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Livro Geografia I para Ensino Fundamental -píginas-15

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Geografia I para o Ensino Fundamental 23
É a Geografia Crítica que busca apreender o espaço geográfico em 
suas tensões e contradições. Um espaço, como caracteriza Santos (2008), 
“herdeiro da acumulação desigual do tempo”. Pressupõe a identificação de 
métodos científicos capazes de apreender a espacialidade das relações de 
poder e de dominação, adotando, para tanto, como referencial de análise o 
método histórico-dialético.
A Geografia Crítica busca romper com as concepções tradicionais que 
dominaram a ciência geográfica. Procura “...ir além da descrição dos fenôme-
nos geográficos, procurando-se ver as relações dialéticas entre formas espa-
ciais e os processos históricos que modelam os grupos sociais” (CORRÊA, 
2000, p. 9). Ou seja, procura a adequação do método histórico-dialético de 
apreensão do real para o entendimento do homem com relação ao complexo 
natural que o cerca, estabelecendo uma leitura da geografia onde os fatos 
geográficos naturais estão em processo, forçando o pensamento geográfico 
a voltar-se para a realidade sócio-histórica objetiva que provoca as transfor-
mações das estruturas espaciais. 
Essa perspectiva provoca repercussões importantes na forma de con-
ceber a Geografia ensinada, colocando como problema a dominância da 
Geografia tradicional, nos currículos e programas escolares. Entende que o 
estudo da população, das técnicas e instrumentos de trabalho, inclusive do 
ambiente natural, deve ser compreendido a partir das relações sociais forja-
das pela pessoa humana no processo de produção da vida material (relações 
travadas entre si e com o mundo físico) mediado pelo trabalho humano. 
Do ponto de vista geográfico, essas relações produziram determinadas 
organizações espaciais que, com o processo de complexização das socie-
dades humanas, com suas divisões em classes antagônicas (patrões e em-
pregados), com a propriedade privada dos meios de produção, tornaram-se 
profundamente desigual, aprofundando-se com a sociabilidade capitalista. 
Em síntese, a espacialização desigual das diversas regiões do globo de-
mandou diferentes formas de apreender o conhecimento geográfico e, como 
efeito, a perspectiva de apreensão dos conceitos e das categorias de análise da 
geografia é alterada nos currículos e programas escolares. No ensino, como res-
saltam os Parâmetros Curriculares Nacionais a Geografia tradicional 
(...) se traduziu, e muitas vezes ainda se traduz, pelo estudo descritivo 
das paisagens naturais e humanizadas, de forma dissociada do espa-
ço vivido pela sociedade e das relações contraditórias de produção e 
organização do espaço. Os procedimentos didáticos adotados promo-
viam principalmente a descrição e a memorização dos elementos que 
compõem as paisagens sem, contudo, esperar que os alunos estabe-
lecessem relações, analogias ou generalizações (PCN, 1999, p.71).

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