Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES Módulo: Sucessão Legítima TEMA 04 – Ordem Vocacional Hereditária – Sucessão Pura do Cônjuge ou do Companheiro Sobrevivente. 1. DA SUCESSÃO PURA DO CÔNJUGE SOBREVIVENTE Faltando descendentes e ascendentes, a sucessão é transmitida por inteiro e isoladamente ao cônjuge sobrevivente, que está na terceira classe dos herdeiros (III do art. 1.829, CC); conforme se verifica do artigo 1.838 do Código Civil: “Em falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge sobrevivente.” Neste caso, portanto, não haverá nenhum tipo de concorrência com outro herdeiro, qual seja, os colaterais, que são herdeiros de quarta classe, e assim exclui totalmente da possibilidade de herdarem. Lembrando ainda que, o mesmo tratamento será dado ao cônjuge de uma relação homoafetiva. É preciso, também, perceber que a sucessão do cônjuge não está vinculada a qualquer regime de bens; portanto, o cônjuge sobrevivente será herdeiro independente do regime de bens que ele e o falecido haviam escolhido. É nesse sentido que a jurisprudência tem se posicionado: Agravo. Decisão monocrática que nega provimento de plano a recurso de apelação. Sucessões. Ação de petição de herança. Ordem da vocação hereditária. Ausência de descendentes e ascendentes. Cônjuge supérstite. Direito à totalidade da herança. Preferência em relação aos colaterais. Regime de bens do casamento. Irrelevância. Na ausência de descendentes e ascendentes, o cônjuge supérstite antecede os colaterais, conforme a ordem de vocação hereditária, razão por que receberá a totalidade da herança, sendo irrelevante o regime de bens que regulou o casamento. Inteligência dos artigos 1.829 c/c 1.838 do atual Código Civil, legislação aplicável ao caso concreto. Sentença confirmada. Decisão da relatora chancelada pelo Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663 colegiado. Agravo desprovido” (TJRS, Agravo 208345- 10.2013.8.21.7000, 7.ª Câmara Cível, Porto Alegre, Rel. Des. Sandra Brisolara Medeiros, j. 26.06.2013, DJERS 01.07.2013). Portanto, independente do regime de bens escolhido pelo casal, o cônjuge sobrevivente será herdeiro da totalidade dos bens deixados pelo falecido, e de forma exclusiva, sem possibilidade de concorrência com os colaterais. 2. DAS CONDIÇÕES PARA O CÔNJUGE HERDAR ISOLADAMENTE OU EM CONCORRÊNCIA. Ensina Flavio Tartuce: Estatui o polêmico art. 1.830 do Código Civil, mais um comando que gera muitos debates na doutrina nacional, quais as condições fáticas em que deve estar o cônjuge para que seja reconhecido como herdeiro, isoladamente na terceira classe ou em concorrência com os descendentes – na primeira classe – e com os ascendentes – na segunda classe. (TARTUCE, 2017)1 Portanto, a lei institui requisitos para o cônjuge sobrevivente herdar, conforme se verifica do Artigo 1.830 do Código Civil: Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam separados judicialmente, nem separados de fato há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa do sobrevivente. Sendo assim, o cônjuge sobrevivente, também para relações homoafetivas, somente terá direitos sucessórios se mantiver efetivamente e no plano real a comunhão plena de vida que justifica o tratamento sucessório. Pela primeira parte do dispositivo é preciso observar que a lei determina que o cônjuge sobrevivente não pode estar separado judicialmente ao tempo da morte do outro cônjuge. E aqui reside o problema, como ensina Flavio Tartuce: 1 TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 5: direito de família – 12. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017.Pág. 133. Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663 No entanto, há aqui um problema, pelo fato de o preceito não mencionar a separação extrajudicial, efetivada por escritura pública no Tabelionato de Notas, incluída no sistema por força da Lei 11.441/2007, tratada pelo art. 1.124-A do CPC/1973 e confirmada pelo art. 733 do CPC/2015. Em suma, para os devidos fins de atualização do dispositivo material, deve ser incluída, em tese, essa forma de separação desjudicializada ou administrativa.(TARTUCE, 2017)2 Portanto, a lei civil traz uma omissão legal que gerará problemas na prática, e, por razões óbvias, o Código Civil não faz menção ao divórcio, uma vez que, com o divórcio estão dissolvidos o casamento e o vínculo matrimonial, portanto, não há que falar em direito sucessório do ex-cônjuge que, com o falecido, não mantém mais qualquer vínculo familiar. Para a corrente que entende que a Emenda Constitucional 66/2010, conhecida como emenda do divórcio, retirou do sistema a separação de direito, incluído a separação judicial e a extrajudicial, restaria apenas o divórcio como forma de extinção do casamento. Isso porque não há mais a menção à separação judicial como requisito anterior para a conversão ao divórcio na atual redação do artigo 226, § 6.º, da Constituição Federal. Entendem que essa posição defendida é confirmada mesmo tendo o Novo CPC tratado da separação de direito em vários de seus dispositivos, inclusive nesse caso entendem como um profundo e lamentável retrocesso. Assim, para essa corrente a primeira parte do comando somente se aplica às pessoas separadas judicialmente, ou extrajudicialmente, quando da entrada em vigor da Emenda Constitucional, perdendo em parte considerável a sua subsunção social. Já a segunda parte do artigo 1.830 do Código Civil preconiza que o cônjuge separado de fato há mais de dois anos também não tem reconhecido o seu direito sucessório, salvo se provar que o fim do casamento não se deu por culpa sua, mas sim por culpa do falecido. A menção à culpa pelo dispositivo legal é amplamente criticada pelos doutrinadores brasileiros. Nesse sentido, ensina Flavio Tartuce: 2 TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 5: direito de família – 12. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017.Pág. 133. Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663 Na doutrina, quem melhor percebeu os problemas do dispositivo foi Rolf Madaleno, apontando a existência de uma culpa mortuária ou culpa funerária, a conduzir a uma prova diabólica, pois o falecido não estará mais no mundo dos vivos para atestar a presença de sua culpa ou não. Vejamos as suas lições: “Contudo, se ainda é possível entender, sem mais concordar, que possam os cônjuges desafetos eternizar suas disputas no ventre de uma morosa e inútil separação judicial causal, qualquer sentido pode ser encontrado na possibilidade aberta pelo atual codificador ao permitir, pelo atual art. 1.830 do Código Civil, que o cônjuge sobrevivente acione o Judiciário para discutir a culpa do esposo que já morreu. Abre a nova lei o exame da culpa funerária, ao prescrever que só conhece o direito sucessório do cônjuge sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam separados judicialmente, nem separados de fato há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa do sobrevivente. É a pesquisa oficial da culpa mortuária passados até dois anos de fática separação, quando toda a construção doutrinária e jurisprudencial já vinha apontando para a extinção do regime de comunicação patrimonial com a física separação dos cônjuges, numa consequência de lógica coerência da separação objetiva, pela mera aferição do tempo, que por si mesmo sepulta qualquer antiga comunhão de vida” (MADALENO, Rolf. Concorrência..., 2010).3 Portanto, a lei civil trouxe uma hipótese que necessitará de provas, contudo, o falecido estará impedido de manifestar-se, por razões óbvias; estando assim na contramão dos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, conforme previsto no artigo 5º, LV da Constituição Federal.Há, ainda, discordância quanto o prazo de 2 anos de separação de fato, uma vez que a união estável, pode configurar-se a qualquer tempo, não sendo razoável estabelecer-se um lapso mínimo de separação de fato como conditio sine qu non para a legitimidade sucessória, se antes mesmo da consumação do biênio, a parte já pode ter formado outro núcleo familiar. Além disso, esse prazo estaria em desacordo com o artigo 1.723 do Código Civil, que não exige qualquer prazo para a união estável. Vários julgados, inclusive do Superior Tribunal de Justiça, já fazem essa leitura idealizada e consideram que a separação de fato por longo período põe fim à sociedade conjugal e ao regime de bens, sendo necessário analisar as circunstâncias do caso concreto, sem apego ao rigor do prazo de dois anos: 3 TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 5: direito de família – 12. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017.Pág. 133/134. Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663 Direito civil. Família. Sucessão. Comunhão universal de bens. Sucessão aberta quando havia separação de fato. Impossibilidade de comunicação dos bens adquiridos após a ruptura da vida conjugal. 1. O cônjuge que se encontra separado de fato não faz jus ao recebimento de quaisquer bens havidos pelo outro por herança transmitida após decisão liminar de separação de corpos. 2. Na data em que se concede a separação de corpos, desfazem-se os deveres conjugais, bem como o regime matrimonial de bens; e a essa data retroagem os efeitos da sentença de separação judicial ou divórcio. 3. Recurso especial não conhecido” (STJ, REsp 1065209/SP, 4.ª Turma, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 08.06.2010, DJe 16.06.2010). Portanto, é possível verificar que os tribunais não estão atrelados ao prazo estabelecido pela lei, tendo julgado através do caso concreto; e o assunto continua aberto na doutrina e na jurisprudência, sendo um dos grandes desafios doutrinários. 3. DIREITO SUCESSÓRIO NO CASAMENTO INVÁLIDO, NULO OU ANULÁVEL Duas são as hipóteses tratadas pelo Código Civil a respeito da invalidade do casamento, quais sejam a nulidade absoluta e a nulidade relativa ou anulabilidade. O casamento nulo tinha duas situações previstas no artigo 1.548 do Código Civil, quais sejam: a) o enfermo mental sem discernimento para a prática dos atos da vida civil; e b) os impedidos de casar-se, nas situações listadas no artigo 1.521 também do Código Civil. Contudo a primeira hipótese não mais persiste pela edição da Lei 13.146/15, conhecido pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência. Por outro lado, o casamento e anulável nas hipóteses previstas no artigo 1.550 do Código Civil, quais sejam: menor que não completou a idade núbil, tendo menos de 16 anos menor em idade núbil – entre 16 e 18 anos –, não havendo autorização do seu representante legal; havendo o vício da vontade da coação moral; presente o vício do erro essencial quanto à pessoa do outro cônjuge; Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663 o casamento do incapaz de consentir e de manifestar de forma inequívoca a sua vontade no caso de casamento celebrado por procuração, havendo a revogação do mandato, sem que ela chegue ao conhecimento do mandatário e do outro cônjuge havendo incompetência relativa da autoridade celebrante Novamente, o Estatuto da Pessoa com Deficiência trouxe alterações a respeito do casamento anulável, incluindo um § 2.º no Artigo 1.550, que permite o casamento, desde que expressando sua vontade diretamente ou por meio do seu responsável ou curador. Com relação ao tema, nos ensina Flavio Tartuce: Cabe lembrar que na invalidade do casamento o vínculo entre os cônjuges é dissolvido por causa anterior ao casamento. Nesse ponto, diferencia-se do divórcio, pois o vínculo é extinto por motivo posterior ao casamento. Todavia, o casamento inválido – nulo ou anulável – pode gerar efeitos, o que depende da boa-fé de um ou de ambos os cônjuges. (TARTUCE, 2017)4 Foi assim que nesse contexto, o artigo 1.561 do Código Civil trata do casamento putativo, ou seja, aquele que, embora nulo ou anulável, gera efeitos em relação a quem esteja movido pela boa-fé subjetiva, aquela que existe no plano intencional. Assim, havendo boa-fé de ambos os cônjuges, o casamento gera efeitos para ambos e para os filhos; se a boa-fé for de apenas um dos cônjuges e a má-fé do outro, o casamento gera efeitos apenas para o primeiro e para os filhos. O cônjuge de má- fé é considerado culpado e perde todas as vantagens havidas do casamento para o cônjuge inocente; além de ter que cumprir as eventuais obrigações constantes em promessa antenupcial; em conformidade com o artigo 1.564 do Código Civil. Desta forma, existindo má-fé de ambos os cônjuges, o casamento gera efeitos apenas para os filhos havidos da união, sendo os direitos dos cônjuges resolvidos no campo do direito obrigacional. 4 TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 5: direito de família – 12. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017.Pág. 136. Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663 A doutrina entende que sendo inválido o casamento e reconhecida sua putatividade, o cônjuge sobrevivente de boa-fé tem direito sucessório, se a sentença de anulação for posterior à morte do outro cônjuge. Ensina Flavio Tartuce: “Trata-se de uma decorrência natural do caput do art. 1.561 do CC/2002, segundo o qual o casamento produz efeitos até a data do trânsito em julgado da sentença anulatória.” (TARTUCE, 2017)5 Assim, se o falecimento se der antes do trânsito em julgado da decisão definitiva ou presente a má-fé do cônjuge sobrevivente, não haverá reconhecimento do seu direito hereditário. Contudo, não é necessária a regra de que, se o cônjuge estiver casado com outra pessoa, o ex-cônjuge putativo nada herdará, uma vez que tal premissa é óbvia pelo sistema jurídico nacional e pela ideia constante do Artigo 1.830 do Código Civil brasileiro. 4. SUCESSÃO DO COMPANHEIRO SOBREVIVENTE 4.1. UNIÃO ESTÁVEL ANTES DO CÓDIGO CIVIL DE 2022. Durante um longo período, uma prolongada entre o homem e a mulher, sem casamento, caracterizada pela “união livre”, foi chamada de concubinato; e para os efeitos legais, não apenas eram concubinos os que mantinham vida marital sem serem casados, senão também os que haviam contraído matrimônio não reconhecido legalmente, por mais respeitável que fosse perante a consciência dos contraentes, como na hipótese do casamento religioso, por exemplo. Ensina Carlos Roberto Gonçalves: O Código Civil de 1916 continha alguns dispositivos que faziam restrições a esse modo de convivência, proibindo, por exemplo, doações ou benefícios testamentários do homem casado à concubina, ou a inclusão desta como beneficiária de contrato de seguro de vida. Aos poucos, no entanto, a começar pela legislação previdenciária, alguns direitos da concubina foram sendo reconhecidos, tendo a 5 TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 5: direito de família – 12. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017.Pág. 137. Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663 jurisprudência admitido outros, como o direito à meação dos bens adquiridos pelo esforço comum. (GONÇALVES, 2012)6 Portanto, aos poucos a legislação veio perdendo a ideia pré estabelecida que essas uniões eram sempre fraudulentas, e passaram a garantir alguns direitos, ainda que mínimos. O grande passo, contudo, veio através do Artigo 226, § 3º da Constituição Federal: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. (...) § 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. (Regulamento) Nesse momento, portanto, as famílias nascidas fora do casamento passaram a ser denominada de união estável, e ganhouum novo status dentro do ordenamento brasileiro. Mas foi a Lei n. 8.971/94 que regulou o direito dos companheiros a alimentos e a sucessão, e a Lei n. 9.278/96 regulamentou o art. 226, § 3º, da Constituição Federal, reconhecendo a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, asseguraram aos companheiros, dentre outros direitos, o de herdar. Ademais, a Lei n. 8.971/94 ampliou, em seu Artigo 2º, III, o rol de herdeiros estabelecido no Artigo 1.603 do Código Civil de 1916, ao determinar a sucessão ao companheiro ou companheira sobrevivente, e não aos colaterais, desde que inexistissem descendentes ou ascendentes. como requisito, exigia a referida lei a união com pessoa solteira, separada judicialmente, divorciada ou viúva, bem como a prova da efetiva união marital pelo prazo de cinco anos, ou por qualquer tempo, se houvesse prole. Mas com o advento da Lei n. 9.278/96 não mais se exigiam todos esses requisitos para caracterização da sociedade de fato, uma vez que o seu art. 1º 6 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil Brasileiro: Direito de Família, Vol.7. 15ª Ed. Saraiva. 2012. Pág.74. Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663 reconhecia “como entidade familiar a convivência duradoura, pública e contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de constituição de família”. Assim, bastava a prova do estabelecimento da sociedade conjugal de fato, com a formação do patrimônio; e vivendo uma pessoa com cônjuge e companheiro, separavam-se as meações de conformidade com as aquisições havidas durante cada união. As duas mantiveram-se em vigor, mantendo-se as disposições da Lei 8.971/94 que não conflitassem com a Lei n. 9.278/96; o que acabou por conferir mais direitos à companheira do que à esposa; como a possibilidade do usufruto vidual ou o direito real de habitação, dependendo do regime de bens adotado no casamento, enquanto aquela poderia desfrutar de ambos os benefícios. 4.2. UNIÃO ESTÁVEL NO CÓDIGO CIVIL DE 2002 Restaram tacitamente revogadas as Leis n. 8.971/94 e 9.278/96 em face da inclusão da matéria no âmbito do Código Civil de 2002, que fez significativa mudança, inserindo o título referente à união estável no Livro de Família e incorporando, em cinco artigos, quais seja, artigos 1.723 a 1.727. O Código Civil tratou nesses dispositivos dos aspectos processuais e patrimoniais, deixando para o direito das sucessões o efeito patrimonial sucessório; conforme o artigo 1.790. Não houve referência ao direito real de habitação em favor do companheiro sobrevivente, previsto no parágrafo único do Artigo 7º da Lei n. 9.278/96, nem ao usufruto vidual, pelo fato, neste caso, de concorrer na herança, como herdeiro, com os parentes do de cujus. Ensina Carlos Roberto Gonçalves: O não reconhecimento do direito de habitação ao companheiro sobrevivo tem sido alvo de críticas, por sujeitá-lo a uma eventual desocupação compulsória do imóvel onde vivia com o finado parceiro, na hipótese de não ter este adquirido bens durante a convivência, ou de tê-lo adquirido só a título gratuito. Nesses casos carece o companheiro do direito à meação e tampouco concorre na herança, que poderá ser atribuída a herdeiros que nem sempre aceitarão repartir com ele o uso do imóvel residencial. (GONÇALVES, 2012)7 7 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil Brasileiro: Direito de Família, Vol.7. 15ª Ed. Saraiva. 2012. Pág. 75. Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663 Assim, os companheiros perderam direitos antes garantido com as legislações infraconstitucionais; mas sustenta uma corrente doutrinária a subsistência do Artigo 7º, parágrafo único, da Lei n. 9.278/96, que defere ao companheiro sobrevivente o direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família. Justificam, em defesa do companheiro, não ter havido revogação expressa da referida lei, bem como inexistir incompatibilidade do benefício nela previsto com qualquer dispositivo do atual Código Civil; bem como a extensão analógica do mesmo direito assegurado ao cônjuge sobrevivente no artigo 1.831 do mesmo diploma. O artigo 1.790 do Código Civil, inexplicavelmente alocado nas disposições gerais do título referente ao direito das sucessões, e não no capítulo da vocação hereditária, preceitua: Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes: (Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso Extraordinário nº 878.694) I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho; II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe- á a metade do que couber a cada um daqueles; III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança; IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança. Portanto, se observa que a companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro quanto aos bens adquiridos na vigência da união estável, sem receber, no entanto, o mesmo tratamento do cônjuge sobrevivente, que tem maior participação na herança e foi incluído no rol dos herdeiros necessários, ao lado dos descendentes e ascendentes. Resumidamente, o dispositivo legal restringe o direito do companheiro aos bens que tenham sido adquiridos onerosamente na vigência da união estável; faz distinção entre a concorrência do companheiro com filhos comuns ou só do falecido; Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663 prevê o direito apenas à metade do que couber aos que descenderem somente do autor da herança e estabelece um terço na concorrência com herdeiros de outras classes que não os descendentes do falecido. E, ainda, não beneficia o companheiro com quinhão mínimo na concorrência com os demais herdeiros nem o inclui no rol dos herdeiros necessários; concorre com um terço também com os colaterais e só é chamado a recolher a totalidade da herança na falta destes. 4.3. DA IGUALDADE DOS DIREITOS SUCESSÓRIOS Carlos Roberto Gonçalves ensina: Embora o tratamento díspar da sucessão do companheiro tenha resultado de opção do legislador, merece as críticas que lhe são endereçadas: a) por limitar a sucessão aos bens adquiridos onerosamente na constância da união estável; b) por repetir, no caso de concorrência com os descendentes, a indébita distinção entre descendentes exclusivos, só do autor da herança, e descendentes comuns, havidos da união entre o autor da herança e o companheiro; e c) por estabelecer a concorrência com os colaterais. (GONÇALVES, 2012)8 Portanto, fica claro que, o tratamento diferenciado pelo Código Civil vai na contramão da proteção constitucional das uniões estáveis. E foi em virtude disso que a igualdade de direitos sucessórios do companheiro e do cônjuge veio a ser buscada e foi proclamada pelo Supremo Tribunal Federal em 10 de maio de 2017, através do julgamento dos Recursos Extraordinários 646.721 e 878.694. Esses julgados estiveram sob a égide do regime da repercussão geral, e reconheceram, incidentalmente, a inconstitucionalidade do artigo 1.790 do Código Civil, que estabelecia a diferenciação dos direitos dos cônjuges e companheiros para fins sucessórios, excluindo praticamente do sistema o aludido dispositivo, ao fixar a 8 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil Brasileiro: Direito de Família, Vol.7. 15ª Ed. Saraiva. 2012. Pág.76 Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663 seguinte tese: “No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado em ambos os casos o regime estabelecido no artigo 1.829 do Código Civil.” Assim, entendeu-se que o tratamento diferenciado acerca da participação naherança do companheiro ou cônjuge falecido conferido pelo artigo 1.790 do Código Civil ofende frontalmente os princípios da igualdade, da dignidade humana, da proporcionalidade e da vedação ao retrocesso. Portanto, se o companheiro está vivo, colaterais não podem questionar herança; uma vez que o regime de sucessão de cônjuges estabelece que os colaterais só têm direito à herança se não houver mais filhos, cônjuge ou ascendentes vivos; estando os companheiros equiparados o mesmo tratamento deverá ser dado, herdando com exclusividade os bens do companheiro falecido. Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663 BIBLIOGRAFIA DIAS, Maria Berenice Manual de direito das famílias I Maria Berenice Dias. 10. ecl. rev., atual. e ampliada. -- São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil Brasileiro: Direito de Família, Vol.7. 15ª Ed. Saraiva. 2012. TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 6: direito das sucessões– 10. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017. Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663
Compartilhar