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* DIMENSÕES DA VERDADE DIVALDO P. FRANCO DITADO POR JOANA DE ÂNGELIS CAPA DE GILBERTO MANDARINO GRUPO EDITORIAL SPIRITVS RIO, 1965 Todos os direitos reservados para MANSÃO DO CAMINHO Rua Barão de Cotegipe, 124 — Salvador, BA 1.a edição — 10.000 Índice DIMENSÕES DA VERDADE Índice Ao Leitor Amigo 01 CÉU E INFERNO 02 NAO DITOS E NAO FEITOS 03 SERENIDADE 04 MÉDIUNS EM TORMENTO 05 IMPEDIMENTOS 06 LABOR INTRANSFERÍVEL 07 EXAMINANDO O SOFRIMENTO 08 SÓS COM OS OUTROS 09 CANSAÇO 10 AUXILIO AGORA 11 ESQUECIMENTO DO PRETÉRITO 12 MANSOS 13 SOCORRO ESPIRITUAL 14 ASSISTÊNCIA SOCIAL E ESPIRITISMO 15 BENEFÍCIO E GRATIDÃO 16 FAZENDO SOL 17 COM PACIÊNCIA E PAZ 18 DESESPÊRO INJUSTIFICÁVEL 19 TERAPÊUTICA ESPIRITA 20 JUSTIÇA EM NÓS MESMOS 21 MORTOS E MORTOS 22 CARIDADE ANTES 23 COMPROMISSO E RESGATE 24 PAZ PELO TRABALHO 25 PESSOAS, OPINIÕES E NÓS 26 SUTIS E PERIGOSOS 27 TRANSEUNTES 28 COM INTEGRIDADE E CONSCIÊNCIA 29 PRODUZE TU 30 ANTES DA DESENCARNAÇÃO 31 ESTÍMULO 32 SOCORRO SEMPRE 33 PREOCUPAÇÕES E MORTE 34 CONSIDERAÇÕES 35 CAMPANHAS 36 PASSES 37 CONFLITOS 38 CARIDADE E DOUTRINA ESPÍRITA 39 SOB TESTES E EXAMES 40 DELINQUENTES 41 CONTENDAS 42 SOFRIMENTOS NA MEDIUNIDADE 43 ESCÂNDALOS 44 DESAFIOS 45 CHORANDO PARA REALIZAR 46 FANATISMO E IDOLATRIA 47 VELHO ARRIMO 48 CONSIDERANDO O PROBLEMA DA FOME 49 REPOUSO TAMBÉM 50 SUPLICIADO 51 AO CHAMADO DO CRISTO 52 DENTRO DO LAR 53 ANTES DE TUDO PERDÃO 54 SEXO E COMPROMISSOS 55 FEITIÇOS 56 ABANDONADO. MAS NÃO A SÓS 57 O PROBLEMA DA MORTE 58 INTELIGÊNCIA E AMOR 59 HUMILDADE E JESUS 60 RESSURGIRÁS Notas: Ao Leitor O Grupo Editorial SPIRITVS, departamento editorial do Grupo de Estudos SPIRITVS (GES), que publica a revista mensal SABEDORIA, tem a satisfação de ofererer a seus leitores a terceira obra de Divaldo Pereira Franco, o tribuno espiritista cujo nome está consagrado no Brasil inteiro, tendo mesmo atravessado as fronteiras do país, a espraiar a luz de sua palavra inspirada, por toda a América. Na esteira de sua inspiração oratória, Divaldo P. Franco tem recebido numerosos ditados mediúnicos, que apresentam as características da autencidade, no pensamento e no estilo. A publicação de suas obras constitui satisfação e honra para o GES, que visa assim a difundir páginas de rara beleza e sólidos pensamentos espiritistas, dentro do mais ortodoxo cardecismo cristão. Os proventos obtidos com suas obras, na parte destinada aos direitos autorais, destinam-se a auxiliar a "Mansão do Caminho", instituição que cria, sustenta, educa e instrui quase uma centena de crianças e adolescentes, além de assistir numerosas famílias necessitadas e criaturas idosas sem amparo. A finalidade, pois, da publicação das obras de Divaldo P. Franco é duplo: além de edificar e instruir os leitores, contribui para garantir o pão do corpo e do espírito à juventude que nele confia. Por esses motivos o GES tem todo empenho em divulgar e propagar ao máximo os trabalhos recebidos por Divaldo P. Franco. Grupo de Estudos SPIRITVS Rio, 1965 Amigo Narra antiga tradição que nos dias heroicos da pregação evangélica, no Cristianismo nascente, pernoitando numa lapa, Barnabé e Paulo comentavam vibrantes e emocionados sobre o tesouro que conduziam e o Príncipe a Quem se deram... Ouvidos atenciosamente por salteadores que por perto se açoitavam, dominados pela cobiça, de imediato avançaram armados e exigiram as moedas e o roteiro que conduzia ao tesouro, arrebatando, das mãos dos trabalhadores da Boa Nova, os apontamentos evangélicos de que se utilizavam para as pregações. Barnabé e Paulo referiam-se à Boa Nova, cujos gráficos conduziam em peles de carneiro e cuja mensagem entesouravam no coração como roteiro diário para a vida. Os bandoleiros pensavam em joias, moedas, tapetes, especiarias que ambicionavam, em troca da própria vida, se necessário. Dimensões da verdade. Tesouro para Paulo e Barnabé a Palavra da Vida. Tesouro que, para os malfeitores, se transformava em fardo de aflições. *** “Eu SOU a porta... “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida... “Eu sou o pão da vida... “Eu sou a água viva... “Eu sou o bom pastor... “Eu sou a videira... “Vós sois o sal da Terra... “Vós sois a luz do mundo... “Vós sois as varas... “Vós sois as ovelhas... “Acautelai-vos... “Orai e vigiai... “Vinde a Mim...” — Disse o Mestre. A balada de há dois mil anos continua soando no ar, espraiando-se. Há muita dor afivelada a rostos coloridos e muita amargura sorrindo num festival de enfermidades disfarçadas. Tropeçam e se amparam mutuamente nas ruas da aflição o vício e a virtude buscando dominar. E a palavra do Cristo em dimensões da verdade excelsa todos os entendimentos repercute nos tímpanos do homem asfixiado em tormentos: “Bem-aventurados sereis...” * * * O Espiritismo, a seu turno, conforme enunciou o Sublime Embaixador, vem, “à hora predita” apresentar a verdade revelada nas dimensões do amor, da caridade e do estudo, através do trabalho digno, da solidariedade fraterna e da tolerância cristã. Pelos ciclos dos renascimentos o Espirito ascende às imarcescíveis alturas pelo devotamento ao bem e através da renovação íntima incessante. *** Nestas meditações, hoje trazidas à benevolência dos que nos leem, outro pensamento não nos animou senão o de que o Evangelho de Jesus revivido e confirmado na Doutrina Espírita é portador de todas as dimensões da verdade para o espírito humano em luta libertadora nos caminhos-sem-fim da evolução. Rogando ao Inefável Pastor, a Quem oferecemos o melhor dos nossos melhores labores, e esperando encontrar a compreensão generosa dos nossos leitores, exoramos bênçãos de paz para nós todos, desencarnados e encarnados, que trilhamos a rota da eternidade. Joanna de Ângelis Salvador, 10 de abril de 1965. (Ano do Centenário da publicação do livro “O Céu e o inferno", por Allan Kardec"). 01 CÉU E INFERNO “Assim também não é vontade de vosso Pai, que está nos céus, que um destes pequeninos se perca”. Mateus, 18:14 As religiões que se derivaram do Cristianismo, no grande afã de aliciarem ovelhas para os seus rebanhos, de tal modo se preocuparam com a parte imediata da vida, que criaram um deus antropomórfico para lhes atender às exigências, estabelecendo diretrizes em torno da Justiça Divina, como se estivessem em condições de examinar, definir e difundir em padrões fixos a Excelsa Sabedoria a manifestar-se em incomparável amor em todas as suas representações. Assim surgiram as conceituações sobre o céu e o inferno com as características eternas... Concomitantemente apresentaram as fórmulas ingênuas e simplistas através das quais se poderia evitar um e conseguir outro, mediante processos, aliás condicentes àqueles que firmaram, em definitivo, os padrões da Soberana Justiça de Deus, em manifestações de culto externo e apresentações simbólicas, tendo em vista somente a forma. Para o adepto do Romanismo(1), por exemplo, a aceitação tácita, embora inconsciente, dos dogmas da Igreja e a submissão a eles, equivale a um salvo-conduto de fácil aquisição para repouso no Paraíso. . . Para os crentes das diversas igrejas da Reforma Protestante a fé, acompanhada de arrependimento, ao som dos recitativos bíblicos, constitui passaporte valioso para o Jardim de Eternas Bênçãos. . . E lamentável é que em alguns espiritistas pouco afeiçoados ao estudo e conhecimento do Espiritismo, nos moldes em que o apresentou Allan Kardec, a suposição de que a frequência a um Centro Espírita, o uso da água fluidificada e a recepção de passes, constituem bilhete de segurança para a viagem de além-túmulo, ondeos aguardam Espíritos de Luz para conduzi-los às Regiões Inefáveis da Imortalidade. Felizmente o Missionário lionês desde o princípio da Codificação Espiritista elegeu a Caridade como a base sobre a qual se levanta o edifício da felicidade e, ao mesmo tempo, consignou como normativas de segurança o Trabalho, a Solidariedade e a Tolerância, numa admirável síntese dos ensinos evangélicos. Não há como negar a existência de regiões de sofrimento, que variam ao infinito, para os espíritos culpados e irresponsáveis que habitaram a Terra, tanto quanto locais de repouso temporário e refazimento para os que edificaram o bem e a moral no próprio imo. Enxameiam, desde a Terra, os redutos de aflição corretiva e províncias de dor reparadora, ensejando aos trânsfugas do dever oportunidade de expungir, meditar, formular propósitos de retificação para novo berço, na carne, onde completarão o aprendizado evolutivo, com a paz de consciência ante os que foram afligidos e atormentados por sua incúria ou maldade. Da mesma forma se multiplicam estâncias de trabalho e edificação, onde o amor não repousa nem a felicidade se transforma em parasito, convidando o espírito ao retorno à retaguarda para levantar e conduzir os que se demoram nos charcos da aflição punitiva. . . A Divina Justiça dispõe de mil processos para manifestar o Amor de Nosso Pai. Trabalho desinteressado em favor do próximo, aprendizado contínuo, oração ativa, vigilância na romagem, exercícios de paciência e humildade, amor sempre, eis alguns dos recursos valiosos que o cristão não pode relegar a plano secundário. Se alguém te ofende, ferindo os teus sentimentos, enfloresce teu coração com o amor e perdoa. Se alguém se diz por ti ofendido, apresentando mágoas, recama teu pensamento de luzes em forma de entendimento e solicita que te perdoe. Não adies a oportunidade de desculpar nem atrases o momento de pedir desculpas. A carne é oportunidade sublime. . . e breve — passa mui rapidamente. Depois da aduana em que o corpo se consome em cinza e lama a consciência desperta cintilante e lúcida azorragando ou abençoando e, só então, se pode ter ideia do valor de um minuto gasto na tarefa-bondade ou de um momento na sementeira-aversão. Se desejas o céu da consciência tranquila em porto de luz, envolve-te na lã do Cordeiro de Deus e alcatifa tua senda com os dosséis da humildade, do amor e da caridade, seguindo imperturbável até à hora da desencarnação. Tendo, todavia, embora as tuas melhores intenções, remordimentos íntimos, para, medita e, antes de fazer a oferenda, no altar, consoante o ensinamento evangélico, vai fazer as pazes com o teu adversário amando-o com a um irmão. É preferível seres tu quem ama e perdoa, a carregares a chaga odienta do remorso, por ter perdido a oportunidade de tranquilizar alguém, hoje em sofrimento por tua causa, por falta do acolhimento fraterno que lhe negaste. Embora ignorado pelos mais amados companheiros, à hora do testemunho, Jesus perseverou amando. . . E Allan Kardec, dez anos depois da publicação de “O Livro dos Espíritos”, fazendo um balanço da vida, anotou em apontamentos particulares: “ ... Andei em luta com o ódio de inimigos encarniçados, com a injúria, a calúnia, a inveja e o ciúme; libelos infames se publicaram contra mim; as minhas melhores instruções foram falseadas; traíram-me aqueles em quem eu mais confiança depositava, pagaram-me com a ingratidão aqueles a quem prestei serviços. . . Nunca mais me foi dado saber o que é o repouso; mais de uma vez sucumbi ao excesso de trabalho, tive abalada a saúde e comprometida a existência. . . Mas, também, a par dessas vicissitudes, que de satisfações experimentei, vendo a obra crescer de maneira tão prodigiosa! Com que compensações deliciosas foram pagas as minhas tribulações! Que de bênçãos e de provas de real simpatia recebi da parte de muitos aflitos a quem a Doutrina consolou! .... Quando me sobrevinha uma decepção, uma contrariedade qualquer, eu me elevava pelo pensamento acima da Humanidade e me colocava antecipadamente na região dos Espíritos e desse ponto culminante, donde divisava a da minha chegada, as misérias da vida deslizavam por sobre mim sem me atingirem. Tão habitual se me tornara esse medo de proceder, que os gritos dos maus jamais me perturbaram”(1). O céu ou o inferno, são, pois, estados de consciência. (1) “Obras Póstumas” - Edição da F.E.B., página 354/6 Nota da Autora Espiritual. 02 NAO DITOS E NAO FEITOS Estudiosos afeiçoados aos “ditos do Senhor” mergulharam, em todos os tempos, o pensamento nas fontes evangélicas, em busca de consolo e diretrizes, encontrando na clara mensagem da Boa Nova o clima de paz e amor necessários a uma vida feliz. Narrativas comoventes relatam os encontros do Rabi Amoroso com os corações constrangidos pela dor e com os espíritos atribulados, a todos ensejando, pelo verbo luminoso e sublime, os roteiros libertadores. Páginas de beleza inefável têm sido elaboradas sobre os efeitos e as palavras do Enviado de Deus, favorecendo o pensamento humano com antevisões do porvir e sugerindo retrospectos das inolvidáveis emoções que viveram os que participaram das jornadas d’Ele. . . Infelizes e enfermos de variada classificação, obsidiados e dementes de muitas alienações foram reconduzidos à serenidade e à paz através da mensagem de esperança que Ele nos dá, desde então, como pábulo(2) que nos mantém alimentados, conduzindo-nos para a frente e o amanhã. *** Muito mais poderia ter dito e feito o Senhor. Nau o disse, porém, nem o fez. E o que não disse, o que não fez, são tão grandiosos que atentam a excelente procedência d’Ele. Recusado por uma aldeia do interior de ser ali agasalhado, nada disse, e instado pelos discípulos para que ateasse o figo do céu sobre o lugarejo ímpio, não o fez. Retirou-se em silencio, plácido e triste, seguindo adiante. . . Impossibilitado de falar ao povo de Gadara, após a recuperação psíquica do gadareno, não disse uma sentença contraditória, não teve um gesto de revolta. Imperturbável, retornou ao mar e à Galileia. . . Acusado por comensais dos interesses imediatos, de açular as massas infelizes que O seguiam esperançadas, não disse um revide, não expôs uma defesa, não reagiu com irritação, não fez uso dos seus poderes. . . Conclamado por aqueles que O desejavam triunfador na Terra não apresentou explicações, não debateu o assunto, retirou-se a sós... Diante de Pilatos quase nada disse, nada fazendo e, no entanto, poderia tudo dizer e tudo fazer. Na cruz, resignou-se a não dizer senão o indispensável para o tributo de amor, submetendo-se, incomparável, à Vontade do Pai. E mesmo depois de ressurgido não disse nem fez o que muitos esperavam. Afirmou a imortalidade atestando-a, realentou os companheiros com o seu amor de compreensão e, ao ascender aos Cimos, despachou-os para as tarefas do “dizer” e do “fazer” como Ele mesmo disse e fez. * * * Medita sobre os não ditos e não feitos do Senhor. Se a dificuldade e a incompreensão de quem amas, quando a serviço d’Ele, te amesquinham, não te amofines. Se a luta recrudesce e o combate acirra, não desesperes. Se a enfermidade avança e te vence, não desanimes. Se todos os males de fora e de dentro de ti mesmo ameaçam conduzir-te à desencarnação, não recalcitres. Não te defendas, se injuriado. Não te justifiques, se perseguido. Não te exponhas, se angustiado. Nada digas, nada faças, mesmo que tenhas o que dizer e disponhas de recursos para fazer. Teus ditos e teus feitos já falaram por ti. Se não se fizeram ouvir, porfia confiante, de fé robusta. Mais vale ser vítima da impiedade quando se está com a consciência tranquila, do que perseguidor entre ovações, carregando uma consciência em brasa. E se avida solicitar ao teu espírito o pesado tributo da tua doação total pela causa de amor que abraças, na Seara de LUZ do Evangelho e do Espiritismo, não te negues, não recuses, nada digas, nada faças, entregando a vida e aspiração às mãos d’Ele, pois que mesmo morrendo na liça incompreendido e ralado, ascenderás tranquilo aos páramos do amor para voltares a fim de ajudar, mais tarde, os que te perseguiram e injuriaram vitoriosamente, ficando, porém, nas linhas sombrias e tristes da retaguarda, esperando pelo teu socorro. 03 SERENIDADE A faina incessante da vida moderna, a sede de conforto supérfluo, a ânsia pelo prazer exorbitante, as demandas injustificáveis são apresentados invariavelmente como fatores básicos para explicarem os desequilíbrios da emoção que atormentam o homem. Não há tempo senão para viver. Viver bem, fruindo as concessões aligeiradas que o corpo enseja — a meta para a grande maioria. E semelhante a aventureiro ávido de prazer larga-se a criatura no cipoal das lutas, empenhando os valores de que dispõe, continuando, no entanto, inquieta, aflita. Educa-se ou se vai educando para o triunfo fácil. Disciplina-se ou deixa-se disciplinar antegozando o sabor da vitória em sociedade. Instrui-se ou deixa-se instruir para vencer. . . Educar-se, no entanto, para conhecer, peregrinando pelos meandros da dor humana, a fim de solucionar os milenários enigmas do espírito encarnado; disciplinar-se com o objetivo de renovar as disposições íntimas, no sentido da evolução espiritual; instruir-se para vencer a sombra da ignorância tendo em vista o impositivo da vitória sobre si mesmo, são diretrizes desconsideradas por muitos que, todavia, possibilitam a felicidade em termos reais e duradouros. De tal conquista frui o homem a satisfação da serenidade. * * * Marco Aurélio, referindo-se à tranquilidade, em suas Meditações, denominava como “tranquilo — um espírito bem ordenado’’. A serenidade é o estado de ordem que tranquiliza interiormente. Ordem que nasce da educação disciplinada pelo exercício do dever e esclarecida pela instrução que amplia as possibilidades do conhecimento. Acredita-se erradamente que para a serenidade são indispensáveis o conforto, a independência econômica, a estabilidade conjugal, a saúde e outros ingredientes externos considerados essenciais e raros de reunir-se num mesmo afortunado indivíduo. Alguns cristãos, na atualidade, justificam a falta de silêncio para cultivarem a serenidade. Outros dizem-se atormentados por problemas e informam que tudo são convites ruidosos ao desalinho da mente, à enfermidade nervosa, ao desajustamento. . . Com “olhos de ver” e “ouvidos de ouvir” naturalmente se podem descobrir fontes ricas de belezas capazes de banhar a alma de paz e harmonia. Painéis invulgares se desenham num raio de sol, numa estrela que fulge, num sorriso de criança, num farfalhar de folhas levemente balouçadas por brisas ciciantes, no tamborilar da chuva no telhado, numa ave ligeira bailando no ar, na harmonia e no colorido de uma flor, em mil nonadas..., convidando à serenidade, a “um espírito bem ordenado”. “Não vos afadigueis pela posse do ouro”, disse o Mestre. A posse exaure aquele que possui. "O meu reino não é deste mundo”, explicou o Senhor. Em face de tais lições é que Jesus, embora sem encontrar entre os companheiros quem se identificasse com a sua mensagem de amor, amou e serviu a todos indistintamente e quando, mais tarde, sofreu o desprezo dos que mais se beneneficiara, da sua presença, expulso da compreensão dos que d´Ele dependiam no vozerio da perseguição em invulgar soledade, manteve-se sereno, acenando com bênçãos para os Infelizes e amando os próprios algozes na mais eminente demonstração de que serenidade com paz íntima é conquista do espírito, independente das excentricidades do mundo das formas. 04 MÉDIUNS EM TORMENTO Guarda a mediunidade, essa gema de inestimável preço, nos cofres fortes da conduta reta. Acompanhando os portadores da abençoada concessão, identificarás tormentos em torno deles, ameaçando-lhes a paz, inquietando-os. Tormentos íntimos que os seguem desde o passado culposo e tormentos de fora com mil faces de sedução. A mediunidade que enfloresce em tua alma é concessão da Vida para regularização dos velhos débitos para com a vida. Compulsando o Evangelho de Jesus Cristo, nele encontrarás os médiuns vencidos pelos tormentos, buscando o Mestre. No entanto, a grande maioria por Ele beneficiada, recuperou a paz íntima, calçando as sandálias do serviço edificante, permanecendo, porém, em vigília até o termo da jornada... Faze o mesmo. Aplica a palavra de carinho sobre a ferida aberta no cerne do companheiro aflito, mesmo que ele se guarde sob as sedas da vaidade; estende os braços ao passante atribulado, oferecendo-lhe entendimento a todo instante, doa o pensamento superior ao amigo amesquinhado no vendaval das paixões que necessita de amparo e de agasalho; oferece expressões de solidariedade ao homem de mente desalinhada que se deixou abraçar pelos tentáculos poderosos do polvo do crime. Pelo bem que faças, lentamente sairás do pantanal do desequilíbrio onde o passado te precipitou. . . Os tormentos de ontem te seguem hoje os passos pela senda da renovação. Tormentos de agora que surgem examinando a robustez da tua fé, são convites sóbrios para que te libertes e encontres paz. Para resistires, elege a oração do trabalho como companheiro inseparável da tua instrumentalidade mediúnica, para que os tormentos naturais não encontrem acesso à tua mente, nem guarida no teu coração. Mediunidade é filtro espiritual de registros especiais. Opera no bem infatigável em nome do Infatigável Bem e procura, médium que és, caminhando pelas mesmas vicissitudes por onde os outros jornadeiam, compreender todos, mesmo aqueles que parecem felizes e distantes dos teus recurso de auxílio. . . * * * Herodíades, a infeliz concubina do Tetrarca, dominada por obsessão cruel, fascinou-se pelo Batista e, repudiada, voltou-se contra ele, tornando-se peça principal no seu infamante assassínio. * * * Enquanto o Senhor pregava na Sinagoga, um espírito infeliz tomou a boca de um médium atormentado e insultou o Mestre, interrogando: . . . “que temos nós contigo”? . . . Antes do memorável encontro com o Rabi Afável, a jovem de Magdala portava obsessores lastimáveis que a vinculavam a compromissos cruéis com o sexo. Angustiado pai busca o Celeste Mensageiro para atender o filho perseguido por um “espírito que o toma, e de repente clama, e o despedaça até espumar”. . . Judas, embora a convivência constante com Jesus, guardando investidura medianímica, deixa-se enredar pelas seduções de mentes perturbadas do Além. . . Considera a mediunidade como meio de sublimação. Raros, somente raros médiuns trazem o superior mandato consigo. A quase totalidade, no entanto. ... O médium falante, cuja boca se enriquece de expressões sublimes, muitas vezes é um coração sensível ligado a compromissos e erros dos quais não se pode libertar; o médium escrevente, por cujas mãos escorrem os pensamentos divinos, compondo páginas consoladoras, quase sempre caminha sob sombras de angústias interiores, sem forças para colocar a luz viva do Mestre na mente turbilhonada; o médium curador, que distende os recursos magnéticos da paz e da saúde e que parece feliz na sua posição socorrista, é, invariavelmente, alma em perigo, entre as injunções de adversários impiedosos do mundo espiritual, que lhe sitiam a casa íntima, apedrejando-o com sofrimentos de todo jaez: o médium que enxerga, através de percepção especial e que surge como abençoado donatário da mediunidade superior, na maioria das vezes tem os olhos perturbados por visões cruéis, que retratam osseus dramas íntimos, fugindo de si mesmo, sem forças para continuar: o médium que reflete o pensamento social, em acórdãos, nos tribunais da justiça terrena, ignorando a sua posição de medianeiro entre as forças do bem e o mundo dos homens, pode ser um pobre obsidiado pelas mentes vigorosas vingadoras da Erraticidade inferior... Apiada-te de quantos passam, oferece o coração, doa a tua prece e agrade a Jesus, o Médium Excelso, a preciosa lição que hoje te clareia os passos, ajudando-te a vencer os tormentos que te impedem o avanço, recordando que “o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas”. 05 IMPEDIMENTOS No exercício mediúnico serás surpreendido por dificuldades e óbices que te impedem a ascensão, ao desejares evoluir. Obstáculos do personalismo destruidor e empeços do egoísmo avassalante surgem a todo instante. Dificuldades que te ferem os pés, a brotarem do solo; compromissos que te prendem ao potro de necessidades vigorosas, repontando dos recônditos íntimos. Além desses, defrontarás, ainda, outros mais difíceis de vencidos. Adversários do passado que te falarão a sutil e terrível linguagem da obsessão, através de intuições negativas, tentarão semear dúvidas, para que percas a coragem na luta. Por meio de pensamentos cruéis, serás perturbado na estabilidade emocional, para que te detenhas na jornada evolutiva. Em processos de inspiração negativa se utilizarão de ideia infeliz e pertinaz, ferindo-te os sentimentos, a fim de que te desiludas, em relação aos companheiros da seara onde mourejas. . . Experimentarás, também, a incompreensão dou que te as ideias, atormentados em si mesmos, que te verão através das lentes que elaboraram para uso próprio. Zombadores malsinantes se farão perseguidores gratuitos em vestes amigas, conservando no semblante o sorriso de acolhimento fraterno, enquanto escarnecem. E dos que transpuseram a aduana da morte, sofrerás as vibrações interiores, os projéteis vigorosos dos pensamentos deles; deles registrarás o assédio constante, despertando em círculo de logo no qual tua resistência poderá baquear. * * * Não te detenhas, porém. É necessário seguir adiante. Se os obstáculos se demoram em ti mesmo, clareia a alma com a labareda da fé. Acende no coração a flama do culto ao dever e, genuflectindo-te intimamente, confia na Providência Divina, que está edificando o mundo novo com o barro deficitário da criatura humana. Se os óbices repontam através dos companheiros atormentados, detém-te um pouco a meditar para prosseguir e realiza, outra vez, o exercício da oração e da paciência. Não te agastes com eles, acionando a lâmina ferinte da língua, revidando os golpes recebidos. Lembra-te de que também eles são afligidos do caminho. Imprescindível que evoluas para que outros evoluam através do teu exemplo. Se apesar disso identificares nas tuas dores a força rude dos perseguidores desencarnados, procura, ainda uma vez mais, o santuário da prece e refugia-te na oração. A oração é combustível excepcional para o lume da vida. Vítima de hoje, algoz de ontem. Filho rebelde de agora, pai descuidado do passado. Cada um é herdeiro dos próprios atos. . . Alegra-te e transforma tuas dores em oportunidade de meditação para eles, os teus perseguidores, conduzindo o teu fardo, na mediunidade — essa porta de luz —, dignificando a consciência, a fim de galgares o monte da tua sublimação com nobreza, e poderes chegar aos braços da vida harmoniosa. * * * Aquele que serve ao Senhor, carregando a cruz da mediunidade encontra, a cada instante, justos e necessários motivos de provação e dor. . . Não é lícito, por isso, esquecer que, desdenhado, perseguido e vitimado pela impiedade, o Mestre Divino, plantado numa cruz, transformou esse instrumento de aflição e insulto em escada, através da qual estabeleceu a ponte de luz entre o mundo físico e o mundo espiritual . . . . “— E porque abundará a iniquidade, a caridade de muitos esfriará. Mas aquele que perseverar, até ao fim, se salvará”, — ensina com segurança o Senhor, consoante as anotações de Mateus, no Capítulo 24, versículos 12 e 13. Persevera, lutando contra os impedimentos e servindo, sejam quais forem as dores que defrontes. 06 LABOR INTRANSFERÍVEL Clareado intimamente pelas fulgurações da fé que hoje banha de suaves consolações o teu espírito, começa a tarefa imediata de insculpir no coração e na mente as diretivas que te deslumbram, vivendo desde agora a Era de felicidade de que te falam excelsas mensagens da Verdade. Encontrarás quem diga que a conquista do Reino dos Céus na Terra, é loucura e estremecerás, atemorizado. Ouvirás diatribes e bocas mordazes que emitirão conceitos deprimentes, referindo-se à tua conduta “fora de época”. Chamar-te-ão para apresentarem os dados negativos obre os que, na atualidade, intentaram vida cristã correta, como marginais da sociedade. Acompanharás com inquietudes íntimas os que facilmente galgam os degraus da fama, demorando-te no anonimato, em luta renhida. No entanto, não sucumbas ante a noite prenhe de desencantos. Aguarda a clara face da madrugada e prossegue pelo acesso de luz do dia. O que deves fazer, faze-o. Sabes que a vida espiritual é essência do existir. A Revelação Espírita inscreveu no teu cérebro conceitos vibrantes que renovaram tuas concepções sobre a vida. Já não segues a esmo, sem roteiro. Todavia, é conveniente não encarcerares a palavra libertadora nos cofres do imediatismo, convertendo a convicção que se enfloresce, agora, em moedas para as comezinhas necessidades. . . Utiliza a lição vigorosa da imortalidade para a própria imortalidade. Caminharás depois da morte com os tesouros que reunires antes dela. Os Benfeitores Espirituais, a quem dizes amar, não poderão fazer por ti mais do que seja lícito receberes. São eles amigos mais experientes e mais sábios é certo, em função pedagógica de didática espiritual. Também eles avançam no rumo de Cimos mais Altos, também eles têm meta a alcançar, eles também obedecem às leis soberanas da Criação. Prepara-te de logo, acumulando nos depósitos sagrados da experiência carnal, os valores de uma conduta reta, uma consciência tranquila e um coração afável. O momento que vives é momento do corretor da eternidade. Eternidade, infinito que se confunde no minuto célere que passa, no eléctron que te escapa. Harmoniza fé e ação, remove obstáculos e atrações retentoras, usando o buril constante e cinzela-te para que, insculpido no teu espírito, se demore como normativa eficiente o dever para todo dia, toda hora. * * * Atraída pelo verbo do manso Rabi, a obsidiada de Magdala lapidou-se para viver a mensagem salutar. Arrependido da dúvida soez que o atormentou à hora do testemunho, Simão Pedro doou-se à cruz das renúncias e da ação santificantes em favor dos desalentados e sofredores, lutando contra as próprias dificuldades até o sacrifício supremo. João, arrebatado, desde a mais verde juventude pelo Ex celso Libertador, prosseguiu servindo, infatigável, até idade provecta, a repetir — “Amai-vos”. . . Tiago, convicto do significado da ação crista, após vacilações tormentosas, testemunha a excelência dos seus propósitos evangélicos, vitimado pela espada dos esbirros de Agripa I ... E depois deles torrentes de heróis, levantados do pó da aflição, entregaram-se à laboriosa construção de um mundo melhor, guiados pelo Imarcescível Galileu. * * * Com o Espiritismo, recém-chegado ao discernimento humano, em hora crucial de soçobros morais e delinquências sociais, ressurgem as luminosas oportunidades de exercitar o Cristo íntimo, no trabalho de renovação pessoal intransferível e inadiável. Opera, com o auxílio divino, a própria transformação para o bem e a virtude, e, desde agora, experimenta a glóriada ressurreição e da felicidade que te aguardam depois de todas as lutas, além da noite do túmulo, do desespero da ansiedade e da aflição decorrente do pavor da morte. 07 EXAMINANDO O SOFRIMENTO Fugir da aflição! Libertar-se da dor! Esquecer. . .. Esquecer que se sofre! — Exclamam os simplistas que pensam em solucionar o magno e palpitante problema do sofrimento não o considerando, como se, ignorando a enfermidade e a dor, a dor e a enfermidade ignorassem o homem. Muitos dos que se filiaram às diversas correntes religiosas do Cristianismo procuram, por processo de transferência, librar-se acima das águas tumultuadas do sofrer, orando e, na prece, exorando libertação gratuita, como se o papel da Divindade fosse o de arrolar solicitações e atendê-las indiscriminadamente, longe da consideração aos títulos característicos do mérito e do demérito. Alguns, vinculados às correntes do materialismo filosófico ou científico, fogem em busca do prazer como se este, entorpecendo o caráter, pudesse anular a sede dos registros do passado culposo, libertando os infratores sem a regularização dos seus débitos. E como o prazer não consegue atender a sede de gozo e o gozo da fuga, fogem, desvairados, para os labirintos das drogas estupefacientes, procurando, na consciência em desalinho e em exaltação, uma felicidade a que não fazem jus, uma paz que não merecem. E o sofrimento — esse ignoto servidor da alma — continua, imperturbável no afã de sacudir e despertar mentes, realizando o impositivo divino de reequilíbrio da Lei. Reponta aqui e surge adiante, de mil formas, falando vigorosa linguagem que somente raros conseguem escutar e entender. * * * Zenão de Cítio, o filósofo grego do IV século antes de Cristo, contemplando o panorama de dor que se apresentava afligente em todo lugar, elaborou o estoicismo, através do qual o desdém às coisas materiais e o culto das virtudes seriam os meios únicos de promover o equilíbrio no homem, desse modo valorizado para vencer a dor, enfrentando-a com nobreza e fé. Sócrates, o célebre pai da Escola maiêutica e considerado o maior filósofo da Humanidade, encarcerado pela intolerância do ignóbil julgamento dos Heliastas preceituava, mesmo da prisão, o culto da moral e da virtude para vencer o sofrimento, suportando com estoicismo a injusta posição. Francisco de Assis, o pobrezinho, desdenhando todas as coisas da Terra, experimentou a zombaria e sofreu aflições sem nome, mantendo a força do amor no exercício das virtudes cristãs, como chave do enigma angustiante do sofrimento. E bendizia a dor! Joana d’Arc encarcerada por circunstâncias óbvias procurou escutar as suas Vozes e, animada pelos Amigos Espirituais que a norteavam, suportou o cárcere, a humilhação e o opróbrio, queimada, após infamante e arbitrário julgamento, chamando por Jesus e superando a própria dor. . . Sofrimento é alta concessão divina. Dor é moeda de resgate. Aflição é exercício para fixação do bem. Som eles ignoraríamos a paz, desconsideraríamos a alegria, maldiríamos a saúde. Aquele que sofre está sendo aquinhoado com os exercícios-lições de fixação do bem nas telas mentais. No leito de dor, na cadeira de rodas, nas amarras ortopédicas; sob os acúleos morais, nos tormentos familiares, nos cipós limitativos das aspirações; no corpo, na mente, na alma; na família, em sociedade, no trabalho; onde esteja a arder e queimar a brasa do sofrimento, agradece a Deus a oportunidade sazonada de reaprender e reparar. Considera que, enquanto doam as tuas chagas abertas, queimadas por ácidos destruidores, outros companheiros desavisados atiram-se impertinentes pelas sendas da irresponsabilidade, dirigidos por irrefreável loucura, e acalma-te, embora a tormenta que te vergasta. . . * * * Jesus, tendo elegido o sofrimento como amigo de todas as horas ensinou-nos sem verbalismo nem retórica que sofrer é ser feliz, e em todos os instantes, sofrendo, exaltou o amor e a bondade como rota de iluminação, pacífico e excelso, prosseguindo imperturbável. Mesmo que o teu céu esteja carregado de cúmulos em forma de dores e preocupações, e aparentemente te encontres amesquinhado por angústias ultrizes, caminhando em terrível soledade, levanta, estoico e cristão, a cabeça, descrispa as mãos e torna-as asas de amor para com elas louvar o Senhor no trabalho e no bem com os quais alçarás voo às Regiões da liberdade após o resgate que o sofrimento te enseja. Recebe-o, pois, com amor e não desvaries. 08 SÓS COM OS OUTROS Não te creias a sós, embrulhando os sonhos que acalentavas nos pesados tecidos da revolta. Há tantos solitários que não se resolvem a arrebentar as amarras do egoísmo para serem úteis a alguém! . . . Sê tu quem consiga esse fanal. O lago plácido e sonhador, que reflete o céu de astros pulverizado qual espelho precioso, desfaz-se ante o batráquio que nele se arremessa, apagando a ilusão da beleza. Desejarias felicidade contemplativa cercado de carinhos, inútil, refletindo sonhos impossíveis. No entanto, enquanto te crês solitário e triste, frustrado nos anseios que acalentavas, perdes os olhos nas tintas carregadas do pessimismo e não vês aqueles olhos que te fitam inquietos, desejando acercar-se de ti, sem oportunidade de fazê-lo. A semente, que se sente desventurada numa arca de mogno e bronze valiosos, desdobra-se em bênçãos para muitos quando acolhida pelo solo que lhe oferece destino. A água morta entre sombras alimenta a vida se vai depurada. O monturo desprezível enriquece-se de perfume quando agasalha os bulbos do lírio. O coração ao teu lado, na vida diária, é a sublime meta da tua oportunidade no corpo. Mata a solidão, asfixiando-a nos tecidos leves da cordialidade para com os outros. Não creias que haja um abismo entre ti e os outros. Se o vês ou o sentes, lança a ponte da afabilidade e atapeta-a da doçura. Escorregarão muitos seres imersos no personalismo atormentado das vacuidades da Terra, que se aconchegarão ao país da tua alma, sedentos, necessitados e amigos teus, dando carinho também. Compreenderás que o receber é efeito do dar, tanto quanto a colher é o resultado do plantar. A lagarta que teme a metamorfose jamais plainará como borboleta leve, no azul do ar. A flor que receia o desgaste nunca atingirá a semente que a perpetua. O amor que se enclausura não amadurecerá em dádivas renovadoras. * * * Aparecendo à pecadora de Magdala, após a Ressurreição, o Mestre premiou o esforço de quem tanto deu à causa da Mensagem Viva da Fé, a’ ponto de, vencendo-se a si mesma, oferecer-se entre tormentos íntimos de paixões sem nome que sublimou, para renascer dos escombros qual Circe de luz. . . E Maria o mereceu, pois que, esquecida do próprio eu, cindiu a casca da autopiedade e da falsa solidão a que muitos a si se impõem, para atirar-se à glória do serviço ao próximo sem fronteira nem limite por amor a Ele. 09 CANSAÇO Estás fatigado. O cansaço, qual fluido deletério, vence tuas resistências, assenhoreando-se do aparelho físico-mental que acionas com dificuldade. Tantas têm sido as aflições, as lutas que, desencorajado, te entregas à indiferença quanto ao futuro sob tormentos que te dominaram a capacidade de lutar. Tens a impressão de que o entusiasmo calou a voz da sua emoção no teu sentimento encarcerado na dor, e sentes o coração como se fosse um diamante bruto a esfacelar-se dentro do peito, golpeado por vigorosas tenazes que o despedaçam ... Tudo se te afigura sombrio e a luz, que se emboscava na gota d’água aprisionada diante dos teus olhos, agora a vês transformada em lama, no pó, qual a tua antemanhã de sonhos convertida em noite tempestuosa de pavor. Lutaste, é certo. Reuniste as energias, qual comandante afervorado a batalhas violentas,colocando-as em defensivas até a exaustão. Mas tantas foram as agressões e tão continuado o cerco que desejarias bater em retirada, deixando livre o campo para que se multiplicassem os maus. No íntimo conservas um travo de fel que o sofrimento deixou e como miasma em crescimento sentes o espírito envenenado, com a amargura em todas as horas. Uns companheiros fitam teu sorriso e creem que o caráter não é um dos teus dotes mais representativos. Outros contemplam tua tristeza e comentam que é débil a tua fé. Alguns falam contigo e identificam expressões que deprimem teus sentimentos. Amigos discretamente afirmam que foste vencido por “forças negativas” do Mundo Espiritual. Confrades rigorosos negam-te o concurso da amizade deles. Irmãos acendem a chama da idiossincrasia e separam aqueles que o teu esforço infatigável reuniu. Colaboradores fendem as bases do serviço que desdobrase, abnegado, desejando amesquinhar-te. Assim crês, assim vês, assim é.... porque estás cansado. * * * Quem observa dificuldades somente encontra obstáculos. Aquele que se prepara para um dia de calor tem pretexto para a canícula(3) inexistente. Olhos acostumados aos detalhes negativos descobrem insignificâncias que enfeiam qualquer paisagem feliz. As estrelas que fulgem além da névoa são ignoradas por quantos se contentam com sombras. As mãos que preferem espinhos perdem a sensibilidade para as débeis violetas. No entanto, além do que registras, há beleza, harmonia, vida. O veneno que o ofídio injeta e com o qual mata, o homem consegue transformar em medicamento salvador. A ofensa de que se utilizam os infelizes para ultrajar ajuda na ascensão os que sabem transformar vinditas em bênçãos. A pedra que fere também adorna. O lodo pestilento devidamente atendido converte-se em perfume delicado na intimidade da flor. Transforma cansaço e tristeza em seiva de vida eterna. Renasceste, na Terra, para elaborar a felicidade própria e intransferível. Rogaste a dádiva do resgate com as moedas do testemunho e do silêncio. Esquece-te, desse modo, de ti mesmo e persevera. Perdoa, enquanto podes. O perdão é luz que arremessas na direção da vida e que voltará à fonte donde procede. O conceito que os outros fazem a teu respeito vale o que valorizas. As dificuldades que te impõem obstaculam quanto supões. O sarcasmo e a perseguição representam o que consideras. A dor é o que se deseja que valha. Levanta o espírito e combate. Não deixes que os braços das sombras apaguem com mãos de trevas os painéis da tela das tuas aspirações. Aprofunda a mente na pesquisa da verdade e detém-te a examinar a história dos homens fortes. Não nasceram fortes: fortificaram-se na luta. A vento enrija a fibra da sequoia(4) e a tormenta lhe dá vigor. A chuva que chafurda o regato aumenta-lhe o volume d’água. Deixa-te conduzir pelos testemunhos naturais da experiência carnal e experimenta perseverar, insistir, continuar. . . * * * A grandeza de Jesus afirmada no atroz sacrifício da Cruz teve o seu início na escolha de singelo berço para continuar nos aparentes mil nonadas da carpintaria humilde, dos contatos com as gentes simples e pouco esclarecidas, com os enfermos exigentes, os amigos ingratos, os legisladores e religiosos desonestos, para culminar na cobardia de alguns discípulos obsidiados com intermitências que O atraiçoaram, esquecendo o Seu amor para fugirem. No entanto, uma vez única sequer deixou-se Ele vencer pelo cansaço e, por isso, não reclamou, não desistiu, não censurou, não se deteve a examinar o lado infeliz de ninguém, dedicando-se incansavelmente à construção do bem excelso em favor de todos, a todos amando e perdoando, apesar de tudo. 10 AUXILIO AGORA Viste muitos deles, possivelmente, enquanto se encontravam mergulhados nas roupagens carnais, experimentando rudes provas, e não os distinguiste com uma palavra sequer de misericórdia. Agora te apiadas(5) e sofres por eles. Encontraste-os nos dias que se foram, perdidos na névoa das paixões, em sofrimentos atrozes; no entanto, receaste falar com eles a respeito da vida verdadeira. Hoje, dominado por forte compaixão, exoras ao Senhor em favor deles. Defrontaste-os, enquanto se demoravam no corpo denso, carregados de aflições; todavia, temeste que eles não te respeitassem os ideais, desconsiderando as tuas intenções. Atualmente solicitas auxílio aos Numes Tutelares para que eles se recuperem e tenham paz. Transitavam lado a lado contigo no caminho humano, dominados pela ignorância, mas pensaste que não te competia despertá-los do sono quimérico no qual vitalizavam ilusões. Neste momento compreendes quanto eles sofrem e oras, emocionado, guardando a certeza de que a tua vibração os atingirá. O que puderes fazer por eles, os nossos irmãos desencarnados, em sofrimento, faze-o. Unge-te de contrição e amor e derrama do cálice dos teus sentimentos as vibrações puras que, em os alcançando, abrandarão suas ansiedades, lenirão suas feridas, diminuirão suas dores... Oferece ao intercâmbio socorrista as tuas possibilidades medianímicas a fim de que sejam assistidos e medicados. Ora por eles. Pensa neles com carinho, considerando também o imperativo do teu retorno ao Mundo Espiritual onde agora se encontram. * * * Não te esqueças, porém, daqueles que estão na Terra reencarnados com necessidades imperiosas. Uns renteiam contigo no lar, como verdugos da tua paz, obrigando-te a silêncios e renúncias em prol da harmonia doméstica. Outros se encontram na oficina de trabalho como chefes ou subalternos, exigindo-te valiosos atestados de humildade. Alguns estão ao lado dos teus amores, tratando-te com escárnio e zombaria, ferindo com estiletes de bem planejada impiedade os teus sentimentos nobres. Diversos atropelam-te nas ruas, insidiosos e perturbados malsinando tuas horas. Vários distendem as mãos na tua direção, mendigando piedade. . . Pensa nestes, os irmãos da caminhada física, necessitados do pão do teu exemplo e da lâmpada acesa da tua paciência. Oferece-lhes a mensagem de esperança e alento com que a fé espírita te sustenta, com abnegação e sincero desejo de que sejam felizes, mesmo que eles não desejem seguir contigo nas linhas renovadoras por onde rumas. Considera que necessitam de alguém que os ame no estado em que se encontram. . . São nossos irmãos da retaguarda, que tiveram horas de amargura por culpa nossa e que o Senhor consentiu recomeçassem a experiência evolutiva ao nosso lado, a benefício nosso e em favor deles próprios. Não esperes que desencarnem para que os ames ou ores por eles. Ajuda-os desde já. Possivelmente não te compreenderão nem deves esperar que te compreendam. Aprendes, nas experiências socorristas através do concurso da mediunidade, que os náufragos de hoje no Além-Túmulo, já se encontravam perdidos desde antes de seguirem. . . * * * É verdade que Jesus atendeu os perseguidores do homem de Gadara com amor e severidade; socorreu, benigno, os obsessores do jovem epilético e, quanto possível, alongou sua mensagem aos atormentados que a morte colheu. Todavia, o seu ministério de amor entre as criaturas da Terra foi exercido principalmente para aqueles considerados “irmãos difíceis” que terminaram por crucificá-lo, instigados embora por verdugos do Mundo Espiritual. No entanto, mesmo na Cruz foi para esses, os perseguidores e difíceis que Ele ofereceu a Sua mensagem de perdão como a ensinar-nos que as tarefas de redenção e amor, começa hoje e agora em nós e em torno de nós, no lar e em toda parte, ampliando- se até aqueles que partiram sem que saibamos onde e quando terminarão, porque espera Ele nos transformemos em “cartas- -vivas” do seu Evangelho Redentor. 11 ESQUECIMENTO DO PRETÉRITO Conquanto estejasinformado a respeito da ação do passado sobre o presente, deixas-te dominar quase sempre por dúvidas atrozes que espezinham tuas convicções, fazendo-te sofrer. Conjecturas quanto ao esquecimento que acompanha o espírito na reencarnação, e supões que esse olvido, de certo modo se faz obstáculo ao discernimento entre amigos e adversários da tua felicidade. Seria mais justo que, assim pensas, em momentos de rudes provanças, os centros da memória anterior fossem libertados e a censura que frena as recordações deixasse fluir os rios do conhecimento de modo a agires com acerto. Confessas intimamente o tormento que te consome por caminhares sem o conhecimento do destino, tendo em vista a ignorância do pretérito, assinalando desolação e dor. E concluis, apressado, que a reencarnação, em tais bases, não expressa condignamente o amor de Nosso Pai, afirmando que, em ti mesmo não encontras, na memória, os fundamentos que favoreçam a segurança que gostarias de possuir para levares de vencida a experiência evolutiva. Pensas, e, no entanto, desconheces a mecânica do raciocínio a nascer nos centros cerebrais. Ages sob impulses desconhecidos, e ignoras a razão deles. Vives governado por automatismos fisiológicos que te mantés a harmonia orgânica sem lhes conheceres a procedência. . . . . .. Vês, ouves, sentes, falas, distingues gostos, no que se refere aos débeis órgãos dos sentidos físicos sem indagações, sem exigências e, todavia, deixas-te conduzir tranquilamente. Observa a dificuldade que experimenta uma criatura excepcional aprendendo a falar, comer, controlar os movimentos... Entenderás, então, que se não te é lícito recordar o passado, a outros espíritos mais esclarecidos e fortes que o teu é permitido navegar no oceano das recordações com alguma segurança e naturalidade... Ao invés de castigo, o esquecimento das vidas passadas é dádiva celeste. Desejarias identificar os sicários da tua paz e os cooperadores da tua alegria. Examina, no entanto, as afinidades, considera as emoções junto aos que te cercam, medita e conclui com o auxílio do tempo. Abre, todavia, os braços, a quantos se acercam de ti, procurando envolvê-los nas vibrações do entendimento e da cordialidade, para fruíres afeição e simpatia. * * * Encontras obstáculos afetivos no lar entre os membros da família e experimentas, não raro, asco senão revolta por aqueles a quem deverias amar nas amarras do sangue. Reações indomáveis, a se manifestarem como animosidade, alquebram o teu ânimo em casa, levando-te a desesperos e a atritos lamentáveis. Acalentas, ou és vítima de idiossincrasias(6), senão aversões, por filhos ou irmãos, lutando tenazmente por vencer a força negativa que te assoma na presença deles, sem resultados positivos. A estada na intimidade doméstica se constitui penoso período, encontrando, todavia, motivos de júbilos sob tetos alheios. . . . . . E desejarias recordar o ontem! . . . Se em ignorância quanto mal que te hajam feito eles os teus familiares, te sentes incapaz de fitá-los, entendê-los, ajudá-los e amá-los, oferecendo-lhes compreensão e simpatia, como te portarias se, na filha revel identificasses antiga companheira que o adultério arrastou, no irmão consanguíneo o destruidor do antigo ninho de venturas que o tempo não consumiu, no pai ou mãe, no filho ou noutro parente o arquiteto da tua ruína ou a vítima da sua sandice? Esquecer o mal para agir com acerto é luz de amor na lâmpada da oportunidade. Ignorar os maus para ajudá-los significa ensejar-lhes, com igualdade de condições, ocasião de repararem os males que tenham praticado. Lutar contra a antipatia, procurando ignorar as causas da aversão representa valioso esforço de libertação íntima. Considerando a pequenez e a inferioridade moral de quantos se encontram na Terra, o abençoado Hospital-Escola para os recalcitrantes, os Excelsos Promotores dos renascimentos fazem que a mente espiritual mergulhe no olvido, a fim de que as lembranças dos atos infelizes não os enlouqueçam e as evocações abençoadas não os paralisem em recordação insensata ou improfícua. * * * Jesus, o Egrégio Coordenador da Vida no Orbe, lecionando sobre a necessidade do bem atuante, não poucas vezes exortou ao amor puro e simples com o esquecimento do mal, para que este não se corporificasse em sombra tenebrosa acompanhando nossa consciência. E desejando imprimir com sulcos profundos o ensino sublime, conclamou os que O seguissem a duplicar a bondade em relação aos que nos peçam algo, mandando oferecer a outra face ao agressor para que não fôssemos os promotores do mal ou vitalizadores da impiedade. E assim o fez por conhecer o abismo que a ignorância da verdade representa e a baliza de luz que significa o amor no caminho da evolução, amor que nos faz esquecer o mal para somente nos lembrarmos do bem. . . 12 MANSOS Aqui, a impiedade ao passar deixou profundos sulcos e o triunfo, agora, adorna a cabeça do déspota que vive indiferente à sorte do próximo. Ali, o poder fez morada, no lar de verdugo cruel, acostumado a perseguir. Adiante, os maus conseguem aplausos, recepcionados pela afabilidade geral entre sorrisos e festas. Tens, assim, a impressão de que a Terra está convertida num covil de salteadores e que a honra, incompreendida, silenciou sua voz, sendo substituída pelo descalabro moral. Diante das facilidades de que tantos se utilizam e que estão ao teu alcance, indagas: “Não será loucura permanecer no posto a que me atenho? ” E confrontas: alguém que te parecia a personificação do equilíbrio foi arrastado vilmente pela cobiça e o erro; outrem de valor aos teus olhos, revelou-se de inopino servo de interesses subalternos, mostrando-se vassalo de paixões animalizantes. . . Nubla-se tua visão, afliges-te intimamente e concluis que o melhor a fazer é segui-los. . . Refaze, porém, os painéis morais de tua mente. Deixa-te afagar pela brandura e pacifica-te. * * * O macrocosmo é constituído de átomos que são, por sua vez, universos miniaturizados. A floresta impenetrável é dependência do filete d’água que lhe alimenta as raízes, no imo da terra. O Sol imponente gasta-se enquanto consome massa em energia. A vida moral e espiritual na Terra, do mesmo modo, é serva das mil insignificâncias nobres de que o Senhor se serve para a construção do melhor. Ê imperioso que permaneças no posto do bem servir. Deus, é verdade, não tem pressa. Apesar disso tens infinito caminho a percorrer na senda evolutiva. Cuida, desde agora, de exercitar a mansuetude e a cordura. Se o Orbe fosse o paraíso dos pacíficos, a mansuetude dos justos seria lugar comum. Por isso se faz necessário que dilates os tesouros da benignidade e da paciência. As transformações sócio-econômico-morais que se preveem, começarão dentro de cada espírito afervorado à causa da justiça. A humanidade começa na célula-homem. Dá começo ao programa do mundo feliz, hoje e agora, vivendo-o em ti mesmo. Porque fosse difícil, no jogo falaz das ansiedades humanas, a permanência nos altos postulados da vida cristã é que o Mestre, com sabedoria e propriedade, considerando os obstáculos a transpor entre tantas tentações, nos animou com elevado prêmio, informando: “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a Terra”. 13 SOCORRO ESPIRITUAL Quando tropeçaste, supuseste que te faltaram socorros espirituais. Quando caíste, acreditaste que a bondade celeste se esquecera de ti. Quando sofreste, pensaste que carregavas imerecido fado. Quando perseguido, creste que pagavas um tributo injusto. Quando fruías júbilos, porém, considerava-los como re-sultado do esforço próprio. Quando desfrutavas saúde, acalentavas pensamentos frívolos que te punham em condição de privilégio. Quando sorriam venturase juventude, concordavas com a sabedoria divina. Quando facilidades tropeçavam nos teus pés, nem sequer te lembraste da transitoriedade daquilo que se detém. Agora, quando choras, precipitado, impões auxílio, clamas por atenuantes, exiges lenitivos. . . falas sobre a bondade dos Espíritos Puros que, nessa hora, parecem distantes. . . No entanto, não examinaste antes de sofrer os que tropeçara, caíram, sofreram e foram perseguidos, clamando por socorro, esperando também por ti. . . * * * Sim, eles sofrem contigo e gostariam de ajudar, porém te distanciaste dos abençoados Numes Tutelares, quando a eles infligiste a dura prova das tuas deserções. O teu primeiro tropeço não poderiam eles evitar-te. Levantaram barreiras, estabelecendo muralhas vibratórias, reiteradas vezes, em teu favor. Arrebentaste-as todas a golpes de rebeldia e imprevidência. A tua queda, adiaram-na eles, ajudando-te, infatigáveis, continuadamente. Dificultaste-lhes a permanência a teu lado, azorragando-lhes a presença com a desordem e a falta de decoro na conduta. As dores, as lágrimas, os débitos ajudaram-te eles quanto puderam, a fim de que fossem diminuídos todos. . . Nos dias do teu contentamento, às horas da saúde e da juventude, nos momentos da facilidade, atiraste a oportunidade fora e espontaneamente te afastaste deles para a breve viagem de longa volta. Insistiram contigo, através de mil lições que aproximaram do teu raciocínio Falaram-te pela intuição, em linguagem muda e poderosa. Volutearam em torno de ti, buscando meios de ajudar-te. Mantiveram entrevistas, além do corpo denso, nos momentos de parcial desprendimento pelo sono. Oraram. Sofreram. Choraram. Não os quiseste ouvir. Trocaste-os pelo império agradável da volúpia. Foste viajar para longe do convívio deles. Sim, os Espíritos Bons não te esqueceram. Tu os esqueceste. Embora vibratoriamente ainda te encontres longe deles, estão eles perto de ti, aguardando... Aguça a alma e rala as tuas imperfeições — ouvi-los-ás. * * * Contam as anotações evangélicas, com riqueza de linguagem, que, instado pelo próprio filho a receber seus pertences e ir para longe gozar, um pai, lacrimoso, compreendendo-lhe o anseio, deixou-o partir. Este distanciou-se da casa do genitor e gozou. . . até sofrer o convívio de animais em imunda pocilga. Experimentando acerbas dores morais, lembrou-se do pai amigo e, depois de recapitular mentalmente a loucura, juntou os trapos ao corpo trôpego e, ele que saíra sorrindo, ansioso, retornava lacrimoso, sem outro haver senão o tesouro da experiência, ao lar paterno que, embora fosse relegado à distância, sempre o aguardara. Volta, também, após recapitulares as experiências, ao lar da bênção — onde o dever tem primazia ao prazer — e deixa-te, humilde, banhar de paz, a paz que eles, os teus abnegados Amigos Espirituais, te podem doar. 14 ASSISTÊNCIA SOCIAL E ESPIRITISMO Diante das multidões esfaimadas, dos velhos ao desabrigo, das crianças socialmente abandonadas, dos doentes ao desamparo, da mendicância e da dor contemplas, através das telas da imaginação, a humanidade espírita-cristã do futuro e antevês os tesouros da assistência social ao alcance de todos, oferecendo bênçãos e socorro em abundância. . . Desejas, desde logo, antecipar essa Era de Paz, procurando erguer uma Instituição que possa expressar a realidade do amor em bases positivas com socorro e assistência aos aflitos da Terra. E pensas em assistência social, falas sobre assistência social, realizas assistência social. Aqui como ali, tocados pelo mesmo entusiasmo, companheiros de lide espírita levantam obras assistenciais respeitáveis, capazes de atenuar muito sofrimento e diminuir muitas dores. O primeiro sinal da conversão ao Espiritismo para muitos é caracterizado pelas “mangas arregaçadas do paletó” no serviço de assistência social, objetivando o próximo combalido. Impulso nobre, merece, no entanto, consideração e exame... A dor que tumultua o coração do homem do presente conserva, todavia, raízes fixadas no passado. . . Tentar o cultivo em solo coberto de mata espessa e danosa, seria candidatar as valiosas mudas à asfixia e à morte, em não se cuidando do arroteamento cuidadoso da terra. Por isso é indispensável mergulhar a meditação nas causas do sofrimento humano e, utilizando os ensinos espíritas, visitar a intimidade das mentes fazendo luz íntima. . . Podes apresentar os evidentes sinais da convicção espírita sem os atavios do movimento externo que todos identificam, procedendo de maneira segura e concisa intimamente. Tantos se preocupam com as consequências dos males, que olvidam as causas dos males em si mesmas. É imperioso, pois, colimar os objetivos espiritistas no panorama moral da própria alma. Conduta reta, fidelidade ao dever, respeito às tarefas alheias e alheios direitos, discrição e sinceridade, cultivo da fé e da humildade, tolerância com perseverança nos ideais esposados, mesmo quando haja conspiração aparente do mal, renúncia às ambições com os derivados da alegria espontânea e de um coração rico de esperança também são altas expressões de identificação espírita e renovação social que, todavia, começa em quem pretende retificar e solucionar os problemas alheios. Não pretendemos colocar à margem as tarefas ponderáveis da moderna filantropia, da considerada assistência social. Desejamos, apenas, realçar o valor que vai sendo desconsiderado, de situar em primeira plana o Espiritismo que objetiva a estruturação moral do homem nas lídimas bases evangélicas; e estas são essencialmente as da reforma interior com as consequentes manifestações do amor ao próximo. . . como a si mesmo. Nem Espiritismo sem assistência social, nem assistência social sem Espiritismo, para nós espiritistas encarnados ou desencarnados. * * * O Espiritismo, como bem definiu Allan Kardec “trata da origem, da natureza e do destino dos espíritos. . .” convidando o homem para ser “hoje melhor do que ontem e amanhã melhor do que hoje”. . . Assim sendo é imperiosa a tarefa de estudá-lo, buscando conhecer as nascentes da vida, a jornada do princípio espiritual e trabalhando com segurança e valor a si mesmo para, renovado cada dia, apresentar o índice de melhoria moral e espiritual de cada hora. O conhecimento da Doutrina Espírita colima na sua aplicação com a assistência social; no entanto, a recíproca não é verdadeira. Espalhemos a Revelação Espírita e, iluminando os que esmagam e estrangulam corações estimulando a miséria, o desconforto, o abandone de grande parcela da humanidade, estaremos salvando o amanhã, porquanto, o homem generoso e esclarecido de agora não renascerá para ressarcir e recuperar nas palhas da pobreza e na enxerga da dor. E guardemos a certeza de que, ao lado da assistência material que possamos doar, a assistência moral e espiritual deve ter primazia. Alguns amigos menos esclarecidos falarão sobre sectarismo, outros poucos afervorados à convicção espiritista informarão que o auxílio não deve ser trocado pelo impositivo do ensino. . . Não lhes dês ouvidos. Derrama no gral da generosidade que te enobrece o perfume da fé renovadora que te liberta e dá a libar(7), a quantos te buscam, esse incomparável elixir... Quando te encontrares com a moderna metodologia da assistência social nunca te esqueças de, depois dela, converteres o coração, junto ao sofredor, em dois braços abertos à semelhança de Jesus, guardando a postura de quem deseja, no próprio seio agasalhar a dor. * * * O Inimitável Governador da Terra, homenageado por jubilosa cortesã, antes obsidiada e recém-liberta, que lhe untava os pés com perfume raro, respondeu a Judas, que pensava a respeito da aplicação que se poderia dar à essência exótica, se transformada em moedas edirigidas aos necessitados: “os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes”... Aromatizemos a senda por onde seguimos ajudando e amando; mas conhecendo, também, quem somos, donde vivemos e para onde vamos, procedamos com equidade e honradez, oferecendo ao mundo atormentado a segurança de nossa renovação espiritual com o amor dilatado em forma de auxílio a todas as criaturas. 15 BENEFÍCIO E GRATIDÃO Deslizando incansável, o rio não cogita de examinar, as bênçãos que conduz nem sindica o solo por onde segue. Bailando no ar, o perfume nada pede além da amplidão para espraiar-se. Convertendo-se em alimento, não espera o grão outra dádiva da vida senão trituramento. O sol fecundo não escolhe sítio para visitar com luz, calor e vida. A chuva fertilizante não tem preferência por onde espalhar vitalidade. Todos cooperam em nome da Divindade sem exigências e sem reclamações. São úteis e passam. Nada esperam, nada impõem. Aqueles que os podem utilizar, beneficiam-se e não recordam sequer dos bens que auferem com eles, mas nem por isso eles deixam de produzir. Examinando as lições sem palavras com que a Natureza se expressa, pode o homem, com o discernimento, muito fazer em favor do próximo e de si mesmo. * * * Não digas, quando a ingratidão te bater à porta: “Nunca mais ajudarei a ninguém! ” Não exclames, quando a impiedade dos teus beneficiários chegar ao reduto do teu lar: “Para mim, chega!” Não reclames, quando a soberbia dos teus pupilos queimar tuas mãos generosas com as brasas da maldade que carregam consigo: “E eu que tudo lhes dei! ” Não sofras, dizendo, quando o azorrague daqueles a quem amas te ferir o devotamento: “Arrependo-me de ter ajudado! ” Não retribuas mal por mal, pois que, assim, vitalizarás o próprio mal. A noite domina quando encontra sombras no roteiro e a enfermidade se alastra quando se agasalha em organismos indefesos. O bem que se faz a alguém é luz que se acende interiormente. Gostarias, sim, de recolher gratidão, amizade, compreensão ... Todos nós gostaríamos de experimentar os pomos da gratidão. A árvore, porém, não pergunta a quem lhe colhe o furto para onde o carrega, que pretende dele. Felicita-se por poder dar e se multiplicar através da semente que, atirada alhures, abençoa o novo solo com outras dádivas de alegria. Imita-lhe o exemplo. Teus frutos bons, que produzam bons frutos além. . . Tuas nobres tarefas, que se desdobrem em tarefas superiores mais tarde. A ti a alegria de fazer, doar, e nunca a ideia de colher reconhecimento ou gratidão. Gratidão, pode ser, também, pagamento. Seja grato o teu coração, mas não esperes pelo reconhecimento de ninguém. * * * A reencarnação, por impositivo da Lei, aproxima de ti queridos afetos de ontem, adversários do pretérito que te buscam para receber ou para exigir, envergando trajos diferentes e estranhos sobre espíritos conhecidos. Refaze ou completa a tarefa interrompida, o dever esquecido. A água do rio harmoniosa que o sol traga em hausto de calor tornará ao solo, ao curso antigo, em chuva dadivosa. O bem que faças, viajando sem parar em muitos corações, espalhará luz no longo curso e, amanhã, — nos caminhos sem fim do futuro — mesmo que não o saibas ou o tenhas esquecido, ressurgirá mais além, mais formoso, mais fecundo. 16 FAZENDO SOL Além da cela em que te enclausuras, alimentando as vitórias dos sofrimentos que crias entre sombras mentais, o trabalho socorrista espera braços para acionarem a alavanca da oportunidade, em favor de outros mais necessitados do que tu mesmo, que não podem parar nos degraus da lamentação. Eles passam pela vida entre soluços e provações, a que desde cedo se encontram vinculados. Dirás, no entanto, que eles já se acostumaram e que as dores que te laceram são insuportáveis. Ignoras, certamente, a dor de uma mãe viúva e enferma sustentando em braços fracos o filho misérrimo e esfaimado; não sabes o desgosto profundo que experimenta um pai envelhecido que a tirania dos filhos jovens atirou à sarjeta e ao abandono; desconheces o sinal da orfandade, desde as primeiras horas nas ruas do desconforto, em forma de complexos e recalques malsinantes; desconheces os punhais invisíveis das dores morais que despedaçam o coração e mil outros angustiantes golpes com que o pretérito culposo pune no presente os infratores da Lei.. . Ameniza tuas provações ajudando outros sob a dolorosa cruz de provações sem nome. Há fome de amor perto do teu leito de queixas. Levanta-te da inércia a que te vinculas impensadamente e aciona a máquina da beneficência. * * * A palavra de acolhimento fraternal que endereças a alguém é raio de sol na direção da vida. A reprimenda que silencias se converte em reservas de piedade a teu próprio favor. Todos somos imperfeitos em luta titânica pela ascensão aos páramos da luz. Quantos bens se demoram encurralados em tuas mãos e quantas oportunidades te passam improdutivas?! Acompanha a viagem da semente em transformações incessantes até uma nova semente. Segue a jornada de uma moeda perdida na ociosidade do teu cofre e consigna os bens que pode espalhar quando dirigida pelos poderes da caridade. Aplica o minuto do repouso indébito e desnecessário, edificando algo bom em alguém ou para alguém, e as noites do desassossego fulgirão com os lampejos das estrelas do teu esforço clareando caminhos. Muitas dores são filhas da ociosidade. Diversos males descendem da ignorância dos males reais. Múltiplas enfermidades desenvolvem-se na madre da inutilidade. Vidas vazias são colunas belas e decoradas sem base nem utilidade, dispensáveis e frágeis. A autopiedade pode ser comparada à hera constringente que despedaça a frincha em que se apoia... Lá fora, além da cela do teu isolacionismo, está fazendo sol e Jesus, hoje como outrora, esquecido de si mesmo e das ingratidões dos homens e do mundo está recolhendo corações para a lavoura do amor. * * * Deixa-te inundar da poderosa mensagem da luz e vencerás as sombras do pessimismo e da nostalgia que te vencem desapiedadamente, fazendo-te entender, porque para quem ama sempre “está fazendo sol”. 17 COM PACIÊNCIA E PAZ Revolta surda vai assenhoreando-se da tua mente ao considerares que os teus mais salutares alvitres não são aceitos por aqueles a quem te afeiçoas e procuras ajudar. Argumentas com segurança, arrimado à lógica e, no entanto, os mais íntimos te parecem distanciados de qualquer programa de elevação, avançando desassisados para os ruinosos caminhos da criminalidade a que se vinculam. Antes, quando ignoravas o testamento cristão, nas diretivas com que o Espiritismo te enseja, acalentavas o desejo de renovação segura e estável que oferecesse base à paz interior com clima ameno de confiança nas disposições superiores. Hoje, clareado por convicções felizes, desejas expor e esclarecer, facultando oportunidades igualmente venturosas aos eleitos da tua afeição. Ages mal, porém, por te deixares consumir pela inquietação ante a rebeldia deles. O solo sáfaro, impermeável à água e ao adubo, demora-se calcinado e infeliz. A nascente débil que se não liga ao rio generoso escalda-se e desaparece. A correnteza que desdenha as fontes das margens do próprio curso, candidata-se ao desaparecimento. A rebeldia como a presunção já caracterizam a infelicidade de quem as conduz. Há ocasiões próprias para semear. A oportunidade certa ensejar-te-á operosa ação para a sementeira da verdade. Evita o peso da ira no serviço de esclarecimento ou em qualquer circunstância. A “cólera divina” é configuração meramente humana que não corresponde à verdade. Quem deseja ajudar no despertamento de espíritos porfia criando ambiente de luz, reconhecendoque o tempo é o grande professor dos desatentos. * * * Muitas vezes o Mestre não foi ouvido por aqueles a quem muito amou. Os que conviveram no círculo do seu afeto por mais de três anos, cercados de carinho e envoltos na esfera do seu inefável devotamento atestaram conhecê-Lo pouco, quase nada entendendo das suas lições. Ele, porém, compreendia que os que O não recebiam já estavam punidos e deles se apiedava... Desdenhar a luz e fugir-lhe à contribuição valiosa é candidatura à enfermidade e à morte. Os que desprezam o banho lustral da palavra de vida empalidecem as possibilidades de redenção e liberdade real. O Evangelho nos diz que “os seus não O receberam...” No entanto, Ele sempre recebeu a todos, estando à disposição de todos. Entre os que O buscavam estavam homens e mulheres de renomada posição e dos mais escusos antros das cidades. Muitos se disputavam recebê-lo em suas casas, tê-Lo às suas mesas, talvez para se beneficiarem da notoriedade d’Ele ou para conhecê-Lo de perto. Incansável, porém, demorou-se em serviço enquanto era tempo, sem reclamar nem transigir com aqueles que não O queriam, nem O escutavam, nem O recebiam. . . * * * Não há outra conduta a adotar, a serviço d’Ele, senão aprendendo com Ele a lição da sua conduta... Os que agora não podem avançar contigo, virão depois. Propicia-lhes terreno e prossegue à frente, abrindo rota de segurança entre dificuldades. O valor da mensagem que conduzes com doação da própria vida é tesouro que, em te enriquecendo da luz do discernimento, fará de ti emissário da paciência e da paz, sem campo para que grassem as sombras da revolta ou da ira. 18 DESESPÊRO INJUSTIFICÁVEL Pensas: “Aceitei, confiante, a fé e a luta me parece mais rude. A fadiga me segue e o desespero me cerceia. Tenho a impressão de que forças tiranizantes me amesquinham, comprazendo-se com os meus tormentos”. Analisas: “Abracei o Cristianismo Redivivo no Espiritismo, guardando a esperança de esclarecido, repousar, e edificado pelo esclarecimento, viver em paz. No entanto, com a dilatação do conhecimento, parece-me que problemas com os quais eu não contava repontam multiplicados e dissabores me assinalam as horas”. Comentas: “Que ocorre comigo? Não desejava melhoras econômicas ao aceitar, a Doutrina renovadora, todavia, surpreendo-me com tantos insucessos.... Não aguardava um paraíso entre os companheiros, mas, por que a animosidade? ... Todo compromisso elevado exige esforço no empreendimento, luta na execução, força no ideal. Quem pretende fruir antes de produzir conserva infantilidade mental. O homem velho para despojar-se do manto característico não consegue fazê-lo sem uma grande revolução íntima. O passado de cada espírito em luta, na Terra, é todo um amontoado de escombros a retirar para reconstruir, reaparelhar. Enquanto alguém se demora em charco pestilento acostuma-se ao rescender da podridão. O horizonte visual é maior de quanto mais alto o contemplamos. É, pois, compreensível que, desejoso de uma vida melhor sejam concedidas às tuas possibilidades atuais as lutas redentoras para mais altos voos. Com as percepções espirituais desenvolvidas e sintonizadas com as Esferas da Luz, teus inimigos desencarnados, na retaguarda, redobram a vigilância junto aos teus movimentos e, de paixões açuladas ante a perspectiva de perderem o comensal de antigas loucuras, atiram-se, desordenadamente, “dispostos a tudo”... Ora, porfia, estuda e ama. A oração elevar-te-á além das sombras densas. A porfia retemperará tuas forças. O estudo dilatará a tua faculdade de discernir. E o amor te concederá as láureas da paz, oferecendo-te os tesouros inalienáveis da felicidade sem jaça. * * * Em “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec, O Emissário das Cortes Celestes, registrou: Sob a influência das ideias carnais, o homem, na Terra, só vê das provas o lado penoso"... "... Na vida espiritual, porém, compara esses gozos fugazes e grosseiros com a inalterável felicidade quo lhe é dado entrever e desde logo nenhuma impressão mas lhe causam os passageiros sofrimentos terrenos”. . . .... Não é possível, no estado, de imperfeição em que se encontra, gozar de uma vida isenta de amarguras. Ele o percebe e, precisamente para chegar a fruí-la, é que trata de se melhorar”. 19 TERAPÊUTICA ESPIRITA Para, no turbilhão que te desequilibra, e medita. Meditação é combustível precioso que mantém o vigor moral. Emerge das areias movediças e sedutoras das atrações fáceis e medita nas responsabilidades morais que enfeixas nas mãos. Meditação é dínamo poderoso que movimenta a máquina da ação. Estaciona, no caminho de inquietudes por onde seguem os teus pés, e faze um exame dos teus atos, demorando-te um pouco em meditação. Meditação é terapia que oferece paz. Esquece sombras e pesadelos e, antes de reiniciareis as tarefas que acalentas, deixa-te ficar algum tempo em meditação. Meditação é amiga fiel que corrige com bondade e esclarece com humildade. Se desejas, realmente, um método eficiente para ser mantido o alto índice de produtividade, evitando insucessos continuados ou erros constantes, elege a meditação como hábito salutar em tua vida. O cristão, e em particular o espírita, tem necessidade de meditar como de orar, porquanto se a vigilância decorre da meditação, esta é consequência dela. * * * Acreditas-te em soledade e por isso sofres. Medita e verificarás outros corações mais solitários ao teu lado. Levanta-te, visita-os e apresenta-lhes a Mensagem Espírita. Consideras-te enfermo e alquebrado, caminhando sem arrimo. Medita e encontrarás, próximos de ti, sofredores mais atormentados, contemplando em ti a felicidade que dizes não possuir. Dirige-te a eles e oferece a fraternidade que podes haurir nas Lições Espíritas. Aceitas como fato consumado a tua falta de sorte, no que diz respeito às atividades comuns a todos os homens. Medita e enxergarás corações vencidos, que te invejam o sorriso e a fortuna que afirmas não ter. Alonga até eles a compreensão espírita. Descobrirás, se meditares, que a Terra é um imenso hospital de almas mais sofredoras do que a tua e que, com os recursos de terapêutica espírita, poderás operar valiosas contribuições em favor delas, constatando a exatidão da máxima evangélica: “Mais se dará àquele que mais der”, porque, ao ajudares, sentir-te-ás também ajudado. Faze pequeno curso de Espiritismo em casa para ti próprio, «tildando a Codificação; aplica passes; oferece água fluidificada; concede palavras de alento; frequenta serviços de desobsessão; desperta para a vida espírita dentro de ti mesmo e, meditando para agir com acerto, desfrutarás a felicidade perfeita que ambicionas, porque meditar no bem e começar a fruir o bem desde agora mesmo. 20 JUSTIÇA EM NÓS MESMOS Transitam à margem da consciência com os centros da lucidez nublados, vivendo trágicos espetáculos íntimos que remontam ao passado. Passam, na vida física, hibernados espiritualmente. Autoflagelam-se, apagados para a liberdade. Estão hipnotizados. As experiências vividas na Erraticidade imprimiram-se no perispírito vigorosamente, e renasceram sob o império coercitivo das evocações. . . Apegam-se às ideias extravagantes que vibram nos centros mentais. Em semitranse, enovelam-se, cada dia, mais fortemente nos liames do próprio desequilíbrio. Mumificam-se em espírito. São dignos de compaixão. Estão no lar, nas oficinas de trabalho, nas ruas, em toda parte. Creram no poder da posse. .. Vilipendiaram a justiça, zombando da verdade. Viveram para si mesmos, esmagando esperanças alheias, trucidando alheias aspirações. Dormiram, enquanto na carne, na inconsciência da verdade, empedernindo os sentimentos, enregelando o coração. Renasceram prisioneiros
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