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Sucessão Legítima no Direito de Família

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DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES 
 
Módulo: 
Sucessão Legítima 
 
TEMA 04 – Ordem Vocacional Hereditária – 
Sucessão Pura do Cônjuge ou do Companheiro 
Sobrevivente. 
 
 
1. DA SUCESSÃO PURA DO CÔNJUGE SOBREVIVENTE 
Faltando descendentes e ascendentes, a sucessão é transmitida por inteiro e 
isoladamente ao cônjuge sobrevivente, que está na terceira classe dos herdeiros (III 
do art. 1.829, CC); conforme se verifica do artigo 1.838 do Código Civil: “Em falta de 
descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge 
sobrevivente.” Neste caso, portanto, não haverá nenhum tipo de concorrência com 
outro herdeiro, qual seja, os colaterais, que são herdeiros de quarta classe, e assim 
exclui totalmente da possibilidade de herdarem. 
Lembrando ainda que, o mesmo tratamento será dado ao cônjuge de uma 
relação homoafetiva. 
É preciso, também, perceber que a sucessão do cônjuge não está vinculada 
a qualquer regime de bens; portanto, o cônjuge sobrevivente será herdeiro 
independente do regime de bens que ele e o falecido haviam escolhido. É nesse 
sentido que a jurisprudência tem se posicionado: 
Agravo. Decisão monocrática que nega provimento de plano a recurso 
de apelação. Sucessões. Ação de petição de herança. Ordem da 
vocação hereditária. Ausência de descendentes e ascendentes. 
Cônjuge supérstite. Direito à totalidade da herança. Preferência em 
relação aos colaterais. Regime de bens do casamento. Irrelevância. 
Na ausência de descendentes e ascendentes, o cônjuge supérstite 
antecede os colaterais, conforme a ordem de vocação hereditária, 
razão por que receberá a totalidade da herança, sendo irrelevante o 
regime de bens que regulou o casamento. Inteligência dos artigos 
1.829 c/c 1.838 do atual Código Civil, legislação aplicável ao caso 
concreto. Sentença confirmada. Decisão da relatora chancelada pelo 
Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663
 
 
 
colegiado. Agravo desprovido” (TJRS, Agravo 208345-
10.2013.8.21.7000, 7.ª Câmara Cível, Porto Alegre, Rel. Des. Sandra 
Brisolara Medeiros, j. 26.06.2013, DJERS 01.07.2013). 
 
Portanto, independente do regime de bens escolhido pelo casal, o cônjuge 
sobrevivente será herdeiro da totalidade dos bens deixados pelo falecido, e de forma 
exclusiva, sem possibilidade de concorrência com os colaterais. 
 
2. DAS CONDIÇÕES PARA O CÔNJUGE HERDAR ISOLADAMENTE 
OU EM CONCORRÊNCIA. 
 
Ensina Flavio Tartuce: 
 
Estatui o polêmico art. 1.830 do Código Civil, mais um comando que 
gera muitos debates na doutrina nacional, quais as condições fáticas 
em que deve estar o cônjuge para que seja reconhecido como 
herdeiro, isoladamente na terceira classe ou em concorrência com os 
descendentes – na primeira classe – e com os ascendentes – na 
segunda classe. (TARTUCE, 2017)1 
 
 
Portanto, a lei institui requisitos para o cônjuge sobrevivente herdar, conforme 
se verifica do Artigo 1.830 do Código Civil: 
 
Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge 
sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam separados 
judicialmente, nem separados de fato há mais de dois anos, salvo 
prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem 
culpa do sobrevivente. 
 
Sendo assim, o cônjuge sobrevivente, também para relações homoafetivas, 
somente terá direitos sucessórios se mantiver efetivamente e no plano real a 
comunhão plena de vida que justifica o tratamento sucessório. 
Pela primeira parte do dispositivo é preciso observar que a lei determina que 
o cônjuge sobrevivente não pode estar separado judicialmente ao tempo da morte do 
outro cônjuge. E aqui reside o problema, como ensina Flavio Tartuce: 
 
 
1 TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 5: direito de família – 12. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de 
Janeiro: Forense, 2017.Pág. 133. 
Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663
 
 
 
No entanto, há aqui um problema, pelo fato de o preceito não 
mencionar a separação extrajudicial, efetivada por escritura pública no 
Tabelionato de Notas, incluída no sistema por força da Lei 
11.441/2007, tratada pelo art. 1.124-A do CPC/1973 e confirmada pelo 
art. 733 do CPC/2015. Em suma, para os devidos fins de atualização 
do dispositivo material, deve ser incluída, em tese, essa forma de 
separação desjudicializada ou administrativa.(TARTUCE, 2017)2 
 
 
Portanto, a lei civil traz uma omissão legal que gerará problemas na prática, 
e, por razões óbvias, o Código Civil não faz menção ao divórcio, uma vez que, com o 
divórcio estão dissolvidos o casamento e o vínculo matrimonial, portanto, não há que 
falar em direito sucessório do ex-cônjuge que, com o falecido, não mantém mais 
qualquer vínculo familiar. 
Para a corrente que entende que a Emenda Constitucional 66/2010, 
conhecida como emenda do divórcio, retirou do sistema a separação de direito, 
incluído a separação judicial e a extrajudicial, restaria apenas o divórcio como forma 
de extinção do casamento. Isso porque não há mais a menção à separação judicial 
como requisito anterior para a conversão ao divórcio na atual redação do artigo 226, 
§ 6.º, da Constituição Federal. 
Entendem que essa posição defendida é confirmada mesmo tendo o Novo 
CPC tratado da separação de direito em vários de seus dispositivos, inclusive nesse 
caso entendem como um profundo e lamentável retrocesso. Assim, para essa corrente 
a primeira parte do comando somente se aplica às pessoas separadas judicialmente, 
ou extrajudicialmente, quando da entrada em vigor da Emenda Constitucional, 
perdendo em parte considerável a sua subsunção social. 
Já a segunda parte do artigo 1.830 do Código Civil preconiza que o cônjuge 
separado de fato há mais de dois anos também não tem reconhecido o seu direito 
sucessório, salvo se provar que o fim do casamento não se deu por culpa sua, mas 
sim por culpa do falecido. 
A menção à culpa pelo dispositivo legal é amplamente criticada pelos 
doutrinadores brasileiros. Nesse sentido, ensina Flavio Tartuce: 
 
 
2 TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 5: direito de família – 12. ed. rev., atual. e ampl. – 
Rio de Janeiro: Forense, 2017.Pág. 133. 
Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663
 
 
 
Na doutrina, quem melhor percebeu os problemas do dispositivo foi 
Rolf Madaleno, apontando a existência de uma culpa mortuária ou 
culpa funerária, a conduzir a uma prova diabólica, pois o falecido não 
estará mais no mundo dos vivos para atestar a presença de sua culpa 
ou não. Vejamos as suas lições: “Contudo, se ainda é possível 
entender, sem mais concordar, que possam os cônjuges desafetos 
eternizar suas disputas no ventre de uma morosa e inútil separação 
judicial causal, qualquer sentido pode ser encontrado na possibilidade 
aberta pelo atual codificador ao permitir, pelo atual art. 1.830 do 
Código Civil, que o cônjuge sobrevivente acione o Judiciário para 
discutir a culpa do esposo que já morreu. Abre a nova lei o exame da 
culpa funerária, ao prescrever que só conhece o direito sucessório do 
cônjuge sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam 
separados judicialmente, nem separados de fato há mais de dois anos, 
salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara 
impossível sem culpa do sobrevivente. É a pesquisa oficial da culpa 
mortuária passados até dois anos de fática separação, quando toda a 
construção doutrinária e jurisprudencial já vinha apontando para a 
extinção do regime de comunicação patrimonial com a física 
separação dos cônjuges, numa consequência de lógica coerência da 
separação objetiva, pela mera aferição do tempo, que por si mesmo 
sepulta qualquer antiga comunhão de vida” (MADALENO, Rolf. 
Concorrência..., 2010).3 
 
Portanto, a lei civil trouxe uma hipótese que necessitará de provas, contudo, 
o falecido estará impedido de manifestar-se, por razões óbvias; estando assim na 
contramão dos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, conforme 
previsto no artigo 5º, LV da Constituição Federal.Há, ainda, discordância quanto o prazo de 2 anos de separação de fato, uma 
vez que a união estável, pode configurar-se a qualquer tempo, não sendo razoável 
estabelecer-se um lapso mínimo de separação de fato como conditio sine qu non para 
a legitimidade sucessória, se antes mesmo da consumação do biênio, a parte já pode 
ter formado outro núcleo familiar. 
Além disso, esse prazo estaria em desacordo com o artigo 1.723 do Código 
Civil, que não exige qualquer prazo para a união estável. 
Vários julgados, inclusive do Superior Tribunal de Justiça, já fazem essa 
leitura idealizada e consideram que a separação de fato por longo período põe fim à 
sociedade conjugal e ao regime de bens, sendo necessário analisar as circunstâncias 
do caso concreto, sem apego ao rigor do prazo de dois anos: 
 
3 TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 5: direito de família – 12. ed. rev., atual. e ampl. – 
Rio de Janeiro: Forense, 2017.Pág. 133/134. 
Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663
 
 
 
 
Direito civil. Família. Sucessão. Comunhão universal de bens. 
Sucessão aberta quando havia separação de fato. Impossibilidade de 
comunicação dos bens adquiridos após a ruptura da vida conjugal. 1. 
O cônjuge que se encontra separado de fato não faz jus ao 
recebimento de quaisquer bens havidos pelo outro por herança 
transmitida após decisão liminar de separação de corpos. 2. Na data 
em que se concede a separação de corpos, desfazem-se os deveres 
conjugais, bem como o regime matrimonial de bens; e a essa data 
retroagem os efeitos da sentença de separação judicial ou divórcio. 3. 
Recurso especial não conhecido” (STJ, REsp 1065209/SP, 4.ª Turma, 
Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 08.06.2010, DJe 16.06.2010). 
 
Portanto, é possível verificar que os tribunais não estão atrelados ao prazo 
estabelecido pela lei, tendo julgado através do caso concreto; e o assunto continua 
aberto na doutrina e na jurisprudência, sendo um dos grandes desafios doutrinários. 
 
3. DIREITO SUCESSÓRIO NO CASAMENTO INVÁLIDO, NULO OU 
ANULÁVEL 
 
Duas são as hipóteses tratadas pelo Código Civil a respeito da invalidade do 
casamento, quais sejam a nulidade absoluta e a nulidade relativa ou anulabilidade. 
O casamento nulo tinha duas situações previstas no artigo 1.548 do Código 
Civil, quais sejam: a) o enfermo mental sem discernimento para a prática dos atos da 
vida civil; e b) os impedidos de casar-se, nas situações listadas no artigo 1.521 
também do Código Civil. 
Contudo a primeira hipótese não mais persiste pela edição da Lei 13.146/15, 
conhecido pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência. 
Por outro lado, o casamento e anulável nas hipóteses previstas no artigo 1.550 
do Código Civil, quais sejam: 
menor que não completou a idade núbil, tendo menos de 16 anos 
menor em idade núbil – entre 16 e 18 anos –, não havendo autorização do seu 
representante legal; 
havendo o vício da vontade da coação moral; 
presente o vício do erro essencial quanto à pessoa do outro cônjuge; 
Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663
 
 
 
o casamento do incapaz de consentir e de manifestar de forma inequívoca a sua 
vontade 
no caso de casamento celebrado por procuração, havendo a revogação do 
mandato, sem que ela chegue ao conhecimento do mandatário e do outro cônjuge 
havendo incompetência relativa da autoridade celebrante 
 
Novamente, o Estatuto da Pessoa com Deficiência trouxe alterações a 
respeito do casamento anulável, incluindo um § 2.º no Artigo 1.550, que permite o 
casamento, desde que expressando sua vontade diretamente ou por meio do seu 
responsável ou curador. 
Com relação ao tema, nos ensina Flavio Tartuce: 
 
Cabe lembrar que na invalidade do casamento o vínculo entre os 
cônjuges é dissolvido por causa anterior ao casamento. Nesse ponto, 
diferencia-se do divórcio, pois o vínculo é extinto por motivo posterior 
ao casamento. Todavia, o casamento inválido – nulo ou anulável – 
pode gerar efeitos, o que depende da boa-fé de um ou de ambos os 
cônjuges. (TARTUCE, 2017)4 
 
Foi assim que nesse contexto, o artigo 1.561 do Código Civil trata do 
casamento putativo, ou seja, aquele que, embora nulo ou anulável, gera efeitos em 
relação a quem esteja movido pela boa-fé subjetiva, aquela que existe no plano 
intencional. 
Assim, havendo boa-fé de ambos os cônjuges, o casamento gera efeitos para 
ambos e para os filhos; se a boa-fé for de apenas um dos cônjuges e a má-fé do outro, 
o casamento gera efeitos apenas para o primeiro e para os filhos. O cônjuge de má-
fé é considerado culpado e perde todas as vantagens havidas do casamento para o 
cônjuge inocente; além de ter que cumprir as eventuais obrigações constantes em 
promessa antenupcial; em conformidade com o artigo 1.564 do Código Civil. 
Desta forma, existindo má-fé de ambos os cônjuges, o casamento gera efeitos 
apenas para os filhos havidos da união, sendo os direitos dos cônjuges resolvidos no 
campo do direito obrigacional. 
 
4 TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 5: direito de família – 12. ed. rev., atual. e ampl. – 
Rio de Janeiro: Forense, 2017.Pág. 136. 
Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663
 
 
 
A doutrina entende que sendo inválido o casamento e reconhecida sua 
putatividade, o cônjuge sobrevivente de boa-fé tem direito sucessório, se a sentença 
de anulação for posterior à morte do outro cônjuge. 
Ensina Flavio Tartuce: “Trata-se de uma decorrência natural do caput do art. 
1.561 do CC/2002, segundo o qual o casamento produz efeitos até a data do trânsito 
em julgado da sentença anulatória.” (TARTUCE, 2017)5 
Assim, se o falecimento se der antes do trânsito em julgado da decisão 
definitiva ou presente a má-fé do cônjuge sobrevivente, não haverá reconhecimento 
do seu direito hereditário. 
Contudo, não é necessária a regra de que, se o cônjuge estiver casado com 
outra pessoa, o ex-cônjuge putativo nada herdará, uma vez que tal premissa é óbvia 
pelo sistema jurídico nacional e pela ideia constante do Artigo 1.830 do Código Civil 
brasileiro. 
 
4. SUCESSÃO DO COMPANHEIRO SOBREVIVENTE 
4.1. UNIÃO ESTÁVEL ANTES DO CÓDIGO CIVIL DE 2022. 
 
Durante um longo período, uma prolongada entre o homem e a mulher, sem 
casamento, caracterizada pela “união livre”, foi chamada de concubinato; e para os 
efeitos legais, não apenas eram concubinos os que mantinham vida marital sem serem 
casados, senão também os que haviam contraído matrimônio não reconhecido 
legalmente, por mais respeitável que fosse perante a consciência dos contraentes, 
como na hipótese do casamento religioso, por exemplo. 
Ensina Carlos Roberto Gonçalves: 
 
O Código Civil de 1916 continha alguns dispositivos que faziam 
restrições a esse modo de convivência, proibindo, por exemplo, 
doações ou benefícios testamentários do homem casado à concubina, 
ou a inclusão desta como beneficiária de contrato de seguro de vida. 
Aos poucos, no entanto, a começar pela legislação previdenciária, 
alguns direitos da concubina foram sendo reconhecidos, tendo a 
 
5 TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 5: direito de família – 12. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de 
Janeiro: Forense, 2017.Pág. 137. 
Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663
 
 
 
jurisprudência admitido outros, como o direito à meação dos bens 
adquiridos pelo esforço comum. (GONÇALVES, 2012)6 
 
Portanto, aos poucos a legislação veio perdendo a ideia pré estabelecida que 
essas uniões eram sempre fraudulentas, e passaram a garantir alguns direitos, ainda 
que mínimos. 
O grande passo, contudo, veio através do Artigo 226, § 3º da Constituição 
Federal: 
 
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do 
Estado. 
(...) 
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável 
entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei 
facilitar sua conversão em casamento. (Regulamento) 
 
Nesse momento, portanto, as famílias nascidas fora do casamento passaram 
a ser denominada de união estável, e ganhouum novo status dentro do ordenamento 
brasileiro. Mas foi a Lei n. 8.971/94 que regulou o direito dos companheiros a 
alimentos e a sucessão, e a Lei n. 9.278/96 regulamentou o art. 226, § 3º, da 
Constituição Federal, reconhecendo a união estável entre o homem e a mulher como 
entidade familiar, asseguraram aos companheiros, dentre outros direitos, o de herdar. 
Ademais, a Lei n. 8.971/94 ampliou, em seu Artigo 2º, III, o rol de herdeiros 
estabelecido no Artigo 1.603 do Código Civil de 1916, ao determinar a sucessão ao 
companheiro ou companheira sobrevivente, e não aos colaterais, desde que 
inexistissem descendentes ou ascendentes. 
como requisito, exigia a referida lei a união com pessoa solteira, separada 
judicialmente, divorciada ou viúva, bem como a prova da efetiva união marital pelo 
prazo de cinco anos, ou por qualquer tempo, se houvesse prole. 
Mas com o advento da Lei n. 9.278/96 não mais se exigiam todos esses 
requisitos para caracterização da sociedade de fato, uma vez que o seu art. 1º 
 
 6 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil Brasileiro: Direito de Família, Vol.7. 15ª Ed. Saraiva. 2012. 
Pág.74. 
 
Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663
 
 
 
reconhecia “como entidade familiar a convivência duradoura, pública e contínua, de 
um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de constituição de família”. 
Assim, bastava a prova do estabelecimento da sociedade conjugal de fato, 
com a formação do patrimônio; e vivendo uma pessoa com cônjuge e companheiro, 
separavam-se as meações de conformidade com as aquisições havidas durante cada 
união. 
As duas mantiveram-se em vigor, mantendo-se as disposições da Lei 
8.971/94 que não conflitassem com a Lei n. 9.278/96; o que acabou por conferir mais 
direitos à companheira do que à esposa; como a possibilidade do usufruto vidual ou o 
direito real de habitação, dependendo do regime de bens adotado no casamento, 
enquanto aquela poderia desfrutar de ambos os benefícios. 
 
4.2. UNIÃO ESTÁVEL NO CÓDIGO CIVIL DE 2002 
Restaram tacitamente revogadas as Leis n. 8.971/94 e 9.278/96 em face da 
inclusão da matéria no âmbito do Código Civil de 2002, que fez significativa mudança, 
inserindo o título referente à união estável no Livro de Família e incorporando, em 
cinco artigos, quais seja, artigos 1.723 a 1.727. O Código Civil tratou nesses 
dispositivos dos aspectos processuais e patrimoniais, deixando para o direito das 
sucessões o efeito patrimonial sucessório; conforme o artigo 1.790. 
Não houve referência ao direito real de habitação em favor do companheiro 
sobrevivente, previsto no parágrafo único do Artigo 7º da Lei n. 9.278/96, nem ao 
usufruto vidual, pelo fato, neste caso, de concorrer na herança, como herdeiro, com 
os parentes do de cujus. 
Ensina Carlos Roberto Gonçalves: 
 
O não reconhecimento do direito de habitação ao companheiro 
sobrevivo tem sido alvo de críticas, por sujeitá-lo a uma eventual 
desocupação compulsória do imóvel onde vivia com o finado parceiro, 
na hipótese de não ter este adquirido bens durante a convivência, ou 
de tê-lo adquirido só a título gratuito. Nesses casos carece o 
companheiro do direito à meação e tampouco concorre na herança, 
que poderá ser atribuída a herdeiros que nem sempre aceitarão 
repartir com ele o uso do imóvel residencial. (GONÇALVES, 2012)7 
 
7 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil Brasileiro: Direito de Família, Vol.7. 15ª Ed. 
Saraiva. 2012. Pág. 75. 
Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663
 
 
 
 
Assim, os companheiros perderam direitos antes garantido com as legislações 
infraconstitucionais; mas sustenta uma corrente doutrinária a subsistência do Artigo 
7º, parágrafo único, da Lei n. 9.278/96, que defere ao companheiro sobrevivente o 
direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família. 
Justificam, em defesa do companheiro, não ter havido revogação expressa da 
referida lei, bem como inexistir incompatibilidade do benefício nela previsto com 
qualquer dispositivo do atual Código Civil; bem como a extensão analógica do mesmo 
direito assegurado ao cônjuge sobrevivente no artigo 1.831 do mesmo diploma. 
O artigo 1.790 do Código Civil, inexplicavelmente alocado nas disposições 
gerais do título referente ao direito das sucessões, e não no capítulo da vocação 
hereditária, preceitua: 
 
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão 
do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da 
união estável, nas condições seguintes: (Vide Recurso Extraordinário 
nº 646.721) (Vide Recurso Extraordinário nº 878.694) 
 
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota 
equivalente à que por lei for atribuída ao filho; 
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-
á a metade do que couber a cada um daqueles; 
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um 
terço da herança; 
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da 
herança. 
 
Portanto, se observa que a companheira ou o companheiro participará da 
sucessão do outro quanto aos bens adquiridos na vigência da união estável, sem 
receber, no entanto, o mesmo tratamento do cônjuge sobrevivente, que tem maior 
participação na herança e foi incluído no rol dos herdeiros necessários, ao lado dos 
descendentes e ascendentes. 
Resumidamente, o dispositivo legal restringe o direito do companheiro aos 
bens que tenham sido adquiridos onerosamente na vigência da união estável; faz 
distinção entre a concorrência do companheiro com filhos comuns ou só do falecido; 
 
 
Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663
 
 
 
prevê o direito apenas à metade do que couber aos que descenderem somente do 
autor da herança e estabelece um terço na concorrência com herdeiros de outras 
classes que não os descendentes do falecido. 
E, ainda, não beneficia o companheiro com quinhão mínimo na concorrência 
com os demais herdeiros nem o inclui no rol dos herdeiros necessários; concorre com 
um terço também com os colaterais e só é chamado a recolher a totalidade da herança 
na falta destes. 
 
4.3. DA IGUALDADE DOS DIREITOS SUCESSÓRIOS 
 
Carlos Roberto Gonçalves ensina: 
 
Embora o tratamento díspar da sucessão do companheiro tenha 
resultado de opção do legislador, merece as críticas que lhe são 
endereçadas: a) por limitar a sucessão aos bens adquiridos 
onerosamente na constância da união estável; b) por repetir, no caso 
de concorrência com os descendentes, a indébita distinção entre 
descendentes exclusivos, só do autor da herança, e descendentes 
comuns, havidos da união entre o autor da herança e o companheiro; 
e c) por estabelecer a concorrência com os colaterais. (GONÇALVES, 
2012)8 
 
Portanto, fica claro que, o tratamento diferenciado pelo Código Civil vai na 
contramão da proteção constitucional das uniões estáveis. 
E foi em virtude disso que a igualdade de direitos sucessórios do companheiro 
e do cônjuge veio a ser buscada e foi proclamada pelo Supremo Tribunal Federal em 
10 de maio de 2017, através do julgamento dos Recursos Extraordinários 646.721 e 
878.694. 
Esses julgados estiveram sob a égide do regime da repercussão geral, e 
reconheceram, incidentalmente, a inconstitucionalidade do artigo 1.790 do Código 
Civil, que estabelecia a diferenciação dos direitos dos cônjuges e companheiros para 
fins sucessórios, excluindo praticamente do sistema o aludido dispositivo, ao fixar a 
 
8 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil Brasileiro: Direito de Família, Vol.7. 15ª Ed. 
Saraiva. 2012. Pág.76 
 
Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663
 
 
 
seguinte tese: “No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a distinção de 
regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado em ambos 
os casos o regime estabelecido no artigo 1.829 do Código Civil.” 
Assim, entendeu-se que o tratamento diferenciado acerca da participação naherança do companheiro ou cônjuge falecido conferido pelo artigo 1.790 do Código 
Civil ofende frontalmente os princípios da igualdade, da dignidade humana, da 
proporcionalidade e da vedação ao retrocesso. 
Portanto, se o companheiro está vivo, colaterais não podem questionar 
herança; uma vez que o regime de sucessão de cônjuges estabelece que os colaterais 
só têm direito à herança se não houver mais filhos, cônjuge ou ascendentes vivos; 
estando os companheiros equiparados o mesmo tratamento deverá ser dado, 
herdando com exclusividade os bens do companheiro falecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663
 
 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
DIAS, Maria Berenice 
Manual de direito das famílias I Maria Berenice Dias. 10. ecl. rev., atual. e 
ampliada. -- São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. 
 
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil Brasileiro: Direito de Família, Vol.7. 
15ª Ed. Saraiva. 2012. 
 
TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 6: direito das sucessões– 10. ed. rev., atual. 
e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017. 
 
 
 
 
Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663

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