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Brazilian Journal of health Review Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 2, n. 6, p. 5915-5928 nov./dec. 2019. ISSN 2595-6825 5915 Prevalência de lesões orais pigmentadas em um serviço de Patologia bucal: um estudo retrospectivo Prevalence of oral injuries pigmented in a Mouth pathology: a retrospective study DOI:10.34119/bjhrv2n6-085 Recebimento dos originais: 27/10/2019 Aceitação para publicação: 13/12/2019 Dennys Ramon de Melo Fernandes Almeida Doutorando em Ciências Odontológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte Biologia Experimental, Egresso do Programa de Pós-Graduação em Patologia pela Universidade Federal do Ceará Email:dennysfernandes@ymail.com Ondina Karla Mousinho Rocha Torres Doutorandos em Ciências Odontológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte Estomatologia/Patologia Oral Email:dennysfernandes@ymail.com Juliana Campos Pinheiro Doutorandos em Ciências Odontológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte Estomatologia/Patologia Oral Email:dennysfernandes@ymail.com Glória Maria de França Doutorandos em Ciências Odontológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte Estomatologia/Patologia Oral Email:dennysfernandes@ymail.com Janaína Lessa de Moraes dos Santos Doutorandos em Ciências Odontológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte Estomatologia/Patologia Oral Email:dennysfernandes@ymail.com Mariana Xerez de Carvalho Doutorandos em Ciências Odontológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte Estomatologia/Patologia Oral Email:dennysfernandes@ymail.com Gabriel Gomes da silva Acadêmico em Odontologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte Email:dennysfernandes@ymail.com Brazilian Journal of health Review Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 2, n. 6, p. 5915-5928 nov./dec. 2019. ISSN 2595-6825 5916 Carlos Augusto Galvão Barboza Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Odontológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte Email:dennysfernandes@ymail.com RESUMO Diversas enfermidades afetam a cavidade oral podendo estas ser classificadas quanto a sua natureza: hamartomatosa, neoplásica benigna, neoplásica maligna, displásica, inflamatória reativa, cística, dentre outras. Este critério de classificação, contudo, não contempla, especificamente, as lesões pigmentadas, visto que as mesmas se encontram distribuídas dentro dos diversos grupos de lesões supracitadas. O presente trabalho, tem por objetivo realizar um estudo retrospectivo de lesões pigmentadas em cavidade oral ao longo de 10 (dez) anos de observação. Também visa determinar as variáveis segundo sexo, idade e localização anatômica. Foi realizado um levantamento de dados de pacientes portadores de lesões pigmentadas orais submetidos à biópsia no período de 2004 a 2014. De um total de 3.730 lesões foram selecionadas 102, sendo os nevos os mais prevalentes (59 casos), seguido das máculas melanóticas (20 casos) e das melanoses raciais (13 casos). A natureza da pigmentação foi essencialmente endógena. As lesões pigmentadas acometeram todas as faixas etárias, tendo como pico de incidência a terceira e a sexta décadas de vida; o lábio foi notadamente o sítio anatômico recorrente e o sexo feminino, o mais afetado tanto nas lesões pigmentadas endógenas como exógenas. Em nossa casuística, portanto, as lesões pigmentadas foram pouco frequentes em cavidade oral, sendo os nevos pigmentados seu principal representante. É necessário, entretanto, conhecimento dos aspectos clínico-patológico dessas lesões pelo cirurgião-dentista tendo em vista que sua aparência clínica pode mimetizar um melanoma maligno. Palavras-chaves: Melanócitos, Boca, Nevos E Melanoma. ABSTRACT Several diseases affect the oral cavity and can be classified according to its nature: hamartomatosa, benign neoplastic, malignant neoplastic, dysplastic, reactive inflammatory, cystic, among others. This classification criterion, however, does not specifically address pigmented lesions, as they are distributed within the various groups of lesions mentioned above. The present work has The objective of this study was to perform a retrospective study of pigmented lesions in the oral cavity over 10 (ten) years of observation. It also aims to determine the variables according to gender, age and anatomical location. A survey of patient data was performed. patients with oral pigmented lesions submitted to biopsy from 2004 to 2014. From a total of 3,730 lesions, 102 were selected, the most prevalent nevi (59 cases), followed by melanotic macules (20 cases) and racial melanoses (13 cases). The nature of pigmentation was essentially endogenous. Pigmented lesions affected all age groups, with a peak incidence of the third and sixth decades of life; the lip was notably the recurrent anatomical site and the female sex, the most affected in both endogenous and exogenous pigmented lesions. In our series, therefore, pigmented lesions were uncommon in the oral cavity, and pigmented nevi were its main representative. However, it is necessary to know the clinical-pathological aspects Brazilian Journal of health Review Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 2, n. 6, p. 5915-5928 nov./dec. 2019. ISSN 2595-6825 5917 of these lesions by the dentist, considering that their clinical appearance may mimic a malignant melanoma. Keywords: Melanocytes, Mouth, Nevi and Melanoma. 1 INTRODUÇÃO Os pigmentos são definidos como substâncias coloridas, alguns sendo constituintes naturais das células, enquanto outros são anormais e se acumulam nas células em determinadas circunstâncias. Eles podem ser endógenos, sintetizados no próprio corpo ou exógenos, originando-se fora do corpo (DIB et al., 2008). Os pigmentos endógenos são oriundos de substâncias que fazem parte da organização corporal, como produtos específicos da atividade celular. Já os exógenos têm origem do exterior, que introduzida no organismo por ingestão, inalação ou inoculação, se depositam nos tecidos, funcionando como corpos estranhos, sendo fagocitados por macrófagos ou drenados por vasos linfáticos (MELETI et al., 2008). Considerando a natureza das lesões pigmentadas orais, os principais pigmentos endógenos de origem hamartomatosa são os nevos, as máculas melanóticas, o melanoacantoma e as melanoses raciais, já os reacionais são a hemossiderina e a lipoidose, e os neoplásicos o melanoma. Os pigmentos exógenos são representados comumente pelas lesões de natureza reacional como as tatuagens por amálgama e o acúmulo de outras substâncias estranhas ao corpo como o grafite e metais pesados (MÜLLER e SUSAN, 2010). Segundo Amobio et al., 2008, lesões pigmentadas são comuns em cavidade oral, e os principais exemplos são: coleção de sangue, depósitos metálicos e melanina. As autênticas pigmentações melânicas podem ocorrer por variação da normalidade, de origem racial, sequencial a distúrbios hormonais, inflamatórias e algumas vezes, iatrogenicamente (MANSUR et al., 2003). Dentre as lesões melanocíticas, citam-se o melanoacantoma oral, a mácula melanótica bucal, a pigmentação melânica racial, o lentigo e os nevos melanocíticos com suas variantes (AMORIM et al., 2009). Salienta-se a importância dos nevos como lesão pigmentada mais prevalente em pele e membranas mucosas, descritos na literatura, embora seja mais frequente na primeira que na segunda (LIMA el al., 2010). O termo genérico refere-se a malformações mucocutânes de natureza congênita ou do desenvolvimento, e podem surgir no epitélio de superfície ou em qualquer tecido conjuntivo subjacente. Assim sendo, podemos dividir, portanto, os nevos pigmentados clinicamente como adquirido, azul ou congênito. E esses, por sua vez, podem ainda ser classificados quanto à Brazilian Journal of health Review Braz. J. Hea.Rev., Curitiba, v. 2, n. 6, p. 5915-5928 nov./dec. 2019. ISSN 2595-6825 5918 aparência histológica como mucoso, juncional ou composto (NEVILLE et al., 2015). Dos nevos existentes o mais prevalente é o nevo melanocítico adquirido ou mola comum. Esta lesão é uma proliferação benigna e localizada de células originadas na crista neural, normalmente chamadas de células névicas. Esses nevos evoluem através de vários estágios clínicos, que estão relacionados à aparência histológica. A apresentação inicial é uma mácula marrom ou negra demarcada com menos de 6mm de diâmetro (chamada microscopicamente de nevo juncional). As células névicas podem proliferar durante anos e produzir uma pápula elevada, de consistência macia e superfície lisa, chamado de nevo composto (CARNEIRO JÚNIOR et al., 2010). Os nevos melanocíticos intra-orais são relativamente incomuns e aparecem, na sua maioria, no palato, fundo de saco e gengiva. Apresentam predileção pelo sexo feminino na faixa etária de 35 anos. (NEVILLE et al.,2015). As melanoses em pele são manchas escuras de coloração castanhas a marrom, geralmente pequenas, mas que podem chegar a alguns centímetros de tamanho. Elas surgem apenas nas áreas que ficam expostas ao sol, como a face, o dorso das mãos e dos braços, o colo e os ombros. São mais frequentes em pessoas de pele clara. Quando ocorre em mucosa oral a literatura descreve fármacos e outras substâncias químicas como agentes causadores da melanose (OLIVEIRA et al.,2009). O melanoacantoma oral é uma condição rara que se apresenta clinicamente como uma mácula pigmentada representando a contraparte intrabucal do melanoacantoma cutâneo. Os casos documentados mostram uma acentuada predileção por mulheres negras localizadas com maior frequência na mucosa jugal, lábios e palato. Apesar de sua etiopatogênese ser incerta, seu comportamento clínico sugere ser uma lesão do tipo reacional (CONTRERA et al., 2003; NWHATOR et al., 2007). A mácula melanótica oral é uma pigmentação plana e marrom da mucosa produzida pelo aumento localizado na deposição de melanina e, possivelmente, do número de melanócitos, com causa ainda não esclarecida. Diferentemente das efélides cutâneas (sardas), a mácula melanótica não depende da exposição ao sol (Martins, 2007). Algumas neoplasias pigmentadas cutâneas podem envolver a mucosa oral. A lesão deste grupo frequentemente relatada é o melanoma. Esta neoplasia encontra-se com uma prevalência de 0,5% de todos os tumores malignos orais (JUANG et al., 1998; FERREIRA et al., 2006), embora a incidência seja baixa o prognóstico para os casos relatados é sombrio, com altas taxas de mortalidade mesmo com medidas terapêuticas agressivas (SILVEIRA et al., 2004; MARTA et al., 2006; NADER et al.,2007). Dentro das pigmentações não melânicas, podem ser citados os pigmentos associados à ingestão, ao contato ou a aspiração de metais pesados. A literatura descreve seis tipos principais: antracose (sais de carbono), siderose (óxidos de ferro), argiria Brazilian Journal of health Review Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 2, n. 6, p. 5915-5928 nov./dec. 2019. ISSN 2595-6825 5919 (sais de prata), bismuto (ingestão do metal de mesmo nome), tatuagem (feita por sais de enxofre, mercúrio, ferro, amálgama e outros corantes) e saturnismo (contaminação por sais de chumbo). Do grupo acima se destacam as tatuagens por amálgama como a mais prevalente em mucosa bucal. Esta substância constitui-se como material restaurador permanente, muito empregado na Odontologia (RODRIGUES et al., 2007). O amálgama, quando usado apenas como material para procedimentos de dentisteria, oferece poucas chances de causar pigmentação na mucosa oral, contudo ressalta-se que as faces livres de dentes posteriores restaurados com o amálgama são estatisticamente mais suscetíveis a causar pigmentação na mucosa adjacente, tendo em vista que o contato direto com a mucosa predispõe ao acúmulo deste material (LEITE et al., 2004; RODRIGUES et al., 2007).Diante do exposto o presente trabalho tem por objetivo realizar um estudo retrospectivo de lesões pigmentadas de cavidade oral ao longo de 10 (dez) anos de observação. 2 METODOLOGIA Trata-se de um estudo retrospectivo, quantitativo e observacional realizado por meio do levantamento dos prontuários das biópsias de pacientes portadores de lesões bucais pigmentadas atendidos no Curso de Odontologia, e na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) no módulo de Cabeça e Pescoço no período de 2004 a 2014. Uma extensa revisão bibliográfica foi realizada para subsidiar o sistema de divisão das lesões pigmentadas empregado no trabalho, como também para comparar os resultados encontrados com o que a literatura científica mundial descreve. Os bancos de dados e bibliotecas virtuais utilizados foram o scielo, medline e pubmed no período de 2004 a 2014. Os descritores usados foram Melanócitos, Boca, Nevos e Melanoma. Dados sobre o diagnóstico histopatológico, localização anatômica da lesão, sexo e idade de lesões pigmentadas orais foram retirados dos prontuários dos pacientes no referido período. As lesões foram separadas em grupos de acordo com o agente pigmentador (endógeno ou exógeno) de acordo com Meleti et al., 2008; e consideradas as variáveis de localização anatômica, sexo e faixa etária. Foram incluídas neste estudo todas as lesões que apresentavam qualquer pigmento macroscópico, confirmado pelo exame histopatológico, e aquelas identificadas secundariamente ao diagnóstico principal. Ressalta-se também que as lesões selecionadas foram apenas de cavidade oral e lábio (incluindo os achados em mucosa nos ossos gnáticos). As lesões em pele (mesmo em pele da face) foram excluídas do trabalho, ressalvados nos casos em que o material analisado fosse mucocutâneo. Os dados coletados foram analisados Brazilian Journal of health Review Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 2, n. 6, p. 5915-5928 nov./dec. 2019. ISSN 2595-6825 5920 por meio de estatística descritiva compreendendo a determinação de frequências absolutas e as correspondentes proporções. A associação entre variáveis categóricas foi verificada pelos testes de Fisher e do Qui-quadrado. Em todas as análises foi considerado nível de significância de 95% com p<0,05 e utilizado o software GraphPad Prisma, versão 8.0. O projeto foi encaminhado para o Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará – COMEPE, o qual regulamenta pesquisa em seres humanos, recebendo a aprovação, sob número do protocolo 151/11. 3 RESULTADOS Foram diagnosticadas 3.730 lesões orais no período de 2004 a 2014, sendo encontradas 103 pigmentadas, apresentando uma incidência proporcional de 2,75% (Tabela 1). A lesão mais frequente foi o nevo melanocítico, com suas variantes, apresentando 59 casos catalogados. Seguidamente as máculas melanóticas com 20 casos e as melanoses orais com 13 casos. Das lesões malignas associadas a pigmentos apenas o melanoma foi encontrado como representante, com 5 casos diagnosticados, sendo 01 desses diagnósticos decorrentes de metástase do melanoma previamente existente em pele. Assim das 103 lesões, 97 foram benignas e apenas 5 malignas, correspondendo a 95,1% de lesões benignas e 4,9% de malignas (Gráfico 1). O agente pigmentador endógeno, composto principalmente pela melanina (Gráfico 2), estava presente na maioria das lesões (95,1%) com 97 casos, (Gráfico 3). Brazilian Journal of health Review Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 2, n. 6, p. 5915-5928 nov./dec. 2019. ISSN 2595-6825 5921 O sexo feminino foi marcadamente o mais afetado com um total de 74 casos e o sexo masculino com 29 casos. Analisando separadamente as lesões quanto ao seu agente pigmentador foi verificado que as exógenaspossuíam uma discreta diferença numérica entre os sexos com 3 casos para o feminino e 2 para o masculino. Em relação aos pigmentos endógenos verificou-se a ocorrência de 71 casos no sexo feminino e 27 no masculino (Tabela 2), sendo estatisticamente significante (p= 0,0012) (Gráfico 4). Brazilian Journal of health Review Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 2, n. 6, p. 5915-5928 nov./dec. 2019. ISSN 2595-6825 5922 As lesões pigmentadas apresentaram ampla distribuição etária, com pico de incidência entre a terceira e sexta década de vida. Este comportamento foi verificado tanto em relação ao total de lesões como, separadamente, dentre as lesões pigmentadas endógenas e exógenas (Tabela 3), sendo estatisticamente significante no grupo de lesões causadas por pigmentos endógenos (p= 0,0004) (Gráfico 5). Brazilian Journal of health Review Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 2, n. 6, p. 5915-5928 nov./dec. 2019. ISSN 2595-6825 5923 A localização anatômica das lesões pigmentadas mais prevalente foi o lábio, seguido do palato e mucosa jugal. Comparando-se separadamente as 5 lesões mais incidentes, os nevos apresentaram alta predileção pelo lábio, as máculas melanóticas pelo palato, as melanoses pela mucosa jugal e a tatuagem por amálgama pelo rebordo alveolar. O melanoma mostrou distribuição equitativa dentre os diversos sítios anatômicos descritos (Gráfico 6). A análise estatística da localização anatômica mostrou significância. tanto nas lesões pigmentadas endógenos quanto exógenos com p=0,0074 (Gráfico 7). Brazilian Journal of health Review Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 2, n. 6, p. 5915-5928 nov./dec. 2019. ISSN 2595-6825 5924 4 DISCUSSÃO Estudos epidemiológicos acerca das lesões pigmentadas são escassos na literatura mundial, possivelmente pela baixa incidência das mesmas. Fernandéz Delgado et al., 2005, apresentaram uma análise retrospectiva de lesões pigmentadas ao longo de 7 (sete) anos de observação com 195 casos. Já no presente levantamento a casuística foi de 103, porém ressalta- se que o autor supracitado considerou não só as lesões orais incluindo as de localização maxilofaciais. A grande maioria dos trabalhos apresentam as lesões pigmentadas em séries isoladas, e notadamente os nevos, constituem-se os mais prevalentes em cavidade oral (FERNANDÉZ DELGADO et al., 2005; CERRI et al., 2007). Os nevos melanocíticos intra-orais apesar de serem relativamente incomuns em boca quando comparados com o total de lesões em cavidade oral, acometem com frequência o palato, fundo de saco e gengiva (EGG et al.,2009). No presente estudo o lábio foi o sítio anatômico mais comum seguido do palato e mucosa jugal, mostrando-se discordante da literatura. Com relação à ocorrência em homens e mulheres, os nevos acometem mais o sexo feminino (FERNANDÉZ DELGADO et al., 2005; NEVILLE et al.,2008), dados concordantes com os deste estudo, onde os nevos melanocíticos intra-orais apareceram, preferencialmente, entre as mulheres. A média de idade de ocorrência desta lesão névica é em torno dos 35 anos (NEVILLE et al., 2015), corroborando os achados encontrados neste estudo que mostraram um pico de incidência entre a terceira e sexta década de vida, com média de 40 anos. Como os nevos possuem comportamento biológico benigno, porém variável deve-se ressaltar o diagnóstico diferencial e o acompanhamento dessas lesões quanto ao potencial de transformação maligna em melanoma, que embora raro em mucosa oral Brazilian Journal of health Review Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 2, n. 6, p. 5915-5928 nov./dec. 2019. ISSN 2595-6825 5925 possui prognóstico desfavorável (THAVARAJAH et al., 2006). Os melanomas intra-orais são descritos na literatura como única lesão melanocítica maligna de cavidade oral e de prognóstico sombrio, podendo representar a disseminação de um melanoma inicialmente cutâneo (Schneltler et al., 2003; Silveira et al., 2004; Ferreira et al., 2006). Vários autores comentam acerca da baixa incidência do melanoma na mucosa oral e sua correlação com nevos preexistentes (SCHNELTLER et al., 2003; DOHIL et al.,2003; MARTA et al., 2006). Dados semelhantes foram encontrados nesta série verificados pela rara incidência desta neoplasia sendo um dos casos uma metástase representando um agravo de um melanoma cutâneo. Além das lesões pigmentadas supracitadas enfatizam-se outras condições de importância como as máculas melanóticas, as melanoses e o lentigo simples (CONTRERA et al., 2003). Com excessão do lentigo as demais lesões foram verificadas em nosso estudo. As máculas melanóticas podem ocorrer em qualquer idade, tanto em homens como em mulheres, tendo uma predileção para as mulheres de 2:1. A idade média dos pacientes é de 43 anos. A região mais acometida é o vermelhão do lábio, seguida pela mucosa jugal, gengiva e palato. No presente estudo as máculas foram encontradas em ambos os sexos com forte predileção pelo sexo feminino numa proporção de 3:1, a região anatômica mais acometida foi o palato com uma média de idade de 40 anos (FERNANDÉZ DELGADO et al., 2005). Vale salientar que as máculas melanóticas podem representar agravos de algumas síndromes como, por exemplo, a Laugier-Hunziker, que também está associado melanoníquia estriada e a síndrome de Peutz-Jeghers, uma doença autossômica dominante onde as máculas melanóticas (múltiplas e ao redor dos orifícios naturais) ocorrem em lábio e região genital (Mansur et al., 2003). As lesões pigmentadas exógenas normalmente descritas pela literatura são representadas por acúmulo de substâncias químicas como, por exemplo, metais pesados (RODRIGUES et al.,2007). Destes, a literatura relata frequentemente o amálgama, pois este material é bastante utilizado nos procedimentos de dentisteria e no passado também foi usado para obturação retrógada em endodontia (BEATRICE et al.,2009). As tatuagens estão fortemente relacionadas a restaurações em faces livres de dentes posteriores, tendo, portanto, grande associação com o rebordo alveolar (EGG et al., 2009). A literatura não descreve, no entanto, dados epidemiológicos consistentes com relação às tatuagens por amálgama no tocante ao sexo e faixa etária. (NWHATOR et al., 2007). No presente trabalho encontramos 4 casos de tatuagens por amálgama representando 80% de todas as lesões pigmentadas exógenas desta série. O rebordo alveolar foi marcadamente mais atingindo, comparado às demais localizações anatômicas, Brazilian Journal of health Review Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 2, n. 6, p. 5915-5928 nov./dec. 2019. ISSN 2595-6825 5926 corroborando com a literatura presente. Houve predileção pelo sexo feminino na proporção de 3:1. O pico de incidência foi entre a terceira e sexta década de vida. Além das tatuagens por amálgama encontramos um caso de pigmentação associado ao grafite. 5 CONCLUSÕES - As lesões pigmentadas orais são raras sendo o nevo melanocítico o principal representante, seguido pela mácula melanocítica e melanose raciais. - O sexo feminino foi o mais afetado incidindo predominantemente na faixa etária de 31 a 60 anos, em todos os grupos de lesões por pigmentação endógena ou exógena. - O sítio de acometimento mais prevalente foi o lábio. REFERÊNCIAS 1. AMOBIO S.; NOUJEIM. Z.; BOUTIGNY H.; JENSEN M.; CASSIA A.; SOUEIDAN A. Rev Belge Med. Dent (1.984). Departement de parodontologie, UFR d'odontologie, Nantes v. 63, n. 1, p. 15-28, jan - maio 2008. 2. AMORIM, J. A. et al. Prevalence of the diseases estomatological in patients carriers of nevus. Odontologia Clínico Científica, Recife, v. 8, n. 2, p. 127-131, abr./jun. 2009. 3. BEATRICE, L. C. S.; Aguiar, C. M.; et al. Root - end filling materials used in endodontics surgery. 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