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195Vírgulas e Significado Língua Portuguesa Surpreso com a inclusão de símbolos da linguagem matemática? À primeira vista, pode parecer estranho, mas uma observação mais atenta vai nos mostrar que a vírgula tem a mesma função nos exem- plos 5, 6, 7, 8 e 9 (essas vírgulas daqui também se explicam da mes- ma forma). O estreito relacionamento da vírgula com o significado aparece, também, como acabamos de ver, em outros contextos de linguagem, notadamente na linguagem matemática. A história da vírgula na Matemática é interessante. Vejamos: como nosso sistema de numeração é posicional e com base 10, podemos representar as frações, na notação decimal, como número decimal. “Para tanto, foi necessário que se criasse uma forma de diferenciar a parte inteira de um número de sua parte fracionária. Ainda hoje, não existe um único símbolo para esta representação: nós usamos a vírgula (,) e os países anglo-saxões utilizam o ponto (.), assim como muitas de nossas calculadoras. Nossa vírgula (matemática) foi o neerlandês Wibord Snellius que a inventou (ou a importou da língua), no início do século XVII.” (Centurión, 1994) Analise o que acontece nos seguintes registros: 3,45 / 34,5 / 345 O que se está dizendo em cada uma dessas situações? ATIVIDADE A vírgula funciona, aí, como marca de coordenação assindética adi- tiva (que era o caso dos exemplos 8 e 9, lembra?). Como no registro de R$ 34,50 (trinta e quatro reais e cinqüenta centavos). Aqui, é importan- te saber o que significa esta coordenação assindética aditiva: Coordenar - organizar de forma estruturada, encadear. Assindética: Veja, “síndeto” (palavra que vem do latim) é o conectivo, o elemento de ligação. En- tão, sindético quer dizer com a presença do síndeto, do tal elemento de ligação (que, no caso da ma- temática, é a palavra “e”). Assindético significa a ausência deste elemento (o prefixo “a” colocado antes da palavra significa a negação). Aditiva: porque o significado é de adição: 3,45 quer dizer três inteiros e (mais) quarenta e cinco centésimos. Você pode enriquecer esta explicação consultando a gramática, di- cionários e dicionário etimológico (que trata da origem das palavras). JASMIM II Será sempre assim o perfume que resume a flor de jasmim! (Delores Pires) 196 O Discurso como prática social: oralidade, leitura, escrita, Literatura Ensino Médio A coordenação assindética, portanto, é aquela que se faz entre pa- lavras, frases ou números sem a presença do elemento de ligação, sem a palavra que tem esta função de ligar que é, então, substituída pela vírgula. E dizemos, no nosso exemplo de números decimais, que esta coordenação é aditiva porque é este o significado que o elemento de ligação (na coordenação sindética) ou a vírgula (na coordenação assin- dética) coloca na frase, ou no enunciado: o significado de adição. O que importa é que não importa (que trocadilho!) o sinal que con- vencionamos usar. O fato é que, para exprimir aquele determinado sig- nificado matemático, o sinal convencionado deve estar posicionado em determinado local. Para que se consiga, portanto, (qual será o objetivo destas vírgulas?) garantir o sentido daquilo que queremos expressar através da lingua- gem escrita, é necessário obedecer algumas regras. Pesquise, em diferentes autores, as regras de utilização da vírgula. O resultado da pesquisa será or- ganizado num quadro único, que vamos elaborar coletivamente. PESQUISA Você percebeu que as regras talvez assustem pela quantidade, pe- los nomes, por aquilo que parecem exigir de nós. Mais adiante, volta- remos a elas. Agora, há outras considerações a fazer. Vírgulas: ruim com elas, pior sem elas? Analise a pontuação e o efeito de sentido que ela tem nos fragmentos abaixo. O primeiro é do poeta e escritor brasileiro Haroldo de Campos, em sua obra Galáxias. O segundo é do romance Ensaio sobre a Cegueira, do escritor português José Saramago, ganhador do prêmio Nobel de Literatura de 1998. ATIVIDADE “... um umbigodolivromundo um livro de viagem onde a viagem seja o li- vro o ser do livro é a viagem por isso começo pois a viagem é o começo e volto e revolto pois na volta recomeço reconheço remeço um livro é o conte- údo do livro e cada página de um livro é o conteúdo do livro” ( Campos,1984) A vida é um saque Que se faz no espaço Entre o tic e o tac. (Millôr Fernandes)
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