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319Relações de dominação e resistência na sociedade medieval européia: camponeses, artesãos, mulheres, hereges e doentes História Estas obrigações são ilustrativas porque não foram comuns à toda sociedade feudal. Ocorreram em algumas regiões e em diferentes épocas no contexto da organização da sociedade feudal européia. O domínio dos senhores sobre os camponeses aumentava a desigualdade social e, muitas vezes, estes não tinham o necessário para o sustento. Como citou um historiador contemporâneo, na obra Os pobres na Idade Média (MOLLAT, 1989), os miseráveis chegavam a fazer “pão de caroços de uva, flores de nogueira e raízes de samambaia, acompanhadas de relva comum dos campos”. Esta realidade suscitou diversas manifestações de protesto dos camponeses e, igualmente, diversas formas de repressão. Observe este documento, é um fragmento de um código de leis do século VII, das regiões feudais que compõem, atualmente, o norte da Itália: Documento 2 Se, em alguma de nossas terras, os rústicos ousarem tramar rebelião e se levantarem as armas, lu- tando contra qualquer um, se porventura roubarem escravos ou animais deixados pelo senhor na ca- sa de um servo seu, então o senhor prejudicado deverá ser indenizado. Se o senhor for ferido pelos re- voltosos, que estes últimos paguem uma indenização pela sua presunção. E se algum dos rústicos for morto nenhuma indenização lhe será devida porque quem o matou o fez para defender o que possuía. (Edictum Rotharis Regis apud MACEDO, 1995, p. 23). Analise o documento 2 e responda: - Quem são os personagens citados no documento? - Que tipo de relação estão estabelecendo? - Que significado este tipo de relação dá à sociedade feudal? ATIVIDADE Muitas vezes, quanto maior a pressão da nobreza sobre os excluídos da terra, maiores as estratégias de resistência adotadas. Os camponeses faziam roubos nas terras do senhor, caçavam escondido nas florestas dos nobres, incendiavam colheitas, prestavam um mal trabalho nas corvéias, recusavam-se em entregar impostos em espécie, fugiam dos pagamentos e obrigações do compromisso de servidão. Entre os séculos X a XIII, ocorreram muitas manifestações de resistência dos camponeses em diversas regiões da Europa Feudal. Foram manifestações motivadas pelas péssimas colheitas e pelo medo da fome. Reivindicavam melhores condições sociais e respeito à identidade do camponês, pois este sempre fora inferiorizado e excluído pela nobreza. 320 Relações culturais Ensino Médio Documento 3 Veja num trecho do poema épico de Robert Wace (1115-1175), O Romance de Rolando, escrito no século XI, o tratamento dado aos camponeses que se rebelaram na Normandia, em 996: Raoul exaltou-se de tal modo Que não fez julgamentos Pô-los todos tristes e doloridos A muitos arrancar os dentes E a outros mandou empalar Arrancar os olhos, cortar os pulsos A todos mandou assar os jarretes Mesmo que com isso morressem Outros foram queimados vivos Ou metidos em chumbo a ferver Assim mandou tratar a todos Ficaram com aspecto horroroso Não foram depois disso vistos em parte nenhuma Onde não fossem bem reconhecidos A comuna ficou reduzida a nada E os vilãos portaram-se bem Retiraram-se e demitiram-se Daquilo que tinham começado (Adaptado de LE GOFF, 1994, p. 61). Entre estas muitas manifestações de resistência, pode-se destacar a revolta ocorrida na França, em 1358 – A Jacquerie. Foi uma revolta de apenas alguns dias, mas unificou diversas regiões da França contra os abusos da nobreza, o pagamento dos impostos e a desigualdade social, especialmente em época de pobreza e miséria crescentes, motivadas pela fome e pelas epidemias que assolaram a Europa no século XIV. Na Jacquerie, participavam camponeses, sobretudo servos que reivindicavam o fim das obrigações feudais, mas muitos burgueses, No ano de 996, na Normandia, região do norte da França, ocorreu uma grande revolta dos camponeses contra os senhores. Os camponeses viviam em situação de miséria: as colheitas eram insuficientes, os impostos, além de abusivos, eram pagos em espécie, as roças viviam ameaçadas ora pelas secas, ora pelas enchentes, as guerras e invasões eram constantes. Enfim, para diminuir a falta de alimentos, os camponeses ocuparam alguns rios e florestas, praticaram a caça e a pesca sem o consentimento dos senhores. Considerando isso uma invasão de terras, o duque Ricardo II (996-1026) enviou o conde Raoul com muitos cavaleiros para defender os interesses dos nobres e “cuidar” dos camponeses.
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