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151Linguagem científica e linguagem cotidiana - Maneiras de dizer
Língua Portuguesa e Literatura
deram origem a uma imensa solução com 3,5% em peso de sólidos dissolvidos. Essa solu-
ção é homogênea, o que torna a composição dos oceanos praticamente constante. Sódio 
e cloro, os dois elementos que constituem o sal de cozinha (NaCl), são os mais abundantes 
e, com o magnésio, enxofre, cálcio e potássio, constituem 99,5% da massa total dos sóli-
dos dissolvidos no mar.
(Machado, A. H. & Mortimer, E. F., 2003) 
E então, qual é a solução da Terra?
A resposta, aqui, seria outra, não é mesmo? Precisamos buscá-la e 
reelaborá-la em textos com uma linguagem diferente daquela que usa-
mos, cotidianamente, em nossa vida. Temos que buscar essa resposta 
em um espaço onde se constitui uma linguagem específica: a lingua-
gem científica. 
Teríamos, assim, que pensar solução como algo que diz respeito a 
um conhecimento científico, especificamente. 
• De que ciência estamos falando, no caso da solução do planeta Terra? Que marcas, presentes 
no fragmento do texto citado, identificam esta ciência?
 ATIVIDADE
É bastante freqüente as pessoas, especialmente os alu-
nos, reclamarem da dificuldade que sentem na leitura de 
textos científicos. Por que será que isso acontece?
Em primeiro lugar, porque temos dificuldade maior com 
enunciados, com textos que não fazem parte de nosso fa-
zer rotineiro, dos nossos diálogos cotidianos.
Depois, porque a linguagem científica tem certas par-
ticularidades, sobre as quais podemos refletir. A primei-
ra delas é que o enunciado se concretiza num determina-
do campo da atividade humana, ou seja, é uma linguagem 
que vai se constituindo quando pessoas estão interagindo 
numa determinada atividade que, neste caso, chamamos 
de Química. 
Veja o exemplo a seguir, citado pelos mesmos autores 
do fragmento acima:
Ao nos referirmos ao modo como o aumento de temperatura afeta a dissolução de açúcar em água 
no nosso cotidiano, normalmente falamos: quando colocamos açúcar em água e aquecemos, conse-
guimos dissolver uma maior quantidade do que em água fria. Na linguagem científica, expressaríamos 
este mesmo fato de uma forma diferente: o aumento da temperatura provoca um aumento da solubili-
dade do açúcar. (Machado, A. H. & Mortimer, E. F., 2003)
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152 O Discurso como prática social: oralidade, leitura, escrita, Literatura
Ensino MédioEnsino Médio
Os dois autores citados, da disciplina de Química, dizem que, na 
linguagem cotidiana, os eventos são narrados da seguinte forma: nor-
malmente há um agente (sujeito), que faz algo; os verbos indicam 
ações efetuadas por esse sujeito e os fatos são apresentados numa se-
qüência temporal. Vejamos o que acontece com o fenômeno da disso-
lução do açúcar, quando o narramos em linguagem cotidiana: nós (o 
agente ou sujeito) primeiro colocamos açúcar na água, depois aque-
cemos, e finalmente observarmos que, na água quente, a quantidade 
de açúcar dissolvido pode ser maior do que quando o processo aconte-
ce com água fria. 
Na linguagem científica, o agente/sujeito desaparece e em vez de 
usarmos verbos que indicam ações, damos nomes aos processos que 
vão acontecendo. Isto de dar nomes, chamamos nominalização. Veja-
mos o mesmo fato da dissolução do açúcar dito em linguagem cien-
tífica: 
• O aumento de temperatura (quando colocamos o açúcar em água e 
aquecemos)
• provoca (o verbo, aqui, mostra uma relação) 
• o aumento da solubilidade do açúcar (conseguimos dissolver uma 
maior quantidade de açúcar)
Observe, agora, outro exemplo, de outra ciência, de outro campo 
de atividade humana:
Para falar da eficiência da panela de pressão, 
responda: 
• O que acontece quando colocamos no fogo 
uma panela qualquer com água? 
• E se a panela for de pressão?
• Descreva o processo de cozimento de ali-
mentos na panela de pressão.
• Elabore o conceito. 
• E nesse último processo, de que ciência es-
tamos falando? Justifique sua resposta.
• O que acontece na linguagem científica para que tenhamos, às vezes, dificuldades para com-
preender o que lemos?
 ATIVIDADE
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
Vamos continuar a reflexão considerando que todo texto, ou todo 
enunciado, é produzido num momento histórico, em determinadas cir-
cunstâncias, com determinadas intenções e, para fazer sentido, é preci-
so que nós o associemos à sua origem, isto é, associá-lo às suas con-
dições de produção, ao campo de atividades em que este texto ou 
 meiodia três cores
eu disse vento
 e caíram todas as flores
(Paulo Leminski)

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