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Sí nd ro m es g lo m er ul ar es Prezado aluno, Desenvolvemos uma apostila interativa para oferecer um material inovador e, ainda melhor, focado na metodologia Aristo. Para uma experiência completa, sugerimos que realize os seus estudos pelo computador, possibilitando abrir os comentários das questões, respondê-las de forma interativa e até mesmo pular o conteúdo da questão respondida, em caso de acerto, para o tópico seguinte, de forma opcional. A interatividade traz novas possibilidades, mas você continua podendo abrir os seus materiais em tablets e celulares, além de poder imprimi-lo para usar em seus estudos e revisões. 3 Síndromes glomerulares 1. Fisiologia glomerular 5 2. Síndrome nefrítica 8 2.1 Achados 8 2.2 Glomerulonefrite pós-estreptocócica (GNPE) ou glomerulonefrite difusa aguda (GNDA) ⚠ 10 Questão 01 10 Questão 02 14 3. Nefropatias assintomáticas 15 3.1 Doença de Berger ou nefropatia por IgA 15 3.2 Nefropatia hereditária ou síndrome de Alport 16 4. Glomerulonefrite rapidamente progressiva (GNRP) 16 4.1 Doença de Goodpasture 18 5. Síndrome nefrótica 19 Questão 03 19 Questão 04 19 5.1 Definição 20 5.2 Achados ⚠ 20 5.3 Complicações 20 5.4 Apresentações 21 5.4.1 Doença por lesão mínima ⚠ 22 Questão 05 22 5.4.2 Glomeruloesclerose segmentar focal (GESF) 24 5.4.3 Glomerulopatia/nefropatia membranosa (GNM) ⚠ 24 5.4.4 Glomerulonefrite proliferativa mesangial 25 5.4.5 Glomerulonefrite mesangiocapilar ou membranoproliferativa 25 4 Síndromes glomerulares 6. Trombose glomerular 26 6.1 Síndrome hemolítico-urêmica (SHU) 27 TOP FIVE 28 ↺5 Síndromes glomerulares O tema síndromes glomerulares é um dos mais prevalentes nas provas no campo da Nefrologia. Nessa aula abordaremos as doenças glomerulares. Você precisa saber identificar e tratar as principais glomerulopatias, além de reconhecer as prováveis etiologias de cada uma delas e a faixa etária em que cada uma é mais dominante. Outro ponto importante é o conhecimento a respeito do sistema complemento, quando ele está normal ou diminuído, de acordo com a síndrome glomerular apresentada. Parece muita informação, mas vamos focar no que as provas realmente cobram para que você acerte todas as questões do tema! Vamos lá? 1. Fisiologia glomerular O que são os glomérulos? O glomérulo renal é formado por um emaranhado de capilares circundados por uma membrana denominada cápsula de Bowman. Ao penetrá-la, a arteríola aferente divide-se em várias alças capilares, formando o glomérulo. Esses capilares voltam a se unir formando a arteríola eferente que sai da cápsula de Bowman. Esquema demonstrando as estruturas glomerular e tubular renal ↺6 Síndromes glomerulares Representação do glomérulo renal Representação do glomérulo renal. Atenção às células mesangiais entre os capilares glomerulares O folheto externo da cápsula de Bowman é a união de células epiteliais que abarcam o ultrafiltrado sanguíneo. Já o interno é preso aos capilares glomerulares e funciona como um filtro. Há ainda neste folheto as fendas de filtração, as quais são espaços entre os podócitos das células epiteliais que envolvem o capilar glomerular. Não se esqueça do mesângio, que fica entre os capilares glomerulares, dando sustentação. A lesão mesangial está relacionada à hematúria! ↺7 Síndromes glomerulares Para entender melhor, vamos imaginar que estamos no sangue da arteríola aferente (aquela que chega ao glomérulo). Por quais camadas vamos passar antes de sermos filtrados (acompanhe pela imagem do glomérulo)? • Primeira (vermelho) → pelo endotélio fenestrado do capilar glomerular através de seus poros. • Segundo (azul) → pela membrana basal glomerular (MBG), que é contínua (faz barreira de carga para algumas proteínas). • Perceba que é a única camada contínua, e por conta disso, quando ocorrem depósitos subendoteliais ou anticorpos antimembrana basal, o padrão de imunofluorescência indireta é do tipo linear. Como as outras camadas são fenestradas ou irregulares por conta do padrão de distribuição das fendas de filtração dos podócitos, o padrão de imunofluorescência dessas é geralmente do tipo granular. • Terceira (amarelo) → pelo epitélio do capilar glomerular e seus podócitos (evitam a saída de proteínas). • Quarta → espaço de Bowman. • Quinta → túbulo contorcido proximal. Esquema ilustrativo do epitélio visceral da cápsula de Bowman ↺8 Síndromes glomerulares Veja a seguinte imagem de microscopia e correlacione com a ilustração acima. Microscopia eletrônica evidenciando as três barreiras de filtração glomerular Agora, vamos começar a falar efetivamente das doenças glomerulares ou glomerulopatias. Preparados? 2. Síndrome nefrítica Vamos iniciar as glomerulopatias pelas doenças que inflamam o glomérulo, gerando a síndrome nefrítica. 2.1 Achados Se há inflamação no glomérulo, há dificuldade de formar o ultrafiltrado e o paciente ficará congesto. Clinicamente, ele se apresenta com oligúria (< 500 mL de urina por dia), hipertensão e edema, podendo inclusive ser generalizado (anasarca). Além disso, essa inflamação pode causar hematúria, pois há acometimento das paredes dos capilares. Nesse caso, trata-se de hematúria glomerular. As hemácias estarão dismórficas, ou melhor, distorcidas, por terem passado através dos capilares glomerulares. A hematúria não glomerular acontece quando o sangramento vem abaixo dos glomérulos, por exemplo, na cistite, no câncer de bexiga, nefrolitíase, etc. ↺9 Síndromes glomerulares O exame de urina de análise dos elementos anormais do sedimento (EAS, também conhecido como exame de urina tipo 1) na síndrome nefrítica, além de hematúria glomerular, pode apresentar: • Cilindros hemáticos: muito característicos da síndrome nefrítica. • Cilindros leucocitários: também podem aparecer nessa síndrome. • Proteinúria subnefrótica: < 3-3,5 g de proteína na urina nas 24 horas. • Piúria. Cilindro hemático Então, atenção total: sempre que encontrar nas questões de prova hematúria dismórfica + edema + hipertensão + oligúria, desconfie de síndrome nefrítica! O protótipo da síndrome nefrítica é a glomerulonefrite pós-estreptocócica (GNPE), também conhecida como glomerulonefrite difusa aguda (GNDA). Vamos ver como as provas gostam de cobrar esse assunto. ↺10 Síndromes glomerulares 2.2 Glomerulonefrite pós-estreptocócica (GNPE) ou glomerulonefrite difusa aguda (GNDA) ⚠ O agente etiológico envolvido na patogênese da GNPE é o estreptococo do grupo A (S. pyogenes). Geralmente afeta a faixa etária pediátrica, que vai apresentar história epidemiológica de: • Faringoamigdalite: 1-3 semanas antes do quadro renal, geralmente documentada por anticorpo antiestreptolisina O (ASLO) positivo (80 a 90% dos casos). • Impetigo (piodermite): 2-6 semanas antes do quadro renal, geralmente com anti-DNAse B positiva (60 a 70% dos casos). Mas pode ocorrer também de anti-hialuronidase ou até mesmo ASLO positivos (mas para prova, memorize o anti-DNAse). Questão 01 (PSU - AL - AL - 2021) Menina, 8 anos, chega à emergência de um hospital geral com história de “inchaço nos olhos” há três dias, apresentando febre, mal-estar e diminuição do volume urinário há um dia. Refere episódio de faringoamigdalite há 20 dias, tendo usado antibiótico por via oral. No momento, peso: 25 kg; T: 36,9 °C, PA: 110 × 78 mmHg, FC: 110 bpm, FR: 28 ipm. Está em regular estado geral, hidratada. Há edema periorbitário bilateral, sem outros achados anormais ao exame segmentar. Hemograma sem alterações. Ureia: 52 mg/dL, creatinina: 0,8 mg/dl, sódio: 138 mEq/L, potássio: 5,2 mEq/L, cloro: 106 mEq/L. Sumário de urina - pH: 5, densidade: 1020, proteinúria ++, hematúria ++, leucócitos: 6 a 7 por campo, numerosas hemácias. Foram solicitados C3, C4, CH50, ASLO e cultura de orofaringe. Indique os resultados esperados para os níveis de complemento C3 e o C4. a) C3 e C4 diminuídos. b) C3 diminuído e C4 normal. c) C3 aumentado e C4 normal. d) C3 diminuído e C4 aumentado. CCQ:Na GNPE, os níveis de C3 e CH50 estão reduzidos Caso tenha acertado, gostaria de pular para o próximo tópico? NãoSimComentário ↺11 Síndromes glomerulares O quadro clínico da GNPE é caracterizado por oligúria + HAS + edema + hematúria micro ou macroscópica, ou seja, a síndrome nefrítica, sendo esta a doença protótipo da síndrome! O diagnóstico da GNPE deve seguir alguns pré-requisitos: • História epidemiológica de faringoamigdalite ou piodermite recente. • Período de incubação compatível. • Marcadores sugestivos de infecção estreptocócica: ASLO e/ou anti-DNAse B. • Queda do complemento transitória documentada (há essa queda nas primeiras 8 semanas) → os componentes que caem nesta patologia são o C3 e o CH50 (relacionados à via alternativa da cascata de coagulação; diferentemente do C4 e C1q, que são da via clássica). Obs.: os fatores de complemento nas síndromes glomerulares são importantes CCQs nas provas, então, para facilitar o entendimento e memorização sobre o assunto, dê uma olhada na tabela a seguir: Doenças glomerulares que cursam com QUEDA de complemento Glomerulonefrite pós-estreptocócica Glomerulonefrite membranoproliferativa Lúpus Crioglobulinemia Endocardite subaguda É importante descartar outros diagnósticos diferenciais da GNPE, sendo que, em provas, o mais frequentemente abordado é a glomerulonefrite mesangiocapilar ou membranoproliferativa. Mais adiante aprofundaremos um pouco mais sobre essa patologia. O prognóstico desta glomerulopatia é bom, já que poucos casos evoluem para insuficiência renal dialítica, porém, nos adultos o prognóstico pode ser um pouco pior. Veja na tabela a seguir o padrão esperado de evolução da GNPE: ↺12 Síndromes glomerulares ⚠⚠ História natural da GNPE Manifestação Evolução Oligúria Até 7 dias Hipertensão arterial Até 3 a 6 semanas Queda do complemento Hematúria macroscópica Hematúria microscópica Proteinúria < 1 g/d Até 8 semanas Até 3 a 6 semanas 1 a 2 anos Resolve em 4 a 6 semanas, até 2 a 5 anos E agora uma pergunta importantíssima: quando biopsiar o rim? Basicamente nos casos atípicos, que fogem do padrão de evolução descrito na tabela acima, veja: • Anúria ou oligúria por > 1 semana (ou > 72 h pela Sociedade Brasileira de Pediatria - SBP). • Hipocomplementemia > 8 semanas ou consumo de C4. • Evidência clínica ou laboratorial de doença sistêmica. • Proteinúria em faixa nefrótica > 50 mg/kg/dia em crianças, ou > 3g/dia em adultos (a SBP diz que essa proteinúria deve permanecer por > 4 semanas em crianças para indicar a biópsia). • Hipertensão arterial ou hematúria macroscópica por > 6 semanas (SBP). Aqui vai mais uma dica importante: entenda bem a história natural da GNPE, e se em algum momento essa cronologia não for seguida, desconfie e pense na possibilidade de realização de biópsia. Mas o que o patologista vê na biópsia? A microscopia óptica é pouco específica, mas na microscopia eletrônica observam-se hipercelularidade mesangial, gibas (humps) e depósitos imunes subepiteliais na membrana basal glomerular. Tal achado é típico da GNPE e tem relação com o prognóstico da doença. A imunofluorescência revela um padrão granular e difuso de C3 intenso e vários graus de imunoglobulina G no mesângio e na parede dos capilares glomerulares. ↺13 Síndromes glomerulares Microscopia eletrônica típica de uma GNPE - gibas (seta azul)/membrana basal glomerular (seta branca) É importante ressaltar também as contraindicações da biópsia, afinal, é um procedimento invasivo e com riscos: • Condições renais: • Múltiplos cistos. • Rim único. • Pielonefrite aguda, abscesso perinefrético ou infecção de pele sobre o local da biópsia. • Neoplasia renal. • Hidronefrose ou malformações renais que dificultem o procedimento. • Condições do paciente: • Distúrbios de coagulação. • HAS grave não controlada com medicações. • Uremia. • Obesidade. • Paciente não colaborativo. ↺14 Síndromes glomerulares Questão 02 (PSU - AL - AL - 2022) Adolescente, sexo feminino, 16 anos, dá entrada no pronto-socorro queixando-se de hematúria, há cerca de 6 dias. Fez uso de fosfomicina por conta própria, sem melhora. Nega disúria, dor lombar ou febre. Nega comorbidades. Ao exame, apresenta FC: 90 bpm, PA: 152 × 92 mmHg. Observa-se edema periorbitário bilateral e edema em membros inferiores, sem outros achados. Realizados exames, com Hb: 10,5 g/dL; leucócitos: 11 mil/mm³; plaquetas 170 mil/mm³. Na: 140 mEq/L; K: 3,8 mEq/L; Cr: 1,6 g/dL, Ur: 75 mg/dL. Sumário de urina com hematúria: 3+/3; proteinúria: 2+/3; ASLO: 1000 UI/mL (VR <200). Diante dos dados clínicos apresentados, em relação à conduta terapêutica, é correto afirmar: a) Antibioticoterapia é a melhor escolha para resolução do quadro renal. b) Diuréticos de alça são contraindicados devido à disfunção renal. c) É recomendada restrição hídrica e dieta hipossódica. d) Os betabloqueadores são os anti-hipertensivos de escolha. Caso tenha acertado, gostaria de pular para o próximo tópico? NãoComentário Sim CCQ: O tratamento da glomerulonefrite pós-estreptocócica (GNPE) se baseia na restrição hídrica e dieta hipossódica O tratamento da GNPE consiste basicamente em medidas de suporte, tais como repouso e restrição hídrica/salina. A terapia medicamentosa com diurético de alça (furosemida) e anti-hipertensivos (antagonistas de canal de Ca ou vasodilatadores diretos) pode ser necessária, pois a hipertensão e o edema são volume-dependentes. Em casos mais complexos e atípicos (visto que a maioria tem boa evolução), como nos quadros de insuficiência renal aguda grave e congestão refratária, a diálise pode ser implementada. Normalmente, há recuperação espontânea da diurese em 7 dias após o início da doença, sendo este o melhor parâmetro para avaliar a resposta ao tratamento. A antibioticoterapia é realizada para exterminar as cepas nefritogênicas e interromper a cadeia de transmissão. Contudo, não melhora o quadro atual e nem previne a GNPE quando realizada após o quadro de faringoamigdalite ou piodermite (não confunda com a febre reumática, cujo antibiótico tem sim poder de prevenir novos episódios e complicações). O antibiótico de escolha é a penicilina G benzatina, mas outros possíveis são a penicilina V e a eritromicina. ↺15 Síndromes glomerulares 3. Nefropatias assintomáticas Vamos continuar falando agora de glomerulopatias que causam alterações urinárias e que geralmente são assintomáticas. A glomerulopatia mais representativa nesse caso é a doença de Berger (ou nefropatia por IgA). 3.1 Doença de Berger ou nefropatia por IgA É a glomerulopatia primária mais frequente, porém é subdiagnosticada; acomete duas vezes mais homens do que mulheres. A fisiopatologia da doença consiste no depósito de IgA no mesângio, que causa a sua inflamação, acarretando hematúria. O seu quadro clínico pode variar desde uma hematúria macroscópica intermitente (50%), a uma hematúria microscópica persistente, ou ainda uma síndrome nefrítica (10%), mas com complemento normal. Pode ser deflagrada por fatores estressores como infecção (tipicamente faringoamigdalites ou gastrointestinais), trauma, exercícios físicos vigorosos e vacinas. Outras condições também podem estar associadas à deposição de IgA no mesângio, como a cirrose hepática, infecção pelo HIV, doença celíaca e dermatite herpetiforme. O diagnóstico é dado pela clínica de hematúria ou síndrome nefrítica + dosagem de IgA sérica aumentada e evidência de depósitos de IgA cutânea através de biópsia. Entretanto, esta última é reservada para pacientes que apresentem hipertensão arterial e/ou proteinúria >1g/d e/ou alteração da filtração glomerular, tendo em vista que os casos apenas com hematúria isolada costumam ser autolimitados e com bom prognóstico. Calma aí! A GNPE e a doença de Berger cursam com síndrome nefrítica e têm relação com infecções prévias, então como vou diferenciá-las? Através do período de incubação! Na GNPE, o período de incubação ocorre entre a faringite/piodermitee a síndrome nefrítica. Já na nefropatia por IgA, a síndrome nefrítica geralmente é concomitante à infecção de via aérea superior. Além disso, o complemento na síndrome de Berger está normal. GNPE vs. Berger Características GNPE Berger/nefropatia por IgA Tempo de incubação Semanas após a infecção Durante ou logo após a infecção Complemento Reduzido Normal Em relação ao prognóstico, 5-30% dos casos desaparecem e mais da metade dos casos não evolui para insuficiência renal (IR); 25-30% evoluem para doença renal em 20 anos, e cerca de 5% têm evolução rápida para IR. Retenção de escórias nitrogenadas, HAS e proteinúria > 1 g/dia são os principais preditores de pior prognóstico. ↺16 Síndromes glomerulares Outros fatores de mau prognóstico são a ausência de hematúria macroscópica, acometimento em homens mais velhos e a presença de glomeruloesclerose com crescentes e IgA nas alças capilares. O tratamento dessas glomerulopatias depende da apresentação clínica: • Se for somente hematúria: acompanhamento. • Se proteinúria > 1 g/dia e/ou HAS: prescrever inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) para nefroproteção. • Se azotemia: pulsoterapia com corticoide e internação hospitalar. Por fim, vamos ao último CCQ da nefropatia por IgA: um importante diagnóstico diferencial é a púrpura de Henoch-Schonlein, uma vasculite por IgA que também pode cursar com insuficiência renal. Porém, nela há outros sintomas associados que tipicamente aparecem nas questões, como dor abdominal e artralgia. 3.2 Nefropatia hereditária ou síndrome de Alport É uma doença genética autossômica recessiva ligada ao cromossomo X. Deve-se considerar esse diagnóstico em pacientes com hematúria, perda auditiva neurossensorial (geralmente acomete frequências mais altas) e/ou de visão (catarata é a mais comum) ou história familiar de doença renal crônica. A perda renal muitas vezes pode passar despercebida na infância, sendo mais frequentemente identificada após os 20 anos. O diagnóstico deve ser confirmado por biópsia do rim ou, às vezes, da pele, além de imunocoloração para o colágeno do tipo IV ou teste genético molecular. O tratamento é igual ao da insuficiência renal crônica por outras causas. Lembre-se que inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA) ou bloqueadores dos receptores de angiotensina II podem diminuir a progressão da doença renal, portanto são um importante componente terapêutico. 4. Glomerulonefrite rapidamente progressiva (GNRP) É uma síndrome em que o paciente evolui rapidamente para perda da função renal e diálise. Pode ser iniciada por GNPE, doença de Berger ou outras síndromes nefríticas. Caracteristicamente, no exame histopatológico, há o aparecimento das famosas crescentes em mais de 50% dos glomérulos, que inflamam intensamente e causam a situação, ocorrendo a liberação de fibrina e monócitos no espaço de Bowman. Esse processo acaba por destruir tais glomérulos. ↺17 Síndromes glomerulares Histopatologia da GNRP com presença de crescentes em mais de 50% dos glomérulos Existem diferentes tipos de GNRP, os quais são classificadas de acordo com o mecanismo da lesão: • Tipo I: a principal causa é a doença de Goodpasture. O padrão de imunofluorescência (IF) é linear, pois acomete a membrana basal, que é contínua. O anticorpo positivo característico é o anticorpo anti-MBG. • Tipo II: as principais causas são a idiopática, infecciosa, GNPE e associada ao lúpus eritematoso sistêmico (LES). O padrão de imunofluorescência (IF) é granular e há queda de complemento. • Tipo III: as principais causas são a granulomatose com poliangiite (granulomatose de Wegener), a poliangiite microscópica (PM) e a glomerulonefrite crescêntica pauci-imune. O padrão de imunofluorescência (IF) não demonstra depósitos. O anticorpo caracteristicamente positivo é o ANCA (anticitoplasma de neutrófilos), em que há c-ANCA positivo na granulomatose com poliangiite e p-ANCA na PM. Como se trata de uma evolução dramática, o tratamento é a pulsoterapia com corticoides associados a imunossupressores. Na doença de Goodpasture, pode-se realizar plasmaférese. ↺18 Síndromes glomerulares 4.1 Doença de Goodpasture É uma nefropatia primária muito rara que atinge mais homens do que mulheres (6:1). A principal característica dessa doença é que ela acomete a membrana basal glomerular, levando ao surgimento de crescentes e, na maioria dos casos, à insuficiência renal terminal. Clinicamente, ocorre também acometimento pulmonar (dispneia ou mesmo hemoptise), sendo uma síndrome pulmão-rim. Há positividade do anticorpo antimembrana basal. Então, para fechar o seu diagnóstico precisamos ter os seguintes achados: • Clínica: síndrome pulmão-rim. • Anticorpo antimembrana basal glomerular (anti-MBG): positivo. • Complemento: normal. • Imunofluorescência: depósito de IgG padrão linear (volte na parte de fisiologia glomerular para entender o porquê!). Imunofluorescência padrão linear O tratamento da síndrome de Goodpasture é feito com a pulsoterapia com corticoides e a plasmaférese para a retirada dos anticorpos anti-MBG. O diagnóstico diferencial que pode ser cobrado em prova é a síndrome de Weil (leptospirose), que também é marcada por uma síndrome pulmão-rim, porém há aparecimento de icterícia, além de história epidemiológica compatível. ↺19 Síndromes glomerulares 5. Síndrome nefrótica Questão 03 (HIAE - SP - 2021) Um menino de 2 anos e 7 meses foi internado por apresentar edema generalizado. A anamnese e o exame físico revelam urina espumosa e edema insidioso, frio, depressível e periorbitário, aumentando progressivamente durante o dia. O exame laboratorial MENOS esperado para esta criança, dentre os abaixo, é a) Hipocomplementemia. b) Relação proteína/creatinina urinária de 2,5 mg/mg. c) Albumina sérica de 1,9 g/dL. d) Proteinúria de 50 mg/m²/hora. e) Pressão arterial dentro dos limites normais Caso tenha acertado, gostaria de pular para o próximo tópico? NãoComentário Sim CCQ: A hipocomplementemia não é esperada na síndrome nefrótica Questão 04 (HCMT - MT - 2022) Entre as características da síndrome nefrótica podemos citar, exceto: a) Insuficiência renal grave como primeira manifestação do quadro. b) Proteinúria normalmente alta (> 3 g/dia). c) Hematúria discreta. d) Cilindros hemáticos improváveis. CCQ: A síndrome nefrótica cursa com albuminúria, anasarca e lipidúria, não sendo comum a manifestação de insuficiência renal grave no início do quadro Caso tenha acertado, gostaria de pular para o próximo tópico? NãoComentário Sim ↺20 Síndromes glomerulares 5.1 Definição Quando o paciente apresenta proteinúria > 3-3,5 g/dia ou ≥ 40 mg/m²/hr (adultos) ou > 50 mg/kg/dia (crianças), diz-se que ele apresenta proteinúria nefrótica. Mede-se pelo EAS (método de triagem, pois fornece resultado não numérico), urina de 24h ou pelo spot urinário. Neste último, a relação proteína/creatinina > 2,0 caracteriza proteinúria nefrótica. 5.2 Achados ⚠ Vamos entender o passo a passo do desenvolvimento fisiopatológico da síndrome nefrótica: • Começa com a proteinúria, que leva à hipoproteinemia e consequentemente à hipoalbuminemia (albumina, a principal proteína do plasma, < 3 g/dL). • Há redução da antitrombina III e proteínas C e S, levando à hipercoagulabilidade e, consequentemente, a um maior risco de trombose. • Redução das imunoglobulinas da classe IgG: maior probabilidade de infecção por microrganismos encapsulados (ex.: pneumococo). • Queda da transferrina: anemia refratária à reposição de sulfato ferroso. • Tendência hipotensiva do paciente pela redução da pressão oncótica intravascular pela hipoproteinemia. • Edema: classicamente o periorbitário. Ocorre também devido à redução da pressão oncótica intravascular pela hipoproteinemia. • O fígado eleva a produção proteica, levando ao aumento da produção de lipoproteínas que não são tão rapidamente eliminadas, acarretando hiperlipidemia e lipidúria. No EAS, é possível encontrarcilindros lipídicos. Portanto, sempre que encontrar nas questões de prova: edema + proteinúria (> 3-3,5 g/24h) + hipoalbuminemia, desconfie de síndrome nefrótica! Outra dica importante: lembre-se que a única proteína que aumenta é a alfa 2-globulina. Na prova pode cair uma eletroforese de proteínas séricas demonstrando aumento da fração alfa 2 e redução da fração gama. 5.3 Complicações Outro CCQ de grande importância nas provas em relação à síndrome nefrótica são as suas complicações, sendo as principais: • Suscetibilidade a infecções: germes encapsulados. • Atenção: síndrome nefrótica + edema + ascite → suspeitar de peritonite bacteriana espontânea (PBE) pelo S. pneumoniae. ↺21 Síndromes glomerulares • Aterogênese acelerada: maior risco cardiovascular. • Hipercoagulabilidade causando a trombose da veia renal: suspeitar na presença de hematúria macroscópica, redução do débito urinário, assimetria renal, dor lombar (pela estase sanguínea renal que aumenta as dimensões renais e distende a cápsula renal, causando dor) e varicocele à esquerda (a veia testicular esquerda desemboca na veia renal esquerda). 5.4 Apresentações Atenção! Os tipos de formas primárias de síndrome nefrótica podem dar pistas clínico- laboratoriais de sua etiologia, mas o diagnóstico definitivo só é confirmado através da biópsia renal. As exceções são quando há indícios de nefropatia diabética, e em crianças de 1 a 8 anos (pela alta probabilidade do diagnóstico ser por doença por lesão mínima). Os principais tipos (achados histopatológicos) de síndrome nefrótica são: • Lesão mínima. • Glomeruloesclerose segmentar focal (GESF). • Glomerulonefrite proliferativa mesangial. • Nefropatia membranosa. • Glomerulonefrite mesangiocapilar. Antes de seguir, vamos tornar mais palatável alguns desses termos que ocorrem no nome dos tipos de síndrome nefrótica: Principais padrões das doenças glomerulares ↺22 Síndromes glomerulares 5.4.1 Doença por lesão mínima ⚠ Questão 05 (UFPI - PI - 2019) Pedro, 7 anos, é trazido ao pronto-socorro por sua mãe com queixa de edema observado há alguns dias, que inicialmente era palpebral e há 3 dias evoluiu para membros inferiores, genitália e abdome. A mãe refere ainda que observou que a diurese está reduzida e espumosa. Ao exame físico, a criança encontra-se em regular estado geral, PA 80/40 (P50 92/55; P90 106/70; P95 110/74), anasarcada, com ascite e edema escrotal, com auscultas normais. a) A principal hipótese para essa criança é síndrome nefrótica. Deve ser feito albumina inicialmente, pois Pedro está hipotenso, anasarcado, com ascite e edema escrotal. Além disso, fazer vermífugo e depois iniciar corticoide. b) A principal hipótese diagnóstica para Pedro é síndrome nefrótica. Para confirmação diagnóstica devem ser solicitados sumário de urina, função renal, hemograma e ASLO. c) A principal hipótese diagnóstica para Pedro é síndrome nefrítica. Para confirmação diagnóstica devem ser solicitados sumário de urina, função renal, ASLO e complemento sérico e proteinúria. d) A melhor conduta para o paciente é interná-lo, expandir com soro fisiológico, pois está hipotenso; associar diurético e iniciar corticoide oral. e) A principal hipótese para Pedro é síndrome nefrítica por lesões mínimas, a qual costuma ter uma resposta fraca ao corticoide. Caso tenha acertado, gostaria de pular para o próximo tópico? NãoComentário Sim CCQ: Na presença de anasarca, na síndrome nefrótica, indica-se albumina Essa é a principal causa de síndrome nefrótica na faixa etária pediátrica e está associada com atopia, mas pode ser causada também por outros fatores, como infecções virais e alergias. Sua fisiopatologia consiste na presença de linfócitos T autorreativos que causam a fusão dos podócitos e perda da carga negativa da membrana basal glomerular, levando à albuminúria e hipoalbuminemia grave. Uma curiosidade sobre a doença é que a sua denominação (“por lesão mínima”) ocorre devido aos poucos achados na microscopia óptica e, quando identificados, o que geralmente ocorre em microscopia eletrônica, o mais comum é o apagamento dos processos podocitários. ↺23 Síndromes glomerulares Clinicamente, é caracterizada pela presença de proteinúria intensa e intermitente, edema e ascite, podendo apresentar PBE por pneumococo; pode haver também hematúria macroscópica, e não consome complemento. Associações: o linfoma de Hodgkin deve sempre ser pesquisado. Outras doenças associadas à doença por lesão mínima são os tumores sólidos e infecções por Mycoplasma. O uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) é um fator precipitante; e além deles, lítio, rifampicina, ampicilina e interferon alfa. Em 90% dos casos, tem bom prognóstico e não é necessária a biópsia, mas deve-se biopsiar se houver: • Acometimento de crianças menores de 1 e maiores de 8 anos. • Consumo de complemento. • Recidivas frequentes. • Hematúria macroscópica ou hematúria microscópica persistente. • Hipertensão arterial sistêmica severa. • Refratariedade à corticoterapia (corticorresistentes). • Insuficiência renal progressiva. • Sintomas extrarrenais. Como essa doença apresenta ótima resposta à corticoterapia, esta é o carro-chefe do tratamento. Vale lembrar que o paciente em uso de corticoide pode ser: • Corticosensível (responde bem mesmo após o fim do tratamento, com poucas ou nenhuma recidiva). • Corticodependente (responde bem inicialmente, mas ao retirar a medicação apresenta recaídas). • Corticoresistente (não atinge remissão após 8 semanas de corticoide) - prosseguir com biópsia e investigação secundária. Vale ressaltar que o curso padrão do tratamento é de até 12 semanas de uso de corticoide, por isso, é importante lembrar de reduzir a dose de forma lenta e gradual na hora de suspendê-lo, evitando assim uma insuficiência adrenal. Nos pacientes que apresentam resistência a esses fármacos, está indicada a realização de biópsia, podendo ser utilizados inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) e/ou ciclofosfamida. A furosemida não está indicada em altas doses, pois, considerada sua tendência hipotensiva, pode levar ao choque (lembre-se que o intravascular desses pacientes está muitas vezes depletado, apesar do edema). Inclusive, um parâmetro importantíssimo para acompanhamento da resposta terapêutica é o peso diário do paciente! Pacientes instáveis hemodinamicamente ou com hipoalbuminemia podem receber reposição de albumina. ↺24 Síndromes glomerulares 5.4.2 Glomeruloesclerose segmentar focal (GESF) É a principal causa de síndrome nefrótica em adultos, podendo ser de etiologia primária ou secundária. • Primária: início agudo. É idiopática e geralmente córticorresistente. • Secundária: é insidiosa e possui causas variadas, como HIV (essa é a principal correlação nas provas), heroína e linfomas (mecanismo não esclarecido); lúpus eritematoso sistêmico (LES) e vasculites (sequela de doenças necrosantes); pós-operatório, HAS e nefropatia por refluxo (por sobrecarga devido à perda de tecido renal); diabetes mellitus e anemia falciforme (por hiperfluxo sanguíneo renal). E o que significa exatamente o nome? Veja bem: • Focal (macro): dentro do rim, alguns glomérulos no rim são acometidos (é o oposto de difusa). • Segmentar (micro): dentro do glomérulo, algumas alças são acometidas (é o oposto de global). Clinicamente, se apresenta como uma síndrome nefrótica com complicações e raramente regride de forma espontânea. A proteinúria é não seletiva e também não consome complemento. A população negra, mais frequentemente acometida, geralmente apresenta um alto grau de proteinúria e insuficiência renal, sendo fatores de mau prognóstico. É resistente à corticoterapia e somente 20-40% dos casos respondem ao uso prolongado, podendo-se indicar ciclosporina para os casos refratários. IECA ou BRA estão indicados se houver proteinúria > 1 g/dia. As estatinas parecem melhorar a função renal e reduzir o risco cardiovascular. O transplante renal estáindicado, porém, a GESF pode recidivar. 5.4.3 Glomerulopatia/nefropatia membranosa (GNM) ⚠ É a segunda maior responsável pela síndrome nefrótica em adultos, embora algumas referências já o coloquem como a principal causa de síndrome nefrótica no mundo nessa faixa etária. Suas causas podem ser primárias ou secundárias, e as principais etiologias são: neoplasias sólidas (CA pulmão/mama/cólon/estômago/esôfago) e hepatite B (esses são os mais cobrados em provas); lúpus eritematoso sistêmico (LES), malária, uso de captopril, sais de ouro e D-penicilamina. Um ponto interessante é que a presença de anticorpos contra o receptor da fosfolipase A2 do tipo MA sugere doença primária, no entanto, ainda não se encontra disponível em grande escala. Inclusive, como consequência da associação entre GNM e neoplasias, algumas literaturas recomendam um screening após o diagnóstico desta glomerulopatia, conforme a idade do paciente. Ocorre espessamento da membrana basal; os depósitos subepiteliais de complexos imunes na microscopia eletrônica e o padrão granular em alça capilar de imunoglobulina G da imunofluorescência corroboram o diagnóstico. ↺25 Síndromes glomerulares É a apresentação mais associada com trombose da veia renal - lembre-se disso quando houver descrição de aparecimento súbito de varicocele (até 50% dos casos). Para esta complicação, providenciamos USG Doppler para confirmar o diagnóstico e devemos iniciar a anticoagulação rapidamente. O tratamento da GNM é realizado com corticoterapia +/- IECA/ BRA, devendo sempre tratar a causa base quando secundária. O curso da doença é crônico com remissões espontâneas e recidivas, mesmo assim o prognóstico é bom. 5.4.4 Glomerulonefrite proliferativa mesangial Pouco citada, já que há questionamentos se esse tipo existe isoladamente. Pode se apresentar de forma idiopática em 5-10% dos casos devido ao depósito de IgM e C3 no mesângio. As principais causas secundárias são a endocardite, LES e esquistossomose (depósito de IgG e C3). Sua principal manifestação clínica é a hematúria (lesão no mesângio); o complemento está normal. O tratamento é realizado com corticoide/ciclofosfamida. 5.4.5 Glomerulonefrite mesangiocapilar ou membranoproliferativa Pode se apresentar como síndrome nefrítica ou nefrótica. Tipicamente, ocorre em crianças e jovens. Leva à oligúria por expansão mesangial, reduzindo a área de filtração. Vamos aprofundar um pouco mais: este grupo de doenças têm em comum a presença de hipercelularidade mesangial, acompanhada de aumento da matriz e aspecto de duplo contorno da parede capilar glomerular, causado por alterações estruturais da membrana basal glomerular. As principais características clínicas desse quadro são a congestão + HAS + hematúria. Pode ser confundido com glomerulonefrite pós-estreptocócica. Causa hipocomplementemia (C3 e C4) com duração superior a 8 semanas, inclusive, pode dar ASLO positivo! Se associa com hepatite C, lúpus eritematoso sistêmico (LES) e trombose da veia renal. A biópsia deve ser realizada segundo as indicações para GNPE. Antes de darmos continuidade ao assunto, vamos relembrar um importante CCQ sobre a síndrome nefrótica: o que leva à trombose da veia renal? • Nefropatia membranosa. • Amiloidose renal. • Glomerulonefrite mesangiocapilar ou membranoproliferativa. Para o tratamento, o principal é a identificação da sua causa secundária e tratamento da doença de base. As formas idiopáticas podem ser tratadas com prednisona, associada à ciclofosfamida quando mais graves. ↺26 Síndromes glomerulares 6. Trombose glomerular O mecanismo fisiopatológico da trombose glomerular se baseia no acúmulo de fibrina nos capilares glomerulares, obstruindo-os e causando a perda aguda da função renal com azotemia e oligúria. Podemos agrupar esse grupo de doenças dentro das microangiopatias trombóticas (MAT), nome genérico para designar as desordens microvasculares oclusivas, caracterizadas por uma síndrome aguda de anemia hemolítica microangiopática, trombocitopenia e lesão de órgão ocasionada por agregação plaquetária na microcirculação. A púrpura trombocitopênica trombótica (PTT) e a síndrome hemolítico-urêmica (SHU) são 2 formas descritas de apresentação da MAT. Essas formas são patologicamente idênticas, mas com apresentações clínicas e etiologias distintas: • PTT clássica: predominam anormalidades neurológicas, e a lesão renal aguda é variável (geralmente menos grave que na forma SHU). • SHU: a falência renal aguda é dominante, e as anormalidades neurológicas são mínimas ou ausentes. Tabela comparativa: SHU x PTT Síndrome hemolítico-urêmica (SHU) Púrpura trombocitopênica trombótica (PTT) Epidemiologia Acomete principalmente crianças (< 4 anos) Adultos Fisiopatologia Na infância é causada por uma toxina liberada por Escherichia coli 0157:H7 e, às vezes, por Shigella dysenteriae. Essa toxina Shiga (verotoxina) lesiona diretamente os endotélios, os enterócitos e as células renais, causando apoptose, aglomerados de plaquetas e hemólise intravascular pela ligação aos receptores dos glicolipídeos. Toxina inibe a produção endotelial de ADAMTS13. Nos casos familiares de PTT/ SHU em adultos, existe uma deficiência genética da metaloprotease ADAMTS13, que cliva os grandes multímeros do fator de von Willebrand. Na ausência de ADAMTS13, esses grandes multímeros causam aglomeração das plaquetas e hemólise intravascular. Associação importante para a prova Escherichia coli 0157:H7 Baixa atividade de ADAMTS13 + Achado histopatológico depósitos hialinos subendoteliais Diferença na apresentação clínica Maior lesão renal Aparecimento de sintomas neurológicos Tratamento O tratamento é autolimitado (7 a 21 dias) e geralmente são as medidas de suporte clínico durante a vigência da doença, mas 10% podem evoluir mal. Nesses casos mais graves está indicado o uso de diálise, de preferência peritoneal, tanto pela faixa etária acometida quanto pela plaquetopenia e risco de sangramento. Não está indicado o uso de antibióticos. Plasmaférese diária para retirar os anticorpos contra ADAMTS13. Lembre-se de NÃO transfundir plaquetas! ↺27 Síndromes glomerulares De todas as patologias que cursam com esse distúrbio, a mais importante para as suas provas é a síndrome hemolítico-urêmica (SHU). 6.1 Síndrome hemolítico-urêmica (SHU) Acomete mais comumente crianças menores de 5 anos e idosos; geralmente tem relação com gastroenterite por E. coli sorotipo O157:H7, que gera uma toxina capaz de lesar o capilar glomerular. Também pode ser causada por Shigella, alguns vírus ou S. pneumoniae. O diagnóstico se dá pela clínica: • Lesão renal aguda (LRA) oligúrica + • Trombocitopenia + • Anemia hemolítica microangiopática (com esquizócitos no sangue periférico). Laboratorialmente, encontramos marcadores de hemólise alterados (aumento de LDH e reticulócitos), hipercalemia e acidose metabólica. No EAS, os achados mais comuns são a hematúria glomerular, proteinúria e cilindros granulosos. O tratamento é autolimitado (7 a 21 dias) e geralmente consiste em medidas de suporte clínico durante a vigência da doença, mas 10% dos casos podem evoluir mal. Nesses casos mais graves, está indicado o uso de diálise, de preferência peritoneal, tanto pela faixa etária acometida quanto pela plaquetopenia e risco de sangramento. Viu como Nefrologia não é tão difícil assim? Entendendo os seus principais mecanismos fisiológicos e patológicos, naturalmente os CCQs vão se encaixando e facilitando bastante a compreensão sobre as síndromes glomerulares. ↺28 Síndromes glomerulares TOP FIVE ➀ Saber que na GNPE estão reduzidos os níveis de C3 e CH50 ➁ O tratamento da glomerulonefrite pós-estreptocócica (GNPE) se baseia na restrição hídrica e dieta hipossódica ➂ Saber que a hipocomplementemia não é esperada na síndrome nefrótica ➃ Saber que a síndrome nefrótica cursa com albuminúria, anasarca e lipidúria, não sendo comum a manifestação de insuficiênciarenal grave no início do quadro ➄ Saber que na presença de anasarca, na síndrome nefrótica, indica-se albumina Resolva as questões na plataforma Questão 1 Questão 2 Questão 3 Questão 4 Questão 5 Aponte a câmera do seu celular para o QR Code ou clique sobre ele para abrir a questão na plataforma. Referências: 1. LOSCALZO, J. et al. Princípios de Medicina Interna de Harrison - 2 Volumes – Editora: McGraw-Hill Education / Medical, 21ª edição, 2022. 2. Kidney Disease Improving Global Outcomes (KDIGO). Clinical Practice Guideline for the Management of Glomerular Diseases. Kidney International. 2021. Disponível em: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34556256/> 3. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria da ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Síndrome Nefrótica Primária em Crianças e Adolescentes. Brasília, 2018. https://aristoclass.com.br/viewer/questao?id=5f5fa62a8c17db9f3a8d738f https://aristoclass.com.br/viewer/questao?id=62a7eb3a205e3c2a94c7fb1e https://aristoclass.com.br/viewer/questao?id=607f608fdb22c5520c5cab33 https://aristoclass.com.br/viewer/questao?id=629a761ebca2e83833fab64d https://aristoclass.com.br/viewer/questao?id=615f328af55a46bba88c2cd4 29 Síndromes glomerulares Comentário da Questão 01 E aí, aristoter! Tudo bem? Questão clássica sobre síndrome nefrítica - nesse caso, uma glomerulonefrite pós- estreptocócica (GNPE), uma das campeãs da prova do Revalida. Vamos relembrar como ela geralmente se apresenta? Primeiramente, há história de exposição ao estreptococo do grupo A, seja por uma faringoamigdalite (1-3 semanas antes do acometimento renal) ou por uma piodermite (2-6 semanas antes). O paciente apresenta quadro clínico característico, geralmente com hipertensão, oligúria, edema e hematúria (micro ou macroscópica). Além disso, ele pode apresentar exames laboratoriais correspondentes: anticorpos ASLO e anti-DNAse B positivos e queda do complemento (C3 e CH50). Então, veja que o examinador queria mesmo te confundir. A menina do caso apresenta uma PA não muito elevada e tem proteinúria (que pode estar presente em uma GNPE). Mas todo o resto nos leva a pensar em GNPE. Um CCQ importante que você também precisa saber: um diagnóstico diferencial seria a nefropatia por IgA, na qual há hematúria macroscópica associada a infecções de vias aéreas - nesse caso, as manifestações são concomitantes! Assim, temos: Alternativa A - Incorreta: Há hipocomplementenemia na GNPE, porém somente os níveis de C3 e CH50 se encontrarão diminuídos. Os níveis de C4 estarão normais. Alternativa B - Correta: Como conversamos, os níveis de C4 ficam normais na GNPE. Alternativa C - Incorreta: Na GNPE há queda dos níveis de C3. Alternativa D - Incorreta: Os níveis de C4 se mantêm normais na GNPE, enquanto os de C3 caem. Portanto, a alternativa correta é a letra B. 30 Síndromes glomerulares Comentário da Questão 02 A GNPE é um tema que despenca nas suas provas, então se atente nesse conteúdo para alavancar sua nota, pois as chances de cair no Revalida são muito altas. A banca descreve uma paciente jovem com quadro de hematúria, hipertensão arterial e edema, com exames laboratoriais evidenciando hematúria maciça, proteinúria e alterações na creatinina. Não há história pregressa de infecção, contudo, ela pode ser inferida pelo ASLO positivo, o que significa que foi detectado estreptolisina, toxina produzida pelo S. pyogenes. Dessa forma, concluímos que estamos diante de uma GNPE. O manejo terapêutico principal, nos casos de GNPE, se baseia em repouso + restrição hídrica + restrição de sódio. As medidas têm por objetivo evitar progressão do edema e da hipertensão. Em alguns casos específicos, podem ser necessárias medidas adicionais, como o uso de diuréticos de alça (furosemida), vasodilatadores (hidralazina) ou até mesmo terapia de substituição renal (diálise). Contudo, na imensa maioria dos casos, o quadro tende a ser autolimitado, com resolução em cerca de 2 a 3 semanas. Algo a mais: não se deve utilizar corticoides (as questões adoram te confundir nisso). Deve-se utilizar antibióticos (penicilina b, amoxicilina) a fim de se erradicar a cepa estreptocócica e evitar a transmissão. Os ATBC não mudam o prognóstico na GNPE. Agora vamos ver as alternativas? Bora! Alternativa A - Incorreta: A antibioticoterapia deve ser indicada visando à erradicação do estreptococo. Contudo, não é a melhor opção para a resolução do quadro renal. Lembre-se: a antibioticoterapia não muda o prognóstico na GNPE, sendo mais uma medida de saúde coletiva. Alternativa B - Incorreta: Quando necessário, os diuréticos de alça são a classe de escolha, não havendo contraindicação para seu uso. Alternativa C - Correta: Isso mesmo! Está indicado restrição hídrica e dieta hipossódica, medidas que fazem parte da terapia inicial na GNPE. Alternativa D - Incorreta: Os betabloqueadores não fazem parte das drogas anti-hipertensivas de escolha na GNPE. As mediações de escolha são hidralazina ou nifedipina. Portanto, a alternativa correta é a letra C. 31 Síndromes glomerulares Comentário da Questão 03 Questão relativamente rápida sobre doenças glomerulares! Para resolvê-la, primeiramente, você precisa identificar qual a síndrome apresentada pela criança: se é nefrítica ou nefrótica. Depois disso, precisamos lembrar das características da síndrome apresentada e, assim, encontrar a alternativa que apresentava o exame laboratorial MENOS esperado para a criança. Vamos lá, destrinchar a questão? Temos um menino de 2 anos com edema generalizado. Além disso, apresenta urina espumosa e inchaço periorbitário que aumenta progressivamente durante o dia. Esse quadro lhe remete a algo? Sim, todos esses sintomas apontam para uma síndrome nefrótica, em que temos as seguintes características: • Proteinúria (≥ 50 mg/kg/dia em urina de 24h, ou ≥ 40 mg/m²/hora, ou relação urinária de proteína/creatinina em amostra isolada > 2 mg/mg) • Hipoalbuminemia (< 2,5 mg/dL) • Redução da antitrombina III e proteínas C e S, culminando em hipercoagulabilidade • Redução das imunoglobulinas da classe IgG, acarretando maior probabilidade de infecção por microrganismos encapsulados • Queda da transferrina, com anemia refratária à reposição de sulfato ferroso • Tendência hipotensiva devido à depleção do volume intravascular, por queda da pressão oncótica • Edema, principalmente periorbitário, que aumenta no decorrer do dia • Hiperlipidemia e lipidúria Com isso, percebemos que a hipocomplementenemia NÃO é esperada – veja que ela não está listada acima. Sabendo disso, vamos analisar as demais alternativas: Alternativa A - Gabarito: A hipocomplementenemia não é esperada na síndrome nefrótica de origem primária; no entanto, pode ser encontrada quando a origem da síndrome é secundária! Alternativa B: Isso! A relação proteína/creatinina esperada na síndrome nefrótica é maior do que 2 mg/mg. Alternativa C: Sim! A albumina, na síndrome nefrótica, em geral, é menor que 2,5 mg/dL! Alternativa D: Como vimos, a proteinúria de 50 mg/kg/dia é esperada na síndrome nefrótica. Alternativa E: A pressão arterial normalmente não se encontra alterada na síndrome nefrótica, mas sim na nefrítica! Portanto, como o enunciado pede o exame laboratorial MENOS esperado, ficamos com letra A como gabarito! 32 Síndromes glomerulares Comentário da Questão 04 Temos aqui uma questãozinha sobre síndrome nefrótica, abordando os principais achados desta condição, algo que você precisa saber caso caia na sua prova de revalidação, querido(a) aluno(a) Aristo. Precisamos nos lembrar que esta síndrome decorre de uma desestruturação da barreira de filtração glomerular, suscitando na passagem de biomoléculas que, no indivíduo hígido, não chegam ao filtrado glomerular. Os principais achados clínico-laboratoriais são: • Albuminúria na faixa nefrótica: > 3 g/dia. • Anasarca: a diminuição da albumina no sangue faz com que tenha a sua pressão oncótica diminuída, suscitando no extravasamentode líquido para o terceiro espaço. • Lipidúria: assim como as proteínas, há perda de lipídios. • Hiperlipidemia: o fígado tenta aumentar a sua função de síntese para compensar as perdas proteicas e, assim, acaba aumentando também a produção de lípides. • Hematúria discreta: o achado de hematúria é mais importante na síndrome nefrítica. Agora, vamos às alternativas: Alternativa A - Gabarito: Habitualmente não observamos uma insuficiência renal grave como primeira manifestação do quadro; se ela surgir no curso natural da doença do paciente, será mais tardiamente, após uma agressão crônica aos glomérulos. Alternativas B, C e E: Todos esses achados podem estar presentes no quadro inicial de síndrome nefrótica. Como a questão solicitava a exceção, conclui-se que o gabarito é a alternativa A. 33 Síndromes glomerulares Comentário da Questão 05 Mais uma questão abordando síndrome nefrótica, querido(a) aristoter, porém agora em relação ao tratamento, algo que pode eventualmente cair na sua prova de revalidação. Bora conferir? Diante de uma criança com edema e alteração urinária, devemos pensar na hipótese de síndrome nefrótica (SN). • A SN compreende a situação clínica caracterizada pela presença de proteinúria maciça de caráter nefrótico e hipoalbuminemia, sendo que o quadro completo também apresenta edema, hiperlipidemia, lipidúria e hipoproteinemia. Pacientes na faixa etária pediátrica, em geral, possuem característica idiopática, sendo a lesão mínima (LM) o tipo histológico mais comum nesses casos. Nosso paciente, além de edema palpebral e em membros inferiores, apresenta um quadro de anasarca, ou seja, edema generalizado. Nessas situações devemos adotar uma conduta adicional além do uso de diuréticos: a albumina. Geralmente, na SN não há alteração na pressão arterial (PA), como vemos na síndrome nefrítica. No entanto, nosso paciente encontra-se com a PA abaixo do percentil 50. Isso nos indica um quadro de hipotensão! Pode parecer contraditório, mas a criança apresenta distribuição inadequada dos líquidos corporais. Mais um indicativo do uso da albumina: instabilidade hemodinâmica. No tratamento da síndrome nefrótica, o corticoide é utilizado como uma terapia específica - a terapia com glicocorticoides pode ser iniciada em crianças com uma alta probabilidade de SNLM, sem a confirmação por biópsia renal, já que mais de 90% dos pacientes com SNLM irá responder à terapia com corticoide dentro de 8 semanas. Antes de iniciar essa terapia, devemos usar vermífugo. Por quê? Porque o uso de corticoides em dose imunossupressora e de imunossupressores torna necessária a terapêutica empírica contra infestações por parasitoses. Vamos às alternativas: Alternativa A - Correta: Exatamente como revisamos: indicar albumina pela presença de anasarca + hipotensão, realizar vermífugo antes de iniciar dose de corticoide imunossupressor. Alternativa B - Incorreta: A dosagem de ASLO está indicada na síndrome nefrítica, em que há associação com infecção pós-estreptocócica. Alternativa C - Incorreta: A principal hipótese é a síndrome nefrótica. Geralmente, quando a questão aborda síndrome nefrítica, o paciente apresenta hematúria, hipertensão e relato de infecção prévia (impetigo ou amigdalite). Alternativa D - Incorreta: Inicialmente não devemos expandir com soro fisiológico, pois este apresenta distribuição inadequada de volume. Alternativa E - Incorreta: A alternativa trocou “nefrótica” por “nefrítica” para te confundir. Atenção! Portanto, o gabarito é a alternativa A. Sumário P 5 - Q1 P 44 - Comentário P 6 - Q2 P 45 - Comentário P 23 - Q3 P 46 - Comentário P 26 - Q4 P 47 - Comentário P 49 - Comentário 1. Fisiologia glomerular 2. Síndrome nefrítica 2.1 Achados 2.2 Glomerulonefrite pós-estreptocócica (GNPE) ou glomerulonefrite difusa aguda (GNDA) ⚠ Questão 01 Questão 02 3. Nefropatias assintomáticas 3.1 Doença de Berger ou nefropatia por IgA 3.2 Nefropatia hereditária ou síndrome de Alport 4. Glomerulonefrite rapidamente progressiva (GNRP) 4.1 Doença de Goodpasture 5. Síndrome nefrótica Questão 03 Questão 04 5.1 Definição 5.2 Achados ⚠ 5.3 Complicações 5.4 Apresentações 5.4.1 Doença por lesão mínima ⚠ Questão 05 5.4.2 Glomeruloesclerose segmentar focal (GESF) 5.4.3 Glomerulopatia/nefropatia membranosa (GNM) ⚠ 5.4.4 Glomerulonefrite proliferativa mesangial 5.4.5 Glomerulonefrite mesangiocapilar ou membranoproliferativa 6. Trombose glomerular 6.1 Síndrome hemolítico-urêmica (SHU) TOP FIVE Tesoura 1 A 28: Tesoura 1 C 30: A 29: Botão de rádio 16: Off Tesoura 1 D 28: Tesoura 1 B 28: B 29: C 30: D 32: Resposta 29: Respostas 15: D 13: C 13: B 13: A 13: Tesoura 1 D 19: Tesoura 1 C 15: Tesoura 1 B 15: Tesoura 1 A 15: D 26: C 23: B 23: A 23: Resposta 16: D 17: E 17: C 17: B 17: A 17: Tesoura 1 D 23: Tesoura 1 E 23: Tesoura 1 C 18: Tesoura 1 B 18: Tesoura 1 A 18: E 25: D 27: C 26: B 26: A 26: Resposta 19: D 7: C 7: B 7: A 7: Tesoura 1 D 9: Tesoura 1 C 9: Tesoura 1 B 9: Tesoura 1 A 9: D 21: C 18: B 18: A 18: Resposta 10: A 16: Tesoura 1 A 19: A 27: D 15: D 22: C 16: B 16: Tesoura 1 D 21: Tesoura 1 D 24: Tesoura 1 C 19: Tesoura 1 B 19: D 24: D 25: C 27: B 27: Resposta 20: Botão 185: Página 29: Botão 194: Página 30: Botão 203: Página 31: Botão 2012: Página 32: Botão 2021: Página 33:
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