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13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 1/60 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço Prof. João Rafael Gualberto de Souza Morais Descrição O conceito de centro e periferia, a dinâmica espacial e seus contornos políticos/societários na produção de assimetrias de poder. Propósito Compreender de forma histórica e conceitual a relação entre centro e periferia na formação do espaço, indicando como ambos atravessam as tensões geradas pelo modelo socioeconômico hegemônico e pelas lutas políticas que se dão a partir dessas contradições. Objetivos Módulo 1 Espaço e poder Reconhecer a formação social da relação centro-periferia como forma de organização social das tensões resultantes do modelo econômico. 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 2/60 Módulo 2 Centro e periferia na dimensão internacional Analisar a relação centro-periferia na dinâmica social/política internacional sob uma perspectiva histórica. Módulo 3 Centro e periferia na dinâmica social brasileira Identificar o panorama das relações centro-periferia na sociedade brasileira contemporânea. Introdução A noção de centro e periferia constitui um dos cernes de análise da sociologia política contemporânea. Sua análise passa fundamentalmente pelo problema da centralização política, que produz um centro de poder responsável por mediar as tensões sociais comunitárias. Esse centro será objeto de disputa pelos grupos de interesse organizados socialmente dentro do âmbito das fronteiras do mesmo poder constituído e soberano. Neste conteúdo, abordaremos a discussão sobre centro-periferia em três recortes elementares: uma discussão conceitual sobre a formação política no espaço e a disputa/centralização do poder, que promove relações de governança e distribuição de recursos sujeitos a disputas políticas; uma análise da conjuntura internacional do conceito a partir da formação do mundo moderno/contemporâneo, ou seja, uma análise das relações centro-periferia no espaço mundial; e, por fim, um debate sobre a 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 3/60 formação centro-periferia no Brasil, destacando o lugar do país na relação centro-periferia internacional e os aspectos da formação social brasileira que produziram as relações centro- periferia no interior do seu território (onde observam-se desigualdades históricas e profundas). 1 - Espaço e poder Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a formação social da relação centro- periferia como forma de organização social das tensões resultantes do modelo econômico. Espaço e centralização política: poder, território e soberania Política e território: uma longa relação Antes de mergulhar na relação de espaço e poder, vamos perceber como a questão foi historicamente vista e construída. 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 4/60 Podemos definir “espaço” não só como um recorte da superfície física e natural da Terra, mas também como o resultado das relações humanas que deixam suas marcas nesse recorte natural ou como uma referência à mera localização. O vocábulo espaço definitivamente é usado em diferentes escalas, seja um cômodo seja uma nação. Na ciência geográfica, muito heterogênea em abordagens, o conceito é tratado de diferentes maneiras a depender da corrente teórica. Na geografia tradicional: O espaço é visto como uma base indispensável para a vida do homem, encerrando as condições de trabalho, sejam essas condições naturais ou condições socialmente produzidas. Desse modo, o domínio do espaço transforma-se em elemento crucial na história do homem. (CORRÊA, 2000, p. 18) O poder, por sua vez, se dá a partir de relações de dominação produzidas em dado espaço e em dado tempo. Espaço e tempo são, como já nos diz a própria física einsteiniana, um continuum, um combinado que não pode ser dividido. Tempo e espaço, em suma, não podem ser reduzidos a tubos de ensaio separados. Portanto, quando falamos aqui em “espaço”, estamos nos referindo ao espaço humano e histórico, em que o espaço físico e o tempo produzem um tempo histórico e uma época, que, na filosofia alemã, convém chamar de zeigeist (ou “espírito do tempo”). 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 5/60 Dessa forma, é no espaço histórico que se dão as relações humanas, as quais são desde sempre politicamente organizadas para produzir comunidades pautadas por alguma forma de cultura política e organizacional com o objetivo de orientar todas as dimensões da vida humana segundo limites fisicamente mensuráveis. A tais limites, damos o nome de “fronteiras”, que compõem um “território”, isto é, um espaço politicamente significado a partir da instituição de um poder (dominação) soberano(a). A centralização política, portanto, consiste na pacificação de um território antes em disputa por alguma força vencedora da contenda, que se instala nele e se legitima no exercício do poder sobre a comunidade demarcada pelas fronteiras desse território. Milenioscuro / Wikimedia Commons 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 6/60 Jorge Pimentel Cintra / Wikimedia Commons Mapa do Brasil e capitanias hereditárias (antigo e novo). As imagens mostram os territórios das capitanias hereditárias. Unidades politicamente concebidas e sujeitas à soberania do Império Português, elas foram primeiras formações territoriais do Brasil. A seu redor, é possível ver o recorte físico do continente sul-americano, ainda fora do alcance das fronteiras políticas da soberania portuguesa. Fronteira O conceito de “fronteira” é uma decorrência da territorialidade, que pressupõe um domínio político que só pode ser garantido pela instituição de uma autoridade legítima sobre um território defensável. A noção de fronteira revela-se fundamental para consolidar o limite entre dentro e fora, essencial para se refletir sobre a política. A reflexão sobre o conceito de “território” suscita a reflexão sobre a própria soberania, que corresponde à institucionalização de uma autoridade política territorializada com limites claros e invioláveis. Essa noção foi legada, em sua acepção moderna, pelo Tratado de Westiphalia (1648), que instituiu os parâmetros legais e políticos do sistema internacional moderno como consequência da formação do Estado como arquétipo da centralização política moderna. 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 7/60 Thomas Hobbes. Thomas Hobbes (1974) pensou a soberania a partir da ideia contratualista, segundo a qual os indivíduos deliberadamente e de comum acordo cedem sua liberdade em troca da segurança a um ente produzido pela soma de suas vontades e liberdades, chamado pelo autor de Leviatã. A ilustração do Estado em Hobbes (1974) seria a alegoria de um monstro marinho bíblico cuja função é garantir a segurança baseado na imposição da lei e dos dispositivos coercitivos necessários para garanti-la. A soberania, a qual, em estado de natureza (o momento pré-contratual), está em cada indivíduo, levando a uma guerra de todos contra todos, agora se vê concentrada no Estado, que passa a reger a vida dos indivíduos sobre um território. A definição clara sobre a função da territorialidade, com fronteiras bem definidas e reconhecidas reciprocamente entre os Estados, foi ratificada pelo Tratado de Westiphalia, contemporâneo à obra de Hobbes (1974). O exercícioda soberania requer uma autoridade sobre um território com limites claros e tangíveis a fim de que eles possam ser defendidos. O espaço da política mundial, isto é, o sistema internacional, nasce da soma dessas partes, os Estados, cujos limites entre um e outro precisam ser muito claramente demarcados para que eles possam zelar por suas respectivas soberanias. 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 8/60 Mas tal compreensão não se esgota nas soberanias: em uma compreensão holística, é possível dizer que o sistema internacional possui, a partir da soma dos Estados e de seus fluxos, suas dinâmicas e suas relações, uma ontologia própria, que produz constrangimentos sistêmicos aos atores, além de somar ativos às suas relações. Sistema internacional Os Estados formam, no conjunto de suas relações, um sistema de Estados (ou um sistema internacional). Esse sistema é caracterizado por relações de competição e cooperação que interagem sob dinâmicas volúveis em um ambiente sem nenhuma centralidade política. Diferentemente dos Estados que o constituem, o espaço internacional é carente de uma soberania mundial, sendo composto pelo conjunto das soberanias que disputam os espaços geopolíticos em recortes físicos do planeta. As relações geopolíticas, afinal, projetam-se para além desses recortes naturais, ocorrendo no lastro de interesses e capacidades econômicas, sociais, políticas e militares. O espaço internacional é um quebra-cabeças de territórios soberanos, dotados de força relativa e hierarquicamente dispostos segundo suas próprias capacidades. O sistema internacional, portanto, é a consequência do passo seguinte à centralização dos Estados, isto é, a postura defensiva que uns assumem perante os demais, o que muitas vezes os conduz à conquista e à expansão de territórios, recursos e poder. A necessidade de assegurar a defesa da comunidade e da soberania pode justificar a busca pela potência que se materializa na guerra de conquista. Em um mundo marcado por tensões geopolíticas permanentes e sem garantias externas aos poderes dos próprios Estados, não há maior garantia de segurança do que ser temido. Afinal, 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 9/60 até a dissuasão, etapa anterior à aplicação concreta da força, demanda a credibilidade dessa força, ou seja, dissuadir requer uma potência real. Resumindo Ao consolidarem o controle sobre o território, os Estados passaram à especialização do emprego da violência orientada para fora, constituindo um sistema de Estados que passou gradativamente a observar algumas regras derivadas da premissa da anarquia sistêmica, isto é, a ausência de uma soberania e de uma centralidade global sobre os Estados soberanos. Graças à intensa competição geopolítica com as forças dos demais Estados, sobretudo aqueles vizinhos, a centralização produziu a necessidade do desenvolvimento permanente das forças militares. O sistema internacional contemporâneo. O emprego da violência (guerra) ou a ameaça desse emprego tem sido a marca da relação entre os Estados desde os primórdios do sistema internacional. Eles devem estar sempre prontos para garantir a defesa de seu território, de seus recursos e de sua população, assim como para elevar a própria força na relação com os demais Estados e para diminuir, quando possível, o poder deles. Para tanto, os Estados podem apelar à guerra e às alianças com outras nações, assim como a uma variedade de combinações entre essas duas opções. Dessa maneira, a guerra é racionalizada de acordo com o princípio da soberania e redirecionada para ambiente externo ao Estado. Como percebeu Hobbes (1974), os Estados (soberanos) concentram a soberania de todos os seus súditos. Por definição, eles são insubmissos ao contrato que os tornou soberanos e estão em estado de natureza (em guerra) com outros Estados. A natureza da política internacional é um estado de guerra latente, potencial e permanente que vem sendo 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 10/60 mediado por ações diplomáticas e tentativas de institucionalizar leis e códigos de conduta que produzam mais previsibilidade e, com isso, segurança, mitigando os riscos do emprego da violência na política internacional. Apesar de esforços centenários, tais dispositivos institucionais não são capazes de eliminar a guerra das relações internacionais, mas apenas de reduzi-la em situações determinadas. E desde a Guerra Fria eles têm sido reforçados por um equilíbrio promovido pela dissuasão nuclear, que tem contribuído para impor formas pacíficas de soluções de crises entre as potências e seus aliados. 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 11/60 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Considerando a relação entre território, poder e soberania, marque a alternativa certa. A O poder é a capacidade de dominar um território e impor sobre ele o direito. B O sistema internacional é um espaço marcado por um poder soberano que produz centralização política entre os Estados. C A soberania é caracterizada pelos limites de um território sujeito a disputas no sistema internacional. D Poder e soberania dizem respeito à capacidade de os Estados promoverem princípios e regras para a boa convivência internacional. E A soberania é a instituição de uma autoridade legitimamente reconhecida em dado território. 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 12/60 Parabéns! A alternativa E está correta. A soberania é a garantia do direito ao corpo inviolável do Estado (território) e só pode ser assegurada pelo domínio desse território. Questão 2 O sistema internacional moderno, em uma visão holística, é composto Parabéns! A alternativa D está correta. O sistema internacional só existe a partir da relação entre seus membros, isto é, suas “partes”. No entanto, uma vez decomposto, ele não se constitui apenas dessas partes, mas também das dinâmicas produzidas a partir das suas relações. Ou seja: o todo é maior que a soma das partes. A apenas pelos Estados. B por Estados e outros atores internacionais. C por Estados, ONGs e instituições. D pelos atores internacionais (Estados e outros) e pelas dinâmicas produzidas a partir das relações entre eles. E por Estados e seus exércitos e povos. 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 13/60 2 - Centro e periferia na dimensão internacional Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar a relação centro-periferia na dinâmica social/política internacional sob uma perspectiva histórica. Colonialismo, colonialidade e globalização Atividade discursiva “A Europa é indefensável”, disse Aimé Césaire em Discurso sobre o colonialismo (2020). O que o autor martinicano quis dizer com essa frase? Digite sua resposta aqui Chave de resposta 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 14/60 A discussão é sobre a construção de uma legitimidade do papel do colonizador, que acabou por criar uma estrutura política naturalizada por pensamento e estratégias de domínio – e que tende a romantizar o papel do colonizado. A Europa é indefensável! Confira agora a apresentação do professor Daniel Vainfas sobre a teoria de periferia do mundo e os discursos preconceituosos. O mundo contemporâneo é o produto de um processo histórico que remonta, em médio prazo,às origens da modernidade, no século XV. A organização desse mundo obedece a uma hierarquia de nações. De modo esquemático, compreendemos essa hierarquia como duas dimensões correlatas dentro de relações de poder: Centro Periferia A formação desse esquema geopolítico é o produto de um processo histórico de cinco séculos iniciado em fins do século XV. Vamos discutir esse processo para entender a formação do conceito de centro-periferia como categorias históricas. No fim do século XV, o Ocidente, geopoliticamente representado por algumas nações europeias que lograram a consolidação do Estado moderno, se lançou em busca da exploração de outros continentes e 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 15/60 povos do globo terrestre, dando origem ao processo contemporaneamente chamado de “globalização”. Esse processo consiste na aproximação de espaços e territórios do planeta Terra, o que implica uma variedade de povos organizados sob diversas formas políticas em incontáveis soberanias e territorialidades. Pertencentes a culturas diferentes da ocidental, tais povos e espaços foram conquistados violentamente pelos povos europeus entre os séculos XV e XIX. Chegada das caravanas de Pedro Álvares Cabral no Brasil. Obra do artista Oscar Pereira da Silva, 1900. Os europeus passaram a explorar as regiões extraeuropeias e a submeter seus povos aos valores da cultura ocidental. Esse processo, que chamamos de “colonialismo”, produziu as modernas relações políticas entre os países, as quais são organizadas em um eixo centro- periferia que tem no Ocidente geopolítico o centro e no resto, a periferia. Assim como tudo na história, as grandes navegações europeias tiveram uma multiplicidade de causas e razões, que, combinadas, produziram a experiência fundadora do mundo moderno. Todos esses fatores levaram à sistematização de relações internacionais baseadas na dominação de diversas regiões do mundo por Estados europeus desde a conquista da América entre finais do século XV e princípios do XVI. O colonialismo é o processo histórico correspondente a essa dominação. Trata-se de sua expressão não só política, militar e econômica, mas também cultural. O choque de culturas foi um fator a mais: relatos da conquista informam as dificuldades dos ameríndios contra os cavaleiros europeus, já que eles desconheciam o cavalo (animal até então inexistente no continente americano) e interpretavam a figura do cavaleiro como uma só criatura. Para muitos desses povos, os europeus se encaixavam em antigas 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 16/60 lendas – caso dos astecas, por exemplo – sobre o retorno de deuses, o que facilitou um primeiro contato amistoso. Soldados escoltando “selvagens”. Obra do artista Debret, 1834. Em outros casos, alheios à cultura belicista europeia, alguns povos acolheram e deram os primeiros ensinamentos sobre a terra aos europeus. Segundo o historiador Aílton Krenak (2020), os nativos ensinaram aos europeus que caminhos tomar, que frutos comer e outras coisas mais necessárias à sobrevivência. Todavia, em pouco tempo, esse contato assumiria caráter de ampla resistência contra os inconfundíveis males perpetrados pelo homem branco. Ela, porém, foi superada pelos recursos europeus – basicamente, suas armas, germes e aço (DIAMOND, 2001). Tais recursos levaram ao extermínio de algo em torno de 12 milhões de nativos americanos entre os séculos XV e XVIII, um verdadeiro holocausto! Saiba mais De acordo com a abordagem de autores pós-coloniais, como Aimé Césaire (2020), Achille Mbembe (2018) e Franz Fanon (1985), a diferença entre essa matança e aquela vivenciada por judeus e outras minorias europeias pelas mãos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial é apenas o território em seu sentido cultural e étnico: enquanto o Holocausto ocorreu dentro dos limites da Europa, o colonialismo se deu em regiões periféricas aos limites do Ocidente “civilizado”. Dessa forma, o mundo globalizado em que vivemos, politicamente conceituado como um sistema internacional de Estados soberanos, possui seus laços e suas redes sustentados na conquista colonial. A respeito disso, podemos sublinhar um momento marcante até mesmo para os primórdios de uma noção (colonial) de Direito Internacional: o Debate de Valladolid. O Direito Internacional foi criado a partir dos problemas únicos gerados pelo encontro entre espanhóis e os indígenas. Para Dussel (2014, p. 32), 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 17/60 o Debate de Valladolid é “o primeiro debate filosófico público e central da modernidade”. O debate apresenta duas dimensões centrais a serem analisadas segundo o foco do tema estudado. Vamos conferir? A discussão sobre direito natural, muito importante para todo o desenvolvimento do pensamento liberal que marcou a cultura do Iluminismo na Europa. A assimilação pela esfera pública do direito e da filosofia, tanto moral quanto política, de uma construção do Outro segundo o viés etnocêntrico, algo que Edward Said (2007) vai chamar de “orientalismo”, que se trata da “invenção do Oriente pelo Ocidente”. LOREM_IPSUM O Debate de Valladolid marca, dessa forma, um momento singular e emblemático da construção das relações centro-periferia. Nele, dois notórios espanhóis do século XVI discutem literalmente o que fazer com os milhões de nativos pertencentes às Américas. A premissa do debate é o fato consumado da conquista do território, fato que, por sua vez, conduz à conquista dos povos que habitam nele. Afinal, a ideia aparentemente simples de que os nativos pertencentes aos territórios conquistados são ativos e bens também passíveis de serem conquistados era uma decorrência histórica dos preceitos mercantilistas que davam impulso ao movimento expansionista europeu. Nessa lógica, a discussão fulcral era a seguinte: Como extrair deles o trabalho necessário para a exploração das novas terras e qual seria o seu lugar no novo mundo. Eram eles humanos? Será o Outro alguém como Eu? Retomando o conceito de colonialismo, podemos afirmar que ele consiste em uma relação de controle sobre um território, como ilustra o mapa do Tratado de Tordesilhas. No entanto, um território humano é mais do que suas fronteiras, já que contém recursos e pessoas, com suas tradições abrigadas nele. 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 18/60 Dança folclórica mexicana. Um espaço humano é, portanto, um espaço geopolítico quando representa um lugar de cultura e tradição, assim como de costumes e modos de vida que também precisam ser colonizados para viabilizar a conquista e a exploração do território. Isso nos leva ao conceito de colonialidade, que, diferentemente do colonialismo, não se limita apenas ao domínio do território e recursos, mas também das gentes e dos seus modos de vida, podendo inclusive transcender o próprio colonialismo como sistema de dominação. A relação entre a formação da modernidade, com toda sua matriz liberal e humanística, e o brutal sistema colonial é, portanto, uma contradição que não só está na raiz do desenvolvimento do sistema internacional moderno, como também estrutura a sua relação centro-periferia. Tendo tomado uma forma mais nítida a partir do século XX, sobretudo após as guerras mundiais, a globalização está lastreada no sistema colonial, isto é, na organização nuclear das relações centro-periferia internacionais. Em meio a esse processo, os valores capitalistas impactaram na evolução dos Estados e das sociedades, levando a diversas revoluções que sedimentaram ideais e valores que forneciam o espírito para o novo sistema emergente,em oposição ao Antigo Regime, que iniciava seu 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 19/60 processo de decomposição. Dessas revoluções, a inglesa, a americana e a francesa foram as mais emblemáticas, demolindo as estruturas do Antigo Regime na Europa e instituindo valores liberais e republicanos baseados nas primeiras concepções modernas de direitos humanos, sendo um franco rompimento com os valores das monarquias absolutistas. Mas é importante destacar que toda essa revolução em direção à ampliação de direitos estava restrita a certa concepção. Humanismo e racismo Em meio a esses processos políticos que culminaram em Estados poderosos, muitos dos quais permanecem influentes e decisivos na arena internacional até hoje, a cultura e a sociedade também mudavam. O imaginário e a mentalidade do homem europeu do século XV era ainda, pode-se dizer, medieval. O catolicismo era a religião dominante, enquanto a ideia de uma Igreja Católica de poder universal era inabalável. No entanto, a invenção da imprensa por Gutemberg no século XV aumentou a difusão dos textos (até dos bíblicos), ocasionando uma ampliação do horizonte de interpretações sobre o mundo, inclusive sobre a própria religião, fator que culminaria no início do processo conhecido como Reforma Protestante, em 1517. Johannes Gutenberg. Além disso, a difusão de textos escritos alavancou também outros domínios, como a Filosofia e as Ciências, fomentando novas ideias e hipóteses sobre um mundo que estava em transformação por todos os lados. A descoberta de novas terras e civilizações impactou uma sociedade que já vivia suas próprias transformações internas e ofereceu oportunidades para estudiosos de muitas áreas ampliarem seus 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 20/60 conhecimentos e inundarem a Europa com diversas impressões até então inimagináveis sobre o mundo. A tais processos que revolucionaram as Artes, a Ciência e a Filosofia, inclusive a filosofia política, dá-se o nome de Renascimento! O termo advém da busca por referenciais clássicos em uma tentativa de refundar o mundo anterior à Idade Média, o mundo clássico de gregos e romanos, povos que estabeleceram alguns dos principais pilares da modernidade que então emergia. Em oposição à acomodação da cosmovisão medieval restrita ao universo dos dogmas da Igreja, os emergentes valores humanistas estimulavam tanto a curiosidade científica e intelectual quanto a iniciativa e o desejo pela exploração do mundo. É preciso enfatizar que o Renascimento, ainda que originalmente amparado pela ideia do retorno aos valores da Antiguidade Clássica (Grécia e Roma), não se limitava a isso, até porque nenhuma cultura renasce fora de seu próprio tempo. Além disso, o homem renascentista estava profundamente marcado pelo universo do cristianismo, e foi nesse universo que o próprio movimento se viu gestado. Todo homem e mulher, assim como todos os movimentos e valores sociais, são necessariamente produtos de sua época e de seu espaço-tempo. A criação de Adão, obra renascentista criada pelo artista Michelangelo para compor o teto da Capela Sistina, 1512. Uma das características centrais desse novo conjunto de valores era o rompimento com os horizontes medievais, sobretudo com o “dualismo” que marca a visão de mundo daquele período. De acordo com essa ótica da realidade, a existência das coisas está profundamente dominada por polaridades. Exemplo 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 21/60 Corpo e alma, aparência e essência ou bem e mal. Foi do rompimento com esses padrões que emergiam novas formas de pensar o mundo que culminariam no resgate da Filosofia fora dos estertores da Teologia e da ciência moderna, caracterizada principalmente pela observação crítica, pela formulação de hipóteses e pela experimentação. A despeito da ruptura com essas visões que marcaram o homem medieval em direção a um novo conjunto de valores, os homens que invadiram e conquistaram as Américas, dando início ao colonialismo que vertebra a modernidade, eram essencialmente medievais, sendo dominados pelos antagonismos da visão dual da realidade. Foi essa forma de ver o mundo (legitimada pela Igreja) que viabilizou, em primeiro lugar, a conquista. Mas como era possível pacificar a contradição entre os valores humanos renascentistas – alçados depois ao Iluminismo na forma dos direitos universais defendidos pelas revoluções liberais – e toda a violência da exploração colonial, com a escravidão de milhões de nativos das Américas, Ásia e África? Direitos universais defendidos pelas revoluções liberais Tais como o Bill of rights inglês e estadunidense ou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da Revolução Francesa. Qual elemento ou variável permite equacionar elementos tão contraditórios na cultura e no senso comum do cidadão francês ou inglês, por exemplo, em meados do século XIX? O racismo! Os direitos humanos e toda a arquitetura filosófica da modernidade e do liberalismo consideram a humanidade segundo um viés limitado, eurocêntrico, e foi essa a ideologia que permitiu e legitimou a barbárie do sistema colonial – e que ainda hoje estrutura as relações centro- periferia nas relações internacionais. Ora, é nesse contexto que a raça emerge como um conceito central para que a aparente contradição entre a universalidade da razão e o ciclo de morte e destruição do 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 22/60 colonialismo e da escravidão possam operar simultaneamente como fundamentos irremovíveis da sociedade contemporânea. (ALMEIDA, 2019, p. 28) Assim, para Almeida (2019, p. 31), a noção de raça ainda é politicamente instrumentalizada para legitimar sistemas de dominação e violência contra populações e “grupos sociologicamente considerados minoritários”. Segundo o autor, o conceito de raça opera como: Característica biológica A identidade racial é atribuída por algum traço físico, como a cor da pele ou tipo de cabelo, por exemplo. Característica étnico-cultural A identidade racial é associada à origem geográfica, à religião, à língua ou a outros costumes, ou seja, a certa forma de existir. O mundo contemporâneo, portanto, é o produto dos fluxos internacionais promovidos pelos impulsos de conquista europeus. Raça e racismo são produtos do intercâmbio e do fluxo internacional de pessoas, de mercadorias e de ideias, o que engloba, necessariamente, uma dimensão afro-diaspórica. Assim, o que chamamos de modernidade não se esgota na racionalidade iluminista europeia, no Estado impessoal e nas trocas mercantis; a modernidade é composta [não só] pelo tráfico, pela escravidão, pelo colonialismo, pelas ideias racistas, mas também pelas 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 23/60 práticas de resistência e pelas ideias antirracistas formuladas por intelectuais negros e indígenas. (ALMEIDA, 2019, p. 103-104, grifos do autor) Com isso, as estruturas do mundo contemporâneo remontam profundamente a experiências coloniais que deixaram marcas dolorosas nas nações periféricas. No próximo módulo, vamos observar atentamente os impactos desse legado na formação social brasileira a fim de entender a dinâmica entre centro e periferia no Brasil. A modernidade produziu as relações centro-periferia segundo o padrão “Ocidente-resto”, sendo demarcado pelo poder militar que se traduz em dominação política (soberania, imperialismo) e domínio sobre a produção dos saberes, produzindo, por fim, uma hegemonia. Essa hegemonia capitalista-liberal-ocidentalproduz um imaginário universal cartesiano segundo o qual o Ocidente (centro) é o padrão teleológico de desenvolvimento para toda a humanidade, uma espécie de “farol”, como ilustra a alegoria da doutrina do “destino manifesto” dos EUA. Ainda de acordo com esse viés, os demais povos e nações seriam subdesenvolvidos, precisando, assim, ser conduzidos rumo ao desenvolvimento sob a tutela das nações tidas como “desenvolvidas”. 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 24/60 O Colosso de Rhodes por Edward Sambourne. Caricatura do imperialista britânico Cecil John Rhodes. Essa construção normativa das relações internacionais foi estruturada pelo poder que o Ocidente teve de impor seu domínio político sobre as demais regiões do globo, definindo-as segundo sua perspectiva (ocidental). Tratava-se daquilo que Said (1995) chamou de orientalismo, isto é, a definição do Outro (resto) pelo Ocidente. O poder determina a capacidade de produzir o saber. E saber é poder. Eis o circuito fechado da hegemonia. As relações centro-periferia no século XXI Atualmente, a literatura de relações internacionais traduz o conceito centro-periferia em duas novas expressões: “norte” e “sul” global (centro e periferia, respectivamente). Ambas são empregadas para expressar mais amplamente os respectivos conjuntos de nações inseridos em 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 25/60 dinâmicas e fluxos de poder segundo essa organização herdada do sistema colonial. Por um lado (norte), esses recortes são compostos pelas nações mais industrializadas (ou “desenvolvidas”, segundo a terminologia dominante); por outro (sul), pelas nações menos industrializadas (ou “menos desenvolvidas”). Seria essa a configuração geopolítica, em âmbito global, da relação centro-periferia na ordem internacional. Em vermelho, os países que podem ser considerados sul global; em azul, os países que podem ser considerados norte global. Com o intuito de compreender o atual estado dessas relações, faremos uma retrospectiva breve sobre as estruturas do sistema internacional contemporâneo, circunscritas ao período que definimos como “pós- Guerra Fria”. Correspondendo ao recorte da segunda metade do século XX, após o término da Segunda Guerra Mundial, tais estruturas serão analisadas sob duas dimensões básicas da política internacional: Cooperação Competição A partir desses eixos, poderemos visualizar com mais clareza o modus operandi das relações entre norte e sul global (ou centro e periferia), contando com o indispensável respaldo da perspectiva histórica. A primeira das dimensões que analisaremos será a estratégica, pautada por relações de competição a partir de ameaças. A competição estratégica também fomenta sistemas de cooperação via alianças. A Guerra Fria, afinal, foi organizada conforme duas alianças em disputa diametral: países capitalistas e socialistas (primeiro e segundo mundos, segundo a terminologia daquela era). Por fora, restava 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 26/60 o terceiro mundo (ou países em disputa pelos dois blocos, normalmente periféricos e ex-colônias). Durante a Guerra Fria, a guerra convencional foi contingenciada pelos arsenais nucleares, que produziram uma doutrina estratégica baseada na dissuasão. A dissuasão nuclear alterou profundamente as relações políticas e estratégicas. Se antes dela a guerra era um recurso comumente empregado pelas potências em busca dos seus objetivos políticos, depois disso algumas circunstâncias passaram a ser cuidadosamente observadas. Guerra Fria: tanques soviéticos enfrentam tanques norte-americanos no Checkpoint Charlie, 1961. Fundamentalmente, o emprego do poder militar em um contexto de “destruição mútua assegurada” pode significar a quebra da racionalidade que faz da guerra um ato da política. Afinal, a própria destruição não pode ser um objetivo político (ou um risco político aceitável). Esse novo panorama estratégico levou a uma relativa moderação nas disputas entre as grandes potências, abrindo caminho para níveis de estabilidade até então inéditos no centro do sistema internacional, o qual, até 1945, estava marcado por persistentes guerras de grande amplitude e intensidade. Foi esse o terreno que ajudou a promover a experiência das instituições internacionais – notadamente, o sistema das Nações Unidas (ONU). Nas periferias do sistema, por outro lado, os conflitos se intensificaram com guerras de relativa baixa intensidade (conflitos irregulares, isto é, assimétricos, como as guerrilhas, por exemplo, inclusive no âmbito das lutas de descolonização). Isso alimentava conflitos “por procuração” entre potências rivais que não podiam entrar em confronto direto por conta da dissuasão nuclear. Atenção! 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 27/60 As armas nucleares tiveram um papel muito importante: garantir a manutenção do status quo, embora seu uso militar paradoxalmente pudesse ser considerado ilógico do ponto de vista estratégico. Trata-se, afinal, de armas para não serem usadas. A ascensão delas trouxe uma limitação à guerra; com isso, cada contencioso e intervenção militar passavam a ser minuciosamente observados tanto por militares quanto por estadistas. O risco da escalada ditava o tom das ações, gerando conflitos entre lideranças militares e políticas. Depois da experiência das guerras mundiais, em que destruir o inimigo demandava esforços de natureza ampla e praticamente irrestrita (a “guerra total”), os tempos da Guerra Fria impunham a necessidade de extrema cautela no uso do poder militar, que passou por uma inversão drástica: Do extremo emprego no campo de batalha para a limitação do uso como ameaça, ou seja, como elemento dissuasório. Evitar a “Terceira Guerra Mundial” foi do interesse de todos – e não há um responsável específico pela paz que vem marcando o centro do sistema internacional (ou seja, as relações entre as potências) ao longo das últimas décadas. A pacificação entre as grandes potências se deve, até o presente momento, em primeiro lugar a essa condição estrutural proporcionada pelo advento das armas nucleares. Com o fim da ordem bipolar, um sistema de empregos múltiplos da violência por parte de diversos atores não estatais passou a dar contornos complexos à ordem pós-Guerra Fria. Segundo Payne e Walton (2002), a “segunda era nuclear” é marcada pelo fim da deterrence e pela proliferação horizontal, isto é, a difusão dessas armas para atores fora do círculo tradicional das grandes potências. Isso poderia incluir até mesmo atores não estatais, o que desafia a racionalidade do jogo político de acordo com o viés clausewitziano. 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 28/60 Nuvem produzida pelo bombardeio atômico nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, 1945. Nessa perspectiva, não é possível basear políticas internacionais referentes à questão das WMDs apenas na dissuasão, pois seria pouco seguro lidar com Estados cuja racionalidade pudesse estar comprometida com valores e interesses desconhecidos pelo Ocidente. O temor das grandes potências era que a política da dissuasão característica da primeira era nuclear tivesse sido favorecida por líderes responsáveis que, a despeito de antagonismos ideológicos, dispunham de um diálogo de racionalidade recíproca. Na segunda era nuclear, porém, não se poderia contar com a mesma “sorte”. Esse temor levou a iniciativas para simplesmente cercear os acessos a tais armas. WMDs Em tradução livre, armas de destruição em massa.Andrei Gromyko, da União Soviética (ao centro), aperta as mãos de Sir Geoffrey Harrison, da Grã- Bretanha, enquanto o embaixador dos EUA Llewellyn Thompson observa o ato da assinatura do Tratado de Não Proliferação Nuclear em 1968. Portanto, podemos considerar o tratado de não proliferação (TNP) um mecanismo de congelamento de poder que tem sido violado sucessivamente pela proliferação horizontal (FREEDMAN, 2004). O enfraquecimento da MAD também ocorre em função da ascensão dos EUA como potência detentora da primazia nuclear, muito distante de seus adversários mais próximos (Rússia e China). MAD Mutual assured destruction, tradução de possibilidade de destruição mútua. Resumidamente, era esse o sistema da Guerra Fria, que produziu uma ordem de relativa estabilidade entre as grandes potências (centro) e deslocou a violência para as periferias do sistema internacional. Essa estabilidade aumentou as possibilidades de cooperação no centro. 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 29/60 Durante a primeira metade do século XX, a ascensão dos EUA injetou um novo modus operandi na política internacional, buscando moldá-la com princípios consolidados em instituições. Mas isso não aconteceu de uma hora para a outra. Os 14 Pontos de Wilson, que confrontavam a política baseada em equilíbrio de poder das nações europeias (realpolitik), enfrentaram a resistência de um sistema habituado aos jogos de poder. Com isso, a resistência doméstica norte-americana – àquela época, ainda muito orientada para uma postura isolacionista na política externa – levou o Congresso a não ratificar a Liga das Nações, condenando o projeto de Wilson a ter de esperar quase três décadas. Presidente Wilson. Enquanto isso, nas relações centro-periferia, em franca continuidade com o século XIX, ainda predominava o sistema colonial. As potências europeias, afinal, mantinham grandes territórios coloniais conquistados e assegurados com violência. A retórica do sistema colonial correspondia à lógica darwinista e às “teorias raciais” predominantes na época, que balizaram desde impérios coloniais até a visão de mundo do nazifascismo, uma versão mais extrema do “racismo científico”. Para Aimé Césaire (2020), o nazismo seria uma versão do próprio colonialismo europeu, pois as atrocidades nazistas não diferiam daquelas praticadas pelos europeus nas periferias do mundo. Todas essas atrocidades foram francamente toleradas pelas sociedades do Iluminismo e harmonizadas com o seu espectro de direitos limitados, constata-se, a uma concepção restrita de humanidade – notadamente, uma concepção ocidental e branca. Nessa medida, a barbárie nazista seria a própria barbárie colonial introjetada entre os europeus. 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 30/60 Nova ordem nas relações internacionais Com a tragédia da Segunda Guerra e a própria natureza da luta aliada, baseada em uma retórica liberal e humanitária antagonizando com a “barbárie” e a autocracia das potências nazifascistas, o sistema colonial se tornava incoerente e insustentável. Tanto a devastação na Europa quanto o processo de descolonização, em suma, demandavam uma nova ordem. Assinatura da Carta das Nações Unidas na Conferência de São Francisco em 1945. As Nações Unidas surgiram sob forte comoção após a tragédia humanitária de 1939-1945. Daquele contexto nasceram os termos “holocausto” e “genocídio”, que vão marcar o Direito Internacional e pautar a carta da ONU segundo uma nova dimensão da segurança, que passa a se ater ao indivíduo e à garantia e à proteção dos direitos humanos. Além disso, era necessário reconstruir as regiões do mundo devastadas pela guerra. A ONU é criada, assim, sob a necessidade de livrar as futuras gerações do flagelo do conflito violento e promover a cooperação entre os Estados. Dito isso, restam algumas questões: As instituições são promovedoras da paz e do bem-estar internacional? 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 31/60 A que papel elas respondem nessa ordem? Qual é a relação delas com a disseminação horizontal da violência que vem marcando o sistema internacional desde a Guerra Fria? Para Mearsheimer (1995), as instituições são um conjunto de regras segundo o qual os Estados devem cooperar e competir entre si. Tais regras pretendem, com isso, transformar o sistema internacional por meio de valores, como, por exemplo, a paz e a cooperação. Posto isso, cumpre observar que o núcleo duro do sistema internacional, a balança de poder, segue ditando as regras do jogo, ainda que nem sempre o faça em primeira instância. Essas regras devem prescrever um conjunto de ações desejáveis e indesejáveis, assim como aceitáveis e inaceitáveis, para as relações entre os atores do sistema ou comunidade internacional. No entanto, as instituições acabam instrumentalizadas pelos interesses dominantes e se tornam instrumentos de ação política dentro de jogos determinados pela força relativa entre os atores. Exemplo Inúmeros casos dão provas da primazia dos interesses singulares sobre segurança coletiva, como Ruanda (1994) e Iraque (2003), entre outros, quando as grandes potências do centro atravessaram as normas do Direito Internacional e o interesse público para garantir seus interesses. A diplomacia norte-americana liderou o processo de institucionalização, pautando uma ordem baseada na cooperação intermediada por regras claras e recíprocas em substituição ao velho equilíbrio de poder. Contudo, o sucesso de iniciativas de cooperação, como o da União Europeia, seria resultado mais da proteção norte-americana à Europa (o “guarda-chuva americano”), que terceirizou a segurança europeia e eliminou históricas tensões fronteiriças, do que propriamente das disposições recíprocas em buscar a paz pela via da cooperação. Trata-se, portanto, de uma circunstância histórica da era bipolar. Mas isso está se encerrando. As instituições internacionais acabam instrumentalizadas em grande medida como vigilantes dos interesses das nações hegemônicas, servindo para: 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 32/60 Legitimar velhas práticas com novas aparências. Congelar os arranjos de poder entre centro e periferia segundo os estertores do processo colonial. Nesse contexto, as intervenções humanitárias podem ser instrumentalizadas para a defesa de interesses poderosos. Na prática, as missões de paz têm sido um importante instrumento de projeção de poder nas relações internacionais. Para as potências, as missões de paz oferecem novas formas de legitimação de operações militares, as quais, de outra forma, seriam vetadas pelo Direito Internacional posterior a 1945. Outras instituições voltadas para o desenvolvimento humano e social, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), também podem servir como poderosos instrumentos políticos para a manutenção de velhos arranjos de dominação centro-periferia. Reuniões de Primavera do FMI/Banco Mundial na sede do FMI em Washington, DC, 2015. Atadas aos valores liberais emergentes, as nações europeias viram o sistema colonial desgastar-se interna e externamente. O cenário ideológico favorecia a emancipação dessas nações, exigindo a elaboração de novas estratégias de legitimidade que se deram sob o véu da ajuda humanitária a fim de viabilizar as relações de controle sobre as colônias, agora formalmente independentes. A partir de uma imposição de valores, as nações periféricas foram rotuladas como o “terceiro mundo”. 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html#33/60 Detentoras do “ápice civilizacional”, as grandes potências ocidentais estariam em condições de guiar as nações menos desenvolvidas na direção de um “destino” melhor, fator que permitiu o estabelecimento de relações de influência em continuidade com o domínio colonial. Resumindo As instituições internacionais voltadas para a cooperação internacional para o desenvolvimento (CID) têm sido instrumentalizadas a favor dos interesses das potências. É esse basicamente o contexto das nações periféricas na ordem pós-1945 vis a vis as nações mais poderosas integrantes do centro do sistema internacional. Hoje, enquanto acompanhamos uma guerra convencional entre duas nações do centro geopolítico desse palco (Europa), as tendências desse sistema se desenrolam diante de nós, testemunhas oculares da história. A ascensão de China e Rússia como grandes potências (ou seu “renascimento”, pois ambas já foram nações poderosas por longos recortes históricos) acelera uma transição sistêmica que confronta a hegemonia dos EUA e abre uma nova era de fricções geopolíticas a questionar a lógica neoliberal que pavimentou as últimas décadas, durante o pós-Guerra Fria, pautando-as como livres do conflito e pacificadas pela integração/cooperação econômica. Nesse cenário de mudanças radicais e perigosas na ordem internacional, as relações centro-periferia assumem uma nova intensidade. Nações centrais Acirram suas rédeas sobre os instrumentos internacionais de controle que garantem sua posição hegemônica. Nações periféricas Buscam estratégias para alcançar o tão almejado desenvolvimento que lhes garanta a soberania. China e Rússia, nesse contexto, representam nações do sul global, pois sua posição contra-hegemônica as condiciona ao lugar de pertencimento geopolítico das nações menos favorecidas na ordem liberal vigente. Iniciativas como a dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e das outras alianças entre os países do sul, como o IBAS (Índia, Brasil e África do Sul), referendam as nações da periferia global a reclamar posições mais justas na distribuição dos fluxos de 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 34/60 poder, sempre engessados pela concentração de riquezas, de desenvolvimento tecnológico e de poder nas instituições internacionais. 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 35/60 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 “Podemos dar conta boa e certa que, em quarenta anos, pela tirania e ações diabólicas dos espanhóis, morreram injustamente mais de doze milhões de pessoas…” (Bartolomé de Las Casas, 1474 – 1566) “A espada, a cruz e a fome iam dizimando a família selvagem.” (Pablo Neruda, 1904 – 1973) As duas frases lidas colocam como causa da dizimação das populações indígenas a ação violenta dos espanhóis durante a conquista da América. Pesquisas históricas recentes apontam outra causa além dessa. Trata-se de A incapacidade de as populações indígenas se adaptarem aos padrões culturais do colonizador. B conflito entre populações indígenas rivais estimulado pelos colonizadores. C passividade completa das populações indígenas decorrente de suas crenças religiosas. D ausência de técnicas agrícolas por parte das populações indígenas diante de novos problemas ambientais. E série de doenças trazidas pelos espanhóis, como varíola, tifo e gripe, para as quais as populações indígenas não possuíam anticorpos. 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 36/60 Parabéns! A alternativa E está correta. A chegada dos europeus ao continente americano trouxe um fator biológico que foi mortal para os indígenas: as doenças contagiosas. Os historiadores estimam que cerca de ¾ da população nativa tenha perecido vítima de tais doenças. A varíola foi a pior delas, tendo castigado os astecas durante as lutas contra os espanhóis. Atribui-se isso à falta de imunidade do nativo, pois essas doenças não existiam no continente americano até a chegada europeia. Questão 2 “O encontro entre o velho e o novo mundo, que a descoberta de Colombo tornou possível, é de um tipo muito particular: é uma guerra – ou a conquista –, como se dizia então. E um mistério continua: o resultado do combate. Por que a vitória fulgurante, se os habitantes da América eram tão superiores em número aos adversários e lutaram no próprio solo? Se nos limitarmos à conquista do México - a mais espetacular, já que a civilização mexicana é a mais brilhante do mundo pré-colombiano -, como explicar que Cortez, liderando centenas de homens, tenha conseguido tomar o reino de Montezuma, que dispunha de centenas de milhares de guerreiros?” (TODOROV, 2010, p. 31). A partir da citação, marque a alternativa que melhor explica a conquista. A Os europeus tinham técnicas de combate superiores e eram mais evoluídos intelectualmente em decorrência das transformações do Renascimento. B Os europeus tinham armas baseadas no uso da pólvora, desconhecida entre os nativos, além de estratégias que articulavam as rivalidades entre os povos nativos para dominá-los. Eles ainda traziam da Europa germes potencialmente letais para os indígenas. 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 37/60 Parabéns! A alternativa B está correta. Os europeus tinham armamentos pesados para a época, além de armaduras e cavalos, o que ofereceu vantagens compensatórias contra a superioridade numérica dos nativos. E o mais importante: eles souberam explorar as divisões entre os povos para conquistá- los. 3 - Centro e periferia na dinâmica social brasileira Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car o panorama das relações centro- periferia na sociedade brasileira contemporânea. C Os nativos acreditavam que os europeus eram deuses e se entregaram pacificamente à conquista. D Os europeus tinham amplos recursos a serem oferecidos em troca do trabalho e da submissão dos povos originários. E A civilização europeia encontrava-se em um estágio superior de desenvolvimento, o que tornava a conquista inevitável. 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 38/60 Formação social da desigualdade brasileira A formação nacional brasileira tem fundamentalmente dois eixos: Casa-grande Senzala Dentro da colônia, a formação colonial reproduz a matriz de dominação colonial em escala internacional, na qual a casa-grande corresponde ao espaço de quem domina (centro) e a senzala, ao espaço de quem é dominado (periferia). Essa relação produziu a sociedade brasileira e seus primeiros pavimentos. A partir dela, desenvolveram-se todos os demais aspectos da vida nacional. A escravidão, portanto, é o aspecto central da formação social brasileira – e dele resultou um racismo estrutural de difícil superação até nossos dias. Obra do artista Jean-Baptiste Debret. Fruto do sistema colonial e profundamente marcado por quase quatro séculos de escravidão, o Brasil carrega um legado muito visível desse período em seus problemas contemporâneos. Tendo marcado os índios – principalmente nos primórdios da colonização –, a escravidão marcou 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 39/60 ainda mais os negros trazidos da África e os seus descendentes, acentuando com muita violência o processo de conquista da terra. Durante os primeiros momentos da empresa colonizadora, o sistema de feitorias foi viabilizado pela exploração dos povos nativos. Com o esgotamento da escravidãodos indígenas, recorreu-se cada vez mais aos africanos. Feitorias Podem ser resumidas em uma monocultura baseada no latifúndio e no escravismo. Comentário Somando quase cinco milhões de indivíduos no decorrer de três séculos e meio, os africanos foram a principal energia edificadora do Brasil. Se o país fosse um corpo, seu sangue seria sobretudo negro e africano. A chegada de gente de diversas regiões e culturas africanas fez do Brasil praticamente uma “nova África”. Em 1584, o país tinha “25 mil brancos, 18 mil índios domesticados e 14 mil escravos negros. Vivíamos, pois, quase numa Roma negra: um êxodo forçado cujos número e proporção superavam tudo que até então se conhecera” (SCHWARCZ, 2015, p. 206). Homens e mulheres transportados em navios nas mais insalubres condições eram desapropriados de sua condição humana e trazidos de outro continente para produzir um novo mundo com sua força de trabalho. O Brasil, segundo Schwarcz (2015, p. 11), “tem uma história muito particular, ao menos quando comparada à de seus vizinhos latino- americanos. Para cá veio quase a metade dos africanos e africanas escravizados”. Apesar de a escravidão ser sistematicamente constatada em diversos lugares e períodos da história, inclusive entre os europeus, “nada foi tão volumoso, organizado, sistemático e prolongado quanto o tráfico negreiro para o novo mundo” (GOMES, 2019, p. 25). As características desse novo mundo carregam de forma indelével a marca dessa experiência. 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 40/60 Obra do artista Johann Moritz Rugendas que retrata o interior de um navio negreiro. Os indivíduos escravizados foram trazidos após a quase completa destruição dos indígenas, aniquilados pela violência, pelas doenças e pelo esgotamento físico do trabalho escravo, do qual muitos fugiram, buscando o interior do continente. Essa condição original – de mercadoria, de tração animal – marcou profundamente o processo de inserção desses seres humanos e dos seus descendentes na ordem política e social. Atenção! É preciso, pois, haver um esforço de desconstrução dos mitos de formação nacionais dotadores de um imaginário de conciliação e harmonia de povos na construção do Brasil – resistente até os dias atuais – a partir de uma suposta relação de negociação entre o indígena e o colonizador – e, depois, entre o senhor e o escravizado. Esse imaginário (mais bem cunhado na expressão “democracia racial”, originalmente proferida por Artur Ramos) foi, em grande parte, expandido nas interpretações da obra de Freyre e constitui até hoje um complexo obstáculo para o tratamento das desigualdades brasileiras (MUNANGA, 2019). A sociedade brasileira tem como principal pilar organizacional a propriedade senhorial voltada para a exportação e com mão de obra escrava, ou seja, as primeiras fundações do país foram orientadas para atender aos interesses do mercado externo e da metrópole portuguesa. Não havia, afinal, um projeto civilizatório português para as terras brasileiras. Durante os primeiros 150 anos, o Brasil foi um imenso arquipélago de grandes capitanias (latifúndios) voltadas para a monocultura de exportação e organizadas com mão de obra escrava. Isso significa que o país tem o espaço privado como essência de sua formação em razão de suas primeiras teias de relações sociais terem se dado na relação entre a casa-grande e a senzala dentro do âmbito dos latifúndios, que 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 41/60 eram espaços autossuficientes economicamente e, portanto, isolados uns dos outros. Dessa maneira, não se forma um espaço público no Brasil imediatamente, uma “praça”, em que a liberdade possa ser exercida publicamente, desenvolvendo-se uma cultura cívica. Em Casa-grande & senzala (FREYRE, 2001), vemos as estruturas da formação social brasileira no binômio da propriedade senhorial com o espaço dos homens e mulheres escravizados: a senzala. A síntese de Gilberto Freyre para os conflitos entre senhores e escravizados seria a miscigenação, aproximando os dois polos de uma relação baseada no escravismo – ou seja, na completa desapropriação daqueles que trabalham, que produzem, de sua condição humana –, em uma mistura que seria mais harmônica do que tensa. A ideia sobre a “harmonia racial” foi bastante fecunda em boa parte da literatura e do imaginário posterior sobre a escravidão. Ilustração do livro de Gilberto Freyre. Legou-se a ideia de que a escravidão no Brasil foi mais “dócil” na comparação com o sistema adotado na América do Norte. Dizia-se que, enquanto lá o sistema se encaminhou para uma guerra que dividiu o país, aqui os senhores e os escravizados dividiam suas relações de forma abrandada pela cordialidade, pelo “jeitinho”, pelas relações dentro de um universo de intimidade entre os dois lados, como sugerem inúmeras passagens do livro de Gilberto Freyre. Essa narrativa tornou possível um ideário de um país que, diferentemente dos EUA imersos em “ódios sócio-raciais”, vivia um “paraíso racial”. 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 42/60 No imaginário das elites brasileiras de meados do século XIX, aspirantes ao liberalismo que admiravam nos EUA e na Europa pós-revoluções liberais, o negro acorrentado tornava-se incompatível com o mundo liberal em ascensão, ao mesmo tempo que o negro liberto era uma ameaça à ordem. Desse dilema, desenvolveu-se uma sociedade que jamais verdadeiramente desejou e digeriu a abolição, tão tardia – e nada por acaso – por aqui. Tal sociedade, aliás, jamais reservou um lugar para os libertos na ordem social pós-abolicionista. Do ponto de vista estrutural, seu lugar permaneceu pouco alterado: Distantes dos acessos à educação e da mobilidade social. Reféns das atividades mais servis, em que as camadas médias e altas eram e permanecem indispostas, e com remunerações mais baixas. As bases da sociedade política nacional A construção de uma sociedade marginalizante no pós-abolição no Brasil Confira agora a sociedade pós-abolição no Brasil. 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 43/60 A libertação da escravidão formal fez com que os libertos fossem lançados na sociedade como incômodos e indesejados. A partir da lei contra a vadiagem (Decreto-Lei nº 3.688, de 1941), eles passaram a ser convertidos em inimigos da ordem. Considerados um estorvo e o custo da modernidade, continuavam a ter seus costumes proibidos e perseguidos. Totalmente marginalizados, os libertos começaram a ocupar as periferias e os morros das cidades que suas mãos construíam, dando contornos literalmente geográficos à exclusão que sentiam na pele, já que eles formaram as periferias das grandes cidades brasileiras. Esses territórios podem ser considerados as senzalas modernas, sendo alheios aos direitos constitucionais mais básicos até hoje – inclusive o direito à vida. Com efeito, a pobreza e a marginalidade na sociedade brasileira têm uma cor predominantemente negra e a origem na senzala. Negras e mestiças, as populações pobres e marginais carregam tal estigma pesado, e essa é a chave para a desumanização que torna natural sua eliminação pela violência do Estado até hoje. Tais populações permaneceram informalmente reféns da condição do escravizado, sendo dignas de vida apenas dentro dos limites de suas utilidades braçais e da subordinação à ordem. Junto com o problema da escravidão, base da formação social brasileira, é preciso acentuar o patrimonialismo na gênese política do país. A formação do Estado brasileiro remonta a 1650, ano da chegada do primeiro governo geral da colônia. 1650 13/03/2024,16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 44/60 Trata-se da primeira referência de “coisa pública” após 150 anos de colonização. Esse problema é tratado pela sociologia clássica brasileira como “o problema institucional brasileiro”. Para Vianna (1973), o Brasil é dotado de uma singularidade – que, em especial, seria seu “pecado original” – explícita em uma organização social em que, na sua formação, o movimento para a constituição de um espaço de sociabilidade não propiciou condições para gerar laços de solidariedade. O país conta apenas com latifúndio, monocultura e escravismo como eixos civilizatórios. Desse modo, a sociabilidade brasileira constitui um espaço privado. Com a afirmação dessas forças centrífugas, o desenvolvimento dela ao longo dos séculos deu origem a uma organização de caráter essencialmente privado: a família patriarcal, constituída a partir de laços de consanguinidade e de intimidade ou proximidade. Atenção! Trata-se de uma instituição que configurava a identidade dos homens: não uma identidade em função da personalidade individual, e sim do pertencimento à família e do culto ao personalismo. Essa dinâmica produziu uma outra tensão que é fecunda até os nossos dias: um conflito entre a esfera privada e a esfera pública. A realidade colonial nos primórdios do Brasil foi organizada em função dos interesses privados. Assim, quando o Estado finalmente se constituiu, colocou-se diante dessas famílias a necessidade de construir um espaço público que pudesse se organizar em torno da consciência do interesse privado, e não do público. O Estado brasileiro, portanto, nasce comprometido em responder a tais interesses, originando um espaço público organizado em torno daqueles de ordem privada. Nesse sentido, a construção normativa da sociedade política nacional, para Vianna (1974), trazia uma questão: Não havia uma sociedade organicamente capaz de expressar essas instituições políticas modernas. Tendo isso em vista, a democracia liberal encontraria no Brasil solo refratário, e sua consolidação permanece até hoje como um desafio 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 45/60 histórico. Nossa constituição de 1891, pós-abolição e republicana, foi praticamente emulada do modelo federalista norte-americano – sintomático disso é o próprio nome adotado para o país à época, “Estados Unidos do Brasil”. Formalmente, nosso país era uma república federativa e uma democracia liberal. Todavia, desde o princípio, a república brasileira ganhou contornos oligárquicos. Repressão contra estudantes no período da intervenção militar no Brasil. São Paulo, 1965. A república oligárquica propriamente dita (também conhecida como república velha ou república dos governadores) só foi interrompida por uma intervenção militar (1930) que marcaria uma das mais importantes clivagens da história brasileira: a consolidação da instituição militar como ator político. A partir daí, diversos episódios de interferência militar na política conduziram os generais ao poder em 1964, iniciando um regime que durou 21 anos. Como se percebe nesse resumo, a marca mais frequente da república brasileira é o autoritarismo, seja pelo protagonismo das oligarquias regionais seja pela ação direta da instituição militar. É uma ordem em constante disputa por forças centrífugas e centrípetas, marcadas, cada uma a seu modo, por um viés autoritário. Inclusão/exclusão e os desa�os da democracia brasileira Para Quijano (2012), o conceito de colonialidade dá sentido a uma hierarquia de poder desenhada e desenvolvida durante o período colonial e que segue em continuidade com o colonialismo, fazendo-se 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 46/60 presente nas relações de poder contemporâneas. Segundo Lynch (2013), no Brasil, as elites: Consideraram seus produtos intelectuais mais ou menos inferiores àqueles desenvolvidos na Europa e nos Estados Unidos, em consequência de uma percepção mais ampla do caráter periférico do país. (LYNCH, 2013, p. 730) Dessa forma, uma das consequências do colonialismo, que já configura uma marca da colonialidade em si, é o que Nelson Rodrigues chamou de “complexo de vira-lata”, isto é, essa presença constante nas mentalidades das nações periféricas do mito da superioridade das nações centrais. A própria lógica centro-periferia é sintoma ideológico dessa construção, cujo léxico pode ser traduzido nas relações de poder consumadas (e discutidas no módulo anterior) pela conquista europeia do mundo. DUma das consequências desse “viralatismo” é a dificuldade em pensar um projeto independente e autônomo de país, já que a percepção de que o único caminho civilizatório possível é aquele induzido pelo colonizador configura uma marca profunda da colonialidade. A colonização é notadamente um processo de conquista violenta que, além da coerção física, baseia- se na violência simbólica (MORAIS, 2022). Promover desenvolvimento e democracia em meio às realidades da periferia do capitalismo é uma das dificuldades subsequentes dessa relação histórica inserida na colonialidade, pois o conceito de democracia é lido e interpretado conforme a experiência dos países centrais, que obviamente é inteiramente diversa daquela observada nos países colonizados. Uma das características mais fundamentais do colonialismo – e, portanto, da colonialidade – é o racismo, responsável por estruturar as 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 47/60 relações de poder que legitimaram a escravização e o genocídio de milhões de nativos mundo afora pelos mesmos europeus que produziam o humanismo/iluminismo. Como dissemos, essa aparente contradição poderá ser entendida se considerarmos que a definição de “ser humano” na equação civilizacional ocidental é restrita ao homem branco e cristão. O resultado disso é que a experiência da democracia contemporânea está profundamente associada à questão racial, já que ela foi produzida pela civilização ocidental (Europa/EUA) e se desenvolveu de modo concomitante à formação do sistema colonial, cuja ferocidade em terras brasileiras foi notória. [...] a democracia não pode ser definida independentemente dos excluídos; o despotismo exercido sobre os bárbaros, obrigados à obediência absoluta própria dos escravos e às infâmias da expansão e do domínio colonial, lança uma luz inquietante sobre os Estados liberais, e não só no que respeita à sua política internacional. Essa não é um elemento estranho da estrutura político-social interna. É elucidativo o exemplo dos Estados Unidos; aqui, é no próprio território nacional que residem as raças “na menoridade”, de cuja condição, 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 48/60 porém, não se pode prescindir nem sequer quando se trata de analisar países como Inglaterra ou a França ou a Itália. Na tradição liberal, a teorização ou celebração da liberdade avança a par e passo com a enunciação de cláusulas de exclusão, pelo que a liberdade em última análise acaba por se configurar como privilégio. (LOSURDO, 2020, p. 20) Historicamente, a democracia liberal e o colonialismo, nesse sentido, compõem dois lados da mesma moeda. A experiência da democracia contemporânea decorrente das revoluções liberais na Inglaterra, nos EUA e na França foi produzida em meio à acumulação primitiva de capital sustentada justamente na exploração colonial. Ainda segundo Losurdo (2020, p. 78), “o triunfo do liberalismo coincide com a vitória da expansão colonial, na qual, para falar como Tocqueville, ‘a raça europeia’ submete ‘ao seu impérioou influência todas as outras raças’”. Não apenas Tocqueville, mas também diversos outros autores proeminentes da tradição liberal, como é o caso de Stuart Mill, dissertaram sobre os benefícios da colonização. Todos partiram de premissas notadamente racistas e eurocêntricas para delegar à Europa seu papel de civilizar os “bárbaros” (MORAIS, 2022). Há diversas formas de definir o conceito de democracia. Trata-se de um conceito polissêmico. Como nenhum contexto social é idêntico a outro, nenhuma forma de regime existe conforme um padrão universal, isto é, um tipo ideal. A realidade se impõe à teoria e ajuda a construir experiências que, a partir de suas especificidades, sempre se mostram singulares do ponto de vista histórico. O problema da democracia, de acordo com o contexto brasileiro, tem a ver fundamentalmente com a inclusão. Essa é a questão central! Uma vez ignorada a inclusão, não pode haver disputa e negociação pelo poder, bem como respeito às regras na mediação dos conflitos sociais. A exclusão social é fonte permanente de tensões, o que nos remete a 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 49/60 uma assertiva importante: sem inclusão, não há pacificação ou democracia (MORAIS, 2022). Centro e periferia no Brasil contemporâneo A formação social brasileira se deu no lado “avesso” da democracia liberal, isto é, da própria experiência colonial. O Brasil é fruto de uma iniciativa predatória, carregando até hoje em boa parte de suas elites e do povo essa tendência à autofagia colonial que constitui um grande óbice à democracia. Se olharmos atentamente a desigualdade social brasileira, veremos um traço claro de colonialismo: as favelas são totalmente excluídas dos limites da polis, constituindo o abrigo (as senzalas contemporâneas) dos trabalhadores menos valorizados, mais depauperados e menos dignificados na hierarquia social. Embora sejam imprescindíveis para uma economia de forte lastro colonial – concentradora, desigual e especialmente perversa com o trabalhador braçal –, essas pessoas ao mesmo tempo são indesejadas na ordem social, em que são vítimas de um cotidiano de forte repressão e controle por parte do Estado. O princípio de um mínimo de igualdade econômica é necessário para fazer valer a igualdade política. O problema da democracia no Brasil, afinal, está associado ao da exclusão social. A simples garantia do voto não assegura o acesso das massas às instituições. 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 50/60 Exemplo Vamos estabelecer uma comparação entre as “fotografias” do povo – em sua maioria, não branco e pobre, além de ser composto por mais mulheres do que homens – e as dos seus representantes, que correspondem a uma imensa maioria de homens brancos e ricos. Tal comparação é uma evidência empírica de um imenso abismo entre a classe política eleita e os interesses que deveriam se fazer representados pelo voto. A desigualdade observada nas grandes cidades do país, notória como uma das mais graves do mundo, se forma a partir da exclusão social das camadas mais pobres em relação aos direitos conquistados durante a modernidade. Essas pessoas – em sua maioria, negras – foram submetidas ao estigma do trabalho braçal. A desigualdade nas grandes cidades brasileiras, com destaque para o Rio de Janeiro, compõe uma geografia peculiar na qual condomínios de luxo ficam ao lado de comunidades paupérrimas. Socialmente, essa linha tênue – a qual, geograficamente, mais aproxima do que separa ricos e pobres – não é nada tênue, tendo a espessura de uma muralha. E esse paradoxo – tão perto e tão longe – é que aprofunda a violência. A proximidade com bens de consumo ao mesmo tempo cobiçados e inacessíveis e o ressentimento proveniente da exclusão social e da forte repressão necessária à manutenção dessa linha divisória criam circunstâncias favoráveis para que atividades criminosas prosperem. Favela da Rocinha, localizada na zona sul do Rio de Janeiro. Dados do Ipea coletados entre 1993 e 2007 informam que o grupo de homens brancos em torno de 60 anos de idade passou de 8,2% para 11,1%, ao passo que o de negros da mesma faixa etária teve um aumento menos significativo: 6,5% para 8% (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2008). 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 51/60 Os dados da violência são ainda piores: em 2010, a taxa de homicídios entre brancos foi da ordem de 28,3 a cada 100 mil, enquanto a de negros ficou em 71,7 para a mesma proporção (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2008, p. 23). Segundo a Anistia internacional, um jovem negro tem 2,5 vezes mais chances de ser assassinado no Brasil do que um branco. Da escravidão ao racismo: o fio condutor da formação social brasileira. Capa do jornal Extra de 8 de julho de 2015, vencedora do Prêmio Esso de Jornalismo. Esses dados revelam que nos tornamos uma nação desigual e com altos índices de violência contra negros e pobres. Tais índices demonstram “como o racismo ainda se agarra a uma ideologia cujo propósito é garantir a manutenção de privilégios, aprofundando a distância social” (SCHWARCZ, 2015). Observe agora outra fala desse autor: 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 52/60 Sendo assim, e se o racismo, faz tempo, deixou de ser aceito como uma teoria científica, ele continua plenamente atuante, enquanto ideologia social, na poderosa “teoria do senso comum”, aquela que age perversamente no silêncio e na conivência do dia a dia. A escravidão nos legou uma sociedade autoritária, a qual tratamos de reproduzir em termos modernos. Uma sociedade acostumada com hierarquias de mando, que usa de uma determinada história mítica do passado para justificar o presente, e que lida muito mal com a ideia da igualdade na divisão [não só] de deveres, mas de direitos também. (SCHWARCZ, 2015, p. 35) A abolição não conseguiu mudar a percepção sobre os escravizados e seus descendentes, que ainda carregam esse fardo, esse baixo valor, esse estigma. Do ponto de vista econômico, o modo mais eficiente de perpetuar tais camadas sociais na pobreza – e, não raro, na miséria – é a desvalorização do trabalho braçal, destinado a elas na ordem social que se perpetuou. Não é natural que um faxineiro ganhe tão menos que um médico: isso é fruto justamente de uma construção social que começa no binômio casa-grande x senzala e se torna a responsável por formar as relações centro-periferia na realidade brasileira. Turma de garis da Comlurb no RJ Formatura de medicina da UFSC 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 53/60 A desvalorização do trabalho braçal perpetua, assim, a degradação social dessas camadas mais pobres, mantendo-as próximo das senzalas das quais foram formalmente libertas, além de não permitir que elas se emancipem e alcancem um status social verdadeiramente dignificante e igual. Impede-se ainda a emergência de um sujeito individual, livre das amarras da relação senhorial. E esse sujeito é fundamental para a sociedade democrática moderna. 13/03/2024, 16:55 Conceito de centro e periferia na dinâmica de espaço https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04608/index.html# 54/60 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Segundo o texto, a democracia brasileira enfrenta um grande desafio. Esse desafio é Parabéns! A alternativa C está correta. A inclusão social e política dos mais pobres e negros permanece como o maior desafio para o desenvolvimento democrático do Brasil, já que a democracia
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