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Japão: um país ecológico Nas décadas de 1950 e 1960, o Japão superou problemas decorrentes da poluição, assim como o faria durante as crises do Petróleo nos anos 1970, para tornar-se um país com vocação para a sustentabilidade. Conciliando a balança entre crescimento econômico e preservação ambiental, o Japão fez avanços em anos recentes no desenvolvimento de tecnologia verde, mantendo, ainda assim, um inequívoco caráter competitivo em nível global. Esta edição especial mostra as iniciativas ambientais do Japão e seu contexto histórico. SUPERANDO AS CRISES DO PETRÓLEO As duas crises do petróleo da década de 1970 tiveram um grande impacto na economia japonesa. Após esse período, as pessoas entenderam melhor a importância da economia de energia. Em particular, setores da indústria que são consumidores pesados de eletricidade, como o de aço, cimento, celulose, petroquímica e de produtos de petróleo refinado começaram a adotar medidas amplas de economia energética, criando dispositivos de recuperação de calor, com a finalidade de prevenir o desperdício de calor e eletricidade nas fábricas e agilizar os processos de produção. Como resultado, o Japão tem se mostrado exitoso ao conciliar crescimento econômico e redução do consumo de energia o que rendeu ao Japão a primeira posição mundial em eficiência de energia. A dimensão da economia japonesa é hoje o dobro do que era em 1973 e o volume de produção do setor manufatureiro é 1,5 vez maior do que era naquele ano. Porém, a quantidade de energia consumida pela atividade industrial e hoje e 0,9 vezes menos doque costumava a ser. GERENCIAMENTO DO LIXO E RECICLAGEM Na década de 1960, o Japão passou a experimentar um rápido crescimento de sua economia, e o começo de um período de produção e consumo massivos e, claro, também resíduos em massa Dessa forma, o tratamento de resíduos logo se tornou um problema grave. Considerando ainda a limitação de espaço imposta pela geografia do país, apenas uma quantidade limitada de lixo podia ser depositada em aterros. Como agravante, ao passo em que a economia do país depende da importação de matérias primas, muitas pessoas começaram a questionar o uso de determinados produtos importados descartáveis. Hoje, muitos japoneses estão conscientes da importância de reduzir o lixo e da forma adequada em que ele será descartado. Com a mudança gradual de mentalidade, muitos municípios introduziram sistemas de coleta seletiva de lixo, onde a separação também passou a ser organizada entre resíduos incineráveis, não-incineráveis e resíduos a granel, entre outros, e, desde então, as pessoas só podem levar seu lixo para fora no dia específico em que o caminhão passa para fazer a coleta naquela vizinhança. Papel, garrafas de vidro, latas e garrafas PET são todos recolhidos como lixo reciclável São aproximadamente 8,9 milhões de pessoas vivendo nos 23 distritos de Tóquio, e sua população produz aproximadamente 2,87 milhões de toneladas de lixo por ano. Um total de 21 usinas de incineração é responsável por processar esse volume de lixo (o número de usinas inclui as em reforma). Um dessas usinas, a Kita, incinera até 600 toneladas de lixo diariamente. Caminhões trazem o lixo coletado para um lugar chamado de ‘bunker do lixo’, localizado no mesmo edifício que o incinerador. Guindastes retiram o lixo dos caminhões e o colocam no incinerador, que opera 24 horas por dia. O lixo é incinerado a uma temperatura superior a 800°C com o objetivo de prevenir a criação de dioxinas perigosas. As dependências de controle de poluição multiestágio da usina cuidam também de eliminar qualquer material ou elemento perigoso, como partículas e óxidos de nitrogênio. A usina está localizada próxima a um bairro residencial e gerencia suas próprias normas de controle de poluição que são bem mais rigorosas do que os próprios requisitos legais que regulam o setor. OS JAPONESES E A NATUREZA VIVENDO EM HARMONIA Entrevista com Takeuchi Kazuhiko "Satoyama" é um termo que expressa o estilo de vida japonês, cujo foco está em buscar a convivência em harmonia com a natureza. Posicionado entre recantos selvagens e o ambiente urbano, as satoyama sempre foram conhecidas como áreas abençoadas com uma diversidade de recursos, incluindo alimentos e madeiras, além, claro, de belas paisagens. A Niponica recentemente entrevistou o vice-reitor da Universidade das Nações Unidas (UNU), Takeuchi Kazuhiko, sobre o valor e a importância do conceito dos satoyama dentro da lógica global de preservação ambiental. O nome satoyama foi usado originalmente para descrever áreas próprias para se recolher lenha ou carvão para grelhar, ou ainda para a coleta de folhas para se preparar fertilizantes. Só recentemente é que a definição se expandiu para indicar os ecossistemas dentro das florestas alterados pela ação humana localizados em montanhas, utilizadas para fins agrícolas que tocam aldeias e outros agrupamentos humanos. Em outras palavras, os satoyama são mosaicos ambientais compostos de muitos elementos diferentes, incluindo arrozais e campos, refúgios naturais, lagoas e os bosques nos limites de santuários xintoístas e vilas. O conceito de satoyama começou a ser amplamente conhecido a partir dos anos 1960, quando o Japão atravessava um intenso processo de crescimento econômico e urbanização, quando a construção de instalações voltadas para o lazer humano levaram à rápida destruição dos satoyama. Conforme os japoneses assistiam os satoyama desaparecerem, as pessoas começaram a perceber o valor singular desses ambientes. Preocupados com a preservação dos satoyama, as pessoas passaram a encarar esses refúgios com outros olhos, e o termo "satoyama" se popularizou Economia do Japão A economia pós-guerra do Japão desenvolveu-se a partir dos resquícios de uma infraestrutura industrial que sofreu destruição generalizada durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1952, ao final da ocupação dos aliados, o Japão era um “país menos desenvolvido”, com um consumo per capita de cerca de um quinto do consumo dos Estados Unidos. Ao longo de duas décadas, o Japão alcançou um crescimento anual médio de 8%, possibilitando que o país se tornasse o primeiro a passar do status de “menos desenvolvido” para “desenvolvido” na era pós-guerra. As razões para isso ter acontecido incluem altas taxas tanto de poupança individual como de investimentos em iniciativas do setor privado, uma força de trabalho com grande ética laboral, o amplo fornecimento de petróleo a baixo custo, tecnologias de inovação, e uma intervenção governamental efetiva nas indústrias do setor privado. O Japão foi o principal beneficiário do rápido crescimento atrelado à economia do mundo pós-guerra segundo os princípios de livre comércio promovidos pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Acordo Geral de Tarifas e Comércio. Em 1968, a economia japonesa já havia se tornado a segunda maior do mundo, depois da economia dos Estados Unidos. Entre 1950 e 1970, a porcentagem de japoneses que viviam nas cidades passou de 38% para 72%, aumentando expressivamente a força de trabalho industrial. O potencial competitivo da indústria japonesa cresceu de forma robusta, com um aumento médio de 18,4% ao ano nas exportações durante os anos 60. Depois da segunda metade da década de 60, o Japão alcançou anualmente um superávit na balança de transações correntes, com exceção de alguns poucos anos depois da crise do petróleo de 1973. Nessa fase, o crescimento econômico teve o apoio de fortes investimentos em iniciativas do setor privado, os quais eram baseados na alta taxa de poupança individual. Ao mesmo tempo, ocorreram mudanças significativas na estrutura industrial do Japão, com uma mudança de foco nas principaisatividades econômicas, passando da agricultura e indústria de pequeno porte para a indústria de grande porte. As indústrias de ferro e aço, construção de navios, maquinário, veículos motorizados e dispositivos eletrônicos passaram a dominar o setor industria. UMA ECONOMIA MADURA O Plano Social e Econômico Básico do Primeiro-Ministro Tanaka Kakuei (fevereiro de 1973) projetou a continuidade das altas taxas de crescimento para o período 1973-1977. Contudo, em 1973, a política macroeconômica doméstica resultou em um rápido crescimento do abastecimento de capital, o que levou a uma ampla especulação por parte dos mercados imobiliários e de commodities domésticas. O Japão já sofria de uma inflação de dois dígitos quando, em outubro de 1973, a eclosão da guerra no Oriente Médio levou a uma crise do petróleo. Os custos da energia subiram acentuadamente e o iene, que não refletia sua real força, passou para o câmbio flutuante. A consequente recessão diminuiu as expectativas para o crescimento futuro, resultando na redução do investimento privado. O crescimento econômico diminuiu do nível de 10% para uma média de 3,6% no período de 1974-1979, e 4,4% durante a década de 1980 A Bolha Econômica Depois do Acordo de Plaza de 1985, o valor do iene subiu acentuadamente, alcançando 120 ienes para cada dólar norte-americano em 1988 – três vezes o valor de 1971 segundo o sistema de câmbio fixo. O consequente aumento do preço de produtos de exportação japoneses reduziu sua competitividade nos mercados internacionais, mas medidas financeiras do governo contribuíram para o crescimento da demanda interna. O investimento empresarial cresceu intensamente em 1988 e 1989. Com preços mais altos das ações, o valor das emissões de títulos de propriedade cresceram acentuadamente, marcando-os como uma importante fonte de financiamento para as empresas, enquanto os bancos buscavam uma saída para os fundos de desenvolvimento imobiliário. Por sua vez, as empresas usaram seus títulos imobiliários como garantia subsidiária para a especulação do mercado de ações, o que fez com que, durante esse período, o valor dos preços de terra dobrassem e o índice da bolsa de valores de Tóquio Nikkei aumentasse 180%. Em maio de 1989, o governo apertou suas políticas monetárias para suprimir o aumento no valor de bens como as propriedades de terra. Contudo, taxas de juros mais altas levaram os preços das ações a uma redução espiral. Ao final de 1990, a bolsa de valores de Tóquio tinha caído 38%, representando perdas equivalentes a 300 trilhões de ienes (US$2,07 trilhões), e os preços de terra caíram acentuadamente desde o ápice especulativo. Esse mergulho na recessão é conhecido como “rompimento” da “bolha econômica”.
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