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 6 de fevereiro de 2022
UAciência
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 6 de fevereiro de 2022
UAciência
Toxinas de cianobactérias: prevenir 
antes de remediar 
Autor: 
Rita Cordeiro, Vítor Gonçalves 
e Amélia Fonseca
Coordenação de Armindo Rodrigues Coordenação de Armindo Rodrigues 
Entre os dias 18 e 20 de julho de 2022 irá 
ocorrer na Universidade dos Açores o 7º 
Congresso Ibérico de Cianotoxinas/ 3º 
Congresso Ibero-Americano de 
Cianotoxinas. Neste congresso serão 
debatidos temas como a ocorrência de 
toxinas e sua mitigação, as cianobacté-
rias e cianotoxinas no contexto das alte-
rações climáticas, a gestão de águas con-
taminadas, as aplicações biotecnológicas 
de cianotoxinas e a importância das cole-
ções de culturas. Para qualquer informa-
ção e inscrição no congresso consultar o 
sítio da internet 7cic.com.
7º Congresso Ibérico de Cianotoxinas 
3º Congresso Ibero-Americano de Cianotoxinas 
As cianobactérias são microrganismos que realizam 
fotossíntese semelhante à das plantas, produzindo maté-
ria orgânica e oxigénio a partir da luz, dióxido de carbono 
e minerais. Existem há cerca de 3,5 mil milhões de anos e 
crê-se que foram responsáveis pela oxigenação da atmos-
fera terrestre. 
Estes microrganismos têm algumas vantagens perante a 
maioria das microalgas presente nas lagoas, porque se 
desenvolvem melhor a temperaturas mais altas, movem-
se verticalmente (em águas estratificadas permite acesso 
à luz solar e sombreia as camadas de água inferiores) e 
ainda por terem a capacidade de fixar azoto atmosférico, 
garantindo sobrevivência na escassez deste nutriente 
(especialmente as espécies que possuem células especia-
lizadas designadas heterócitos). 
Devido a estas vantagens competitivas, não é de estra-
nhar que a eutrofização (aporte excessivo de nutrientes) e 
as mudanças climáticas globais sejam a combinação per-
feita para uma dominância rápida de cianobactérias, 
dando origem aos chamados blooms ou florescências. 
As cianobactérias são também conhecidas por produzi-
rem cianotoxinas, compostos com atividade tóxica, sendo 
as mais estudadas as microcistinas (afetam o fígado), as 
saxitoxinas e anatoxinas (afetam o sistema neurológico), e 
as cilindrospermopsinas (afetam proteínas celulares). A 
eutrofização e as alterações climáticas também são cru-
ciais no desenvolvimento das espécies tóxicas promoven-
do maior produção de toxinas. 
Estas toxinas afetam algas, plantas, animais e até huma-
nos, pelo que são uma ameaça para o ambiente e para a 
saúde pública. Tendo em conta o risco que representam, é 
fundamental a monitorização da sua presença nas mas-
sas de água para a prevenção, e mitigação dos problemas 
associados às florescências de cianobactérias. As metodo-
logias moleculares para identificação de regiões do DNA 
têm sido usadas para identificar cianobactérias toxigéni-
cas, antes da produção da toxina e permitem assim evitar 
riscos para a saúde pública. 
A eutrofização de algumas lagoas dos Açores conduziu à 
proliferação de cianobactérias e ao aumento da frequência 
de blooms, em alguns casos envolvendo espécies tóxicas. 
Num trabalho recentemente publicado na revista Water, 
estudou-se a distribuição de espécies tóxicas de cianobac-
térias em 15 lagoas dos Açores, procurando-se entender 
que variáveis (ambientais, antropogénicas e hidromorfoló-
gicas) influenciam o desenvolvimento de cianobactérias e 
o risco de produção de cianotoxinas. Os resultados mostra-
ram que a maioria das lagoas estudadas são eutróficas, 
apresentando concentrações elevadas de nutrientes e ele-
vada abundância e biomassa de cianobactérias. Foi eviden-
te, também, que a distribuição das cianobactérias está 
relacionada com as características das lagoas, prevalecen-
do nas maiores e mais profundas, e localizadas a mais 
baixa altitude. Para além disso, a biomassa e composição 
de espécies está relacionada com a concentração de fósfo-
ro, associada as atividades humanas nas bacias das lagoas. 
Neste trabalho identificou-se a ocorrência de genes pro-
dutores de toxinas (presença de espécies tóxicas), capazes 
de produzir microcistinas, saxitoxinas e anatoxina-a. A dis-
tribuição das espécies tóxicas está relacionada com a alti-
tude a que lagoas se encontram, refletindo o maior grau 
de impacto antrópico que as lagoas localizadas a baixa 
altitude apresentam. 
Os resultados deste estudo vêm evidenciar a necessidade 
de monitorização contínua de cianotoxinas nas lagoas dos 
Açores e as potencialidades das ferramentas moleculares 
na deteção precoce de espécies tóxicas. Por outro lado, a 
relação entre a eutrofização e a proliferação de espécies 
tóxicas mostra a necessidade de medidas de mitigação que 
permitam reduzir o estado atual de eutrofização de algu-
mas das lagoas dos Açores, por forma a reduzir os riscos 
para a saúde pública e ambiental associado a cianotoxinas. 
Para ler o artigo científico na íntegra pode consultar o 
sítio da internet https://doi.org/10.3390/w12123385.
Cianobactérias produtoras de cianotoxinas encontradas nas lagoas dos Açores: A) Aphanizomenon gracile; 
B) Microcystis aeruginosa; C) e D) estirpes da família Nostocaceae.
Lagoa das Furnas, São Miguel, Açores, com bloom de cianobactérias.
Prémio Ciência Viva 
Montepio Media 2015

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