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kenski - professor era digital


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capítulo 5
O papel do professor na sociedade digital
Vani Moreira Kenski
5.10 que é um professor, afinal?
Pensar no papel do professor no atual estágio da sociedade é identificar uma
multiplicidade de ações diferentes para a mesma função. O que vem a ser na
atualidade este profissional, no final das contas? Indagar a professores, de
diversos níveis e formações, nos mostra caminhos abertos para a reflexão.
Pessimistas, uns falam da não continuidade da profissão no futuro próximo,
submersa em meio às inúmeras Inovações tecnológicas que crescem exponen-
cialmente. Mais pessimistas ainda, outros nos dizem sobre as dificuldades de
se manter o lado artesanal da função: a aula planejada dia após dia, transfor-
mada a todo instante em meio às clrcunstâncias de cada classe. Um ensino "à
Ia carte", dispendioso e difícil, impossível de ser reproduzido. Considera-se o
fim do professor-artesão e, por extensão, o da profissão docente. Por outro
lado, a sociedade — estimulada pelas opiniões veiculadas pela indústria da
comunicação — discute o ato de ensinar não mais apenas como função deste
Profissional. Na lógica publicitária apresentada em algumas "organizações
de aprendizagem", o mérito de ensinar na sociedade contemporânea seria
Para a utilização plena de "bons programas eletrônicos", plenos de recursos
e que não dependem mais da intervenção do docente. Permitem que "todos
aPrendam sozinhos". Aprendem? Alguma coisa, sim. Tudo? Com certeza,
não. 
Independem de professor? Será?
Retomo a pergunta inicial: o que é um professor na sociedade digital,
afinal? Respondem-me alunos de pós-graduação e de cursos de Pedagogia e
Cenciaturas, a maioria também docentes. "Um profissional que persiste, apesar
de tudo" dizem uns. "Alguém que, ironicamente, quer sempre aprender", é a
94 ENSINAR A ENSINAR
opinião de outro. Comecemos por aí. Esta é talvez uma das principais
ticas desse profissional: a preocupação com a atualização de seus conhecimentos
e práticas, a melhoria do seu desempenho.
Apesar das dificuldades inerentes à profissão, o que vemos no cotidiano
das universidades é o crescente número de professores em busca de novos
conhecimentos; professores que enchem as salas dos cursos de atualiz
açào
participam de seminários, simpósios e congressos, compram livros e estudam
espontaneamente. Professores que desejam mudar sua maneira de ensinar, que
querem se adaptar às exigências educacionais dos novos tempos, que sentem
que a sociedade (assim como os conhecimentos e a cultura em sentido amplo)
mudou e anseiam acompanhar o ritmo dessas alterações. Almejam oferecer
ensino de qualidade, adequado aos novos tempos, às novas exigências sociais
e profissionais. Colocam-se profissionalmente como mestres e aprendizes,
com a expectativa de que, por meio da interaçào estabelecida na "comunicação
didática" com os alunos, conforme nos diz Amélia A. D. Castro, a aprendiza-
gem aconteça para ambos. São estes os profissionais que buscam transformar
a açào docente no atual momento da sociedade. Eles sabem que o papel do
professor se altera, e muito, na nova sociedade digital. Em alguns sentidos se
amplia, mas não se extingue.
5.2 Funções estruturais da ação docente
A análise da açào docente na sociedade contemporânea nos mostra a
existência de algumas funções que eu chamaria de estruturais, ou seja, que
definem o papel do professor como profissional que responde às expectativas
da sociedade. Estas funções não são necessariamente novas. Ao contrári0'
abstraindo diferentes contextos espaço-temporais, elas resistem às mais di-
versas inovações ocorridas na área educacional. Neste sentido, são inerentes
à açào docente, portanto, estruturais. Indo contra a corrente da proposta
de um professor cibernético, minha reflexão encaminha-se para a valorizaçã0
do professor como pessoa. Pessoa que em todas as épocas lida com outras
(jovens, adultos, crianças.) , mediando interações comunicativas no ato de
ensinar e aprender. E neste papel de professor-pessoa que vou buscar 0
que caracteriza a sua açào, sua função como aquele que ensina e, ao ensinar'
também aprende.
Entre as múltiplas ações existentes na atuaçào do docente de todos os
tempos destaco algumas, para efeito de análise neste texto. Elas estão ligadas
ao desempenho do professor como, em primeiro lugar, um agente de memófld'
CAPíTUL05 | 0 PAPEL DO PROFESSOR NA SOCIEDADE DIGITAL 95
rofissional 
responsável, entre outras coisas, pela manutenção da memória
Uni p
dal ele compete 
cultura 
a aquisição, 
de certo grupo 
reflexão, 
social 
transmissão 
em determinado 
e manutenção 
momento.
de aspectos
valorizados 
peIa 
de memória, o professor é capaz de realizar interações e inter-
Como agente 
câmbios entre linguagens, espaços, tempos e conhecimentos (pontes temporais,
sociais, tecnológicas) diferenciados. Cria também pontes entre os estudantes
que têm acesso ilimitado aos mais avançados equipamentos e tecnologias e
os que dependem exclusivamente do espaço escolar para ingressar e vivenciar
experiências nestas novas dimensões de ensino.
Outra função inerente ao papel do professor em todos os tempos diz
respeito à sua açào como agente de valores, aquele que influencia os comporta-
mentos e atitudes de seus alunos. Neste mesmo sentido, é também o profis-
sional capaz de estimular a identidade (individual e grupal) e a sociabilidade com
e entre seus alunos. Um papel estrutural do docente é ser também agente das
inovações. O profissional que vai auxiliar na compreensão, utilização, aplicação
e avaliação crítica das inovações surgidas em todas as épocas, requeridas ou
incorporadas à cultura escolar.
Essas categorias ou funções, edificadas na açào docente, não se excluem
ou se apresentam separadamente no ato de ensinar/ aprender. Ao contrário,
elas aparecem na atividade cotidiana do professor sem ser anunciadas, em um
processo de mixagens instantâneas do ser, de acordo com as necessidades e
com a realidade de cada momento. Para efeito de uma análise mais direcionada,
no entanto, vamos examlnar isoladamente cada uma delas.
5.2.10 professor, agente da memória
Oprofessor, agente da memória social informal
A escola é um local de transmissão e manutenção da memória social. Nela, traba-
-se com o conhecimento valorizado pela sociedade, operacionalmente segmen-
tad0 em áreas, cursos, disciplinas e séries. A escola centraliza suas preocupaçõesem alguns aspectos do conhecimento. Por isso, promove um determinado tipo de
Educação -- educação escolar — respeitada socialmente e indicadora (por meio desuas avaliações e certificados), diante do grupo social, do grau de conhecimentose da formação que cada aluno foi capaz de atingir em sua trajetória escolar.A função limitada da escola — de todos os níveis — ao ensino de deter-
Instituição de memória social 
competências 
informal. 
não 
As memórias 
restringe sua 
de 
plena 
um grupo 
atuaçào 
social
comoconhecimentos e 
96 ENSINAR A ENSINAR
incorporadas nas linguagens, histórias, lendas, canções, relaçÕes
brincadeiras e rituais, festas, tradições, nos hábitos e nos mitos estão
manentemente presentes nas escolas de todos os tempos por meio das ações
e interações espontâneas entre professores, alunos e demais pessoas que pot
ali circulam.
Nos espaços das salas de aula — independentemente do programa e da
matéria que estiver sendo desenvolvida — trocam-se ideias e
Recuperam-se memórias sociais: atitudes, hábitos e valores respeitados pelo
grupo ao qual a escola pertence. Incorporam-se comportamentos caracterís_
ticos da instituição de ensino e que passam a fazer parte dos procedimentos
— formais e informais — de professores e alunos.
A "cultura escolar" — memória informal transmitida nesse convívio -é
apreendida e marca a maneira de agir dos alunos. Eles aprendem, nas interações
com seus colegas e mestres, algo mais que o conteúdo das disciplinas. Adquirem
posturas e linguagens que identificam a formação, a origem escolar. Uma certa
"aura" ou estilo que vai permear muitas de suasações durante toda sua vida.
O Professor, agente da memória educativa
A memória educativa caracterlza-se pelo conjunto de conhecimentos, informa-
ções e posicionamentos teóricos que constituem os acervos e as particularidades
de determinada instituição de ensino. Utiliza-se do conhecimento científico e
da memória social geral para oferecer um corpo específico de referências, de
acordo com os objetivos e o projeto da escola.
Ser agente da memória educativa é talvez o principal papel do profes-
sor em todos os tempos. Na memória educativa incluem-se os mais diversos
objetivos da açào docente. A açào específica da escola — que a distingue das
demais — apresenta-se principalmente por meio de seu acervo de conteúdo
existentes nas diversas disciplinas, metodologias e práticas curriculares. Os
conhecimentos teóricos, técnicas, habilidades, atitudes, ritos pedagógicos
(como a avaliação, por exemplo) etc. ensinados e praticados nos diversos
níveis de ensino constituem acervos valorizados pelo sistema educacion
e pela sociedade. Variam de acordo com os objetivos e especificidades 
de
cada instituição, de cada época. Espelham como cada grupo identifica o que
seriam os conhecimentos básicos para ser ensinados/aprendidos 
ca
Sâ0
estágio da civilização. Reflete maneiras específicas de pensar, sentir, agir'
também formas particulares de classificar, identificar e valorizar 
socialmente
o aluno bom e o ruim, o que sabe e o que não sabe, o que vai ser aprova
o que será reprovado.
CAPíTULO 5 | 0 PAPEL DO PROFESSOR NA SOCIEDADE DIGITAL 97
O domínio do conhecimento pelo professor em sua área de atuação é
um dos pontos básicos de sua ação profissional como agente da memória educativa
em todos os tempos. Este domínio, no entanto, precisa ser compreendido
não mais apenas como aquisição de seu acervo próprio de conhecimentos,
mas também pela sua capacidade permanente de questionar sua relação com
esse conhecimento, de refletir e ir além. Neste sentido, colocar-se em estado
permanente de aprendizagem é um aspecto estrutural da açào do docente. Esta
disposição reflete-se no papel do professor em sala de aula por uma atitude
propícia à interaçào e ao questionamento: com outros professores, com
seus alunos e com todas as formas possíveis de ampliação e atualização de
seu acervo pessoal de informações e saberes. Criam-se, assim, instantes em
que o conteúdo da disciplina — a memória educativa em seu sentido mais
estreito — é colocado não mais como certezas e verdadesPessoais, mas como um
espaço de ousadias e descobertas, sempre aberto para novas aprendizagens.
Oprofessor, agente de memória na sociedade digital
No atual estágio da sociedade digital — em que conhecimentos e práticas edu-
cativas não são mais apenas atribuições específicas das instituições tradicionais
de ensino —, o professor amplia, não reduz, sua função de agente da memória
educativa. Na sociedadepedagógica, '6m que a formação contínua e a aprendizagem
a distância, sempre e em todo lado presente nas redes universais, se reunirão
às bibliotecas, escolas e universidades ", como diz Serres (1996, p. 134), cabe
ao professor coordenar a açào e a reflexão sobre o processo de definição das
memórias educativas — metamorfoseadas em saberes e práticas — que cons-
tituirào o acervo de conhecimentos valorizados e referendados socialmente.
NO universo de dados apresentados pelos media e dispositivos eletrônicos de
última geração, o papel do professor deverá ser o de estimular e atuar junto
com os alunos para recuperar a origem e a memória do saber, estabelecer uma
certa ordem e direcionamento para as práticas, os conhecimentos, as vivências
e POSicionamentos apreendidos nos mais variados ambientes e equipamentos:
dos livros aos computadores, redes e ambientes virtuais.
Atuando com seus alunos em sala de aula ou nas mais diferenciadas
formas de ensino on-line, o professor dinamiza a açào didática em atividades
orientadas de busca, ordenação, organização, reflexão e crítica dos dados co-
letados nas redes, transformando-os em acervos informativos educacionais,
Por meio dos quais a aprendizagem coletiva, a memória do conhecimento
escolar 
globalizado se faz.
98 ENSINARA ENSINAR
O professor, como agente de memória — em um mundo que
para a frente", sempre em busca do mais novo, 0 mais veloz, 0 mais
— funciona também como a pessoa que leva as novas gerações a recuperar opassado, a discutir suas origens, histórias, sua memória social, a identificat
avanços e recuos nas ciências, nos saberes e no processo civilizatório. Aaprender com o passado e a respeitá-lo como construção socialmente
importante quanto o momento presente e as projeções de futuro. O professor
como agente de memória educativa, leva os alunos a descobrir o sentido das
coisas consideradas pontualmente importantes no presente e suas variações
em outras épocas, a estabelecer relações entre tudo o que veio antes e
virá (em termos de construções científicas e sociais), a identificar processos e
descobertas que colocam esses saberes e práticas em permanente discussàoe
ajuda seus alunos, como já dizia Babin, a conhecer suas origens, identidades
e memória social na civilização que faz perdê-la". (1981, p. 165)
A mais importante transformação no papel do professor como agente
de memória educativa na sociedade digital é a de que, a partir das atividades
realizadas interativamente com outras realidades e grupos sociais via redes, a
escola deixa de ser uma instituição fechada e autocentrada para transformar-se
em um espaço de trocas — informações e conhecimentos — com outras pessoas
e instituições diferenciadas, no país e no mundo. "A utilização das múltiplas
formas de interaçào e comunicação via redes amplia as áreas de atuaçào das
escolas, colocando-as em um plano de intercâmbios e de cooperação interna-
cional real, com instituições educacionais, culturais e outras que sejam de seus
interesses." (Kenski, 1999). Neste sentido, o professor torna-se peça-chave
para promover o conhecimento, o respeito e a integração de seus estudantes
com as especificidades e tradições características dos diferenciados grupos aos
quais eles têm acesso e com os quais se articulam no processo de aprender•
O papel do professor como agente da memória na sociedade digital
é, principalmente, o de ajudar seus alunos a se compreenderem como paro
-
cipantes de um grande e complexo grupo social, com tradições e processos
civilizatórios diferenciados. Procurar, mediante a integração dessas diferenças'
alcançar a utopia proposta por Pierre Lévy (1999) , do coletivo inteligente em
direçáo
à ecologia cognitiva que une a totalidade de seres — homens e máquinas
santes, contribuindo todos para a memória coletiva comum, em permanente
processo de ampliação e transformação. ode
Esta universalização do processo educacional, no entanto, não P
deixar de ser acompanhada da valorização dos aspectos que 
caracterizam
• 
dariedade 
e
caráter regional do ensino e o fortalecimento da cidadania, da rio
do respeito entre os povos. Todos precisam se sentir cidadãos do seu prop
CAPíTULO 5 | 0 PAPEL DO PROFESSOR NA SOCIEDADE DIGITAL 99
do mundo. Processos de intenção, colaboração e respeito às diferenças
precisam 
ser e
cionais. Neste aspecto, o papel do professor será, sobretudo, o de orientar seus
alunos (e a si mesmo) a respeitar e a aprender por meio de trocas virtuais (e/ou
presenciais) com seus colegas de classe e outras pessoas e alunos de diferentes
culturas, idiomas e realidade social. Criar também pontes entre os estudantes
que têm acesso ilimitado aos mais avançados equipamentos e tecnologias e
os que dependem exclusivamente do espaço escolar para ingressar e vivenciar
experiências nas novas dimensões de ensino. E assim capaz de realizar na ação
docente interações e intercâmbios entre linguagens, espaços, tempos e conheci-
mentos (pontes temporais, sociais, tecnológicas) diferenciados.
5.2.2 0 professor, agente de valores da sociedade
ValoresPessoais no comportamento dodocente
O professor é um comunicador, um formador de opiniões, hábitos e atitudes.
No convívio regular com seus alunos, ele orienta e identifica o caminho a
ser seguido. Ele faz escolhas que se refletem em seus aprendizes. Mesmo nas
situações educacionais mais restritas, quando do cumprimento de programas
fechados — sem margens para interações mais democráticas e trabalho coope-
ratlvo— a forma como ele ensina (ou seja, tece mediações entre o conhecimento
a ser trabalhado, suas posições diante deste conhecimento e as especificidades
dos seus alunos) define valores.
A cultura escolar disciplinar (no que diz respeito aos prêmios, castigos,
Práticas, atitudes valorizadas, rituais etc.) estabelecida nos regimentos e nafilosofia da instituição de ensino tem no professor o seu principal agente deaplicação. Em muitos casos, ele reinterpreta essas disposições de acordo comPosicionamentos e valores pessoais. No espaço fisicamente restrito das salas deOu nos amplos ambientes das aulas virtuais, sua ação é fundamental para adefinição de regras de convivência, formas de ação, atitudes e comportamentosque vigorarão na dinâmica das interações com e entre seus alunos.
soal papel do professor como agente de valores é uma construção pes-e Original. Estes valores pessoais resultam de um conjunto de fatores queenvolvem, entre outros, a competência do docente para ensinar determinada
aula a, sua maneira de se relacionar com os alunos nas situações de sala dee sua postura como pessoa e como profissional, aberto (ou não) ao diálogodescoberta de novos caminhos para 0 ensino e aprendizagem (sua e de seus
100 ENSINARA ENSINAR
alunos). Cada professor tem sua maneira específica de agir (logo
pelos alunos) e de se comunicar. Estas especificidades da do docenterefletem - com maior ou menor intensidade - nas reações e comportamentos
dos alunos em relação ao próprio professor, à disciplina ensinada, aos colegasà escola como um todo e aos demais professores. Estes valores se reproduzeme marcam os alunos, em muitos casos, com aprendizagens mais significativas doque as próprias informações apresentadas na disciplina. Nas rememorações
os alunos esquecem os conteúdos de muitas das matérias, mas as atitudes evalores adquiridos no convívio e no exemplo de seus professores permanecem
incorporados aos seus comportamentos, às suas lembranças.
Valores do docente em relação ao conhecimento
Na escola, terñtório em que supostamente predomina a leitura e a escrita, a ora-
lidade nunca foi apartada. É pela voz e dos gestos do professor que os alunos
são encaminhados na compreensão e análise dos saberes existentes nos textos,
nos livros, nos sites e na internet em sentido amplo. A forma oral de transmis-
são das informações faz recortes, seleciona, valoriza e reinterpreta a suposta
objetividade do texto. E através da fala que os saberes socialmente valorizados
são trabalhados como leituras pessoais que o professor tem diante daqueles
conhecimentos. Suas atitudes diante do conhecimento influenciam direta ou
indiretamente o comportamento intelectual de seus alunos. Gostar ou não de
determinada disciplina ou matéria muitas vezes tem origem na relação do aluno
com professores que comunicam junto com a informação o seu entusiasmo ou
desencanto com o tema.
O professor, quando ensina, não apresenta apenas a informação. Ele seduz com
a informação. Cria um clima favorável ou não a partir da maneira como apresenta e
desenvolve o tema com seus alunos. Através das mais diversas práticas e linguagens
comunicativas, o professor reinterpreta os dados da informação e os transforma
em mensagem, que vai ser recebida e recodificada diferenciada e individualmente
pelos alunos. Não apenas puro saber nem somente sensações, mas um ensemb16
conjunto complexo, em que se misturam raciocínios lógicos, sentimentos, emoções
e, sobretudo, valores que permanecem agregados às informações apreendidas
O Professor, agente de valores na sociedade digital
A sociedade contemporânea caracteriza-se pela complexidade, 
incerteza 
e
velocidade de suas mudanças em todos os sentidos. A 
imprevisibilidade 
da
época gera desafios permanentes que se refletem diretamente na açã0
docente,
CAPíTULO 5 | 0 PAPEL DO PROFESSOR NA SOCIEDADE DIGITAL 101
0 professor de todos os níveis de ensino não pode mais se postar diante do
conhecimento como "aquele que sabe", mas sim como "aquele que pesquisa".
pesquisa, aqui entendida como procedimento docente, requer colaboração
e ousadia. E preciso surpreender o conhecimento, desvendá-lo, estabelecer
relações inusitadas, mas que sejam significativamente importantes para o avanço
na construção individual do saber. Esta açào, porém, não é fruto apenas de
trabalho solitário do sujeito que quer aprender. O estímulo à colaboração e a
produção e açào em equipe para a superação de desafios de aprendizagem, aqui
vistos na perspectiva dos valores que lhes são agregados, são procedimentos
que exigrào ações definidoras do professor para que sejam bem-sucedidos.
Além disso, nos ambientes virtuais de aprendizagem, o professor pode se
dedicar a um processo intensivo de interação personalizada com cada um dos
alunos de suas turmas (o que é praticamente impossível de ocorrer nos restritos
tempos das aulas presenciais) estimulando-o a se comunicar e interagir com os
demais participantes do mesmo espaço de aprendizagem. Ele tem melhores
condições temporais para responder às perguntas e orientar as dúvidas de seus
alunos. Seu papel como membro e articulador do trabalho em colaboração
com todos os envolvidos — alunos, principalmente — requer o estabelecimento
claro de valores e regras de comportamento que permearão toda açào no meio
digital. Em primeiro lugar, é necessária a instituição de formas de convivên-
Cia entre todos e a formação de um ambiente social amigável. Um clima de
confiança e amizade em que haja respeito às diferenças individuais e estímulo
à existência de um espírito interno de grupo; que propicie a construção não
apenas do conhecimento, mas de uma rede de valores éticos e morais voltados
à cooperação e colaboração entre todos.
Na atualidade, a velocidade das inovações e das mudanças, " [...] desde os
saberes científicos aos costumes [...]", [produz] "[...] continuamente situações
e Problemáticas novas que deixam confusos e perturbados, muitas vezes de
modo dramático, os indivíduos, os grupos e as instituições" (Nóvoa, 1992).
Compete ao professor recuperar o respeito entre as pessoas, a solidariedade
e a liberdade para se colocarem livremente conscientes da importância da
Contribuição pessoal na construção do pensamento comum.
Desponta entre os valores inerentes à função docente a preocupação na
formação de cidadãos, conscientes de suas responsabilidades, orientados para
açào social de qualidade não apenas no perímetro restrito do seu espaço
Vivencial local, mas sem fronteiras, em todo o mundo.
102 ENSINARA ENSINAR
5.2.3 0 professor, agente das inovações
Os papel do professor em todas as épocas é ser o arauto Permanente das
inovações existentes. Ensinar é fazer conhecido o desconhecido. Agente
das inovações por excelência, o professor aproxima o aprendiz das
vidades, descobertas, informações e notícias orientadas para a efetivação
da aprendizagem.
Um novo momento da realidade escolar apresenta-se na atualidade, em
que o eixo de veiculação dos conhecimentos a serem trabalhados na escola
não se dá exclusivamente nesse espaço social. No atual estágio da sociedade
as informações e inovações encontram-se disponíveis nos múltiplos media e
sobretudo, nos ambientes virtuais acessíveis via redes. Um conhecimento fragmen-
tário, bem mais facilmente acessível que um livro impresso. Um conhecimento
sedutor, que se apresenta com todos os recursos de sons, cores, imagens e
movimentos; que pode ser acessado em qualquer instante, sem restrições. Pela
velocidade das mudanças, essas informações são, quase sempre, provisórias,
múltiplas, díspares, confusas, paradoxais. Um excesso de dados que precisam
ser compreendidos,discutidos e trabalhados coletivamente para serem apreen-
didos e analisados criticamente.
E em meio a esta multiplicidade de informações que o professor deve
estar presente como agente de inovações em um novo sentido. Seu papel, neste
momento, não será anunciar a informação, mas orientar, promover a discussão,
estimular a reflexão crítica diante dos dados disponíveis nas mais variadas fon-
tes. Possibilitar aos alunos a triagem destas informações e o estabelecimento
de oportunidades para a reflexão, o debate e a identificação da qualidade do
que lhes é oferecido pelos inúmeros canais por onde os conhecimentos
disponibilizados. Neste sentido, ele é o profissional que vai auxiliar na com-
preensão, utilização, aplicação e avaliação crítica das inovações, em sentido
amplo, requeridas pela cultura escolar.
Como diz Lévy (1999), o professor se torna o ponto de referência para
orientar seus alunos no processo individualizado de aquisição de conhecimen-
tos. Oferece oportunidades para o desenvolvimento de processos de construção
coletiva do saber por meio de estratégias de colaboração, formação de redes
e grupos de discussão on-line e comunidades de prática. Nessas novas confie
gurações, os alunos são estimulados a superar desafios, desenvolver 
projetos
e outras açôes coletivas,
de
A competência do docente deve compreender a busca e a proposição
ações desafiadoras no sentido de incentivar a aprendizagem e o pensamento
O professor torna-se o animador da inteligência coletiva dos grupos que estão 
a
CAPíTULO 5 | 0 PAPEL DO PROFESSOR NA SOCIEDADE DIGITAL 103
seu encargo. Sua atividade será centrada no acompanhamento e na gestão
das aprendizagens: o incitamento à troca de saberes, a mediação relacional
e simbólica, a pilotagem personalizada dos percursos de aprendizagem etc.
(Léw, 
1999, p. 171).
O professor, agente das inovações, é um incansável pesquisador, um pro-
fissional que aceita os desafios e a imprevisibilidade da época para avançar no
conhecimento e definir seus caminhos a cada instante.
Em um mundo que muda rapidamente, o professor deve estar preparado para
auxiliar seus alunos a lidarem com estas inovações, a analisarem situações com-
plexas e inesperadas; a desenvolverem suas criatividades; a utilizarem outros
tipos de "racionalidades": a imaginação criadora, a sensibilidade táctil, visual
e auditiva, entre outras. (Kenski, 1999)
Oprofessor, agente criador e estimulador de inovações
Nos sistemas avançados de ensino a distância, a pseudo-objetividade da informa-
ção parece dispensar a Interferência humana no processo educativo. Na verdade,
esta possibilidade de ensino está cada dia mais integrada às formas tradicionais
(e presenciais) de educação escolar. Com os recursos das redes, os estudantes
podem usufruir formas híbridas de ensino (semipresenciais e a distância) com
os mais diferenciados formatos. São blogues, wikis, MOOCs, videoaulas, diver-
sos games interativos e os mais inovadores dispositivos tecnológicos digitais.
Tecnologias imersivas e interativas, tais como realidade virtual, vídeos imersivos
e realidade aumentada, podem ser utilizadas em processos didáticos e projetos
educacionais diversos. Como dizia Tofler, em 1998, "[...] uma outra maneira de
dizer e de fazer educação se anuncia e se faz necessária". Para ação do docente
nessas novas realidades há que se ir além do conhecimento da lógica de funcio-
n
amento desses dispositivos e conhecer novos métodos adequados às finalidades
da proposta pedagógica que valida o uso dessas inovações.
Neste processo, a implantação de inovações tecnológicas estruturais
viabiliza 0 uso de novos dispositivos digitais nas escolas, pelos alunos e pro-
fessores. A primeira é a ampliação das redes wi-fi e a largura de banda. Elas
Possibilitam a democratização do acesso e a possibilidade ubíqua de conexão
a qualquer tempo. Complementar a essas novas realidades está a difusão ex-
tensiva dos REA (recursos educacionais abertos), gratuitos e livres, possíveis
ser Utilizados em diferenciados tipos de atividades on-line, presenciais -- em
salas de aula e laboratórios — ou a distância. Smartphones, tablets e inúmeross
Positivos móveis complementam essas condições básicas para acesso e
104 ENSINARA ENSINAR
viabilizam o desenvolvimento de inúmeras ações educacionai
colaborações mediadas pelos dispositivos e redes digitais.
s, Interações 
e
Nesta nova realidade educacional, torna-se impossível a açào isolada doprofessor como provedor de conhecimentos. Reunidos em equipes, sobretudo
com seus alunos, professores assumem papéis diferenciados, que, segundo Berge
(1995), dizem respeito a quatro áreas: pedagógica, social, gerencial e técnica. Na
pedagógica, o professor é o orientador do caminho a ser seguido para o desen_
volvimento do curso. Na área social, cabe a ele o papel de criação de ambiente
social favorável à comunicação interpessoal, procurando formas de integração
grupal. Faz perguntas, estimula a apresentação de respostas e comentários de
todos os alunos, encaminhando-os para a análise e reflexão crítica das informa-
ções disponíveis nas redes e demais espaços virtuais.
Sua função gerencial é definir horários, prazos, regras e o próprio ritmo
de atividades do curso. A área técnica é a garantia de familiaridade do professor
com a tecnologia em uso para desenvolver o curso on-line. E preciso também
garantir que os alunos estejam seguros e dominem os procedimentos requeri-
dos no ambiente digital para orientar seus esforços em direção aos objetivos
do processo de aprendizagem.
As tecnologias digitais permitem ao professor trabalhar na frontein do
conhecimento que pretende ensinar. Mais ainda, possibilitam que ele e seus
alunos possam ir além e inovar, produzir blogues, portfólios, e-books e usar
de forma criativa o conteúdo aprendido. Inovar também na forma como são
viabilizadas as produções nos espaços das redes. Para isso, além do domínio
competente para promover ensino de qualidade, é preciso ter um razoável
conhecimento das possibilidades de uso do computador, das redes e de de
mais dispositivos digitais que pretenda utilizar em variadas e diferenciadas
atividades de aprendizagem. Além disso, é necessário também identificar quais
as melhores maneiras de uso destas e de outras tecnologias avançadas para a
abordagem de determinado tema em um projeto específico, de maneira a
aliar
as especificidades do "suporte" tecnológico ao objetivo maior da qualidade de
ensino que pretende oferecer.
Na sociedade digital, o papel dos professores se amplia, ao invés
de
se extinguir.
Novas qualificações para estes professores são exigidas, mas, ao mesmo
novas oportunidades de ensino se apresentam. Os projetos de educação pe
nente, as diversas instituições e cursos que podem ser oferecidos para to
níveis de ensino e para todas as idades, a internacionalização do ensino
CAPíTULO 5 | 0 PAPEL DO PROFESSOR NA SOCIEDADE DIGITAL 105
das redes — criam diferentes oportunidades educacionais para aqueles professo-
res que aceitam estes desafios e se colocam abertos a estas novas e estimulantes
funções. (Kenski,1999)
Retomo, ao final, à pergunta inicial. O que é um professor na sociedade
diótal? Qual é o seu papel? Respondem-me a minha própria experiência, os
teóricos contemporâneos e todos os demais profissionais que vivenciam a com-
plexidade da Educação na atualidade: o professor competente, que corresponde
às necessidades de ensino do momento, é um profissional necessário. Seu papel,
no processo de ensinar/ aprender, é o de usar, compartilhar, produzir e refletir
com os seus estudantes sobre os conhecimentos apreendidos e trabalhados a
partir das informações disponíveis nos espaços digitais. Além disso, sua ação
deverá permitir a possibilidade de se criar elos e relações entre a realidade
atual e as memórias de todos os tempos. Mais ainda, este professor precisa
estabelecer uma cartografia de saberes, valores, pensamentos e atitudes a partir
da qual possa instigar criticamente seus alunosem relação ao conhecimento
e motivá-los a ir além, em busca do novo. E no novo, a eterna busca do ser,
melhor, em todos os sentidos.
Bibliografia
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audiovisual e do computador. São Paulo: Paulinas, 1989.
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