto, correspondem aos materiais arenosos de origem 
eólica, formadas por acumulações de materiais quartzosos. Ocupa uma 
extensa faixa litoral, desde o Curoca até à foz do rio do Cunene; 
▪ Solos aluviais, solos pouco evoluídos, de origem fluvial. Característicos 
das planícies marginais dos principais rios. Não possuem horizontes 
bem definidos, produzindo depósitos estratificado de sedimentos 
aluvionais; 
▪ Litossolos e Terrenos rochosos, corresponde aos solos pouco 
evoluídos e com rocha consolidada, pouco meteorizada e pouco 
profundos (15/20 cm); 
▪ Solos psamíticos, agrupa todos os solos de textura grosseira, 
arenosos-francos relacionando-os com materiais quartzosos mais ou 
menos espessos, pouco evoluídos, compostos pelos perfis ABC; 
▪ Solos arídicos tropicais, distribuem-se com maior incidência a sul e 
 
30 
 
sudoeste (Baixo Cunene e Namibe) e está, portanto, relacionado com 
substratos rochosos gnaissíco e granito-gnaissico e com sedimentos 
gresíferos e argiláceos do Cretácico; 
▪ Solos felsialíticos, compreende a faixa subplanáltica de clima 
subhúmido e na sua transição para o semiárido, com ocorrência 
descontinua desde o rio Zaire até ao sopé da Serra da Chela. 
2.1.4 Vegetação e flora 
A área de estudo é abrangida pelos principais biomas que caraterizam o 
continente africano de norte a sul, desde florestas tropicais húmidas a desertos 
secos (Burgess et al., 2004). A área de estudo se estende pelas seguintes 
principais regiões florísticas (White 1983): Guineo-Congoleana, Zambesiáca, 
Karoo-Namibe, Kalahari, Cabo e Afro montano. Sendo que a região 
Zambesiáca é de maior extensão, abrangendo quase todos os países que 
compreendem a área de estudo, com cerca de 3.770 000 km2, seguido pela 
região Guineo-Congoleana que compreende a faixa norte com de cerca de 
2.800 000 km2. 
Em relação ao Sudoeste de Angola, Barbosa (1970) considera que as 
várias formações vegetais aí existentes compreendem sobretudo associações 
de miombo com savanas, que varia através das caraterísticas climáticas e 
edáficas, tendo descrito 8 formações vegetais para esta região: 
➢ i - Bosque e balcedo alto, caducifólios, das altitudes médias (areias 
da Chibemba, Bicuar, Mulondo, etc.) (tipo de vegetação nº 15).

Continue navegando