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Ester Sabino Não há motivos para achar que a vacina não irá funcionar

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Ester Sabino: “Não há motivos para achar que a vacina não
irá funcionar”
Em fevereiro de 2020, a imunologista Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical da USP e
cientista do Instituto Adolfo Lutz e da Universidade de Oxford, anunciou um feito e tanto para a
comunidade científica: apenas dois dias após a confirmação do primeiro caso da Covid-19 em território
nacional, o grupo liderado pela médica e outros brasileiros já havia conseguido sequenciar o genoma do
vírus. Um tempo recorde, especialmente considerando que, em outras nações afetadas, a média para
decodificação do Sars-Cov-2 havia sido de 15 dias.
Seria exagero dizer que a vida de Ester Sabino mudou da noite para o dia. Mas o fato é que, em 48
horas, a cientista alcançou um status inédito em mais de três décadas de carreira. À frente de trabalhos
importantes na área de imunologia, contribuiu para o avanço dos estudos sobre a Doença de Chagas e
ainda participou dos primeiros sequenciamentos dos genomas do HIV e do Zika Vírus no Brasil – este
último lhe renderia inclusive um convite para uma parceria com a Universidade de Oxford, no Reino
Unido. Desta vez, no entanto, a repercussão ultrapassou os muros acadêmicos.
Com o mapeamento do genoma, é possível entender o percurso da transmissão e o tempo em que o
vírus está circulando em determinada região, informações essenciais para a adoção de medidas de
contenção. A façanha rendeu a Ester uma homenagem inesperada de Maurício de Sousa, criador da
Turma da Mônica, que emprestou os traços da personagem Magali para transformá-la na cientista. “Foi
(um reconhecimento) importante porque era um momento em que os cientistas vinham sendo
desqualificados”, comenta. “A ciência é algo que, se você para de investir, fica difícil de retomar. Perde-
se uma geração, duas…”
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O convite para trabalhar com o sequenciamento do novo coronavírus chegou de forma abrupta, como a
própria eclosão da pandemia. Mas Ester e sua equipe já estavam preparados. Desde 2012, o grupo do
IMT-USP vinha desenvolvendo o método de identificação de genomas virais, inicialmente durante o surto
da dengue naquele ano e, depois, na epidemia do zika vírus em 2016. “Mas, no caso do zika, só
conseguimos concluir o sequenciamento quando a epidemia havia acabado. Então, o nosso foco foi
melhorar esse timing, para conseguir trazer resultados mais cedo”, afirma.
Ester também coordena o sequenciamento do genoma de três mil pacientes de Anemia Falciforme e
ainda lidera um estudo de prevalência do novo coronavírus com base em amostras de bancos de
sangue. Foi nesta oportunidade que chegou a cogitar, em setembro de 2020, a possibilidade de Manaus
ter adquirido imunidade de rebanho contra a Covid-19. Porém, o novo aumento de casos na capital
amazonense logo no mês seguinte acabaria afastando a tese.
“As análises do banco de sangue haviam mostrado uma prevalência de 66% de contaminados, que é o
valor teórico para a imunidade de rebanho para um vírus com essa característica. É um conceito teórico,
não quer dizer que a epidemia acaba.” Ester acrescenta que outras capitais, como Rio de Janeiro,
Salvador e São Paulo, também apresentam índices próximos. Mas o País, no geral, ainda estaria longe
da taxa necessária para a imunidade. “Outro problema é saber se eles irão se reinfectar. Pois no
momento em que isso acontece, não se pode mais falar em imunidade rebanho”, afirma.
Por isso, ela reforça a necessidade da adesão total à vacina, assim que estiver disponível, como a
melhor forma de se controlar a doença no País. “Estou muito otimista, porque a vacina bem funcionou
em modelos animais e não há motivos para achar que ela não irá funcionar.”
(Edição da entrevista concedida a Frederico Cursino, da Agência Einstein)

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