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era possível que só encontrasse corações to duros, que resistissem a tanta lágrima, a tamanha dor e a tamanho desespero! No primeiro paquete achava-se abordo, apenas seguida de uma escrava que, entre as suas, lhe merecia mais confiança. Mas, agora, pelo braço de um estranho que a não desamparava por mera delicadeza, ou talvez por compaixão; agora, no grosseiro tumulto do cais, estremunhada no meio daquela gente desconhecida - a infeliz sentia-se fraquear. Não sabia que fazer, - se ir em busca do Campos ou correr à toa por aquelas ruas, a gritar pelo filho, a reclamá-lo daquele mundo indiferente que formigava em torno de sua perplexidade. E, por mais que se quisesse fingir forte, uma aflição crescia-lhe dentro e tomava-lhe a garganta. Tremiam-lhe as pernas e os olhos marejavam-se-lhe de lágrimas. - Mas V. Ex.ª não disse que seu filho morava nas Laranjeiras?...perguntou o velho, compreendendo a perturbação de Ângela. - Sim, foi para aí que ele me mandou dirigir as cartas...Tenho até aqui comigo o número da casa, mas, depois disso, já recebi a tal notícia da prisão , e... - Bem, interrompeu o outro - o mais certo é irmos até lá. - Se não encontrarmos o rapaz, havemos de achar alguém que nos dê informações. É mais um instante! Eu ainda posso acompanhá-la ;não tenho pressa; o melhor, porém, seria tomarmos um carro. - Não, não! respondeu a senhora, sempre inquieta, a olhar para todos os lados, como se esperasse, por um acaso feliz, descobrir Amâncio , de um momento para outro. Estavam já na Rua Direita. Ela, de repente, estacou e pôs-se a fitar a vidraça de um armarinho. - Algum conhecido? Perguntou o velho. - Não. É que estes chapéus...tenha a bondade de ver se consegue ler aquele nome...eu, talvez me enganasse... O velho leu distintamente”` Amâncio de Vasconcelos”. - É o título! Disse. - Eles agora batizam as mercadorias com os nomes que estão na moda. Algum tenor! - É singular!...balbuciou a senhora. - Por quê? - É esse justamente o nome de meu filho. - Oh! não há só uma Maria no mundo!... Mas D. Ângela fugira-lhe outra vez do braço para correr a uma nova vidraça. Eram agora bengalas e gravatas “à Amâncio de Vasconcelos” que lhe prendiam a atenção. Acabavam de entrar na Rua do Ouvidor.
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