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A Identidade do Professor Universitário Profa. Dra. Renata H. P. Pucci 1Sem. 2022 A carreira docente • A carreira docente instituída na academia brasileira: ✓Professor Auxiliar - possui apenas a graduação (em alguns casos uma especialização); ✓Professor Assistente – possui o título de mestre; ✓Professor Adjunto – possui o título de doutor; ✓Professor Titular - necessita ter uma vasta produção para sua titularidade. Os cursos formam, ou tem tido a pretensão de formar professor para o retorno desses formandos docentes? A Pós-Graduação • A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96) estabelece que a pós- graduação strictu sensu “é responsável por preparar os professores para o magistério no Ensino Superior” (BRASIL, 1996). • Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (CAPES), em 1999, tornou obrigatório o estágio supervisionado na docência como parte das atividades dos bolsistas de mestrado e de doutorado. • Art. 18. O estágio de docência é parte integrante da formação do pósgraduando, objetivando a preparação para a docência, e a qualificação do ensino de graduação sendo obrigatório para todos os bolsistas do Programa de Demanda Social (CAPES, 2010). Os programas de doutorado e mestrado são configurados numa forma que privilegia a especialização, numa ênfase ao conhecimento e numa preparação para a pesquisa. Os professores que ingressam as universidades • Embora seus professores possuam experiência significativa e mesmo anos de estudos em suas áreas específicas, predomina o despreparo e até um desconhecimento científico do que seja o processo de ensino/aprendizagem, pelo qual passam a ser responsáveis a partir do instante em que ingressam na sala de aula. (Pesquisa: Cunha, 2006). • Os professores ingressam em departamentos que atuam em cursos aprovados, em que já estão estabelecidas as disciplinas que ministrarão, recebem ementas prontas, planejam individual e solitariamente. • Os resultados obtidos, não são objeto de estudo ou análise individual no curso ou departamento. Não recebem qualquer orientação sobre processos de planejamento, metodológicos ou avaliatórios, não tem de prestar contas, fazer relatórios, como acontece normalmente nos processos de pesquisa, estes, sim, objeto de preocupação e controle institucional (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002). Quais saberes, conhecimentos são necessários para a docência no Ensino Superior? “O professor universitário, ao ingressar na carreira docente em uma instituição de ensino superior, vivencia uma fase de “sobrevivência” e “descoberta” (HUBERMAN, 1992) ou, ainda, um momento de socialização (MARCELO GARCIA, 1999). Além do contato com a cultura institucional (à qual precisa se ambientar), com as atividades de pesquisa e extensão, enfrenta inúmeros desafios para desenvolver a atividade de ensino, tendo em vista que sua trajetória de formação, nos cursos de graduação e pós- graduação, está vinculada à aquisição de conhecimentos específicos de sua área de atuação profissional, sobretudo os graduados em cursos de bacharelado que, no Brasil, não habilitam para o exercício da docência.” (Sordi, 2019). Experiência • Os professores, quando chegam à docência na Universidade, trazem consigo inúmeras e variadas experiências do que é ser professor. Experiências que lhes possibilitam dizer quais eram bons professores. Espelham-se nos professores que foram significativos em suas vidas, isto é, que contribuíram para a sua formação pessoal e profissional. Na maioria das vezes não se identificam como professores, uma vez que olham o ser professor e a Universidade do ponto de vista do ser aluno. • O desafio, então, que se impõe é o de colaborar no processo de passagem de professores que se percebem como ex-alunos da Universidade para ver-se como professor nessa instituição. Isto é, o desafio de construir a sua identidade de professor universitário, para o qual os saberes da experiência não bastam. (Pimenta e Anastasiou, 2002) Saberes profissional docente • Os saberes do profissional docente que servem de base para o ensino provêm de diferentes fontes, tais como: a formação inicial e continuada de professores, do currículo e do espaço do conhecimento das disciplinas a serem ensinadas, da experiência na profissão, da cultura pessoal profissional, da aprendizagem com os pares, entre outras. • O professor mobiliza e produz saberes durante o exercício de sua profissão. Para isso, deve ter a capacidade de saber adequar-se metodologicamente, vendo o ensino não de forma meramente técnica, mas como um conhecimento em processo de construção. (Tardif, 2002) Formação Permanente • Diferentes demandas são solicitadas continuamente no ensino para atender a diversidade de alunos, as novas tecnologias de ensino, dentre outros aspectos do educar. Frente a esta nova imposição, pensar a formação do professor enquanto apropriação profissional supõe a combinação de diferentes estratégias de formação e uma nova concepção do papel do professor, o que não pode ser feito sem o envolvimento concreto dos docentes. A produção e a apropriação profissional do professor supõem mais do que um curso preparatório, visto que os conhecimentos adquiridos em um curso de formação inicial ou mesmo na pós-graduação são insuficientes para que ele desempenhe satisfatoriamente suas tarefas. IMBERNÓN, Francisco Imbernón; NETO, Alexandre Shigunov; FORTUNATO, Ivan. FORMAÇÃO PERMANENTE DE PROFESSORES: EXPERIÊNCIAS IBEROAMERICANAS. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. Link direto: http://twixar.me/Lbc1 Saberes específicos, pedagógicos e didáticos • Nos processos de formação de professores, é preciso considerar a importância dos saberes das áreas de conhecimento (ninguém ensina o que não sabe), dos saberes pedagógicos (pois o ensinar é uma prática educativa que tem diferentes e diversas direções de sentido na formação do humano), dos saberes didáticos (que tratam da articulação da teoria da Educação e da teoria de ensino para ensinar nas situações contextualizadas), dos saberes da experiência do sujeito professor (que dizem do modo como nos apropriamos do ser professor em nossa vida). Esses saberes se dirigem às situações de ensinar e com elas dialogam, revendo-se, redirecionando-se, ampliando-se e criando. (Pimenta e Anastasiou, 2002) Modelos de formação • As práticas de formação de professores são orientadas por conceitos que permitem algumas classificações baseadas nas visões de homem, sociedade, conhecimento, ensino, aprendizagem, função social da escola e do professor . • “[...] modelos do passado coexistem, às vezes, pacificamente, com os modelos mais inovadores e críticos da atualidade. E que, por isso mesmo, esses modelos citados são todos contemporâneos. (D’ÁVILA, 2008, p. 34). Racionalidade Técnica, Racionalidade Prática e Racionalidade Crítica Racionalidade técnica • Brasil - 1950 e 1970: • No Brasil, entre as décadas de 1950 e 1970, imperou um paradigma de que a competência do professor era avaliada pelo produto resultante do ensino, ou seja, do modo como o professor faria com que seus alunos progredissem nos estudos, perspectivas baseadas nos estudos comportamentalistas que tinham como objetivo a aplicação técnica. • Papel do professor - passividade frente às recomendações práticas dos teóricos e pesquisadores, ou seja, a eficiência do professor se dá em implementar as técnicas elaboradas pelos teóricos. • No modelo da racionalidade técnica, o professor é visto como um técnico, um especialista que rigorosamente põe em prática as regras científicas e/ou pedagógicas. Assim, para se preparar o profissional da educação, conteúdo científico e/ou pedagógico é necessário, o qual servirá de apoio para sua prática. Durante a prática, professores devem aplicar tais conhecimentos e habilidades científicos e/ou pedagógicos. (DINIZ-PEREIRA, 2011, p. 21). • A ideia fundamental do modelo de racionalidade técnica é que a prática profissional consiste na apresentação de modos de solução instrumental de problemaspreviamente disponíveis, que são originados da pesquisa científica. É considerado instrumental porque preconiza a realização de procedimentos com o objetivo de alcançar os efeitos ou resultados desejados (CONTRERAS, 2002). Racionalidade prática • As experiências dos docentes são importantes: “[...] interessa saber como os professores integram esses saberes a suas práticas, os produzem, transformam e os ressignificam no seio do seu trabalho.” (D’ÁVILA, 2008, p. 37) • A profissão docente é vista como complexa: conhecimentos teóricos e práticos. • Não há controle sobre a prática: o professor produz conhecimento na ação, baseado no seu próprio conhecimento e na reflexão das situações práticas. • O lócus de formação e produção dos saberes docentes é a prática e o confronto com as especificações inerentes ao trabalho docente: os professores produzem um saber tácito, particular e não sistematizado. Racionalidade prática • Papel do Professor: • Profissional que reflete na ação, tornando-se desse modo, um pesquisador prático. • Suas práticas/saberes passam a ser reconhecidos como fonte de pesquisa no campo educacional. Racionalidade crítica • No modelo da racionalidade crítica, educação é historicamente localizada – ela acontece contra um pano de fundo sócio-histórico e projeta uma visão do tipo de futuro que nós esperamos construir -, uma atividade social – com consequências sociais, não apenas uma questão de desenvolvimento individual -, intrinsecamente política – afetando as escolhas de vida daqueles envolvidos no processo – e, finalmente, problemática – “seu propósito, a situação social que ele modela ou sugere, o caminho que ele cria ou determina relações entre os participantes, o tipo de meio na qual ele trabalha e o tipo de conhecimento para o qual ele dá forma” (CARR; KEMMIS, 1986, p. 39 apud DINIZ-PEREIRA, 2011, p. 26) Racionalidade crítica • O ensino e a aprendizagem são vistos como um processo balizado pela teoria e pela prática, social e historicamente construído. • O processo educacional pode promover humanidade, igualdade e justiça social. • O professor é visto como alguém que levanta um problema no sentido de questionar como a “subjetividade do estudante e como suas condições econômicas afetam o processo de aprendizagem” . • O professor é um pesquisador, que questiona a realidade e cria oportunidades junto aos demais atores do contexto educacional para dialogarem criticamente, em busca da transformação social daquele contexto. Questões • • Em que medida atendo às expectativas de meus alunos? • • Como compatibilizá-las com as exigências institucionais? • • Como motivar meus alunos para as aprendizagens que extrapolam o utilitarismo • pragmático de seus imaginários? • • Como trabalhar com turmas heterogêneas, respeitar diferenças? • • Que alternativas há para compatibilizar as novas tecnologias com a reflexão ética? • • De que maneira aliar o ensino e pesquisa? • • Que competências preciso ter para interpretar os fatos cotidianos e articulá-los com meu • conteúdo? • • Como enfrento o desafio da interdisciplinariedade? Questões • • Continuo preocupado com o cumprimento do programa de ensino mesmo • que os alunos não demonstrem interesse/prontidão para o mesmo? • • Como, em contrapartida, garanto conhecimentos que lhes permitam • percorrer a trajetória prevista pelo currículo? • • Tem sentido colocar energias em novas alternativas de ensinar e aprender? • • Como fugir de avaliações prescritivas e classificatórias e, ao mesmo tempo, • manter o rigor no meu trabalho? • • Como posso contribuir para propostas curriculares inovadoras? Referências • CONTRERAS, J. A autonomia de professores. São Paulo: Cortez, 2002. • CUNHA, Ana Maria Oliveira; BRITO, Taita Talamira Rodrigues; CICILLINI, Graça Aparecida. Dormi aluno(a), acordei professor(a): interfaces da formação para o exercício do ensino superior. 29ª Reunião Anual da ANPEd: 2006. • CUNHA, Maria Isabel da. O tema da formação de professores: trajetórias e tendências do campo na pesquisa e na ação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.39, n.3, p.609-625, jul./set.2013. • D’ÁVILA. Cristina. formação docente na contemporaneidade: limites e desafios. Revista da FAEEBA– Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 17, n. 30, p. 17-31, jul./dez. 2008. • DINIZ-PEREIRA, Júlio Emílio. A pesquisa dos educadores como estratégia para construção e modelos críticos de formação docente. In: DINIZ-PEREIRA, J. E.; ZEICHNER, Kenneth M. (orgs.). A pesquisa na formação e no trabalho docente. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. p.11-38. • PIMENTA, S. G.; ANASTASIOU, L. G. Docência no ensino superior. São Paulo:: Cortez, 2002. • SORDI, Mara Regina Lemes. Docência no ensino superior: interpelando os sentidos e desafios dos espaços institucionais de formação. Curitiba: Educação em Revista, maio/2019. • TARDIF, M. Saberes Docentes e Formação Profissional. Petrópolis: Vozes, 2002.
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