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DIREITOS Humanos e Legislação Social

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DIREITOS 
HUMANOS E 
LEGISLAÇÃO 
SOCIAL 
Daniella Tech Doreto 
Adolescência e medidas 
socioeducativas no Brasil
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Reconhecer a criança e o adolescente como sujeitos em desenvolvi-
mento em seu contexto social.
 � Explicar as medidas socioeducativas (MSE).
 � Discutir a efetividade das MSE no Brasil.
Introdução
Crianças e adolescentes são considerados indivíduos em desenvolvimento 
que passam por diversas transformações biológicas, físicas, psicológicas 
e sociais, sendo diretamente influenciados pelo contexto em que vivem. 
Nesse sentido, a legislação vigente busca assegurar proteção a esses 
indivíduos e resguardar seus direitos fundamentais. Diante da ocorrência 
de atos infracionais, os adolescentes são encaminhados para cumpri-
mento de medidas socioeducativas, a saber: advertência; obrigação de 
reparar o dano; prestação de serviços à comunidade; liberdade assistida; 
semiliberdade; e internação. 
Neste capítulo, além de aprofundar o conhecimento sobre essas 
medidas socioeducativas, você obterá os elementos necessários para 
reconhecer a criança e o adolescente como sujeitos em desenvolvimento 
e as limitações que enfrentam diante do contexto social em que vivem. 
Ainda, conhecerá as medidas socioeducativas em vigor no país e a sua 
efetividade no momento atual. 
1 Criança e adolescente como sujeitos em 
desenvolvimento em seu contexto social
A infância e a adolescência são períodos da vida que, nos últimos tempos, 
têm despertado interesse de várias áreas do conhecimento, tornando-se alvo 
de estudos de diversas disciplinas e um tema recorrente nas políticas públicas. 
Soma-se isso ao fato de que encontramos na literatura diversos conceitos 
para caracterizar a complexidade dessas fases, marcadas por peculiaridades 
e diversidades que variam conforme as culturas e as sociedades (DORETO, 
2006). É consenso, no entanto, que desde o nascimento até a morte, o ser 
humano passa por um processo constante de mudanças, resultante da intera-
ção entre características biológicas e o contexto no qual está inserido (DIAS; 
CORREIA; MARCELINO, 2013). 
Segundo Dias, Correia e Marcelino (2013), a infância é considerada a 
primeira fase da vida humana, marcada por transformações físicas, motoras, 
cognitivas e psicossociais. O processo de 
[...] desenvolvimento da criança é um processo pessoal, único, situado num con-
texto histórico e cultural que, também, o influencia. A criança desenvolve-se 
em diferentes ambientes, mais ou menos familiares, que lhe oferecem as suas 
primeiras experiências de vida (DIAS; CORREIA; MARCELINO, 2013, p. 14). 
Assim, a maneira como as crianças se desenvolverão sofrerá influência do 
contexto em que estão inseridas e das vivências que terão ao longo da vida. 
Do ponto de vista cronológico, são consideradas crianças os indivíduos 
com até 12 anos de idade incompletos e adolescentes aqueles com idade entre 
12 e 18 anos (BRASIL, 1990). Porém, essa definição é puramente cronológica 
e apresenta limitações, pois nem infância nem adolescência iniciam-se e 
terminam pelo fato de se atingir determinada idade, ou seja, a demarcação de 
limites etários para caracterizar a infância e a adolescência sofre variações, 
visto não ser possível afirmar que, ao completar 12 anos, o indivíduo deixa 
de ser criança e, ao atingir os 18 anos, passa a não ser mais adolescente. Para 
caracterizar tanto o seu início quanto seu término, as definições não se aplicam 
universalmente, variando entre países, regiões e culturas diferentes. O marcador 
cronológico, contudo, é necessário para fins de pesquisas, classificações, etc. 
Já quanto à adolescência, recorremos à Organização Mundial da Saúde 
(OMS) (WORLD HEALTH ORGANIZATION [WHO], c2020), que, em 
seu conceito de adolescência, amplamente reconhecido na área da saúde, 
estabelece como adolescência o período da vida situado entre 10 e 19 anos de 
Adolescência e medidas socioeducativas no Brasil2
idade. Segundo tal definição, o período se caracteriza pelo amadurecimento 
físico, psicológico e social, de transição da infância para a idade adulta, sendo 
subdividido em dois outros períodos: 10 a 14 anos, fase em que surgem os 
caracteres sexuais secundários; e 15 a 19 anos, finalização do crescimento e 
do desenvolvimento morfológicos. Na primeira fase (que começa aos 10 anos), 
inicia-se a puberdade, palavra originária do latim, pubertas — idade fértil —, 
que se caracteriza pelo amadurecimento dos caracteres sexuais secundários, 
marcando o início da capacidade reprodutiva. É na adolescência, portanto, 
que o indivíduo fica pronto para a reprodução e a sexualidade passa a ter 
posição de destaque.
Assim como a infância, a adolescência sofre variações em termos biológicos, 
físicos e psicológicos, mas, além dos aspectos mencionados, o desenvolvimento 
humano nessa fase é marcado pelas influências do contexto social em que 
vivem esses indivíduos. Merecem destaque as transformações psicológicas 
caracterizadas especialmente pela busca de identidade, pensamento abstrato e 
estruturação da identidade sexual (ABERASTURY; KNOBELL, 1986). Vale 
destacar ainda que, nesse momento, o mundo infantil, vivenciado no conhecido 
e seguro mundo familiar, cede lugar a algo novo e desconhecido, o mundo da 
sociedade adulta, quando o adolescente começa a conquistar espaços dentro 
de si e da sociedade (CAVALCANTI, 1988). Assim, 
A adolescência se configura, então, como um período de experimentação de 
valores, de papéis sociais e de identidades e pela ambiguidade entre ser criança 
e ser adulto. O jovem está apto para a procriação, para a produção social e 
para o trabalho. Porém, a ambivalência da sociedade quanto à possibilidade de 
efetivação dessas aptidões faz com que ele adquira um status intermediário e 
provisório, e passe a ser tratado de forma ambivalente: como criança e como 
adulto (SALLES, 2005, p. 36).
Carbonaro (2018) acrescenta que as mudanças físicas, emocionais e sociais 
às quais estão expostos os adolescentes promovem transformações do ponto 
de vista do desenvolvimento neurológico, impactando diretamente em sua 
formação e em 
[...] seu comportamento, suas emoções e sua subjetividade. Essa evolução, 
e até mesmo a mudança da autoimagem, permite ao adolescente abandonar 
a insegurança da infância, bem como o medo de enfrentar a fase adulta, 
cultivando, portanto, um misto de emoções em desenvolvimento no eixo 
hipotalâmico. (CARBONARO, 2018, p. 115). 
3Adolescência e medidas socioeducativas no Brasil
Segundo o autor, no denominado “sistema límbico”, também ocorrem 
importantes mudanças:
[...] principalmente em termos emocionais, causadas pela produção de neurotrans-
missores que, em desequilíbrio, pode alterar o humor. Tais mudanças internas, 
associadas a aspectos ambientais variados, sugerem a exposição do adolescente 
a fatores de risco, dentre eles o uso de drogas (CARBONARO, 2018, p. 115). 
Já as mudanças comportamentais frequentemente observadas em adoles-
centes “[...] decorrem de transformações intensas que acontecem em diversas 
regiões cerebrais. Sendo assim, podemos perceber que, devido a fatores cul-
turais e hormonais e à falta de maturação cerebral, os adolescentes apresen-
tam reações às situações estressoras às quais estão sujeitos nesse período” 
(CARBONARO, 2018, p. 115).
Após tais considerações, cabe acrescentar que adolescentes e jovens podem 
ser considerados:
[...] categorias constituídas por meninos e meninas que trazem experiências, 
práticas sociais e estilos de vida distintos, em função das atribuições de gênero, 
suas complexas articulações com classe social e raça/etnia e as marcas que 
estas pertenças imprimem à subjetividade de cada um (VILLELA; DORETO, 
2006, documento on-line). 
Segundo Salles (2005, p. 34), a análise de crianças e adolescentes e seus 
modos de agir, se comportar e sentir, deve ser associada à relação que as 
crianças estabelecem com os adultos, uma 
[...] interação[que] se institui de acordo com as condições objetivas da cultura 
na qual se inserem. Condições históricas, políticas e culturais diferentes 
produzem transformações não só na representação social da criança e do 
adolescente, mas também na sua interioridade. 
Nesse sentido, haveria uma correspondência entre a concepção de infância 
de uma sociedade, as trajetórias de desenvolvimento infantil, as estratégias dos 
pais para cuidar de seus filhos e a organização do ambiente familiar e escolar. 
Assim, infância e adolescência representam períodos da vida que estão imersos 
em aspectos históricos e sociais variáveis, e o grau de amadurecimento biológico, 
psicológico e social não acontece de maneira sincronizada. Torna-se necessário 
compreender as influências externas no desenvolvimento psicossocial do indiví-
duo, o que facilita o reconhecimento da necessidade de um período de transição 
da infância para a idade adulta, bem como os eventos que se associam a esse 
Adolescência e medidas socioeducativas no Brasil4
período da vida. O contexto social no qual se inserem essas crianças e adolescen-
tes definirá o universo de possibilidades e significações, diferenciando-se para 
pessoas de classes sociais distintas. Um exemplo disto se dá em países com nível 
socioeconômico mais elevado, nos quais a condição de adolescente muitas vezes 
se prolonga, adiando sua inserção no mercado de trabalho, a formação acadêmica 
e o vínculo matrimonial (DORETO, 2006). Em contrapartida, adolescentes (e até 
mesmo crianças) com menor renda são frequentemente inseridos no mercado de 
trabalho de modo precoce e, não raras as vezes, vivenciam a maternidade nessa 
fase da vida. Jovens com condição socioeconômica desfavorável apresentam um 
amadurecimento psicossocial diferenciado em comparação àqueles que dispõem 
de melhores recursos (DORETO, 2006). 
Como você pôde observar, infância e adolescência se constituem em eta-
pas essenciais da vida dos indivíduos, pois em ambas se sucedem eventos 
biológicos, psicológicos, econômicos e demográficos que fornecem as bases 
para a formação da personalidade, além de importantes determinantes que 
impactam na vida adulta desses seres. 
Diante do exposto, é importante não restringir essas complexas fases da vida 
a um limite etário, tornando-se fundamental a compreensão sobre os diversos 
fatores que impactam o desenvolvimento humano ao longo dos anos. Crianças e 
adolescentes são pessoas em processo de desenvolvimento e sofrem limitações 
— biológicas, psicológicas, legais e econômicas —, conforme o contexto em 
que vivem, o que denota que as desigualdades sociais, econômicas, culturais 
e educacionais impactarão diretamente no desenvolvimento humano. Talvez 
não seja possível falar em uma única infância ou adolescência, uma vez que 
cada indivíduo experenciará essas fases da vida de uma maneira particular. 
Assim, é importante conhecer as crianças e os adolescentes inseridos em seu 
contexto, que se mostra um importante determinante para a compreensão 
global dos significados e representações associados a essas fases. 
2 Conhecimento das medidas socioeducativas 
(MSE)
Antes de abordar as medidas socioeducativas propriamente ditas, é importante 
destacarmos brevemente as mudanças ocorridas ao longo dos anos quanto ao 
tratamento do adolescente que cometia ato infracional no Brasil. Na realidade, 
cada momento histórico determinou a maneira como se dispensava a atenção a 
esse grupo (DAMINELLI, 2017). Na década de 1920, foi instituído o Código de 
Menores, pois “[...] a criminalidade e o abandono dos assim chamados menores 
5Adolescência e medidas socioeducativas no Brasil
eram problemas sociais latentes das grandes cidades [...] e a Doutrina do Direito 
do Menor, ou salvacionista, como ficou conhecida, tinha como meta salvar 
as crianças brasileiras da pobreza e da marginalização” (DAMINELLI, 2017, 
p. 32). Em 1979, quando da aprovação do Novo Código de Menores, o cenário 
político era diferente, bem como as expressões utilizadas para se referir aos 
adolescentes, pois já não se falava mais em criminalidade infantojuvenil, 
e sim em atos infracionais, entendidos a partir da premissa de que 
[...] crianças e jovens pobres eram infratores ou infratores em potencial, o 
que justificava a intervenção do Estado. Essa doutrina fora gestada no Brasil 
no contexto da Doutrina de Segurança Nacional, levada a cabo pelo regime 
militar que tomou o governo do país em 1964 e tinha como palavra de ordem 
a noção de prevenção. (DAMINELLI, 2017, p. 32). 
Nesse sentido, vale ressaltar que no vocabulário da Fundação Nacional do 
Bem-Estar do Menor (FUNABEM), deveriam ser entendidas como prevenção 
“medidas adotadas para evitar a manifestação de fenômenos prejudiciais à 
ordem individual ou social” (DAMINELLI, 2017, p. 32).
Já no final do século XX, a intensificação dos debates internacionais sobre 
os direitos das crianças e adolescentes culminou na aprovação do Estatuto da 
Criança e do Adolescente (ECA), a partir do qual esses indivíduos passam a ser 
vistos pela necessidade de proteção integral. Em seu artigo 3º, esse documento 
estabelece que a criança e o adolescente têm todos os direitos fundamentais 
assegurados à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral proporcionada 
por esta lei, a fim de lhes garantir desenvolvimento físico, mental e social em 
condições de liberdade e dignidade (BRASIL, 1990). Também determina que 
menores de 18 anos de idade são inimputáveis e, para atos infracionais por 
eles praticados, deverão ser aplicadas as medidas socioeducativas (BRASIL, 
1990), entendendo como ato infracional, em seu art. 103, toda conduta descrita 
como crime ou contravenção penal. 
Em 2012, foi instituído o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo 
(SINASE), que regulamenta a execução de medidas socioeducativas (MSE) 
destinadas a adolescentes que pratiquem ato infracional (BRASIL, 2012), ou 
seja, apresenta as diretrizes e direciona a execução de MSE no país, em meio 
aberto ou fechado. De acordo com suas prerrogativas, as MSE têm por objetivos: 
I — a responsabilização do adolescente quanto às consequências lesivas do 
ato infracional, sempre que possível incentivando a sua reparação;
II — a integração social do adolescente e a garantia de seus direitos individuais 
e sociais, por meio do cumprimento de seu plano individual de atendimento; 
Adolescência e medidas socioeducativas no Brasil6
III — a desaprovação da conduta infracional, efetivando as disposições da 
sentença como parâmetro máximo de privação de liberdade ou restrição de 
direitos, observados os limites previstos em lei.
§ 3º Entendem-se por programa de atendimento a organização e o funcio-
namento, por unidade, das condições necessárias para o cumprimento das 
medidas socioeducativas.
§ 4º Entende-se por unidade a base física necessária para a organização e o 
funcionamento de programa de atendimento.
§ 5º Entendem-se por entidade de atendimento a pessoa jurídica de direito 
público ou privado que instala e mantém a unidade e os recursos humanos 
e materiais necessários ao desenvolvimento de programas de atendimento. 
(BRASIL, 2012, documento on-line). 
Constatada a prática do ato infracional, a autoridade competente poderá 
aplicar essas medidas, conforme descrito no Quadro 1.
Advertência Consiste em admoestação verbal, que será reduzida a termo e 
assinada
Obrigação 
de reparar o 
dano
Quando o ato infracional tiver reflexos patrimoniais, poderá ser 
requisitado que o adolescente restitua o bem, promova o ressar-
cimento do dano ou compense de alguma forma o prejuízo da 
vítima. No entanto, não havendo possibilidade de aplicação desta 
medida, ela poderá ser substituída por outra que seja adequada
Prestação de 
serviços à 
comunidade
Consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse 
geral, por período não superior a 6 meses, junto a entidades 
assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos 
desta natureza, bem como em programas comunitários ou 
governamentais.A legislação estabelece que as tarefas devem 
ser determinadas conforme as aptidões do adolescente, e não 
podem ultrapassar a jornada máxima de 8 horas semanais, e 
cumpridas aos sábados, domingos, feriados, ou, se forem em 
dias úteis, não podem prejudicar a frequência à escola ou a 
jornada normal de trabalho
Liberdade 
assistida
Medida adotada quando for considerada a mais adequada para 
acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. Será designada 
uma pessoa capacitada para acompanhar o caso, o qual po-
derá ser recomendada por entidade ou programa de atendi-
mento. Será fixada pelo prazo mínimo de 6 meses, podendo 
ser prorrogada, revogada ou substituída por outra, desde que 
ouvidos o Ministério Público, o orientador e o defensor
Quadro 1. Medidas socioeducativas
(Continua)
7Adolescência e medidas socioeducativas no Brasil
Fonte: Adaptado de Brasil (1990).
Semiliber-
dade
Esta medida pode ser adotada desde o início, ou como 
forma de transição para o meio aberto, sendo possibilitada 
a realização de atividades externas, independentemente de 
autorização judicial. A escolarização e a profissionalização são 
consideradas obrigatórias, devendo, se possível, ser utilizados 
os recursos existentes na comunidade. Esta medida não 
comporta prazo predeterminado, aplicando-se, no que couber, 
as disposições relacionadas à internação
Internação Medida privativa de liberdade e, portanto, sujeita aos princípios 
de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição de 
pessoa em desenvolvimento. A medida não comporta prazo 
determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada, 
mediante decisão fundamentada, no máximo a cada 6 meses, 
entretanto o prazo máximo de internação não pode exceder 
3 anos. Se esse limite for atingido, o adolescente deverá ser 
liberado e colocado em outra medida, como o regime de 
semiliberdade ou de liberdade assistida. Importante destacar 
que a liberação compulsória desta medida acontecerá quando 
o adolescente completar 21 anos. A internação deverá ser 
cumprida em entidade exclusiva para adolescentes, em local 
diferente daquele destinado ao abrigo, obedecendo-se aos 
critérios rigorosos para separação por critérios de idade, 
compleição física e gravidade da infração
Qualquer 
uma das 
previstas no 
art. 101, I a 
VI (BRASIL, 
1990)
 � Encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo 
de responsabilidade
 � Orientação, apoio e acompanhamento temporários
 � Matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento 
oficial de ensino fundamental
 � Inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários 
de proteção, apoio e promoção da família, da criança e do 
adolescente
Quadro 1. Medidas socioeducativas
(Continuação)
Adolescência e medidas socioeducativas no Brasil8
As medidas elencadas no art. 101 são medidas específicas de proteção, ou seja, será 
aplicada aquela que se mostre mais adequada às necessidades pedagógicas do 
adolescente (BRASIL, 1990). A aplicação da medida será antecedida por uma avaliação 
técnica e interdisciplinar, observando-se, para tanto, os princípios relacionados nesse 
estatuto, as normas existentes, os programas e serviços especializados existentes e 
que possam, de forma individual, atender, com o máximo de eficácia, às necessidades 
do adolescente. 
Os adolescentes em regime de privação de liberdade têm direito a: entrevistar-se 
pessoalmente com o representante do Ministério Público; peticionar diretamente a 
qualquer autoridade; avistar-se reservadamente com seu defensor; ser informado de 
sua situação processual, sempre que solicitada; ser tratado com respeito e dignidade; 
permanecer internado na mesma localidade ou naquela mais próxima ao domicílio de 
seus pais ou responsável; receber visitas, ao menos, semanalmente; corresponder-se 
com seus familiares e amigos; ter acesso aos objetos necessários à higiene e ao asseio 
pessoal; habitar alojamento em condições adequadas de higiene e salubridade; receber 
escolarização e profissionalização; realizar atividades culturais, esportivas e de lazer; 
ter acesso aos meios de comunicação social; receber assistência religiosa, segundo 
a sua crença, e desde que assim o deseje; manter a posse de seus objetos pessoais e 
dispor de local seguro para guardá-los, recebendo comprovante daqueles porven-
tura depositados em poder da entidade e receber, quando de sua desinternação, os 
documentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade (BRASIL, 2012).
Sugerimos assistir ao filme O juízo, disponível no canal Na Telinha, do YouTube, que 
aborda a trajetória de jovens pobres, menores de 18 anos, entre o momento de prisão 
e do julgamento por terem cometido roubos, tráfico ou homicídios. 
Desse modo, observamos que o ECA e, posteriormente, o SINASE buscaram 
regulamentar a execução das medidas destinadas a adolescentes que pratiquem 
ato infracional, as quais procuram resguardar crianças e adolescentes e suas 
particularidades de pessoas em desenvolvimento. Além de estabelecerem as 
medidas, as legislações trazem as atribuições de cada ente federado quanto 
à atenção a essa população. 
9Adolescência e medidas socioeducativas no Brasil
3 Efetividade das medidas socioeducativas 
no Brasil
Para refletirmos sobre a efetividade das MSE no Brasil, precisamos considerar 
não apenas a aplicação da lei, mas também a maneira como adolescentes 
que praticam atos infracionais são vistos na realidade do país. É comum 
presenciarmos relatos de discriminação e preconceito em relação a esses 
jovens, visto que, ainda nos dias atuais, a sociedade tende a culpabilizá-los 
pela prática do ato infracional, desconsiderando o contexto social e familiar 
em que estão inseridos. 
Nessa perspectiva, Silva (2012, p. 87) aponta que: 
A privação dos direitos assegurados a essa parcela da população torna-se 
uma dos condicionantes da sua fragilidade, frente às obrigações atribuídas 
ao indivíduo em um Estado Democrático de Direito. O não acesso a boas 
condições de saúde, a uma educação de qualidade, aos mínimos necessários 
para a sobrevivência, à moradia adequada, a equipamentos comunitários de 
lazer, esportes e cultura, entre outros espaços de socialização saudáveis e de 
desenvolvimento humanos torna-se fator determinante para a fragilização 
dos sujeitos em seu ambiente familiar, comunitário e social. As diversas ex-
pressões da violência, os conflitos familiares e comunitários, a desigualdade 
social, a exclusão e a ausência de garantias e políticas públicas transformam 
determinados adolescentes e jovens em sujeitos vulneráveis à criminalidade.
Assim, na visão da autora, a prática de atos infracionais nesse contexto 
apresenta-se como um dos resultados da dinâmica de privações e violações 
estabelecida, na qual adolescentes e jovens protagonizam ações que corroboram 
para o ciclo de violência vivido (SILVA, 2012). Além disso, a adolescência é 
uma fase em que o indivíduo ainda está construindo sua identidade, expondo-
-se facilmente às mais diferentes influências ou orientações, por parte da 
família, de amigos ou outras pessoas que participam de seu grupo social. 
Considera-se ainda que situações de vulnerabilidade e risco presentes em um 
padrão de sociabilidade sem condições de sobrevivência e de imposição de 
regras e limites fundamentais à convivência humana em sociedade, bem como 
condições dignas nos aspectos econômico, social, de afetividade e proteção, 
expõem, com intensidade maior, os adolescentes ao fenômeno da violência 
na atualidade (SILVA, 2012). Buscando a proteção integral a essa parcela da 
população, o ECA reconhece suas peculiaridades e sua condição de pessoas 
em desenvolvimento. 
Adolescência e medidas socioeducativas no Brasil10
Mais uma vez, é importante destacarmos que adolescentes autores de atos 
infracionais geralmente são vítimas de discriminação e preconceito por parte 
da sociedade e da própria rede escolar. Sobre essa questão, Cunha e Dazzani 
(2016, p. 236) apontam que “[....] a relação entre a escola e o adolescente autor 
de ato infracional é marcadapor diversas tensões e ambiguidades”, além de que 
boa parte dos adolescentes que cometeram práticas delituosas não frequentava 
a escola no momento de sua apreensão, sendo, portanto, a evasão e o atraso 
escolar fatores presentes entre esses jovens. Ainda, a frequência à escola e a 
inclusão em atividades pedagógicas se constituem em fatores importantes para 
afastar adolescentes da criminalidade e favorecer o convívio e a reabilitação, 
considerando-se, nesse sentido, que:
[...] muitos educadores são resistentes em aceitar um estudante que praticou 
infração, alegando medo e falta de preparo. Além disso, via de regra, não há, 
nas instituições escolares, um clima amistoso ou favorável à inclusão desse 
aluno, sobre o qual não raro recaem processos de discriminação e hostilização 
[...] (CUNHA; DAZZANI, 2016, p. 236).
Encontramos nestas questões uma contradição, uma vez que o ECA esta-
belece seis medidas socioeducativas, quatro das quais apontando a inserção e 
o acompanhamento escolar para os adolescentes que praticam ato infracional. 
No que se refere à inserção e à frequência escolar, chama a atenção a interação 
entre alunos e professores, pois os últimos podem apresentar dois comporta-
mentos distintos: uma postura de medo, temor e insegurança, evitando contato 
ainda que dentro da sala de aula; e posturas mais enérgicas e ríspidas, fazendo 
com que comumente os adolescentes se sintam discriminados, segregados, 
agredidos, ameaçados, humilhados e perseguidos (CUNHA; DAZZANI, 
2016). Tais fatos também têm origem na aparência física, na maneira como 
esses adolescentes se vestem, por residirem em áreas de periferia e por serem 
negros (CUNHA; DAZZANI, 2016).
A partir do exposto, cabe-nos refletir sobre a efetividade das MSE, uma 
vez que têm como proposta inserir o adolescente na sociedade e na família 
e prevenir a reincidência de atos infracionais. Segundo Ponte et al. (2016), 
na atualidade, as MSE acabam tendo mais um caráter punitivo do que peda-
gógico, já que nem sempre são aplicadas corretamente:
11Adolescência e medidas socioeducativas no Brasil
[...] as medidas socioeducativas estão distantes de alcançar a finalidade para 
que foram criadas, já que no nosso cotidiano constatamos que os adolescentes 
recebem essas medidas e logo cometem outro ato infracional, não se cons-
cientizando do ato que cometeram. Esta finalidade só se alcançará quando 
a medida aplicada através de sua reinserção social, familiar e comunitária 
garanta ao adolescente um projeto de vida que o liberte do submundo do crime 
e da marginalização, através da família, da comunidade e da escola (PONTE 
et al., 2016, documento on-line).
Cabe destacar que, diante das situações apresentadas, ainda existe um 
importante desafio a ser trabalhado: o da intersetorialidade. Para que os direitos 
dos adolescentes sejam de fato assegurados durante a aplicação de uma MSE, 
como a internação, torna-se essencial que:
[...] as diferentes ações desenvolvidas no cotidiano do atendimento tenham 
respaldo em suas políticas e que as práticas tenham como premissa a inter-
setorialidade/interface entre as políticas, sistemas e serviços que integram o 
Sistema de Garantia de Direito” (MAYER, 2014, p. 10). 
Para a autora, a intersetorialidade proporciona a articulação entre os saberes 
e as áreas do conhecimento, o que repercute em benefícios para a população 
e para a própria organização das políticas, embora, ao mesmo tempo, incor-
porem novos desafios relacionados à superação da fragmentação existente 
entre as políticas. 
No atendimento ao adolescente que está cumprindo uma MSE, a interse-
torialidade é essencial, por exemplo no caso da semi-internação, que pode ser 
aplicada como transição para o meio aberto. A articulação entre os próprios 
programas que desenvolvem as medidas é importante para conseguir de fato 
suprir as demandas trazidas pelos adolescentes e por seus familiares. 
Em resumo, com base nas considerações feitas, podemos inferir que os 
adolescentes são compreendidos como indivíduos em desenvolvimento, con-
forme estabelecido pelo ECA, e que não raras as vezes vivenciam situações 
complexas provenientes do próprio contexto em que estão inseridos (família 
e comunidade). O ambiente escolar é visto como um meio para favorecer a 
reinserção de adolescentes infratores na sociedade, entretanto muitos deles, 
ao cometerem ato infracional, já haviam abandonado a escola previamente. 
Ainda, embora muitas MSE prevejam o retorno à escola, nem sempre a co-
munidade escolar e os professores estão aptos a receber adequadamente esses 
adolescentes, como resultado de despreparo, preconceitos, fragilidade de 
vínculos entre adolescente e ambiente escolar, períodos extemporâneos de 
inclusão na escola, entre outros fatores que se apresentam como importantes 
Adolescência e medidas socioeducativas no Brasil12
obstáculos a serem superados tanto pela comunidade escolar quanto pelo 
adolescente e por sua família.
Nesse sentido, quando falamos, por exemplo, em progressão do meio 
fechado para o meio aberto, a interlocução entre as políticas públicas, aqui 
materializadas no Sistema Único de Assistência Social (Centro de Referência 
de Assistência Social — CREAS), no SINASE (Fundação Casa) e na Educação 
(Escola), é especialmente fundamental. E, por fim, para que sejam de fato 
efetivas, as MSE precisam cumprir sua missão e tentar minimizar reincidên-
cias e favorecer o fortalecimento de vínculos com a família e a comunidade. 
ABERASTURY, A.; KNOBEL, M. Adolescência normal. 5. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 
1986.
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do 
Adolescente. Brasília, DF: Presidência da República, 1990. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 24 out. 2020.
BRASIL. Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012. Institui o Sistema Nacional de Atendimento 
Socioeducativo (Sinase), regulamenta a execução das medidas socioeducativas destina-
das a adolescente que pratique ato infracional; e altera as Leis [...]. Brasília, DF: Presidência 
da República, 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/l12594.htm. Acesso em: 24 out. 2020. 
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13Adolescência e medidas socioeducativas no Brasil
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Adolescência e medidas socioeducativas no Brasil14

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