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Gramática e texto Você já ouviu falar nos “caras-pintadas”? Esse foi o nome pelo qual ficou conhecido o movimento estudantil brasileiro realizado no decorrer de 1992, que teve como objetivo principal o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. O movimento, que contou com a adesão de milhares de jovens em todo o país, baseou-se nas denúncias de corrupção contra o governo da época e, ainda, na insatisfação do povo em relação às medidas econômicas implementadas. O nome “caras-pintadas” referiu-se à principal forma de expressão e símbolo do movimento: as cores verde e amarelo pintadas no rosto dos manifestantes. Neste módulo, vamos estudar um pouco mais a respeito do gênero manifesto. EXPECTATIVAS DE APRENDIZAGEM: – Compreender o manifesto como gênero textual; – analisar os elementos básicos presentes no manifesto; – entender o uso desse gênero como um instrumento de participação social. © fil ip ef ra za o/ iS to ck 1. Construindo o conceito: manifesto A educação e a cultura são áreas estratégicas dentro do projeto do desenvolvimento nacional e da cidadania. A escrita e a leitura constituem não só o mais forte amálgama entre elas, como também o caminho indispensável para a formação do cidadão crítico, emancipado, inserido em seu meio e capaz de modiicá-lo. Embora não seja a via única de acesso ao conhecimento e à informação – o que compartilha com outras linguagens, como a visual e a eletrônica –, o livro continua a ser a maior invenção do último milênio e a ocupar um papel central na sociedade. A leitura gera condições para decodiicar, interpretar, compreender e se fazer entendido, criando, assim, as condições necessárias para o ser humano se comunicar com os seus iguais. Ao promover o seu desenvolvimento em todos os aspectos, o ato de ler o credencia a buscar maior participação social e política e a exercer sua cidadania em plenitude. As conquistas e os avanços obtidos nos últimos anos nas esferas federal, estadual e municipal necessitam ser preservados, mas não só. Precisam ser ampliados e ganhar a dimensão que o tema merece. Programas e projetos de acesso ao livro e às outras formas de leitura, de formação de agentes multiplicadores (como os educadores, os Observe-se o manifesto a seguir, que circula pela internet e aborda a problemática da leitura no Brasil, para entender como funciona esse gênero textual. Manifesto do povo do livro O acesso ao livro e a outras formas de leitura – como jornais, revistas e internet – deve ser assegurado a toda a nação brasileira. Independentemente de credo, raça, faixa etária, necessidade especial, escolaridade ou condição econômica, todo brasileiro, como ser humano que é, deve ter garantido seu direito inalienável à leitura – como meio de transmissão do conhecimento, entretenimento, de desenvolvimento pessoal e proissional e, portanto, de cidadania. Em um país como o Brasil – onde apenas um entre quatro habitantes está habilitado para a prática da leitura; onde nossas crianças ocupam os últimos lugares nos estudos internacionais sobre compreensão leitora; onde o índice nacional de leitura é de menos de dois livros lidos por habitante/ano; e onde a maior parte dos milhões de alfabetizados nas últimas décadas tornou-se analfabeta funcional –, a leitura precisa e deve ser tratada como uma prioridade nacional. PORTUGUÊS E LINGUAGENS 177 8º AnoMódulo 1 bibliotecários e os voluntários), de valorização do ato de ler no imaginário coletivo e, ainda, de fortalecimento da economia do livro devem ser convertidos em política de Estado – acima dos governos e das pessoas. Tornar a questão do livro e da leitura uma política pública significa aprofundar o vínculo das ações de educação e cultura e, sobretudo, dotar a área de uma estrutura administrativa e orçamentos capazes de atender às grandes demandas existentes. Os esforços feitos até agora pelos diferentes governos merecem o devido respeito, mas ainda são insuicientes para o Brasil começar a saldar essa dívida social com o cidadão e a cidadania, com o livro e a leitura. O Estado deve garantir as condições necessárias de acesso ao livro gratuito aos seus cidadãos. A biblioteca é um serviço público e dever do Estado, tal como a saúde e a educação. [...] É, pois, fundamental e urgente que todos os municípios brasileiros tenham pelo menos uma biblioteca e que a rede existente – municipal, estadual, federal, escolar, universitária e comunitária – seja forta- lecida e reequipada para atender ao cidadão brasileiro dentro dos padrões mínimos internacionais: com bons e diversiicados acervos de livros e outros materiais; pessoal qualiicado e estimulado; e recursos permanentes para manutenção, atualização, formação e fomento. A Lei do Livro, a Câmara Setorial e o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) devem ser aprofundados e ganhar maior efetividade, materializados em projetos, programas e investimentos, em todos os rincões do país, sobretudo nas áreas menos favorecidas. Às vésperas de se comemorarem os 200 anos da criação da indústria do livro no país – que ocorreu em 1808, com a instalação da primeira tipograia e editora, a Impressão Régia – faz-se urgente e indispensável tornar o Brasil uma nação verdadeiramente de cidadãos leitores. A prática social da leitura é, ainal, o caminho para o qual apontava a legião de brasileiros notáveis – integrada por escritores como Monteiro Lobato e tantos outros – como a estratégia de enfrentamento do drama da fome, da pobreza, da ignorância e da violência urbana para colocar o Brasil, aí sim, no rumo do desenvolvimento, da justiça social e da solidariedade. Brasil, set. 2006 Disponível em: <www.culturaemercado.com.br>. Acesso em: 21 out. 2014 (adaptado). © ke rt lis /i St oc k O manifesto é um gênero textual que propõe a demonstração do pensamento de uma pessoa ou de um grupo a respeito de um assunto de interesse geral. Trata-se de um texto que denuncia a existência de um problema, objetivando alertar a comunidade ou conclamá-la a agir. Seu conteúdo é de natureza diversa, podendo ser social, político, cultural, religioso, econômico. Pretende-se, portanto, mobilizar o leitor a lutar por um problema já de seu conhecimento, ou que ele ainda não conhece, ou, ainda, alertá-lo sobre a possibilidade de uma situação problemática que pode vir a ocorrer. Com base na leitura do texto “Manifesto do povo do livro”, presente no início deste módulo, responda às questões a seguir: 01 Airma-se, no início do manifesto, que “a leitura precisa e deve ser tratada como uma prioridade nacional”, mas é possível identiicar, no próprio texto, dados preo- cupantes acerca da realidade brasileira no que se refere ao assunto. Cite três exemplos desses dados. 02 Ao longo do texto, são apresentados argumentos consistentes acerca da importância da leitura e um deles diz respeito à comunicação e ao exercício da cidadania. Identiique-o. 03 Apesar de reconhecer que houve avanços e conquistas nas esferas federal, estadual e municipal, o autor defende a ideia de que há a necessidade de ampliação do incentivo à leitura. Transcreva o trecho em que essa ideia ica evidente. 04 A linguagem empregada em um manifesto pode variar conforme o estilo dos manifestantes, o público-alvo e o instrumento de divulgação. Indique que tipo de linguagem foi utilizada no manifesto lido. 178 8º Ano PORTUGUÊS E LINGUAGENS Módulo 1 05 Imagine que sua turma tenha icado responsável por elaborar um projeto de incentivo à leitura para toda a escola e que o primeiro passo seria redigir um manifesto alertando sobre a situação da leitura em nosso país. Indique exemplos de argumentos que poderiam ajudar a convencer os demais alunos a participarem do projeto. Manifesto contra o trabalho escravo e pela aprovação da PEC 438/01 As entidades abaixo-assinadas, representantes dos maisdiversos segmentos sociais e políticos que lutam contra a existência e a prática do trabalho escravo no Brasil, vêm a público externar seu posicionamento de repúdio contra todos os segmentos ainda capazes de praticar e acobertar tais práticas, tanto no meio rural quanto no meio urbano; ao mesmo tempo, exige do Parlamento brasileiro a imediata aprovação da Proposta de Emenda à Constituição – PEC no 438, de 2001 – que visa a expropriar terras em que for constatada a exploração do trabalho escravo. A aprovação da PEC 438/01 é absolutamente impres- cindível para que o Poder Legislativo brasileiro contribua efetivamente para a erradicação dessa chaga social que, em pleno século XXI, ainda persiste em vários estados e regiões de nosso país, tirando a dignidade de tantos trabalhadores e contribuindo para reforçar uma imagem negativa do Brasil na comunidade internacional. A Constituição brasileira garante que toda proprie- dade rural deve cumprir sua função social. Não pode e não deve ser utilizada como instrumento de opressão ou submissão de qualquer pessoa. Infelizmente, o que ainda se vê, principalmente nas regiões de fronteira agrícola, são trabalhadores reduzidos à condição de escravos, privados de seus mais elementares direitos como seres humanos. Escravidão é uma violação dos direitos humanos e a sua utilização deve ser tratada como crime. Se um proprie- tário de terras realiza essa prática, ele deve perdê-la, sem direito a nenhuma indenização. Essa medida pune aqueles que roubam a dignidade e a liberdade das pessoas. É hora de abolir de vez essas práticas criminosas contra os trabalhadores. No ano em que se completam 120 anos da abolição da escravatura, os senhores e as senhoras congressistas podem modiicar a história de nosso país, garantindo liberdade e dignidade ao trabalhador brasileiro e votando contra o trabalho escravo e favoravelmente à PEC 438/01, que garantirá a expropriação de terras em que comprovadamente for lagrada a existência de mão de obra escrava. Brasília, 21 de maio de 2008. Entidades: I. Subcomissão de Combate ao Trabalho Escravo no Senado Federal. II. Subcomissão de Combate ao Trabalho Escravo, Degradante e Infantil na Câmara dos Deputados. III. Secretaria Especial de Direitos Humanos. IV. Ministério Público do Trabalho. V. Procuradoria Geral do Trabalho. VI. Secretaria de Inspeção do Trabalho – Ministério do Trabalho e Emprego. VII. CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil VIII. CPT – Comissão Pastoral da Terra. IX. OIT – Organização Internacional do Trabalho. X. Fórum Nacional da Reforma Agrária. XI. Contag – Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura. (...) Disponível em: <reporterbrasil.org.br>. Acesso em: 21 out. 2014. 01 É possível airmar que o título do manifesto evoca a atenção do público e adianta o seu assunto? Se sim, explique como isso ocorre. 02 No primeiro e no segundo parágrafos, temos uma justiicativa para a necessidade de aprovação da PEC 438/01. Responda: a. No que consiste a PEC 438/01? b. Quais motivos justiicam sua aprovação? 03 Explique o que signiica a expressão “chaga social”, presente no segundo parágrafo, e indique o termo a que ela faz referência no texto. 04 O terceiro e o quarto parágrafos trazem uma análise dos argumentos e do problema que justiicam o ponto de vista do autor. Qual relação é estabelecida entre o texto da Constituição Brasileira e o trabalho escravo persistente, sobretudo, nas regiões de fronteira agrícola? Gramática e texto PORTUGUÊS E LINGUAGENS Módulo 1 179 8º Ano 05 Observe as informações sobre o manifesto: É por meio do gênero textual manifesto que uma pessoa ou um grupo expressa irmemente o seu posicionamento acerca de diversas problemáticas, sejam de caráter político, social ou cultural. Esse gênero atua como mecanismo de denúncia sobre um assunto que ainda não é de conhe- cimento de toda a sociedade. Pode, também, alertar a população sobre a possibilidade de um problema ocorrer. Com base nas informações anteriores, responda: a. Qual expressão, presente no primeiro parágrafo, representa o locutor que assume a tarefa de porta-voz do problema a ser abordado no manifesto? b. No texto lido, encontramos a manifestação de um pensamento ou de um posicionamento a respeito de um interesse social. Qual problema é denunciado, no texto, à sociedade? c. Ainda no primeiro parágrafo do texto, anunciam-se os objetivos do manifesto. Quais são eles? Utilize o texto dos Exercícios contextualizados para as próximas questões. 01 O último parágrafo tem a função de realizar uma conclamação. a. A quem é dirigida essa conclamação ou esse apelo inal? b. Explique a estratégia argumentativa empregada, no trecho a seguir, para sensibilizar o público-alvo e, consequentemente, fazê-lo aderir às ideias defendidas no texto. “... os senhores e as senhoras congressistas podem modificar a história de nosso país, garantindo liberdade e dignidade ao trabalhador brasileiro...” 02 Explique os motivos pelos quais as assinaturas colocadas no inal do texto colaboram para a força argu- mentativa dele. _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 180 8º Ano PORTUGUÊS E LINGUAGENS Módulo 1 1. Construindo o conceito: anedota A seguir, observe-se uma anedota para auxiliar no entendimento do conceito de frase: “Em uma festa, a madame é apresentada a um impor- tante político. — Muito prazer! – diz ele. — Prazer! Saiba que já ouvi falar muito do senhor! — É possível,minha senhora, mas ninguém tem provas!” © A ld o M ur ill o/ iS to ck 01. Anedotas ou piadas são textos curtos que apresentam uma sequência narrativa capaz de causar humor. Nesse sentido, relita sobre o motivo da graça da piada. 02. E você? Conhece alguma piada bem engraçada? Conte à turma! 2. Frase, oração, período As pessoas interagem por meio de enunciados – palavras ou conjuntos de palavras – que constituem unidades menores e que têm sentido completo, ou seja, elas estabelecem comunicação por meio de frases. Portanto, uma frase é um enunciado, oral ou escrito, que possui sentido completo e que, portanto, consegue comunicar algo. Trata-se de uma unidade de sentido cujo objetivo é transmitir uma mensagem. Por exemplo, nunca se ouviu de um falante da língua portuguesa uma frase como esta: “Gerais im para no interior família semana passado de o minha viajei com Minas de.” Esse trecho não é considerado uma frase, pois não é uma unidade de texto que, em uma situação de comunicação, seja capaz de transmitir um sentido completo. Sujeitos simples, composto, desinencial e indeterminado Você já ficou em dúvida sobre a roupa que deveria usar? Quando se recebe um convite para um evento impor- tante, é frequente a dúvida sobre que roupa, sapato e acessórios devemos usar. Para que a decisão seja tomada, é necessário levar em consideração o objetivo do evento, o local, as condições climáticas, entre outros aspectos. Não seria adequado, por exemplo, ir de roupa de praia e chinelos a um evento formal, em que os demais convi- dados estarão de terno ou vestido longo. O mesmo ocorre no uso da língua. É preciso selecionar as palavras e combiná-las corretamente na elaboração de frases, a im de que haja sentido para o interlocutor. Neste módulo, começaremos os estudos sobre sintaxe, a parte da gramática que estuda a combinação e as relações entre as palavras que compõem os enunciados, sejam eles orais, sejam eles escritos. EXPECTATIVAS DE APRENDIZAGEM: – Iniciar os estudos sobre sintaxe; – conhecer os termos essenciais da oração; – identiicar diferentes tipos de sujeito. © N in aM al yn a/ iS to ck PORTUGUÊS E LINGUAGENS 181 8º AnoMódulo 2 Para se ter uma frase, é necessário organizar as palavras escolhidas de tal forma que o leitor tenha uma compreensão mínima do seu sentido. Por isso, considera-se como frase o seguinte enunciado: “No im de semana passado, viajei com minha família para o interior de Minas Gerais.” Em todas as frases, é possível perceber que o início é marcado pela letra maiúscula e o im é indicado por algum sinal de pontuação, que geralmente é o ponto inal (.), a exclamação (!), a interrogação (?) ou as reticências (...). O trecho “Prazer! Saiba que já ouvi falar muito do senhor!” constitui-se de quantas frases? Pelas deinições estabelecidas, teríamos duas. Mas é possível uma frase ser formada por apenas uma palavra, como “Prazer!”? De acordo com o conceito estudado, o enunciado teria de respeitar a dois critérios básicos para ser considerado uma frase: ser um conjunto de palavras e ter sentido completo. O trecho possui claramente uma organização semântica válida para a comunicação no contexto, mas podemos airmar que ele é um conjunto? A Matemática pode nos ajudar a resolver esse impasse. Os conjuntos numéricos compõem uma parte fundamental dessa disciplina. A teoria dos conjuntos admite como coleções de objetos, chamados elementos, os componentes do conjunto e os classiica de acordo com seu número de elementos. Tem-se, por exemplo, os conjuntos ininitos, os initos, os vazios e os unitários ou singulares. Estes possuem um único elemento. Dessa forma, “Prazer!” é, sim, um conjunto. Trata-se de um agrupamento no qual há apenas um componente. Podemos concluir que esse enunciado é uma frase. O mesmo se pode airmar para a placa colocada abaixo: “Silêncio” é uma frase, pois é um conjunto de palavras (unitário) que consegue, por ter sentido completo, comunicar o pedido de que se cale ou se abstenha da fala. Cada língua tem suas formas de organizar as frases. O primeiro passo para se ordenar uma frase, geralmente, é escolher se ela conterá ou não verbos. Essa escolha dependerá da intenção comunicativa do falante – ser mais breve, chamar a atenção para o tema ou para a ideia da frase, destacar um acontecimento ou uma ação, etc. As frases organizadas sem nenhum verbo são chamadas de frases nominais, como “Muito prazer!”. Já as organizadas com um verbo ou uma locução verbal são denominadas frases verbais ou de orações: “Saiba que já ouvi falar muito do senhor!” As frases podem ser mais extensas, além de serem formadas por mais de um verbo. Quando isso ocorre, dizemos que cada forma verbal constitui uma oração dentro da frase. Atenção: Na contagem das orações, as locuções verbais devem ser consideradas como se fossem um único verbo. Assim, no exemplo “Saiba que já ouvi falar muito do senhor!”, temos duas orações; a primeira é constituída pela forma verbal simples “saiba”, e a segunda, pela forma verbal composta (ou locução verbal) “ouvi falar”. Outro conceito importante de sintaxe é o de período. Período é a frase organizada em oração ou em orações, ou seja, um período pode ter várias orações ou uma só, isto é, terá tantas quantos forem os verbos. Quando o período só tem uma oração, chama-se período simples; por exemplo: “Em uma festa, a madame é apresentada a um eminente político.” É classiicado dessa forma porque é formado apenas por uma oração, representada pela locução verbal “é apresentada”. Essa única oração que integra o período simples é denominada oração absoluta. Por outro lado, quando o período tem duas ou mais orações, tem-se o período composto. Por exemplo: “É possível, minha senhora, mas ninguém tem provas!” O conceito de frase e a Matemática 182 8º Ano PORTUGUÊS E LINGUAGENS Módulo 2 O modo de construção das manchetes jornalísticas Atente para as seguintes manchetes e observe como ocorre sua construção: Nova suspeita de ebola Suspeita de ebola fecha UPA no Paraná © no pp ar it /i St oc k Ambas as manchetes noticiam fatos relacionados ao ebola, uma doença grave e frequentemente mortal, causada pelo vírus Ebola, representado na imagem, e transmitida por contato direto com o sangue ou outros luidos corporais (como saliva, urina e vômito) de pessoas infectadas, mortas ou vivas. Ela também pode ser transmitida por contato sexual não protegido com doentes até três meses depois de estes terem se recuperado da doença. Note que a primeira manchete é uma frase cons- truída sem verbos, ou seja, uma frase nominal. O uso desse tipo frasal em manchetes dá mais destaque ao tema ou ao assunto do relato jornalístico do que necessariamente a um fato que ocorreu. No exemplo analisado, a ênfase recai sobre a nova suspeita. Já a segunda manchete vale-se da forma verbal “fecha”. Trata-se de uma frase verbal ou oração. O verbo foi propositalmente lexionado no presente do indica- tivo para reforçar o imediatismo, característica recor- rente do gênero textual notícia. O uso desse tempo e modo verbais gera o efeito de aproximar o leitor do texto lido, dando-lhe a impressão de que os fatos relatados estão ocorrendo no momento da leitura do texto. Percebe-se, assim, que a opção por uma frase nominal ou uma frase verbal está relacionada à intenção de comunicação do sujeito e ao contexto de uso da língua. 3. Termos essenciais da oração: sujeito e predicado O sujeito é o termo essencial da oração a quem o verbo se refere e com ele estabelece relação de concordância em número (singular e plural) e pessoa (primeira, segunda e terceira pessoas gramaticais). Assim, a conjugação ou a lexão do verbo depende do sujeito da frase. O primeiro passo para localizar o sujeito de uma oração é encontrar o verbo. Depois, faz-se necessário encontrar a queou a quem ele está se referindo. Contrastando diferentes concepções de sujeito O conceito de sujeito na gramática tradicional é um dos tantos pontos que merecem uma maior atenção por parte de quem estuda a língua portuguesa. Geralmente, essas gramáticas airmam que uma oração é dividida em dois termos essenciais: sujeito e predicado. Anali- saremos, a seguir, algumas deinições de sujeito. Cunha e Cintra (1995), na sua Nova gramática do português contemporâneo, airmam que “o sujeito é o ser sobre o qual se faz uma declaração”. Considerando-se essa concepção, pode-se ter problemas para encontrar o sujeito da oração. Na frase “Pedro comprou o livro”, pode-se defender que “Pedro” é o sujeito, pois há uma declaração sobre ele nessa oração. No entanto, também há uma declaração sobre o “livro” (ele foi comprado por Pedro); embora a gramática não aceite que o “livro” seja sujeito da oração em análise, seria perfeitamente plausível – de acordo com exposto pela regra – dizer que o termo “livro” é o sujeito da oração. Outra concepção bastante divulgada é a de que o sujeito é o ser que pratica a ação expressa pelo verbo. Essa deinição pode ser contestada por dois motivos: • Muitos verbos não expressam ação. Na oração “Os alunos estavam inquietos durante a palestra de ontem”, o verbo “estar” indica um estado do ser, e não uma ação praticada por ele. Dessa forma, o sujeito “os alunos” não é um termo agente, mas alguém que é caracterizado por determinado estado. Sujeitos simples, composto, desinencial e indeterminado PORTUGUÊS E LINGUAGENS Módulo 2 183 8º Ano • Muitos sujeitos sofrem a ação expressa pelo verbo. Na oração “Meu bolo de aniversário foi feito por minha mãe”, o sujeito “meu bolo de aniversário” não é o elemento que pratica a ação expressa pela locução verbal “foi feito”. Se fôssemos identiicar o sujeito a partir da deinição que airma que esse termo realiza a ação verbal, o sujeito dessa oração só poderia ser a expressão “minha mãe”. Percebemos, assim, que o problema da má formu- lação do conceito de sujeito é recorrente em algumas gramáticas. Adotaremos uma concepção orientada por um critério sintático: o sujeito é o termo da oração com quem o verbo estabelece relação de concordância em número e em pessoa gramatical. 4. Tipos de sujeito Serão estudados primeiro os dois tipos de sujeitos reconhecidos pela identificação dos seus núcleos. Trata-se do sujeito simples e do sujeito composto. 4.1 Sujeito simples e sujeito composto O sujeito pode ser formado por várias palavras, mas o verbo se refere e faz concordância apenas com a(s) palavra(s) principal(is), isto é, aquela(s) que traz(em) a ideia central. Chama-se núcleo do sujeito o termo que representa a ideia principal do sujeito e ao qual o verbo se refere especiicamente. É importante notar que o núcleo é sempre um substantivo ou um pronome. Como foram construídas as orações do texto abaixo? EU FIZ O TRABALHO SOBRE O PLANETA MARTE E VOU APRESENTÁ-LO... EU, VOCÊ E O RESTANTE DO GRUPO FIZEMOS O TRABALHO, NÉ? Na frase usada pelo garoto, que inicia a apresentação do trabalho feito pelo seu grupo, a forma verbal “iz” refere-se ao sujeito “eu”, o qual é composto por apenas um núcleo, o pronome “eu”. A outra integrante do grupo, na tentativa de deixar clara a participação de todos na pesquisa apresentada, constrói sua fala valendo-se de uma oração formada por um sujeito constituído de três núcleos: “Eu, você e o restante do grupo izemos o trabalho, né?” Nesse enunciado, o verbo “fazer” está na terceira pessoa do plural para concordar com os três núcleos presentes no sujeito da oração: “eu”, “você” e “restante”. Em uma oração, a localização do sujeito e de seu respectivo núcleo contribui para determinar com mais precisão a concordância verbal. Observem-se, agora, mais alguns exemplos nos quais os verbos estão destacados: Frase I O jogador fez uma falta dura em seu adversário e recebeu um cartão amarelo. Frase II O juiz puniu o jogador com um cartão amarelo por sua falta dura. Frase III O jogador e o juiz discutiram por haver discordância em relação à aplicação do cartão. 184 8º Ano PORTUGUÊS E LINGUAGENS Módulo 2 Analisando a construção das frases I e II, percebe-se que os sujeitos dos verbos destacados possuem apenas um núcleo. Na primeira, o verbo “fez” refere-se ao núcleo do sujeito “jogador”. Já na segunda, o verbo “puniu” faz concordância especiicamente com o termo “juiz”. Quando o sujeito de uma oração tem apenas um núcleo, isto é, tem um só termo como a ideia central do sujeito, trata-se de um sujeito simples. Por outro lado, na frase III, o verbo “discutiram” foi lexionado na terceira pessoa do plural para concordar com os dois núcleos do sujeito da oração: “jogador” e “juiz”. Ou seja, na primeira oração da terceira frase, o sujeito tem dois núcleos, pois a declaração feita no predicado refere-se a duas pessoas. Trata-se, portanto de um sujeito composto. Em orações com sujeito composto, o verbo vai concordar com os vários núcleos que o sujeito possuir; vai, então, para o plural. Ressalte-se que o sujeito simples e o sujeito composto podem aparecer antes ou depois do verbo ou da locução verbal. Por isso, é preciso estar bastante atento para não perder de vista a concordância do verbo com o sujeito, principalmente em caso de sujeito posposto. No exemplo abaixo, o verbo deve icar na terceira pessoa do plural para concordar com o sujeito composto, que está posposto a ele, ou na terceira pessoa do singular para concordar apenas com o núcleo do sujeito mais próximo (concordância atrativa). Ex.: “Após o assalto, chegaram à delegacia o criminoso e a vítima.” ou “Após o assalto, chegou à delegacia o criminoso e a vítima.” 4.2 Sujeito desinencial Nem sempre o sujeito estará explícito em uma oração. Observe-se a tirinha abaixo, atentando-se para o sujeito: NÃO QUERO FAZER COM NINGUÉM... ... POIS NÃO FUI DEVIDAMENTE VALORIZADA PELO GRUPO NA APRESENTAÇÃO DO TRABALHO DE HOJE. GUTO, FAREMOS O PRÓXIMO TRABALHO NA CASA DA PATRÍCIA! Na primeira fala, o sujeito do verbo “fazer” não está presente na frase, embora seja possível determiná-lo ou identiicá-lo. Por meio da terminação verbal, sabe-se que o verbo se refere ao pronome pessoal reto “nós” e, pelo contexto, que esse pronome se refere aos integrantes do grupo. Nessa oração, o sujeito não está explícito, claro, ou escrito no enunciado, mas pode ser determinado a partir do texto e da forma verbal. Quando o sujeito não aparece na oração, mas é facilmente identiicado pela desinência do verbo (terminação do verbo) e pelo contexto, tem-se um sujeito desinencial. Nesse caso, a oração inteira é um predicado que faz referência a um sujeito oculto. Ainda na tira, há outro exemplo de sujeito desinen- cial. No segundo quadrinho, os verbos “querer” e “ser” referem-se ao pronome “eu”, identiicado pela terminação verbal. No contexto, sabe-se que esse pronome se refere à aluna Patrícia. Sujeitos simples, composto, desinencial e indeterminado PORTUGUÊS E LINGUAGENS Módulo 2 185 8º Ano Considerem-se, agora, os verbos destacados no texto a seguir: “O dia 8 de março de 2016 foi um tanto peculiar. Tido como ‘Dia internacional das Mulheres’, o que mais vi nas redes sociais foram postagens de meninas e mulheres dizendo que dispensam as lores ou os parabéns, trocan- do-os facilmente por respeito e oportunidades iguais. Parei para pensar sobre isso na volta para casa. É um sentimento contraditório ser mulher no Brasil. Por um lado, honestamente, acho que sou uma pessoa minimamente privilegiada. Isso porque vivo em um país no qual não existe a mutilação genital, como em vários países da África, ou que não me impede de estudar ou trabalhar, como em vários lugares do Oriente Médio, ou que não permite, legalmente, que maridos espanquem as esposas uma vez pormês, como no Arkansas, Estados Unidos (sim... Estados Unidos!). Por outro lado, ainda sofremos com mais de 63 mil casos registrados de violência contra a mulher anualmente.” Disponível em: <www.desaltonaareia.com>. Sabe-se que as formas verbais “parei”, “acho” e “vivo”, presentes no segundo parágrafo, referem-se ao mesmo sujeito, o pronome “eu”. No entanto, esse sujeito aparece de maneira implícita ou oculta, sendo possível identiicá-lo pelas terminações dos verbos. Também na frase a seguir, é possível observar um verbo que se refere ao seu sujeito de maneira implícita, a im de evitar a repetição: “Tido como ‘Dia internacional das Mulheres’, o que mais vi nas redes sociais foram postagens de meninas e mulheres dizendo que dispensam as lores ou os parabéns, trocando-os facilmente por respeito e oportunidades iguais.” Se o leitor não identiicar o sujeito a que os verbos se referem e com os quais concordam em número e pessoa, um texto não será bem compreendido, comprometendo a intenção do autor e a mensagem que pretende transmitir. Na elaboração de um texto, é importante utilizar alguns recursos linguísticos para deixá-lo mais claro e articulado. Os elementos que fazem a ligação ou a articu- lação entre as partes do texto são chamados de elementos de coesão textual. O sujeito subentendido é um desses elementos, pois ajuda a evitar repetições desnecessárias e, também, não deixa a frase perder de vista o tema a que está se referindo. A coesão é a relação entre as partes ou frases de um texto. 4.3 Sujeito indeterminado No módulo anterior, foi visto que o sujeito subenten- dido não está presente na oração, mas pode ser identii- cado ou determinado pelas informações que o texto traz e por meio do verbo. Entretanto, há momentos de uso da língua em que a intenção comunicativa é não determinar o sujeito que praticou a ação expressa pelo verbo, ou seja, o objetivo é não deixar claro para o leitor quem é precisamente o sujeito da oração. Nesse caso, tem-se um sujeito indeterminado. Tal sujeito não é nomeado na oração, ou porque não se quer identiicá-lo, ou por se desconhecer quem pratica a ação. Há um sujeito ao qual o verbo se refere, mas nem o contexto nem a forma verbal permitem que ele seja identiicado. Na frase abaixo, do Padre Antônio Vieira, escritor do movimento literário Barroco e conhecido pela atuação em defesa dos índios, é possível observar o uso do sujeito indeterminado: “Dizem que temos valor (os portugueses), mas que nos falta dinheiro e união; e todos nos prognosticam os fados que naturalmente se seguem destas infelizes premissas.” Cartas, Padre Antônio Vieira. Observando a frase, pode-se indicar com precisão a quem a personagem se refere quando usa a forma verbal “dizem”? Pela desinência verbal (-m), nota-se que o sujeito poderia ser representado pelos pronomes “eles”, “elas” ou “vocês” (pronomes de terceira pessoa do plural). No entanto, não mostra qual pronome representa exatamente o sujeito e, sobretudo, qual o referente desse pronome. Como não é possível determinar o sujeito a que esse verbo faz referência, diz-se que essa oração foi organizada com um sujeito indeterminado. A utilização desse tipo de sujeito é um elemento fundamental para a construção de sentido da charge. O sujeito indeterminado confere um tom generalizante à fala do trabalhador. Na língua portuguesa, a indeterminação do sujeito é feita de duas formas. Em uma delas, o verbo é lexionado na terceira pessoa do plural, sem que se reira a nenhum termo expresso anteriormente. Essa é a forma de indeterminação do sujeito usada na oração destacada na frase apresentada: “Dizem que temos valor (os portugueses), mas que nos falta dinheiro e união; e todos nos prognosticam os fados que naturalmente se seguem destas infelizes premissas.” 186 8º Ano PORTUGUÊS E LINGUAGENS Módulo 2 Nas frases abaixo, o sujeito indeterminado também é construído com o verbo na terceira pessoa do plural. Ex.: Roubaram minha carteira no centro da cidade. Não aguento mais! Novamente tocaram a campainha e saíram correndo. Quebraram a vidraça da igreja. Sujaram o tapete da sala. A outra forma de indeterminar o sujeito ocorre com o emprego do verbo na terceira pessoa do singular, acrescendo-lhe o pronome “se”, chamado de índice de indeterminação do sujeito. É o que se vê nos enunciados abaixo: Ex.: Passeia-se muito nesse lugar? Em Jacarepaguá, vive-se bem e com conforto. Trabalha-se bastante naquela empresa. Obs.: Nos diversos textos, o uso do sujeito indeterminado pode ser motivado por vários fatores. Ele pode estar relacionado ao desconhecimento de quem praticou a ação (“Roubaram minha carteira”); ao fato de o locutor não querer mencionar um responsável que é conhecido; à intenção deliberada de não se identiicar um sujeito (para proteger sua identidade ou para provocar surpresa no leitor); a um discurso que pretende fazer generalizações a respeito de um grupo social. A utilização desse tipo de sujeito provoca, portanto, diferentes efeitos de sentido, de acordo com as intenções comunicativas de quem produz o enunciado. 01 Identiique os tipos de sujeito dos verbos destacados abaixo: a. Vamos gastar toda a nossa energia nos jogos. b. Foram chamar o aluno que recebeu o prêmio. c. Não terminamos de veriicar o documento. d. Eu e você queremos ser como eles. 02 Leia as manchetes jornalísticas colocadas abaixo, copie-as no caderno e classiique os termos destacados de acordo com as indicações que se seguem: a. Moradores mortos em combate a incêndio são enterrados em clima de comoção. b. Adultos com atitudes de crianças. c. Aécio Neves e Dilma Roussef voltam a icar frente a frente a partir das 18 h por uma hora e vinte minutos. d. Jovens roubam carro para dar “voltinha”, fogem da polícia, batem e são presos. e. Roubam carro e fogem da polícia na Grande Florianópolis. I. Frase nominal II. Oração com sujeito simples III. Oração com sujeito composto IV. Oração com sujeito indeterminado V. Oração com sujeito subentendido Texto para as questões de 03 a 05: Tempos modernos Filme de 1936, do cineasta britânico Charles Chaplin, em que o seu famoso personagem tenta sobreviver em meio ao mundo moderno e industrializado. Nesse ilme, Chaplin quis passar uma mensagem social. Cada cena é trabalhada para que a mensagem chegue verda- deiramente tal qual seja. E nada parece escapar: máquina tomando o lugar dos homens, as facilidades que levam à criminalidade, à escravidão. O amor também surge, mas surge quase paternal: o de um vagabundo por uma menina de rua. Tempos modernos é, ao mesmo tempo, comédia, drama e romance. Disponível em: <www.adorocinema.com.br>. Acesso em: 13 out. 2014. 03 Retire do texto uma frase nominal, uma frase verbal e uma oração com sujeito simples. Depois, indique o número de orações do primeiro parágrafo e o número de frases do segundo parágrafo. 04 Faça a análise das orações abaixo, destacando o verbo, o sujeito, o núcleo do sujeito, o tipo de sujeito e o predicado. a. “Nesse filme, Chaplin quis passar uma mensagem social.” b. “Tempos modernos é, ao mesmo tempo, comédia, drama e romance.” c. “O amor também surge, mas surge quase paternal.” Sujeitos simples, composto, desinencial e indeterminado PORTUGUÊS E LINGUAGENS Módulo 2 187 8º Ano 05 Releia os seguintes fragmentos retirados do texto anterior: Fragmento I: “Cada cena é trabalhada para que a mensagem chegue verdadeiramente tal qual seja.” Fragmento II: “Nesse ilme, Chaplin quis passar uma mensagem social.” A partir do emprego da língua em situações reais de uso, pode-se airmar que os dois trechos acima evidenciam tipos diferentes de período. Com base em seus conhe- cimentos sobre o assunto, diferencie-os, explicando o processo de formação de cada um deles. 01 Machado de Assis, um dos maiores nomes da litera- tura brasileira, teve seu discurso lido no PasseioPúblico, ao inaugurar-se o busto de Gonçalves Dias (in: ASSIS, Machado de. Relíquias de casa velha. São Paulo: Globo, 1997. p. 117-118). Segue um trecho: Dizem que os cariocas somos pouco dados aos jardins públicos. Talvez este busto emende o costume; mas supondo que não, nem por isso perderão os que só vierem contemplar aquela fonte que meditou páginas tão magníicas. Uma das deinições de sujeito indica que ele é o termo com o qual o verbo concorda em número e pessoa. Indique por que essa regra foi transgredida no trecho acima. 02 Observe o seguinte fragmento, retirado de outra obra do autor Machado de Assis, Memorial de Aires, e depois responda ao que se pede. D. Carmo entrou. Aguiar e eu apertamos a mão um do outro. Indo a sair, lembrou-me falar do cão ali sepultado. Caso, no período em destaque, o sujeito fosse substituído pelo pronome “nós” haveria diferença na classiicação? Justiique sua resposta. 03 Leia os períodos seguintes, extraídos da obra Senhora, de José de Alencar: — Os compromissos rompem-se dum momento para outro. — É exato; às vezes ocorrem circunstâncias que desatam as mais solenes obrigações. Explique por que o verbo “ocorrer” foi empregado no plural, levando em conta a classiicação do sujeito. 04 Nel mezzo del camin... Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada E triste, e triste e fatigado eu vinha. Tinhas a alma de sonhos povoada, E a alma de sonhos povoada eu tinha... Olavo Bilac No fragmento do poema de Olavo Bilac, o autor faz uma comparação entre os comportamentos e os sentimentos do eu lírico e da mulher amada, alternando-os. Identiique o tipo de sujeito predominante no trecho e explique de que maneira ele contribui para a coesão textual. 05 Leia a manchete do jornal O tempo, de 26 de julho de 2017, e depois responda ao que se pede. Em Uberlândia Criminosos assaltam três fazendas e fazem cinco pessoas reféns por seis horas Disponível em: <http://www.otempo.com.br/cidades/criminosos-assaltam-tr%C3%AAs- fazendas-e-fazem-5-pessoas-ref%C3%A9ns-por-6-horas-1.1501614>. Compare o emprego dos verbos “assaltar” e “fazer”, no que diz respeito à classiicação do sujeito, e indique se devem receber a mesma classiicação. 188 8º Ano PORTUGUÊS E LINGUAGENS Módulo 2 01 Leia atentamente o texto a seguir: Sujeito composto, segundo a deinição de Alfredo Gomes, é o que representa mais de um ser. Ex.: Senhora em estado interessante. FRADIQUE, Mendes. Grammatica portugueza pelo methodo confuso. 4. ed. fac-similada. Rio de Janeiro: Rocco, 1985. p. 79. A intenção humorística de Mendes Fradique foi satis- feita, uma vez que popularmente dizendo “senhora em estado interessante” é o mesmo que “senhora grávida”. Entretanto, o mesmo efeito não ocorre em outras cons- truções. Tomando como exemplo para análise a frase a seguir, explique por que o conceito de sujeito composto apresentado por Alfredo Gomes é falho. “Duas pessoas acudiram a senhora em estado interessante.” _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 02 Considere a deinição abaixo sobre sujeito, retirada de uma gramática da língua portuguesa: O sujeito é o ser sobre o qual se faz uma declaração. CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. p. 119. Explique por que esse conceito não se aplica a cada um dos enunciados apresentados a seguir: Enunciado I: Eu vos declaro marido e mulher. Enunciado II: Dessa água, nós não bebemos de jeito nenhum. Sujeitos simples, composto, desinencial e indeterminado PORTUGUÊS E LINGUAGENS Módulo 2 189 8º Ano 1. Construindo o conceito: carta ao leitor As pessoas foram às ruas não para tentar demonstrar que sua religião é superior às demais. Elas foram às ruas para reairmar que não aceitam mais o anacronismo de matar o semelhante a pretexto de vingar ofensas a seus profetas ou símbolos sagrados. Foram às ruas não para protestar contra o multiculturalismo nem para exigir a inaceitável repatriação dos imigrantes, mas para deixar claro que a consequência da convivência civilizada em um mesmo território entre povos de cultura e fé diferentes não pode ser a censura, mas o oposto dela, a liberdade de expressão e a tolerância. (...)” © Sh ot Sh ar e/ iS to ck A seguir há um trecho do texto “Jihadismo, o novo fascismo”, publicado na seção “Carta ao leitor”, de Eurípedes Alcântara / Abril Comunicações S.A., revista Veja. “Neste ano, o mundo comemora sete décadas da vitória das forças aliadas contra a forma mais desumana e monstruosa de fascismo que a humanidade já conheceu: o nazismo. Não poderia ter havido uma homenagem não planejada mais signiicativa do que a marcha de quarenta chefes de Estado e de governo ou seus representantes em Paris, no domingo passado, que, de braços dados, foram saudados pela multidão que extravasava seu júbilo pela poderosa reação contra o ataque terrorista ao jornal satírico francês Charlie Hebdo, em que 12 pessoas foram assassinadas a tiros por radicais islâmicos. Desde a libertação de Paris do jugo nazista pelas tropas americanas, há 71 anos, a capital francesa, que é também a capital mundial das manifestações, não via tanta gente na rua unida contra o fascismo. Quase 4 milhões de franceses foram às ruas contra o jihadismo, o fascismo do século XXI, o “islamofascismo”, neologismo que descreve com precisão o fenômeno de intolerância e de imposição pelo terror do totalitarismo em nome da religião criada por Maomé no século VII da era cristã. (...) Verbosimpessoais: oração sem sujeito Você já ouviu falar em “trovejar insultos sobre alguém”? O verbo “trovejar” normalmente é empregado com o significado relacionado ao fenômeno da natureza, referente a produzir ruído semelhante ao do trovão. Nesse caso, é considerado impessoal e é parte integrante de uma oração sem sujeito. No entanto, ele pode ser empregado em um sentido igurado, sendo equivalente a “falar com veemência contra alguém ou algo”. Nessa situação, refere-se a um sujeito presente na frase, como no exemplo “A torcida trovejou insultos sobre o juiz”, no qual é possível identiicar “a torcida” como agente da ação de trovejar, e não o fato de emitir o som de um trovão. EXPECTATIVAS DE APRENDIZAGEM: – Continuar o estudo de sujeitos; – identiicar os principais casos de oração sem sujeito; – relembrar os principais verbos impessoais. © ad am ka z/ iS to ck PORTUGUÊS E LINGUAGENSMódulo 3 190 8º Ano 01. Você já sabe que leitores de grandes veículos de comunicação têm a oportunidade de escrever para tais meios a im de expressar suas opiniões na seção chamada “Carta do leitor”. Há, ainda, a seção “Carta ao leitor” na maioria dos jornais e revistas de grande circulação, texto que representa uma oportunidade de o veículo se comunicar com seus leitores. O texto lido é uma carta do leitor ou uma carta ao leitor? 02. Releia as seguintes frases: “Neste ano, o mundo comemora sete décadas da vitória das forças aliadas contra a forma mais desumana e mons- truosa de fascismo que a humanidade já conheceu (...)” “Não poderia ter havido uma homenagem não planejada mais signiicativa do que a marcha de quarenta chefes de Estado e de governo ou seus representantes em Paris (...)” Foi visto anteriormente que sujeito é o termo da oração sobre quem a informação é dada. Nesse sentido, é possível indicar o sujeito de cada uma das frases? Além dos sujeitos simples, composto, desinencial e indeterminado, a gramática normativa da língua portu- guesa ainda prevê outros tipos de sujeito. 2. Oração sem sujeito Anteriormente, foram estudados dois elementos essenciais na formação de uma oração: o sujeito (termo da oração a que o verbo se refere em número e em pessoa gramatical) e o predicado (termo da oração que inclui o verbo e que contém a informação ou a declaração sobre o sujeito). Contudo, a gramática normativa ainda prescreve uma oração estruturada de uma forma diferente. A oração não tem sujeito quando a declaração expressa pelo predicado não é atribuída a nenhum ser. Isto é, diz-se que uma oração é sem sujeito quando o predicado não pode ser atribuído a qualquer outro termo dessa oração. A seguir, há outros casos considerados pela gramática como oração sem sujeito. 2.1 Casos de oração sem sujeito 2.1.1 Verbo “haver” empregado com sentido de “existir” Ex.: Há alguém aí? Havia pessoas descontentes na ila do banco. Houve fatos importantes que não foram tratados na reunião. Haverá dias em que você se sentirá muito frustrado. Ainda há pessoas honestas neste país. É possível perceber que, nas frases acima, o verbo “haver” está no singular e se considera que a oração não tem sujeito. Ter ou haver? Na língua portuguesa – seja no registro culto ou na linguagem espontânea, descontraída, do nosso dia a dia –, é comum a troca do verbo “existir” por “haver” ou “ter”. Segundo a norma-padrão, observam-se, com o verbo “existir”, as regras habituais de concordância com o sujeito a que ele se refere. Ex.: Ainda existem pessoas honestas neste país. Contudo, quando se trata do verbo “haver” utilizado com esse signiicado, a gramática o considera impessoal. Por isso, ele se mantém no singular e o seu aparente sujeito é, na realidade, classiicado como objeto direto. Ex.: Ainda há pessoas honestas neste país. O verbo “ter”, nesse contexto semântico, é de uso ainda considerado restrito ao âmbito coloquial da língua e, com relação à flexão, seu emprego acompanha o do verbo “haver”, ou seja, ele deve icar no singular. Ex.: Ainda tem pessoas honestas neste país. Registre-se, inalmente, que o uso de “ter” com esse sentido, embora ainda não aceito pela norma- -padrão, vem frequentando cada vez mais os redutos cultos da língua. Verbos impessoais: oração sem sujeito PORTUGUÊS E LINGUAGENS Módulo 3 191 8º Ano Existe funcionário que não respeita os horários e as regras estabelecidas pela empresa. Limites existirão para que possamos conviver em harmonia. No entanto, a forma mais adequada, conforme a variante padrão da língua, é usar “haver” na terceira pessoa do singular, pois esse verbo não tem sujeito, não concorda com nada. Veja: Ex.: Nesta cidade, há bons professores. Há funcionário que não respeita os horários e as regras estabelecidas pela empresa. Limites há para que possamos conviver em harmonia. © X av ie r A rn au /i St oc k 2.1.2 Verbos que indicam fenômeno da natureza Ex.: Choveu, nos últimos dias, o esperado para o mês inteiro. Ventou forte ontem em algumas cidades. Neva em algumas cidades catarinenses. Trovejou bastante na noite passada. Os verbos destacados integram orações sem sujeito, pois expressam ações relativas a fenômenos da natureza e que acontecem à revelia de qualquer sujeito especíico. 2.1.3 Verbos “ser” e “estar” indicando tempo ou fenômeno meteorológico Ex.: Agora é tarde demais para você desistir do nosso projeto. Era verão quando a conheci. São nove horas da manhã agora, e o calor já está insuportável. Está um calor infernal nos últimos dias de outubro. Estava frio no dia do fatídico acontecimento. É importante ressaltar que o verbo “ser” na indicação de horas, datas e distâncias é impessoal e concordará com a expressão designativa de hora, data ou distância, constituindo também um caso de oração sem sujeito. Observem-se os exemplos abaixo: Ex.: Seriam nove horas da noite quando ocorreu a perse- guição policial. São três da tarde agora. Hoje são vinte e cinco do mês, não são? Da minha casa à escola, são quatro quilômetros de distância. Da estação de trem à nossa fazenda no interior de São Paulo são sete léguas. Em todos os exemplos acima, o verbo “ser” está lexionado na terceira pessoa do plural para concordar com as expressões de tempo e de distância presentes nas frases. Caso ocorra uma expressão no singular, o verbo estará também conjugado nesse número. Observe-se: Ex.: Hoje é primeiro de setembro. Agora é exatamente uma hora da madrugada. Atenção: As gramáticas atuais prescrevem que a concordância feita com o verbo “ser” indicando datas possibilita o uso do singular ou plural. Quando aparecer a palavra “dia” antes da expressão numérica, o verbo concorda com essa palavra. No entanto, se ela estiver implícita no contexto, a concordância ocorrerá, nesse caso, com o referente numérico. Assim: Hoje é dia 31 de outubro. Hoje são 31 de outubro. Amanhã será dia 1o de setembro, dia do meu aniversário. Ontem foi dia 9 de agosto. 2.1.4 Verbos “fazer”, “haver” e “ir” indicando tempo decorrido Ex.: Há seis horas que o dia raiou, e você ainda não se levantou da cama. Há dias espero a entrega da minha correspondência. 192 8º Ano PORTUGUÊS E LINGUAGENS Módulo 3 Faz onze anos que o acidente aconteceu. Faz três horas que estou te esperando. Vai para dois anos que não coloco os pés na minha terra natal. Foi para meses que não o vejo. 2.1.5 Verbos “bastar” e “chegar” nas expressões “basta de” e “chega de” Ex.: Basta de promessas vazias. Basta de tolices nessa sala. Chega de ouvir esse papo furado. Chega de tempos ruins na minha vida. 3. Verbos impessoais Nos casos de oração sem sujeito, o verbo ica neutro, impessoal, pois ele não tem um sujeito a quem se referir e com quem concordar em número e em pessoa. Assim, nas situações de oração sem sujeito, o verbo é denomi- nado impessoal e empregado sempre na terceira pessoa do singular. Observe-se overbo “haver” no enunciado do cartaz: NÃO HÁ VAGAS Nesse caso, o verbo “haver” não estabelece concordância com nenhum termo desse período. Tal fato se explica pela regra de concordância dos verbos impessoais. Por não apre- sentarem sujeito, icam sempre na terceira pessoa do singular. Relembrando os principais verbos impessoais: • Verbo “haver” empregado com sentido de “existir”; • verbos que indicam fenômenos da natureza; • verbos “ser” e “estar” indicando tempo ou fenômeno meteorológico; • verbos “fazer”, “haver” e “ir” indicando tempo decorrido; • verbos “bastar” e “chegar” nas expressões “basta de” e “chega de”. No caso do verbo “ser” indicando tempo (horas e datas) e distâncias, a forma verbal pode ser empregada no plural. Ex.: É um quilômetro até o posto de gasolina mais próximo. São duzentos quilômetros até nossa casa de campo. É uma hora da tarde agora. São duas horas da tarde agora. Amanhã será 1o de abril, dia da mentira. Hoje são 25 de dezembro, dia de Natal. Portanto, pode-se concluir que, nas orações sem sujeito, os verbos geralmente estão conjugados na terceira pessoa do singular, com exceção do verbo “ser” nas indicações de distância, hora e data. E o caso do verbo “amanhecer”? Leia as frases a seguir e atente para a construção dos períodos formados com o verbo “amanhecer”: O dia amanheceu nublado. A cidade amanheceu coberta por gelo. O torcedor amanheceu feliz com a conquista do título. Será que, nas construções acima, a forma verbal “amanheceu” integra uma oração sem sujeito? Nos três exemplos, as frases foram construídas com os dois elementos essenciais de uma oração: o sujeito e o predicado. Na primeira delas, por exemplo, o verbo “amanhecer” refere-se ao sujeito “dia”. O mesmo ocorre na oração seguinte (“A cidade amanheceu coberta por gelo.”), na qual o verbo em questão concorda em número e em pessoa com o núcleo do sujeito, que é o substantivo “cidade”. Note que, se o termo “torcedor”, presente na terceira frase, for substituído por outra palavra ou expressão corres- pondente – “torcedores brasileiros”, por exemplo –, o verbo também deverá ser alterado para haver concordância. Veja: “Os torcedores amanheceram felizes com a conquista do título.” Por outro lado, essa lexão não será necessária quando a forma verbal for impessoal. Nas frases a seguir, o verbo “amanhecer” permanece conjugado na terceira pessoa do singular. Ex.: Ontem amanheceu chovendo. Na semana passada, amanheceu chovendo. Nos dias passados, amanheceu chovendo. Verbos impessoais: oração sem sujeito PORTUGUÊS E LINGUAGENS Módulo 3 193 8º Ano 01 Assinale abaixo apenas as orações sem sujeito. Em seguida, determine o sujeito das outras orações. (A) Havia dois ônibus velhos no estacionamento. (B) Existiam dois ônibus velhos no estacionamento. (C) O dia está muito quente. (D) Amanheceu mais quente hoje. (E) São Paulo amanheceu mais quente hoje. 02 Todas as orações abaixo foram construídas sem sujeito. Identiique o verbo impessoal presente em cada uma delas e mostre a qual caso de oração sem sujeito elas se relacionam: a. Geou em Campos do Jordão esta noite. b. É cedo ainda, Maíra! c. Já são quatro horas? d. Ah! Já faz muitos anos... e. Há grandes poetas neste país. f. Hoje são treze de novembro. g. Havia muitos alunos naquela aula. h. Há anos que espero por essa viagem. 03 Neste módulo, estudamos as regras para o uso dos verbos impessoais. Reescreva, no caderno, as frases a seguir e faça a concordância verbal correta, usando uma das duas formas entre parênteses: a. (Faz/Fazem) trinta minutos que estamos à sua espera. b. (Havia/Haviam) poucas vagas no estacionamento. c. Conhecido o resultado da eleição, (choveu/choveram) vaias. d. (Deverá haver/Deverão haver) seis anos que ocorreu o acidente. e. Ontem nas cidades paulistas (choveu/choveram) demais. f. Hoje (é/são) dia 31 de outubro, o Dia das Bruxas. 04 Assinale a alternativa em que há oração sem sujeito: (A) Existe um povo que a bandeira empresta. (B) Embora com atraso, eles chegaram. (C) Existem lores que devoram insetos. (D) Alguns de nós ainda tinham esperança de encontrá-lo. (E) Há de haver recurso desta sentença. 05 Leia as seguintes orações: I. Pede-se silêncio. II. Ontem anoiteceu aos poucos. III. Fazia um calor tremendo naquela tarde. O sujeito de cada uma delas se classiica, respectivamente, como: (A) indeterminado, inexistente e simples. (B) oculto, simples e inexistente. (C) simples, inexistente e inexistente. (D) oculto, inexistente e simples. (E) simples, simples e inexistente. 01 Leia os seguintes versos de Mário de Andrade: Assim como há resquício de barro Nas estradas asfaltadas E ruínas pelo impacto das guerras e catástrofes Há em cada poema uma lágrima; (...) Classiique o verbo “haver”, destacado no poema, e explique por qual motivo ele foi lexionado na terceira pessoa do singular. 02 A ordem é se assumir As expressões ou palavras que entram na moda erudita das cidades são muito signiicativas. Mas se massiicam tanto pelo uso abusivo, que se acaba icando com o ouvido raivoso de tanto as escutar. Observo nas minhas próprias crônicas a insistência com algumas palavrinhas da moda que se tornaram chatas. Uma que uso muito é “mobilizar”. Outra é “empatia”. Uma terceira, “feedback”. Tenho um amigo que, depois de descobrir o que quer dizer “feedback”, a utiliza até para comprar um cachorro-quente naquelas carroci- nhas da praia. Já está chamando o troco de “feedback”... O mais engraçado dessas palavras é que todo mundo sabe mais ou menos o que signiicam, mas ninguém lhes conhece o sentido exato. Por isso ganham tanta notorie- dade. A partir do momento em que uma palavra pode signiicar várias coisas, estamos salvos. É só usá-la e dar a explicação que se quiser. Outra em grande evidência é “gratiicar”. Vinda da psica- nálise e atingindo as normas cultas do falar urbano-zona- -sul-carioca, portanto ganhando jornais, artistas e televisão e, por aí, o grande público, “gratiicar” serve para tudo. 194 8º Ano PORTUGUÊS E LINGUAGENS Módulo 3 “Fiquei muito gratiicada com o que você disse”, diz a menininha, saborosa de doer, frente a qualquer coisa. “Ah – diz o intelectual – isso é altamente gratiicante.” E tome gratiicação a torto e a direito. E a gente escutando. Gratiicação pra cá, gratiicação prá lá, mas gratiicação no duro, aquele tutu que sempre achamos merecer, essa que é a boa, nunca vem. “Eu fui, sabe, até a praia. Lá naquela duna, sabe, eu vi aquele cara, sabe, aí, sabe, ele estava escutando o rádio de pilha, sabe, naquela música, sabe, na qual, sabe, eu me amarro, sabe.” Este “sabe” é dito mole e escorregadamente como muleta respiratória ou pausa, sabe, para encontrar a palavra adequada que não vem nunca... Também em grande destaque, neste outono, o “assumir”. Está todo mundo “se assumindo” ou “assumindo” algo. É um tal de “se assumir” que parece que antes a pessoa não existia, ou era um “cargo” vago até que resolveu “assumi-lo”, assumindo-se. O que há de pessoas vagas por aí tentando assumir-se, assume assombrosas proporções. O pior é quando malandro assume o que sempre temeu e aí requebra de vez... “Assume-se” tudo: a carreira, a culpa, a confusão, a neurose. Já vi mães jovens que um belo dia descobrem a pólvora: — “Sabe, resolvi assumir os meus ilhos.” Espantado, pergunto: — “Por quê? Você se separou e agora tem a seu cargo a manutenção dos meninos?” — “Não – responde a princesa – separei nada. É que descobri que ainda não tinha assumido a maternidade e resolvi assumir os meus ilhos. Sabe, criança é um barato.” De tanto ouvir essas coisas (e até escrevê-las em meu sugante trabalho de colunista diário), sinto vontade de compor o samba-modelo da Zona Sul: “Gratiiquei meu feedback assumindo minha empatia. Mobilizei minha neurose para não entrar em entropia. Inserido no contexto, sabe, devolvi a gratiicaçãomas vi ser problema estrutural e angustiado repudiei a frustração.” Não haverá um compositor bondoso e baiano (também é moda) para botar música de samba ou rock nesta letra-modelo da atual temporada? O estribilho seria assim: “Gratiicação, gratiicação, com você eu derroto a inlação.” (bis) Artur da Távola Marque a alternativa cujo período apresenta oração sem sujeito: (A) Come-se bem naquelas carrocinhas de praia. (B) Há palavras que se massiicam pelo uso diário. (C) Fiquei muito gratiicada com o que você disse. (D) As expressões e palavras estrangeiras estão na moda. (E) Todo mundo sabe mais ou menos o signiicado dessas palavras. 03 Observe o trecho abaixo: A sala icou vazia. Todos os homens se dirigiram para o curral. As mulheres foram depois. Os vaqueiros decidiram, como já era um pouco tarde, que os animais fossem montados de dois em dois. Transcreva do texto: a. uma oração sem sujeito. b. uma oração na voz passiva. Tempo perdido Havia um tempo de cadeiras na calçada. Era um tempo em que havia mais estrelas. Tempo em que as crianças brincavam sob a claraboia da lua. E o cachorro da casa era um grande personagem. E também o relógio de parede! Ele não media o tempo simplesmente: ele meditava o tempo. QUINTANA, Mário. 80 anos de poesia. Rio de Janeiro: Globo, 1986. 04 No texto, o eu lírico afirma que, assim como o cachorro, o relógio de parede também era um personagem da casa. Explique essa comparação, levando em conside- ração a classiicação do sujeito nas duas últimas orações. 05 Segundo a gramática, o sujeito é um termo essencial da oração. Retire do texto “Tempo perdido” uma frase que contradiz essa airmação e justiique sua resposta. Verbos impessoais: oração sem sujeito PORTUGUÊS E LINGUAGENS Módulo 3 195 8º Ano 01 Escreva um parágrafo justiicando por qual motivo há um “erro de português” na frase a seguir. Para isso, recorra às regras gramaticais estudadas e mostre a classiicação e o tipo de sujeito da forma verbal destacada. Deixei meu emprego porque houveram algumas diiculdades na empresa em que eu trabalhava. 02 Ao analisar o trecho a seguir, percebe-se que ele é formado pelo mesmo verbo. No entanto, é possível airmar que ambas constituem casos de orações sem sujeito? Chove há quatro dias no interior do país. Chove carinho naquela casa. _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 196 8º Ano PORTUGUÊS E LINGUAGENS Módulo 3 Casos gerais de concordância Você já pensou por que ocorrem tantas variações na linguagem? O estudo da concordância verbal ou nominal leva em consideração a relação estabelecida entre as palavras, especialmente nas orações. A concordância nominal estuda a relação do núcleo nominal (substantivo) com seus determinantes. Já a concordância verbal leva em consideração a relação que ocorre entre o sujeito e o verbo. Não respeitar as regras gramaticais no uso da língua distancia as pessoas do prestígio social cobrado nos grandes centros urbanos. Neste módulo, analisaremos não só as regras prescritas pela gramática normativa, mas também o porquê da ocor- rência de tantas variantes no uso cotidiano da linguagem. EXPECTATIVAS DE APRENDIZAGEM: – Empregar as regras básicas de concordância nominal e verbal em situações comunicativas e na produção de textos; – identiicar casos gerais de concordância, a im de não cometer desvios. 1. Grandes nomes da Literatura – Euclides da Cunha os verdadeiros e os únicos materiais para a prodigiosa construção da civilização da pátria – nós, os operários do futuro, e que devemos em breve – atirar na ação toda a fortaleza de nossa vitalidade – todos os brilhos de nosso espírito – todas as energias de nosso caráter, não devemos olvidar os heróis de ontem, de cujas almas partiu o movimento inicial desta deslumbrante ascensão, dessa soberana elevação moral... Olvidá-los, mais do que uma ingratidão, seria um erro, seria desconhecer que os grandes ideais dessas frontes olímpicas disseminam-se por todos os corações, difun- dem-se em todos os cérebros, e levados pela tradição, presos nos elos inquebráveis da solidariedade humana, revivem, continuamente crescentes – no seio das sociedades. A luz – a grande luz imaculada e sublime que circunda a data mais gloriosa de nossa história e traça – irradiando para o futuro – o itinerário da nossa nacionalidade não deluiuda mentalidade dos brilhantes patriotas do presente; veio de longe, cintilou no seio de muitas gerações e as frontes dos pensadores de hoje foram apenas as lentes ideais que a refrataram – aumentada – sobre a sociedade. E isso – somente isso – explica o ter sido tão calma, uma transformação tão radical e que tão profundamente alterou o nosso organismo social; em geral – a história o diz – esses Euclides da Cunha (1866-1909) foi um escritor, jornalista, professor e poeta brasileiro, autor da obra Os sertões. Foi enviado como correspondente ao sertão da Bahia, pelo jornal O Estado de S. Paulo, para cobrir a guerra no município de Canudos. Seu livro Os sertões narra e analisa os acontecimentos da guerra. O artigo a seguir, que faz parte da coletânea O pensa- mento político brasileiro, relete um pouco de seus juízos por meio da vigorosa crítica resultante de minuciosas e integradas observações. 1.1 Construindo o conceito Heróis de ontem Afastemo-nos um instante da harmonia festiva que circunda os vencedores do presente e concentremo-nos, recordando os nomes dos combatentes do passado. Nunca se nos impôs tanto esta necessidade; na transição que sofre a nossa pátria, rapidamente nivelada a toda a deslumbrante grandeza do século atual, pela realização de sua reforma liberal; nesse instante supremo de nossa história, em que se inicia a uniicação de todos os direitos, a harmonia de todas as esperanças e a convergência de todas as atividades; hoje, que os nossos ideais são, de fato, PORTUGUÊS E LINGUAGENS 197 8º AnoMódulo 4 grandes males cedem somente aos cáusticos tremendos da revolução, desaparecem somente quando afogados pela brutalidade – algumas vezes benéica – das paixões indo- máveis do povo e mui recentemente ainda, na América do Norte, para poder aniquilá-los, o brilho do pensamento de Lincoln aliou-se à cintilação da espada de Ulisses Grant... Entre nós porém – não deu-se uma revolução – operou-se uma evolução. Não houve um abalo – porque respeitou-se uma lei. Particularizam-se alguns termos na fórmula geral do progresso, por isto esta reconstrução não necessitou de uma destruição anterior e por sobre toda esta enorme transformação paira, deslumbrante, retilínea e irme a lógica inabalável da história. E de tudo isto nos são credores os grandes ilhos da pátria – animados hoje da existência imortal da história, e por isso é bem natural que remontando-nos ao passado, procuremos nas inscrições dos seus túmulos imaculados – a senha do futuro! Recordemo-nos, pois, das almas soberanas aonde se germinou essa generosa ideia da liberdade, que após elevar todas as frontes, imergiu em nossa civilização – tendo como último ponto de apoio a sua força desmesurada – um coração de princesa!... José Bonifácio, Eusébio de Queirós, Paranhos – sinte- tizam admiravelmente todos os pensadores que melhor emprestaram-lhe energia e brilho; Ferreira de Meneses, Tavares Bastos e Luís Gama – deinem perfeitamente os grandes corações, bastante grandes para conterem as dores cruciantes de muitas gerações e pátrias; Gonçalves Dias, Castro Alves e Varela – foram os brilhantes educadores de nossos corações que se engrandeceram dilatados pelo calor ideal emanado dos brilhos de suas estrofes imortais... Ante esses nomes a ideia que fazemos da consciência nacional, justiica um silêncio – profundamente eloquente. No dia de hoje eles deviam ser lembrados, não tanto por um impulso de gratidão, mas pelo grande ensina- mento que disto nos advém – por isto é que os recordamos – afastando-nos – por um instante – da alegria ruidosa e festiva que no dia de hoje aclama – a regeneração da pátria. CUNHA, Euclides da. Artigo publicado pela primeira vez na Revista da Família Acadêmica, Rio de Janeiro, ano I, n. 1, p. 227-229, 13 mar. 1888. 01. Euclides da Cunha solicita, em seu artigo, que sejam exaltados os heróis do passado, parte importante na história de nossa pátria, e aponta algumas razões para isso. Cite dois exemplos delas. 02. No trecho “Não houve um abalo – porque respei- tou-se uma lei”, caso substituíssemos a expressão “um abalo” apenas pelo termo “abalos”, o verbo “haver” deveria permanecer no singular? Provavelmente algumas pessoas poderiam achar que a forma adequada de concordância seria “Não houveram abalos”, mas esse é apenas um dos desvios comuns na língua portuguesa. Entretanto, ao contrário do que muitos pensam, ele não é cometido apenas por pessoas com menos instrução. Qualquer um acostumado com marcas da fala acaba cometendo esses erros. 2. Casos gerais de concordância Concordância é a relação que se estabelece entre os termos das orações. Na concordância nominal, é estabelecida a concordância em gênero e número do substantivo com os seus determinantes (adjetivo, artigo, numeral e pronome). Na concordância verbal, determina-se a concordância em número e pessoa entre o verbo e o sujeito da oração. No entanto, o estudo de concordância não se restringe às regras gerais. Há casos especiais que devem ser estudados e analisados, principalmente no uso da língua. 3. Concordância nominal É PROIBIDO ENTRADA COM ALIMENTOS. Na oração apresentada na placa de entrada do teatro, o uso da expressão “É proibido” não sofre lexão de gênero. Isso ocorre porque não há um elemento que determine o substantivo “entrada”, que se refere a essa expressão. Se o substantivo “entrada” fosse antecedido pelo artigo “a”, haveria lexão de gênero da expressão – “É proibida a entrada com alimentos”. 198 8º Ano PORTUGUÊS E LINGUAGENS Módulo 4 3.1 Casos especiais de concordância nominal Ex.: É permitido fotograias no Museu de Arte Contemporânea Inhotim. adjetivo (masculino, singular) substantivo (feminino, plural) II. Concordam com o substantivo a que se referem quando este vier precedido de um elemento deter- minante. O adjetivo ou particípio deve variar em gênero e número com o determinante que antecede o substantivo. Ex.: São permitidas as fotograias no Museu de Arte Contemporânea Inhotim. adjetivo (feminino, plural) artigo e substantivo (feminino, plural) 3.1.2 Meio A palavra meio pode apresentar-se de duas formas: atuando como advérbio ou como numeral adjetivo. I. Quando utilizada como advérbio, refere-se a um adjetivo e, portanto, é invariável. Nesse caso, esse termo funciona como advérbio de modo. Quando a aluna conversa com o colega sobre sua preocupação, ela espera que ele possa ajudá -la a entender por que as mulheres não se tornaram independentes no passado, mesmo sendo muito inteligentes. No entanto, o aluno entende que a preocupação da colega é apenas com a perda de pontos na apresentação do seminário e a instrui sobre uma maneira de desviar a atenção da professora durante a apresentação do trabalho. O humor da tira constrói-se pela escolha do assunto sugerido pelo aluno para distrair a professora. O fato de as pessoas pensarem que as MEIA HORA ANTES DO SEMINÁRIO, ENTREGUE A ELA UM BILHETINHO ELOGIANDO A ROUPA QUE ESTÁ VESTINDO ESTOU MEIO PREOCUPADA COM O TEMA QUE APRESENTAREI NO SEMINÁRIO DA AULA DE HOJE. POR QUÊ? NÃO CONSEGUI ENTENDER MUITO BEM POR QUE AS MULHERES NÃO HAVIAM AINDA SE TORNADO INDEPENDENTES, SE JÁ ERAM TÃO INTELIGENTES NO PASSADO. ELA SÓ ESTARÁ PENSANDO NA ROUPA QUE USARÁ NA PRÓXIMA AULA. E DIGA QUE VAI PEDIR PARA SUA MÃE UM MODELO IGUALZINHO. APOSTO QUE ENQUANTO VOCÊ ESTIVER APRESENTANDO, Além das regras gerais de concordância com núcleo nominal, há diversos casos especiais desse tipo de concordância apresentados na gramática normativa. Neste tópico, serão estudados os casos de expressões (formadas pelo verbo “ser” + adjetivo) e também o uso das palavras “meio” e “menos”. 3.1.1 É bom, é necessário, é permitido, é proibido As expressões formadas pelo verbo “ser”, seguidas de adjetivo ou verbo no particípio (função de adjetivo), podem apresentar-se
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