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Livro Geografia I para Ensino Fundamental -píginas-51

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CARVALHO, L. V.; MOURA, M. L.68
5) A relação dessas informações com o conteúdo a ser trabalhado e com a 
realidade contida nas informações adquiridas pelo aluno nos espaços por 
ela já percorridos para além das fronteiras físicas.
Por outro lado, se não considerarmos algumas dessas linguagens como 
documento científico, portanto, sem valor histórico, não podemos negar que 
fornecem informações significativas para elucidar o “espírito” de uma época. 
Então vejamos: o sertão do Nordeste brasileiro inspirou importantes obras li-
terárias que, sob a perspectiva do seu escritor narrava a paisagem natural e 
social e os conflitos e contradições que “esculpiam” os lugares sertanejos. 
Domingos Olympio, no romance Luzia-Homem, publicado pela primeira 
vez em 1903, em uma das passagens do livro assim se reportava à seca e à 
população sertaneja do Ceará no ano de 1877:
(...) Era o mesmo vaivém ininterrupto de homens, mulheres e crianças 
envoltos em rolos de pó sutil, magros e andrajosos, insensíveis á fadi-
ga, ao calor de fulminar passarinhos, taciturnos uns, os semblantes de-
formados por traços denunciadores de íntima revolta impotente; outros 
resignados, como heróis, vencidos pela fatalidade; muitos alegres e sor-
ridentes cantavam e brincavam, como criaturas felizes de encontrarem 
refúgio do assédio angustioso da fome, da miséria, da morte (p. 95).
A historiografia crítica do nordeste reforça a percepção do romancista 
sobre a paisagem dos sertões nordestinos naquele contexto ressalta, as con-
tradições sociais e econômicas da região que potencializaram os conflitos so-
ciais, como, por exemplo, a concentração de terras nas mãos das oligarquias 
locais que se aproveitavam da seca e da miséria para oprimir e explorar, resul-
tando em tensões sociais que de diferentes formas construíram a imagem que 
até os dias atuais se mantém do nordeste brasileiro e que, sob perspectivas 
diversas, inspiraram produções literárias e cinematográficas. 
Como esclarece Pontuschka: “cada uma das linguagens possui seus 
códigos e seus artifícios de representação que precisam ser conhecidos por 
professores e alunos para maior compreensão daquelas a serem trabalhadas 
com conteúdos geográficos”. (PONTUSCHKA, 2009, p. 216). O fundamental 
é que tenhamos a clareza que o recurso didático, como o próprio nome diz, 
é um recurso para mobilizar o aluno para a apreensão problematizadora dos 
conteúdos geográficos e, nesse sentido, compreender o lugar não como uma 
ilha, desvinculada do mundo, mais como espaços articulados, historicamente 
construídos e, por isso mesmo, como possibilidades de serem reconstruídos, 
sob novas bases.

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