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PROCESSOS DE REVISÃO TEXTUAL AULA 4 Prof. Eugênio Vinci de Moraes 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, vamos conhecer como se faz a normalização de um texto. Faremos isso primeiro pelos elementos ortográficos. Para isso, a aula foi organizada de acordo com os seguintes tópicos: 1. Normalização, o que é, como se faz; 2. Ortografia e a normalização; 3. Caixa alta ou caixa baixa? 4. As reduções; 5. Abreviações e abreviaturas (Unidades de medida). TEMA 1 – NORMALIZAÇÃO, O QUE É, COMO SE FAZ A normalização talvez seja o trabalho mais exaustivo de um revisor, só comparado ao do copidesque. Imagine que é nessa etapa que se definem e se inserem todos os critérios ortográficos e bibliográficos da obra: pontuação, acentuação, maiúsculas, minúsculas, realces gráficos, abreviaturas, citações, notas de rodapé e de fim de capítulo ou livro, bibliografia etc. (Martins Filho, 2016, p. 15). Repare neste etc. que usamos na última frase. Queremos indicar que há mais coisas dependendo da obra. Por exemplo, tabelas, quadros, ilustrações etc. (de novo...). A normalização é o trabalho por meio do qual a obra é uniformizada segundo um padrão. Por meio dela, sabemos, por exemplo, que determinado texto não é do autor, mas sim de outra obra; ou que determinada expressão é título de uma obra (livro, revista ou dissertação, por exemplo) e não uma expressão criada pelo autor. O vento levou é diferente de O vento levou, não é mesmo? São itens, portanto, que informam o leitor sobre vários aspectos da obra. A normalização (ou padronização) é realizada pelo preparador de texto ou revisor de originais. Pode ser empírica ou teórica (Martins Filho, 2016, p. 15). A empírica é a mais comum, realizada por editores em geral, que adotam padrões mais adequados à obra que estão publicando. Ou seja, é mais flexível. Já a teórica é mais rígida, pois se aplica a documentos, entre eles os acadêmicos, os TCCs, dissertações de mestrado e teses, além de textos oficiais. 3 A normalização empírica é guiada pelos manuais de estilo escolhidos pelas editoras ou jornais. Algumas empresas produzem esses manuais. Outras, não. Quando isso ocorre, guiam-se por várias obras. Entre essas obras há os guias criados pela Academia Brasileira de Letras (ABL): o Formulário Ortográfico Brasileiro e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP). Existem as normas da ABNT para a publicação de livros, que são seguidas por algumas editoras. Mas a tradição editorial brasileira, em geral, se fundamentou, para realizar a normalização empírica, no Elementos de bibliologia, de Antonio Houaiss, de 1967, n’A construção do livro, de Emanoel Araújo, de 1984, e no The Chicago Manual of Style (Manual de estilo de Chicago), de 1906, reeditado até hoje, estando na décima sétima edição (2017). A normalização teórica no Brasil segue a ABNT ou a APA (American Psychological Association – Associação Americana de Psicologia) ou o Sistema Vancouver. Todas elas indicam regras para textos acadêmicos. Textos oficiais, por exemplo, seguem manuais como O Manual de redação da Presidência da República (Brasil, 2018), acessível on-line. A mais conhecida entre nós, a ABNT, foi criada da década de 1940 e é ligada à International Organization for Standardization (ISO). Ela é responsável por normalizar inúmeros objetos de mais de 200 grandes áreas, Mineração, Fundição, Biodiesel, Bebidas e pela nossa área, a de documentação, gerida pelo Comitê Brasileiro de Informação e Documentação (ABNT/CB-14). É esse comitê que publica as normas técnicas da área, conhecidas pela sigla NBR, que significa norma técnica brasileira. A princípio, as normas técnicas não são obrigatórias, pois a ABNT é uma instituição privada, ainda que de utilidade pública. Tanto é que o acesso às normas não é gratuito, mas cobrado. Mas podem tornar-se obrigatórias quando as instituições exigem o cumprimento delas na confecção de seus documentos, como é o caso dos textos acadêmicos. Portanto, é por meio da consulta desses guias que o preparador de texto ou revisor faz o seu trabalho Saiba mais Apa e Vancouver são guias criados por editores canadenses e estadunidenses no século XX para orientar a redação de artigos acadêmicos na área da psicologia, antropologia e medicina. Com o tempo, ampliaram seu 4 alcance e passaram também a normalizar dissertações e teses. Você já deve ter se deparado com padronizações desse tipo para referências bibliográficas de revistas, por exemplo: Sistema APA: Cardoso, O. B. O problema da repetência na escola primária. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 13, n. 35, p. 74-88, 1949. Sistema Vancouver: GORACCI. C. et al. The adhesion between fiber posts and root canal walls: comparison between microtensile and push-out bond strength measurements. European Journal of Oral Sciences, v. 112, n. 4, p. 353-61, ago. 2004. Para conhecer esses dois sistemas, acesse os links a seguir: 1. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. SISTEMA INTEGRADO DE BIBLIOTECAS – SIBi/USP. Diretrizes para apresentação de dissertações e teses da USP: documento eletrônico e impresso. Parte 2 (APA). São Paulo: USP, 2009. Disponível Em: . Acesso em: 2 mar. 2020. 2. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. SISTEMA INTEGRADO DE BIBLIOTECAS – SIBi/USP. Diretrizes para apresentação de dissertações e teses da USP: documento eletrônico e impresso. Parte IV (Vancouver), São Paulo: USP, 2009. Disponível em: . Acesso em: 2 mar. 2020. TEMA 2 – ORTOGRAFIA E NORMALIZAÇÃO Quando falamos de ortografia, estamos falando de um campo marcado pela convenção. Ou seja, por um acordo. Não é à toa que a recente reforma ortográfica leva a palavra acordo em seu nome – Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1990. Isso significa que estamos em um registro artificial, ao contrário da fala, que é natural. A ortografia, segundo Bechara (2010, p. 592), “é um sistema oficial convencional pelo qual se representa na escrita uma língua” E o que faz esse sistema convencional? Estabelece as regras que indicam a grafia correta das palavras, o uso de acentos e de outros sinais empregados na escrita, o uso de maiúsculas e minúsculas, de abreviaturas etc. 5 Todos esses elementos fazem parte do trabalho de normalização do texto. Vamos ver como isso ocorre em relação à grafia das palavras, depois com uso das caixas alta e baixa e das abreviações e abreviaturas. 2.1 Grafia A ideia de que a escrita representa a fala é discutível. Não iremos abordar essa questão aqui, apenas a colocamos em pauta para mostrar que não há correspondência estrita entre os fonemas da língua e as letras que usamos na escrita. Luft (2013, p. 7-8) mostra que há 5 letras para 7 vogais fonológicas e 21 letras para 19 consoantes fonológicas. Sem contar as variantes fonéticas, como a nasalização, por exemplo, a qual pode ser representada por um sinal (~), pela posposição das letras m, n e pelo dígrafo nh (sambista, santuário, picanha) (Luft, 2013, p. 7). Isso quer dizer que nem sempre é possível guiar-se pela fala para escrever corretamente. Os casos mais instáveis são os que ocorrem com as palavras que usam o som de /s/. Isso acontece porque ele pode ser representado por c, s, ss, ç, x, xc, sc, etc. Há palavras, como ascensão, por exemplo, que frequentemente aparecem grafadas errada em publicações importantes. Na maioria das vezes, é escrita assim: *ascenção. Nesse caso, existe a dúvida sobre que letra usar para representar o som de /s/. Além disso, faz-se analogia com palavras como ressurreição, refeição, o que leva o usuário da língua a errar a grafia. Há também o caso da letra s representar o som de /z/, caso que gera errotambém. Quem nunca leu paralisação escrita com z, assim: *paralização? A convenção (baseada no uso) no português acabou estabelecendo que entre vogais o som de /z/ deve ser representado por s. Nem sempre o usuário está atento a isso. Mas o revisor deve estar. Essa é a função dele. Ingrata, quando deixa escapar uma grafia errada dessas. 2.1.1 Correção e uniformização Para a revisão, a questão da grafia é ligada mais ao processo de correção – quando deve observar as diferenças contextuais entre palavras como 6 espectador/expectador (essa bem rara, diga-se), sessão/seção, iminente/eminente, como vimos na seção (não *sessão!) anterior. Em relação à uniformização, o problema maior está na grafia de nomes de cidades estrangeiras e termos estrangeiros como Nova York/Nova Iorque, Tóquio/Tókio, Amsterdam/Amsterdã/Amsterdão; on-line/online, freelance/freelancer. No caso da grafia de Nova York, vai depender do lugar onde você esteja revisando. A forma híbrida (Nova – português; York – inglês) que usamos aqui é a mais usada, mas há editoras e publicações que preferem a forma aportuguesada (Nova Iorque). O caso de on-line é mais flutuante ainda, pois o Volp dá a grafia com hífen (on-line) e a ABNT prefere sem (online). Nesse caso, há um agravante, pois todo dia há alguma palavra estrangeira nova sendo absorvida pelo português. Para isso, portanto, é fundamental a consulta constante aos manuais e guias adotados pelos publicadores. Vários deles têm listas, o que facilita a vida do preparador e do revisor. Os manuais de jornais sempre têm, como o Manual de redação e estilo do Estado de S. Paulo. Eles são úteis também para saber quando usamos maiúsculas e minúsculas, como nas palavras igreja/Igreja, estado/Estado, ou para palavras que indicam logradouros como rua/Rua e praça/Praça, por exemplo. Vejamos isso agora, no próximo tema de nossa aula. Saiba mais: Acesse a página do site Sua Língua, do professor Cláudio Moreno (ex- aluno do Celso Luft) e saboreie as lições que ele dá a respeito da forma como devemos grafar e acentuar as palavras. SUA LÍNGUA. Como se escreve. Sua Língua, S.d. Disponível em: . Acesso em: 2 mar. 2020. TEMA 3 – CAIXA ALTA ou caixa baixa? Quantas vezes você não ficou na dúvida ao escrever a palavra igreja ou estado? Caixa alta (maiúscula) ou caixa baixa (minúscula)? Dúvida consistente, pois podem ser escritas das duas formas. Nesse caso, quem vai ditar é o contexto. Se o sentido estiver ligado à Igreja como instituição, abstrata e universal, escreve-se em caixa alta; se quer significar uma edificação ou lugar de encontro de cristãos ou católicos, grafa-se com minúsculas. Por exemplo: 7 A Igreja acabou de canonizar a irmã Dulce, freira brasileira. A Igreja Luterana comemorou os 500 anos do nascimento de Lutero em 2019. Os jovens vão à igreja todas as quartas-feiras. As igrejas de Ouro Preto estão em péssimo estado de conservação. Com Estado ou estado a diferença está entre a designação do corpo das instituições que governa um país: O Estado brasileiro não está conseguindo diminuir as desigualdades sociais. E o nome que designa a divisão territorial da nação: O estado do Piauí é um dos mais belos e simpáticos do país. Há outros casos de variações de uso de caixa alta e baixa gerados por outros motivos, como ocorre com nomes de etnias (Xavantes/xavantes) e logradouros (Rua/rua), que acontecem em razão da situação comunicativa e não pelo contexto textual. Textos de antropologia grafam nomes de etnia com maiúscula, os jornais usam minúsculas; textos oficiais escrevem Rua com maiúscula; jornais e revistas em geral, com minúsculas. Nesses casos, não é o sentido que dirige a variação, mas o lugar onde se publica, pois o sentido da palavra permanece o mesmo. Mas isso é necessário? Por que essa variação existe? Vejamos isso mais de perto. 3.1 Destacar ou não, eis a questão As maiúsculas servem para chamar a atenção. Seja como orientação – avisando que começa um parágrafo ou uma nova sentença –, seja como forma de destacar a presença da palavra no texto. Fora isso, usamos tudo em caixa baixa, NÃO É MESMO? Reparou como as maiúsculas gritam visualmente? Por isso, os editores as usam pouco, para não atrapalhar a leitura; os jornalistas as preferem nos lugares de destaque – chamadas, manchetes – e os jovens para chamar a atenção para algum aspecto do texto quando escrevem nas redes sociais. No começo da era digital, usava-se mais, hoje menos; seguindo essa lógica editorial. Afinal, quando se destaca demais, o destaque acaba normalizando e deixando de aparecer, NÃO É MESMO? 8 Assim, a caixa alta vai ser empregada para destacar o que precisa ser destacado. Não que não haja controvérsia em relação a isso, mas a ideia geral é essa. Para começar, destacamos os nomes de seres singulares, como João, Adriana, Aurora, Curitiba, Londres, Globo, Companhia das Letras, Universidade Federal do Paraná etc. Entram nessa onda também os seres particulares ficcionais, como Júpiter, Iemanjá, Nárnia ou Terra Média. Em maiúsculas também temos os nomes de festas, como Natal e Carnaval; e os nomes de regiões, como Nordeste e Ásia Menor. E incluem-se nessa lista os nomes de períodos ou eventos históricos como Antiguidade, Idade Média, Revolução Industrial, Revolta da Chibata. Daí para frente, vêm os casos facultativos, ou seja, aqueles que variam de acordo com o lugar em que se está publicando. Já mencionamos os nomes de logradouros (rua/Rua; praça/Praça; largo/Largo), que você encontrará escritos assim: largo da Batata ou Largo da Batata; avenida Getúlio Vargas ou Avenida Getúlio Vargas. Alguns espaços consagrados acabam grafados só em caixa alta, como Praça Onze (Rio de Janeiro) e Praça Castro Alves (Salvador). Encontramos outros casos de variações em nomes de edifícios e templos. Veja: edifício Garcez ou Edifício Garcez; Igreja Nossa Senhora da Candelária ou igreja Nossa Senhora da Candelária. Algumas edificações também cristalizaram a forma com maiúsculas, como o Palácio da Alvorada, por exemplo. Para terminar, mais dois casos bastante recorrentes: 1. Palavras que nomeiam funções hierárquicas, religiosas ou reverenciais, como Senhora/senhora; Papa/papa; Doutor/doutor; 2. Títulos de obras, assim: Enterrem meu coração na curva do rio ou Enterrem meu Coração na Curva do Rio (neste caso, não ficam em maiúsculas os artigos, preposições e pronomes possessivos). O uso de caixa alta e baixa segue essas orientações, mas sofre alterações de acordo com o projeto gráfico da editora ou do jornal. Textos literários também não seguem rigidamente essas regras, pois podem empregar de forma estilística minúsculas e maiúsculas. Nos textos acadêmicos, a variação é mínima. Só tenha cuidado porque há diferenças entre o sistema da ABNT e os da APA e Vancouver no que se refere às referências, como veremos mais adiante. Agora vamos tratar das reduções, ou seja, das abreviações e abreviaturas. 9 Saiba mais Para conhecer mais detalhadamente os usos de caixa alta e baixa, leia a seção “Maiúsculas e minúsculas”, do livro Processos de revisão textual, disponível na Biblioteca Virtual: MORAES, E. V. de. Processos de revisão textual. Curitiba: InterSaberes, 2020. TEMA 4 – AS REDUÇÕES Leia o diálogo abaixo: – Blz? – Blz! – SDS! – Tbm – Me add no Face – Blz. – Bjs – Bjs. Entendeu alguma coisa? Claro que sim! Todas essas abreviações (ou abreviaturas?) são bem conhecidas. Nós as usamos diariamente nas redes sociais ou no WhatsApp. Há centenas delas. Foram muito criticadas e há ainda quem as critique porque sinalizam o mau uso do idioma. Bobagem. Abreviações são usadas desde que a escrita é escrita. Em geral, pelo mesmo motivo: ganhar tempo. Há abreviações bem antigas, como estas: Ilmo., V.Sa.; V. Exa.; amo.Eram muito usadas em cartas ou textos oficiais. Pela ordem significam: Ilustríssimo, Vossa Senhora, Vossa Excelência e amigo. Além de ganhar tempo, ajudam a liberar espaço e evitar a repetição exaustiva de algum termo. A bibliologia chama essas formas de reduções, que incluem abreviações, abreviaturas, siglas e símbolos. Todas são uma forma parcial de representar palavras ou uma sequência delas com um punhado de letras, assim: gram. – gramática; INSS – Instituto Nacional do Seguro Social, op. cit – obra citada etc. Vamos ver um caso em que a abreviação é necessária para a composição da obra. Peguemos um verbete do Grande Dicionário Houaiss, na versão 10 eletrônica (Figura 1). Repare que abaixo do verbete abreviatura há a designação de sua classe de palavras (substantivo feminino) e três abas com três abreviações: princ., loc., etim. Elas são necessárias para orientar o leitor sobre os três tipos de informações que há no verbete. A informação principal (princ.), na qual listam-se os significados da palavra, classe gramatical e exemplos de uso (as abonações); a informação sobre as locuções (loc.) que empregam esta palavra; e a etimologia (etim.), em que se conhece a palavra da qual abreviatura derivou. No miolo do verbete ainda encontramos a abreviação Gram., que indica a que área (gramática) o significado pertence. É a famosa rubrica. Figura 1 – Parte de verbete Fonte: Dicionário Houaiss, S.d. E qual o critério para reduzir as palavras e transformá-las em abreviações? Em primeiro lugar, não se abreviam palavras com menos de 5 letras (por isso maio é o único mês que não se abrevia, embora a Folha de S. Paulo abrevie assim: mai.). Mas quando for abreviar, basicamente insere-se um ponto depois da última letra abreviada. A questão é saber qual é a última letra... – Isso não vale para as redes sociais, que reduzem as palavras sem pontuar. Martins Filho (2016, p. 290) explica que se deve colocar o ponto “depois da primeira consoante ou após a última consoante do primeiro encontro consonantal”. Por exemplo: Bot. – botânica (primeira consoante) Cicl. – ciclismo (última consoante do primeiro encontro consonantal - cl) A ABNT cancelou a NBR 6032:1989, que tratava das abreviações. De qualquer modo alguma de suas indicações permaneceram (Martins Filho, 2016, p. 290), como abreviações terminadas em vogal ou na segunda consoante do encontro consonantal: Ago. – agosto 11 Téc. – técnico Há também as reduções que não seguem estas regras, pois se formaram por meio do uso e da tradição, como fls. (folhas), Dra. (doutora) entre outras. A melhor solução, então, é consultar as listas de abreviações, como a que O Volp disponibiliza na página da Academia Brasileira de Letras. Do ponto de vista da revisão, as abreviações são muito usadas em livros técnicos – sobretudo dicionários e afins – e acadêmicos. Nestes, costumam aparecer nas listas de abreviações nos pré-textos, nas citações, notas e referências bibliográficas. Vamos ver agora, no próximo tema, como se classificam e se organizam essas palavrinhas. Saiba mais Para saber mais, leia as seções Reduções e Abreviações e abreviaturas, do livro Processos de revisão textual, disponível na Biblioteca virtual: MORAES, E. V. de. Processos de revisão textual. Curitiba: InterSaberes, 2020. TEMA 5 – ABREVIAÇÕES E ABREVIATURAS Comer um salgado e tomar um suco em vez de preparar um almoço, fazer um curso à distância em vez de presencial, pegar um táxi ou um carro de aplicativo em vez de um ônibus, colocar uma conta no débito automático para não ir ao banco ou a uma casa lotérica, inserir um etc. para terminar uma listagem grande de itens são ações diferentes com um mesmo objetivo: ganhar tempo. No campo da escrita, uma forma antiquíssima de ganhar tempo (e espaço) é a ação de abreviar. Do ponto de vista gramatical, a abreviação obedece a uma necessidade circunstancial. Ou seja, se determinado texto vai repetir demasiadamente uma palavra, ou se há uma expressão secundária e muito recorrente que ocupa muito espaço, em geral não se vacila: abrevia-se. Por exemplo, uma expressão como antes de Cristo, que é usada para marcar os períodos que antecederam o nascimento de Cristo foi abreviada para a.C, de modo a economizar tempo e espaço; assim como se fez com os pronomes de tratamento: V.Sa., Ilmo. como vimos no tema anterior (mesma coisa fazemos hoje quando abreviamos a palavra você na internet usando vc). Se essas 12 abreviações se repetem e os leitores passam a reconhecê-las sem titubear, as chamamos de abreviaturas. Portanto, a diferença entre abreviação e abreviatura é esta: abreviação é a redução de palavras em geral; abreviatura é a forma que se consolida e torna- se reconhecida por toda a comunidade linguística, como etc., a.C., op. cit., A/C, op. cit., prof., dr., e por aí vai. Observe esta lista do dicionário Michaelis: Figura 2 – Lista de Abreviaturas Fonte: Michaelis, S.d. Você reconhece algumas abreviações imediatamente – o que nos leva a reconhecê-las como abreviaturas – e outras, não. Para estas últimas, você precisa de uma transcrição do seu significado, como para acep. (acepção), não é verdade? Já para a.C., não, certo? Talvez você tenha reconhecido adj. (adjetivo) também, sobretudo se você é um consulente contumaz de dicionários (aproveite para consultar um caso você não saiba os significados de consulente e contumaz). Mas a lista é justamente para isso, para ajudar o leitor a navegar o dicionário, que usa muitas abreviações e abreviaturas por causa da imensa quantidade de informações que ele contém em suas páginas. A lista de abreviações ou abreviaturas é um paratexto bastante usado em textos acadêmicos e livros técnicos, como os dicionários. 13 Martins Filho (2016, p. 289) apresenta uma classificação de abreviaturas que você pode consultar no livro-base desta disciplina (Processos de Revisão Textual). Ele as divide em três tipos: • Latinas: idem, apud. etc. • Formas de tratamento: Exmo. (excelentíssimo), dra. (doutora). • Áreas especializadas: adag. (adágio), N. do T. (nota do tradutor). Uma abreviação bastante usada, que gera muitas abreviaturas, são as siglas. Vamos vê-las mais de perto na próxima seção: 5.1 As siglas Das abreviaturas, talvez as mais frequentes nos textos de revisão sejam as siglas. De tão usadas, muitas acabam virando palavras. Veja isto: “Um dos intermediários da propina seria o lobista Jorge Luz, que é delator e confessou ser operador de propinas de emedebistas” (Witzel..., 2020) A palavra emedebistas, que aparece no final da citação acima, é um substantivo derivado de MDB (Movimento Democrático Brasileiro), sigla de um conhecido partido político brasileiro. Tão substantivo que tem flexão de número (emedebista/emedebistas). Você conhece outras palavras formadas assim. Lembrou? Eis algumas: peessedebista, petista, celetista (CLT) e radar (radio detecting and ranging). As siglas são abreviações, não de uma palavra, mas de um conjunto delas: PT (Partido dos Trabalhadores), CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) etc. Você reparou que elas se formam pelas iniciais de cada palavra que forma a expressão? Ou então, pela inclusão de letras intermediárias, como em BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento) ou Interpol (International Police), sigla de expressão inglesa já incorporada por nós. Há algumas diferenças no modo de grafá-las: ou as escrevemos todas em caixa alta (BNDES) ou em caixa alta e caixa baixa (Enem). O critério é simples. Escrevem-se todas letras em maiúsculas quando são soletradas: BNDES (Bê- ene-dê-esse), CLT (cê-ele-tê), INSS (i-ene-esse-esse) etc.; e escrevem-se em caixa alta e baixa aquelas que se pronunciam como palavras: Enem, Enade,14 Petrobras, Sesi, Unesp, Fipe (mas escrevem-se USP, COI, por serem siglas com até três letras). Quando escritas em CA/cb algumas editoras preferem usar o versal-versalete, assim: UNESP, ENADE, o que acaba deixando todas em maiúsculas, sqn, ou seja, o versalete faz as vezes da caixa baixa. Um aspecto simples, mas muitas vezes esquecido, é a transcrição completa da sigla na primeira vez que ela aparece no texto. Em geral, escreve- se a palavra por extenso e entre parênteses ou travessão e coloca-se a sigla, assim: Universidade do Estado de São Paulo (Unesp). Mas o contrário não é proibido, ou seja, escrever a sigla antes e inserir sua transcrição nos parênteses. De um jeito ou de outro, o que importa é não esquecer da transcrição, o que libera o uso da sigla no restante do texto. 5.1.1 Siglas e o gênero Muitas vezes ficamos em dúvida que gênero usar antes das siglas. O que se faz é empregar o gênero da primeira palavra, assim: a CLT (a Consolidação das Leis Trabalhistas), o BNDES (o Banco Nacional de Desenvolvimento). Observe que pode haver variações, como no caso de PM (a Polícia Militar ou o Policial Militar): A PM e o PM, por exemplo. 5.1.2 Siglas e número Outra dúvida que assombra o revisor é quanto ao plural. Talvez a dúvida recaia no uso ou não de um sinal marcando o plural, o apóstrofo: PMs ou PM’s? Na verdade, esta segunda forma não existe. O apóstrofo serve para marcar uma supressão em português, assim: olho d’água, copo d’água, em que a vogal e da preposição de é suprimida. Logo, usamos PMs, PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) para marcar o plural de siglas, sem apóstrofo algum. Saiba mais Para conhecer os critérios para o uso de medidas, leia a seção 4.5 “Unidades de medida”, do livro-base desta disciplina, Processos de Revisão Textual: MORAES, E. V. de. Processos de revisão textual. Curitiba: InterSaberes, 2020. 15 NA PRÁTICA Vamos fazer um levantamento de como se escrevem algumas palavras e siglas que costumam ser escritas de formas diferentes? Sugerimos as palavras ou expressões: Nova York/Nova Iorque; Amsterdan/Amsterdã; on-line/online; muçarela/muçarela/mozarela; ENEM/Enem; ENADE/Enade. Se você quiser, pode escolher outras. Os nomes comuns (on-line/online, mulçarela/muçarela/mozarela), procure-os em dicionários, manuais de redação e no Google; os nomes próprios e siglas, nos manuais de redação e/ou ABNT, jornais e Google. Depois faça uma tabela com o que encontrou e compare os resultados com as regras que encontrou nesta disciplina. Bateram? Há muitas divergências? FINALIZANDO Nesta aula, começamos a ver de perto como se faz a normalização ortográfica, processo exaustivo que acontece durante a normalização, um trabalho que busca uniformizar o texto sob seus aspectos ortográficos. Há duas formas de fazer isso: a normalização empírica e a teórica. A primeira é mais flexível, usa diferentes modelos de padronização, e é mais empregada pelas editoras comerciais, jornais, sites etc. A teórica é regida por manuais técnicos, como a ABNT, APA, Vancouver, Manual de redação da Presidência da República; é mais rígida e pretende-se ser universal para documentos oficiais e acadêmicos. Isso significa padronizar a grafia das palavras, como as estrangeiras recém-chegadas ao português ou mesmo as antigas, que sofrem variações decorrentes das mudanças de critérios ortográficos. Isso implica grafar de forma uniforme as maiúsculas e minúsculas de um texto, o que inclui as siglas, pois estas sofrem essa variação também. As siglas são abreviações que muitas vezes se consolidam como abreviaturas e até se transformam-se em palavras, como celetista, emedebista etc. Em suma, esses elementos são fundamentais para a execução de uma boa revisão. Além disso, são elementos que vão ser muito usados nas chamadas e referências bibliográficas, campos em que as abreviações são necessárias, para que se ganhe espaço e tempo. 16 REFERÊNCIAS ACADEMIA Brasileira de Letras (ABL). Formulário Ortográfico Brasileiro e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. In: _____. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. (VOLP). 5. ed. Rio de Janeiro: Global, 2009. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Manual de redação da Presidência da República. Coordenação de Gilmar Ferreira Mendes, Nestor José Forster Júnior et al. 3. ed., rev., atual. e ampl. Brasília: Presidência da República, 2018. BECHARA, E. Gramática escolar da língua portuguesa. 2. ed. ampl atual. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010. DICIONÁRIO HOUAISS. Disponível em: . Acesso em: 2 mar. 2020. LUFT, C. Novo guia ortográfico. Supervisão Lya Luft .3. ed. São Paulo: Globo, 2013. MARTINS FILHO, P. M. (Org.). Livros, editoras e projetos. São Paulo: Ateliê/Com-Arte; São Bernardo do Campo: Bartira, 1997. MICHAELIS. Abreviaturas. Michaelis, S.d. Disponível em: . Acesso em; 2 mar. 2020. MORAES, E. V. de. Processos de revisão textual. Curitiba: InterSaberes, 2020. WITZEL e ex-deputados do RJ são citados em delação de empresário da propina na Paraíba. Folha Vitória, 10 jan. 2020. Disponível em: . Acesso em; 2 mar. 2020.