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6 Lição 1 - Linguagem Formal e Informal Muitos consideram estudar a língua materna algo desnecessário, já que, desde crianças, nós a conhecemos e nos comunicamos por meio dela. En- tretanto, devemos lembrar que é por meio da linguagem verbal que orga- nizamos o pensamento e interagimos com o mundo, nas diversas práticas sociais. É pelo domínio da palavra que nos tornamos membros ativos da so- ciedade e desenvolvemos como pessoas. O objetivo desta lição é mostrar que, ao falarmos ou escrevermos, optamos por uma linguagem informal ou formal, a depender sempre de um contex- to, ou seja, para quem estamos nos reportando e em que situação. A exem- plo disso, pode-se afirmar que a forma linguística usada na conversa com o amigo no aplicativo de celular será diferente daquela empregada no e-mail para o seu chefe. Assim, a partir das diferenças entre os meios de se expres- sar, seja falando ou escrevendo, os usuários da língua são movidos por inte- resses e intenções. Portanto, não se trata de “aprender a falar”, mas de adquirir consciência de que a língua não é usada de uma única maneira e que cabe ao usuário do sistema de linguagem adequar-se à situação, uma vez que busca se fazer entender. Ao término desta lição, você deverá ser capaz de: • Diferenciar a linguagem formal da informal; • Optar pela forma de linguagem mais apropriada em diferentes contextos. 1. Comunicação: Língua e Fala Para que qualquer comunicação seja estabelecida, são necessários: • Emissor – aquele que transmite a mensagem (pessoa, empresa, jornal). • Receptor – aquele que recebe a mensagem (pessoa, grupo de pessoas, instituição). • Mensagem – o conjunto de informações transmitidas. • Código – conjunto de signos (ou símbolos) e regras de combinação desses signos; a mensagem só será entendida se o receptor conhecer o código (a língua ou idioma) em que a mensagem é transmitida. • Canal de comunicação – meio concreto através do qual a mensagem é transmitida (voz, livro, revista, emissora de TV). 7 • Referente ou Contexto – conteúdo, tema ou situação a que a mensagem se refere. Pode-se dizer que o código mais importante para a transmissão de uma men- sagem é a língua, que é a parte social da linguagem pertencente a uma comu- nidade. Porém, cada indivíduo faz uso da língua conforme sua habilidade e necessidade, o que dá origem, então, à língua falada. A utilização desse código dependerá, portanto, do conhecimento dos recur- sos linguísticos. Nesse contexto, uma pessoa que não consegue se comunicar com clareza, porque tem conhecimento precário da língua portuguesa, aca- ba por não fazer escolhas e transmite uma informação que talvez nem fosse aquela que desejava, ou até mesmo não entende o que o outro diz, devido ao conhecimento precário de sua própria língua. Vejamos a situação a seguir: Figura 1 – Conflito de gerações Como podemos observar, mãe e filho se comunicam, isto é, emissor e recep- tor conhecem o código (língua) e o contexto em que se dá o diálogo. Porém, o humor da tirinha se dá pois ambos possuem ideias diferentes sobre um mes- mo assunto (aquilo que pode ser considerado “um lanche” no contexto). Na situação seguinte, pensando que o personagem da direita não conhece o código (a língua) do outro, não há qualquer possibilidade de entendimento entre emissor e receptor. Figura 2 – Diferenças de códigos (línguas) 8 Já no próximo exemplo, o entendimento é possível. Isso acontece porque a turista brasileira (personagem à esquerda), mesmo que com alguma dificul- dade, tenta se expressar utilizando o código do americano – no caso, a língua inglesa. Figura 3 – Semelhança de código (mesma língua) Esses exemplos de contato se deram na forma mais comum de comunicação, o diálogo. Assim, se conhecemos o código mais importante, a nossa língua, certamente estamos mais capacitados para transmitir a mensagem desejada. Mas será que é sempre assim? Nem sempre somos capazes de nos fazer entender da forma que gostaríamos. É por isso que o estudo da linguagem é tão importante, uma vez que devemos transmitir as informações que desejamos de maneira adequada ao contexto. 2. Linguagem Formal e Informal Para organizarmos nosso pensamento e nos comunicarmos em ambientes e situações que exigem formalidade, é muito importante conhecer a Lingua- gem Formal. Mas o que seria isso? Entendemos por Linguagem Formal o domínio da habilidade linguística adequado às situações que exigem do indivíduo formalidade e correção, em outros termos, que esteja gramaticalmente correto, expressando o ideal lin- guístico do ambiente social. Portanto, quando falamos e quando escrevemos, devemos ter duas preocu- pações básicas: o que expomos e como expomos. Quanto ao que expomos, é importante organizar nosso pensamento com clareza; para o modo como o fazemos, devemos nos preocupar com a forma de exposição, visto que nem toda situação requer o mesmo grau de formalidade. De fato, podemos ser informais, ou pouco formais, quando falamos com nos- sos familiares ou escrevemos e-mails para amigos, o que não significa que 9 possa haver falta de clareza. Mas, devemos, numa entrevista ou numa carta a uma empresa, atentar para a formalidade exigida pela situação. Geralmente, damos muita importância à linguagem escrita, mas a expressão oral também merece nossa atenção. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, “a questão não é falar certo ou errado e sim saber que forma de fala utilizar, considerando as características do contexto da comunicação, ou seja, saber adequar a mensagem às diferentes situações comunicativas. É sa- ber coordenar satisfatoriamente o que falar e como fazê-lo, considerando a quem e por que se diz determinada coisa”. Para que haja comunicação, os interlocutores precisam ter conhecimentos que vão além da competência gramatical. Para tomar parte de uma conver- sação, é necessário que os participantes consigam perceber do que trata a situação e o que se espera de cada um. No item anterior, vimos que, se um dos interlocutores não tem interesse ou conhecimentos para estabelecer a comunicação, ela não se dá. Convém lembrar que a fala deve ser sempre espontânea, mesmo em situa- ções formais. Isso significa dizer que, se soubermos adequar a língua aos dife- rentes contextos, não precisaremos forçar uma linguagem diferente daquela a que estamos acostumados. Assim sendo, cabe-nos tomar cuidado com a correta escolha das palavras, identificando, por exemplo, as situações em que a gíria não deve ser utilizada. Falar corretamente pode se tornar um ato bastante natural em qualquer cir- cunstância. Outro fator importante é que não devemos nos esquecer de que a linguagem regional (sotaques e maneiras diferentes de dizer a mesma coisa em regiões diferentes do país ou do mundo) deve ser respeitada. Essa varia- ção enriquece a língua como um todo, bem como a nossa cultura. 3. Tipos de Discurso Sabemos que todo processo de comunicação tem obrigatoriamente um emis- sor, uma mensagem e um destinatário. Ao analisar um discurso, precisamos pensar não somente nas palavras escritas ou faladas, mas no contexto de que elas fazem parte e a quem elas podem interessar. O contexto de que falamos é o conjunto de circunstâncias econômicas, sociais, políticas e culturais que cercam o emissor e o receptor. Assim, diante de alguém falando ou de um texto escrito, devemos sempre nos perguntar: quais são os interesses da pessoa que fala ou escreve? Que mensagens são transmitidas pelas escolhas das palavras, pelos gestos, pelas expressões e pelo vestuário? Qual é o contexto da fala ou da escrita? A quem a mensagem se destina? 10 Pode acontecer, nessa análise, de percebermos que a mensagem ouvida não é destinada a nós, como um e-mail que recebemos por engano ou a conversa alheia que ouvimos em um ônibus lotado (já que o ar, como canal da conver- sa, propaga a mensagem indistintamente dentro do veículo). Seja qual for o contexto, uma mensagem poderá ser relatada fazendo-se uso dediferentes formatos de discurso: direto, indireto ou indireto livre. Vejamos as características de cada formato. O discurso direto é aquele em que as falas dos personagens são fielmente reproduzidas e separadas por indicações gráficas, como vírgulas, aspas, tra- vessões ou os balões de uma tirinha. Veja o diálogo abaixo, entre Mafalda e Miguelito. Figura 4 Esse foi um exemplo de discurso direto. O mesmo texto poderia ser reprodu- zido pelo discurso indireto. Veja a seguir: Mafalda encontra seu amigo Miguelito sentado no meio-fio e, sentindo-se confusa, o questiona se ele continuará ali, sentado e esperando que algo acon- teça na vida dele. Ele, por sua vez, responde à amiga, de maneira categórica, que é isso mesmo que ele vai fazer: irá continuar sentado ali, esperando a vida dar alguma coisa a ele. E Mafalda afasta-se do amigo, caminha pensativa e se questiona se o mundo não está dessa forma porque está cheio de “Miguelitos”. Já o discurso indireto livre é aquele em que os pensamentos do narrador e dos personagens se misturam. A grande vantagem é a de oferecer dinamis- mo ao texto. É bastante comum nos textos literários, mas pouco recomenda- do para escritas mais formais, principalmente de trabalho, já que pode gerar confusão sobre quem pensa o quê. Veja a seguir: Mafalda, que praticamente assustou Miguelito, questiona-o sobre continuar sentado ali, no meio-fio, esperando que a vida desse algo a ele sem que se esforçasse para conquistar. Miguelito, por sua vez, não se intimidou com o questionamento da amiga e respondeu de imediato, e de maneira até meio rude, que iria ficar ali sim, esperando que a vida lhe desse algo. Então Mafalda saiu desolada, pensando se o mundo não estaria carente de pessoas com mais iniciativa para se aprimorar e melhorar o meio em que vivem.
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