Buscar

artigo03 (1)

Prévia do material em texto

e s c o l a s u p e r i o r d e 
e n f e r m a g e m 
d e c o i m b r a 
 
 
 
MESTRADO EM ENFERMAGEM MÉDICO-CIRÚRGICA 
 
 
 
 
Impacto de um programa de formação na gestão 
emocional dos enfermeiros perante a morte 
 
 
 
 
Nelson Jacinto Pais 
 
 
 
 
 
 
Coimbra, janeiro de 2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
e s c o l a s u p e r i o r d e 
e n f e r m a g e m 
d e c o i m b r a 
 
 
 
MESTRADO EM ENFERMAGEM MÉDICO-CIRÚRGICA 
 
 
 
 
Impacto de um programa de formação na gestão 
emocional dos enfermeiros perante a morte 
 
 
 
Nelson Jacinto Pais 
 
Orientadora: Doutora Isabel Maria Pinheiro Borges Moreira, Professora 
Coordenadora da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra 
 
Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem de Coimbra para 
obtenção do grau de Mestre em Enfermagem Médico-Cirúrgica 
 
Coimbra, janeiro de 2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PENSAMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“You matter because you are you, and you matter to the last moment of your life. 
We will do all we can, not only to help you die, but also to live untill you die”. 
Cicely Saunders 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A todos os enfermeiros que diariamente são confrontados com a morte dos seus 
doentes e desafiados com a sua autogestão emocional perante a morte. 
 
To all the nurses who are daily confronted with the death of their patients and 
challenged with their emotional self-management towards death. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
À Professora Doutora Isabel Maria Pinheiro Borges Moreira pela orientação, pelos 
incentivos, pelas revisões, pela amizade. 
Ao Professor Doutor Armando Manuel Marques Silva pela ajuda e disponibilidade. 
Às enfermeiras que participaram no estudo, pela sua disponibilidade em fazer parte 
deste projeto. À enfermeira formadora pela sua dedicação, apoio e disponibilidade. 
Aos responsáveis pelo gabinete de formação da Instituição onde decorreu o estudo. 
À minha família e amigos pela compreensão e apoio durante este percurso. 
E à Cristina pelos incentivos, apoio e companheirismo. 
 
Muito obrigado! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
As contingências atuais em torno da morte desafiam diariamente os enfermeiros a 
adquirirem estratégias eficazes de gestão emocional. Uma ineficaz gestão emocional 
interfere na qualidade dos cuidados de enfermagem à pessoa e família em situação de 
fim de vida ou morte. 
Perante esta constatação, realizou-se um estudo quase-experimental, numa Instituição 
de Saúde da região centro, que teve como objetivos elaborar um programa de 
formação para treino das competências/habilidades emocionais dos enfermeiros 
perante a morte, avaliar o impacto desse programa de formação, identificar as atitudes 
e identificar o coping dos enfermeiros perante a morte. A amostra foi constituída por 
vinte enfermeiros dos serviços de internamento que participaram no programa de 
formação sobre gestão emocional perante a morte que decorreu em quatro sessões 
com uma hora e meia cada. O questionário foi o instrumento utilizado para a recolha 
de dados e integrava as escalas EAPAM, ECM e EAIP. Este foi aplicado em 3 
momentos predefinidos. Os dados foram analisados em programa estatístico (SPSS). 
Os resultados sugeriram que os enfermeiros com formação em cuidados paliativos 
referem sentir menos dificuldades em gerir as suas emoções perante a morte, sendo 
os enfermeiros mais novos, os que apresentaram maior dificuldade nessa gestão. O 
programa de formação produziu alterações nas dimensões das atitudes: medo e 
neutralidade e verificaram-se diferenças significativas no coping com a própria morte e 
com a morte dos outros, revelando uma capacitação dos enfermeiros nesta área. O 
programa de formação foi classificado como muito bom pelos participantes. 
A estruturação de programas de formação, baseados em estratégias de gestão 
emocional parecem ser importantes para o empoderamento dos enfermeiros na 
autogestão emocional perante a morte. 
 
PALAVRAS CHAVE: Enfermeiro; Gestão Emocional; Atitudes; Coping com a morte; 
Formação; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
Today's contingencies around death daily challenge nurses to acquire effective 
emotional management strategies. Ineffective emotional management interferes in the 
quality of nursing care for the person and family in end-of-life situations. 
In this context, a quasi-experimental study was carried out at a health institution in the 
central region, whose objectives were elaborate a training program to develop 
emotional skills/abilities on nurses toward death, to analyze the impact of that training 
program, identify attitudes and to examine coping of nurses toward death. The sample 
consisted of twenty nurses from the inpatient services who participated in the training 
program on emotional management before death that took place in four sessions with 
an hour and a half each. The questionnaire was the instrument used to collect data and 
integrated the EAPAM, ECM and EAIP scales. This was applied in 3 preset moments. 
The data were analyzed in statistical program (SPSS). 
The results suggested that nurses with training in palliative care reported less difficulty 
in managing their emotions toward death, and the younger nurses were the ones who 
presented the greatest difficulty in this management. The training program produced 
changes in the dimensions of attitudes: fear and neutrality and there were significant 
differences in coping with one's own and with others, revealing a more capacitation of 
nurses in this area. The training program was rated as very good by the participants. 
The structuring of training programs based on emotional management strategies 
seems to be important for the empowerment of nurses in emotional self-management 
in the face of death. 
 
KEYWORDS: Nurse; Emotional Management; Attitudes; Coping with death; Formation; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
% - Percentagem 
�̅� - Média 
ANA - American Nurses Association 
CIT - Contracto Individual de Trabalho 
CTFP - Contracto de Trabalho em Funções Públicas 
DAP-R - Death Attitude Profile-Revised 
EAIP - Escala de Avaliação da Implementação de Programas 
EAPAM - Escala de Atitudes Perante A Morte 
ECM - Escala de Coping com a Morte 
Enfª - Enfermeira 
Enfºs - Enfermeiros 
ESEnFC - Escola Superior de Enfermagem de Coimbra 
H - Hipótese 
ICN - International Council of Nurses 
INE - Instituto Nacional de Estatística 
Md - Mediana 
n - Tamanho da amostra 
s - Desvio padrão 
SPSS - Statistical Package for the Social Science 
Xmax - Valor máximo 
Xmin - Valor mínimo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
Figura 1 - Desenho do estudo .................................................................................... 50 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
Tabela 1 - Distribuição dos enfermeiros da amostra n (%). Inclui estatística resumo 
relativa à idade ........................................................................................................... 59 
Tabela 2 - Estatística, resumo, relativa à idade das enfermeiras segundo o 
departamento de origem e tipo de contrato................................................................. 60 
Tabela 3 - Estatística, resumo, relativa ao tempo de exercício profissional e aos anos 
de experiência no serviço atual ................................................................................... 61 
Tabela 4 - Frequência de enfermeiras com formação em cuidados paliativos por 
departamento, inclui estatística resumo de nº de óbitos/ano ....................................... 61 
Tabela 5 - Teste de Qui-Quadrado para análise de relação entre enfermeiras com 
formação em cuidadospaliativos e gestão positiva de emoções perante a morte ...... 62 
Tabela 6 - Respostas aos itens nos três momentos da EAPAM ................................. 63 
Tabela 7 - Estatística para avaliação da dimensão aproximação nos momentos de 
avaliação .................................................................................................................... 64 
Tabela 8 - Teste de Wilcoxon para a dimensão aproximação nos momentos de 
avaliação .................................................................................................................... 64 
Tabela 9 - Estatística para avaliação da dimensão medo nos momentos de avaliação
 ................................................................................................................................... 65 
Tabela 10 - Teste de Wilcoxon para a dimensão medo nos momentos de avaliação . 65 
Tabela 11 - Estatística para avaliação da dimensão evitamento nos momentos de 
avaliação .................................................................................................................... 65 
Tabela 12 - Teste de Wilcoxon para a dimensão evitamento nos momentos de 
avaliação .................................................................................................................... 65 
Tabela 13 - Estatística para avaliação da dimensão escape nos momentos de 
avaliação .................................................................................................................... 66 
Tabela 14 - Teste de Wilcoxon para a dimensão escape nos momentos de avaliação
 ................................................................................................................................... 66 
Tabela 15 - Estatística para avaliação da dimensão neutralidade nos momentos de 
avaliação .................................................................................................................... 66 
 
 
Tabela 16 - Teste de Wilcoxon para a dimensão neutralidade nos momentos de 
avaliação .................................................................................................................... 67 
Tabela 17 - Respostas aos itens nos três momentos da ECM .................................... 67 
Tabela 18 - Estatística para avaliação do fator coping com a morte dos outros nos 
momentos de avaliação .............................................................................................. 69 
Tabela 19 - Teste de Wilcoxon para o fator coping com a morte dos outros nos 
momentos de avaliação .............................................................................................. 69 
Tabela 20 - Estatística para avaliação do fator coping com a própria morte nos 
momentos de avaliação .............................................................................................. 69 
Tabela 21 - Teste de Wilcoxon para o fator coping com a própria morte nos momentos 
de avaliação ................................................................................................................ 69 
Tabela 22 - Resultados dos itens pela EAIP ............................................................... 70 
Tabela 23 - Avaliação do programa de formação ....................................................... 71 
Tabela 24 - Análise por dimensões da EAIP ............................................................... 71 
Tabela 25 - Análise da dimensão desenvolvimento .................................................... 72 
Tabela 26 - Estímulo futuro para aprofundar as competências desenvolvidas ............ 72 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 23 
 
PARTE 1: ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCETUAL 
1- O ENFERMEIRO E A MORTE ............................................................................... 29 
1.1- MORTE: A FINITUDE DA VIDA ........................................................................... 29 
1.2- ATITUDES PERANTE A MORTE ........................................................................ 31 
1.3- OS ENFERMEIROS PERANTE A MORTE ......................................................... 33 
2- GESTÃO EMOCIONAL DOS ENFERMEIROS PERANTE A MORTE ................... 37 
2.1- AS EMOÇÕES E O COPING .............................................................................. 37 
2.2- INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: SOFT SKILL PERANTE A MORTE ..................... 39 
2.3- GESTÃO EMOCIONAL, COPING E GRIEVING .................................................. 41 
 
PARTE 2: INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA 
1- METODOLOGIA . …………………………………………………………………………47 
1.1- FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ........................................................................ 47 
1.2- OBJETIVOS E TIPO DE ESTUDO ...................................................................... 47 
1.3- DESENHO DO ESTUDO ..................................................................................... 48 
1.4- HIPÓTESES ........................................................................................................ 51 
1.5- VARIÁVEIS.......................................................................................................... 51 
1.6- POPULAÇÃO E AMOSTRA ................................................................................ 51 
1.7- INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS ....................................................... 52 
1.8- PROCEDIMENTOS FORMAIS E ÉTICOS .......................................................... 55 
1.9- PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS .................................................... 56 
2- APRESENTAÇÂO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DO ESTUDO DESCRITIVO E 
DO ESTUDO INFERENCIAL...................................................................................... 59 
3- DISCUSSÃO DOS RESULTADOS …………………………………..…………………73 
 
CONCLUSÃO ............................................................................................................ 79 
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 83 
 
 
 
 
ANEXOS 
ANEXO I - Autorização para aplicação da escala de avaliação do perfil de atitudes 
acerca da morte 
ANEXO II - Autorização para aplicação da escala de coping com a morte 
ANEXO III - Autorização para aplicação da escala de avaliação de implementação de 
programas 
ANEXO IV - Parecer da comissão de ética 
APÊNDICES 
APÊNDICE I - Programa de formação 
APÊNDICE II - Instrumentos de colheita de dados 
APÊNDICE III - Documento de consentimento informado 
 
 
23 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
A morte é um acontecimento que suscita no ser humano uma mescla de emoções e 
sentimentos desde fascínio a medo, trata-se de uma vivência singular que tem sofrido 
alterações ao longo do tempo. Esta varia de sociedade para sociedade, de cultura 
para cultura, de família para família e de indivíduo para indivíduo, sendo sempre um 
evento que perturba a vida do Homem, na medida em que representa o desconhecido 
e a sua finitude. Na cultura ocidental, o Homem prefere ignorá-la, uma vez que não 
está preparado, nem foi educado para morrer (Tojal, 2011; Silva, Pereira & Mussi, 
2015; Vicensi, 2016). 
A sociedade atual vive uma cultura de negação e rejeição da morte. Esta deixou de 
ser encarada como um processo natural, inerente à condição da vida e foi afastada 
progressivamente do quotidiano familiar e social. A evolução sociocultural do último 
século e o aumento da esperança média de vida tem conduzido a uma mudança do 
local de fim da vida, atualmente morre-se mais em hospitais e instituições de saúde. 
Esta realidade tende a aumentar nos próximos anos, segundo projeções do projeto 
dínamo, a morte torna-se mais escondida da sociedade (Braun, Gordon & Uziely, 
2010; Neto, 2010; Morgado, 2012; Gomes, 2014; Dias, Backes, Silva, Vidal, Santos & 
Ilha, 2015; Sarmento, Higginson & Gomes, 2015). 
Esta mudança levaa que para os profissionais de saúde a morte e o morrer se torne 
parte da sua realidade cotidiana (Lima & Júnior, 2015), pois cuidam diariamente de 
pessoas próximas do fim da vida. A exposição diária à morte e ao processo de morrer, 
para além da sobrecarga de luto, pode constituir-se num desafio ao crescimento 
pessoal e profissional dos enfermeiros. A exigência de ter de lidar com a morte e o 
processo de morrer traduz-se fundamentalmente num trabalho de confronto de perdas, 
através de um processo que oscila entre o evitamento e a intrusão. Este 
acontecimento é considerado o mais desgastante no seu dia-a-dia profissional, 
interferindo não só com o seu equilíbrio, mas também com o funcionamento do 
hospital, que está mais preparado para curar do que para cuidar o doente incurável 
(Tojal, 2011; Gama, 2013). 
Os enfermeiros e restantes profissionais de saúde assumem a missão e a 
responsabilidade para que estão treinados que é adiar e lutar contra a morte (Moura, 
24 
 
2011), mas como processo inevitável esta ocorre e exige a estes profissionais que 
lidem com ela de forma eficaz. 
A sensação de fracasso profissional é induzida pela ilusão de “saúde e vida para 
sempre” e pela sobrecarga dos profissionais de saúde, que levam a processos de 
evitamento relacional e de isolamento social e profissional. Estas situações não 
permitem o aumento de competências nesta área e os profissionais de saúde 
necessitam de apoiar os doentes e famílias a serem mais competentes e eficazes, 
assim como eles próprios (Tojal, 2011; Udo, Danielson & Henock, 2013; Gama, 2013; 
Camarneiro & Gomes, 2015; Pimenta, 2015). 
Como referido a morte é vivenciada por uma variabilidade de sentimentos e emoções, 
tais como: impotência; angústia; revolta; perda; tristeza; raiva; desanimo; alívio; 
surpresa; alegria o que leva a que os profissionais que cuidam da pessoa em fim de 
vida sejam frequentemente expostos a questões existenciais, a desafios psicológicos e 
ao sofrimento emocional (Sansó, Galiana, Oliver, Pascual, Sinclair & Benito, 2015) 
gerando nos enfermeiros situações de elevado stress (Fão, 2013). 
Sabe-se que cada enfermeiro vivência a morte de forma diferente, e que nem todos 
lidam adequadamente com a morte, e que a forma como a percecionam interfere na 
qualidade dos cuidados de saúde que prestam (Morgado, 2012; Becker, Wright & 
Schmit, 2017). Os estudos apontam que os enfermeiros nem sempre apresentam 
emoções de aceitação da morte (Leung, Esplen, Peter, Howell, Rodin & Fitch, 2011; 
Souza e Souza, Mota Ribeiro, Barbosa Rosa, Ribeiro Gonçalves, Oliveira e Silva & 
Barbosa, 2013, Gama, Barbosa & Vieira, 2014, Dadfar & Lester, 2015). As emoções 
mais frequentes, nomeadamente o medo (Leung et al., 2011; Peters et al., 2013; 
Palease et al., 2013; Souza et al., 2013), frustração (Wolf, Delao, Perhats, Clark, 
Moon, Baker, Carman, Zavotsky & Lenehan, 2015), angustia e revolta (Souza e Souza 
et al., 2013; Fontura & Rosa, 2013) são dificultadoras da ação dos profissionais. Sabe-
se que para além da interferência nos cuidados de saúde, que existe uma relação 
forte, entre a capacidade que os profissionais de saúde têm em lidar com a morte e a 
sua qualidade de vida (Sansó et al., 2015). As emoções, pensamentos e ações estão 
na base de julgamentos e tomadas de decisão dos enfermeiros (James, Andershed, 
Gustavsson & Ternestedt, 2010), pelo que a sua gestão se torna imperiosa em 
especial nos cuidados à pessoa em fim de vida. 
Os enfermeiros vivem a sua emocionalidade na relação de cuidar, assim sendo é 
importante conhecer como fazem a gestão das emoções mantendo a qualidade do 
cuidado e tendo em conta o seu bem-estar e equilíbrio. Os enfermeiros devem usar 
 
25 
 
estratégias que garantam a proximidade e a empatia emocional, mas que evitem 
deixá-los emocionalmente exaustos (Van Sant, 2003). É na utilização de estratégias 
de gestão emocional que os enfermeiros devem procurar o seu equilíbrio (Diogo & 
Rodrigues, 2012). 
Reconhecer que os enfermeiros e os estudantes de enfermagem vivenciam, no 
decurso da sua prática clínica, elevados níveis de stress emocional (Fernandes 
Pereira, Nunes Caldini, Di Ciero Miranda & Afio Caetano, 2014), imprime necessidade 
de se refletir em estratégias que os dotem de ferramentas para uma gestão emocional 
eficaz. 
Os enfermeiros consideram que possuem pouca formação que os ajude a gerir as 
emoções perante a morte dos seus doentes, neste sentido a formação tem sido 
identificada como uma estratégia eficaz (Zyga, Malliarou, Lavdaniti, Athanasopoulou & 
Sarafis, 2011; Lima, Nietsche & Teixeira, 2011; Udo, Danielson & Henock, 2013; 
Gama, Barbosa & Vieira, 2014; Dadfar & Lester, 2015), assim como a partilha de 
informação e experiência entre pares (Kent, Anderson & Owens, 2012). 
Na publicação de “Competências Centrais em Cuidados Paliativos: Um Guia 
Orientador da European Association of Palliative Care sobre Educação em cuidados 
Paliativos” (2013), esta entidade identifica a promoção do autoconhecimento e o 
contínuo desenvolvimento profissional como uma das dez competências centrais em 
cuidados paliativos, possível de alcançar através da educação e formação na área. 
Assim existe a necessidade de desenvolver programas de formação que levem ao 
empoderamento dos profissionais de saúde no processo de autogestão emocional 
perante a morte. 
Partindo destas constatações, definiram-se como objetivos do estudo: elaborar um 
programa de formação para treino das competências/habilidades emocionais dos 
enfermeiros perante a morte; avaliar o impacto desse programa de formação; 
identificar as atitudes dos enfermeiros perante a morte; examinar o coping dos 
enfermeiros perante a morte. 
Para responder aos objetivos desenvolveu-se um estudo quase-experimental 
caracterizado pela criação e aplicação de um programa de formação constituído por 
quatro sessões formativas dirigidas a enfermeiros de serviços de internamento de uma 
Instituição de Saúde da região centro. 
Esta dissertação apresenta o trabalho desenvolvido durante este processo que 
culminará com a discussão pública com vista à obtenção do grau de mestre pela 
Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnFC). Para facilitar o processo de 
26 
 
exposição do trabalho, dividiu-se, este relatório, em duas partes. A primeira 
correspondente ao enquadramento teórico e concetual e a segunda parte relativa ao 
estudo empírico. O enquadramento assentou na pesquisa bibliográfica em torno dos 
enfermeiros e a morte e da gestão emocional dos enfermeiros perante a morte. Na 
segunda parte descrevem-se as etapas percorridas durante a conceção e o trabalho 
de campo, assim como a fundamentação das tomadas de decisão, sendo integrado 
nesta parte a formulação do problema, objetivos, tipo de estudo, hipóteses, variáveis, 
população e amostra, colheita de dados, apresentação e análise de resultados, 
discussão de resultados e conclusão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PARTE 1: ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCETUAL 
 
 
 
28 
 
 
 
29 
 
 
 
1- O ENFERMEIRO E A MORTE 
Os enfermeiros constituem, atualmente, a comunidade profissional e científica de 
maior relevância no funcionamento do sistema de saúde e na garantia do acesso da 
população a cuidados de saúde de qualidade, em especial aos cuidados de 
enfermagem (Ordem dos Enfermeiros, 2010). Os cuidados de enfermagem são 
transversais a todas as fases do ciclo vital incluído a transição para a morte. 
As representações sociais da morte, devido à dificuldade de aceitação e entendimento 
que o ser humano tem sobre a mesma, levam a que o conceito seja pautado no 
abstracionismo, na mitologia, no simbolismo, na religião e acima de tudo na 
subjetividade. A sua representação científica é uma realidade, que confere ao conceito 
uma pluralidade de representações sobre a morte (Chagas, 2018). 
Neste capítulo aprofunda-se o conhecimentosobre a morte, a vivencia da morte ao 
longo da história da humanidade e as alterações/modificações que têm acompanhado 
a forma como esta é vivida. 
 
1.1- A FINITUDE DA VIDA 
O conceito de morte é um tema primordial no pensamento existencial, a reflexão em 
torno do mesmo tem ocupado cientistas e filósofos (Abdala, 2017). Esta realidade 
deve-se ao facto de ser o homem de entre todos os seres vivos, o único que tem 
consciência da morte (Peixoto, 2010; Osswald, 2016). 
A realidade da morte é transversal a várias áreas do saber, sendo o seu conceito 
mutável ao longo dos tempos (Chagas, 2018). 
Na filosofia existem duas correntes distintas que podem explicar a morte. A corrente 
Niilista e a corrente não Niilista. Na primeira é defendido que a morte é o fim completo 
do homem e na segunda o contrário. A corrente não niilista é defendida pela visão da 
generalidade das religiões, destacando-se a cristã que fala da vida depois da morte, 
(Marton, 1999). Ainda nesta corrente, Sócrates, considerado o pai da filosofia, defende 
que a morte só será boa quando a alma se harmonizar através do processo de 
eliminação gradual das diversas opiniões e a tornar uma imagem do cosmos. Sócrates 
sugere ainda, que o medo da morte é algo antinatural, pois baseia-se na noção de que 
se conhece algo que se desconhece (Dastur, 2002). Em 1972 no livro “The 
30 
 
Psychology of death” é referido que a palavra ou o pensamento sobre a morte 
funciona como um estímulo cuja resposta é a ansiedade e o medo (Kastenbaum & 
Aisenberg, 1972). 
A morte pertence à própria estrutura da vida, não é um acidente, não é extrínseca à 
mesma, visto que a existência humana é um ser-para-a-morte, é uma certeza desde o 
nascimento (Maranhão, 1985; Heidegger, 2007, Delgado, Duarte & Monteiro, 2013). 
Outrora a morte da pessoa era um acontecimento social, envolvia os familiares, 
amigos, vizinhos e pode-se por isso dizer que era uma “morte pública”. Atualmente, na 
sequência dos avanços técnico científicos e até das modificações sociais, a morte 
troca a casa pelo hospital e passa a ser vivida de forma isolada (Pereira, 2013). 
Reconhecesse que a morte é uma das experiências que mais influência o ser humano, 
que mais causa desconforto, inclusive aos profissionais de saúde (Moutinho, 2011; 
Zheng, Lee & Bloomer, 2018). Facto que se torna mais relevante se tivermos em conta 
o que nos diz Hennezel & Leloup (1998) de que “…o mundo que nos rodeia não nos 
ensina a morrer. Tudo é feito para esconder a morte para nos incitar a viver sem 
pensar nela” (p.14). 
Para compreender esta temática, é necessário definir a origem da palavra “morte”, 
esta derivada do latim mortis, que significa fim da vida; acabamento; destruição e 
perda (Ramos, 2001). A morte é a partida da vida é o fim de todas as funções 
fisiológicas. É considerada mais como um processo do que um evento. Normalmente é 
determinada pelo cessar das atividades neurais, cardíacas e respiratórias (Baldwin & 
Woodhouse, 2011). Em Portugal a morte é definida como a cessação irreversível das 
funções do tronco-cerebral, tal como consta do artigo 2º da Lei nº 141/99 de 28 de 
agosto. 
Atualmente considera-se morte com a presença de morte encefálica, mas esta visão 
nem sempre foi aceite por todas as civilizações. Para os egípcios o coração era o 
órgão vital, já para os judeus era a respiração e os batimentos cardíacos os elementos 
essenciais para se considerar vida, os japoneses consideravam o abdómen e as 
vísceras como os órgãos vitais. No caso dos cristãos estes achavam que a alma 
estava na cabeça, pelo que o conceito de morte cerebral é aceite para os mesmos. De 
forma transversal ao tempo a morte sempre foi considerada o último sopro da vida, e o 
cheiro a putrefação o indício irrevogável da situação de morte (Kovács, 2003). 
Embora a morte faça parte do ciclo de vida, cuidar de um ser humano em sofrimento 
ou em processo de morte não é um exercício automático nem uma sucessão 
 
31 
 
premeditada de atos, trata-se substancialmente de uma arte que abarca um profundo 
conhecimento antropológico, ético e estético (Roselló & Torralba, 2009). 
Kübler-Ross (1998), pioneira na abordagem dos doentes no processo de morrer, 
defende a ideia de que todas as pessoas deveriam ter uma “boa morte”. Uma boa 
morte significa não sofrer, significa a possibilidade de escolher onde morrer e quem ter 
a seu lado, que a pessoa se sinta acompanhada e que a escute. Morrer com dignidade 
significa ter permissão de morrer respeitando o carácter, a personalidade e o estilo de 
vida da pessoa. A autora supracitada descreve e identifica cinco estadios que um 
doente pode vivenciar durante o processo terminal, são eles: negação, raiva, 
barganha, depressão e aceitação. Defende que as contingências atuais têm conduzido 
ao aumento do medo da morte, ao aumento do número de problemas emocionais 
associados à morte e à necessidade de compreender e de lidar com o processo de 
morrer (Kübler-Ross, 2017). 
Ainda que ao longo das últimas décadas a problemática da morte tenha sido muito 
estudada por diferentes áreas do conhecimento é importante que se continue a 
estudar, uma vez que a contextualização da morte se encontra numa fase diferente da 
realidade vivenciada no passado (Pereira, 2013). Todos os envolventes deste 
fenómeno devem ser conhecidos e minimizadas complicações e limitações, como seja 
por exemplo a existência de emoções dificultadoras associadas à morte. 
 
1.2- ATITUDES PERANTE A MORTE 
Como refere Morin (1970) é nas atitudes e crenças, perante a morte que o homem 
exprime o que a vida tem de mais fundamental. Os paleontólogos defendem que o 
culto dos mortos marcou o início da hominização, o Homem é o único animal que 
enterra ou queima os indivíduos da sua espécie e que lhe presta homenagem e culto 
(Osswald, 2016), o que contribui para a importância do estudo das atitudes perante a 
morte. Estas atitudes apresentam oscilações ao longo do tempo, produto da 
conjugação de influências históricas, sociais e filosóficas (Magalhães, 2009). 
Se no passado a relação com a morte era de naturalidade e proximidade, mais 
recentemente a morte é vivida de forma reprimida e distante é mesmo considerada 
maldita, interdita e repelida (Ariès, 2003; 2011; Nunes, 2014). Atualmente, a tentativa 
do afastamento da morte tem conduzido, cada vez mais, a comportamentos de 
afastamento, afastam-se as crianças dos contextos de morte, desenvolvem-se cada 
vez mais técnicas de tanatopráxia para mascarar e embelezar o corpo morto, existe 
32 
 
cada vez mais uma não aceitação social da morte. Os rituais de culto e homenagem 
aos mortos têm-se alterado, hoje, privilegia-se a cremação e a resolução rápida desta 
transição ao contrário de antigamente, em que familiares e vizinhos realizavam 
homenagens noturnas junto do cadáver até ao momento do enterro (Osswald, 2016). 
Há necessidade de afastar rapidamente o que está relacionado com a morte. 
As atitudes perante a morte podem ser percebidas e definidas de duas perspetivas: 
positiva ou negativa. As atitudes positivas são classificadas como aceitação da morte, 
enquanto as negativas denotam o medo e o evitamento da morte. No que tange à 
aceitação da morte, é possível identificar três tipos distintos de atitudes: neutra, 
religiosa e escape. A aceitação neutra é caracterizada como o entendimento de que a 
morte é uma parte integral e natural da vida. A aceitação religiosa é marcada pela 
crença numa vida feliz após a morte e a aceitação de escape pode ser entendida a 
partir do pressuposto que quando se vive em certas circunstâncias que acarretam dor 
e sofrimento, a morte torna-se uma alternativa para o término destes. Nas negativas 
identificam-se as atitudes de medo e evitamento da morte. O medo da morte é 
caracterizado pelo pavor acerca desta, e o evitamento pela atitude de fazer o possível 
para não pensar ou falar sobre a mesma (Wong, Reker & Gesser, 1994;Loureiro, 
2010; Santos Souza et al., 2017). 
Num estudo realizado na universidade de Brasília sobre as atitudes perante a morte 
em que participaram 1005 estudantes dos cursos de enfermagem, farmácia, 
fisioterapia, fonoaudiologia, saúde coletiva e terapia ocupacional, os autores 
encontraram que a atitude de aceitação neutra obteve maiores médias nos estudantes 
da amostra, assim como foram encontradas médias mais elevadas na dimensão medo 
da morte nos estudantes mais jovens e médias mais baixas de evitamento da morte 
nos com mais idade. Foi no curso de enfermagem que se encontrou a maior média da 
dimensão de aceitação neutra. Este estudo sugeriu a necessidade de formação dos 
profissionais na área da preparação para a morte (Santos Souza et al., 2017). 
Um outro estudo experimental desenvolvido num hospital oncológico na Turquia, 
comparou dois grupos de enfermeiros para verificar o efeito que a formação/treino dos 
enfermeiros com doentes terminais poderia ter na influência da sua atitude perante a 
morte. Os resultados sugeriram diferenças significativas no grupo experimental 
quando comparado o momento antes e depois da formação realizada (p<0.05). A 
avaliação da escala Death Attitude Profile-Revised (DAP-R) revelou que este grupo 
melhorou a sua atitude perante a morte, sugerindo a importância de melhorar o 
curriculum académico dos enfermeiros e de se repetirem momentos formativos nestas 
áreas ao longo do exercício profissional (Göriş, et al., 2017). 
 
33 
 
O autoconceito de morte interfere na forma como cada pessoa interpreta e vivencia o 
fenómeno de morte. Os enfermeiros são, frequentemente, quem acompanha o doente 
e a família ao longo do processo de morte, assistindo a um misto de reações e 
confrontações por parte da díade (doente/família), o que implica demostrar presença, 
flexibilidade, disponibilidade, coresponsabilidade, partilha de sentimentos e emoções, 
conhecimentos e solidariedade (Bettinelli, 1998; Stumm, Leite & Maschio, 2008; 
Wazquar, Kerr, Regan & Orchard, 2017), neste contexto é fundamental que se 
conheçam a forma como estes (re)agem perante a morte. 
 
1.3- OS ENFERMEIROS PERANTE A MORTE 
Associado às dificuldades em lidar com a morte e em cuidar de quem está em fim de 
vida está também a dificuldade em gerir a conspiração do silêncio em torno do 
prognóstico e da situação clínica da pessoa resultante de uma atitude de paternalismo 
por parte de alguns profissionais de saúde, o que dificulta os cuidados ao doente e à 
família (Serra, 2012). Acresce-se a esta problemática a controvérsia em torno da 
eutanásia o que vem trazer novas interrogações sobre as atitudes dos profissionais 
que defendem o processo de decisão temporal da morte através de meios artificiais 
(Lemos, 2015). 
A exposição à morte e ao processo de morrer, para além da sobrecarga de luto, pode 
constituir-se num desafio ao crescimento pessoal e profissional dos enfermeiros. A 
exigência de ter de lidar com a morte e o processo de morrer numa sociedade, como 
vimos, que a oculta traduz-se fundamentalmente num trabalho de confronto de perdas 
através de um processo que oscila entre o evitamento e a intrusão. Este 
acontecimento é considerado o mais desgastante no dia-a-dia dos enfermeiros, 
interferindo não só com o seu equilíbrio, mas também com o funcionamento do 
hospital, que está mais preparado para curar do que para cuidar o doente incurável 
(Tojal, 2011; Gama, 2013; Zheng, Lee & Bloomer, 2017), sendo que os enfermeiros 
mais experientes possuem mais estratégias para lidar com o stress do que os menos 
experientes (Zheng, Lee & Bloomer, 2016). 
Na abordagem ao doente em fim de vida os enfermeiros são diariamente confrontados 
com situações de morte dos seus doentes, e quando não preparados, os cuidados 
prestados por estes tornam-se rotineiros e tecnicistas. Os estudos evidenciam que o 
efeito que a morte provoca nos enfermeiros e nos profissionais de saúde é 
negligenciado (Frey et al., 2018; Funk, Peters & Stieb, 2018). 
34 
 
Um estudo realizado em 2016 por Tranter, Josland & Turner sobre as necessidades de 
luto e atitudes dos enfermeiros perante a morte dos doentes numa unidade de diálise, 
evidenciou um nível de evitamento da morte significativo apesar da forte ligação 
religiosa e espiritual que detinham e a qual contribuía, como fator facilitador perante a 
morte, sugerindo Tranter, Josland & Turner (2016) a necessidade de apoio adequado 
nos processos de luto destes profissionais. 
Um outro estudo realizado em 2009, sobre a forma como os enfermeiros vivenciavam 
e enfrentavam situações de morte e morrer numa unidade de cuidados intensivos, 
evidenciou a religião como um fator facilitador no processo de enfrentamento da morte 
dos seus doentes. Neste estudo, os autores referem que a morte constituía uma 
vivência rotineira para a equipa e que é de difícil aceitação. Pelo que recomendam a 
necessidade de construir alternativas para estimular os enfermeiros a pensar, a 
discutir e a, compreender melhor o processo de morrer. Segundo os autores o tema 
deve ser mais debatido na formação académica, aliado à estruturação de espaços nas 
instituições de saúde para troca de ideias entre trabalhadores sobre questões relativas 
à morte, e implementação de serviços de suporte ao profissional que cuida do doente 
em fim de vida (Sulzbacher, Reck, Stum & Hildebrandt, 2009). 
Os contextos profissionais podem não ser demarcadores das vivências dos 
enfermeiros perante a morte, uma vez que as emoções que a morte de um doente 
desencadeia nos enfermeiros tendem a serem similares, independentemente do local 
de trabalho. Esta perspetiva foi verificada numa investigação que comparou 
enfermeiros que trabalhavam em emergência (n=28) com enfermeiros que 
trabalhavam em cuidados paliativos (n=28) e concluiu que ambos os grupos referiram 
elevada aceitação da realidade da morte (82%) e que lidavam melhor com as pessoas 
em fim de vida do que com a família dos mesmos. A divergência encontrada em 
termos de local de trabalho diz respeito aos enfermeiros de emergência que 
apresentaram valores mais altos de evitamento da morte, quando comparados com os 
enfermeiros de cuidados paliativos. Mas independentemente do local de trabalho, os 
enfermeiros que lidam melhor com a morte apresentavam atitudes mais positivas nos 
cuidados aos seus doentes em fim de vida (Peters, et al., 2013). 
Ainda um estudo sobre a perceção dos enfermeiros de emergência sobre a morte 
evidenciou resultados que sugeriam essa mesma situação, ou seja, os enfermeiros 
estavam confortáveis a cuidar de doentes em fim de vida, mas salientaram como 
dificuldades, na prestação de cuidados, as limitações associadas ao espaço físico, 
exigência de tempo e dotação de pessoal para poderem desenvolver bons cuidados 
(Wolf et al., 2015). Esta realidade inevitavelmente, empobrece a qualidade dos 
 
35 
 
cuidados no que diz respeito à dignificação da morte, garantindo a dignidade humana, 
sendo que esta é um valor essencial no exercício profissional da enfermagem (ANA, 
2005; ICN, 2006). 
Num estudo realizado com profissionais de saúde (n=113) em que 30.1% eram 
enfermeiros, que cuidavam de idosos em fim de vida os autores concluíram que os 
profissionais que possuíam uma forte afiliação e crenças espirituais/religiosas 
apresentavam scores de burnout mais baixos do que os profissionais com baixa 
ligação espiritual/religiosa. Assim como uma relação cultural com a forma como 
lidavam com a morte (p<0.05). Neste estudo exploratório perceberam que as 
influências espirituais e religiosas muniam os profissionais de estratégias eficazes para 
lidar com o processo de morrer e com a morte (Frey et al., 2018). 
Associado às crenças espirituais e religiosas, a cultura e as atitudes das pessoas 
perante a morte são preditivas da qualidade dos cuidados à pessoa em fim de vida 
(Frey, et al., 2018; Wang, Li, Zang & Li, 2018) e da forma como enfrentama situação 
do morrer e da morte. 
Pelo descrito pode dizer-se que os estudos apontam que os profissionais de saúde, 
em especial os enfermeiros precisam de apoio, preparação, orientação, formação, 
treino nos processos de morte e morrer, ou seja, é importante que existam práticas 
conscientes nesta área, pois a forma como vivenciam esta situação irá interferir em 
situações futuras de cuidados em fim de vida (Gerow et al., 2010; Barooah, Boerner, & 
Van Riesenbeck, 2015). 
 
 
36 
 
 
 
37 
 
 
 
2- GESTÃO EMOCIONAL DOS ENFERMEIROS PERANTE A MORTE 
A gestão de emoções é o alicerce do desempenho profissional, pessoal, gestão de 
pessoas, carreiras, otimização do tempo, inteligência financeira, de todos os tipos de 
coaching e construção de relacionamentos. Se não forem geridas as emoções 
nenhuma outra competência tem sustentação (Cury, 2018). 
O enfermeiro devido às suas contingências laborais é confrontado com diversas 
emoções, em especial quando confrontado com situações de fim de vida, que nem 
sempre são fáceis de serem geridas, exigindo deste a procura de ferramentas e 
estratégias que o ajudem nesta missão (Van Sant, 2003; Fão, 2013; Sansó, et al., 
2015; Cleary, Visentin, West, Lopez & Kornhaber, 2018). 
Os estudos têm revelado que os enfermeiros, em especial os que trabalham em 
oncologia tem maior probabilidade de desenvolverem fadiga por compaixão, devido à 
complexidade de exigências emocionais a que são sujeitos, à alta taxa de mortalidade 
dos seus doentes, à elevada taxa de permanência e contacto com o sofrimento dos 
doentes e família (Finley & Sheppard, 2017). 
 Neste capítulo serão apresentados conceitos de emoções, coping e inteligência 
emocional como soft skill facilitadora do enfermeiro perante situações de morte. 
 
2.1- AS EMOÇÕES E O COPING 
As primeiras referências sobre emoções remontam a 300 a.C. reflexões acerca das 
emoções podem ser encontradas em algumas das obras de filósofos da época 
clássica, destacando-se nomes como Aristóteles que definiu e analisou diferentes 
emoções do ponto de vista cognitivo, começando pela ira (Diogo & Rodrigues, 2012). 
Os mesmos autores defendem que a compreensão das emoções e dos seus 
significados exige uma análise multidisciplinar. Atualmente o estudo das emoções tem 
apresentado um incremento desde os estudos de António Damásio. Este definiu as 
emoções como um conjunto complexo de respostas químicas e neurais que estão 
alinhadas com o corpo, enquanto os sentimentos estão alinhados com a mente. A esta 
definição mais neuroquímica Pio Abreu (2013) acrescenta uma mais psicológica que 
define as emoções como fenómenos individuais e elementares, facilmente 
reconhecíveis pelas características perturbadoras, da razão e da vontade, como 
38 
 
sejam: a alegria, o medo, a tristeza, a raiva, a repugnância, a surpresa, a vergonha, a 
culpa, a inveja, o ciúme. Estas são muitas vezes confundidas com sentimentos/afetos. 
Os pensamentos desencadeiam as emoções e as modificações do corpo, enquanto 
que as emoções se transformam nos fenómenos mentais a que chamamos 
sentimentos. Os sentimentos são gerados pelas emoções e permitem que as emoções 
se tornem conscientes para a pessoa (Diogo & Rodrigues, 2012). 
As emoções são entendidas como mediadoras do processo psíquico e experimentam 
os sentimentos que se manifestam. Os sentimentos referem-se ao reflexo no cérebro 
dos seres vivos, das suas relações com os objetos que satisfazem as suas 
necessidades ou que os impedem de satisfaze-las, assim como todos os fenómenos 
subjetivos do ser humano, manifestam-se antes de tudo nas ações e na conduta 
humana (Azevedo, 2015), são portanto, importantes para o processo de racionalidade 
(Damásio, 1994) e são capazes de interferir no comportamento neuro-vegetativo 
através de libertação de neurotransmissores como sejam adrenalina, dopamina ou 
outros de acordo com a emoção em causa (Botacin, 2016). 
A negação das emoções não facilita o dia-a-dia, é necessário tomar consciência das 
mesmas. Neste contexto é fundamental o autoconhecimento, pois todos sabemos que 
sentimos e que temos emoções, mas muitas vezes não somos capazes de as 
identificar. Este processo de identificação é fundamental para uma boa saúde mental 
(Palha, 2016). 
As emoções condicionam de tal forma a vida das pessoas que o seu percurso diário 
só é facilitado se esta adquirir estratégias de coping eficazes. O conceito de coping 
tem sido descrito como o conjunto das estratégias utilizadas pelas pessoas para se 
adaptarem a circunstâncias adversas ou stressantes (Antoniazzi, Dell`Áglio & 
Bandeira, 1998). 
As aptidões de coping mostram que as pessoas com mais recursos podem sofrer 
menos efeitos adversos em contextos de stress. Tratando-se de coping é importante 
distinguir estilos de coping e estratégias de coping. Os estilos de coping têm sido 
relacionados às características de personalidade ou a resultados de coping, enquanto 
que as estratégias de coping referem-se a ações cognitivas ou de comportamento 
tomadas no curso de um episódio particular de stress. Embora os estilos possam 
influenciar a extensão das estratégias de coping selecionadas eles são fenómenos 
distintos e têm diferentes origens teóricas (Folkman, 1984; Ryan-Wegner, 1992; Wein 
& Baider, 2015). 
 
39 
 
Numa perspetiva cognitivista, Folkman e Lazarus (1980) apresentam um modelo que 
divide o coping em duas categorias: o coping focalizado no problema e o coping 
focalizado na emoção. Nesta visão o coping é definido como um conjunto de esforços, 
cognitivos e comportamentais, utilizado pelos indivíduos com o objetivo de lidar com 
exigências especificas, internas ou externas, que surgem em situações de stress e são 
avaliadas como sobrecarregando ou excedendo os recursos da pessoa (Lazarus & 
Folkman, 1984; Quartilho, 2016). 
As experiências vivenciadas pelos indivíduos face às modificações que se processam 
no decurso da vida levam a que os processos de coping alterem ao longo do 
desenvolvimento da pessoa, assim os recursos de coping de uma criança são 
diferentes dos de um adulto (Lazarus & DeLongis, 1983). 
Os enfermeiros pelas vicissitudes laborais a que estão sujeitos, nomeadamente o 
stress, sofrimento e ansiedade vão adquirindo várias estratégias de coping (Wazquar, 
Kerr, Regan & Orchard, 2017). 
O enfrentamento eficaz é importante para os profissionais de saúde. O coping utilizado 
perante o distress emocional se não for eficaz pode levar ao burnout, à adição de 
drogas e álcool, e à fadiga emocional. O recurso a terapias que permitam dar 
significado, e possam abordar a coragem, heroísmo, identidade religiosa são 
importantes neste processo (Khot, Billings, Owens, & Longstreth, 2011). 
Reconhecesse que a formação em educação emocional é imprescindível para os 
enfermeiros, pois se estes não desenvolverem inteligência emocional, as 
consequências das vivencias dolorosas irão produzir dano no seu bem-estar e 
interferir negativamente com a sua vida pessoal. Os programas de desenvolvimento, 
de inteligência emocional, têm vindo a adquirir importância e procura na área da saúde 
(Gómez-Díaz, Delgado-Gómez & Gómez-Sánchez, 2017). 
 
2.2- INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: SOFT SKILL PERANTE A MORTE 
Atualmente nas instituições tem vindo a emergir a importância reconhecida das “soft 
skills” e não apenas das “hard skills”, o que acontece também na área da saúde. 
Geralmente, as pessoas adquirem soft skills, muitas vezes traduzidas como aptidões 
ou qualidades interpessoais, através de treino ou da frequência de cursos 
relacionados a um trabalho ou a uma profissão em particular. As profissões que se 
centram na interação humana, estabelecimento de relações, trabalho em equipa 
exigem o desenvolvimento destas aptidões (Robles, 2012; Ravindranath, 2016; 
40 
 
Sharma, 2018). Sendo a enfermagem uma profissão de relação esta é uma área 
profissional que não pode ser descurada. 
No artigo publicadopor Gray (2016) no World Economic Forum a inteligência 
emocional é classificada como uma das top dez soft skills mais importantes no mundo, 
no que diz respeito ao trabalho. 
Nas décadas de oitenta do século passado, na universidade de Harvard foi 
desenvolvida uma teoria intitulada de inteligências múltiplas que veio revolucionar a 
ideia aceite até ao momento do conceito limitante de inteligência, esta nova 
abordagem defendia que a ideia de incluir os conceitos de inteligência intrapessoal 
(aptidão de autoconhecimento, capacidade de compreender a si mesmo e de apreciar os 
próprios sentimentos, emoções e motivações) quanto de inteligência interpessoal 
(capacidade de compreender as intenções, motivações e desejos nos outros) (Gardner, 
1983). Esta ideia veio a ser mais tarde trabalhada por outros, como sejam Mayer e 
Salovey (1997), mas foi com Goleman (1998) que o conceito de inteligência emocional 
ganha projeção social. 
A inteligência emocional traduz-se na capacidade de reconhecer e gerir as nossas 
emoções e as dos outros, de desenvolver a nossa capacidade de nos motivarmos, e 
de gerirmos os nossos relacionamentos (Torres, 2014). Este conceito relaciona-se 
com os resultados organizacionais, estando na base do desenvolvimento de uma 
vantagem competitiva para as organizações (Torres, 2014; Alves, 2017). 
O psicólogo Daniel Goleman (2010), acrescenta ainda que a inteligência emocional 
pode ser mais importante que o coeficiente de inteligência. A inteligência emocional é 
outro aspeto da inteligência que é frequentemente negligenciada. Para este autor, a 
inteligência emocional é a maior responsável pelo sucesso ou insucesso das pessoas. 
Segundo ele, é a capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos 
outros. 
Existem cinco pilares centrais da inteligência emocional o autoconhecimento, controle 
emocional, automotivação, empatia e habilidades sociais. Autoconhecimento 
emocional refere-se à capacidade que cada pessoa tem em reconhecer as próprias 
emoções e sentimentos quando ocorrem. O controle emocional refere-se a lidar com 
os próprios sentimentos, adequando-os a cada situação vivida. A automotivação 
pretende dirigir as emoções para um objetivo ou realização pessoal. Empatia define-se 
por reconhecer emoções no outro e habilidade em relacionamentos interpessoais. As 
habilidades sociais são características de saber negociar as necessidades dos outros 
e equilibrá-las com suas próprias (Goleman, 1998). 
 
41 
 
O processo do autoconhecimento tornou-se fundamental para os profissionais que já 
orientados pela necessidade de desenvolvimento de competências técnicas, sentem, 
agora uma necessidade de desenvolver competências emocionais em busca de uma 
maior satisfação e realização pessoal e profissional (Morais, 2012). 
Uma revisão integrativa publicada em 2018 sobre o estudo da influência da 
inteligência emocional e a resiliência em estudantes de enfermagem, revelou 
resultados que sugerem que a resiliência e a performance dos estudantes apresentam 
uma relação positiva entre si, e que o desenvolvimento emocional é fundamental 
(Cleary et al., 2018). Esta realidade é semelhante nos enfermeiros, segundo as 
evidências de um estudo realizado com 92 enfermeiros e assistentes de enfermagem 
que cuidavam de pessoas idosas, o desenvolvimento da inteligência emocional pode 
constituir-se como uma estratégia eficaz para lidar com as emoções, autocontrolo, 
gestão de stress e lidar com situações difíceis (Sarabia-Cobo, et al., 2017) como as 
emoções associadas à morte. 
Em estudantes de enfermagem também foi encontrada relação, nos níveis emocionais 
de stress relacionado com a morte e os níveis de inteligência emocional. Estudantes 
com níveis mais elevados de inteligência emocional, apresentam níveis mais baixos de 
distress relacionado com a morte (Aradilla-Herrero, Tomás-Sábado & Gómez-Benito, 
2012). Estes resultados sugerem que quanto mais desenvolvida é a inteligência 
emocional, melhor as pessoas gerem as emoções que interferem com os resultados 
dos seus cuidados, pois é facilitado o desenvolvimento das relações terapêuticas na 
relação enfermeiro-cliente (O’Connell, 2008; Stevenson, Ryan, & Masterson, 2011). 
Assim como nos estudantes de enfermagem a forma como lidam com as emoções é 
crucial para a eficácia e eficiência da relação terapêutica (Por, Barriball, Fitzpatrick, & 
Roberts, 2011). 
 
2.3- GESTÃO EMOCIONAL, COPING E GRIEVING 
O Grieving traduzido por luto parece ser uma consequência da adaptação evolutiva 
das espécies, desde as observações realizadas por Darwin em macacos que 
choravam devido à perda de outros elementos (Darwin,1872). 
O processo de luto e as exigências da prestação de cuidados de enfermagem perante 
situações de morte implicam que os profissionais de saúde mobilizem estratégias de 
coping eficazes. O luto pode ser definido como a combinação de pensamentos e 
sentimentos experienciados no processo de perda. O luto decorrente do processo de 
42 
 
grieving não é um sinal de fraqueza nem uma doença, é sim indicativo da ligação 
humana ao outro. O luto numa fase inicial provoca a sensação de perda de controlo, 
manifestada por perda de apetite, choro, insónia, pensamentos dolorosos. O processo 
de luto deve ser realizado e poderá exigir ajuda de terceiros (Giddens & Giddens, 
2003). 
Ao longo dos tempos os cientistas foram desenvolvendo modelos explicativos do 
processo de luto associado às emoções, atitudes e ao coping perante a morte. 
Um dos modelos mais conhecidos é o da adaptação à morte a qual faz parte de um 
processo de socialização segundo Kübler-Ross (1969; 2000). Para esta autora 
existem cinco diferentes estadios explicativos de adaptação emocional do ser humano 
à morte: negação, ira/revolta, negociação, depressão e aceitação. 
Na negação a pessoa recusa acreditar no que lhe está a acontecer. Na ira/revolta a 
questão mais frequente é “Porquê eu?” a pessoa sente-se privada de uma longa vida 
e revolta-se com ninguém e com todos, incluindo Deus. A negociação é a fase em que 
a pessoa faz acordos com algo que crê como superior para que o destino e a sorte lhe 
permitam viver o suficiente para experienciar um evento especial e significativo. À 
medida que as energias se vão perdendo e a pessoa vai ficando cada vez mais 
desgastada, vai começando a adaptar-se à ideia de fim de vida surgindo a depressão. 
Quando por fim a morte é compreendida mais pacificamente, e percebido que a luta 
está a terminar alcançamos o estadio da aceitação. Neste modelo as pessoas que 
passam pelo processo de morrer habitualmente passam por estes estadios, no entanto 
é possível serem vividos numa ordem diferente. A persistência da esperança é algo 
que é manifestado em todos os estadios de diversas formas. Para alguns autores 
como Palmer (1993) este modelo aplica-se a todos nós, pois para este autor a vida é 
encarada como doença terminal. 
Em 1974 Kavanaugh distingue mais dois estadios que Kübler-Ross (1969). O seu 
modelo apresenta sete comportamentos e sentimentos que estão presentes no 
processo de coping de luto que são: choque da negação, desorganização, reações 
voláteis, culpa, perdão e solidão, alívio e convalescença. Os sete estadios 
apresentados sobre o sofrimento referem-se a fases emocionais distintas que se 
sobrepõem e interligam (Kavanaugh, 1974). O choque da negação caracteriza-se pela 
necessidade de manter o contacto com algo que goste na vida. Neste estadio a 
pessoa diz para si própria “não à morte”. A desorganização leva a que a pessoa se 
encontre ausente dos procedimentos normais da vida, sente-se como se fosse eterno, 
desamparado, confuso. Nesta fase a pessoa necessita de falar no sentido de 
 
43 
 
recuperar a energia que perdeu nos pensamentos indesejados e sentimentos pouco 
habituais que lhe produzem confusão. Nas reações voláteis os sentimentos que 
surgem são os mais primários como o abandono, frustração.Tendem a negar e ocultar 
reações, transformando-as em vergonha e recalcam sentimentos o que podem 
produzir conflitos internos que poderão traduzir-se em sintomas físicos como cefaleias 
e alterações gástricas. Nesta fase é indispensável escuta permissiva para que a 
pessoa seja capaz de expressar os seus sentimentos de cólera e raiva. Na culpa a 
pessoa sente-se triste e deseja outra oportunidade para adiar a morte, deseja-se 
tempo para acabar com uma falha ou negligencia pessoal. Na perda e solidão é 
considerado o estadio que mais sofrimento produz. Neste estadio a presença de 
amigos e pessoas queridas é muito importante. No alívio é produto de uma reflexão da 
necessidade de continuar a viver. É uma resposta humana normal indispensável para 
libertação de sentimentos de culpa. Na convalescença, tem um início lento e é 
demorado, nesta fase são construídas novas relações e são estabelecidos novos 
objetivos para começar de novo. 
Posteriormente, Bowlby (1985) publica o seu modelo sobre as fases de sofrimento 
pelas quais as pessoas passam após perderem uma pessoa querida, são comuns com 
o processo psicológico pelo qual passa uma pessoa que está a viver a sua própria 
morte. Para este autor a primeira fase chama-se amortecimento da sensibilidade onde 
as pessoas que estão a viver o luto parecem não manifestar qualquer tipo de reação, 
embora interiorizem revolta, dor intensa, ataques de pânico ou euforia. A fase seguinte 
é denominada por desejo e procura pela pessoa perdida, caracteriza-se por uma fase 
de ira, em que as pessoas reconhecem a perda com angústia e manifestam ataques 
de raiva. A fase seguinte coincide com a fase apresentada por Kübler-Ross a 
negociação onde a pessoa tenta negociar com algo para recuperar a pessoa perdida. 
A fase da desorganização e desespero em que as pessoas reconhecem a real 
situação, manifestando-se muitas vezes por choro e dor profunda. E finalmente a fase 
da aceitação e reorganização das suas vidas. 
Em 1993 surge um novo modelo o denominado Modelo de Buckman constituído por 
três estadios que propõe que os indivíduos quando confrontados com a ameaça de 
morte iminente reagem de forma consistente ao seu carácter e à forma como lidaram 
com as dificuldades no passado. A fase inicial (enfrentando a ameaça) é uma mistura 
de reações que são características do indivíduo e que pode incluir medo, ansiedade, 
choque, descrença, raiva, negação, culpa, humor, esperança; a fase crónica (estar 
doente) usualmente as reações da fase inicial estão resolvidas e surge uma 
diminuição da intensidade de todas as emoções, a depressão é muito comum nesta 
44 
 
fase; a fase final (aceitação) caracterizado pela aceitação do doente da morte, em que 
o doente não está angustiado, comunica e toma decisões normalmente. 
Em 2000 surge o Modelo da Ansiedade da Morte de Tomer e Eliason que 
apresentaram um modelo integrado sobre a ansiedade face à morte, postulando a 
existência de três antecedentes imediatos do medo da morte: primeiro uma 
lamentação do passado, com objetivos que não foram atingidos, segundo uma 
lamentação do futuro com a constatação de que não se podem atingir todos os 
objetivos dada a finitude da vida e terceiro o significado que atribuem à morte e o que 
representa para si. Estes modelos, que acabam por ser complementares, propõem no 
fundo três grandes modalidades de atitudes-reação face ao processo de morrer: 
Reação aguda à ameaça; sentimento da inevitabilidade da morte e aceitação e 
significação. 
O conhecimento destes modelos é importante uma vez que os enfermeiros também 
são confrontados com a necessidade de fazer o seu processo de grieving para com os 
seus doentes que morrem, pelo que a compreensão dos modelos poderá adequar a 
apropriação e seleção de coping mais eficaz. 
Nos Estados Unidos da América foi realizado um estudo sobre coping em adultos que 
se encontravam em luto, foi estabelecido um focos grupo em idosos que tinham 
enviuvado, e foram sujeitos a um programa mind-body durante oito semanas, tendo-se 
verificado uma diminuição dos sintomas associados ao processo de luto em especial o 
stress físico e psicológico (Bui, Chad-Friedman, Wieman, Grasfield, Rolfe, Dong, Park 
& Denninger, 2018). 
A evidência recente sugere a necessidade de se criarem programas de formação, com 
espaços adequados e preparados para que os profissionais de saúde possam tirar 
dúvidas, partilhar e refletir sobre questões relacionadas com o processo de morrer 
(Carvalho et al., 2017). 
 
 
45 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PARTE 2: INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA 
 
 
 
46 
 
 
 
47 
 
 
 
1- METODOLOGIA 
Neste capítulo dá-se a conhecer as opções metodológicas que guiaram o 
desenvolvimento do estudo empírico. As decisões tomadas tiveram em conta a 
questão de investigação, os objetivos, a natureza do estudo e o espaço temporal 
previsto para a sua realização. 
 
1.1- FORMULAÇÃO DO PROBLEMA 
Atualmente a morte é uma realidade frequente em meio hospitalar (Morgado, 2012; 
Dias et al., 2015), sendo os profissionais de saúde confrontados com a necessidade 
de gerir emoções decorrentes dos processos vivenciais do cuidar da pessoa em fim de 
vida e do confronto com a morte. Os estudos têm evidenciado que os enfermeiros com 
maiores dificuldades em gerir as emoções, perante a morte, apresentam 
proporcionalmente prejuízo na qualidade de cuidados que prestam à pessoa nesta 
fase de transição (Peters, et al., 2013). A justificação para este fenómeno parece estar 
associada à menor formação dos enfermeiros no campo da gestão das emoções e na 
aceitação da morte como um processo inevitável do ciclo de vida. Assim sendo, surge 
como questão de investigação: Qual o impacto de um programa de formação na 
gestão emocional dos enfermeiros perante a morte? No sentido de dar resposta à 
questão de investigação delineou-se e implementou-se um programa de formação 
dirigido a enfermeiros com o desígnio de os ajudar a encontrar estratégias de 
autogestão das emoções perante a morte. 
O estudo tem como finalidade desenvolver e avaliar um programa de formação que 
contribua para melhorar a gestão emocional do enfermeiro perante a morte. Desta 
forma, espera-se também, contribuir para a melhoria dos cuidados de enfermagem ao 
doente em fim de vida. 
 
1.2- OBJETIVOS E TIPO DE ESTUDO 
Perante a questão de investigação delineou-se como objetivos: 
Elaborar um programa de formação para treino das competências/habilidades 
emocionais dos enfermeiros perante a morte; 
48 
 
 
Avaliar o impacto de um programa de formação, na gestão emocional dos enfermeiros 
perante a morte; 
Identificar as atitudes dos enfermeiros perante a morte; 
Identificar as características do coping dos enfermeiros perante a morte; 
 
O estudo desenvolvido enquadra-se num estudo de índole quantitativo do tipo quase-
experimental com avaliação longitudinal. Este estudo é categorizado como quase-
experimental por ter um desenho de estudo experimental, mas divergir, deste por não 
possuir uma randomização da amostra e longitudinal por realizar avaliações 
comparativas no mesmo grupo em três momentos distintos (Coutinho, 2014; Mertens, 
2015). 
 
1.3- DESENHO DO ESTUDO 
Partindo da questão de investigação e de forma a responder aos objetivos traçados 
construiu-se um programa de formação (Apêndice 1) a ser desenvolvido em quatro 
sessões. O tempo definido para cada sessão foi de hora e meia, perfazendo um total 
de seis horas. 
A construção do programa assentou na revisão da literatura e nas recomendações de 
estudos anteriores que realçavam a importância de existirem programas de formação 
na área da gestão emocional (Gómez-Díaz, Delgado-Gómez & Gómez-Sánchez, 
2017), assim como a importância da criação de um espaço na Instituição para que 
fosse possível os profissionais partilharem ideias sobre a morte, e esclarecer dúvidas, 
partilhar e refletir sobre questões relacionadas como processo de morrer e 
simultaneamente apoiarem-se mutuamente (Carvalho et al., 2017; Sulzbacker, Reck, 
Stum & Hildebrandt, 2017). Nestas formações a literatura sugere a importância de se 
explorar estratégias eficazes de luto (Tranter, Josland & Turner, 2016), desenvolver 
formação sobre preparação para a morte (Santos Souza et al., 2017), e investir no 
desenvolvimento da inteligência emocional (Gómez-Díaz, Delgado-Gómez & Gómez-
Sánchez, 2017). No seguimento, destas recomendações, o programa integrou 
conteúdos referentes a inteligência emocional, grieving, atitudes perante a morte e 
coping perante a morte. Assim, na primeira sessão trabalhou-se o conceito de morte e 
a sua interpretação social e histórica, os comportamentos e atitudes perante a morte e 
 
49 
 
identificaram-se as emoções associadas à morte. As técnicas utilizadas foram: debate 
em grupo, observação, escuta ativa, resolução de problemas, técnica socrática, 
metáforas, análise de imagens, jogos digitais. Na segunda sessão foram trabalhadas 
as formas de expressão e coping perante a morte. As técnicas usadas foram: debate 
de grupo; expressão emocional através de escrita e desenho, técnica socrática. 
Na terceira sessão formativa foram analisadas as estratégias de coping, e os 
conceitos de relaxamento e massagem terapêutica. As técnicas utilizadas foram 
debate de grupo, técnica socrática, exercícios de respiração abdominal, relaxamento 
por visualização guiada, técnicas de massagem de: deslizamento, amassamento, 
vibração e precursão, pressão em pontos de acupressão específicos para controlo de 
sintomatologia física e psicológica, uso de aromaterapia. 
Na quarta, e última, sessão (re)construiu-se o conceito de morte, coping eficaz e 
trabalhou-se o conceito de ancoragem. Como técnicas utilizaram-se debate de grupo, 
técnica socrática, visualização de um filme. Em todas as sessões foram utilizadas 
estratégias dinâmicas, assentes na reflexão de forma a levar os participantes a 
partilharem conhecimentos, emoções, desejos, expectativas e a desenvolverem auto e 
hétero conhecimento (inteligência emocional). 
O programa de formação decorreu na sala de formação 1 da Instituição de Saúde 
onde o estudo foi desenvolvido. Inicialmente foi estabelecido o contacto com o 
departamento de formação no sentido da disponibilização de uma sala para a 
formação, o que implicou a coordenação do desenvolvimento do programa de 
formação com as ações de formação planeadas pelo departamento. Foram realizados 
dois programas de formação, um nos dias 5,12, 19, 26 de fevereiro de 2018 e outro 
nos dias 26 março, 2,9,16 de abril de 2018. Todas as sessões formativas foram 
realizadas às segundas-feiras das 14:30h-16h. 
As sessões respeitaram o programa concebido pelo investigador e foram 
desenvolvidas por uma formadora convidada para o efeito. Antes da implementação 
do programa a formadora tomou conhecimento do programa e trabalhou com o 
investigador as estratégias a implementar. Considerou-se importante não ser o 
investigador a realizar a formação, no sentido de não influenciar as respostas dos 
participantes e a avaliação do programa, à semelhança do que acontece com as 
observações participantes, em que as respostas são influenciadas pela participação 
do observador (Amado, 2017). 
A formadora convidada para a realização das sessões de formação pertencia à 
Instituição de Saúde, e fazia parte da equipa de formação da mesma, é formadora 
50 
 
interna. Tem o curso de formação de formadores e formação pós-graduada na área da 
psico-antrolopogia da saúde e educação. Tem ainda formação na área dos cuidados 
paliativos. Para além das competências pedagógicas e do domínio do conhecimento 
no campo dos cuidados paliativos considerou-se que pelo facto da formadora ser 
enfermeira, a formação seria vista como um processo formativo por pares, o que é 
facilitador pela proximidade de experiências e emoções entre formador e formandos 
como salienta Gonçalves (2012). A educação por pares é considerada uma estratégia 
que aliada à formação em serviço leva a ganhos em saúde, tanto para os enfermeiros 
como para os clientes e para a Instituição. Esta estratégia estimula a mudança no 
comportamento entre os elementos desse mesmo grupo. Também leva à mobilização 
dos vários tipos de saberes, emergindo no processo de cuidados, a centralidade na 
pessoa (Dias, 2006; Gonçalves, 2012). 
Antes do início de cada sessão a formadora preparou a sala, dispondo as mesas em 
círculo, para que os participantes ficassem de frente uns para os outros inclusive a 
formadora, recriando a ideia de “mesa redonda”. 
Construído o programa formativo e tendo em conta que um dos propósitos do estudo 
era avaliar o impacto deste, na gestão emocional dos enfermeiros perante a morte 
considerou-se fundamental que a recolha de dados acontecesse antes e após a sua 
implementação. Assim, esta decorreu em três momentos distintos. O primeiro 
momento coincidiu com a primeira sessão do programa de formação, o segundo no 
final do desenvolvimento do programa de formação, isto é, no final da quarta sessão e 
o terceiro momento ocorreu cerca de dois meses após a conclusão do programa de 
formação. A opção por recolher os dados em três momentos distintos prendeu-se com 
a necessidade de identificar as atitudes e as características de coping dos enfermeiros 
perante a morte (1º momento) para posteriormente se poder avaliar o impacto do 
programa de formação na gestão das emoções bem como a qualidade do programa 
(2º momento) e aferir as mudanças produzidas ao longo do tempo, avaliando 
novamente as atitudes e as características de coping dos enfermeiros perante a morte 
(3º momento), como se apresenta na figura 1 relativa ao desenho do estudo. 
 
Figura 1 - Desenho do estudo 
 
51 
 
1.4- HIPÓTESES 
A hipótese é uma predição sobre uma relação existente entre variáveis que se verifica 
empiricamente (Pocinho, 2012; Oliveira & Ferreira, 2014). Tal como a questão de 
investigação, a hipótese tem em conta as variáveis-chave e a população-alvo. 
Podendo ser negada, uma vez que são afirmações provisórias. 
Foram definidas as seguintes hipóteses: 
H1: O programa de formação sobre gestão emocional perante a morte influencia 
positivamente as atitudes dos enfermeiros perante a morte; 
H2: O programa de formação sobre gestão emocional perante a morte influencia 
positivamente o coping dos enfermeiros perante a morte; 
H3: Os enfermeiros com formação em cuidados paliativos apresentam menos 
dificuldades em gerir emoções perante a morte; 
 
1.5- VARIÁVEIS 
As variáveis são características, propriedades ou qualidades de pessoas ou situações, 
estudadas numa investigação (Pocinho, 2012). Baseado nos aspetos teóricos para o 
contexto e perante os objetivos definidos, serão considerados dois tipos de variáveis: 
as centrais e as de atributo. 
As variáveis centrais do estudo são: atitudes acerca da morte, medida pela escala de 
atitudes perante a morte - EAPAM (Loureiro, 2010), coping com a morte medida pela 
escala de coping com a morte - ECM (Camarneiro & Gomes, 2015) e avaliação do 
programa de formação medida pela Escala de Avaliação de Implementação de 
Programas - EAIP (adaptada por Jardim & Pereira, 2006). 
As variáveis atributo serão: idade, sexo, formação académica, anos de experiência 
profissional, local de trabalho, anos de experiência o serviço atual; experiência prévia 
com processos de morte; religião; formação prévia em paliativos. 
 
1.6- POPULAÇÃO E AMOSTRA 
A população consiste num conjunto de elementos ou de sujeitos que apresentam 
caraterísticas comuns, definidos por um conjunto de critérios. A população alvo define-
se por ser uma população particular que interessa ao investigador e que é submetida a 
52 
 
um estudo, sendo a amostra uma representação menor da população (Polit, Beck & 
Hungler, 2011). Assim, a população em estudo recaiu sobre os enfermeiros que 
trabalhamem unidades de internamento de uma Instituição de Saúde. A escolha desta 
população residiu no facto dos enfermeiros cuidarem de doentes do foro oncológico e 
serem confrontados com uma elevada taxa de mortalidade, o que implica uma maior 
gestão emocional dos enfermeiros quando confrontados com essa vivência (Finley & 
Sheppard, 2017). 
A amostra em estudo foi constituída pelos enfermeiros que se voluntariaram para 
participar no programa de formação. Como pré-requisitos da amostra estipulou-se que 
o número de participantes por sessão variaria entre 6 e 12. 
Foram realizados dois programas de formação como referido anteriormente. O 
primeiro programa foi constituído por doze formandos e o segundo por oito. 
No primeiro programa inscreveram-se vinte enfermeiros pelo que se recorreu à técnica 
de seleção aleatória dos participantes. Recorreu-se à atribuição de um número por 
inscrito e colocados vinte papeis num saco preto, tendo depois sido removido doze 
papeis. 
No segundo programa inscreveram-se doze enfermeiros, tendo apenas oito 
completado o programa de formação, uma vez que a presença era obrigatória em 
todas as sessões. A ausência dos participantes deveu-se ao gozo de férias 
programadas e a situações inesperadas. 
A amostra é caracterizada por ser aleatória não probabilística por conveniência. 
 
1.7- INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS 
Os dados foram recolhidos através de questionário (Apêndice 2). Como referido, a 
recolha de dados realizou-se em três momentos, o que levou a que o questionário 
sofresse modificações ao longo dos três momentos de recolha de dados. No primeiro 
momento o questionário foi dividido em duas partes. A primeira parte relativa às 
variáveis atributo apresentadas anteriormente e a segunda integrou a EAPAM e a 
ECM. 
O questionário aplicado no segundo momento integrou as escalas utilizadas no 
primeiro momento de recolha de dados e a EAIP. Como referido o segundo momento 
de avaliação correspondeu ao términus do programa de formação. 
 
53 
 
O questionário utilizado no terceiro momento e que foi aplicado cerca de dois meses 
após o términus do plano de formação integrou as escalas usadas no primeiro 
momento, isto é: EAPAM e a ECM. 
 
Escala de avaliação do Perfil de Atitudes Acerca da Morte (EAPAM) 
A escala EAPAM foi traduzida e adaptada por Luís Loureiro (2010) da versão revista 
da “Revised Death Attitude Profile (DAP-R)” por Wong, Reker & Gesser (1994). Trata-
se de uma escala constituída por 32 itens, apresentada sob a forma de auto-relato do 
tipo Likert com sete possibilidades de resposta: 1 (discordo completamente); 2 
(discordo); 3 (discordo moderadamente); 4 (nem discordo nem concordo); 5 (concordo 
moderadamente); 6 (Concordo) e 7 (concordo completamente). 
Os 32 itens organizam-se em cinco dimensões: “medo” (diz respeito aos pensamentos 
e sentimentos acerca da morte, integra 7 itens: 1, 2, 7, 18, 20, 21, 32); “evitamento” 
(diz respeito a falar ou pensar sobre o processo de morrer de modo a reduzir o medo e 
ansiedade, uma vez que impulsionam a pessoa a dar significado à vida; compreende 5 
itens: 3, 10, 12, 19, 26); “aceitação neutral/neutralidade” (a morte é perspetivada pelo 
individuo como parte integrante da vida, estar vivo significa coexistir com a morte e o 
morrer; compreende 5 itens: 6, 14, 17, 24, 30); “aceitação como aproximação” 
(acreditar numa vida feliz depois da morte; compreende 10 itens: 4, 8, 13, 15, 16, 22, 
25, 27, 28, 31) e “aceitação como escape” (o escape parte do pressuposto que quando 
se vive em certas circunstâncias que produzem dor e sofrimento na pessoa, a morte 
torna-se numa alternativa para o términus do sofrimento; compreende 5 itens: 5, 9, 11, 
23, 29). 
O estudo de fidelidade do instrumento (Loureiro, 2010), revelou valores de 
consistência interna na dimensão medo de 0.84, na dimensão evitamento de 0.87, na 
dimensão aceitação/neutralidade de 0.64, na dimensão aproximação de 0.91 e na 
dimensão escape de 0.82. No estudo de Wong, Reker & Gesser (1994) verificaram-se 
os seguintes valores de consistência interna na dimensão medo de 0.86, na de 
evitamento de 0.88, na de aceitação/neutralidade de 0.65, na de aproximação de 0.97 
e na dimensão escape de 0.84. Para o estudo da validade de construto, Loureiro 
(2010) procedeu à realização de análises fatoriais em componentes principais, 
seguindo rotação ortogonal varimax. O resultado encontrado evidencia cinco fatores 
com valores próprios ≥1.00, e que explicam na totalidade 58.89% da variância. A 
medida KMO é de 0.905 valor considerado muito bom, assim como o resultado do 
teste de esfericidade de Bartlett (χ2 (496): =22120.7; p=0.000). A estrutura fatorial 
54 
 
emergida da análise é consistente tanto com os pressupostos teóricos que presidiram 
à construção do instrumento, assim como semelhante à solução obtida por Wong, 
Reker & Gesser (1994), apresentando os itens cargas fatoriais (factorial loadings) nas 
dimensões que lhe são devidas. 
No estudo desenvolvido encontrou-se as mesmas dimensões e os alfas de Cronbach 
das cinco dimensões “medo”, “evitamento”, aceitação neutral/neutralidade”, “aceitação 
como aproximação” e “aceitação como escape”, foram de ∝= 0.89; ∝= 0.93; ∝= 0.78; 
∝= 0.91 e ∝= 0.80 respetivamente. Para os 32 itens foram encontrados valores totais 
de: ∝= 0.86, revelando bom nível de consistência interna. 
 
Escala de Coping com a Morte (ECM) 
A escala ECM foi traduzida e adaptada por Ana Paula Camarneiro & Sara Gomes 
(2015) da versão inicialmente elaborada por Bugen (1980-81) e posteriormente 
validada por Robbins (1991). Trata-se de uma escala constituída por 30 itens, 
apresentada sob a forma de auto-relato do tipo Likert com sete possibilidades de 
resposta: 1 (discordo totalmente); 2 (discordo); 3 (discordo parcialmente); 4 (neutro); 5 
(concordo moderadamente); 6 (Concordo) e 7 (concordo totalmente). 
Os 30 itens organizam-se em duas dimensões: coping com a própria morte que 
compreende os itens (2, 3, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 14, 15, 18, 20, 21) e o coping com a 
morte dos outros que compreendem os itens (6, 16, 17, 19, 22, 23). 
O coping com a própria morte denota uma maior compreensão, conhecimento e 
expressividade de emoções relativas à própria morte. O coping com a morte dos 
outros diz respeito ao aumento com as competências para comunicar com, e/ou ajudar 
os enlutados e os doentes terminais (Camarneiro & Gomes, 2015). 
O estudo de validade do instrumento (Camarneiro & Gomes, 2015), revelou valores de 
consistência interna na dimensão coping com a própria morte de 0.86 e na dimensão 
coping com a morte dos outros de 0.85. O coeficiente de KMO foi de 0.81 o que 
demostra a adequação amostral e o teste de Bartlett foi significativo (1592, 10, gl=325, 
p<0.001). 
No estudo desenvolvido, encontrou-se as mesmas dimensões e os alfas de Cronbach 
das duas dimensões “coping com a própria morte e “coping com a morte dos outros”, 
foram respetivamente ∝= 0.56 e ∝= 0.88. Tendo sido encontrado para o total (dos 30 
itens) um alfa de Cronbach ∝= 0.91. 
 
55 
 
 
Escala de Avaliação de Implementação de Programas (EAIP) 
A EAIP é uma escala adaptada por Jacinto Jardim e Anabela Pereira (2006) que 
permite apreciar a qualidade do processo de implementação de um programa de 
formação, avaliando sete dimensões, designadas: apreciação global do programa 
(itens:1, 2, 3, 4, 5, 6), objetivos (itens: 7, 8, 9, 10), conteúdos (itens: 11, 12, 13, 14, 15), 
atividades (itens: 16, 17, 18, 19), participação (itens: 20, 21, 22, 23), recursos (itens: 
24, 25, 26, 27) e desenvolvimento (itens: 28, 29, 30). 
O instrumento é constituído por 30 itens tipificados numa escala de Likert de 5 pontos, 
sendo: “Mau”, “Fraco”, “Razoável”, “Bom” e “Muito Bom”. Com base no somatório de 
todas as respostas pode-se avaliar a qualidade percebida em cada uma das 
dimensões do programa, em particular, e também na sua globalidade (Jardim & 
Pereira,

Continue navegando