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A primeira doença manifestou

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A primeira doença manifestou-se no outono de 1884 e estava completamente curada no final de 1885
“Depois da cura de minha primeira doença, vivi oito anos, no geral, bem felizes, ricos de honrarias exteriores e apenas passageiramente turvados pelas numerosas frustrações da esperança de ter filhos”.
Em junho de 1893 foi-lhe comunicada sua iminente nomeação para presidente da Corte de Apelação;
Além disso teve uma vez, no início da manhã, num estado entre o sono e a vigília, “a ideia de que deveria ser realmente bom ser uma mulher se submetendo ao coito” (p. 36), uma ideia que ele, em plena consciência, teria rejeitado com indignação.
O segundo adoecimento principiou no final de outubro de 1893, com uma tormentosa insônia que novamente o fez procurar a clínica de Flechsig, onde, no entanto, seu estado piorou rapidamente.
“Considera-se encarregado de 15/275 salvar o mundo e devolver a ele a perdida beatitude. Mas é algo que ele só pode realizar se [antes] se transformar de homem em mulher” (p. 475).
O interesse do psiquiatra por tais formações delirantes se esgota, normalmente, ao constatar a operação do delírio e sua influência na vida do paciente; seu espanto não marca o início de sua compreensão. Já o psicanalista, partindo de seu conhecimento das psiconeuroses, supõe que mesmo formações mentais tão extraordinárias, tão afastadas do pensamento humano habitual, tiveram origem nos mais universais e compreensíveis impulsos da vida psíquica, e gostaria de conhecer tanto os motivos como as vias dessa transformação. Com esse propósito, ele buscará se aprofundar na história do desenvolvimento e nas particularidades do delírio.
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Apenas devido a essa má compreensão dos homens vivos por parte de Deus pôde acontecer que o próprio Deus se tornasse o instigador da conspiração realizada contra Schreber, que Ele o visse como idiota e o sujeitasse às mais duras provas (p. 264). A fim de escapar a esse juízo condenatório, Schreber submeteu-se a uma penosa “compulsão de pensar”. “Cada vez que deixo de pensar, Deus considera imediatamente que se extinguiu minha capacidade intelectual, que já ocorreu a esperada destruição do meu entendimento (a ‘idiotia’) e que com isso já está aberta a possibilidade de uma retirada” 
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“Mas devo enfatizar novamente aqui, do modo mais categórico, que se trata apenas de um episódio que, espero, se encerrará no máximo com a minha morte, e que portanto só é dado a mim, e não aos outros homens, o direito de zombar de Deus. Para os outros homens, Deus permanece o criador todo-poderoso do céu e da Terra, a causa primeira de todas as coisas e a salvação do seu futuro, que merece adoração e a máxima veneração — ainda que algumas ideias religiosas tradicionais mereçam retificação” (p. 333).
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“Por outro lado, Deus exige um gozo contínuo, correspondente às condições de existência das almas, de acordo com a Ordem do Mundo; é meu dever proporcionar-lhe esse gozo, na forma de um abundante desenvolvimento de volúpia de alma, […] se, ao fazê-lo, tenho um pouco de prazer sensual, sinto-me justificado a recebê-lo, a título de um pequeno ressarcimento pelo excesso de sofrimentos e privações que há anos me é imposto; […]” (pp. 282-3). 
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