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Dimensões da Verdade -- Divaldo Franco; Divaldo Pereira Franco; Ditado por_ Joanna -- 1, 1965 -- Grupo Editorial Spiritvs -- 7a656bdeb61685168f05fd66b2e9e6ae -- Annas Archive

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* 
 
DIMENSÕES DA VERDADE 
DIVALDO P. FRANCO 
DITADO POR JOANA DE ÂNGELIS 
CAPA DE GILBERTO MANDARINO 
GRUPO EDITORIAL SPIRITVS 
RIO, 1965
 
Todos os direitos reservados para 
MANSÃO DO CAMINHO 
Rua Barão de Cotegipe, 124 — Salvador, BA 
1.a edição — 10.000 
Índice 
DIMENSÕES DA VERDADE 
Índice 
Ao Leitor 
Amigo 
01 CÉU E INFERNO 
02 NAO DITOS E NAO FEITOS 
03 SERENIDADE 
04 MÉDIUNS EM TORMENTO 
05 IMPEDIMENTOS 
06 LABOR INTRANSFERÍVEL 
07 EXAMINANDO O SOFRIMENTO 
08 SÓS COM OS OUTROS 
09 CANSAÇO 
10 AUXILIO AGORA 
11 ESQUECIMENTO DO PRETÉRITO 
12 MANSOS 
13 SOCORRO ESPIRITUAL 
14 ASSISTÊNCIA SOCIAL E ESPIRITISMO 
15 BENEFÍCIO E GRATIDÃO 
16 FAZENDO SOL 
 
 
17 COM PACIÊNCIA E PAZ 
18 DESESPÊRO INJUSTIFICÁVEL 
19 TERAPÊUTICA ESPIRITA 
20 JUSTIÇA EM NÓS MESMOS 
21 MORTOS E MORTOS 
22 CARIDADE ANTES 
23 COMPROMISSO E RESGATE 
24 PAZ PELO TRABALHO 
25 PESSOAS, OPINIÕES E NÓS 
26 SUTIS E PERIGOSOS 
27 TRANSEUNTES 
28 COM INTEGRIDADE E CONSCIÊNCIA 
29 PRODUZE TU 
30 ANTES DA DESENCARNAÇÃO 
31 ESTÍMULO 
32 SOCORRO SEMPRE 
33 PREOCUPAÇÕES E MORTE 
34 CONSIDERAÇÕES 
35 CAMPANHAS 
36 PASSES 
37 CONFLITOS 
38 CARIDADE E DOUTRINA ESPÍRITA 
39 SOB TESTES E EXAMES 
40 DELINQUENTES 
41 CONTENDAS 
42 SOFRIMENTOS NA MEDIUNIDADE 
43 ESCÂNDALOS 
44 DESAFIOS 
45 CHORANDO PARA REALIZAR 
 
46 FANATISMO E IDOLATRIA 
47 VELHO ARRIMO 
48 CONSIDERANDO O PROBLEMA DA FOME 
49 REPOUSO TAMBÉM 
50 SUPLICIADO 
51 AO CHAMADO DO CRISTO 
52 DENTRO DO LAR 
53 ANTES DE TUDO PERDÃO 
54 SEXO E COMPROMISSOS 
55 FEITIÇOS 
56 ABANDONADO. MAS NÃO A SÓS 
57 O PROBLEMA DA MORTE 
58 INTELIGÊNCIA E AMOR 
59 HUMILDADE E JESUS 
60 RESSURGIRÁS 
Notas: 
 
Ao Leitor 
O Grupo Editorial SPIRITVS, departamento editorial do Grupo 
de Estudos SPIRITVS (GES), que publica a revista mensal 
SABEDORIA, tem a satisfação de ofererer a seus leitores a terceira 
obra de Divaldo Pereira Franco, o tribuno espiritista cujo nome está 
consagrado no Brasil inteiro, tendo mesmo atravessado as fronteiras 
do país, a espraiar a luz de sua palavra inspirada, por toda a 
 
 
América. 
Na esteira de sua inspiração oratória, Divaldo P. Franco tem 
recebido numerosos ditados mediúnicos, que apresentam as 
características da autencidade, no pensamento e no estilo. 
A publicação de suas obras constitui satisfação e honra para o 
GES, que visa assim a difundir páginas de rara beleza e sólidos 
pensamentos espiritistas, dentro do mais ortodoxo cardecismo 
cristão. 
Os proventos obtidos com suas obras, na parte destinada aos 
direitos autorais, destinam-se a auxiliar a "Mansão do Caminho", 
instituição que cria, sustenta, educa e instrui quase uma centena de 
crianças e adolescentes, além de assistir numerosas famílias 
necessitadas e criaturas idosas sem amparo. 
A finalidade, pois, da publicação das obras de Divaldo P. Franco 
é duplo: além de edificar e instruir os leitores, contribui para garantir o 
pão do corpo e do espírito à juventude que nele confia. 
Por esses motivos o GES tem todo empenho em divulgar e 
propagar ao máximo os trabalhos recebidos por Divaldo P. Franco. 
Grupo de Estudos SPIRITVS 
Rio, 1965
 
 
Amigo 
Narra antiga tradição que nos dias heroicos da pregação 
evangélica, no Cristianismo nascente, pernoitando numa lapa, 
Barnabé e Paulo comentavam vibrantes e emocionados sobre o 
tesouro que conduziam e o Príncipe a Quem se deram... 
Ouvidos atenciosamente por salteadores que por perto se 
açoitavam, dominados pela cobiça, de imediato avançaram armados 
e exigiram as moedas e o roteiro que conduzia ao tesouro, 
arrebatando, das mãos dos trabalhadores da Boa Nova, os 
apontamentos evangélicos de que se utilizavam para as pregações. 
Barnabé e Paulo referiam-se à Boa Nova, cujos gráficos 
conduziam em peles de carneiro e cuja mensagem entesouravam no 
coração como roteiro diário para a vida. 
Os bandoleiros pensavam em joias, moedas, tapetes, 
especiarias que ambicionavam, em troca da própria vida, se 
necessário. 
Dimensões da verdade. 
Tesouro para Paulo e Barnabé a Palavra da Vida. 
Tesouro que, para os malfeitores, se transformava em fardo de 
 
 
aflições. 
*** 
 “Eu SOU a porta... 
“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida... 
“Eu sou o pão da vida... 
“Eu sou a água viva... 
“Eu sou o bom pastor... 
“Eu sou a videira... 
“Vós sois o sal da Terra... 
“Vós sois a luz do mundo... 
“Vós sois as varas... 
“Vós sois as ovelhas... 
“Acautelai-vos... 
“Orai e vigiai... 
“Vinde a Mim...” — Disse o Mestre. 
A balada de há dois mil anos continua soando no ar, 
espraiando-se. 
Há muita dor afivelada a rostos coloridos e muita amargura 
sorrindo num festival de enfermidades disfarçadas. 
 
 
Tropeçam e se amparam mutuamente nas ruas da aflição o vício 
e a virtude buscando dominar. 
E a palavra do Cristo em dimensões da verdade excelsa todos 
os entendimentos repercute nos tímpanos do homem asfixiado em 
tormentos: “Bem-aventurados sereis...” 
* * * 
O Espiritismo, a seu turno, conforme enunciou o Sublime 
Embaixador, vem, “à hora predita” apresentar a verdade revelada 
nas dimensões do amor, da caridade e do estudo, através do 
trabalho digno, da solidariedade fraterna e da tolerância cristã. 
Pelos ciclos dos renascimentos o Espirito ascende às 
imarcescíveis alturas pelo devotamento ao bem e através da 
renovação íntima incessante. 
*** 
Nestas meditações, hoje trazidas à benevolência dos que nos 
leem, outro pensamento não nos animou senão o de que o 
Evangelho de Jesus revivido e confirmado na Doutrina Espírita é 
portador de todas as dimensões da verdade para o espírito humano 
em luta libertadora nos caminhos-sem-fim da evolução. 
Rogando ao Inefável Pastor, a Quem oferecemos o melhor dos 
 
 
nossos melhores labores, e esperando encontrar a compreensão 
generosa dos nossos leitores, exoramos bênçãos de paz para nós 
todos, desencarnados e encarnados, que trilhamos a rota da 
eternidade. 
Joanna de Ângelis 
Salvador, 10 de abril de 1965. (Ano do 
Centenário da publicação do livro “O Céu e o 
inferno", por Allan Kardec").
 
 
01 
 
CÉU E INFERNO 
“Assim também não é vontade de vosso Pai, que 
está nos céus, que um destes pequeninos se 
perca”. 
Mateus, 18:14 
 
As religiões que se derivaram do Cristianismo, no grande afã de 
aliciarem ovelhas para os seus rebanhos, de tal modo se 
preocuparam com a parte imediata da vida, que criaram um deus 
antropomórfico para lhes atender às exigências, estabelecendo 
diretrizes em torno da Justiça Divina, como se estivessem em 
condições de examinar, definir e difundir em padrões fixos a Excelsa 
Sabedoria a manifestar-se em incomparável amor em todas as suas 
representações. 
Assim surgiram as conceituações sobre o céu e o inferno com as 
características eternas... 
Concomitantemente apresentaram as fórmulas ingênuas e 
simplistas através das quais se poderia evitar um e conseguir outro, 
 
 
mediante processos, aliás condicentes àqueles que firmaram, em 
definitivo, os padrões da Soberana Justiça de Deus, em 
manifestações de culto externo e apresentações simbólicas, tendo 
em vista somente a forma. 
Para o adepto do Romanismo(1), por exemplo, a aceitação tácita, 
embora inconsciente, dos dogmas da Igreja e a submissão a eles, 
equivale a um salvo-conduto de fácil aquisição para repouso no 
Paraíso. . . 
Para os crentes das diversas igrejas da Reforma Protestante a 
fé, acompanhada de arrependimento, ao som dos recitativos 
bíblicos, constitui passaporte valioso para o Jardim de Eternas 
Bênçãos. . . 
E lamentável é que em alguns espiritistas pouco afeiçoados ao 
estudo e conhecimento do Espiritismo, nos moldes em que o 
apresentou Allan Kardec, a suposição de que a frequência a um 
Centro Espírita, o uso da água fluidificada e a recepção de passes, 
constituem bilhete de segurança para a viagem de além-túmulo, 
ondeos aguardam Espíritos de Luz para conduzi-los às Regiões 
Inefáveis da Imortalidade. 
Felizmente o Missionário lionês desde o princípio da Codificação 
Espiritista elegeu a Caridade como a base sobre a qual se levanta o 
 
 
edifício da felicidade e, ao mesmo tempo, consignou como 
normativas de segurança o Trabalho, a Solidariedade e a Tolerância, 
numa admirável síntese dos ensinos evangélicos. 
Não há como negar a existência de regiões de sofrimento, que 
variam ao infinito, para os espíritos culpados e irresponsáveis que 
habitaram a Terra, tanto quanto locais de repouso temporário e 
refazimento para os que edificaram o bem e a moral no próprio imo. 
Enxameiam, desde a Terra, os redutos de aflição corretiva e 
províncias de dor reparadora, ensejando aos trânsfugas do dever 
oportunidade de expungir, meditar, formular propósitos de retificação 
para novo berço, na carne, onde completarão o aprendizado 
evolutivo, com a paz de consciência ante os que foram afligidos e 
atormentados por sua incúria ou maldade. 
Da mesma forma se multiplicam estâncias de trabalho e 
edificação, onde o amor não repousa nem a felicidade se transforma 
em parasito, convidando o espírito ao retorno à retaguarda para 
levantar e conduzir os que se demoram nos charcos da aflição 
punitiva. . . 
A Divina Justiça dispõe de mil processos para manifestar o Amor 
de Nosso Pai. 
Trabalho desinteressado em favor do próximo, aprendizado 
 
 
contínuo, oração ativa, vigilância na romagem, exercícios de 
paciência e humildade, amor sempre, eis alguns dos recursos 
valiosos que o cristão não pode relegar a plano secundário. 
Se alguém te ofende, ferindo os teus sentimentos, enfloresce teu 
coração com o amor e perdoa. 
Se alguém se diz por ti ofendido, apresentando mágoas, recama 
teu pensamento de luzes em forma de entendimento e solicita que te 
perdoe. 
Não adies a oportunidade de desculpar nem atrases o momento 
de pedir desculpas. 
A carne é oportunidade sublime. . . e breve — passa mui 
rapidamente. 
Depois da aduana em que o corpo se consome em cinza e lama 
a consciência desperta cintilante e lúcida azorragando ou 
abençoando e, só então, se pode ter ideia do valor de um minuto 
gasto na tarefa-bondade ou de um momento na sementeira-aversão. 
Se desejas o céu da consciência tranquila em porto de luz, 
envolve-te na lã do Cordeiro de Deus e alcatifa tua senda com os 
dosséis da humildade, do amor e da caridade, seguindo 
imperturbável até à hora da desencarnação. 
 
 
Tendo, todavia, embora as tuas melhores intenções, 
remordimentos íntimos, para, medita e, antes de fazer a oferenda, no 
altar, consoante o ensinamento evangélico, vai fazer as pazes com o 
teu adversário amando-o com a um irmão. 
É preferível seres tu quem ama e perdoa, a carregares a chaga 
odienta do remorso, por ter perdido a oportunidade de tranquilizar 
alguém, hoje em sofrimento por tua causa, por falta do acolhimento 
fraterno que lhe negaste. 
Embora ignorado pelos mais amados companheiros, à hora do 
testemunho, Jesus perseverou amando. . . E Allan Kardec, dez anos 
depois da publicação de “O Livro dos Espíritos”, fazendo um balanço 
da vida, anotou em apontamentos particulares: “ ... Andei em luta 
com o ódio de inimigos encarniçados, com a injúria, a calúnia, a 
inveja e o ciúme; libelos infames se publicaram contra mim; as 
minhas melhores instruções foram falseadas; traíram-me aqueles em 
quem eu mais confiança depositava, pagaram-me com a ingratidão 
aqueles a quem prestei serviços. . . Nunca mais me foi dado saber o 
que é o repouso; mais de uma vez sucumbi ao excesso de trabalho, 
tive abalada a saúde e comprometida a existência. . . Mas, também, 
a par dessas vicissitudes, que de satisfações experimentei, vendo a 
obra crescer de maneira tão prodigiosa! Com que compensações 
 
 
deliciosas foram pagas as minhas tribulações! Que de bênçãos e de 
provas de real simpatia recebi da parte de muitos aflitos a quem a 
Doutrina consolou! .... Quando me sobrevinha uma decepção, uma 
contrariedade qualquer, eu me elevava pelo pensamento acima da 
Humanidade e me colocava antecipadamente na região dos 
Espíritos e desse ponto culminante, donde divisava a da minha 
chegada, as misérias da vida deslizavam por sobre mim sem me 
atingirem. Tão habitual se me tornara esse medo de proceder, que os 
gritos dos maus jamais me perturbaram”(1). 
O céu ou o inferno, são, pois, estados de consciência. 
 
 
(1) “Obras Póstumas” - Edição da F.E.B., página 354/6 Nota da 
Autora Espiritual. 
 
02 
 
NAO DITOS E NAO FEITOS 
 
Estudiosos afeiçoados aos “ditos do Senhor” mergulharam, em 
 
 
todos os tempos, o pensamento nas fontes evangélicas, em busca 
de consolo e diretrizes, encontrando na clara mensagem da Boa 
Nova o clima de paz e amor necessários a uma vida feliz. 
Narrativas comoventes relatam os encontros do Rabi Amoroso 
com os corações constrangidos pela dor e com os espíritos 
atribulados, a todos ensejando, pelo verbo luminoso e sublime, os 
roteiros libertadores. 
Páginas de beleza inefável têm sido elaboradas sobre os efeitos 
e as palavras do Enviado de Deus, favorecendo o pensamento 
humano com antevisões do porvir e sugerindo retrospectos das 
inolvidáveis emoções que viveram os que participaram das jornadas 
d’Ele. . . 
Infelizes e enfermos de variada classificação, obsidiados e 
dementes de muitas alienações foram reconduzidos à serenidade e à 
paz através da mensagem de esperança que Ele nos dá, desde 
então, como pábulo(2) que nos mantém alimentados, conduzindo-nos 
para a frente e o amanhã. 
*** 
Muito mais poderia ter dito e feito o Senhor. 
Nau o disse, porém, nem o fez. 
 
 
E o que não disse, o que não fez, são tão grandiosos que 
atentam a excelente procedência d’Ele. 
Recusado por uma aldeia do interior de ser ali agasalhado, nada 
disse, e instado pelos discípulos para que ateasse o figo do céu 
sobre o lugarejo ímpio, não o fez. Retirou-se em silencio, plácido e 
triste, seguindo adiante. . . 
Impossibilitado de falar ao povo de Gadara, após a recuperação 
psíquica do gadareno, não disse uma sentença contraditória, não 
teve um gesto de revolta. Imperturbável, retornou ao mar e à Galileia. 
. . 
Acusado por comensais dos interesses imediatos, de açular as 
massas infelizes que O seguiam esperançadas, não disse um revide, 
não expôs uma defesa, não reagiu com irritação, não fez uso dos 
seus poderes. . . 
Conclamado por aqueles que O desejavam triunfador na Terra 
não apresentou explicações, não debateu o assunto, retirou-se a 
sós... 
Diante de Pilatos quase nada disse, nada fazendo e, no entanto, 
poderia tudo dizer e tudo fazer. 
Na cruz, resignou-se a não dizer senão o indispensável para o 
tributo de amor, submetendo-se, incomparável, à Vontade do Pai. 
 
 
E mesmo depois de ressurgido não disse nem fez o que muitos 
esperavam. 
Afirmou a imortalidade atestando-a, realentou os companheiros 
com o seu amor de compreensão e, ao ascender aos Cimos, 
despachou-os para as tarefas do “dizer” e do “fazer” como Ele 
mesmo disse e fez. 
* * * 
Medita sobre os não ditos e não feitos do Senhor. 
Se a dificuldade e a incompreensão de quem amas, quando a 
serviço d’Ele, te amesquinham, não te amofines. 
Se a luta recrudesce e o combate acirra, não desesperes. 
Se a enfermidade avança e te vence, não desanimes. 
Se todos os males de fora e de dentro de ti mesmo ameaçam 
conduzir-te à desencarnação, não recalcitres. 
Não te defendas, se injuriado. 
Não te justifiques, se perseguido. 
Não te exponhas, se angustiado. 
Nada digas, nada faças, mesmo que tenhas o que dizer e 
disponhas de recursos para fazer. 
Teus ditos e teus feitos já falaram por ti. Se não se fizeram ouvir, 
 
 
porfia confiante, de fé robusta. 
Mais vale ser vítima da impiedade quando se está com a 
consciência tranquila, do que perseguidor entre ovações, carregando 
uma consciência em brasa. 
E se avida solicitar ao teu espírito o pesado tributo da tua 
doação total pela causa de amor que abraças, na Seara de LUZ do 
Evangelho e do Espiritismo, não te negues, não recuses, nada digas, 
nada faças, entregando a vida e aspiração às mãos d’Ele, pois que 
mesmo morrendo na liça incompreendido e ralado, ascenderás 
tranquilo aos páramos do amor para voltares a fim de ajudar, mais 
tarde, os que te perseguiram e injuriaram vitoriosamente, ficando, 
porém, nas linhas sombrias e tristes da retaguarda, esperando pelo 
teu socorro. 
03 
 
SERENIDADE 
 
A faina incessante da vida moderna, a sede de conforto 
supérfluo, a ânsia pelo prazer exorbitante, as demandas 
injustificáveis são apresentados invariavelmente como fatores 
 
 
básicos para explicarem os desequilíbrios da emoção que 
atormentam o homem. 
Não há tempo senão para viver. 
Viver bem, fruindo as concessões aligeiradas que o corpo 
enseja — a meta para a grande maioria. 
E semelhante a aventureiro ávido de prazer larga-se a criatura 
no cipoal das lutas, empenhando os valores de que dispõe, 
continuando, no entanto, inquieta, aflita. 
Educa-se ou se vai educando para o triunfo fácil. 
Disciplina-se ou deixa-se disciplinar antegozando o sabor da 
vitória em sociedade. 
Instrui-se ou deixa-se instruir para vencer. . . 
Educar-se, no entanto, para conhecer, peregrinando pelos 
meandros da dor humana, a fim de solucionar os milenários enigmas 
do espírito encarnado; disciplinar-se com o objetivo de renovar as 
disposições íntimas, no sentido da evolução espiritual; instruir-se 
para vencer a sombra da ignorância tendo em vista o impositivo da 
vitória sobre si mesmo, são diretrizes desconsideradas por muitos 
que, todavia, possibilitam a felicidade em termos reais e duradouros. 
De tal conquista frui o homem a satisfação da serenidade. 
 
 
* * * 
Marco Aurélio, referindo-se à tranquilidade, em suas 
Meditações, denominava como “tranquilo — um espírito bem 
ordenado’’. 
A serenidade é o estado de ordem que tranquiliza interiormente. 
Ordem que nasce da educação disciplinada pelo exercício do 
dever e esclarecida pela instrução que amplia as possibilidades do 
conhecimento. 
Acredita-se erradamente que para a serenidade são 
indispensáveis o conforto, a independência econômica, a 
estabilidade conjugal, a saúde e outros ingredientes externos 
considerados essenciais e raros de reunir-se num mesmo afortunado 
indivíduo. 
Alguns cristãos, na atualidade, justificam a falta de silêncio para 
cultivarem a serenidade. Outros dizem-se atormentados por 
problemas e informam que tudo são convites ruidosos ao desalinho 
da mente, à enfermidade nervosa, ao desajustamento. . . 
Com “olhos de ver” e “ouvidos de ouvir” naturalmente se podem 
descobrir fontes ricas de belezas capazes de banhar a alma de paz e 
harmonia. 
 
 
Painéis invulgares se desenham num raio de sol, numa estrela 
que fulge, num sorriso de criança, num farfalhar de folhas levemente 
balouçadas por brisas ciciantes, no tamborilar da chuva no telhado, 
numa ave ligeira bailando no ar, na harmonia e no colorido de uma 
flor, em mil nonadas..., convidando à serenidade, a “um espírito bem 
ordenado”.
 
 
“Não vos afadigueis pela posse do ouro”, disse o Mestre. 
A posse exaure aquele que possui. 
"O meu reino não é deste mundo”, explicou o Senhor. 
Em face de tais lições é que Jesus, embora sem encontrar entre 
os companheiros quem se identificasse com a sua mensagem de 
amor, amou e serviu a todos indistintamente e quando, mais tarde, 
sofreu o desprezo dos que mais se beneneficiara, da sua presença, 
expulso da compreensão dos que d´Ele dependiam no vozerio da 
perseguição em invulgar soledade, manteve-se sereno, acenando 
com bênçãos para os Infelizes e amando os próprios algozes na mais 
eminente demonstração de que serenidade com paz íntima é 
conquista do espírito, independente das excentricidades do mundo 
das formas. 
04 
 
MÉDIUNS EM TORMENTO 
 
Guarda a mediunidade, essa gema de inestimável preço, nos 
cofres fortes da conduta reta. 
Acompanhando os portadores da abençoada concessão, 
 
 
identificarás tormentos em torno deles, ameaçando-lhes a paz, 
inquietando-os. Tormentos íntimos que os seguem desde o passado 
culposo e tormentos de fora com mil faces de sedução. 
A mediunidade que enfloresce em tua alma é concessão da Vida 
para regularização dos velhos débitos para com a vida. 
Compulsando o Evangelho de Jesus Cristo, nele encontrarás os 
médiuns vencidos pelos tormentos, buscando o Mestre. No entanto, 
a grande maioria por Ele beneficiada, recuperou a paz íntima, 
calçando as sandálias do serviço edificante, permanecendo, porém, 
em vigília até o termo da jornada... 
Faze o mesmo. Aplica a palavra de carinho sobre a ferida aberta 
no cerne do companheiro aflito, mesmo que ele se guarde sob as 
sedas da vaidade; estende os braços ao passante atribulado, 
oferecendo-lhe entendimento a todo instante, doa o pensamento 
superior ao amigo amesquinhado no vendaval das paixões que 
necessita de amparo e de agasalho; oferece expressões de 
solidariedade ao homem de mente desalinhada que se deixou 
abraçar pelos tentáculos poderosos do polvo do crime. 
Pelo bem que faças, lentamente sairás do pantanal do 
desequilíbrio onde o passado te precipitou. . . 
Os tormentos de ontem te seguem hoje os passos pela senda da 
 
 
renovação. Tormentos de agora que surgem examinando a robustez 
da tua fé, são convites sóbrios para que te libertes e encontres paz. 
Para resistires, elege a oração do trabalho como companheiro 
inseparável da tua instrumentalidade mediúnica, para que os 
tormentos naturais não encontrem acesso à tua mente, nem guarida 
no teu coração. 
Mediunidade é filtro espiritual de registros especiais. 
Opera no bem infatigável em nome do Infatigável Bem e 
procura, médium que és, caminhando pelas mesmas vicissitudes por 
onde os outros jornadeiam, compreender todos, mesmo aqueles que 
parecem felizes e distantes dos teus recurso de auxílio. . . 
* * * 
Herodíades, a infeliz concubina do Tetrarca, dominada por 
obsessão cruel, fascinou-se pelo Batista e, repudiada, voltou-se 
contra ele, tornando-se peça principal no seu infamante assassínio. 
* * * 
Enquanto o Senhor pregava na Sinagoga, um espírito infeliz 
tomou a boca de um médium atormentado e insultou o Mestre, 
interrogando: . . . “que temos nós contigo”? . . . 
Antes do memorável encontro com o Rabi Afável, a jovem de 
 
 
Magdala portava obsessores lastimáveis que a vinculavam a 
compromissos cruéis com o sexo. 
Angustiado pai busca o Celeste Mensageiro para atender o filho 
perseguido por um “espírito que o toma, e de repente clama, e o 
despedaça até espumar”. . . 
Judas, embora a convivência constante com Jesus, guardando 
investidura medianímica, deixa-se enredar pelas seduções de 
mentes perturbadas do Além. . . 
Considera a mediunidade como meio de sublimação. Raros, 
somente raros médiuns trazem o superior mandato consigo. A quase 
totalidade, no entanto. ... 
O médium falante, cuja boca se enriquece de expressões 
sublimes, muitas vezes é um coração sensível ligado a 
compromissos e erros dos quais não se pode libertar; o médium 
escrevente, por cujas mãos escorrem os pensamentos divinos, 
compondo páginas consoladoras, quase sempre caminha sob 
sombras de angústias interiores, sem forças para colocar a luz viva 
do Mestre na mente turbilhonada; o médium curador, que distende os 
recursos magnéticos da paz e da saúde e que parece feliz na sua 
posição socorrista, é, invariavelmente, alma em perigo, entre as 
injunções de adversários impiedosos do mundo espiritual, que lhe 
 
 
sitiam a casa íntima, apedrejando-o com sofrimentos de todo jaez: o 
médium que enxerga, através de percepção especial e que surge 
como abençoado donatário da mediunidade superior, na maioria das 
vezes tem os olhos perturbados por visões cruéis, que retratam osseus dramas íntimos, fugindo de si mesmo, sem forças para 
continuar: o médium que reflete o pensamento social, em acórdãos, 
nos tribunais da justiça terrena, ignorando a sua posição de 
medianeiro entre as forças do bem e o mundo dos homens, pode ser 
um pobre obsidiado pelas mentes vigorosas vingadoras da 
Erraticidade inferior... 
Apiada-te de quantos passam, oferece o coração, doa a tua 
prece e agrade a Jesus, o Médium Excelso, a preciosa lição que hoje 
te clareia os passos, ajudando-te a vencer os tormentos que te 
impedem o avanço, recordando que “o bom pastor dá a sua vida 
pelas ovelhas”. 
05 
 
IMPEDIMENTOS 
 
No exercício mediúnico serás surpreendido por dificuldades e 
óbices que te impedem a ascensão, ao desejares evoluir. 
 
 
Obstáculos do personalismo destruidor e empeços do egoísmo 
avassalante surgem a todo instante. 
Dificuldades que te ferem os pés, a brotarem do solo; 
compromissos que te prendem ao potro de necessidades vigorosas, 
repontando dos recônditos íntimos. 
Além desses, defrontarás, ainda, outros mais difíceis de 
vencidos. 
Adversários do passado que te falarão a sutil e terrível 
linguagem da obsessão, através de intuições negativas, tentarão 
semear dúvidas, para que percas a coragem na luta. 
Por meio de pensamentos cruéis, serás perturbado na 
estabilidade emocional, para que te detenhas na jornada evolutiva. 
Em processos de inspiração negativa se utilizarão de ideia infeliz 
e pertinaz, ferindo-te os sentimentos, a fim de que te desiludas, em 
relação aos companheiros da seara onde mourejas. . .
 
 
Experimentarás, também, a incompreensão dou que te as 
ideias, atormentados em si mesmos, que te verão através das lentes 
que elaboraram para uso próprio. 
Zombadores malsinantes se farão perseguidores gratuitos em 
vestes amigas, conservando no semblante o sorriso de acolhimento 
fraterno, enquanto escarnecem. 
E dos que transpuseram a aduana da morte, sofrerás as 
vibrações interiores, os projéteis vigorosos dos pensamentos deles; 
deles registrarás o assédio constante, despertando em círculo de 
logo no qual tua resistência poderá baquear. 
* * * 
Não te detenhas, porém. É necessário seguir adiante. 
Se os obstáculos se demoram em ti mesmo, clareia a alma com 
a labareda da fé. Acende no coração a flama do culto ao dever e, 
genuflectindo-te intimamente, confia na Providência Divina, que está 
edificando o mundo novo com o barro deficitário da criatura humana. 
Se os óbices repontam através dos companheiros 
atormentados, detém-te um pouco a meditar para prosseguir e 
realiza, outra vez, o exercício da oração e da paciência. 
Não te agastes com eles, acionando a lâmina ferinte da língua, 
 
 
revidando os golpes recebidos. Lembra-te de que também eles são 
afligidos do caminho. 
Imprescindível que evoluas para que outros evoluam através do 
teu exemplo. 
Se apesar disso identificares nas tuas dores a força rude dos 
perseguidores desencarnados, procura, ainda uma vez mais, o 
santuário da prece e refugia-te na oração. 
A oração é combustível excepcional para o lume da vida. 
Vítima de hoje, algoz de ontem. 
Filho rebelde de agora, pai descuidado do passado. 
Cada um é herdeiro dos próprios atos. . .
 
 
Alegra-te e transforma tuas dores em oportunidade de 
meditação para eles, os teus perseguidores, conduzindo o teu fardo, 
na mediunidade — essa porta de luz —, dignificando a consciência, a 
fim de galgares o monte da tua sublimação com nobreza, e poderes 
chegar aos braços da vida harmoniosa. 
* * * 
Aquele que serve ao Senhor, carregando a cruz da mediunidade 
encontra, a cada instante, justos e necessários motivos de provação 
e dor. . . Não é lícito, por isso, esquecer que, desdenhado, 
perseguido e vitimado pela impiedade, o Mestre Divino, plantado 
numa cruz, transformou esse instrumento de aflição e insulto em 
escada, através da qual estabeleceu a ponte de luz entre o mundo 
físico e o mundo espiritual . 
. . . “— E porque abundará a iniquidade, a caridade de muitos 
esfriará. Mas aquele que perseverar, até ao fim, se salvará”, — 
ensina com segurança o Senhor, consoante as anotações de 
Mateus, no Capítulo 24, versículos 12 e 13. Persevera, lutando 
contra os impedimentos e servindo, sejam quais forem as dores que 
defrontes. 
 
 
06 
 
LABOR INTRANSFERÍVEL 
Clareado intimamente pelas fulgurações da fé que hoje banha 
de suaves consolações o teu espírito, começa a tarefa imediata de 
insculpir no coração e na mente as diretivas que te deslumbram, 
vivendo desde agora a Era de felicidade de que te falam excelsas 
mensagens da Verdade. 
Encontrarás quem diga que a conquista do Reino dos Céus na 
Terra, é loucura e estremecerás, atemorizado. 
Ouvirás diatribes e bocas mordazes que emitirão conceitos 
deprimentes, referindo-se à tua conduta “fora de época”. 
Chamar-te-ão para apresentarem os dados negativos obre os que, 
na atualidade, intentaram vida cristã correta, como marginais da 
sociedade. 
Acompanharás com inquietudes íntimas os que facilmente 
galgam os degraus da fama, demorando-te no anonimato, em luta 
renhida. 
No entanto, não sucumbas ante a noite prenhe de desencantos. 
Aguarda a clara face da madrugada e prossegue pelo acesso de 
luz do dia. 
 
 
O que deves fazer, faze-o. 
Sabes que a vida espiritual é essência do existir. 
A Revelação Espírita inscreveu no teu cérebro conceitos 
vibrantes que renovaram tuas concepções sobre a vida. 
Já não segues a esmo, sem roteiro. 
Todavia, é conveniente não encarcerares a palavra libertadora 
nos cofres do imediatismo, convertendo a convicção que se 
enfloresce, agora, em moedas para as comezinhas necessidades. . . 
Utiliza a lição vigorosa da imortalidade para a própria 
imortalidade. 
Caminharás depois da morte com os tesouros que reunires 
antes dela. 
Os Benfeitores Espirituais, a quem dizes amar, não poderão 
fazer por ti mais do que seja lícito receberes. 
São eles amigos mais experientes e mais sábios é certo, em 
função pedagógica de didática espiritual. 
Também eles avançam no rumo de Cimos mais Altos, também 
eles têm meta a alcançar, eles também obedecem às leis soberanas 
da Criação. 
Prepara-te de logo, acumulando nos depósitos sagrados da 
 
 
experiência carnal, os valores de uma conduta reta, uma consciência 
tranquila e um coração afável. 
O momento que vives é momento do corretor da eternidade. 
Eternidade, infinito que se confunde no minuto célere que passa, 
no eléctron que te escapa. 
Harmoniza fé e ação, remove obstáculos e atrações retentoras, 
usando o buril constante e cinzela-te para que, insculpido no teu 
espírito, se demore como normativa eficiente o dever para todo dia, 
toda hora. 
* * * 
Atraída pelo verbo do manso Rabi, a obsidiada de Magdala 
lapidou-se para viver a mensagem salutar. 
Arrependido da dúvida soez que o atormentou à hora do 
testemunho, Simão Pedro doou-se à cruz das renúncias e da ação 
santificantes em favor dos desalentados e sofredores, lutando contra 
as próprias dificuldades até o sacrifício supremo. 
João, arrebatado, desde a mais verde juventude pelo Ex celso 
Libertador, prosseguiu servindo, infatigável, até idade provecta, a 
repetir — “Amai-vos”. . . 
Tiago, convicto do significado da ação crista, após vacilações 
 
 
tormentosas, testemunha a excelência dos seus propósitos 
evangélicos, vitimado pela espada dos esbirros de Agripa I ... 
E depois deles torrentes de heróis, levantados do pó da aflição, 
entregaram-se à laboriosa construção de um mundo melhor, guiados 
pelo Imarcescível Galileu. 
* * * 
Com o Espiritismo, recém-chegado ao discernimento humano, 
em hora crucial de soçobros morais e delinquências sociais, 
ressurgem as luminosas oportunidades de exercitar o Cristo íntimo, 
no trabalho de renovação pessoal intransferível e inadiável. 
Opera, com o auxílio divino, a própria transformação para o bem 
e a virtude, e, desde agora, experimenta a glóriada ressurreição e da 
felicidade que te aguardam depois de todas as lutas, além da noite 
do túmulo, do desespero da ansiedade e da aflição decorrente do 
pavor da morte. 
07 
 
EXAMINANDO O SOFRIMENTO 
 
 
 
 
Fugir da aflição! 
Libertar-se da dor! 
Esquecer. . .. Esquecer que se sofre! — Exclamam os simplistas 
que pensam em solucionar o magno e palpitante problema do 
sofrimento não o considerando, como se, ignorando a enfermidade e 
a dor, a dor e a enfermidade ignorassem o homem. 
Muitos dos que se filiaram às diversas correntes religiosas do 
Cristianismo procuram, por processo de transferência, librar-se 
acima das águas tumultuadas do sofrer, orando e, na prece, 
exorando libertação gratuita, como se o papel da Divindade fosse o 
de arrolar solicitações e atendê-las indiscriminadamente, longe da 
consideração aos títulos característicos do mérito e do demérito. 
Alguns, vinculados às correntes do materialismo filosófico ou 
científico, fogem em busca do prazer como se este, entorpecendo o 
caráter, pudesse anular a sede dos registros do passado culposo, 
libertando os infratores sem a regularização dos seus débitos. E 
como o prazer não consegue atender a sede de gozo e o gozo da 
fuga, fogem, desvairados, para os labirintos das drogas 
estupefacientes, procurando, na consciência em desalinho e em 
exaltação, uma felicidade a que não fazem jus, uma paz que não 
merecem. 
 
 
E o sofrimento — esse ignoto servidor da alma — continua, 
imperturbável no afã de sacudir e despertar mentes, realizando o 
impositivo divino de reequilíbrio da Lei. 
Reponta aqui e surge adiante, de mil formas, falando vigorosa 
linguagem que somente raros conseguem escutar e entender. 
* * * 
Zenão de Cítio, o filósofo grego do IV século antes de Cristo, 
contemplando o panorama de dor que se apresentava afligente em 
todo lugar, elaborou o estoicismo, através do qual o desdém às 
coisas materiais e o culto das virtudes seriam os meios únicos de 
promover o equilíbrio no homem, desse modo valorizado para vencer 
a dor, enfrentando-a com nobreza e fé. 
Sócrates, o célebre pai da Escola maiêutica e considerado o 
maior filósofo da Humanidade, encarcerado pela intolerância do 
ignóbil julgamento dos Heliastas preceituava, mesmo da prisão, o 
culto da moral e da virtude para vencer o sofrimento, suportando com 
estoicismo a injusta posição. 
Francisco de Assis, o pobrezinho, desdenhando todas as coisas 
da Terra, experimentou a zombaria e sofreu aflições sem nome, 
mantendo a força do amor no exercício das virtudes cristãs, como 
chave do enigma angustiante do sofrimento. E bendizia a dor! 
 
 
Joana d’Arc encarcerada por circunstâncias óbvias procurou 
escutar as suas Vozes e, animada pelos Amigos Espirituais que a 
norteavam, suportou o cárcere, a humilhação e o opróbrio, 
queimada, após infamante e arbitrário julgamento, chamando por 
Jesus e superando a própria dor. . . 
Sofrimento é alta concessão divina. 
Dor é moeda de resgate. 
Aflição é exercício para fixação do bem. 
Som eles ignoraríamos a paz, desconsideraríamos a alegria, 
maldiríamos a saúde. 
Aquele que sofre está sendo aquinhoado com os 
exercícios-lições de fixação do bem nas telas mentais. 
No leito de dor, na cadeira de rodas, nas amarras ortopédicas; 
sob os acúleos morais, nos tormentos familiares, nos cipós limitativos 
das aspirações; no corpo, na mente, na alma; na família, em 
sociedade, no trabalho; onde esteja a arder e queimar a brasa do 
sofrimento, agradece a Deus a oportunidade sazonada de 
reaprender e reparar. 
Considera que, enquanto doam as tuas chagas abertas, 
queimadas por ácidos destruidores, outros companheiros 
 
 
desavisados atiram-se impertinentes pelas sendas da 
irresponsabilidade, dirigidos por irrefreável loucura, e acalma-te, 
embora a tormenta que te vergasta. . . 
* * * 
Jesus, tendo elegido o sofrimento como amigo de todas as horas 
ensinou-nos sem verbalismo nem retórica que sofrer é ser feliz, e em 
todos os instantes, sofrendo, exaltou o amor e a bondade como rota 
de iluminação, pacífico e excelso, prosseguindo imperturbável. 
Mesmo que o teu céu esteja carregado de cúmulos em forma de 
dores e preocupações, e aparentemente te encontres amesquinhado 
por angústias ultrizes, caminhando em terrível soledade, levanta, 
estoico e cristão, a cabeça, descrispa as mãos e torna-as asas de 
amor para com elas louvar o Senhor no trabalho e no bem com os 
quais alçarás voo às Regiões da liberdade após o resgate que o 
sofrimento te enseja. 
Recebe-o, pois, com amor e não desvaries. 
08 
 
SÓS COM OS OUTROS 
 
 
 
Não te creias a sós, embrulhando os sonhos que acalentavas 
nos pesados tecidos da revolta. 
Há tantos solitários que não se resolvem a arrebentar as 
amarras do egoísmo para serem úteis a alguém! . . . 
Sê tu quem consiga esse fanal. 
O lago plácido e sonhador, que reflete o céu de astros 
pulverizado qual espelho precioso, desfaz-se ante o batráquio que 
nele se arremessa, apagando a ilusão da beleza. 
Desejarias felicidade contemplativa cercado de carinhos, inútil, 
refletindo sonhos impossíveis. 
No entanto, enquanto te crês solitário e triste, frustrado nos 
anseios que acalentavas, perdes os olhos nas tintas carregadas do 
pessimismo e não vês aqueles olhos que te fitam inquietos, 
desejando acercar-se de ti, sem oportunidade de fazê-lo. 
A semente, que se sente desventurada numa arca de mogno e 
bronze valiosos, desdobra-se em bênçãos para muitos quando 
acolhida pelo solo que lhe oferece destino. 
A água morta entre sombras alimenta a vida se vai depurada. 
O monturo desprezível enriquece-se de perfume quando 
agasalha os bulbos do lírio. 
 
 
O coração ao teu lado, na vida diária, é a sublime meta da tua 
oportunidade no corpo. 
Mata a solidão, asfixiando-a nos tecidos leves da cordialidade 
para com os outros. 
Não creias que haja um abismo entre ti e os outros. 
Se o vês ou o sentes, lança a ponte da afabilidade e atapeta-a 
da doçura. Escorregarão muitos seres imersos no personalismo 
atormentado das vacuidades da Terra, que se aconchegarão ao país 
da tua alma, sedentos, necessitados e amigos teus, dando carinho 
também. 
Compreenderás que o receber é efeito do dar, tanto quanto a 
colher é o resultado do plantar. 
A lagarta que teme a metamorfose jamais plainará como 
borboleta leve, no azul do ar. 
A flor que receia o desgaste nunca atingirá a semente que a 
perpetua. 
O amor que se enclausura não amadurecerá em dádivas 
renovadoras. 
* * * 
Aparecendo à pecadora de Magdala, após a Ressurreição, o 
 
 
Mestre premiou o esforço de quem tanto deu à causa da Mensagem 
Viva da Fé, a’ ponto de, vencendo-se a si mesma, oferecer-se entre 
tormentos íntimos de paixões sem nome que sublimou, para 
renascer dos escombros qual Circe de luz. . . E Maria o mereceu, 
pois que, esquecida do próprio eu, cindiu a casca da autopiedade e 
da falsa solidão a que muitos a si se impõem, para atirar-se à glória 
do serviço ao próximo sem fronteira nem limite por amor a Ele. 
09 
 
CANSAÇO 
 
Estás fatigado. O cansaço, qual fluido deletério, vence tuas 
resistências, assenhoreando-se do aparelho físico-mental que 
acionas com dificuldade. 
Tantas têm sido as aflições, as lutas que, desencorajado, te 
entregas à indiferença quanto ao futuro sob tormentos que te 
dominaram a capacidade de lutar. 
Tens a impressão de que o entusiasmo calou a voz da sua 
emoção no teu sentimento encarcerado na dor, e sentes o coração 
como se fosse um diamante bruto a esfacelar-se dentro do peito, 
 
 
golpeado por vigorosas tenazes que o despedaçam ... 
Tudo se te afigura sombrio e a luz, que se emboscava na gota 
d’água aprisionada diante dos teus olhos, agora a vês transformada 
em lama, no pó, qual a tua antemanhã de sonhos convertida em noite 
tempestuosa de pavor. 
Lutaste, é certo. 
Reuniste as energias, qual comandante afervorado a batalhas 
violentas,colocando-as em defensivas até a exaustão. Mas tantas 
foram as agressões e tão continuado o cerco que desejarias bater 
em retirada, deixando livre o campo para que se multiplicassem os 
maus. 
No íntimo conservas um travo de fel que o sofrimento deixou e 
como miasma em crescimento sentes o espírito envenenado, com a 
amargura em todas as horas. 
Uns companheiros fitam teu sorriso e creem que o caráter não é 
um dos teus dotes mais representativos. 
Outros contemplam tua tristeza e comentam que é débil a tua fé. 
Alguns falam contigo e identificam expressões que deprimem 
teus sentimentos. 
Amigos discretamente afirmam que foste vencido por “forças 
 
 
negativas” do Mundo Espiritual. 
Confrades rigorosos negam-te o concurso da amizade deles. 
Irmãos acendem a chama da idiossincrasia e separam aqueles 
que o teu esforço infatigável reuniu. 
Colaboradores fendem as bases do serviço que desdobrase, 
abnegado, desejando amesquinhar-te. 
Assim crês, assim vês, assim é.... porque estás cansado. 
* * * 
Quem observa dificuldades somente encontra obstáculos. 
Aquele que se prepara para um dia de calor tem pretexto para a 
canícula(3) inexistente. 
Olhos acostumados aos detalhes negativos descobrem 
insignificâncias que enfeiam qualquer paisagem feliz. 
As estrelas que fulgem além da névoa são ignoradas por 
quantos se contentam com sombras. 
As mãos que preferem espinhos perdem a sensibilidade para as 
débeis violetas. 
No entanto, além do que registras, há beleza, harmonia, vida. 
O veneno que o ofídio injeta e com o qual mata, o homem 
consegue transformar em medicamento salvador. 
 
 
A ofensa de que se utilizam os infelizes para ultrajar ajuda na 
ascensão os que sabem transformar vinditas em bênçãos. 
A pedra que fere também adorna. 
O lodo pestilento devidamente atendido converte-se em perfume 
delicado na intimidade da flor. 
Transforma cansaço e tristeza em seiva de vida eterna. 
Renasceste, na Terra, para elaborar a felicidade própria e 
intransferível. 
Rogaste a dádiva do resgate com as moedas do testemunho e 
do silêncio. 
Esquece-te, desse modo, de ti mesmo e persevera. 
Perdoa, enquanto podes. 
O perdão é luz que arremessas na direção da vida e que voltará 
à fonte donde procede. 
O conceito que os outros fazem a teu respeito vale o que 
valorizas. 
As dificuldades que te impõem obstaculam quanto supões. 
O sarcasmo e a perseguição representam o que consideras. 
A dor é o que se deseja que valha. 
 
 
Levanta o espírito e combate. 
Não deixes que os braços das sombras apaguem com mãos de 
trevas os painéis da tela das tuas aspirações. 
Aprofunda a mente na pesquisa da verdade e detém-te a 
examinar a história dos homens fortes. Não nasceram fortes: 
fortificaram-se na luta. 
A vento enrija a fibra da sequoia(4) e a tormenta lhe dá vigor. 
A chuva que chafurda o regato aumenta-lhe o volume d’água. 
Deixa-te conduzir pelos testemunhos naturais da experiência 
carnal e experimenta perseverar, insistir, continuar. . . 
* * * 
A grandeza de Jesus afirmada no atroz sacrifício da Cruz teve o 
seu início na escolha de singelo berço para continuar nos aparentes 
mil nonadas da carpintaria humilde, dos contatos com as gentes 
simples e pouco esclarecidas, com os enfermos exigentes, os 
amigos ingratos, os legisladores e religiosos desonestos, para 
culminar na cobardia de alguns discípulos obsidiados com 
intermitências que O atraiçoaram, esquecendo o Seu amor para 
fugirem. 
No entanto, uma vez única sequer deixou-se Ele vencer pelo 
 
 
cansaço e, por isso, não reclamou, não desistiu, não censurou, não 
se deteve a examinar o lado infeliz de ninguém, dedicando-se 
incansavelmente à construção do bem excelso em favor de todos, a 
todos amando e perdoando, apesar de tudo. 
10 
 
AUXILIO AGORA 
 
Viste muitos deles, possivelmente, enquanto se encontravam 
mergulhados nas roupagens carnais, experimentando rudes provas, 
e não os distinguiste com uma palavra sequer de misericórdia. 
Agora te apiadas(5) e sofres por eles. 
Encontraste-os nos dias que se foram, perdidos na névoa das 
paixões, em sofrimentos atrozes; no entanto, receaste falar com eles 
a respeito da vida verdadeira. 
Hoje, dominado por forte compaixão, exoras ao Senhor em favor 
deles. 
Defrontaste-os, enquanto se demoravam no corpo denso, 
carregados de aflições; todavia, temeste que eles não te 
respeitassem os ideais, desconsiderando as tuas intenções. 
 
 
Atualmente solicitas auxílio aos Numes Tutelares para que eles 
se recuperem e tenham paz. 
Transitavam lado a lado contigo no caminho humano, 
dominados pela ignorância, mas pensaste que não te competia 
despertá-los do sono quimérico no qual vitalizavam ilusões. 
Neste momento compreendes quanto eles sofrem e oras, 
emocionado, guardando a certeza de que a tua vibração os atingirá. 
O que puderes fazer por eles, os nossos irmãos desencarnados, 
em sofrimento, faze-o. 
Unge-te de contrição e amor e derrama do cálice dos teus 
sentimentos as vibrações puras que, em os alcançando, abrandarão 
suas ansiedades, lenirão suas feridas, diminuirão suas dores... 
Oferece ao intercâmbio socorrista as tuas possibilidades 
medianímicas a fim de que sejam assistidos e medicados. 
Ora por eles. 
Pensa neles com carinho, considerando também o imperativo do 
teu retorno ao Mundo Espiritual onde agora se encontram. 
* * * 
Não te esqueças, porém, daqueles que estão na Terra 
reencarnados com necessidades imperiosas. 
 
 
Uns renteiam contigo no lar, como verdugos da tua paz, 
obrigando-te a silêncios e renúncias em prol da harmonia doméstica. 
Outros se encontram na oficina de trabalho como chefes ou 
subalternos, exigindo-te valiosos atestados de humildade. 
Alguns estão ao lado dos teus amores, tratando-te com escárnio 
e zombaria, ferindo com estiletes de bem planejada impiedade os 
teus sentimentos nobres. 
Diversos atropelam-te nas ruas, insidiosos e perturbados 
malsinando tuas horas. 
Vários distendem as mãos na tua direção, mendigando piedade. 
. . 
Pensa nestes, os irmãos da caminhada física, necessitados do 
pão do teu exemplo e da lâmpada acesa da tua paciência. 
Oferece-lhes a mensagem de esperança e alento com que a fé 
espírita te sustenta, com abnegação e sincero desejo de que sejam 
felizes, mesmo que eles não desejem seguir contigo nas linhas 
renovadoras por onde rumas. 
Considera que necessitam de alguém que os ame no estado em 
que se encontram. . . 
São nossos irmãos da retaguarda, que tiveram horas de 
 
 
amargura por culpa nossa e que o Senhor consentiu recomeçassem 
a experiência evolutiva ao nosso lado, a benefício nosso e em favor 
deles próprios. 
Não esperes que desencarnem para que os ames ou ores por 
eles. 
Ajuda-os desde já. 
Possivelmente não te compreenderão nem deves esperar que te 
compreendam. Aprendes, nas experiências socorristas através do 
concurso da mediunidade, que os náufragos de hoje no 
Além-Túmulo, já se encontravam perdidos desde antes de seguirem. 
. . 
* * * 
É verdade que Jesus atendeu os perseguidores do homem de 
Gadara com amor e severidade; socorreu, benigno, os obsessores 
do jovem epilético e, quanto possível, alongou sua mensagem aos 
atormentados que a morte colheu. Todavia, o seu ministério de amor 
entre as criaturas da Terra foi exercido principalmente para aqueles 
considerados “irmãos difíceis” que terminaram por crucificá-lo, 
instigados embora por verdugos do Mundo Espiritual. No entanto, 
mesmo na Cruz foi para esses, os perseguidores e difíceis que Ele 
ofereceu a Sua mensagem de perdão como a ensinar-nos que as 
 
 
tarefas de redenção e amor, começa hoje e agora em nós e em torno 
de nós, no lar e em toda parte, ampliando- se até aqueles que 
partiram sem que saibamos onde e quando terminarão, porque 
espera Ele nos transformemos em “cartas- -vivas” do seu Evangelho 
Redentor. 
11 
 
ESQUECIMENTO DO PRETÉRITO 
 
Conquanto estejasinformado a respeito da ação do passado 
sobre o presente, deixas-te dominar quase sempre por dúvidas 
atrozes que espezinham tuas convicções, fazendo-te sofrer. 
Conjecturas quanto ao esquecimento que acompanha o espírito 
na reencarnação, e supões que esse olvido, de certo modo se faz 
obstáculo ao discernimento entre amigos e adversários da tua 
felicidade. 
Seria mais justo que, assim pensas, em momentos de rudes 
provanças, os centros da memória anterior fossem libertados e a 
censura que frena as recordações deixasse fluir os rios do 
conhecimento de modo a agires com acerto. 
 
 
Confessas intimamente o tormento que te consome por 
caminhares sem o conhecimento do destino, tendo em vista a 
ignorância do pretérito, assinalando desolação e dor. 
E concluis, apressado, que a reencarnação, em tais bases, não 
expressa condignamente o amor de Nosso Pai, afirmando que, em ti 
mesmo não encontras, na memória, os fundamentos que favoreçam 
a segurança que gostarias de possuir para levares de vencida a 
experiência evolutiva. 
Pensas, e, no entanto, desconheces a mecânica do raciocínio a 
nascer nos centros cerebrais. 
Ages sob impulses desconhecidos, e ignoras a razão deles. 
Vives governado por automatismos fisiológicos que te mantés a 
harmonia orgânica sem lhes conheceres a procedência. . . 
. . .. Vês, ouves, sentes, falas, distingues gostos, no que se 
refere aos débeis órgãos dos sentidos físicos sem indagações, sem 
exigências e, todavia, deixas-te conduzir tranquilamente. 
Observa a dificuldade que experimenta uma criatura 
excepcional aprendendo a falar, comer, controlar os movimentos... 
Entenderás, então, que se não te é lícito recordar o passado, a 
outros espíritos mais esclarecidos e fortes que o teu é permitido 
 
 
navegar no oceano das recordações com alguma segurança e 
naturalidade... 
Ao invés de castigo, o esquecimento das vidas passadas é 
dádiva celeste. 
Desejarias identificar os sicários da tua paz e os cooperadores 
da tua alegria. Examina, no entanto, as afinidades, considera as 
emoções junto aos que te cercam, medita e conclui com o auxílio do 
tempo. 
Abre, todavia, os braços, a quantos se acercam de ti, 
procurando envolvê-los nas vibrações do entendimento e da 
cordialidade, para fruíres afeição e simpatia. 
* * * 
Encontras obstáculos afetivos no lar entre os membros da 
família e experimentas, não raro, asco senão revolta por aqueles a 
quem deverias amar nas amarras do sangue. 
Reações indomáveis, a se manifestarem como animosidade, 
alquebram o teu ânimo em casa, levando-te a desesperos e a atritos 
lamentáveis. 
Acalentas, ou és vítima de idiossincrasias(6), senão aversões, 
por filhos ou irmãos, lutando tenazmente por vencer a força negativa 
 
 
que te assoma na presença deles, sem resultados positivos. 
A estada na intimidade doméstica se constitui penoso período, 
encontrando, todavia, motivos de júbilos sob tetos alheios. . . 
. . . E desejarias recordar o ontem! . . . 
Se em ignorância quanto mal que te hajam feito eles os teus 
familiares, te sentes incapaz de fitá-los, entendê-los, ajudá-los e 
amá-los, oferecendo-lhes compreensão e simpatia, como te portarias 
se, na filha revel identificasses antiga companheira que o adultério 
arrastou, no irmão consanguíneo o destruidor do antigo ninho de 
venturas que o tempo não consumiu, no pai ou mãe, no filho ou 
noutro parente o arquiteto da tua ruína ou a vítima da sua sandice? 
Esquecer o mal para agir com acerto é luz de amor na lâmpada 
da oportunidade. 
Ignorar os maus para ajudá-los significa ensejar-lhes, com 
igualdade de condições, ocasião de repararem os males que tenham 
praticado. 
Lutar contra a antipatia, procurando ignorar as causas da 
aversão representa valioso esforço de libertação íntima. 
Considerando a pequenez e a inferioridade moral de quantos se 
encontram na Terra, o abençoado Hospital-Escola para os 
 
 
recalcitrantes, os Excelsos Promotores dos renascimentos fazem 
que a mente espiritual mergulhe no olvido, a fim de que as 
lembranças dos atos infelizes não os enlouqueçam e as evocações 
abençoadas não os paralisem em recordação insensata ou 
improfícua. 
* * * 
Jesus, o Egrégio Coordenador da Vida no Orbe, lecionando 
sobre a necessidade do bem atuante, não poucas vezes exortou ao 
amor puro e simples com o esquecimento do mal, para que este não 
se corporificasse em sombra tenebrosa acompanhando nossa 
consciência. E desejando imprimir com sulcos profundos o ensino 
sublime, conclamou os que O seguissem a duplicar a bondade em 
relação aos que nos peçam algo, mandando oferecer a outra face ao 
agressor para que não fôssemos os promotores do mal ou 
vitalizadores da impiedade. 
E assim o fez por conhecer o abismo que a ignorância da 
verdade representa e a baliza de luz que significa o amor no caminho 
da evolução, amor que nos faz esquecer o mal para somente nos 
lembrarmos do bem. . . 
 
 
12 
 
MANSOS 
 
Aqui, a impiedade ao passar deixou profundos sulcos e o triunfo, 
agora, adorna a cabeça do déspota que vive indiferente à sorte do 
próximo. 
Ali, o poder fez morada, no lar de verdugo cruel, acostumado a 
perseguir. 
Adiante, os maus conseguem aplausos, recepcionados pela 
afabilidade geral entre sorrisos e festas. 
Tens, assim, a impressão de que a Terra está convertida num 
covil de salteadores e que a honra, incompreendida, silenciou sua 
voz, sendo substituída pelo descalabro moral. 
Diante das facilidades de que tantos se utilizam e que estão ao 
teu alcance, indagas: “Não será loucura permanecer no posto a que 
me atenho? ” 
E confrontas: alguém que te parecia a personificação do 
equilíbrio foi arrastado vilmente pela cobiça e o erro; outrem de valor 
aos teus olhos, revelou-se de inopino servo de interesses 
subalternos, mostrando-se vassalo de paixões animalizantes. . . 
 
 
Nubla-se tua visão, afliges-te intimamente e concluis que o 
melhor a fazer é segui-los. . . 
Refaze, porém, os painéis morais de tua mente. 
Deixa-te afagar pela brandura e pacifica-te. 
* * * 
O macrocosmo é constituído de átomos que são, por sua vez, 
universos miniaturizados. 
A floresta impenetrável é dependência do filete d’água que lhe 
alimenta as raízes, no imo da terra. 
O Sol imponente gasta-se enquanto consome massa em 
energia. 
A vida moral e espiritual na Terra, do mesmo modo, é serva das 
mil insignificâncias nobres de que o Senhor se serve para a 
construção do melhor. 
Ê imperioso que permaneças no posto do bem servir. 
Deus, é verdade, não tem pressa. 
Apesar disso tens infinito caminho a percorrer na senda 
evolutiva. 
Cuida, desde agora, de exercitar a mansuetude e a cordura. 
Se o Orbe fosse o paraíso dos pacíficos, a mansuetude dos 
 
 
justos seria lugar comum. 
Por isso se faz necessário que dilates os tesouros da 
benignidade e da paciência. 
As transformações sócio-econômico-morais que se preveem, 
começarão dentro de cada espírito afervorado à causa da justiça. 
A humanidade começa na célula-homem. 
Dá começo ao programa do mundo feliz, hoje e agora, vivendo-o 
em ti mesmo. 
Porque fosse difícil, no jogo falaz das ansiedades humanas, a 
permanência nos altos postulados da vida cristã é que o Mestre, com 
sabedoria e propriedade, considerando os obstáculos a transpor 
entre tantas tentações, nos animou com elevado prêmio, informando: 
“Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a Terra”. 
13 
 
SOCORRO ESPIRITUAL 
 
Quando tropeçaste, supuseste que te faltaram socorros 
espirituais. 
Quando caíste, acreditaste que a bondade celeste se esquecera 
 
 
de ti. 
Quando sofreste, pensaste que carregavas imerecido fado. 
Quando perseguido, creste que pagavas um tributo injusto. 
Quando fruías júbilos, porém, considerava-los como re-sultado 
do esforço próprio. 
Quando desfrutavas saúde, acalentavas pensamentos frívolos 
que te punham em condição de privilégio. 
Quando sorriam venturase juventude, concordavas com a 
sabedoria divina. 
Quando facilidades tropeçavam nos teus pés, nem sequer te 
lembraste da transitoriedade daquilo que se detém. 
Agora, quando choras, precipitado, impões auxílio, clamas por 
atenuantes, exiges lenitivos. . . falas sobre a bondade dos Espíritos 
Puros que, nessa hora, parecem distantes. . . 
No entanto, não examinaste antes de sofrer os que tropeçara, 
caíram, sofreram e foram perseguidos, clamando por socorro, 
esperando também por ti. . . 
* * * 
Sim, eles sofrem contigo e gostariam de ajudar, porém te 
distanciaste dos abençoados Numes Tutelares, quando a eles 
 
 
infligiste a dura prova das tuas deserções. 
O teu primeiro tropeço não poderiam eles evitar-te. 
Levantaram barreiras, estabelecendo muralhas vibratórias, 
reiteradas vezes, em teu favor. Arrebentaste-as todas a golpes de 
rebeldia e imprevidência. 
A tua queda, adiaram-na eles, ajudando-te, infatigáveis, 
continuadamente. 
Dificultaste-lhes a permanência a teu lado, azorragando-lhes a 
presença com a desordem e a falta de decoro na conduta. 
As dores, as lágrimas, os débitos ajudaram-te eles quanto 
puderam, a fim de que fossem diminuídos todos. . . 
Nos dias do teu contentamento, às horas da saúde e da 
juventude, nos momentos da facilidade, atiraste a oportunidade fora 
e espontaneamente te afastaste deles para a breve viagem de longa 
volta. 
Insistiram contigo, através de mil lições que aproximaram do teu 
raciocínio 
Falaram-te pela intuição, em linguagem muda e poderosa. 
Volutearam em torno de ti, buscando meios de ajudar-te. 
Mantiveram entrevistas, além do corpo denso, nos momentos de 
 
 
parcial desprendimento pelo sono. 
Oraram. Sofreram. Choraram. 
Não os quiseste ouvir. 
Trocaste-os pelo império agradável da volúpia. 
Foste viajar para longe do convívio deles. 
Sim, os Espíritos Bons não te esqueceram. Tu os esqueceste. 
Embora vibratoriamente ainda te encontres longe deles, estão eles 
perto de ti, aguardando... 
Aguça a alma e rala as tuas imperfeições — ouvi-los-ás. 
* * * 
Contam as anotações evangélicas, com riqueza de linguagem, 
que, instado pelo próprio filho a receber seus pertences e ir para 
longe gozar, um pai, lacrimoso, compreendendo-lhe o anseio, 
deixou-o partir. Este distanciou-se da casa do genitor e gozou. . . até 
sofrer o convívio de animais em imunda pocilga. Experimentando 
acerbas dores morais, lembrou-se do pai amigo e, depois de 
recapitular mentalmente a loucura, juntou os trapos ao corpo trôpego 
e, ele que saíra sorrindo, ansioso, retornava lacrimoso, sem outro 
haver senão o tesouro da experiência, ao lar paterno que, embora 
fosse relegado à distância, sempre o aguardara. 
 
 
Volta, também, após recapitulares as experiências, ao lar da 
bênção — onde o dever tem primazia ao prazer — e deixa-te, 
humilde, banhar de paz, a paz que eles, os teus abnegados Amigos 
Espirituais, te podem doar. 
14 
 
ASSISTÊNCIA SOCIAL E ESPIRITISMO 
 
Diante das multidões esfaimadas, dos velhos ao desabrigo, das 
crianças socialmente abandonadas, dos doentes ao desamparo, da 
mendicância e da dor contemplas, através das telas da imaginação, 
a humanidade espírita-cristã do futuro e antevês os tesouros da 
assistência social ao alcance de todos, oferecendo bênçãos e 
socorro em abundância. . . 
Desejas, desde logo, antecipar essa Era de Paz, procurando 
erguer uma Instituição que possa expressar a realidade do amor em 
bases positivas com socorro e assistência aos aflitos da Terra. E 
pensas em assistência social, falas sobre assistência social, realizas 
assistência social. 
Aqui como ali, tocados pelo mesmo entusiasmo, companheiros 
 
 
de lide espírita levantam obras assistenciais respeitáveis, capazes 
de atenuar muito sofrimento e diminuir muitas dores. 
O primeiro sinal da conversão ao Espiritismo para muitos é 
caracterizado pelas “mangas arregaçadas do paletó” no serviço de 
assistência social, objetivando o próximo combalido. 
Impulso nobre, merece, no entanto, consideração e exame... 
A dor que tumultua o coração do homem do presente conserva, 
todavia, raízes fixadas no passado. . . 
Tentar o cultivo em solo coberto de mata espessa e danosa, 
seria candidatar as valiosas mudas à asfixia e à morte, em não se 
cuidando do arroteamento cuidadoso da terra. 
Por isso é indispensável mergulhar a meditação nas causas do 
sofrimento humano e, utilizando os ensinos espíritas, visitar a 
intimidade das mentes fazendo luz íntima. . . 
Podes apresentar os evidentes sinais da convicção espírita sem 
os atavios do movimento externo que todos identificam, procedendo 
de maneira segura e concisa intimamente. 
Tantos se preocupam com as consequências dos males, que 
olvidam as causas dos males em si mesmas. 
É imperioso, pois, colimar os objetivos espiritistas no panorama 
 
 
moral da própria alma. 
Conduta reta, fidelidade ao dever, respeito às tarefas alheias e 
alheios direitos, discrição e sinceridade, cultivo da fé e da humildade, 
tolerância com perseverança nos ideais esposados, mesmo quando 
haja conspiração aparente do mal, renúncia às ambições com os 
derivados da alegria espontânea e de um coração rico de esperança 
também são altas expressões de identificação espírita e renovação 
social que, todavia, começa em quem pretende retificar e solucionar 
os problemas alheios. 
Não pretendemos colocar à margem as tarefas ponderáveis da 
moderna filantropia, da considerada assistência social. Desejamos, 
apenas, realçar o valor que vai sendo desconsiderado, de situar em 
primeira plana o Espiritismo que objetiva a estruturação moral do 
homem nas lídimas bases evangélicas; e estas são essencialmente 
as da reforma interior com as consequentes manifestações do amor 
ao próximo. . . como a si mesmo. 
Nem Espiritismo sem assistência social, nem assistência social 
sem Espiritismo, para nós espiritistas encarnados ou 
desencarnados. 
* * * 
O Espiritismo, como bem definiu Allan Kardec “trata da origem, 
 
 
da natureza e do destino dos espíritos. . .” convidando o homem para 
ser “hoje melhor do que ontem e amanhã melhor do que hoje”. . . 
Assim sendo é imperiosa a tarefa de estudá-lo, buscando 
conhecer as nascentes da vida, a jornada do princípio espiritual e 
trabalhando com segurança e valor a si mesmo para, renovado cada 
dia, apresentar o índice de melhoria moral e espiritual de cada hora. 
O conhecimento da Doutrina Espírita colima na sua aplicação 
com a assistência social; no entanto, a recíproca não é verdadeira. 
Espalhemos a Revelação Espírita e, iluminando os que 
esmagam e estrangulam corações estimulando a miséria, o 
desconforto, o abandone de grande parcela da humanidade, 
estaremos salvando o amanhã, porquanto, o homem generoso e 
esclarecido de agora não renascerá para ressarcir e recuperar nas 
palhas da pobreza e na enxerga da dor. 
E guardemos a certeza de que, ao lado da assistência material 
que possamos doar, a assistência moral e espiritual deve ter 
primazia. 
Alguns amigos menos esclarecidos falarão sobre sectarismo, 
outros poucos afervorados à convicção espiritista informarão que o 
auxílio não deve ser trocado pelo impositivo do ensino. . . 
Não lhes dês ouvidos. 
 
 
Derrama no gral da generosidade que te enobrece o perfume da 
fé renovadora que te liberta e dá a libar(7), a quantos te buscam, esse 
incomparável elixir... 
Quando te encontrares com a moderna metodologia da 
assistência social nunca te esqueças de, depois dela, converteres o 
coração, junto ao sofredor, em dois braços abertos à semelhança de 
Jesus, guardando a postura de quem deseja, no próprio seio 
agasalhar a dor. 
* * * 
O Inimitável Governador da Terra, homenageado por jubilosa 
cortesã, antes obsidiada e recém-liberta, que lhe untava os pés com 
perfume raro, respondeu a Judas, que pensava a respeito da 
aplicação que se poderia dar à essência exótica, se transformada em 
moedas edirigidas aos necessitados: “os pobres sempre os tendes 
convosco, mas a mim nem sempre me tendes”... 
Aromatizemos a senda por onde seguimos ajudando e amando; 
mas conhecendo, também, quem somos, donde vivemos e para 
onde vamos, procedamos com equidade e honradez, oferecendo ao 
mundo atormentado a segurança de nossa renovação espiritual com 
o amor dilatado em forma de auxílio a todas as criaturas. 
 
 
15 
 
BENEFÍCIO E GRATIDÃO 
 
Deslizando incansável, o rio não cogita de examinar, as bênçãos 
que conduz nem sindica o solo por onde segue. 
Bailando no ar, o perfume nada pede além da amplidão para 
espraiar-se. 
Convertendo-se em alimento, não espera o grão outra dádiva da 
vida senão trituramento. 
O sol fecundo não escolhe sítio para visitar com luz, calor e vida. 
A chuva fertilizante não tem preferência por onde espalhar 
vitalidade. 
Todos cooperam em nome da Divindade sem exigências e sem 
reclamações. 
São úteis e passam. 
Nada esperam, nada impõem. 
Aqueles que os podem utilizar, beneficiam-se e não recordam 
sequer dos bens que auferem com eles, mas nem por isso eles 
deixam de produzir. 
 
 
Examinando as lições sem palavras com que a Natureza se 
expressa, pode o homem, com o discernimento, muito fazer em favor 
do próximo e de si mesmo. 
* * * 
Não digas, quando a ingratidão te bater à porta: “Nunca mais 
ajudarei a ninguém! ” 
Não exclames, quando a impiedade dos teus beneficiários 
chegar ao reduto do teu lar: “Para mim, chega!” 
Não reclames, quando a soberbia dos teus pupilos queimar tuas 
mãos generosas com as brasas da maldade que carregam consigo: 
“E eu que tudo lhes dei! ” 
Não sofras, dizendo, quando o azorrague daqueles a quem 
amas te ferir o devotamento: “Arrependo-me de ter ajudado! ” 
Não retribuas mal por mal, pois que, assim, vitalizarás o próprio 
mal. 
A noite domina quando encontra sombras no roteiro e a 
enfermidade se alastra quando se agasalha em organismos 
indefesos. 
O bem que se faz a alguém é luz que se acende interiormente. 
Gostarias, sim, de recolher gratidão, amizade, compreensão ... 
 
 
Todos nós gostaríamos de experimentar os pomos da gratidão. 
A árvore, porém, não pergunta a quem lhe colhe o furto para 
onde o carrega, que pretende dele. Felicita-se por poder dar e se 
multiplicar através da semente que, atirada alhures, abençoa o novo 
solo com outras dádivas de alegria. 
Imita-lhe o exemplo. 
Teus frutos bons, que produzam bons frutos além. . . 
Tuas nobres tarefas, que se desdobrem em tarefas superiores 
mais tarde. 
A ti a alegria de fazer, doar, e nunca a ideia de colher 
reconhecimento ou gratidão. 
Gratidão, pode ser, também, pagamento. 
Seja grato o teu coração, mas não esperes pelo reconhecimento 
de ninguém. 
* * * 
A reencarnação, por impositivo da Lei, aproxima de ti queridos 
afetos de ontem, adversários do pretérito que te buscam para 
receber ou para exigir, envergando trajos diferentes e estranhos 
sobre espíritos conhecidos. 
Refaze ou completa a tarefa interrompida, o dever esquecido. 
 
 
A água do rio harmoniosa que o sol traga em hausto de calor 
tornará ao solo, ao curso antigo, em chuva dadivosa. 
O bem que faças, viajando sem parar em muitos corações, 
espalhará luz no longo curso e, amanhã, — nos caminhos sem fim do 
futuro — mesmo que não o saibas ou o tenhas esquecido, ressurgirá 
mais além, mais formoso, mais fecundo. 
16 
 
FAZENDO SOL 
 
Além da cela em que te enclausuras, alimentando as vitórias dos 
sofrimentos que crias entre sombras mentais, o trabalho socorrista 
espera braços para acionarem a alavanca da oportunidade, em favor 
de outros mais necessitados do que tu mesmo, que não podem parar 
nos degraus da lamentação. 
Eles passam pela vida entre soluços e provações, a que desde 
cedo se encontram vinculados. 
Dirás, no entanto, que eles já se acostumaram e que as dores 
que te laceram são insuportáveis. 
Ignoras, certamente, a dor de uma mãe viúva e enferma 
 
 
sustentando em braços fracos o filho misérrimo e esfaimado; não 
sabes o desgosto profundo que experimenta um pai envelhecido que 
a tirania dos filhos jovens atirou à sarjeta e ao abandono; 
desconheces o sinal da orfandade, desde as primeiras horas nas 
ruas do desconforto, em forma de complexos e recalques 
malsinantes; desconheces os punhais invisíveis das dores morais 
que despedaçam o coração e mil outros angustiantes golpes com 
que o pretérito culposo pune no presente os infratores da Lei.. . 
Ameniza tuas provações ajudando outros sob a dolorosa cruz de 
provações sem nome. 
Há fome de amor perto do teu leito de queixas. 
Levanta-te da inércia a que te vinculas impensadamente e 
aciona a máquina da beneficência. 
* * * 
A palavra de acolhimento fraternal que endereças a alguém é 
raio de sol na direção da vida. 
A reprimenda que silencias se converte em reservas de piedade 
a teu próprio favor. 
Todos somos imperfeitos em luta titânica pela ascensão aos 
páramos da luz. 
 
 
Quantos bens se demoram encurralados em tuas mãos e 
quantas oportunidades te passam improdutivas?! 
Acompanha a viagem da semente em transformações 
incessantes até uma nova semente. 
Segue a jornada de uma moeda perdida na ociosidade do teu 
cofre e consigna os bens que pode espalhar quando dirigida pelos 
poderes da caridade. 
Aplica o minuto do repouso indébito e desnecessário, edificando 
algo bom em alguém ou para alguém, e as noites do desassossego 
fulgirão com os lampejos das estrelas do teu esforço clareando 
caminhos. 
Muitas dores são filhas da ociosidade. 
Diversos males descendem da ignorância dos males reais. 
Múltiplas enfermidades desenvolvem-se na madre da 
inutilidade. 
Vidas vazias são colunas belas e decoradas sem base nem 
utilidade, dispensáveis e frágeis. 
A autopiedade pode ser comparada à hera constringente que 
despedaça a frincha em que se apoia... 
Lá fora, além da cela do teu isolacionismo, está fazendo sol e 
 
 
Jesus, hoje como outrora, esquecido de si mesmo e das ingratidões 
dos homens e do mundo está recolhendo corações para a lavoura do 
amor. 
* * * 
Deixa-te inundar da poderosa mensagem da luz e vencerás as 
sombras do pessimismo e da nostalgia que te vencem 
desapiedadamente, fazendo-te entender, porque para quem ama 
sempre “está fazendo sol”. 
17 
 
COM PACIÊNCIA E PAZ 
 
Revolta surda vai assenhoreando-se da tua mente ao 
considerares que os teus mais salutares alvitres não são aceitos por 
aqueles a quem te afeiçoas e procuras ajudar. 
Argumentas com segurança, arrimado à lógica e, no entanto, os 
mais íntimos te parecem distanciados de qualquer programa de 
elevação, avançando desassisados para os ruinosos caminhos da 
criminalidade a que se vinculam. 
Antes, quando ignoravas o testamento cristão, nas diretivas com 
 
 
que o Espiritismo te enseja, acalentavas o desejo de renovação 
segura e estável que oferecesse base à paz interior com clima 
ameno de confiança nas disposições superiores. 
Hoje, clareado por convicções felizes, desejas expor e 
esclarecer, facultando oportunidades igualmente venturosas aos 
eleitos da tua afeição. 
Ages mal, porém, por te deixares consumir pela inquietação ante 
a rebeldia deles. 
O solo sáfaro, impermeável à água e ao adubo, demora-se 
calcinado e infeliz. 
A nascente débil que se não liga ao rio generoso escalda-se e 
desaparece. 
A correnteza que desdenha as fontes das margens do próprio 
curso, candidata-se ao desaparecimento. 
A rebeldia como a presunção já caracterizam a infelicidade de 
quem as conduz. 
Há ocasiões próprias para semear. 
A oportunidade certa ensejar-te-á operosa ação para a 
sementeira da verdade. 
Evita o peso da ira no serviço de esclarecimento ou em qualquer 
 
 
circunstância. 
A “cólera divina” é configuração meramente humana que não 
corresponde à verdade. 
Quem deseja ajudar no despertamento de espíritos porfia 
criando ambiente de luz, reconhecendoque o tempo é o grande 
professor dos desatentos. 
* * * 
Muitas vezes o Mestre não foi ouvido por aqueles a quem muito 
amou. 
Os que conviveram no círculo do seu afeto por mais de três 
anos, cercados de carinho e envoltos na esfera do seu inefável 
devotamento atestaram conhecê-Lo pouco, quase nada entendendo 
das suas lições. Ele, porém, compreendia que os que O não 
recebiam já estavam punidos e deles se apiedava... 
Desdenhar a luz e fugir-lhe à contribuição valiosa é candidatura 
à enfermidade e à morte. 
Os que desprezam o banho lustral da palavra de vida 
empalidecem as possibilidades de redenção e liberdade real. 
O Evangelho nos diz que “os seus não O receberam...” 
No entanto, Ele sempre recebeu a todos, estando à disposição 
 
 
de todos. 
Entre os que O buscavam estavam homens e mulheres de 
renomada posição e dos mais escusos antros das cidades. 
Muitos se disputavam recebê-lo em suas casas, tê-Lo às suas 
mesas, talvez para se beneficiarem da notoriedade d’Ele ou para 
conhecê-Lo de perto. 
Incansável, porém, demorou-se em serviço enquanto era tempo, 
sem reclamar nem transigir com aqueles que não O queriam, nem O 
escutavam, nem O recebiam. . . 
* * * 
Não há outra conduta a adotar, a serviço d’Ele, senão 
aprendendo com Ele a lição da sua conduta... 
Os que agora não podem avançar contigo, virão depois. 
Propicia-lhes terreno e prossegue à frente, abrindo rota de 
segurança entre dificuldades. 
O valor da mensagem que conduzes com doação da própria 
vida é tesouro que, em te enriquecendo da luz do discernimento, fará 
de ti emissário da paciência e da paz, sem campo para que grassem 
as sombras da revolta ou da ira. 
 
 
18 
 
DESESPÊRO INJUSTIFICÁVEL 
 
Pensas: “Aceitei, confiante, a fé e a luta me parece mais rude. A 
fadiga me segue e o desespero me cerceia. Tenho a impressão de 
que forças tiranizantes me amesquinham, comprazendo-se com os 
meus tormentos”. 
Analisas: “Abracei o Cristianismo Redivivo no Espiritismo, 
guardando a esperança de esclarecido, repousar, e edificado pelo 
esclarecimento, viver em paz. No entanto, com a dilatação do 
conhecimento, parece-me que problemas com os quais eu não 
contava repontam multiplicados e dissabores me assinalam as 
horas”. 
Comentas: “Que ocorre comigo? Não desejava melhoras 
econômicas ao aceitar, a Doutrina renovadora, todavia, 
surpreendo-me com tantos insucessos.... Não aguardava um paraíso 
entre os companheiros, mas, por que a animosidade? ... 
Todo compromisso elevado exige esforço no empreendimento, 
luta na execução, força no ideal. 
Quem pretende fruir antes de produzir conserva infantilidade 
 
 
mental. 
O homem velho para despojar-se do manto característico não 
consegue fazê-lo sem uma grande revolução íntima. 
O passado de cada espírito em luta, na Terra, é todo um 
amontoado de escombros a retirar para reconstruir, reaparelhar. 
Enquanto alguém se demora em charco pestilento acostuma-se 
ao rescender da podridão. 
O horizonte visual é maior de quanto mais alto o contemplamos. 
É, pois, compreensível que, desejoso de uma vida melhor sejam 
concedidas às tuas possibilidades atuais as lutas redentoras para 
mais altos voos. 
Com as percepções espirituais desenvolvidas e sintonizadas 
com as Esferas da Luz, teus inimigos desencarnados, na retaguarda, 
redobram a vigilância junto aos teus movimentos e, de paixões 
açuladas ante a perspectiva de perderem o comensal de antigas 
loucuras, atiram-se, desordenadamente, “dispostos a tudo”... 
Ora, porfia, estuda e ama. 
A oração elevar-te-á além das sombras densas. 
A porfia retemperará tuas forças. 
O estudo dilatará a tua faculdade de discernir. 
 
 
E o amor te concederá as láureas da paz, oferecendo-te os 
tesouros inalienáveis da felicidade sem jaça. 
* * * 
Em “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec, O Emissário das 
Cortes Celestes, registrou: Sob a influência das ideias carnais, o 
homem, na Terra, só vê das provas o lado penoso"... "... Na vida 
espiritual, porém, compara esses gozos fugazes e grosseiros com a 
inalterável felicidade quo lhe é dado entrever e desde logo nenhuma 
impressão mas lhe causam os passageiros sofrimentos terrenos”. . .
 .... Não é possível, no estado, de imperfeição em que se 
encontra, gozar de uma vida isenta de amarguras. Ele o percebe e, 
precisamente para chegar a fruí-la, é que trata de se melhorar”. 
19 
 
TERAPÊUTICA ESPIRITA 
Para, no turbilhão que te desequilibra, e medita. 
Meditação é combustível precioso que mantém o vigor moral. 
Emerge das areias movediças e sedutoras das atrações fáceis e 
medita nas responsabilidades morais que enfeixas nas mãos. 
Meditação é dínamo poderoso que movimenta a máquina da 
 
 
ação. 
Estaciona, no caminho de inquietudes por onde seguem os teus 
pés, e faze um exame dos teus atos, demorando-te um pouco em 
meditação. 
Meditação é terapia que oferece paz. 
Esquece sombras e pesadelos e, antes de reiniciareis as tarefas 
que acalentas, deixa-te ficar algum tempo em meditação. 
Meditação é amiga fiel que corrige com bondade e esclarece 
com humildade. 
Se desejas, realmente, um método eficiente para ser mantido o 
alto índice de produtividade, evitando insucessos continuados ou 
erros constantes, elege a meditação como hábito salutar em tua vida. 
O cristão, e em particular o espírita, tem necessidade de meditar 
como de orar, porquanto se a vigilância decorre da meditação, esta é 
consequência dela. 
* * * 
Acreditas-te em soledade e por isso sofres. Medita e verificarás 
outros corações mais solitários ao teu lado. Levanta-te, visita-os e 
apresenta-lhes a Mensagem Espírita. 
Consideras-te enfermo e alquebrado, caminhando sem arrimo. 
 
 
Medita e encontrarás, próximos de ti, sofredores mais atormentados, 
contemplando em ti a felicidade que dizes não possuir. Dirige-te a 
eles e oferece a fraternidade que podes haurir nas Lições Espíritas. 
Aceitas como fato consumado a tua falta de sorte, no que diz 
respeito às atividades comuns a todos os homens. Medita e 
enxergarás corações vencidos, que te invejam o sorriso e a fortuna 
que afirmas não ter. Alonga até eles a compreensão espírita. 
Descobrirás, se meditares, que a Terra é um imenso hospital de 
almas mais sofredoras do que a tua e que, com os recursos de 
terapêutica espírita, poderás operar valiosas contribuições em favor 
delas, constatando a exatidão da máxima evangélica: “Mais se dará 
àquele que mais der”, porque, ao ajudares, sentir-te-ás também 
ajudado. 
Faze pequeno curso de Espiritismo em casa para ti próprio, 
«tildando a Codificação; aplica passes; oferece água fluidificada; 
concede palavras de alento; frequenta serviços de desobsessão; 
desperta para a vida espírita dentro de ti mesmo e, meditando para 
agir com acerto, desfrutarás a felicidade perfeita que ambicionas, 
porque meditar no bem e começar a fruir o bem desde agora mesmo. 
 
 
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JUSTIÇA EM NÓS MESMOS 
 
Transitam à margem da consciência com os centros da lucidez 
nublados, vivendo trágicos espetáculos íntimos que remontam ao 
passado. 
Passam, na vida física, hibernados espiritualmente. 
Autoflagelam-se, apagados para a liberdade. 
Estão hipnotizados. 
As experiências vividas na Erraticidade imprimiram-se no 
perispírito vigorosamente, e renasceram sob o império coercitivo das 
evocações. . . 
Apegam-se às ideias extravagantes que vibram nos centros 
mentais. 
Em semitranse, enovelam-se, cada dia, mais fortemente nos 
liames do próprio desequilíbrio. 
Mumificam-se em espírito. 
São dignos de compaixão. 
Estão no lar, nas oficinas de trabalho, nas ruas, em toda parte. 
 
 
Creram no poder da posse. .. 
Vilipendiaram a justiça, zombando da verdade. 
Viveram para si mesmos, esmagando esperanças alheias, 
trucidando alheias aspirações. 
Dormiram, enquanto na carne, na inconsciência da verdade, 
empedernindo os sentimentos, enregelando o coração. 
Renasceram prisioneiros

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