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florestal, desmatamentos e aquecimentos – em razão dos 
próprios desmatamentos –, aliada à prática agrícola pre-
dominante, que utiliza fogo intensamente, este quadro está 
mudando rapidamente, e a freqüência de incêndios florestais 
vem crescendo assustadoramente a cada ano.
O grande incêndio nas florestas, savanas e campos de Rorai-
ma, entre janeiro e março de 1998, é um exemplo ilustrativo do 
que pode acontecer no futuro com mais freqüência. Resultado 
de uma persistente e intensa seca causada pelo fortíssimo epi-
sódio El Niño de 1997-1998 e o uso indiscriminado de fogo, 
mais de 13 mil km2 de florestas foram afetados pelo fogo, em 
um dos maiores incêndios observados na Amazônia.
A seca de 2005 constitui-se em outro exemplo que mostrou 
a vulnerabilidade da Amazônia ao fogo. A falta de chuva 
durante o verão daquele ano, na Amazônia Ocidental, aliada 
à baixa umidade do ar, gerou condições favoráveis para o 
espalhamento do fogo, que foi de uma extensão 300% maior 
do que em 2004. Vejam que a seca de 2005 não foi associa-
da ao El Niño, o que sugere que a combinação seca/fogo, na 
Amazônia, nem sempre está relacionada ao El Niño.
A combinação dos impactos climáticos regionais e locais 
decorrentes dos desmatamentos com aqueles resultantes do 
aquecimento global, além de outras variáveis locais, implica 
climas mais quentes e possivelmente também mais secos.
Isso, aliado à maior propensão aos incêndios florestais, ampli-
fica tremendamente a vulnerabilidade dos ecossistemas tropi-
cais. Assim, nas florestas, esse cenário só é favorável às espécies 
mais adaptadas a essas novas condições, que são, tipicamente, 
aquelas de savanas tropicais e subtropicais, naturalmente adap-
tadas a climas quentes, com longa estação seca, e nas quais o 
fogo desempenha papel fundamental em sua ecologia.
Amazônia e Cerrado
Na Amazônia, com a combinação de desmatamento, incên-
dios e aquecimento global, impactos intensos de longo prazo 
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seriam sentidos nos solos, na 
biodiversidade e nos siste-
mas hídricos. Com a proba-
bilidade de haver uma forte 
mudança no ciclo hidroló-
gico, haveria também um 
problema sócioeconômico, 
em função dos efeitos para a 
pesca – usada na região para 
a subsistência e como fonte 
de renda –, e também porque 
diminuiria a oferta de água. 
Neste caso, além de afetar o 
consumo, resultaria em problemas para o mais importante 
meio de locomoção na região: o transporte fl uvial.
Além disso, na região amazônica, estará o caso mais críti-
co de agravamento das condições de saúde da população. 
Alguns estudos mostram que, com cenários de mudanças 
do clima, as taxas de mortalidade aumentariam por causa 
das enchentes, secas e ondas de calor. De forma indireta, 
esses eventos extremos podem causar, ainda, um aumento 
nos casos de malária, dengue e cólera, especialmente com a 
combinação de altas temperaturas e chuvas intensas.
Mata Atlântica
Com relação à Mata Atlântica, poucos estudos foram desen-
volvidos. No entanto, é possível observar que esse bioma 
é bastante sensível a forçantes climáticas – especialmente 
a mudanças na temperatura e no regime de chuvas –, por 
apresentar grandes contrastes em sua composição, de acordo 
com a respectiva localização espacial, latitude e altitude.
É preciso levar em conta também a ocupação feita em quase 
toda a Mata Atlântica, quase sempre de maneira desordena-
da, o que pode contribuir para intensifi car a ocorrência de de-
sastres naturais. Em grande parte do que resta da área coberta 
de Mata Atlântica, o número de dias com chuvas intensas 
Incêndios naturais são mui-
to comuns no Cerrado. O 
fogo pode surgir esponta-
neamente em áreas muito 
quentes e secas ou ainda 
ser provocado por raios. No 
caso do Cerrado, o fogo é 
parte integrante do ciclo de 
regeneração da vida. Mas 
é preciso que os incêndios 
ocorram num ciclo natural, 
para não interromper os 
ciclos da fauna e da flora 
típicos da região.

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