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VIVER BEM
REDE
CURSO DE
PSICANÁLISE 
"Cada um alcança a
verdade que é capaz de
suportar."
Jacques Lacan 
JACQUES LACAN
REDE VIVER BEM
@REDEVIVERBEM
2199559-8566
Jacques Lacan REDE VIVER BEM 
 
 
Índice 
 
Introdução 3 
Biografia 4 
Conceitos Lacanianos 5 
Estádio do Espelho 7 
Lacan o Reformador 9 
A Imagem do Corpo Unificado 10 
Referências 14 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
Jacques Lacan REDE VIVER BEM 
 
 
Introdução 
 Em quanto criava e desenvolvia as bases teóricas e praticas da psicanalise. Sigmund 
Freud (1856-1939) se correspondia e participava de encontros com colegas discípulos. O 
grupo que se constituiu em torno dele promoveu congressos regulares a partir de 1908 e 
formou a associação psicanalítica internacional, presidida pelo mestre das ramificações 
desse núcleo surgiram à geração posteriores de psicanalistas. Uma delas tem como 
principal representante o médico francês Jacques Lacan (1901-1981). Numa época em 
que a psicanalise buscava fundamentações na biologia, Lacan escolheu a linguística e a 
logica para reconfigurar a teoria do inconsciente. 
 
 Lacan retornou a obra de Freud ao lidar com conceitos como inconsciente, identificação e Eu 
(ego), se apoiando em outros autores, principalmente filósofos. Ele rejeitava a tendência de considerar 
o ego como a força dominante na estrutura psíquica do sujeito. Afirmava, em vez disso, a importância 
do Eu frente ao inconsciente. Para ele o sujeito opera em conflito eterno e a situação só é sustentável 
por meio de artifícios entre eles a alienação. 
 Na busca de uma pratica psicanalítica que conseguisse aborda os mecanismo do inconsciente. 
Lacan chegou a seu mais famoso ditado “O inconsciente e estruturado com uma imagem”. A linguagem 
passou a ocupar o centro de suas preocupações e de seu trabalho clínico e teórico. Foi nesse aspecto que 
se deu sua maior contribuição para a educação. 
 
 
 
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Jacques Lacan REDE VIVER BEM 
 
Biografia 
 Jacques Marie Emile Lacan nasceu em 1901, em paris formou-se em medicina 
e se especializou em psiquiatria, seus primeiros estudos de casos o levaram a 
formular a teoria do “estádio do Eu” (processo de reconhecimento pelo qual 
passa a criança ao se observar no espelho). Em 1934 casou-se com Marie Louis 
Blondin, com quem teve três filhos, em 1941, nasceu sua filha com Sylvia. No 
ano seguinte separaram-se de Blondin seus seminários e suas palestras 
influenciaram o meio cultural francês. Lacan teve relações tensas com as 
associações psicanalíticas de seu país. Tornou-se polemico, entre outras coisas, 
pelo folclore criado em torno de seu habito de receber pacientes em sessões 
que muitas vezes duravam apenas alguns minutos. 
 Embora formado em medicina, Lacan só teve seu primeiro contato com a 
psicanálise por meio dos artistas do surrealismo¹, como salvador dali (1904-
1989), que procuravam representar as manifestações do inconsciente. Ao se 
aproximar da pratica analítica, Lacan frequentou, como muitos intelectuais 
franceses, um curso do russo Alexandre kojéve (1902-1968) sobre o filosofo 
alemão Georg W. F. Hegel (1770-1831), fundamental para sua concepção de 
sujeito descentralizado. Tanto Hegel como Lacan, rejeitavam a identificação do 
sujeito somente com o endivido, buscando-o também na historia e nas 
estruturas sociais. Em 1951, ele propôs um retorno a Freud, utilizando a 
linguística do suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913) e a antropologia 
estrutural do francês Claude Lévi-Strauss. Tornou-se importante figura do 
estruturalismo²- corrente que defendeu a supremacia das estruturas sociais 
sobre o homem como objeto de estudo das ciências humanas, posteriormente, 
Lacan abriu o leque de referencias teóricas, chegando à matemática e à logica. 
Essa amplitude contribuiu para que o lacanismo tenha influencia em várias 
áreas, em especial na estética e na comunicação. A obra de Lacan esta reunida 
nos livros escritos e O Seminário, constituídos de transcrições das aulas que 
ministrou, a partir de 1953, em sua casa, na escola normal superior e na 
sorbonne( universidade de paris), sempre em paris. Sigmund Freud foi o criador 
da psicanálise, Jacques Lacan é considerado o seguidor que mais contribuiu e 
deu continuidade à sua obra. Morreu de câncer em paris, em 1981. 
1- Surrealismo- foi um movimento filosófico, artístico literário nascido em paris na década de 1920, inserido no 
contexto das vanguardas que viriam a definir o modernismo no período entre as duas grandes guerra mundiais. 
2- Estruturalismo- é uma corrente de pensamento nas ciências humanas que se inspiro do modelo da linguística e que 
apreende a realidade social como um conjunto formal de relações. 
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Jacques Lacan REDE VIVER BEM 
 
Conceitos Lacanianos. 
 Qualquer que seja a abordagem ou a aplicação da obra de Lacan, contudo, é 
importante ter em mente que o ensino e a transmissão de seus conceitos e suas 
pesquisas foram primordialmente orais, dando-se por meio de seminários e 
conferencia, a maioria transcrita e publicada em livro. 
 No caso de Lacan, a teoria torna o entendimento das funções da linguagem 
ainda mais complexo. Enquanto para Freud o inconsciente era, grosso modo, 
uma instância individual, para Lacan ele sai do sujeito(individuo) para abarcar 
uma rede de relações sociais ou seja, à noção do sujeito dividido, soma-se 
também o conceito de outro, podendo esse ser entendimento como uma 
combinação dos sistemas simbólicos e socioculturais. 
 No campo da educação, Lacan procurou elucidar a dinâmica entre o Eu e as 
instituições sociais, onde a escola se insere. “ele constatou que certas mudanças 
na cultura implicavam a redefiniçao das teorias freudianas de gênese da 
personalidade”, diz Leny Magalhães, professora da faculdade de educação da 
USP, referindo-se principalmente ao complexo de Édipo. “Assim, Lacan 
identificou que não estamos mais em uma sociedade orientada somente pela 
figura dos pais”. Segundo a educadora, isso quer dizer, entre outras coisas, que 
as relações sociais-antes hierarquizadas com grande rigidez, agora se distribuem 
de modo mais horizontal. “O pai, o professor e as demais figuras de autoridade 
perderam o lugar simbólico de poder e excelência”, afirma. “E essa é uma das 
bases do modelo de escola participativa, na qual o aluno assume um papel mais 
central." Leny observa ainda que, antes da psicanálise, a pedagogia não percebia 
a importância e o significado da fala do professor e do aluno e pouco se 
preocupava em escutar as crianças. Poe isso, os conhecimentos provenientes 
daquela área do saber ajudaram a perceber e explorar alguns fenômenos que 
acontecem na vida escolar, como a resistência de alguns estudantes em 
aprender e de alguns professores em ensinar certos conteúdos. “O ensino não 
é mais concebido de forma ingênua e com base nisso, tem-se a certeza de que 
não é possível havera transmissão integral de conhecimento”, diz Leny. 
 Para Lacan a psicanálise não e uma ciência, uma visão de mundo ou uma 
filosofia que pretende dar a chave do universo. A psicanálise e uma pratica, 
onde através do método da livre associação chegaremos ao núcleo do ser, ela é 
comandada por uma observação particular que e historicamente definida pela 
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Jacques Lacan REDE VIVER BEM 
 
Elaboração da noção do sujeito. Ela coloca esta noção de maneira nova, 
reconduzindo o sujeito à sua dependência significante. 
 A psicanálise Lacaniana constitui-se como um sistema de pensamento, a 
partir de um mestre que modificou inteiramente a doutrina e a clínica 
freudianas, não só forjando novos conceitos, mas também inventando uma 
técnica de analise da qual decorreu um tipo de formação didática diferente do 
freudismo clássico. Nesse sentido, é comparável ao kleinismo. Nascido dez anos 
antes. Na verdade, aparenta-se, sobretudo com o próprio freudismo, o qual 
reivindica em linha direta, à parte os outros comentários, leituras ou 
interpretações da doutrina vienense. Lacan foi, com efeito, o um dos grandes 
interprete da doutrina freudiana a efetuar sua leitura não para “ultrapassa-la” 
ou conserva-la, mas com o objetivo de “retornar literalmente aos textos de 
Freud.” Por ter surgido desse retorno, o lacanismo é uma espécie de revolução 
às avessas. Não um progresso em relação a um texto original, mas uma 
“substituição ortodoxa” deste texto. 
 Se para Freud utilizou conhecimento da física e a biologia nos seus trabalhos 
e Lacan utilizou a linguística, a logica matemática e a topologia. Lacan mostrou 
que o inconsciente se estrutura como a linguagem (o inconsciente se comunica 
com o meio social através de linguagem própria e é influenciado através desta 
comunicação). A verdade sempre teve a mesma estrutura de uma ficção, em 
que aquilo que aparece sob a forma de sonho ou devaneio é, por vezes, a 
verdade oculta sobre cuja repressão esta a realidade social. Considerava que o 
desejo de um sonho, não é desculpar o sonhador, mas o grande “outro” do 
sonhador. O desejo é o desejo do “outro”, e a realidade e apenas para aqueles 
que não podem suportar o sonho. Lacan conduziu avidamente seus estudos de 
logica e de topologia matemática que o levaram à formulação dos “matemas¹ e 
nó borromeano²” e a doutrina do real, simbólico e imaginário. Lacan preferia a 
não interferência no discurso do paciente, ou seja, deixava fluir a conversa para 
que o próprio analisando descobrisse as suas questões, pois o risco da 
interpretação, é o analista passar os seus significantes para o paciente. 
1- Matema-designa um conceito introduzido por Lacan para descrever o tipo de formação com que alguns 
conceitos centrais da psicanálise poderiam ser descrito por uma noção matemática (logica). Essas fórmulas 
representam simbolicamente os termos de uma estrutura e relações de seus componentes juntos. 
2- Nó borromeano- um no e formado por um único fio que apresenta um trajeto suficientemente particular para 
não ser reduzido a um simples anel. Quando há vários fios os chamamos de cadeia. Uma cadeia borromeano e 
uma cadeia tal que, se cortamos qualquer um dos seus anéis, todos se desligam. 
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Jacques Lacan REDE VIVER BEM 
 
Estádio do Espelho. 
 
 A primeira apresentação de Lacan sobre a concepção do estádio do Espelho 
ocorreu em uma assembleia da sociedade psicanalítica de Paris (SPP), realizada em 
junho de 1936 e logo após no congresso da associação internacional psicanalítica 
(IPA), no mesmo ano em Marienbad, na república tcheca. 
 Em síntese, o estádio do espelho é uma teoria para explicar um momento 
importante do sujeito humano, estabelecido entre os seis meses aos dois anos de 
vida da criança, sobre as funções psíquicas oriundas das transformações ocorridas 
pelas identificações. O recurso teórico que Lacan encontra para sustentar sua 
concepção é organizado sobre os termos complexo¹ e imago², aos quais podemos 
estabelecer duas operações simultâneas que podem ocorrer no tempo 
determinado. A primeira esta vinculada às operações simbólicas que decorrem da 
experiência de três complexos primordiais: o desmame, a intrusão e o Édipo. Estes 
permitem localizar as inscrições da posição subjetiva nas relações de objetos. A 
segunda concentra na descrição da identificação que se opera com a assunção da 
imago do corpo próprio e o reconhecimento de uma superfície que delimita um 
continente referente ao EU (castração). 
 A ideia é que o bebê só conseguirá encontra uma solução para tal estado de 
desamparo por intermédio de uma “precipitação” pela qual ele “antecipará” o 
amadurecimento de seu próprio corpo, graças ao fato de que ele se projeta na 
imagem do outro (figura materna) que se encontra como que por milagre diante 
dele. Essa precipitação na imagem do outro, é que leva o bebê sair da sua 
prematuração neonatal, sendo que este movimento de precipitação, neste outro, 
leva o bebê a uma alienação. O bebê tem (é obrigado) a se “alienar” para que se 
constitua um “sujeito”. 
 Com o fim da fase oral (0 a 2 anos). O bebê antes do “Estádio do Espelho” (6 
aos 18 meses) não se vê como um corpo unificado, se sente como um corpo 
fragmento. Sua mãe/seio faz parte dele e ela (mãe) sente como se ele (filho) fosse 
parte dela. 
1- Complexo- referente ao complexo de Édipo freudiano. 
2- Imago-uma imagem muitas vezes idealizada de uma pessoa, geralmente um dos pais, formada na infância e que 
persiste na idade adulta, inconscientemente. 
 
 
 
 
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Jacques Lacan REDE VIVER BEM 
 
 O bebê busca o prazer através do seio materno (leite, libido oral) porem só 
quando o bebê perde objeto do seu desejo(mãe/seio) é que ele verificar que sua 
mãe não faz parte do seu corpo e não e completa. Esta perda/separação vem 
através do “significante nome do pai” que são as leis e limitações naturais da 
vida (trabalho, individualidade, necessidades e, outras, etc.). 
 A alienação tem o sentido de que o bebê não tem uma unificação, e ele 
constitui como sujeito devido ao resultado do efeito que esse outro (mãe) tem 
no bebê. Nessas condições, o bebê (eu, sujeito), é senão a imagem do outro. É 
no outro e pelo outro que aquilo que quero me é revelado. Meu desejo é o 
desejo do outro. Não sei nada de meu desejo, a não ser o que o outro me revela. 
De modo que o objeto de meu desejo é o objeto do desejo do outro, o desejo é 
acima de tudo, uma sequela dessa constituição do eu no outro. O “sujeito”, que 
define a alienação constitutiva do ser, no encontro com espelho, verifica o 
“rapto” que esse outro opera nele. É no espelho que a criança vê seu corpo 
unificado, deixando de ser fragmento. No espelho a criança vê que ele existe e 
não é o outro(mãe), existindo duas pessoas distinta. Neste momento identifica a 
“falta” a separação da mãe e a constituição do “sujeito falante”. 
 No sujeito humano se produzem substituições de posição que fazem com 
que, a partir do momento em que começa a falar, o sujeito já não e como antes. 
O ser humano é constituído, de saída por uma divida, que não foi ele que a 
contraiu, embora tenha que paga-la. No entanto, foi nas gerações precedentes 
que ela foi contraída; o destino do ser humano é observar as dividas do outro, 
substituir o outro para pagar a divida em questão. O sujeito neurótico paga uma 
divida que não contraiu, uma divida contraída pelos outros, que o antecipa em 
sua historia. Quando realizamos um analise, pela primeira vez, não vemos o 
discurso do outro, ou o que o outro queria ou via emnós. 
 Conseguimos inserir nosso problema inicial, essa historia de alienação no 
outro, conseguimos, ao toma-la “simbólica”, ao torna-la um processo histórico 
constituído pelo e no “outro”, inseri-la na linguagem; por conseguinte, 
pensamos poder encontra uma saída para a repetição da divida, e poder 
encontra-la na “fala”. Na fala encontramos a saída para a “repetição da divida”. 
O inconsciente é o lugar onde se encontra a divida, na medida em que 
substituímos outro que a contraiu por mim. Sendo que o “desejo”, que é o 
“desejo do outro”, definira os caminhos que o outro me prescreveu. 
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Jacques Lacan REDE VIVER BEM 
 
O inconsciente é o discurso do outro, na medida em que o sujeito humano é 
efeito da linguagem, isto é, efeito de uma divida constitutiva. 
Lacan o Reformador 
 É curioso falar de um analista do futuro quando nos acostumamos a 
pensar em psicanalistas do passado. Jacques Lacan e muito diferente dos 
modelos que podemos construir como símbolos em pedestais. Em vida, ele 
soube romper com todas as expectativas aprisionadoras. Após sua morte, sua 
obra continua surpreendendo pela novidade. E, como se não bastasse o já 
publicado, há também os novos escritos, volume de 600 paginas que vem se 
adicionar as anteriores. 
 Lacan evitou que a psicanálise se transformasse em método tolo de 
adaptação social, ele pôs o futuro na psicanálise. 
 A análise lacaniana parece a mais coerente com as consequências da 
globalização sobre as pessoas, com o sujeito pôs moderno. Vivemos um 
momento de transição histórica do sujeito da era industrial para o da era da 
globalização. O complexo de Édipo também é uma estrutura que privilegia o 
sujeito da era industrial basta ver o papel fundamental que o pai tem nesse 
modelo. Agora, quando entramos na globalização, Lacan propõe que uma 
análise possa ser conduzida além do Édipo, além das significações consagradas 
no ideal paterno e de seus representantes. É a análise do futuro, de um sujeito 
de uma nova era. A psicanálise de pós-modernidade começa a desbravar esse 
caminho, seguindo as pistas deixadas por Lacan. 
 Tanto a globalização quanto a psicanálise de hoje revelam que entramos em 
um novo momento, mais propício à essência feminina. Muito da epidemia 
depressiva de nossos dias fica esclarecida pela desorientação ocasionada pela 
perda da orientação masculina. Lacan previu esses acontecimentos e deixou os 
instrumentos para tratá-los. Foi um analista reformador, com visão do futuro. 
 Para Lacan o que importa observar em um paciente em análise não e tanto o 
que ele diz, mas como diz. A interpretação lacaniana da psicanálise, com base na 
forma da linguagem, faz com seu método terapêutico desconsidere a 
necessidade de um tempo rígido para as sessões de análise. O paciente de Lacan 
fica em sessão o tempo que acha necessário. 
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Jacques Lacan REDE VIVER BEM 
 
A Imagem Unificada do Corpo 
 O corpo é o lugar continuo de introjeção de ideias de identificação e da 
sexualidade. Ele é p objeto do outro, ao mesmo tempo em que é lugar onde os 
objetos próprios se particularizam. O que a imagem unificadora do corpo faz é 
fornecer certa configuração da distribuição dos objetos, certa organização do 
espaço e do campo onde estes aparecem. A imagem fornece a representação de 
um campo visível, e não simplesmente a reprodução de propriedades naturais 
dos objetos. Essa imagem fornecida pelo outro, marcada por sua sexualidade, e 
que é tão fundamental para a constituição do eu e do sujeito, revela ao mesmo 
tempo, um drama: a imposição do desejo do outro, em contraposição ao próprio 
desejo. Essa imagem fornece elementos para compreender o que Lacan 
denominou registro imaginário, o campo dos ideais introjetados e sedimentados 
pelo outro, o registro do engodo das imagens ideais e globalizadoras. O mundo 
objeta-lo qual faz parte o próprio sujeito- é sempre constituído através do outro, 
e é por isto que a percepção dos objetos e sempre conformada à imagem 
corporal. 
 O drama fica ainda mais intenso se pensarmos que esse gozo- a marca da 
sexualidade do outro sujeito- é traumático. A própria sexuação no corpo ainda 
prematuro de um bebê traumático, como um gozo enorme que o invade, 
tornando-se a expressão da função da sexualidade que a criança experimenta 
como sendo própria, e isso precocemente. 
 Para escapar desse encontro constante com a imagem de si mesmo e do 
trauma sexual, isto é, para que o sujeito se salve da submissão ao outro, é 
preciso que sustente o seu o seu próprio desejo, seu próprio EU. 
 Podemos entender desejo como a negatividade do mundo narcísico, isto é, 
como aquilo para que não há objeto dado e conformado de satisfação plena 
como fazem parecer as imagens ideais. O desejo é sempre de outra coisa, que 
não completamente a imagem e não satisfaz as pulsões- o desejo pressupõe a 
falta. Faltas que alias, marca um das diferenças entre Freud e Lacan: enquanto 
para Freud o desejo tem uma gênese empírica na perda da simbiose do bebê 
com sua mãe. Para Lacan o desejo é a necessária relação do ser com a falta. 
Através do desejo o ser busca ajustar seu EU. 
 
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Jacques Lacan REDE VIVER BEM 
 O que da forma a este desejo é a lei, o que Lacan designou simbólico um 
registro psíquico ligado à função da linguagem. Não da linguagem comumente 
associada à comunicação de conteúdo, mas especificamente do significante 
como Lacan o toma da linguística de Saussure¹: uma realidade psíquica 
produzida por uma imagem acústica Freud deu a palavra sua importância para a 
criação e a dissolução dos sintomas, e Lacan reconheceu a primazia do 
significante não para os sintomas, mas, sobretudo na constituição do aparelho 
psíquico. Mas dentre os significantes, Lacan destaca que é fundamental o nome- 
do pai, o significante da castração que intercede em favor do sujeito, justamente 
salvaguardando-o de sucumbir ao gozo total do outro. 
 Para a linguística do Saussure, “o significado” é um conceito, uma ideia 
referenciada à palavra e não o objeto real a que se refere. Da mesma forma “o 
significante” não sua imagem acústica. O significante e o significado tem 
absoluta independência um do outro, aparecendo como um par associado, mas 
não estanque e fixo. 
 Já para Lacan, o significante não só é autônomo em relação ao significado. 
Como também tem uma importância essencial que não pode ser igualmente 
atribuída ao significado: antes de querer significar o mundo, o que é relevante 
aos bebezinhos é a relação que eles mantem com os fonemas. Diante da 
sustentação simbólica do outro. Os jogos vocálicos a que se entregam são 
visivelmente prazerosos e, como se verifica na analise pessoal a que se 
submetem os pacientes, esses jogos são fundamentais para a constituição do 
psiquismo. 
 Freud, ao destacar a fala como instrumento fundamental do trabalho 
analítico, o fez subvertendo o conceito que se tinha na época dos atos falhos e 
correlatos, então entendidos como falha de linguagem. Se for uma situação 
corriqueira não se considerar um lapso de linguagem, ou um ato falho, ou 
mesmo um esquecimento fatos reveladores e significativos, foi justamente ai, 
nesse tempo, que Freud buscou a raiz de todo psiquismo. 
1-Ferdinand de Saussure-linguista e filosofo suíço (1857-1913). Seus estudos e conceitos influenciaram Jacques Lacan e seus 
estudos e teorias psicanalíticas. 
 
 
 
11 
Jacques Lacan REDE VIVER BEMUma palavra “mal empregada” não é casual ou desprovida de sentido para 
aquele que proferiu, pois justamente ela um pouco daquilo que o recalque tenta 
encobrir o desejo suscitado pela falta aberta no aparelho psíquico, quando da 
entrada da sexualidade nele. A forma de estas palavras se apresentarem na boca 
do falante (atos falhos, lapsos, etc.) constitui, juntamente com os sonhos, o que 
Freud denominou formações do inconsciente. 
 É nesse sentido que toda palavra significante revela uma parte da verdade do 
sujeito, mas não toda, já que seu desnudamento total seria insuportável. É 
sempre preciso proferir outros “erros” para se configurar um tantinho mais 
dessa verdade psíquica. Assim vai-se de uma palavra relevante à outra (ou, dito 
de um modo lacaniano, de um significante a outro) compondo uma rede de 
significações. Pode-se dizer, então, que os significantes dialogam entre si, 
deslizam de um a outro revelando sempre um sentido expresso e outro latente- 
este último só parcialmente clarificado pela emergência de outro significante. 
 O que tais palavras significantes não revelam- ao mesmo tempo em que 
mostram- é o buraco necessário aberto no psiquismo pela falta, pela 
precocidade e pela incompletude humana, pelo fato de o homem saber-se 
mortal sem poder evitar a chegada do fim da própria existência. O traumático 
existente no pulsional se dá justamente porque o significante não consegue 
assimilar toda libido no aparelho psíquico, deixando transparece o furo, a 
insatisfação que a energia errante abre no corpo. Enfim as palavras de certo 
modo substituem e mantem um tanto distante o inevitável horror que o limite 
da vida reserva a cada um. São elas que tentam fixar a pulsão a um 
representante, dando-lhe direção. Esse próprio aparelho psíquico, no sentido de 
é um buraco real que clama por um significante que o fixe a um objeto ausente 
(denominado por Lacan objeto A- o silencio). Mas o real é mais do que objeto A: 
ele é o imponderável, o sem sentido que retorna incessantemente questionando 
o sujeito e sua existência. 
 Estes três elementos- real simbólico e imaginário- são, para Lacan, 
absolutamente indissociáveis. Registros que se entrelaçam e, juntos, dão 
consistência e existência ao psiquismo. 
 Na teoria lacaniana, portanto, o aparelho psíquico é uma estrutura única 
composta pela real e pelos registros do imaginário e do simbólico, que se 
configuram em torno de furo inicial, isto é do objeto A. 
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Jacques Lacan REDE VIVER BEM 
 O que Lacan demostra nessa articulação entre elementos é que eles podem 
se compor de três maneiras diferentes, resultando em três subestruturas 
distintas, conforme o recobrimento que se da a esse objeto A. 
 Estas três subestruturas clinicas referem-se as três formas diversas de defesas 
contra o trauma, contra o gozo. São elas: a neurose (resultante do recalque); a 
psicose (resultante da foraclusao¹) e a perversão (resultante da denegação). 
Para cada uma delas há uma modalidade distinta de falta, que são 
respectivamente: a castração, a privação e a frustração. 
 Dito de outro modo, castração- que é a lei, o que interdita o incesto, ou ilusão 
de completude imaginaria entre mãe e bebê – fundamenta-se pela falta de um 
objeto imaginário. Ou seja, é uma ação simbólica que rompe com ilusão de uma 
satisfaço plena e de uma para complementar. O agente que opera este corte é 
um real, encamado pela mãe que introduz a criança outro elemento (além deles 
dois), que lhes servirá de intermediário e marcara que entre um e outro há um 
abismo de incompreensão. Desse corte resultam a neurose e suas três 
derivações: a histeria (como insatisfação do desejo, em que a excitação sexual é 
desligada de sua representação, instalando-se no corpo), a neurose obsessiva 
(como impossibilidade de realização do desejo devido à permanência da 
excitação sexual no aparelho psíquico, mas deslocada de representação), e a 
fobia (como evitação do desejo por conta da emergência da angústia resultante 
do confronto com objeto do desejo do outro). 
 Já na privação o sujeito se ressente da ausência de um objeto simbólico. Há 
uma ação real uma falta real sobre o qual o simbólico não tem efeito, deixando 
exposta a ferida de um furo aberto. A pulsão permanece errante sem fixação no 
organismo e o recobrimento significante necessário para dar-lhe existência 
corporal não se apresenta de forma consistente para compor a rede de 
significações. O furo real é, e o agente imaginário não consegue aceder ao 
simbólico recobrindo-o o que resulta dessa ação é a psicose e suas variações: a 
paranoia; a esquizofrenia (onde não há, como na paranoia, o recurso do delírio; 
onde os objetos de perseguição são multifragmentados, invadindo maciçamente 
o individuo); e a psicose maníaca depressiva (caracterizada pela confusão 
indissociável entre desejo e gozo). 
__________________________________________________________________
1- foraclusão-conceito forjado por Jacques Lacan para designar ummecanismo especifico da psicose, através do qual se 
produz a rejeição de significante fundamental para fora do universo simbólico do sujeito. Quando essa rejeição se produz o 
significante é foracluido. Não é integrado no inconsciente como no recalque e retorna sob forma alucinatória no real do 
sujeito. No Brasil também se usam “forclusao”, ”repudio”, “rejeição “e “preclusão”. 
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Jacques Lacan REDE VIVER BEM 
 
 
 Por fim, a frustração, que é sentida imaginariamente pelo sujeito como um 
dano. Ele se sente lesado não lhe ter sido dado (por “direito” incontestável) um 
objeto preciso e real. Nesse plano, a reivindicação pelo “direito” não tem fim e 
não respeita leis e interdições- o agente simbólico fica assim, atado e sem ação 
efetiva que possibilite ao sujeito suportar a falta imposta pelo real. Estamos aqui 
no domínio da perversão. 
 Desse modo, a contribuição essencial (e diferencial) de Jacques Lacan à 
compreensão do aparelho psíquico, de seus acontecimentos e seu tratamento, 
situa-se no fato de que, a partir de suas ideias, os fenômenos, comportamentos 
e as manifestações sintomáticas não são em si fatores determinantes sobre os 
quais se possa basear uma diagnostico clínico. 
 É a composição dos elementos real, simbólico e imaginário que dará a 
dimensão da estrutura sobre a qual se deve operar, é o ponto de ancoragem 
diagnostico. Os elementos estão todos os presentes, restando saber se como se 
articulam entre si organizam o psiquismo próprio de cada um. Ou seja, o 
nascimento de um sujeito é algo datável, mas a constituição do sujeito se dá por 
um conjunto de fatores numa dada composição, que permitem o seu 
surgimento, isto é, é estrutural. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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