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153Linguagem científica e linguagem cotidiana - Maneiras de dizer
Língua Portuguesa e Literatura
enunciado foi produzido. É por isso que, às vezes, nós até reconhece-
mos as palavras de um texto, mas como não sabemos o que está por 
trás delas, temos dificuldade para compreender o texto. E é assim mes-
mo, quanto maior for o grau de “especialização” de um texto, maior 
poderá ser a dificuldade de compreensão para o leitor que desconhe-
ce a “atividade humana” onde aquele texto se originou.
Parece difícil compreender? Veja só um exemplo: imagine a dificul-
dade para um pai ou mãe de 40 ou 50 anos, de vida pacata e interio-
rana, compreenderem um texto divulgado numa revista especializada 
de surf ou de skate. Ou a dificuldade que você mesmo pode ter na lei-
tura do texto de uma complexa receita culinária. 
Retornando ao texto científico, há alguns detalhes interessantes pa-
ra analisarmos. 
Podemos dizer que a linguagem cotidiana é ponto de partida para a 
linguagem científica. Com a linguagem cotidiana nós queremos narrar 
os fatos, dizer, explicar como vemos o mundo. É a linguagem da nossa 
vida, do nosso dia-a-dia, das nossas experiências. A linguagem científi-
ca quer descrever os fatos na forma de conceitos, leis, princípios. Não 
importa quem coloque açúcar na água quente ou fria, ou quem esteja 
cozinhando na panela de pressão, nem quando isto acontece. Impor-
ta que existe um grau de solubilidade para o açúcar e que o ponto de 
ebulição varia com a pressão. Estes conceitos valem no Brasil, na Chi-
na e no interior do deserto do Saara, ou seja, universalmente. 
Concluindo: as palavras e as frases que conhecemos, bem como a 
prática de textos que adquirimos, aprendemos nas relações concretas 
entre as inúmeras situações que vivenciamos. O texto científico pede 
leitores que tenham uma certa familiaridade com as condições de pro-
dução do texto, com o campo de atividades onde o texto se originou. 
Os enunciados, os textos, são produzidos em situações de interação. 
Leia o que diz o Dicionário Houaiss (2001, p.1632) da Língua Portuguesa:
Interação: [...] 3. Atividade ou trabalho compartilhado, em que existem trocas e influências recí-
procas.[...]
Em nossa vida cotidiana, é fácil perceber como nossa língua vai se 
constituindo na interação. Mas pense: um cientista, por exemplo, den-
tro de um laboratório, ou mesmo você, dentro de seu quarto, estudan-
do, lendo um texto, ou agora, na sala de aula, lendo este texto, estão 
interagindo. 
• Como acontece essa interação?
• A seguir, leia um texto que brinca com as diferenças entre a linguagem científica e a linguagem 
cotidiana. Observe e comente os ambientes de interação sugeridos pelo texto. 
 ATIVIDADE
CENTENÁRIO
Sementes de luz...
Girassóis sonham Van Gogh
em sua homenagem.
(Delores Pires)
154 O Discurso como prática social: oralidade, leitura, escrita, Literatura
Ensino MédioEnsino Médio
Como simplificar um texto científico 
[...]
Texto original
O dissacarídeo de fórmula C12H22O11, obtido através da fervura e da 
evaporação de H2O do líquido resultante da prensagem do caule da gra-
mínea Saccharus officinarum, Linneu, isento de qualquer outro tipo de pro-
cessamento suplementar que elimine suas impurezas, quando apresentado 
sob a forma geométrica de sólidos de reduzidas dimensões e arestas retilí-
neas, configurando pirâmides truncadas de base oblonga e pequena altura, 
uma vez submetido a um toque no órgão do paladar de quem se disponha 
a um teste organoléptico, impressiona favoravelmente as papilas gustativas, sugerindo a impres-
são sensorial equivalente provocada pelo mesmo dissacarídeo em estado bruto que ocorre no lí-
quido nutritivo de alta viscosidade, produzindo nos órgãos especiais existentes na Apis mellifica, 
Linneu.
No entanto, é possível comprovar experimentalmente que esse dissacarídeo, no estado físico-
químico descrito e apresentado sob aquela forma geométrica, apresenta considerável resistência 
a modificar apreciavelmente suas dimensões quando submetido a tensões mecânicas de com-
pressão ao longo do seu eixo em conseqüência da pequena deformidade que lhe é peculiar.
Agora, leia o texto “trabalhado”:
Primeiro Estágio
A sacarose extraída da cana de açúcar, que ainda não tenha passado pelo processo de puri-
ficação e refino, apresentando-se sob a forma de pequenos sólidos tronco-piramidais de base re-
tangular, impressiona agradavelmente ao paladar, lembrando a sensação provocada pela mesma 
sacarose produzida pelas abelhas em um peculiar líquido espesso e nutritivo.
Entretanto, não altera suas dimensões lineares ou suas proporções quando submetida a uma 
tensão axial em conseqüência da aplicação de compressões equivalentes e opostas.
Segundo Estágio
O açúcar, quando ainda não submetido à refinação e, apresentando-se em blocos sólidos de 
pequenas dimensões e forma tronco-piramidal, tem o sabor deleitável da secreção alimentar das 
abelhas, todavia não muda suas proporções quando sujeito a compressão.
Terceiro Estágio
Açúcar não refinado, sob a forma de pequenos blocos, tem o sabor agradável do mel. Porém 
não muda de forma quando pressionado.
Quarto Estágio
Açúcar mascavo em tijolinhos tem o sabor adocicado, mas não é macio ou flexível.
Quinto Estágio
Rapadura é doce, mas não é mole. 
(Beto Holsel)
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