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W BA 12 19 _V 1. 0 ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO E EM CONCRETO ESPECIAL 2 Diogo Schreiner Zanette Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2023 ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO E EM CONCRETO ESPECIAL 1ª edição 3 2023 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR Homepage: https://www.cogna.com.br/ Diretora Sr. de Pós-graduação & OPM Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Coordenador Mariana Gerardi Mello Revisor Thiago Drozdowski Priosta Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Zanette, Diogo Schreiner Estruturas em concreto protendido e em concreto especial/ Diogo Schreiner Zanette, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2023. 33 p. ISBN 978-65-5903-354-6 1. Concreto protendido. 2. Estruturas de concreto. 3. Protensão. I. Título. CDD 624 _____________________________________________________________________________ Raquel Torres – CRB 8/10534 Z28e © 2023 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. https://www.cogna.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Introdução às estruturas de concreto protendido ___________ 07 Dimensionamento e verificação de estruturas de concreto protendido __________________________________________________ 19 Perdas da força de protensão _______________________________ 32 Capacidade resistente de seções protendidas no estado limite último de flexão ______________________________________________ 44 ESTRUTURAS EM CONCRETO PROTENDIDO E EM CONCRETO ESPECIAL 5 Apresentação da disciplina O concreto armado é, sem dúvida, o material mais utilizado em estruturas de edificações. Basta um passeio em qualquer cidade do país, tanto grande como pequena, para observar o material sendo usado nos mais variados tipos de obras. Isso porque o concreto armado possui uma série de vantagens, como boa resistência mecânica às solicitações, baixo custo quando comparado a outros materiais e técnicas de execução bastante conhecidas no meio profissional. No entanto, em termos de funcionamento estrutural, o concreto armado acaba tendo algumas limitações em seu uso, principalmente devido à fissuração que surge no concreto em função de sua baixa resistência à tração. Por outro lado, essas limitações podem ser praticamente eliminadas por meio da protensão. Um elemento de concreto protendido nada mais é do que um elemento de concreto armado em que são adicionados cabos de protensão com armaduras pré-alongadas, que aplicam tensões de compressão prévias antes de a estrutura entrar em serviço. Assim, há melhor aproveitamento do concreto nas seções transversais, podendo-se adotar elementos estruturais mais leves e possibilitando vencer vãos e cargas maiores. Os objetivos dessa disciplina são mostrar uma visão geral do funcionamento das estruturas protendidas, dos sistemas usuais de protensão e dos materiais e equipamentos empregados, assim como apresentar algumas noções de dimensionamento e verificação de seções 6 transversais de concreto protendido, tanto no que se refere às tensões nos estados limites de serviço quanto à capacidade resistente no estado limite último, e ainda discutir o fenômeno das perdas imediatas e progressivas de protensão. Bons estudos! 7 Introdução às estruturas de concreto protendido Autoria: Diogo Schreiner Zanette Leitura crítica: Thiago Drozdowski Priosta Objetivos • Mostrar e discutir os conceitos básicos a respeito do concreto protendido. • Apresentar um comparativo entre as estruturas de concreto protendido e as de concreto armado. • Demostrar o funcionamento das estruturas protendidas. • Demostrar noções de dimensionamento e verificação de peças isostáticas. 8 1. Conceito de protensão O que é concreto protendido? Em poucas palavras, é um elemento estrutural de concreto (armado) submetido a tensões prévias antes de ser colocado em serviço. Tensão prévia é a chave da definição, que curiosamente fica melhor em evidência observando a expressão concreto protendido em outros idiomas, como em inglês, que é prestressed concrete, ou em português europeu que é betão pré-esforçado. A norma da ABNT que trata do projeto de estruturas de concreto é a NBR 6118:2014, sendo que o item 3.1.4 traz a definição do termo elementos de concreto protendido como aqueles nos quais parte das armaduras é previamente alongada por equipamentos especiais de protensão, com a finalidade de, em condições de serviço, impedir ou limitar a fissuração e os deslocamentos da estrutura, bem como propiciar o melhor aproveitamento de aços de alta resistência no estado-limite último (ELU) (NBR 6118, 2014, p. 3) Pensando em objetos do nosso dia a dia, podemos ver o conceito de protensão aplicado quando, por exemplo, queremos transportar de um lugar a outro uma fileira com pouco mais de uma dúzia de livros como os da Figura 1. Para isso, em vez de levar os livros um a um, podemos aplicar com as mãos uma força de compressão nas extremidades da fileira de modo que com essa compressão os livros tenham capacidade de funcionar em conjunto, como se fossem uma viga protendida. Notem que se a força de compressão aplicada por nossas mãos não for suficiente, a fileira de livros pode se desfazer e cair no chão. Com isso, podemos perceber que a força de compressão (protensão) aplicada nas extremidades precisa ser tanto maior quanto o comprimento (vão) da fileira ou o peso (carregamento) dos livros. 9 Figura 1 – Fileira de livros “protendidos” Fonte: Shutterstock.com. 2. Vantagens do concreto protendido O concreto armado é, sem dúvida, o material mais utilizado para estruturas de edificações. Basta um passeio em qualquer cidade do país, tanto grande como pequena, para ver o concreto armado sendo usado nos mais variados tipos de obras. Isso ocorre porque o concreto armado possui uma série de vantagens, como boa resistência mecânica às solicitações, baixo custo quando comparado a outros materiais e técnicas de execução bastante conhecidas no meio profissional, possuindo longa durabilidade, suficiente capacidade para resistir ao fogo, às vibrações, aos impactos, aos efeitos térmicos, entre outras solicitações excepcionais. No entanto, em termos de funcionamento estrutural, o concreto armado possui algumas desvantagens que acabam impondo algumas limitações ao seu uso. Para apontar essas limitações, apresenta-se a seguir a Figura 2 com o esquema de forças de uma seção transversal de uma viga de concreto armado submetida à flexão. 10 Figura 2 – Seção de concreto armado submetida à flexão no estádio II Fonte: elaborada pelo autor. Aqui é necessário lembrar-se de que a linha neutra LN delimita as partes comprimidas e tracionadas, acima e abaixo da LN respectivamente, em uma seção transversal e que toda a área tracionada deve ser desprezada nos cálculos de resistência no estádio II. Isso acontece pois, devido à sua baixa resistência à tração, o concreto fissura com tensões de tração bastante baixas comparadas à sua resistência à compressão. Observando a Figura 2, nota-seque a linha neutra se encontra bem acima na seção transversal. Essa situação muito comum nas vigas de concreto armado faz com que surjam algumas características desfavoráveis: • Em função da fissuração do concreto tracionado, há pouco aproveitamento da seção transversal bruta disponível. • O concreto abaixo da linha neutra não tem mais função estrutural e acaba contribuindo apenas para aumentar significativamente o peso-próprio da estrutura, o que causa limitações para o uso do concreto armado nos casos de grandes vãos ou de carregamentos elevados. • Para que as barras de aço tracionadas atinjam a tensão de escoamento é preciso primeiro ocorrer a deformação da seção transversal, deformação essa que ocorre devido à solicitação das 11 cargas de serviço, sendo esse o mecanismo que causa as flechas nas vigas. Um elemento de concreto protendido nada mais é do que um elemento de concreto armado com cabos de protensão que aplicam tensões de compressão prévias, antes do elemento entrar em serviço. Com isso, as características desfavoráveis apontadas acima são praticamente eliminadas. A Figura 3 mostra o esquema de forças de uma seção transversal de uma viga de concreto protendido submetida à flexão, de onde pode-se perceber que a linha neutra agora está localizada bem próxima à face de baixo da seção, ficando a maior parte dela comprimida. Figura 3 – Seção de concreto protendido submetida à flexão no estádio II Fonte: elaborada pelo autor. Assim, na Figura 3 pode-se observar as seguintes características: • Com a linha neutra próxima da borda inferior, há uma significativa redução da fissuração do concreto, ou até ausência de fissuração nos níveis de protensão completa. • Como há melhor aproveitamento do concreto nas seções, pode- se adotar elementos estruturais mais leves, possibilitando vencer maiores vãos e maiores cargas com seções menores. 12 • Antes de o elemento entrar em serviço, seus cabos de aço são protendidos aplicando tensões de compressão para diminuir ou eliminar as tensões de tração que viriam a surgir, possibilitando um maior controle da deformação e das flechas de vigas e lajes. 3. Cálculo de tensões normais em seções transversais O primeiro passo para se dimensionar uma viga protendida é a determinação das tensões normais ao longo do elemento estrutural. Em termos gerais, essas tensões de tração e compressão precisam ficar dentro dos limites máximos de resistência do concreto. A maneira de se calcular essas tensões é objeto das disciplinas de Resistência dos Materiais dos cursos de graduação em Engenharia. A seguir, apresenta-se uma breve revisão do cálculo de tensões normais em elementos submetidos à flexo-compressão. Assim, de início, considera-se uma viga como a da Figura 4, que é uma viga biapoiada com carga uniformemente distribuída e com um esforço normal de compressão localizado em seu eixo longitudinal, ou mais especificamente, no centro de gravidade da seção transversal. Figura 4 – Viga de concreto protendido biapoiada Fonte: elaborada pelo autor. 13 Sempre que o esforço normal N estiver atuando no centro geométrico do elemento, a distribuição de tensões normais será uniforme e pode ser calculada pela equação a seguir: Em que: σ é a tensão normal. N é a força normal. A é a área da seção transversal bruta de concreto. A Figura 5 apresenta essa distribuição uniforme de tensões levando em conta apenas o esforço normal N na viga. Figura 5 – Tensões causadas pelo esforço normal Fonte: elaborada pelo autor. Já a carga distribuída q causa um diagrama de momentos fletores M de distribuição parabólica com valor nulo nos apoios e com valor máximo no meio do vão. Assim, em uma determinada seção da viga, as tensões causadas pelo momento fletor podem ser calculadas pela seguinte equação: 14 Em que: σ é a tensão normal na altura da ordenada y. M é o momento fletor. I é o momento de inércia da seção transversal de concreto. Na Figura 6, apresentam-se os parâmetros para se calcular essa tensão causada pelo momento fletor. É importante notar os seguintes detalhes: a origem do eixo cartesiano está no centro de gravidade CG da seção, o ponto de aplicação no momento fletor M também se dá no CG da seção, a distribuição de tensões normais s tem formato triangular com compressão máxima na borda superior e tração máxima na borda inferior e, por fim, a altura da linha neutra LN coincide, nesse caso, com a altura do centro de gravidade geométrico. Figura 6 – Tensões causadas pelo momento fletor Fonte: elaborada pelo autor. Com as tensões causadas pelo esforço normal N e pelo momento fletor M atuando ao mesmo tempo na viga, há um caso de flexo-compressão, 15 em que as tensões normais podem ser calculadas pela superposição dos dois efeitos individuais, obtendo-se assim a seguinte equação: A Figura 7 mostra essa superposição do diagrama de tensões do esforço normal com o diagrama de tensões do momento fletor. Pode- se considerar que essa é a seção do meio do vão na qual o momento fletor é máximo. Analisando o diagrama de tensões resultante, nota-se que na borda superior da seção há a soma das tensões de compressão ss oriundas do esforço normal N e do momento fletor M, sendo que, ao se fazer o dimensionamento da viga, deve-se verificar se essa tensão de compressão atuante não excede o limite de resistência à compressão do concreto. Figura 7 – Tensões causadas pela flexo-compressão Fonte: elaborada pelo autor. Por outro lado, na borda inferior a tensão de tração causada pelo momento fletor é aliviada pela tensão de compressão causada pelo esforço normal de protensão, resultando em um valor de tensão de tração si oriundas significativamente baixo. Em geral, no dimensionamento de vigas, essa tensão de tração precisa ficar menor do que a resistência à tração do concreto, ou seja, não pode haver a fissuração do concreto tracionado na borda inferior. 16 Ainda analisando a tensão si na borda inferior na seção do meio do vão, é bastante comum que a tensão de compressão causada pela força normal de protensão anule e supere a tensão de tração causada pelo momento fletor. Nesse caso, há uma seção sem tensões de tração, sem fissuração e completamente comprimida. 3.1 Protensão completa, limitada e parcial Essa última situação é o caso que se chama de protensão completa, no qual se aplica uma força normal de protensão que anula todas as tensões de tração, fazendo com que a seção transversal fique completamente comprimida. A situação anterior é o caso de protensão limitada, no qual permite-se um certo limite para a tensão de tração, limite esse que faz o concreto resistir a tensões de tração sem fissurar. Existe ainda o caso de protensão parcial, no qual as forças normais de protensão são relativamente baixas, o que permite a fissuração do concreto nos trechos mais solicitados. Porém, nesse caso, os elementos têm um comportamento mais parecido ao do concreto armado. 3.2 Efeito da excentricidade do cabo de protensão Para encerrar essa breve revisão do cálculo de tensões normais na flexo-compressão, resta abordar o efeito da excentricidade do cabo de protensão. Nas obras correntes, o esforço normal N geralmente é aplicado com uma excentricidade e em relação ao centro de gravidade CG da seção transversal. Essa posição excêntrica do cabo, além da tensão de compressão uniforme, causa um efeito equivalente a um momento fletor adicional aplicado no CG da seção, como mostra a Figura 8. 17 Figura 8 – Excentricidade do cabo de protensão Fonte: elaborada pelo autor. Para o caso de cabos de protensão excêntricos, acrescentando-se a parcela referente à excentricidade do cabo, a tensão normal na seção transversal pode ser calculada pela equação: Em vigas protendidas, nas seções do meio do vão, essa excentricidade do cabo tem um efeito bastante benéfico, porém, nas seções dos apoios, nas quais o momento fletor é nulo, a excentricidade do cabo pode causar tensões de traçãoe compressão muito elevadas nas bordas superior e inferior, causando a ruptura do concreto nessas seções de apoio. Com isso, finaliza-se este texto, em que se fez uma introdução aos conceitos básicos do concreto protendido, analisando as vantagens desse sistema em relação ao concreto armado convencional e apresentando uma breve revisão do cálculo de tensões normais nas seções transversais submetidas à flexo-compressão. 18 Referências ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6118:2014: Projeto de estruturas de concreto. Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014. CHOLFE, Luiz; BONILHA, Luciana A. S. Concreto Protendido: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2018. LEONHARDT, Fritz. Construções de Concreto: Concreto Protendido. Vol. 5. Rio de Janeiro: Interciência, 1983. 19 Dimensionamento e verificação de estruturas de concreto protendido Autoria: Diogo Schreiner Zanette Leitura crítica: Thiago Drozdowski Priosta Objetivos • Mostrar as características fundamentais dos sistemas de protensão de pré-tração e de pós- tração. • Discutir o conceito de níveis de protensão completa, limitada e parcial. • Apresentar as principais características do aço para protensão. • Apresentar os estados limites de serviço e critérios para a verificação de tensões máximas no concreto na protensão limitada ou completa. 20 1. Sistemas de protensão Desde que o concreto protendido surgiu como um sistema construtivo viável, há mais ou menos 100 anos, houve inúmeras tentativas e variações na maneira de aplicar ou transferir as forças de compressão para o concreto. De modo geral, pode-se dividir esses vários sistemas de protensão em dois grandes grupos, sendo que a principal diferença entre essas duas técnicas está no momento do tracionamento do aço, que pode ser feito antes ou depois do lançamento do concreto. Sistema de pré-tração com aderência inicial Esse sistema de protensão é empregado na fabricação de elementos pré-moldados feitos em pistas industriais com cabeceiras independentes para ancoragem dos fios antes do lançamento do concreto. O processo de execução consiste em basicamente três etapas: • Pré-alongamento e ancoragem dos fios de aço na pista de protensão. • Concretagem dos elementos em volta da armadura protendida. • Corte dos fios e transferência do esforço normal para os elementos. Com o endurecimento do concreto forma-se uma aderência entre os fios de aço e o concreto, de modo que, após o corte, os fios já previamente alongados tendem a retornar ao comprimento inicial, ocorrendo então uma transferência de esforço para o concreto e um encurtamento da peça pré-moldada. A Figura 1 mostra uma pilha de lajes alveolares pré-moldadas de concreto protendido. Pode-se notar que se trata de peças biapoiadas trabalhando à flexão e, por isso, foi usada uma quantidade maior de fios na parte de baixo das nervuras. 21 Figura 1 – Lajes alveolares pré-moldadas de concreto protendido Fonte: Shutterstock.com. Como no sistema de pré-tração os fios precisam ser retos, não sendo permitidos cabos parabólicos, nota-se na Figura 1 que foram usados alguns poucos fios na parte superior das nervuras para se evitar tração e fissuração na face superior dos elementos no ato da protensão, ao serem cortados os fios. Nesses elementos protendidos pré-moldados, a proteção do aço contra a corrosão depende principalmente da qualidade do cobrimento de concreto, e por isso é importante que esse cobrimento tenha espessura suficiente e que seja evitada a fissuração excessiva nesses locais. Sistema de pós-tração com aderência posterior No sistema de pós-tração, o pré-alongamento da armadura ativa só pode ser realizado depois do endurecimento do concreto. Isso porque os fios e cordoalhas são fixados nas ancoragens localizadas nas extremidades dos cabos, as quais se apoiam no próprio elemento estrutural. 22 A Figura 2 mostra o detalhe de uma das extremidades de um cabo de protensão de uma laje de concreto estrutural. Nesse caso, o cabo é formado por três cordoalhas de aço fixos na ancoragem, além de uma bainha achatada, um tubo respirador para injeção e um nicho plástico para facilitar o acabamento. A armadura junto da ancoragem serve para combater os esforços de punção. Figura 2 – Detalhe de um cabo pós-tracionado de uma laje protendida Fonte: Shutterstock.com. A bainha tem a função de manter, depois da concretagem, as cordoalhas livres de aderência para poderem ser alongadas pelos equipamentos hidráulicos. Depois desse alongamento cada cordoalha é fixada nas ancoragens por meio de cunhas metálicas. Em seguida, o interior das bainhas é preenchido por uma pasta de cimento com o objetivo de criar aderência entre as cordoalhas e o concreto adjacente e de proteger a armadura ativa da corrosão. 23 Uma das vantagens do sistema de pós-tração é a possibilidade de usar traçados de cabos parabólicos, podendo variar ao longo do elemento a excentricidade do cabo de acordo com o diagrama de momentos fletores. 2. Níveis de protensão As principais normas de projeto de estruturas de concreto, como a americana ACI318, a europeia Eurocode 2 e a brasileira NBR6118, tratam tanto o concreto armado como o concreto protendido como o mesmo material, apenas com a diferença do nível de protensão aplicado ao elemento. De acordo com a NBR6118:2014, em seu item 13.4, existem três níveis de protensão para o concreto estrutural, conforme resumido a seguir. • Nível 3 ou protensão completa: é o nível mais elevado, em que a quantidade de protensão aplicada ao elemento é tal que, teoricamente, não surgem tensões de tração no concreto ao longo de sua vida útil. • Nível 2 ou protensão limitada: há quantidade um pouco menor de protensão, em que se permite que surjam tensões de tração no concreto, mas que sejam baixas e fiquem limitadas à resistência à tração do concreto para que não haja fissuração no elemento. • Nível 1 ou protensão parcial: nesse nível há uma quantidade ainda menor de protensão, de modo que tensões de tração acabam fissurando o concreto, havendo necessidade de se colocar armaduras passivas no elemento para absorver a totalidade dos esforços internos de tração. Essa ideia de tensão de tração nula, na protensão completa, ou de tensão de tração limitada à resistência à fissuração do concreto, na 24 protensão limitada, é somente um artifício teórico. Isso porque mesmo nesses níveis de protensão, os elementos de concreto ficam sujeitos à fissuração, ainda que em menor intensidade, e devem sempre ter armaduras passivas para resistir a essas tensões de tração em certos locais mais críticos. Por fim, como curiosidade, pode-se afirmar que o concreto armado é um elemento protendido de Nível 0 ou protensão nula. 3.Características do aço para protensão Os elementos estruturais de concreto protendido, como vigas e lajes, possuem dois tipos de armaduras, definidas como armadura passiva e armadura ativa. Armaduras passivas As armaduras passivas são as barras de aço usuais nos elementos de concreto armado e são denominadas passivas porque passam a tensionar somente depois de o elemento estrutural entrar em uso e sofrer deformações. Na maioria dos casos, utilizam-se os aços CA-50 ou CA-60, em que CA é a indicação de aço para concreto armado e o valor numérico é a indicação da resistência característica ao escoamento fyk do aço, em kN/cm², que equivale a 500 MPa e 600 MPa, respectivamente. Essa categoria de aço para concreto armado tem módulo de elasticidade Es de 210 GPa. A Figura 3 apresenta o diagrama tensão-deformação simplificado do aço para armaduras passivas do item 8.3.6 da NBR6118:2014. 25 Figura 3 – Diagrama tensão-deformação simplificado de armadura passiva Fonte: elaborada pelo autor. O diagrama da Figura 3 mostra dois trechos característicos do comportamento do aço. O primeiro trecho é inicial elástico, no qual a tensão aumenta até o limite de fyk na mesma proporção da deformaçãoεs conforme o módulo de elasticidade Es do aço da armadura passiva. E o último trecho é final plástico, também conhecido como patamar de escoamento, no qual a tensão permanece constante mesmo com o aumento da deformação do aço. Armaduras ativas As armaduras ativas podem ser barras, fios ou cordoalhas de aço nos elementos de concreto protendido e são denominadas ativas porque sofrem um pré-alongamento inicial que produz tensões antes de o elemento estrutural entrar em uso. Em geral, o aço para protensão é fornecido em fios com diâmetros de 4 mm a 9 mm e em cordoalhas com 3 ou 7 fios enrolados em forma de hélice com diâmetros nominais variando entre 6,5 mm e 15,7 mm. Esses fios e cordoalhas são fabricados pelas siderúrgicas com aços das categorias CP-175, CP-190 ou CP-210, em que CP é a indicação de aço para concreto protendido e o valor numérico é a indicação da resistência característica à ruptura por tração fptk do aço, em kN/cm², que equivale a 26 1750 MPa, 1900 MPa ou 2100 MPa, respectivamente. Essa categoria de aço para concreto protendido tem módulo de elasticidade Ep de 200GPa. A Figura 4 apresenta o diagrama tensão-deformação simplificado do aço para armaduras ativas do item 8.4.5 da NBR6118:2014. Figura 4 – Diagrama tensão-deformação simplificado de armadura ativa Fonte: elaborada pelo autor. O diagrama da Figura 4 mostra dois trechos característicos do comportamento do aço de protensão. O primeiro trecho é inicial elástico, no qual a tensão aumenta até o limite de fpyk na mesma proporção da deformação εp conforme o módulo de elasticidade Ep do aço da armadura ativa. E o último trecho é final plástico, que também forma um patamar de escoamento, mas inclinado, no qual a tensão aumenta até o valor de fptk numa proporção significativamente maior com o acréscimo da deformação do aço. Em ambos os aços de armaduras passivas e ativas, o limite último de deformação εs e εp é convencionado como 10‰ (ou 1%). Mesmo que essas barras só venham a romper efetivamente com valores muito mais altos, na faixa de 35‰ a 80‰ dependendo da categoria do aço, as normas limitam esse valor em função da inaceitável fissuração que surge no concreto com esse nível de deformação. 27 Valores limites da força na armadura de protensão Durante as operações de protensão dos cabos, de acordo com o item 9.6.1.2.1 da NBR6118:2014, a tensão σpi da armadura tracionada não deve superar os seguintes valores limites: Essa é a tensão máxima aplicada nos cabos no momento do tracionamento dos fios ou cordoalhas pelos macacos hidráulicos. Depois disso, há diminuição da tensão no aço em função das perdas imediatas e progressivas de protensão que surgem nos elementos com a liberação das forças de compressão no concreto. 4. Limites para a tensão no concreto No processo de dimensionamento de uma viga protendida, após ser determinada a força normal de protensão e serem calculadas as tensões normais no concreto, é preciso comparar essas tensões atuantes com os limites máximos suportados com suficiente segurança pelo concreto. Para os elementos com nível de protensão limitada ou completa, a NBR6118:2014, em seu item 13.4, exige que sejam verificados os seguintes estados limites de serviço ELS, apresentados a seguir: Estado Limite de Compressão Excessiva ELS-CE Nessa verificação, a tensão normal de compressão σc em uma seção transversal não pode exceder o limite convencional estabelecido 28 como 70% do fck do concreto no elemento, conforme item 17.2.4.3.2 da NBR6118:2014. Lembrando que fck é a resistência à compressão característica do concreto após 28 dias. Nas fábricas de concreto protendido pré-moldado, em função do processo produtivo, a aplicação da protensão nos elementos é feita em dois ou três dias após o lançamento do concreto – em alguns casos em até 24 horas! Mesmo no sistema de pós-tração no local da obra, a aplicação da protensão também precisa ser feita em poucos dias. Assim, para se verificar o ELS de compressão excessiva, necessita-se do valor da resistência à compressão do concreto com idade inferior a 28 dias, a qual pode ser estimada, conforme o item 12.3.3 da NBR6118:2014, pela expressão: Em que: fckj é a resistência do concreto com idade t inferior a 28 dias, e: com: O coeficiente β1 é uma estimativa que correlaciona o valor do fck do concreto com o número de dias t do início da pega e com o tipo de cimento usado na preparação do concreto. 29 Assim, no momento da aplicação da protensão ou em outra fase posterior, a tensão de compressão no concreto em uma seção transversal qualquer do elemento não pode passar o limite de . Estado Limite de Formação de Fissuras ELS-F Nessa verificação, a tensão normal de tração σt em uma seção transversal não pode exceder o valor que inicia a formação de fissuras no concreto, sendo que, conforme o item 17.3.1 da NBR6118:2014, esse limite é atingido quando a tensão de tração máxima for igual a: Em que, de acordo com o item 8.2.5 da NBR6118:2014: Nessa equação, para concretos com idade t menor de 28 dias, pode-se estimar o valor da resistência à tração fctk,inf substituindo-se o valor de fck por fckj por meio do coeficiente β1. Assim, no momento da aplicação da protensão ou em outra fase posterior, a tensão de tração no concreto em uma seção transversal qualquer do elemento não pode passar o limite de . Estado Limite de Descompressão ELS-D As armaduras ativas no concreto protendido ficam submetidas a tensões em torno de quatro vezes maiores que as armaduras passivas no concreto armado e, por esse motivo, têm maior possibilidade de 30 corrosão sob tensão. Em alguns casos mais específicos, em função de uma classe de agressividade ambiental mais desfavorável, são mais restritivas as exigências de durabilidade relacionadas à proteção da armadura e à fissuração do concreto. Essa seria uma situação extrema, em que se exige que não haja nenhuma tensão de tração no concreto, ou seja, não pode haver a descompressão do concreto depois que o elemento for colocado em utilização. Nessa verificação de ELS de descompressão, a seção transversal tem pelo menos um ponto com tensão normal igual a zero, com todo o restante da seção permanecendo comprimida, não havendo tensões de tração em nenhum local. Assim, no momento da aplicação da protensão ou em outra fase posterior, a tensão de tração no concreto em uma seção transversal qualquer do elemento não pode passar o limite de . Com isso, finaliza-se essa leitura, em que se mostrou as características fundamentais dos sistemas de protensão de pré-tração e de pós-tração e se discutiu o conceito de níveis de protensão completa, limitada e parcial, além de se fazer uma apresentação das principais características do aço para protensão e dos estados limites de serviço e critérios para a verificação de tensões máximas no concreto. Referências ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6118:2014: Projeto de estruturas de concreto. Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014. AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. ACI 318-19: Building Code Requirements for Structural Concrete. Farmington Hills: ACI, 2019. CHOLFE, Luiz; BONILHA, Luciana A. S. Concreto Protendido: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2018. 31 EUROPEAN STANDARD. EUROCODE 2: Design of Concrete Structures – Part 1-1: General Rules and Rules for Buildings. Brussels: European Committee for Standardization, 2004. LEONHARDT, Fritz. Construções de Concreto: Concreto Protendido. Vol. 5. Rio de Janeiro: Interciência, 1983. 32 Perdas da força de protensão Autoria: Diogo Schreiner Zanette Leitura crítica: Thiago Drozdowski Priosta Objetivos • Definir o que são as perdas de protensão. • Apresentar as perdas imediatas de protensão. • Apresentar as perdas progressivas de protensão. • Introduzir noções de cálculo das perdas de protensão. 33 1. O que são as perdas de protensão? A força de protensão é provavelmente o parâmetro mais importanteno dimensionamento de elementos de concreto protendido, assim seu valor deve ser determinado com uma boa precisão adequada para cada caso. No entanto, essa determinação pode se tornar bastante complicada, já que o valor da força de protensão varia ao longo do elemento, tendo valores diferentes a cada seção transversal. Por exemplo, em um mesmo cabo de uma viga biapoiada, a força de protensão na seção do apoio é diferente da força na seção do meio do vão. E não só isso; a força de protensão varia também ao longo do tempo, de modo que a força inicial do cabo em uma seção transversal vai diminuindo gradualmente com o passar do tempo, com redução de maior intensidade nos primeiros meses, tendendo a estabilizar depois de três anos. Essas diminuições imediatas e progressivas do valor da força nos cabos são chamadas de perdas de protensão e se devem a vários fatores. Perdas imediatas de protensão Ao longo da aplicação do alongamento na armadura ativa pelos equipamentos hidráulicos e logo após a fixação dos fios ou cordoalhas nas ancoragens, ocorrem as perdas imediatas de protensão, que podem ocorrer devido a três causas: • Perdas por encurtamento elástico do concreto. • Perdas por atrito entre armadura ativa e bainha. • Perdas por acomodação da ancoragem. 34 A aplicação das tensões de protensão no concreto faz com que ocorra imediatamente um encurtamento do elemento juntamente com o cabo, aliviando sua tensão de tração. Conforme o cabo vai sendo alongado, entre as cordoalhas e a bainha, vão se formando tensões de atrito no sentido contrário ao alongamento, o que faz com que se perca parte da tensão aplicada pelo equipamento hidráulico. Assim que o alongamento previsto é atingido, a armadura ativa é presa na ancoragem por meio de cunhas metálicas, as quais cedem alguns milímetros até a fixação completa, ocasionando mais perda de protensão em função desse novo encurtamento da armadura. Perdas progressivas de protensão Logo após o fim das operações de protensão, inicia-se um novo conjunto de deformações lentas no concreto e no aço, as quais causam alívios sucessivos de tensão na armadura ativa. As perdas progressivas de protensão ocorrem de forma gradual, ao longo do tempo, e devem- se principalmente às altas tensões de compressão no concreto e de tração no aço. Essas perdas ocorrem simultaneamente e com alguma interdependência, mas podem ser separadas nas três causas seguintes: • Perdas por retração do concreto. • Perdas por fluência do concreto. • Perdas por relaxação do aço. A retração é a diminuição de volume do concreto que acontece pela perda da água para o ambiente em função da diferença de umidade relativa, ou seja, com a saída da água, o concreto vai gradualmente secando e encolhendo. A fluência é a deformação lenta do concreto quando submetido a altas tensões de compressão mantidas por longos períodos, isto é, com uma carga de compressão constante, o concreto vai gradualmente se deformando e encolhendo. Assim, a retração e a 35 fluência causam um encurtamento no elemento juntamente com seus cabos de protensão, fazendo com que a armadura ativa tenha uma perda na tensão aplicada inicialmente. A relaxação é uma diminuição da tensão de tração no aço da armadura ativa mantida com uma deformação constante, ou seja, ocorre um alívio na tensão do aço mesmo que o comprimento inicial do cabo permaneça o mesmo. 2. Perdas imediatas de protensão As perdas imediatas são as que ocorrem durante a transferência da força inicial de protensão Pi para os elementos de concreto no instante t0 e essas perdas são decorrentes das três seguintes causas: Perdas por encurtamento elástico do concreto Nas peças pré-moldadas com o sistema de pré-tração, não há cabos com bainhas e ancoragens individuais. Assim, as perdas imediatas ocorrem unicamente devido ao encurtamento elástico do concreto. Nesse sistema de pré-tração, os fios das armaduras são alongados e fixados nas ancoragens das cabeceiras da pista da fábrica. Depois de lançado e curado o concreto, os fios são cortados e tendem a voltar ao comprimento inicial, mas, devido à aderência, os fios transferem parte dessa força comprimindo o concreto e provocando o encurtamento dos elementos pré-moldados. É exatamente essa diminuição de comprimento dos fios até a compatibilização das deformações com o concreto que faz com que haja perda de parte da força inicial aplicada. Nos elementos protendidos com o sistema de pós-tração, o alongamento de um único cabo ocorre simultaneamente com o encurtamento elástico do concreto, não havendo assim perda de protensão nesse cabo. No entanto, em vigas com vários cabos, a 36 protensão sequencial de cada cabo provoca encurtamentos sucessivos no concreto e o afrouxamento dos cabos já protendidos. De acordo com o item 9.6.3.3.2.1 da NBR6118:2014, a perda média de protensão Δσp para um elemento com n cabos pode ser calculada pela expressão: Em que: αp é a relação entre os módulos de elasticidade do aço de protensão Ep e o concreto Eci. σcp é a tensão inicial do concreto ao nível do baricentro da armadura de protensão devido à protensão de n cabos. σcg é a tensão no concreto ao nível do baricentro da armadura de protensão devido à carga permanente g mobilizada pela protensão. Perdas por atrito No caso de elementos protendidos com pós-tração, nos quais o alongamento das armaduras é feito depois da concretagem, o atrito entre as próprias cordoalhas e a bainha provoca perdas de tensão significativas que devem ser levadas em conta no dimensionamento. Esse atrito faz surgirem tensões na direção oposta ao alongamento do cabo. Nos trechos com curvatura parabólica do cabo, o desvio da trajetória da armadura faz surgirem elevadas tensões de atrito no contato com a bainha. Nos trechos retos do cabo, também surgem tensões de atrito em função de ligeiras ondulações parasitas da bainha e do contato entre cordoalhas de um mesmo cabo. As perdas por atrito nos trechos retos são de menor intensidade que nos trechos curvos. 37 Em termos econômicos, para reduzir as operações de protensão, é preferível protender o cabo apenas pela ancoragem ativa em uma das extremidades, sendo que na outra seja usada uma ancoragem passiva pré-blocada ou em forma de laço. Entretanto, as perdas por atrito são cumulativas ao longo do cabo, fazendo a força de protensão ter valor variável a cada seção do elemento. Devido a esse efeito cumulativo, cabos de grande comprimento ou com muitas mudanças de direção podem ter valores de perdas por atrito exageradamente elevados, de modo que sejam necessárias medidas alternativas para reduzir essas perdas. Para atenuar as perdas por atrito em cabos longos, as alternativas seriam aplicar a protensão pelas duas pontas ou, em casos mais críticos, dividir o cabo em trechos mais curtos com ancoragens passivas intermediárias. Na Figura 1, apresentam-se dois diagramas com a variação da força inicial de protensão Pi ao longo de uma viga com vão L. Um cabo parabólico com curvatura constante teria uma variação linear para perdas por atrito, como mostra a figura. Figura 1 – Variação da força de protensão devido às perdas por atrito Fonte: elaborada pelo autor. 38 No diagrama da esquerda da Figura 1, a aplicação da protensão é feita apenas por uma extremidade, de modo que com o acúmulo das perdas por atrito ao longo do cabo, a outra extremidade teria uma diminuição da força de protensão igual a ΔP. No diagrama da direita, a aplicação da protensão é feita pelas duas extremidades, e por isso a perda por atrito cai pela metade, com valor máximo igual a ΔP/2 na seção do meio do vão. De acordo com o item 9.6.3.3.2.2 da NBR6118:2014, nos elementos estruturais com pós-tração, a perda de protensão por atrito ΔP(x) na abscissa x pode ser determinada pela expressão: Em que: Pi é a força máxima aplicada na armadura, em kN. x é a abscissa em que se calcula a perda, em m. Σα é a soma dos ângulos de desvio, em rad. μé o coeficiente de atrito entre cabo e bainha, em 1/rad. k é o coeficiente de perda por metro, em 1/m. Perdas por acomodação da ancoragem Uma outra fonte de perda imediata de protensão no sistema de pós- tração ocorre no encunhamento e acomodação da ancoragem. Durante a liberação da armadura pelo equipamento hidráulico, há o retorno das cordoalhas em alguns milímetros até sua completa fixação na ancoragem. Essa acomodação causa um encurtamento no aço, fazendo ocorrera perda da tensão inicial de protensão. 39 O deslocamento da armadura voltando para dentro da bainha faz com que surjam tensões de atrito, assim como as que surgem no alongamento, mas com sentido contrário. Essas perdas por acomodação da ancoragem também são cumulativas com variação linear e ocorrem ao longo de um trecho desde a extremidade do cabo até certo ponto em que deixam de existir. A Figura 2 mostra um detalhe de uma ancoragem para cabos com cinco cordoalhas fixadas com cunhas tripartidas. As cordoalhas podem ser protendidas todas juntas ou uma de cada vez, dependendo da potência do equipamento hidráulico. Percebe-se na figura que as cordoalhas precisam mesmo se deslocar alguns poucos milímetros para dentro até a perfeita fixação das cunhas nos furos da placa de ancoragem. Figura 2 – Ancoragem para cordoalhas fixadas por cunhas Fonte: Shutterstock.com. Os valores médios das penetrações das cunhas nas ancoragens ficam em torno de 3 mm a 8 mm e variam muito de acordo com tipos de ancoragens, números de cordoalhas, tensão de tração no cabo e características dos dispositivos. Os fabricantes dos sistemas de protensão fornecem esses valores obtidos por métodos experimentais. 40 3. Perdas progressivas de protensão Nas estruturas protendidas, há duas ocasiões críticas em que se necessita determinar o valor da força de protensão para verificar se as tensões atuantes no concreto estão dentro dos limites de segurança do material. A primeira dessas ocasiões é durante a aplicação da protensão nos cabos no tempo t0, na qual a força de protensão P0 tem o valor máximo, pois somente ocorreram as perdas imediatas, além disso o concreto ainda está ganhando resistência devido à idade e parte das cargas externas não estão atuando na estrutura. A segunda ocasião é ao longo da vida útil da estrutura no tempo t∞, na qual as cargas permanentes e variáveis atuam em totalidade e a força de protensão P∞ tem o valor mínimo, pois já ocorreram todas as perdas progressivas. As perdas progressivas começam a ocorrer logo depois da finalização da transferência da força de protensão para o concreto no instante t0 e têm efeito cumulativo, com maior intensidade nos primeiros meses, tendendo a se estabilizar depois de três anos. As perdas progressivas de protensão são decorrentes de fenômenos lentos e gradativos, com variação de deformações e tensões no concreto e no aço. Perdas progressivas por retração e fluência do concreto A retração é um fenômeno que ocorre em função da saída de moléculas de água que ficaram dentro da massa de concreto. Essa secagem vai acontecendo lentamente até atingir o equilíbrio higroscópico, que é o equilíbrio do teor de água entre o concreto e o ar do ambiente, resultando em diminuições graduais do volume da peça protendida. A fluência é um fenômeno que ocorre em função das tensões de compressão de longa duração atuantes no concreto, sendo exatamente o caso da protensão. Essas tensões de compressão mantidas ao longo 41 do tempo produzem deformações lentas no concreto, resultando em encurtamentos graduais da peça protendida. Assim, tanto o fenômeno da retração como o da fluência, produzem encurtamentos sucessivos no elemento de concreto. Dessa forma, o cabo de protensão sofre esses encurtamentos juntamente com o elemento, fazendo com que haja na armadura ativa uma perda de tensão progressiva ao longo do tempo até se estabilizarem essas deformações. Perdas por relaxação do aço A relaxação do aço é um fenômeno característico do material quando submetido a tensões de tração elevadas por longo tempo. A relaxação é um alívio da tensão de tração que ocorre no aço mesmo se mantendo o comprimento inicial constante. No caso dos elementos de concreto protendido, os cabos são tracionados e mantidos com o mesmo comprimento, mas devido às altas tensões aplicadas as armaduras perdem parte da força de protensão inicial. No início do desenvolvimento do concreto protendido, há mais ou menos 100 anos, os aços disponíveis não tinham tanta resistência e sua relaxação era muito mais intensa, de modo que as primeiras tentativas de protensão do concreto acabaram falhando, uma vez que a tensão aplicada nas armaduras acabava se perdendo devido ao fenômeno da relaxação. De acordo com a tabela 8.4 da NBR6118:2014, a relaxação do aço Ψ1000 após 1000 horas a 20°C para tensão inicial σP0 de 0,8 fptk de uma cordoalha de relaxação normal RN é de 12%, e de uma cordoalha de relaxação baixa RB é de 3,5% apenas. No Brasil, atualmente as siderúrgicas fornecem fios e cordoalhas apenas com aço RB de relaxação baixa. 42 Processo simplificado para determinação das perdas progressivas Os valores das perdas progressivas de protensão, decorrentes da retração e fluência do concreto e da relaxação do aço, devem ser determinados considerando-se a interação dessas causas. A norma NBR6118:2014 indica alguns processos para o cálculo das perdas progressivas. A seguir, apresenta-se, de forma abreviada, o processo simplificado do item 9.6.3.4.2. Admite-se que no tempo t as perdas e deformações progressivas do concreto e do aço de protensão, na posição do cabo resultante, sejam dadas por: Em que: é a variação da tensão no aço entre os tempos t0 e t, e os demais parâmetros da equação podem ser buscados diretamente no item da norma indicado acima. Por fim, percebe-se que mesmo o processo simplificado é bastante trabalhoso e complexo, mostrando que o estudo das perdas de protensão não pode ficar restrito ao que foi apresentado aqui, devendo ser ampliado e aprofundado com a leitura atenta das normas e de livros técnicos pertinentes. Com isso, finaliza-se essa leitura em que se discutiu o que são as perdas de protensão em elementos de concreto protendido, além de se apresentar os conceitos de perdas imediatas e progressivas, e também quais são os fatores e fenômenos que influenciam em cada uma dessas perdas, introduzindo algumas breves noções do cálculo das perdas de protensão. 43 Referências ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6118:2014: Projeto de estruturas de concreto. Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014. CHOLFE, Luiz; BONILHA, Luciana A. S. Concreto Protendido: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2018. LEONHARDT, Fritz. Construções de Concreto: Concreto Protendido. Vol. 5. Rio de Janeiro: Interciência, 1983. 44 Capacidade resistente de seções protendidas no estado limite último de flexão Autoria: Diogo Schreiner Zanette Leitura crítica: Thiago Drozdowski Priosta Objetivos • Discutir as características dos sistemas de protensão com cabos pós-tracionados com e sem aderência posterior. • Mostrar o fenômeno da aderência entre a armadura ativa e o concreto adjacente dos cabos de protensão pós-tracionados. • Demonstrar o procedimento de cálculo do momento resistente de uma seção de concreto protendido com armadura ativa aderente. 45 1. Sistema de pós-tração com aderência posterior O sistema de pós-tração com aderência vem sendo aplicado, de modo geral, a estruturas de médio a grande porte. Na maioria dos casos, essas estruturas são moldadas e protendidas no local da obra. Esse sistema é oferecido por empresas que fornecem todos os materiais e equipamentos necessários para a protensão, além de mão de obra especializada e de assessoria técnica. Ao longo dos anos, cada uma dessas empresas foi desenvolvendo e aprimorando os vários componentes de seu sistema de protensão, principalmente os tipos deblocos e placas de ancoragens ativas e passivas, além de outros acessórios, como bainhas, tubos para injeção de pasta de cimento, peças plásticas para formar os nichos de concretagem, espaçadores, entre outros. Além desses componentes, as empresas também precisaram desenvolver seus próprios equipamentos tensores para aplicar a protensão, juntamente com as bombas hidráulicas para produzir as pressões necessárias, e ainda os conjuntos para mistura e injeção da calda de cimento. Como todo esse processo para o desenvolvimento é demorado e custoso, patentes vão sendo registradas para esses equipamentos, o que faz cada empresa ter um sistema de protensão com características próprias, em especial as características dos modelos de ancoragens dos cabos. De modo geral, esses cabos têm capacidade de carga bastante elevada, porque cada cabo é formado por várias cordoalhas fixadas em uma mesma placa de ancoragem em suas extremidades. Alguns desses cabos podem ter resistência para uma força de protensão de mais de 500 toneladas-força, de modo que os equipamentos hidráulicos de tracionamento precisam ter capacidade semelhante e, por esse motivo, em geral são pesados e de difícil transporte e manuseio. Em função dessas capacidades de carga e do tamanho dos equipamentos 46 envolvidos, esse sistema é preferencialmente usado em estruturas de médio porte, como vigas e lajes de edifícios com extensos vãos, ou de grande porte, como pontes, viadutos, hidrelétricas e usinas nucleares. Como exemplo de uma estrutura de grande porte protendida com cabos pós-tracionados com aderência posterior, a Figura 1 mostra a vista inferior de uma ponte com destaque para as longarinas de concreto protendido com seção I. Figura 1 – Ponte com longarinas de concreto protendido com seção I Fonte: Shutterstock.com. A aderência posterior no sistema de pós-tração Em um cabo pós-tracionado, durante a aplicação da protensão, a transferência da força de compressão para o elemento é feita por meio das ancoragens ativas ou passivas nas extremidades do cabo. Depois que as armaduras ativas são alongadas até seus comprimentos finais, a injeção de calda de cimento é feita até que se preencha 47 completamente todos os vazios no interior da bainha. Esse procedimento tem a função de produzir a aderência entre a armadura e o concreto e também de proteger o aço contra a corrosão. Em função da perfeita aderência que se forma com o endurecimento da pasta de cimento, o aço da armadura ativa e o concreto passam a se deformar em conjunto. A partir de então, a armadura ativa tem exatamente o mesmo comportamento de uma armadura passiva em uma seção de concreto armado. Nota-se que depois da formação da aderência, as ancoragens nas extremidades dos cabos já cumpriram sua função e não são mais necessárias no funcionamento estrutural do elemento. No entanto, não seria possível se reaproveitar essas ancoragens, já que sua retirada possivelmente causaria danos localizados nas peças. Ao final da execução da estrutura, essas ancoragens acabam ficando incorporadas no interior do elemento. A Figura 2 mostra o detalhe da ancoragem de um cabo pós-tracionado com aderência posterior, em que se pode perceber os vários componentes que formam um cabo de protensão como as cordoalhas, a bainha metálica de formato circular, o cone para formar a transição e a placa de ancoragem. Figura 2 – Detalhe da ancoragem de um cabo de pós-tração Fonte: Shutterstock.com. 48 2. Sistema de pós-tração sem aderência Na protensão sem aderência, de acordo com o item 3.1.9 da NBR6118:2014, a armadura ativa é pré-alongada após o endurecimento do concreto utilizando como apoios partes do próprio elemento estrutural, mas não sendo formada aderência posterior com o concreto. Assim, a ligação entre o cabo de protensão e o elemento é feita apenas por meio das ancoragens, sendo, portanto, os únicos pontos em que a força de protensão é transferida para o concreto. Desse modo, diferentemente do sistema de pós-tensão com aderência posterior entre aço e concreto, as ancoragens passam a ter importância fundamental na preservação da protensão, devendo ser mantidas íntegras e protegidas da corrosão ao longo de toda vida útil da estrutura. No Brasil, a primeira obra construída com concreto protendido foi a Ponte do Galeão, no Rio de Janeiro, inaugurada em janeiro de 1949. A Figura 3 mostra uma foto da época da montagem da ponte em que se pode ver as vigas protendidas de seção I com o sistema Freyssinet de protensão, com cabos pós-tracionados sem aderência posterior. Figura 3 – Foto da montagem da Ponte do Galeão, Rio de Janeiro Fonte: Vasconcelos (1992). 49 A ponte foi executada com cabos pós-tracionados sem aderência posterior constituídos por 12 fios de aço com 5 mm de diâmetro paralelos e dispostos em volta de uma mola central de arame recozido. Os fios e a mola foram envolvidos em duas ou três camadas de papel kraft impregnado com betume, que tinha a função de evitar a penetração da pasta de cimento para dentro do cabo e de funcionar como lubrificante na ocasião do alongamento dos fios após o endurecimento do concreto. A mola central do cabo garantia a presença de um vazio interno permitindo a injeção de calda de cimento, cuja finalidade era apenas a proteção contra a corrosão, uma vez que a aderência não poderia ser formada por causa da bainha de papel kraft e betume. Essa antiga técnica de cabos não-aderentes usados na Ponte do Galeão era um sistema muito artesanal, deixando de ser usado há muito tempo em função da preferência por sistemas com nível de industrialização cada vez maior. Atualmente, no mundo todo, a utilização da protensão passou a ser economicamente vantajosa também em obras de menor porte, especialmente em lajes planas ou nervuradas de edifícios residenciais e comerciais. Isso ocorreu em função do desenvolvimento do sistema de monocordoalhas engraxadas, que simplificou a aplicação da protensão nas estruturas com a utilização de cabos com poucos componentes e equipamentos mais leves e acessíveis. Sistema de protensão com monocordoalhas engraxadas Nesse sistema de monocordoalha, o cabo de protensão é formado por uma única cordoalha com um conjunto de ancoragem em cada extremidade. Esse conjunto de ancoragem é formado por um bloco de ferro fundido, uma cunha bipartida, uma luva plástica de transição bloco-cordoalha e um molde plástico para formar um nicho para facilitar a aplicação da protensão. 50 As cordoalhas são as mesmas utilizadas para a protensão aderente, sendo compostas por sete fios enrolados ao redor de um fio central. No Brasil, são produzidas com aço CP-190 ou CP-210 e fornecidas com diâmetros nominais de 12,7 mm ou 15,2 mm. Ao final do processo de fabricação na siderúrgica, as cordoalhas são envoltas com uma camada de graxa e com uma capa de polietileno de alta densidade. A capa plástica funciona como se fosse uma bainha que, juntamente com a graxa, protege o aço contra a corrosão e permite o alongamento da armadura depois do endurecimento do concreto. Finalizado o alongamento, a cordoalha é fixada no bloco de ancoragem por meio de cunhas bipartidas, faltando apenas fazer o corte do segmento excedente e o acabamento do nicho com cimento. Posteriormente, não se faz nenhum outro procedimento semelhante à injeção de calda de cimento, de modo que as cordoalhas permanecem sem nenhuma aderência com o concreto, pois estão no interior da bainha. Ao longo de toda a vida útil da estrutura, os únicos pontos de transferência das tensões de compressão são a próprias ancoragens. Desse modo, uma eventual falha na ancoragem faz com que a cordoalha se solte e toda protensão no cabo seja perdida. Por esse motivo, as ancoragens precisam ser bem protegidas contra danos físicos, assim como contra a corrosão, o que faz esse sistema não ser recomendado para locais de agressividade ambiental elevada. 3. Verificação da capacidade resistente no ELU Os procedimentosapresentados a seguir são uma adaptação do item 3.3 da dissertação de mestrado de Zanette (2006), que trata da verificação da capacidade resistente de seções de vigas protendidas com monocordoalhas engraxadas. 51 Tanto elementos de concreto armado como protendido devem ter suas seções críticas verificadas quanto a sua capacidade resistente. Essa verificação tem o objetivo de assegurar que a seção transversal do elemento – formada pelo concreto e pelas armaduras ativa e passiva – tenha adequada margem de segurança à ruína. O estado limite último é denominado como a situação em que a peça perde sua capacidade resistente. Essa situação pode acontecer por uma dessas duas circunstâncias ou pelas duas simultaneamente: esmagamento do concreto e alongamento excessivo do aço. Tratando- se de vigas de concreto protendido, é necessário que sejam verificados pelo menos os estados limites últimos de flexão e de flexão no ato da protensão, além do estado limite último de cisalhamento. Estado limite último de flexão Nas vigas adequadamente armadas, o processo de ruptura se inicia pela deformação exagerada das armaduras de flexão e pela acentuada fissuração do elemento. Na medida em que cresce o carregamento atuante, a deformação e a fissuração se intensificam, reduzindo a altura da zona comprimida e aumentando a tensão de compressão no concreto. No instante em que se atinge sua resistência à compressão, o concreto esmaga-se e provoca a ruína final da viga. Uma vez que o processo de ruptura se inicia com o alongamento exagerado na zona tracionada e se encerra com o esmagamento da zona comprimida, o elemento fornece um amplo aviso da aproximação do colapso. Essa descrição é característica de elementos com ruptura dúctil e está relacionada a dimensionamentos nos domínios 2 e 3, com ou sem armadura passiva de compressão. Há também elementos fletidos com ruptura frágil, nos quais, com o aumento do carregamento, ocorre o 52 esmagamento do concreto sem que a parte tracionada do elemento apresente fissuração acentuada. A ruptura frágil está associada a deformações da seção transversal no domínio 4, com ou sem armadura passiva de compressão. A seguir, apresenta-se o procedimento de cálculo do momento resistente no domínio 3 de uma seção transversal de concreto protendido com armadura ativa aderente. Para uma boa compreensão, é importante que o leitor esteja familiarizado com os critérios e hipóteses de cálculo estabelecidos no item 17.2 da NBR6118:2014, que são abordados nas disciplinas de concreto armado. Nessa etapa do projeto de vigas protendidas, já estão determinadas as dimensões da seção transversal de concreto e a área de aço Ap da armadura ativa, restando apenas definir a área de aço As para a armadura passiva tracionada. Então, escolhendo-se uma quantidade As qualquer para essa armadura passiva, se tem uma seção transversal completamente definida, de modo que se pode obter o momento resistente MRd do elemento por um procedimento de verificação de seções transversais. No caso de o momento resistente de cálculo da seção ser insuficiente para absorver o momento solicitante de cálculo, ou seja MRd < MSd, deve-se adicionar tanto armadura passiva quanto necessária para aumentar, a níveis seguros, sua capacidade resistente de flexão. A Figura 4 mostra (a) a seção transversal de uma viga de concreto protendido com armadura ativa aderente e armadura passiva de tração, e também (b) suas deformações específicas e (c) as forças resultantes de suas tensões de tração e compressão no estado limite último no domínio 3. 53 Figura 4 – Seção transversal de concreto protendido no estado limite último Fonte: elaborada pelo autor. O cálculo das deformações unitárias do concreto εc e das armaduras passiva εs e ativa εp pode ser feito conforme ilustrado na Figura 4(b), a partir das relações lineares da configuração deformada da seção transversal plana: Uma vez conhecido o diagrama de deformação unitária da seção transversal, o cálculo do momento fletor resistente MRd torna-se um problema estaticamente determinado, que pode ser resolvido pelas três equações de equilíbrio da estática plana: , equilíbrio dos esforços horizontais. , equilíbrio dos esforços verticais. , equilíbrio dos momentos fletores em relação a um ponto. 54 Como na seção transversal de vigas não atuam esforços resultantes verticais, a equação ΣRy=0 torna-se uma identidade, restando apenas as outras duas. A partir de uma dada seção transversal de concreto, pode-se calcular sua configuração deformada no ELU a partir da equação de equilíbrio dos esforços horizontais, como mostrado na Figura 4(c): Em que: A tensão na armadura passiva σsd é função da deformação local εs na altura da armadura e dos diagramas σ x ε do aço empregado. Para armaduras passivas de aço CA-50, no domínio 3, a deformação do aço encontra-se no patamar de escoamento, portanto pode-se resumir da seguinte forma: A tensão na armadura ativa aderente σpd também é função da deformação local εp na altura da armadura e dos diagramas σ x ε do 55 aço empregado. Como os aços de protensão – CP-175, CP-190 e CP-210 – possuem patamar de escoamento ligeiramente inclinado, é preciso determinar exatamente a deformação εp local para se obter a tensão σpd atuante na armadura. De qualquer maneira, a definição da configuração deformada da seção plana precisa ser obtida por um processo iterativo, no qual deve-se variar o valor da altura da linha neutra x até que se obtenha o equilíbrio dos esforços horizontais ΣRx = 0 com as hipóteses de domínio 3 de deformação de flexão no ELU. Por fim, com cada força horizontal resultante definida, pode-se obter o momento resistente MRd da seção transversal pela equação de equilíbrio dos momentos em relação à linha neutra: O procedimento de cálculo do momento resistente proposto neste item é um procedimento clássico de verificação de seções transversais de concreto com o qual, de posse da geometria da seção de concreto e das áreas de aço das armaduras ativas e passivas, verifica-se a capacidade de resistência da seção para suportar os esforços solicitantes. O processo deve ser repetido quantas vezes forem necessárias para que se obtenha um dimensionamento da área de aço As que atenda, de forma satisfatória, aos requisitos de resistência, ou seja, até que MRd ≥ MSd. Com isso, finaliza-se essa leitura em que se discutiu com mais detalhes as características dos sistemas de protensão com cabos pós-tracionados e a questão da aderência entre a armadura ativa e o concreto adjacente. Foi apresentado também o sistema de monocordoalhas engraxadas e suas aplicações e obras de pequeno e médio porte, finalizando-se com 56 a demonstração do procedimento de cálculo do momento resistente de uma seção de concreto protendido com armadura ativa aderente. Referências ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6118:2014: Projeto de estruturas de concreto. Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014. CHOLFE, Luiz; BONILHA, Luciana A. S. Concreto Protendido: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2018. LEONHARDT, Fritz. Construções de Concreto: Concreto Protendido. Vol. 5. Rio de Janeiro: Interciência, 1983. VASCONCELOS, Augusto Carlos. O Concreto no Brasil: Recordes, Realizações, História. Vol. I. São Paulo: Pini,1992. ZANETTE, Diogo Schreiner. Projeto de vigas de pequeno porte parcialmente protendidas com monocordoalhas engraxadas. 2006. 163 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Programa de Pós-Graduação em Eng. Civil, Univ. Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006. Disponível em: https://repositorio. ufsc.br/xmlui/handle/123456789/89046. Acesso em: 26 jun. 2023. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/89046 https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/89046 57 Sumário Apresentação da disciplina Introdução às estruturas de concreto protendido Objetivos 1. Conceito de protensão 2. Vantagens do concretoprotendido 3. Cálculo de tensões normais em seções transversais Referências Dimensionamento e verificação de estruturas de concreto protendido Objetivos 1. Sistemas de protensão 2. Níveis de protensão 3.Características do aço para protensão 4. Limites para a tensão no concreto Referências Perdas da força de protensão Objetivos 1. O que são as perdas de protensão? 2. Perdas imediatas de protensão 3. Perdas progressivas de protensão Referências Capacidade resistente de seções protendidas no estado limite último de flexão Objetivos 1. Sistema de pós-tração com aderência posterior 2. Sistema de pós-tração sem aderência 3. Verificação da capacidade resistente no ELU Referências
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