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DIREITO SUCESSÓRIO NA UNIÃO ESTÁVEL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
@monografia_juridica 
Profa. Jacqueline Rodrigues 
(11) 9.4035-6463 
 
 
 
 
 
 
 
2016
RESUMO 
 
 
O trabalho teve por escopo o estudo retrospectivo da evolução histórica do 
tratamento sucessório na união estável no Brasil, até a recente votação no Supremo 
Tribunal Federal (STF) que delimitou o entendimento pela inconstitucionalidade do 
artigo 1.790 do Código Civil de 2002, dispositivo que rege a sucessão do 
companheiro. Foram sete votos pela inconstitucionalidade, em sede de recurso 
extraordinário, com repercussão geral, derrogando o tratamento sucessório desigual 
entre cônjuge e companheiro. Buscou-se levantar os dois polos do debate. Ainda 
que com o posicionamento definido, entendeu-se ser relevante retomar e pontuar o 
imbricado debate sobre o tema, haja vista ter havido instauração de acirrada 
controvérsia no âmbito das decisões judiciais e da doutrina especializada, além de 
exaltado interesse social que o tema desperta, por atingirem as delimitações 
sucessórias legais, direitos patrimoniais de herança. Para esta vertente, que nos 
pareceu acertada, embora agora vencida, as alterações no mencionado dispositivo 
do Código Civil poderiam advir não pela via da inconstitucionalidade, como ocorreu 
em sede de decisão do STF, mas pela via legislativa originária caso constatado que 
a norma não mais se coadunasse aos anseios sociais, o que só se poderia aferir 
com estudos de interface entre o Direito e a sociedade. 
 
Palavras-chave: Direito Sucessório. Direito de Família. Equiparação. União Estável. 
Casamento.
ABSTRACT 
 
 
The study was based on the retrospective study of the historical evolution of 
succession treatment in the stable union in Brazil, until the recent Supreme Federal 
Court (STF) vote that delimited the understanding of the unconstitutionality of article 
1,790 of the Civil Code of 2002, which governs Succession. There were seven votes 
for unconstitutionality, in an extraordinary appeal, with general repercussion, 
derogating from the unequal succession treatment between spouse and partner. It 
sought to raise the two poles of the debate. Although with the defined position, it was 
understood to be relevant to retake and punctuate the imbricated debate on the 
subject, since there has been establishment of fierce controversy in the scope of 
judicial decisions and specialized doctrine, besides exalted social interest that the 
subject awakens, For reaching the legal succession delimitations, heritage 
inheritance rights. For this aspect, which seemed to us correct, although now 
overdue, the changes in the aforementioned provision of the Civil Code could come 
not through the unconstitutionality, as occurred in the decision of the STF, but 
through the original legislative route if it was found that the norm no longer If it is in 
line with social aspirations, which can only be measured by studies of the interface 
between law and society. 
 
Key-words: Succession Law. Family right. Equalization. Stable union. Marriage. 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 07 
2 CONCEITO DE FAMÍLIA....................................................................... 09 
2.1 Evolução Histórica da Família............................................................. 11 
2.2 Entidade Familiar na Constituição Federal de 1988.......................... 13 
2.2.1 Famílias Monoparentais.......................................................................... 14 
3 CONCEITO DE UNIÃO ESTÁVEL......................................................... 16 
3.1 Considerações Sobre o Concubinato e a União Estável.................. 17 
3.2 Conceito de União Estável Nos Dias Atuais...................................... 21 
4 ASPECTOS HISTÓRICOS DA SUCESSÃO NA UNIÃO ESTÁVEL 
 NO DIREITO BRASILEIRO.................................................................... 24 
4.1 De Sucessão e a Sucessão Legítima e Testamentária..................... 24 
4.2 Direitos Patrimoniais (Meação) e Sucessórios (Herança) do 
 Companheiro......................................................................................... 30 
4.2.1 Súmula 35 do STF.................................................................................. 30 
4.2.2 Súmula 380 do STF................................................................................ 32 
4.2.3 Constituição Republicana Federativa brasileira de 1988........................ 34 
4.2.4 Lei n.º 8.971, de 1994............................................................................. 35 
4.2.5 Lei n.º 9.271, de 1996............................................................................. 37 
4.2.6 Código Civil de 2002.............................................................................. 39 
5 CONCLUSÃO......................................................................................... 47 
 REFERÊNCIAS...................................................................................... 49 
 
 
5 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
O objetivo dessa pesquisa monográfica é aclarar o tema do “Direito 
Sucessório na União Estável”, descrevendo a evolução histórica do tratamento 
sucessório na união estável no Brasil, até a recente votação no Supremo Tribunal 
Federal (STF) que delimitou o entendimento pela inconstitucionalidade do artigo 
1.790 do Código Civil de 2002, dispositivo que rege a sucessão do companheiro. 
Buscou-se levantar os dois polos do debate. Ainda que com o posicionamento 
definido, entendeu-se ser relevante retomar e pontuar o debate sobre o tema, haja 
vista ter havido instauração de acirrada controvérsia no âmbito das decisões 
judiciais e da doutrina especializada, além de exaltado interesse social que o tema 
desperta, por atingirem, as delimitações sucessórias legais, direitos patrimoniais de 
herança. 
Neste intuito, o trabalho levanta os aspectos controversos na doutrina e 
jurisprudência a fim de estabelecer uma reflexão sobre o tratamento heterogêneo 
entre cônjuges e companheiros. Elencou-se, por um lado, as críticas ao artigo em 
comento e, doutra banda, tentou-se compreender aspectos que assegurariam a 
validade normativa da opção do legislador pela diferenciação ou especiação dos 
tratamentos oferecidos aos dois institutos. 
O texto expresso na Constituição Federal de 1988, que alude a proteção à 
família, claramente enseja a construção de dois sentidos interpretativos. Por 
conseguinte, quando se parte da leitura de que a Constituição Federal vigente 
equipara os institutos familiares do casamento e da união estável, obtém-se, como 
consequente lógico da premissa da qual se parte, o entendimento de que o 
tratamento sucessório desigual aos dois institutos é lido como inconstitucional. 
Contudo, ao receber o texto constitucional, a interpretação que ampara a 
ambos, sem equipará-los, o tratamento heterogêneo dado pela norma legal 
infraconstitucional, como consequente lógico da premissa, não é lido como 
inconstitucional. 
6 
Para esta vertente, embora agora vencida, as alterações no mencionado 
dispositivo do Código Civil poderiam advir não pela via da inconstitucionalidade, 
como ocorreu em sede de decisão do STF, mas pela via legislativa originária, caso 
constatado que a norma não mais se coadunasse aos anseios sociais, o que só se 
poderia aferir com estudos de interface entre o Direito e a sociedade. 
Para o desenvolvimento da pesquisa, o método a ser utilizado será o lógico-
dedutivo, onde se traça, inicialmente, o sistema de referência bibliográfico adotado e 
delimita-se o objeto da pesquisa, desenvolvendo as premissas fundamentais, 
notadamente relativas à Constituição Federal. 
 
7 
2 CONCEITO DE FAMÍLIA 
 
 
O ser humano nasce, vive e morre numa família. A família é uma instituição 
que se molda sob influência de concepções religiosas, políticas, sociais e morais decada período histórico. 
Mesmo nas sociedades mais primitivas, as pessoas já se reuniam e 
formavam grupos, visando à procriação. Na verdade, antes de se organizarem 
politicamente para formar os Estados, os homens da antiguidade conviveram 
socialmente em famílias. Sendo assim, a família é um grupo social básico, 
elementar, que precede o próprio Estado. 
Luiz Edson Fachin1 entende que: “A família constitui um corpo que se 
reconhece no tempo. Uma agregação histórica e cultural como espaço de poder, de 
laços e de liberdade. Uma aliança composta para representar harmonia e 
paradoxos". 
A organização ou estrutura do grupo familiar, a fisionomia da família, não se 
manteve a mesma por todo esse tempo e, ao contrário, passou por mudanças e 
transformações ao longo dos séculos. Como fenômeno social, sob o influxo das 
ideias, concepções, costumes, ideologias de cada povo, apresenta-se com 
características próprias do Direito respectivo. O Direito de Família é eminentemente 
nacional. 
Em Roma, a família foi patriarcal (como a família hebreia); na Idade Média, 
comunitária; modernamente, pelo menos nas sociedades industrializadas, a família é 
nuclear ou celular, de base igualitária.2 
A grande família do passado transformou-se na pequena família dos tempos 
presentes. O grupo apresenta-se reduzido: pai, mãe e filhos, daí falar-se em família 
nuclear e isto é o resultado de uma lenta evolução, de modificações radicais nas 
estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais.3 
 
1 FACHIN, Luiz Edson. Família, Direito e uma nova cidadania. Anais do III Congresso Brasileiro de 
Direito de Família – IBDFAM/OAB – MG. Belo Horizonte, 2002, p. 15. 
2 Ibidem 
3 Ibidem 
8 
A família moderna não é uma unidade de produção, nem é uma sociedade 
política, mas, sobretudo, o resultado de uma ligação afetiva, em que sobrelevam os 
sentimentos de solidariedade, lealdade, respeito e cooperação. Trata-se de um 
organismo ético e moral, além de jurídico.4 
Nesse sentido, Flávio Tartuce e José Fernando Simão5 entendem que: 
 
(...) a família não pode se enquadrar numa moldura rígida, em um suposto 
rol taxativo (numerus clausus), como aquele constante do Texto Maior. Em 
outras palavras, o rol constante do art. 226 da CF/1988 é meramente 
exemplificativo (numerus apertus). 
 
O direito de constituir uma família é um direito natural. Está acima das leis e é 
reconhecido constitucionalmente. E a família pode ter origem no casamento, num 
vínculo formal, ou fora deste, união estável. A própria Carta das Nações Unidas, de 
1948, proclama o direito de fundar uma família, enunciando que ela é o núcleo 
natural e fundamental da sociedade. 
Num sentido amplo, mais compatível com as concepções romanas, família é 
o conjunto de pessoas que descendem de um tronco ancestral comum, além do 
cônjuge e dos parentes do cônjuge.6. Assim, os que estão ligados pelo parentesco e 
pelo casamento formam uma família. Este entendimento visualiza uma família 
numerosa, um organismo extenso, hierarquizado. Quanto ao aspecto sentimental, 
considerando as relações sociais, ainda se pode dar juridicamente esse conceito à 
família. 
Porém, nos dias de hoje, a família reduz-se e contrai-se, para compreender o 
marido ou o companheiro e a esposa ou a companheira, e os filhos do casal, 
embora para alguns efeitos, inclusive sucessórios, compreenda outros parentes. 
 
 
 
 
4 BEZERRA, Matheus Ferreira. Direito de Família em uma Perspectiva Humanitária. Espaço 
Jurídico Joaçaba, v. 13, n. 1, p. 101-116, jan./jun. 2012, p. 101. 
5 TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito Civil: Direito de Família. Vol. 5. 6. ed. Rio de 
Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2011, p. 56. 
6 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil: Direito de Família. 24. ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 2016. 
9 
2.1 Evolução Histórica da Família 
 
 
Ao falar da evolução histórica da família, restringir à família romana, à família 
medieval e à família dos dias de hoje, no mundo ocidental, e numa abordagem muito 
simples e genérica. 
Em Roma, a família foi patriarcal. Esta é a sua marca distintiva e 
predominante. Imperava o individualismo no grau mais alto. A estrutura da família 
romana tinha um acentuado colorido político: parecia um Estado. Tinha um chefe 
absoluto, o pater, e a ele estavam subordinados a mulher, os filhos e outros 
descendentes, escravos e todas as demais pessoas que conviviam naquele grupo. 
Era o pater um chefe militar, um chefe político, o sacerdote, o juiz. Não havia, pelo 
menos no período mais antigo, a família paterna e a materna. O parentesco era 
agnatício: só havia uma família, a do pai.7 
Sobre as pessoas que a ele estavam submetidas exercia o pater a manus, 
apotestas, um poder extenso, absoluto, que incluía o direito de dispor da vida dos 
membros da família, jus vitae et necis - direito de vida e de morte.8 
É claro que, no decurso de muitos séculos, o Direito Romano não 
permaneceu o mesmo. No período pós-clássico, como na época de Justiniano, a 
família romana já não apresentava as características, a fisionomia da família do 
direito pré-clássico e clássico. Embora mantendo sua feição autoritária, a rudeza de 
muitas regras foi abrandada diante da evolução dos costumes e de novas ideias. 
A família medieval recebe a influência, sobretudo, do cristianismo. Tamanha 
era a força do Direito Canônico que a única forma de casamento era o religioso. A 
fonte da família era o casamento, considerado um sacramento. O vínculo 
matrimonial era indissolúvel. Reprimia-se o concubinato. Perdeu a família aquele 
conteúdo político romanista. À mulher competia o governo doméstico e a educação 
dos filhos. A família na Idade Média é uma unidade de produção. Ao individualismo 
romano substituiu-se o espírito comunitário, trazido pelos povos bárbaros, que, a 
 
7 CORRÊA, Alexandre e SCIASCIA, Gaetano. Manual de Direito Romano. 6. ed. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 1988, p. 120. 
8 Ibidem. 
10 
partir do século IV, invadiram a Europa ocidental. A organização da propriedade, 
nesse tempo, baseou-se no feudalismo. 
As codificações modernas estruturaram a família ainda sob a influência de 
muitas concepções romanas e medievais. Embora sem os exageros do passado, 
conferiu-se a chefia ao varão, ao marido, ao pai de família. A posição da mulher era 
subalterna, de mera auxiliar ou colaboradora. Prestigiou-se a família, oriunda do 
matrimônio. Só os filhos ditos legítimos tinham direitos garantidos. 
Modificações radicais ocorreram, a partir da segunda metade do século XX, e 
o direito positivo de todos os povos ocidentais sentiu o impacto de novas 
concepções. A família democratizou-se. 
A família da sociedade industrial contemporânea é nuclear, tem por base o 
amor, os vínculos fundam-se na afetividade. Homem e mulher atuam num plano de 
igualdade. Não se discrimina filhos, qualquer que seja a origem da procriação. Nem 
há um só modelo de família, recebendo a mesma proteção a que se origina do 
casamento, como a que se constitui pela convivência. 
Há uma concepção nova de família, que se constrói nos dias de hoje, diz Caio 
Mário da Silva Pereira9: 
 
Fala-se na sua desagregação e no seu desprestígio. Fala-se na crise da 
família. Não há tal. Um mundo diferente imprime feição moderna à família. 
Não obstante certas resistências e embora se extingam os privilégios 
nobiliárquicos, a família ainda concede prestígio social e econômico, 
cultivando os seus membros certo orgulho por integrá-la. Recebe 
inequívoca proteção do Estado, que intervém cada vez mais e na medida 
em que os poderes privados declinam. 
 
O tempo passa, as coisas mudam e a família transforma-se e modifica-se, 
adaptando-se às contingências. Como entidade natural, não acaba nunca. Enquanto 
houver sociedade, é a família sua célula mater, enquanto houver vida humana, os 
homens terão família. 
 
 
 
9 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. 27.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, 
p. 19. 
11 
2.2 Entidade Familiar na Constituição Federal 
 
 
O Direito de Família, sem dúvida, é especial, particular, muito diferente, por 
exemplo, do Direito das Obrigações. Está impregnado de normas de ordem pública. 
A autonomia privada, neste campo, é quase nula. Mas isto não o tira do direito 
privado, integrante do Direito Civil, até porque os sujeitos das relações familiares são 
particulares e os respectivos direitos individuais, não obstante o interesse público na 
formação e proteção do organismo familiar. 
Daí, em praticamente todas as nações cultas, os princípios e fundamentos da 
família passaram a ser albergados nas Constituições. Muitos temas civilísticos foram 
inseridos na Carta de 1988 - atividade negocial, propriedade, sucessões, além da 
família. Fala-se, então, na constitucionalização do Direito Civil, mas isto não significa 
a publicização do Direito Civil. 
A Constituição de 1988, sem dúvida, promoveu uma verdadeira revolução, no 
bom e melhor sentido da palavra, no Direito de Família: estabeleceu a igualdade 
entre os cônjuges, a igualdade entre os filhos, indicou que a família é base da 
sociedade, referiu-se ao casamento e estatuiu que a união estável seja também 
entidade familiar, como as famílias monoparentais, merecendo proteção do Estado. 
Isso não quer dizer que o Código Civil tenha deixado de ser, como afirma 
Miguel Reale10, a "constituição do homem comum". Mas isto significa que alguns 
temas tratados no Código adquiriram status constitucional, portanto, com novo 
conteúdo axiológico e o intérprete deve considerar, nesses casos, que os princípios 
estão num nível hierárquico superior, dado que a Constituição é a Lei Fundamental. 
Ao aplicar o Código Civil, estando o tema previsto na Constituição, o operador 
jurídico terá que dar à norma infraconstitucional uma interpretação conforme o Texto 
Constitucional, priorizando o comando estabelecido na Lei Maior. 
Outras Constituições, mostrando que se trata de uma tendência universal, 
cuidaram da família, como célula básica da vida social, garantindo-lhe proteção, e 
 
10 REALE, Miguel. O Projeto do novo Código Civil: situação após a aprovação pelo Senado 
Federal. 2. ed. reform. e atual. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 15-16. 
12 
todas se inspiraram na famosa Constituição alemã de Weimar, de 1919, que foi 
pioneira neste e em outros campos. 
 
 
2.2.1 Famílias Monoparentais 
 
 
A Constituição de 1988 menciona a família que se origina do vínculo formal 
(casamento), reconhece a família constituída pela convivência (união estável) e, no 
art. 226, § 4°, eleva, também, ao status de entidade familiar, a comunidade formada 
por qualquer dos pais e seus descendentes. 
A família, neste caso, chama-se monoparental, porque há um só genitor. Os 
filhos (melhor dizendo, os descendentes) encontram-se vinculados apenas ao pai ou 
somente à mãe. 
O que se observa, modernamente, no Brasil e no mundo, é que não há mais 
somente um modelo de família. A família monoparental deve receber a mesma 
proteção do Estado. 
Famílias monoparentais surgem em função de variados fatos, ou decorrem de 
uma deliberação, de uma opção de mulheres que geram filhos, sem que tenham um 
vínculo formal ou informal com o genitor (mães solteiras ou mães celibatárias). 
Noutras hipóteses, as famílias monoparentais são consequência do abandono 
(separação de fato), da separação judicial, do divórcio, da morte de um dos 
genitores. E, em grande número, são famílias de risco, sujeitas a graves problemas 
sociais, econômicos e jurídicos. 
Para Eduardo de Oliveira Leite11: 
 
As famílias monoparentais existem -- e aí estão dados estatísticos a 
comprová-las -, as mães chefes de família idem e os filhos daí oriundos 
igualmente, todos confrontados com dificuldades materiais e pessoais que 
clamam do poder público uma solução ou um meio de amenizá-las. 
 
11 LEITE, Eduardo de Oliveira. Famílias monoparentais. São Paulo: RT, 2003, p. 292. 
13 
Embora o modelo mais constante de família monoparental seja o da mãe com 
seus filhos, pode aparecer, também, o pai com os filhos, a avó ou o avô com os 
netos. 
Embora a Constituição trate da comunidade formada "por qualquer dos pais e 
seus descendentes",12 numa interpretação extensiva, entende-se que deva 
considerar família monoparental a do tio que cria os sobrinhos, e, também, a do 
homem que foi deixado pela esposa, que assume os filhos que ela trouxe de 
relacionamento anterior, constituindo-se a paternidade socioafetiva. 
Portanto, a figura que a Constituição descreve como família monoparental 
deve ser tida como exemplificativa e não, exaustiva. 
O que impressiona é que, mesmo havendo menção expressa na Constituição 
(art. 226, § 4°) e de representarem as famílias monoparentais um fenômeno social 
marcante e delicado, crescendo vertiginosamente o número de famílias com essas 
características, não se tem no Brasil, legislação que trate diretamente do tema, 
apesar de sua importância e relevância. Um país que tem profusão de leis para 
quase tudo, não apresenta um conjunto de normas para definir fato social tão grave 
e profundo. O novo Código Civil não dedicou uma linha sequer a tais famílias e a 
literatura especializada é escassa. Há manuais de Direito de Família, publicados 
após a entrada em vigor do novo Código, que nem mencionam as famílias 
monoparentais. 
Feitas estas considerações, para não quebrar a metodologia do discurso, 
deslocando o pensar para ponto distante do núcleo da tese, será examinado o 
conceito de União Estável, no capítulo seguinte. 
 
 
12 BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do 
Adolescente e dá outras providências Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069Compilado.htm Acesso em 21 jun 2016. 
14 
3. CONCEITO DE UNIÃO ESTÁVEL 
 
 
A melhor definição do que é união estável está disposta na Lei 9.278 de 1996 
que dispõe em seu primeiro artigo: 
 
É reconhecida como entidade familiar a convivência duradoura, pública e 
contínua de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de 
constituição de família. 
 
Lembrando que após decisão do STF que reconheceu a união estável para 
casais do mesmo sexo, esse conceito pode se entendido de outra forma. 
O Ministro Ricardo Lewandowski, em seu voto, incluiu união homoafetiva no 
conceito de família, observou-se que a união homoafetiva estável não está no rol 
das famílias abrangidas pelo artigo 226, parágrafo 3º, da Constituição Federal, que 
somente contempla as famílias heterossexuais constituídas pelo casamento, por 
união estável, pública e duradoura e, ainda, a monoparental, que é a família que 
continua constituída entre pai ou mãe e filhos, na ausência de um dos genitores.13. 
O ministro salientou também, conforme a notícia que: 
 
Como não existe previsão constitucional para essa nova modalidade de 
entidade familiar, cabe aplicar a ela o que o ministro chamou de “técnica de 
integração analógica”, ou seja, enquadrar essa nova relação na legislação 
mais próxima, até que ela seja definitivamente regulada por lei aprovada 
pelo Congresso Nacional.14 
 
A união entre pessoas sem vínculo matrimonial é muito anterior à 
Constituição Federal de 1988 e sempre causou conflitos, pois ficava à margem do 
direito quando a questão tornava-se o fim dessa união, porque acarretava uma série 
de problemas relativos aos direitos dos companheiros. 
 
 
13 STJ. Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=178876> 
acesso em: 14 set. 2016. 
14 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - STF. União Homoafetiva. Voto Oral Proferido na ADPF 132 e 
ADI 4.277. Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI4277RL.pdf. 
Acesso em: 25 nov. 2016. 
15 
3.1 Considerações sobre o Concubinato e a União Estável 
 
 
Constituir família por meio da união afetiva entre homem e mulher, sempre foinatural, fato este explícito desde o começo da civilização. Mas devido às culturas 
diversas e principalmente às religiões, um ato que era corriqueiro passou a ser 
problemático. 
A união de pessoas fora do casamento é antiga. No direito Romano era uma 
forma de união inferior ao matrimônio, conforme ensina Lourival Silva Cavalcanti: 
 
(...) havia o concubinato, que revestia a forma de união estável de homem e 
mulher solteiros e livres, como se casados fossem, mas sem a affectio 
maritalis e a honor matrimonii. E que não se considerava atentatório à 
moral, nem era proibido.15 
 
O concubinato era uma maneira de acomodar as uniões que não estavam 
protegidas pelas normas do matrimônio, tratava-se de um casamento de caráter 
inferior. 
No início das sociedades, era grande o desejo e a necessidade de que a 
população aumentasse, razão pela qual se tolerou o concubinato. 
A bíblia traz várias disposições sobre as relações concubinárias. 
Na antiga Roma, já havia esse tipo de união e era dividida em três 
modalidades de casamento sem justae nuptiae (justas núpcias). O Concubinatus, o 
Matrimonium Sine Connubio e o Contubérnio16, que funcionavam do seguinte modo: 
O concubinatus ou concubinato era inicialmente uma união de natureza 
inferior que não igualava socialmente a mulher ao marido e que não subordinava os 
filhos à patria potestas (poder quase absoluto do pai).17 
 
 
15 CAVALCANTI, Lourival Silva. União Estável: a inconstitucionalidade de sua regulamentação. 
São Paulo: Saraiva, 2003, p.80 
16 CORRÊA, Alexandre e SCIASCIA, Gaetano. Manual de Direito Romano. 6. ed. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 1988. 
17 Ibidem. 
16 
Pessoas privadas do Jus connubii (direito de casar), transformava a mulher 
em concubina e não como uxor (mulher casada).18 
Os efeitos do concubinatus: 
Entre o casal – Ambos eram obrigados a possuir e sustentar a fidelidade na 
relação (princípio monogâmico). 
Entre o pai e os filhos naturais - Os liberi naturales (filhos naturais do 
concubinato) eram considerados quase indignos não podendo ser adotados pelo 
pai.19 
Para as pessoas unidas pelo concubinatus havia a possibilidade de 
legitimação que era a transformação do concubinato em justas núpcias. O que 
melhorava muito a situação dos filhos naturais, inserindo-os sob a patria potestas do 
pai concubino.20 
Os romanos pertenciam a duas classes diferentes, a dos patrícios e a dos 
plebeus, como o casamento entre essas classes eram proibidos, virou frequente a 
relação entre eles através do concubinato.21 
O Matrimonium Sine Connubio era o matrimônio sem conúbio, ou matrimônio 
injusto, ocorria devido à união de romanos com peregrinos ou a união de peregrinos 
com peregrinos, era regulado ou pelo jus gentium (direito das gentes) ou pelo direito 
peculiar da cidade de origem dos cônjuges.22 
O contubérnio era a simples união de fato entre escravos ou entre escravos e 
pessoas livres, carente de quaisquer consequências jurídicas.23 
No Direito Canônico, o advento do cristianismo trouxe ao casamento o status 
de sacramento religioso e, de acordo com Caio Mário da Silva Pereira24, “(...) pelo 
qual um homem e uma mulher selam a sua união sob as bênçãos do céu, 
transformando-se numa só entidade física e espiritual, e de maneira indissolúvel”. 
 
18 CORRÊA, Alexandre e SCIASCIA, Gaetano. Manual de Direito Romano. 6. ed. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 1988. 
19 Ibidem 
20 Ibidem. 
21 No período JUSTINIANO os liberi naturales passaram receber uma parte da sucessão ab intestado 
(sem testamento) do pai, na ausência de filhos legítimos, além da obrigação do pai em prestar 
alimentos aos filhos naturais. 
22 CORRÊA, Alexandre e SCIASCIA, Gaetano. Op. cit. 
23 Ibidem 
24 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil: Direito de Família. 24. ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 2016, p.51. 
17 
A princípio, o direito canônico não ignorava as relações concubinárias. Consta 
que Santo Agostinho e Santo Hipólito aceitavam o batismo da concubina, se ela não 
abandonasse o companheiro e até recusavam o casamento religioso a quem 
quisesse abandonar a concubina. 
Ocorre que com a formação do Concílio de Trento, a igreja mudou de posição 
e passou a excomungar aqueles que continuassem na relação concubinária. 
O concubinato então passou a receber inúmeras classificações: 
Amplo e estrito, genérico e específico, perfeito e imperfeito, direto e indireto, 
puro e impuro. Segundo Cavalcanti, “destacam-se as duas últimas para traçar a 
diferença entre concubina e companheira”25 
Na classificação de Álvaro Villaça Azevedo: 
 
(...) qualifica como puro o concubinato mantido entre pessoas legal e 
moralmente desimpedidas, isto é, que não mantenham outra união, seja 
casamento ou outro concubinato, e que não sejam entre si parentes em 
grau de incesto. E como impuro, ao contrário, se for adulterino, incestuoso 
ou desleal, como o de um homem casado ou concubinado, que mantenha 
paralelamente ao seu lar outro de fato26 
 
No Direito Francês27, que teve grande influência do Direito Canônico, também 
não admitia as relações concubinárias, enquanto que no Brasil Colonial era 
corriqueiro este tipo de relação entre homem e mulher, e possuía certa liberdade. 
Apesar de o Estado não concordar e especialmente a igreja não aceitar, o 
Estado não combatia porque era omisso. A igreja combatia de todas as formas, mas 
não conseguia lograr êxito, pois o que reinava era a desordem social. 
Já no Brasil Republicano, a tentativa foi a implantação do casamento civil 
para a população inteira, através do Decreto nº 181, de 24 de janeiro de 1890, e que 
passou a considerar o casamento religioso como concubinato, sem validade. 
 
 
25 CAVALCANTI, Lourival Silva. União Estável: a inconstitucionalidade de sua regulamentação. 
São Paulo: Saraiva, 2003, p. 91 
26 AZEVEDO apud CAVALCANTI, Lourival Silva. União Estável: A inconstitucionalidade de sua 
regulamentação. São Paulo: Saraiva 2003, p.92. 
27 CAVALCANTI, Lourival Silva. Op cit, p. 91. 
18 
Igualmente a constituição de 1891 impediu a dissolução do vínculo conjugal, 
por inegável influência religiosa, mas como o costume se sobrepôs à lei, as pessoas 
continuavam casando-se no religioso, desconsiderando esse casamento civil como 
modelo único e aceitável. 
Com a publicação do Código Civil de 1916, a situação ainda era a mesma, 
não se regulou o concubinato, muito pelo contrário, estabeleceram-se medidas a 
serem aplicadas nessas relações, como a do artigo 363, que previa a possibilidade 
de reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento ou sem casamento, desde 
que demonstrado o concubinato dos pais no momento da concepção. 
Já em 1973, um grande trunfo para os filhos concebidos dessas relações, 
com a lei de Registros Públicos (6.015/73), que autorizava a mulher solteira, 
separada judicialmente ou viúva que convivesse com um homem nas mesmas 
condições, a requerer o nome do pai no registro da criança. 
O que verdadeiramente trouxe conforto para os casais que se encontravam 
nessa situação, foram as súmulas editadas pelo Supremo Tribunal Federal, súmulas 
380 e 382, que dizem: 
Súmula 380: "comprovada a existência de sociedade de fato entre os 
concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do patrimônio 
adquirido pelo esforço comum".28 
Súmula 382: “A vida em comum sob o mesmo teto, ‘more uxório’, não é 
indispensável à caracterização do concubinato". 
Somente a Constituição de 1988, que se passou a considerar a união de 
pessoas sem serem casadas civilmente como válidas e deixou de tratar essas 
uniões como obrigações e passou a considerá-las como família. Em seu artigo 226, 
parágrafo 3°. diz: 
 
 
 
 
28 “União estável. Relacionamento no período de 1985 a janeiro de 2003. Bem adquirido a título 
oneroso na constância do relacionamento. Presunção de esforço comum não afastada. Entendimento 
da Súmula 380 do STF, à luz da evolução histórica do instituto. Partilha determinada.Necessidade de 
alimentos não demonstrada. Sentença reformada. Recurso parcialmente provido” (TJSP CR 
6115314800 - 28-01-2009 – Rel. Caetano Lagrasta). 
19 
A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado (...) 
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre 
o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua 
conversão em casamento. 
§ 4º Entende-se também, como entidade familiar a comunidade formada por 
qualquer dos pais e seus descendentes. 
 
Mas ainda assim existiam muitos problemas, já que não havia uma lei 
especial que desse apoio aos casos. Somente no ano de 1994 é que começaram a 
surgir os efeitos positivos, com o advento da Lei 8.971, que passou a regulamentar 
os direitos de alimentos e sucessão e designou o termo companheira e não mais 
concubina. 
Já no ano de 1996, a Lei 9.278 alterou alguns dispositivos da lei acima 
aludida, passando a adotar o termo convivente e definiu um regime de bens para a 
união estável. 
Desse momento em diante, o direito de família estava sacramentado para a 
união estável. 
Com o advento do Código Civil de 2002, ficou estabelecida a proteção aos 
conviventes dessas relações nos artigos 1.723, 1.724, 1.725, 1.726 e 1.727, 
facilitando inclusive a homologação da união estável em casamento civil. 
O termo concubinato hoje somente é designado para as relações em que se 
tem o impedimento para o casamento, ou em relações adulterinas. 
 
 
3.2 Conceito de União Estável nos dias atuais 
 
 
Com o advento da Constituição Federal Brasileira de 1988, nasceu uma nova 
fase de tratamento para as relações matrimoniais, o já mencionado artigo 226 da 
Constituição Federal, passou a reconhecer as relações não oriundas de 
casamentos, agora chamadas de União Estável. 
Através desse dispositivo, a família continuou sendo base da sociedade e 
passou a ter proteção do Estado. 
 
 
20 
Com a inovação dos parágrafos 3° e 4º do artigo 226, da Constituição 
Federal, teve início uma nova concepção de família, que ficou mais ampla ao 
abranger não só as famílias formadas pelo casamento, como também as famílias 
constituídas através da união estável e as famílias monoparentais. 
Nesse sentido é o ensinamento de Venosa: 
 
Em nosso país, a Constituição de 1988, representou, sem dúvida, o grande 
divisor de águas do direito privado, especialmente, mas não 
exclusivamente, nas normas de direito de família. O reconhecimento da 
união estável como entidade familiar (art. 226 §7º) representou um grande 
passo jurídico e sociológico em nosso meio. É nesse diploma que se 
encontram princípios expressos acerca do respeito à dignidade da pessoa 
humana (art.1º, III). Nesse campo, situam-se os institutos do direito de 
família, o mais humano dos direitos, como a proteção à pessoa dos filhos, 
direitos e deveres entre os cônjuges e dos companheiros, igualdade de 
tratamento entre estes, etc.29 
 
A família então passa a ser protegida em razão de sua função, e não mais só 
como estrutura. 
Esse dispositivo da Constituição Federal assenta definitivamente o acesso da 
união estável para o campo do direito de família, fazendo com que o instituto mude 
para aplicar à união estável, as regras pertinentes ao direito de família. 
O Código Civil vigente dispõe em seu artigo 1.723 o conceito do referido 
instituto: “É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a 
mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida 
com o objetivo de constituição de família”. 
No mesmo sentido Araújo Júnior diz: 
 
(...) podemos conceituar “união estável” como a união fática de um homem 
e de uma mulher, como o propósito de estabelecer comunhão plena de 
vida, assumindo pública e mutuamente os companheiros a qualidade de 
consortes, com base na igualdade de direitos e deveres.30 
 
 
29 VENOSA, Silvio deSalvo. Direito Civil: Direito de família. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p.7. 
30 ARAUJO JUNIOR, Gediel Claudino. Direito de Família: Teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Atlas, 
2008, p.44. 
21 
Atualmente, a união de pessoas do mesmo sexo, também constitui união 
estável, com a diferença de que nesses casos entende-se que a união homoafetiva 
não pode ser convertida em casamento, o que gera a procura do judiciário.31 
Para se caracterizar a união estável, é imprescindível que os companheiros, 
assumam o status de marido e mulher publicamente (o que também é exigido para a 
união homoafetiva), como se fossem casados. Nos ensinamentos de Venosa: “A 
união de fato que gozará proteção do Estado é aquela na qual se apresenta como 
se marido e mulher fossem perante a sociedade, situação que se avizinha da posse 
de estado de casado”32 
Outra condição fundamental é que a união seja contínua e duradoura, não é 
qualquer relacionamento temporário que terá direito à proteção estatal. Quanto à 
durabilidade, não há um período exato para que a união possa ser considerada 
como estável. A expressão duradoura indica mais do que somente o tempo da 
relação, mas também traz a ideia de estabilidade, o que leva à última condição, o 
objetivo de constituição de família, este é o corolário de todos os elementos legais 
anteriores. 
Diante de todas essas condições, está constituída a união estável, para 
efeitos da proteção do estado, garantindo assim que sejam aplicadas aos 
companheiros as normas do Direito de Família, entre elas, os direitos sucessórios, 
advindos posteriormente à Constituição Federal de 1988. 
 
31 “União estável de pessoas do mesmo sexo - PROCEDIMENTO DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA. 
RELACIONAMENTO HOMOAFETIVO. PEDIDO DE CONVERSÃO DE UNIÃO ESTÁVEL EM 
CASAMENTO. INDEFERIMENTO PELO JUÍZO DE PRIMEIRO GRAU. INCONFORMISMO DOS 
REQUERENTES. 
O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, EM DECISÃO PROFERIDA NA ADI nº. 4-277/DF ATRIBUIU 
EFICÁCIA ERGA OMNES E EFEITO VINCULANTE À INTERPRETAÇÃO DADA AO ART. 1.723, DO 
CÓDIGO CIVIL, PARA EXCLUIR QUALQUER SIGNIFICADO QUE IMPEÇA O RECONHECIMENTO 
DAS UNIÕES HOMOAFETIVAS COMO ENTIDADES FAMILIARES, DESDE QUE CONFIGURADA A 
CONVIVÊNCIA PÚBLICA, CONTÍNUA E DURADOURA E ESTABELECIDA COM O OBJETIVO DE 
CONSTITUIÇÃO DE FAMÍLIA. A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DETERMINA SEJA FACILITADA 
A CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO. PORTANTO, PRESENTES OS 
REQUISITOS LEGAIS DO ART. 1.723, DO CÓDIGO CIVIL, NÃO HÁ COMO SE AFASTAR A 
RECOMENDAÇÃO CONSTITUCIONAL, CONFERINDO À UNIÃO ESTÁVEL HOMOAFETIVA OS 
MESMOS DIREITOS E DEVERES DOS CASAIS HETEROSSEXUAIS, TAL COMO SUA 
CONVERSÃO EM CASAMENTO. PRECEDENTE DO STJ QUE ADMITIU O PRÓPRIO 
CASAMENTO HOMOAFETIVO, A SER REALIZADO POR SIMPLES HABILITAÇÃO. IN CASU, 
FORÇOSO É DE SE CONCLUIR QUE MERECE REFORMA A DECISÃO MONOCRÁTICA, 
CONVERTENDO-SE A UNIÃO ESTÁVEL CARACTERIZADA NOS AUTOS EM CASAMENTO. 
PROVIMENTO DO RECURSO”. (TJRJ - APL 72523520128190000 RJ 0007252-35.2012.8.19.0000, 
17-04-12 – Rel. DES. LUIZ FELIPE FRANCISCO). 
32 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Direito de Família. 14ª Ed. São Paulo: Atlas, 2014, p.44 
22 
4 ASPECTOS HISTÓRICOS DA SUCESSÃO NA UNIÃO ESTÁVEL NO DIREITO 
BRASILEIRO 
 
 
4.1 Da Sucessão e a Sucessão Legítima e Testamentária 
 
 
O fundamento do direito das sucessões tem sido objeto de muitas discussões 
doutrinárias. Autores procuram justificar o fundamento sucessório nas conclusões 
biológicas e da antropologia, atinentes à hereditariedade biopsicológica. Assim, o 
direito das sucessões já esteve fundado sob a ótica da continuidade da vida através 
das gerações33. 
Clóvis Beviláqua34 explanou que os povos primitivos desconheceram o direito 
sucessório no sentido moderno da expressão. Vivendo os grupos familiares em 
comunhão de bens, todos os membros desses grupos eram proprietários 
comunitários, pais e filhos, ascendentes, descendentes e afins. 
A primeira manifestação do direito hereditário apareceu com a sucessão dos 
chefes em algumas sociedades. Quando a coletividade originária se descola em 
grupos de parentescom existência autônoma, como ocorrido em comunidades 
romanas e hindus, opera-se uma divisão no patrimônio comum, que só retorna ao 
grupo anterior se extinto este.35 
Somente, mas tarde a propriedade e o parentesco se individualizam e o 
patrimônio então passa a ser partilhado entre os herdeiros, cada um em separado, 
proprietário de seus quinhões.36 
Itabaiana de Oliveira37 revela diversos aspectos históricos dos fundamentos 
das sucessões, mostrando que em determinadas culturas, a propriedade 
corporificou a ideia de sucessão hereditária como um fator de perpetuidade e 
 
33 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro. Volume 6, direito das sucessões. 29. ed. 
São Paulo: Saraiva, 2015. p. 19. 
34 BEVILÁQUA, Clóvis. Direito das Sucessões. 5 ed. revista e atualizada pelo Desembargador 
Isaias Beviláqua. Rio de Janeiro: Paulo de Azevedo LTDA, 1955, p. 54-55. 
35 Ibidem, p. 55 
36 Ibidem, p. 55 
37 ITABAIANA DE OLIVEIRA, Arthur Vasco. Tratado de direito das sucessões. 4 ed. revista e 
atualizada pelo autor, com a colaboração de Aires Itabaiana de Oliveira. São Paulo: Max Limonad, 
1952. vol. I. 
23 
continuidade da família, com culto aos antepassados, bem como sacrifícios e 
honrarias aos mortos, de modo que a aquisição da propriedade em certas culturas 
filia-se ao culto, não se podendo adquirir propriedade sem culto. 
Itabaiana de Oliveira38 observa que a sucessão mescla o conceito de afeto e 
personalidade humana, com o direito de propriedade, sendo, portanto, uma 
consequência necessária à conservação das afeições da família pela perpetuação 
da personalidade e ao cumprimento dos deveres que ela impõe na continuação da 
propriedade. Aponta que, primeiramente, rege-se pela afeição, que para os 
antepassados caracterizava-se como um não rompimento entre o defunto e os vivos, 
expresso este sentimento por cultos. Depois, dá-se pelo princípio da propriedade 
familial que forma um todo, uma universitas, na qual cada membro tem uma parte 
ideal. 
Sobre a transmissão da propriedade, Itabaiana de Oliveira: 
 
Individualizando-se a propriedade e fortalecendo-se os laços de afeição, 
mais estreitamente ligados nas famílias, a transmissão da propriedade de 
pais a filhos tornou-se um hábito, entrando, mesmo, tão profundamente nos 
costumes, que certas legislações antigas reconhecem nos filhos um direito 
à herança dos pais. A propriedade corporificou, assim, a ideia de sucessão 
hereditária como um poderoso fator de perpetuidade da família [...].39 
 
Desta maneira, sob o ponto de vista de seus fundamentos, explica, Itabaiana 
de Oliveira40, que a sucessão pode ser entendida como um poderoso fator de 
perpetuidade da família, sendo que todos os códigos contemplam e regulam a 
sucessão como fator de perpetuidade familiar, unida e forte através dos tempos, 
constituindo até mesmo a sociedade política. 
Carlos Roberto Gonçalves41 leciona que os fundamentos para que exista a 
sucessão, historicamente, permearam fatores religiosos e valores familiares. Para 
alguns autores repousaria na esfera da continuidade da vida humana por gerações, 
mas, seu âmago está relacionado à conservação do direito à propriedade, sendo 
 
38 ITABAIANA DE OLIVEIRA, Arthur Vasco. Tratado de direito das sucessões. 4 ed. revista e 
atualizada pelo autor, com a colaboração de Aires Itabaiana de Oliveira. São Paulo: Max Limonad, 
1952. vol. I, p. 48 
39 Ibidem, p. 47. 
40 Ibidem. p. 51. 
41 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito das Sucessões. V. 7. 9. ed. São 
Paulo: Saraiva, 2015, p. 25- 29. 
24 
este seu corolário, devendo o Estado assegurar ao indivíduo a possibilidade de 
transmitir seus bens, o que por sua vez, estimula a própria produção na sociedade. 
Existem algumas definições para o termo sucessão no Direito, sendo algumas 
em sentido amplo e outras, estrito. 
Sobre o sentido lato e estrito, Itabaiana do Oliveira42 apresenta que a palavra 
sucessão na acepção jurídica tem dois sentidos, lato e restrito. Em sentido lato 
aplica-se a todos os modos derivados de adquirir a propriedade, sendo esta a 
sucessão inter vivos, a exemplo do comprador que sucede ao vendedor e do 
donatário que sucede ao doador, tomando um o lugar do outro. 
No sentido restrito, por sua vez, há necessariamente implicada a ideia da 
morte, significando um dos modos de adquirir direitos e de transmitir a herança, 
sendo esta a sucessão causa mortis. Este é o sentido próprio e técnico de sucessão 
no direito civil, configurando-se na transmissão do patrimônio de alguém que morre 
a uma ou a mais pessoas vivas.43 
Ademais, a sucessão em sentido restrito divide-se em dois conceitos, o 
subjetivo, que é o direito por força do qual a herança é devolvida a alguém, e o 
objetivo, tratando-se da universalidade dos bens que ficaram de um defunto com 
todos os seus encargos. 
Por sua vez, Silvio de Salvo Venosa ressalta que, em sentido amplo, suceder 
é substituir, tomar o lugar de outrem: 
 
[...]substituir, tomar o lugar de outrem no campo dos fenômenos jurídicos. 
Na sucessão, existe uma substituição do titular de um direito. Esse é o 
conceito amplo de sucessão no direito. Quando o conteúdo e o objeto da 
relação jurídica permanecem os mesmos, mas os titulares da relação 
jurídica, operando-se uma substituição, diz-se que houve uma transmissão 
no direito de sucessão. [...] Destarte, sempre que uma pessoa toma o lugar 
da outra em uma relação jurídica, há uma sucessão. A etimologia da 
palavra (sub cedere) tem exatamente este sentido, ou seja, tomar o lugar de 
outrem44. 
 
 
42 ITABAIANA DE OLIVEIRA, Arthur Vasco. Tratado de direito das sucessões. 4 ed. revista e 
atualizada pelo autor, com a colaboração de Aires Itabaiana de Oliveira. São Paulo: Max Limonad, 
1952. vol. I, p. 52-53. 
43 Ibidem, p. 53 
44 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Direito das Sucessões. Col. Direito Civil, vol. 7. 16. ed. 
ver e ampl. São Paulo: Atlas, 2016. p. 01. 
25 
Com efeito, explica Silvio de Salvo Venosa45, no direito, em sentido lato 
costuma-se fazer uma linha divisória entre duas formas de sucessão, uma que 
deriva de um ato entre vivos, ao exemplo de um contrato, e outra, a que tem como 
causa o evento da morte (causa mortis), havendo a transferência aos herdeiros ou 
legatários os direito e obrigações do morto (de cujus). No direito civil atual, por sua 
vez, quando se aborda o direito das sucessões, está-se tratando do campo 
específico e restrito da transmissão de bens, direitos e obrigações em razão da 
morte. 
Carlos Roberto Gonçalves também pontua a diferenciação entre a sucessão 
inter vivos daquela reservada ao sentido estrito da sucessão por morte causa mortis 
e o ramo do direito que cuida da segunda, a saber, o Direito das Sucessões. 
Descreve, o autor, que a palavra sucessão, em sentido amplo, significa o ato pelo 
qual uma pessoa assume o lugar de outra, substituindo-o na titularidade de 
determinados bens. Numa compra e venda, por exemplo, o comprador sucede o 
cessionário, o mesmo acontecendo em todos os modos derivados de adquirir o 
domínio ou o direito. Em seus dizeres: 
 
A ideia de sucessão, que se revela na permanência de uma relação de 
direito que perdura e subsiste a despeito da mudança dos respectivos 
titulares, não ocorre somente no direito das obrigações, encontrando-se 
frequentemente no direito das coisas, em que a tradição se opera, e no 
direito de família, quando os pais decaem do poder familiar e são 
substituídos pelo tutor, nomeado pelo juiz, quanto ao exercício dos deveres 
elencados nos artigos 1.740 e 1.741 do Código Civil. Nas hipóteses 
mencionadas, ocorre a sucessão inter vivos. No direito das sucessões, 
entretanto, o vocábulo é empregado em sentido estrito, para designar tão 
somente a decorrente da morte de alguém, ou seja, a sucessão causa 
mortis. O referido ramo do direito disciplina a transmissão do patrimônio, ou 
seja, do ativo e do passivo do de cujus ou autor da herança a seus 
sucessores46.Carlos Roberto Gonçalves47, relembra que a expressão latina de cujus é a 
abreviatura da frase de cujus sucessione (ou hereditatis) agitur, que significa ‘aquele 
de cuja sucessão (ou herança) se trata’. 
 
45 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Direito das Sucessões. Col. Direito Civil, vol. 7. 16. ed. 
ver e ampl. São Paulo: Atlas, 2016. p. 01. 
46 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito das Sucessões. V. 7. 9. ed. São 
Paulo: Saraiva, 2015.p. 19-20. 
47 Ibidem. 
26 
Leciona Carlos Maximiliano que a sucessão hereditária envolve todo o 
patrimônio do morto, incluindo seu ativo e passivo, ou seja, bens e obrigações. 
 
Direito das sucessões, em sentido objetivo, é o conjunto das normas 
reguladoras da transmissão dos bens e obrigações de um indivíduo em 
consequência de sua morte. No sentido subjetivo, mais propriamente se 
diria direito de suceder, isto é, de receber o acervo hereditário de um 
defunto48. 
 
Itabaiana de Oliveira49 apresenta que se perpetuou através dos séculos, três 
elementos centrais que atuaram diversamente sobre a legislação de vários povos no 
âmbito da sucessão, quais sejam, o elemento social, o familial (ambos integrando a 
sucessão legítima), e o elemento individual (este integrando a sucessão 
testamentária). O direito sucessório foi defendido em suas duas formas, legítima e 
testamentária, por iniciadores da filosofia do direito, Hugo Grotius, Puffendorf e Wolf. 
O direito sucessório testamentário seria decorrente da liberdade de dispor sobre a 
propriedade, ligado ao elemento individual da sucessão. A sucessão legítima seria 
uma manifestação da vontade presumida do defunto, da “compropriedade” familiar e 
do direito eminente do Estado, constituindo os elementos familial e social50. 
Ademais, a doutrina em geral segue o entendimento de que a sucessão 
testamentária é considerada como uma emanação do direito de personalidade e a 
sucessão legítima justificada pelos laços de família51. Assim, ressalta Itabaiana de 
Oliveira52, que quanto às fontes de que deriva a sucessão, pode ser testamentária 
ou ex testamento e legítima ou ab intestato. É testamentária quando resulta de 
ultima vontade e legítima quando se dá em virtude da lei ou quanto aos bens que 
não forem compreendidos no testamento ou quando este caducar ou for julgado 
nulo. 
Maria Helena Diniz53 aborda que em nosso Código Civil, o direito das 
sucessões divide-se em quatro partes. A primeira a sucessão em geral, que traça 
 
48 MAXIMILIANO, Carlos. Direito das sucessões. V. I. 2. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1942, 
p.2 
49 ITABAIANA DE OLIVEIRA, Arthur Vasco. Tratado de direito das sucessões. 4. ed. revista e 
atualizada pelo autor, com a colaboração de Aires Itabaiana de Oliveira. São Paulo: Max Limonad, 
1952. vol. I. p. 50. 
50 Ibidem, p. 50. 
51 Ibidem, p. 50-51. 
52 Ibidem, p. 53-54. 
53 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro. volume 6: direito das sucessões. 29. Ed. 
São Paulo: Saraiva, 2015, p 21. 
27 
normas sobre a sucessão legítima e testamentária, relativas à transmissão, à 
administração, à aceitação, à renúncia, à petição de herança e aos excluídos da 
sucessão. A segunda parte aborda a sucessão legítima, abrangendo a transmissão 
da herança que se opera em virtude da lei, às pessoas constantes da ordem de 
vocação hereditária. A terceira parte destina-se a regrar a sucessão testamentária, 
contendo as disposições relativas à transferência de bens, causa mortis por ato de 
última vontade. Por fim, a quarta parte reserva-se a regrar o inventario e a partilha, 
concernente a norma sobre o processo judicial não contencioso, por meio do qual se 
descrevem os bens da herança, se lavra o título de herdeiro, se liquida o passivo do 
monte, se paga o imposto de transmissão mortis causa e se realiza a partilha os 
bens entre os herdeiros, dentre outras normas que disciplinam as colações e os 
sonegados. 
 Quanto ao conceito de sucessão legítima, Maria Helena Diniz54 expõe que 
com a morte de alguém, verificar-se-á primeiramente, se o de cujus deixou 
testamento indicando como será partilhado seu patrimônio. Em caso negativo, ou 
melhor, se faleceu sem deixar qualquer declaração solene de última vontade, se 
dispôs de apenas parte de seu patrimônio, se o testamento caducou ou fora 
considerado ineficaz ou nulo, ou ainda se houver herdeiros necessários, obrigando a 
redução da disposição testamentária, a lei promoverá a distribuição da herança, 
convocando certas pessoas para recebê-la, conforme ordem previamente 
estabelecida, denominada ordem de vocação hereditária. Ter-se-á nestas hipóteses 
a sucessão legítima, que é a deferida por determinação legal. Esta absorverá a 
totalidade da herança caso o autor da herança falecer ab intestato, sem testamento 
ou nas demais hipóteses citadas. 
Observa-se que o conceito de sucessão legítima, acima definido, não se 
confunde com o que se denomina de legítima, sendo esta a parte reservada da 
herança, atualmente a metade, cabente obrigatoriamente aos herdeiros necessários, 
limitando liberdade da disposição testamentária. Herdeiro legítimo é o que recolhe a 
herança em virtude da lei e herdeiro necessário ou legitimario é aquele a quem a lei 
assegura a legítima, a quota certa do acervo hereditário, sendo, pelo Código Civil de 
2002, ascendentes, descendentes e cônjuge. 
 
54 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro. volume 6: direito das sucessões. 29. Ed. 
São Paulo: Saraiva, 2015, p 123. 
28 
4.2 Direitos Patrimoniais (Meação) E Sucessórios (Herança) do Companheiro 
 
 
O paulatino avanço da discussão doutrinária alavancando a temática da 
necessidade de reconhecimento de direitos ao companheiro, fez-se acompanhar por 
avanços legislativos, tanto voltados aos elementos patrimoniais (meação), quanto os 
direcionados à proteção dos direitos hereditários ou sucessórios aos conviventes, 
para além do escasso amparo legal, mencionado, advindo de leis na esfera de 
recebimento de benefícios em acidente de trabalho e assistência da previdência 
social. 
Acerca dos avanços, em breves linhas, é possível traçar os passos 
legislativos mais significativos na história brasileira. Segue um levantamento. 
 
 
4.2.1 Súmula 35 do STF 
 
 
O Código de 1916 não ofereceu reconhecimento às famílias constituídas fora 
do matrimonio, por uniões informais, tampouco concebeu previsão voltada aos 
direitos que atingem qualquer comunicação de bens ou herança, o que acabava por 
excluir da tutela legal e jurisdicional uma ampla parcela da população. Tal situação 
foi alvo de frequentes críticas doutrinárias que culminaram na construção de 
conceitos acerca das formas de concubinato e no fortalecimento de pressões por 
parte da doutrina para que ocorresse um reconhecimento. 
Maria Berenice Dias entende que esta omissão caracteriza certo repúdio do 
legislador a vínculos afetivos fora do casamento, apesar de sempre terem existido. 
Salienta que a omissão refletia o proposito legislativo de proteger a família 
constituída pelos laços do matrimônio. Tratava de não fomentar as uniões informais 
e até mesmo de reprimi-las: “E foi além, restou por puni-las, vedando doações, a 
instituição do seguro e a possibilidade de a concubina ser beneficiada por 
29 
testamento. As uniões, surgidas sem o selo do matrimonio, eram identificadas com o 
nome de concubinato”55. 
Doutra banda, pela constante e notável existência das uniões informais, o 
judiciário deparou-se com demandas sucessivas que visavam a proteção, em 
especial, às mulheres em situações de vulnerabilidade. Foi assim, explica Maria 
Berenice Dias56, que nasceram os primeiros julgados e que fomentaram “a 
construção de uma doutrina concubinatória” na década de 1960. Tais julgados se 
revelaram, em um primeiro momento, como uma proteção oriunda de um 
mecanismo de indenização por serviços domésticos, voltado às mulheres que não 
tinham renda ou profissão próprias.O fundamento das primeiras decisões jurisprudenciais baseou-se na proibição 
ao enriquecimento ilícito, considerando que o homem, ao sair para trabalhar, teria se 
valido dos cuidados que recebera da companheira no lar e com isso construído seu 
patrimônio. Emergia desta situação um o dever de ressarcimento57. 
Neste contexto, passo de suma relevância na inauguração de direitos à 
concubina, efetivou-se quando da edição da Súmula 35 pelo STF, em 13 de 
dezembro de 1963, cujo conteúdo dispunha sobre a indenização à concubina 
quando houvesse a morte do concubino, em caso de acidente de trabalho ou de 
transporte. É o que se transcreve no texto sumular: “Súmula 35. Em caso de 
acidente de trabalho ou de transporte, a concubina tem direito de ser indenizada 
pela morte do amásio, se entre eles não havia impedimento para o matrimônio”58. 
Tratava-se de um direito indenizatório, não consagrando, ainda, os efetivos 
direitos patrimoniais e sucessórios do convivente. 
 
 
 
 
 
 
55 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev. Atual. e ampl. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2015, p.155. 
56 Ibidem. 
57 Ibidem, p.155. 
58BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula 35. Disponível em: 
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.asp?sumula=1953. Acesso em: 24 set. 2016. 
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.asp?sumula=1953
30 
4.2.2 Súmula 380 do STF 
 
 
As queixas em relação à rasa proteção ao concubino, observa Maria Berenice 
Dias59, permaneceram generalizadas. A justiça brasileira, através de seus julgados, 
passou a reconhecer a presença de direito patrimonial, quando da existência de uma 
sociedade de fato, comprovada, entre o casal. Impunha, por sua vez, para o fim de 
ensejar qualquer divisão de bens adquiridos na constância do relacionamento, o 
requisito da prova da contribuição financeira efetiva de cada consorte. Os 
companheiros eram, por assim ser considerados sócios, procedendo-se uma 
espécie de divisão de lucros. 
Essa solução que já vinha sendo reputada em diversos julgados, restou 
sumulada pelo STF, na Súmula 380, cuja data de aprovação ocorreu em sessão 
plenária de 3 de abril de 1964. Foi mais um avanço, ainda que não extenso, no 
reconhecimento do instituto da união fática. A Súmula 380 do STF prevê, então, o 
direito à partilha de patrimônio entre concubinos, desde que provado o esforço 
comum desta sociedade, conforme o transcrito: “Comprovada a existência de 
sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a 
partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum”60. 
Tratou-se de mais um avanço jurisprudencial, já que não havia legislação que 
dispusesse sobre a temática. A justiça usaria ora o procedimento da indenização 
pelos trabalhos prestados no lar, conforme a Súmula 35 do STF, ora poderia se 
valer do conceito da sociedade entre o casal informal, com comprovação da 
participação da concubina nos ganhos auferidos, conforme a Súmula 380 do STF. 
Nesse sentido, Adriane Toaldo e Jaime Lorentz61 analisam que em todo o 
período anterior ao advento da Constituição Federal, a união estável, por não ter o 
status de família, estava inapta a gerar efeitos jurídicos, inclusive os patrimoniais. 
 
59 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev. Atual. e ampl. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2015, p. 156. 
60 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula 380. Disponível em: 
<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=jurisprudenciaSumula&pagina=sumula_301_4
00>. Acesso em 11 ago. 2016. 
61 TOALDO, Adriane Medianeira; LORENTZ, Jaime Noronha. Esforço comum na união estável: 
presunção absoluta ou relativa? Revista Âmbito jurídico, n.º 101 - Ano XV, junho/2012. Disponível 
em <http://ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11577&revista_caderno=14>. 
Acessado em 03 jun 2016. 
31 
Quando havia a dissolução de um concubinato duradouro, o julgador, não raramente 
se via diante de uma situação patrimonial extremamente injusta, pois com o fim do 
relacionamento, a concubina encontrava-se totalmente desamparada, mesmo tendo 
trabalhado e se dedicado ao lar diuturnamente. Como inexistia legislação que 
regulamentasse a matéria, a jurisprudência, com intuito de amenizar tal injustiça, 
evoluiu para conceder, à concubina desamparada, o direito a indenização por seus 
serviços prestados ao longo do concubinato, tendo sido, posteriormente, sumulada. 
Com a matéria sumulada, quando comprovada a sociedade de fato e o 
esforço comum, seria devida a partilha. Nesse diapasão, o entendimento 
jurisprudencial, conforme depreende-se da seguinte ementa de recurso especial não 
conhecido pelo STJ: 
 
EMENTA. CONCUBINATO. Se a concubina contribuiu para a formação do 
patrimônio comum, tem direito de partilhar (Súmula 380 STF). Se não 
contribuiu, tem direito de receber indenização. Num ou noutro caso, supõe-
se o desfazimento do concubinato. Caso em que tal não se verificou, donde 
inexistir o dissidio entre os julgados confrontados. Recurso especial de que 
a turma não conheceu. (STJ - REsp: 50100 RJ 1994/0018352-6, Relator: 
Ministro NILSON NAVES, Data de Julgamento: 14/11/1994, T3 - TERCEIRA 
TURMA, Data de Publicação: DJ 19.12.1994 p. 35312</br> LEXSTJ vol. 72 
p. 190 DJ 19.12.1994 p. 35312 LEXSTJ vol. 72 p. 190). 
 
Aludidas súmulas, 35 e 380 do STF, analisa Sílvio Rodrigues62, foram 
soluções obtidas pela jurisprudência para a reparar a injustiça, que se apresentava, 
em seu ver, flagrante, de nada receber, em geral a companheira, por ocasião do 
rompimento da mancebia. De um lado, atribuiu-se à companheira o direito a salários 
e patrimônio adquirido, pelo fundamento de que por extenso período prestou 
serviços domésticos ao concubino; doutra banda, confere-se à companheira a 
participação no patrimônio haurido pelo esforço comum, sob o fundamento de haver 
existido, entre os concubinários, uma sociedade de fato, que, ao ser dissolvida, 
implicava o mister de dividir o patrimônio social. 
 
 
 
 
 
62 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: direito de família. V. 7. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 
262. 
32 
4.2.3 Constituição Republicana Federativa brasileira de 1988 
 
 
Com o advento da Constituição Federal de 1988, houve o reconhecimento da 
União estável como unidade familiar efetiva e legítima, conferida pelo artigo 226, § 
3º. Em diversos sentidos ocorreram aproximações entre a união estável e o 
casamento, sobretudo no que tange ao reconhecimento amplo desta modalidade 
familiar e a necessidade de que passasse a receber amparo legal e estatal. 
De acordo com Euclides de Oliveira63, a Constituição Federal de 1988 
introduziu relevantes mudanças no conceito de família e no tratamento dispensado a 
essa instituição considerada a base da sociedade. Sob o “facho de luz” ditado por 
seu artigo 226, passou a ser considerada entidade familiar. Além de a união civil ou 
religiosa pelo casamento e da comunidade formada por qualquer dos pais seus 
descendentes, também a união estável passa a receber garantia de proteção do 
Estado. Como decorrência desse imperativo constitucional foram editadas as Leis 
Especiais 8.971/94 e 9.278/96, disciplinadoras da união estável, dando aos 
companheiros direito a alimentos, meação e herança. 
Como se verifica, após a promulgação da Constituição Federal de 1988, ainda 
sob vigência do Código Beviláqua, foram editadas leis extravagantes, ordinárias, que 
regularam a união estável, vigorando até o advento da vigência do Código Civil de 
2002, que, em seus dispositivos, as revogou, tacitamente, em algumas 
particularidades, que ele passou a reger. No que se refere ao tema sucessório, em 
especial, o Código Civil trouxe novo texto, que prevaleceu por ser norma posterior, 
sobre a lei anterior. No pertinente ao direito sucessório, este andamento legislativo 
culminou na decisão do STF proferida no mês de agostode 2016, que reorienta a 
interpretação acerca do dispositivo legal em vigor em matéria de sucessão do 
companheiro. Segue uma síntese com o desenrolar desta legislação. 
 
 
 
 
 
63 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. União estável: do concubinato ao casamento: antes e depois 
do Novo Código Civil. 6. ed. atual. e ampl. São Paulo: Método, 2003, p 101. 
33 
4.2.4 Lei n.º8.971, de 1994 
 
 
A Lei 8.971 de 1994 inovou ao regular o direito dos companheiros. Tratou-se 
de lei sucinta, com cinco artigos, regulamentando, precipuamente, os aspectos 
referentes aos critérios para o reconhecimento da união estável, direitos a alimentos, 
usufruto vidual e sucessão. 
Critérios para a configuração da união estável: 
Estabeleceu o critério temporal para união estável, exigindo o requisito de 
convivência mínima de cinco anos, ou prole comum, para sua configuração, no 
sentido da recepção dos direitos ora concedidos. 
Alimentos: 
Conforme o artigo 1º da Lei 8.971 de 1994, o companheiro passa a ter direitos 
legais a alimentos. Faz jus aos alimentos, por primeiro, desde que cumpridos os 
critérios acima definidos de configuração da união estável e, ademais, quando não 
houvesse constituído nova união, além do quesito necessidade, próprio de qualquer 
direito a alimentos. Além disto, para ter direito aos alimentos, deveria ser 
companheira comprovada de um homem solteiro, separado judicialmente, divorciado 
ou viúvo. 
Interessante notar que o texto legal primeiro aborda a companheira mulher e 
apenas no parágrafo único menciona o companheiro do sexo masculino conforme 
assim transcrito: 
 
Art. 1º. A companheira comprovada de um homem solteiro, separado 
judicialmente, divorciado ou viúvo, que com ele viva há mais de cinco anos, 
ou dele tenha prole, poderá valer-se do disposto na Lei n.º 5.478, de 25 de 
julho de 1968, enquanto não constituir nova união e desde que prove a 
necessidade. Parágrafo único. Igual direito e nas mesmas condições é 
reconhecido ao companheiro de mulher solteira, separada judicialmente, 
divorciada ou viúva64. 
 
Este artigo faz referência à Lei n.º 5.478 de 1968, que dispõe sobre ação de 
alimentos65. 
 
64 BRASIL. GABINETE DA PRESIDÊNCIA. Lei n°. 8.971, de 29 de dezembro de 1994. Regula o 
direito dos companheiros a alimentos e à sucessão. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/ 
legislacao/128259/lei-8971-94> Acesso em 21 jun 2016. 
65 A Lei n.º 5.478 de 1968, dispõe sobre ação de alimentos. 
34 
Direitos sucessórios e usufruto vidual: 
A Lei n.º 8.971/94 estabeleceu para o companheiro, a exemplo do que previa 
o artigo 1.611 do Código Civil de 1916 em relação aos cônjuges, o direito ao 
usufruto dos bens deixados pelo falecido, e o direito à metade dos bens adquiridos, 
se comprovada colaboração. As regras de sucessão e usufruto vidual foram 
previstas nos arts. 2º e 3º da Lei 8.971. O artigo 2º estabeleceu três regras, cada 
qual apresentada por um inciso. 
O primeiro inciso defere ao companheiro sobrevivente o direito, enquanto não 
constituir nova união, ao usufruto de quarta parte dos bens do de cujos, se houver 
filhos ou comuns. O segundo, confere ao companheiro sobrevivente o direito, 
enquanto não constituir nova união, ao usufruto da metade dos bens do de cujos, se 
não houver filhos, embora sobrevivam ascendentes. 
Os dois primeiros incisos abordam e reservam ao companheiro o direito ao 
usufruto vidual. Eles não apresentavam o direito à herança propriamente dita que 
aparecem no inciso terceiro do artigo 2º e no artigo 3º da lei. 
O terceiro inciso do artigo 2º estabeleceu a norma de que na falta de 
descendentes e de ascendentes, o companheiro sobrevivente teria direito à 
totalidade da herança. Conferiu, assim, o direito ao companheiro de herdar a 
totalidade da herança na falta de descendentes e ascendentes66. 
Como se nota, quando houvesse ascendentes ou descendentes do falecido, o 
companheiro apenas recebia o direito ao usufruto de parcela dos bens, não 
herdando (exceção está no artigo subsequente da mesma lei, que será apresentado 
a seguir). Na ausência de descendentes ou ascendentes, por sua vez, não havia 
concorrência sucessória entre companheiro e colaterais como posteriormente veio a 
ocorrer, herdando o companheiro a totalidade da herança, portanto sendo o terceiro 
a ser chamado na ordem de vocação hereditária. Frisa-se, desta feita, que na linha 
 
66 Art. 2º As pessoas referidas no artigo anterior participarão da sucessão do(a) companheiro(a) nas 
seguintes condições: 
I - o(a) companheiro(a) sobrevivente terá direito enquanto não constituir nova união, ao usufruto de 
quarta parte dos bens do de cujos, se houver filhos ou comuns; 
II - o(a) companheiro(a) sobrevivente terá direito, enquanto não constituir nova união, ao usufruto da 
metade dos bens do de cujos, se não houver filhos, embora sobrevivam ascendentes; 
III - na falta de descendentes e de ascendentes, o(a) companheiro(a) sobrevivente terá direito à 
totalidade da herança. 
35 
sucessória, o companheiro despontava como terceiro na ordem de vocação, para a 
totalidade do patrimônio sem a concorrência com os colaterais. 
Por sua vez, o artigo 3º da Lei 8.971 regulamenta em qual circunstância, 
sobre quais bens e em que proporção, o companheiro teria direito a herdar, ainda 
que houvesse descendentes ou ascendentes do de cujus. Trata-se do direito a 
herdar metade dos bens, adquiridos do esforço comum, com atividade colaborativa, 
portanto metade dos bens adquiridos após o advento da união: “Artigo 3º: Quando 
os bens deixados pelo autor da herança resultarem de atividade em que haja 
colaboração do(a) companheiro, terá o sobrevivente direito à metade dos bens.”. 
Assim, dada a sociedade, a participação ou a colaboração do companheiro, que, 
como visto já se entendia presumida, este herdava a metade sobre os bens 
adquiridos com o esforço comum. 
 
 
4.2.5 Lei n.º 9.278, de 1996 
 
 
A Lei n.º9.278 de 199667, não alterou as disposições da Lei 8.971 de 1994 
concernentes aos alimentos ou aos direitos sucessórios. Introduziu alterações no 
critério para a configuração da união estável, além de ter inovado no que tange ao 
direito patrimonial de meação do companheiro. 
Neste sentido, a relevância jurídica trazida por esta lei e observam que além 
de regular o dispositivo constitucional do §3º do artigo 226, da Constituição 
Federal/1988, reconhecendo como entidade familiar a união estável entre homem e 
mulher, estabelecida com o fim de constituir família, também permitiu, em seu artigo 
8º, a conversão da união estável em casamento, a qualquer tempo, sem exigência 
de qualquer formalidade legal e ainda, fixou a competência das varas de família para 
os litígios, saindo, então da esfera civil, como era anteriormente, conforme artigo 9° 
 
67 BRASIL. GABINETE DA PRESIDÊNCIA. Lei n.º 9.278 de 10 de maio de 1996. Lei da União 
Estável. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br> Acesso em: 21 jun 2016. 
36 
Toda a matéria relativa à união estável é de competência do juízo da Vara de 
Família, assegurado o segredo de justiça68. 
Em termos gerais a composição entre as duas leis mencionada trouxe grande 
inovação tanto ao direto patrimonial de meação, quanto ao direito sucessório do 
companheiro. 
Carlos Alberto Maluf e Adriana Caldas Maluf69 sintetizam que, de forma geral, 
as leis 8.971/94 e 9.278/96 reconheceram ao companheiro sobrevivente, dentre os 
quais, o direito à parte que lhe pertencia como condômino; o direito real de 
habitação sobre o imóvel destinado à residência da família; o usufruto da quarta 
parte dos bens do de cujus, se existissem filhos comuns ou apenas deste; o usufruto 
da metade dos bens deixados pelo de cujus, se não existissem filhos, ainda que 
sobrevivam ascendentes; a totalidade da herança se não existissem descendentes 
nem acedentes. 
Critérios para a configuração da união estável: 
A Lei n.º9.278, de 1996 retirou o requisito temporal da uniãoestável, sendo 
suficiente para surtir efeitos jurídicos patrimoniais e sucessórios a comprovação de 
uma união afetiva, estável, monogâmica, com o intento real de constituição 
familiar70. 
Ademais, apresenta como direitos e deveres iguais dos conviventes o respeito 
e consideração mútuos, a assistência moral e material recíproca e a guarda, 
sustento e educação dos filhos comuns. 
Direito de meação: 
A Lei 9.278/96 definiu em seu artigo 5º, que os bens havidos na constância da 
união, são comuns aos conviventes. Passa a ser presumida a comunhão, sem a 
necessidade de se comprovar o esforço comum, conforme o seguinte texto 
normativo: 
 
 
68 MELLO, Thais Zanetti de; SANTOS, Liziane dos. União estável. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, 
X, n.º40, abr 2007. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artig os_leitura &artigo_id=3981>. Acesso em jul 2016. 
69 MALUF, Carlos Alberto Dabus e MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus. Curso de direito 
das sucessões. São Paulo: Saraira. 2013. p. 212 
70 BRASIL. Lei n.º 9.278, de 10 de maio de 1996. Art. 1º é reconhecida como entidade familiar a 
convivência duradoura, pública e contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo 
de constituição de família. 
37 
Art. 5° Os bens móveis e imóveis adquiridos por um ou por ambos os 
conviventes, na constância da união estável e a título oneroso, são 
considerados fruto do trabalho e da colaboração comum, passando a 
pertencer a ambos, em condomínio e em partes iguais, salvo estipulação 
contrária em contrato escrito. § 1° Cessa a presunção do caput deste artigo 
se a aquisição patrimonial ocorrer com o produto de bens adquiridos 
anteriormente ao início da união. § 2° A administração do patrimônio comum 
dos conviventes compete a ambos, salvo estipulação contrária em contrato 
escrito. 
 
Direito Real de Habitação e alimentos: 
Previu o direito real habitação desde que a moradia fosse exclusivamente 
para residência da família, conforme artigo 7º da Lei 9.278/96, além de ter mantido o 
dever de alimentos, já conferido pela lei anterior: 
 
Art. 7° Dissolvida a união estável por rescisão, a assistência material 
prevista nesta Lei será prestada por um dos conviventes ao que dela 
necessitar, a título de alimentos. Parágrafo único. Dissolvida a união estável 
por morte de um dos conviventes, o sobrevivente terá direito real de 
habitação, enquanto viver ou não constituir nova união ou casamento, 
relativamente ao imóvel destinado à residência da família. 
 
 
4.2.6 Código Civil de 2002 
 
 
O Código Civil de 2002 abordou a união estável de forma ampla e clara, 
apresentando características e requisitos para este instituto do Direito de Família. 
Com relação à revogação das leis anteriores, esta ocorreu de forma tácita. 
Euclides de Oliveira pontua que foram revogadas as leis anteriores em face 
da inclusão da matéria no âmbito do “Novo Código Civil”, que lhe dedica o Título III 
do livro IV, artigos 1.723 a 1.727, e disposições esparsas em outros capítulos quanto 
a certos efeitos, como nos casos da obrigação alimentar (art. 1.694) e do direito 
sucessório do companheiro (art. 1.790) 71. Explica, na falta de revogação expressa, 
tem-se que a lei nova tacitamente revoga os dispositivos colidentes ou constavam 
da lei precedente. Assim, ocorreu nas sucessivas disposições legais atinentes à 
conceituação de união estável e os decorrentes direitos a alimentos, meação e 
 
71 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. União estável: do concubinato ao casamento: antes e depois 
do Novo Código Civil. 6. ed .atual. e ampl. São Paulo: Método, 2003, p. 101-102. 
38 
sucessão hereditária, em que a lei mais recente veio a estabelecer regramentos 
jurídicos diferenciados.72 
Direito de Meação: 
Meação não se confunde com herança. 
Silvio Venosa73 explica que na meação do cônjuge, quando da morte de um 
dos consortes, desfaz-se a sociedade conjugal, como em qualquer sociedade, os 
bens comuns devem ser divididos. O montante da meação dependerá do regime de 
bens do casamento. 
Assim, no regime matrimonial da comunhão universal todo patrimônio é 
dividido ao meio, na comunhão de aquestos, os bens adquiridos na constância do 
casamento. Se há pacto antenupcial a meação será encontrada de acordo com o 
estabelecido nessa escritura. Consequentemente, ao se examinar uma herança no 
falecimento de pessoa casada, há que se separar do patrimônio comum, que se 
trata de um condomínio, a parcela pertencente ao cônjuge sobrevivente, porque esta 
porção ideal do patrimônio não pertence ao falecido, mas ao cônjuge sobrevivo. 
Excluída a meação, o que não for patrimônio da pessoa viúva, compõe a herança, 
para ser dividida entre os descendentes ou ascendentes ou cônjuge conforme o 
caso. Como a meação não se confunde com herança, se o sobrevivente do casal 
desejara atribuí-la a terceiros, esta atribuição se constitui num negócio jurídico entre 
vivos. 
Direito real de habitação: 
Conforme elucidado por Washington de Barros Monteiro74, o Código Civil de 
2002 não manteve para o companheiro o direito real de habitação sobre o imóvel 
que serviria de residência à família, sendo o único esta espécie a inventariar. Este 
privilégio que havia sido outorgado pela Lei n.º9.278/96, foi, pelo Código Civil, 
reservado ao cônjuge sobrevivente. 
 
72 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. União estável: do concubinato ao casamento: antes e depois 
do Novo Código Civil. 6. ed .atual. e ampl. São Paulo: Método, 2003, p. 111 
73 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Direito das sucessões. 16 ed. rev, atual, e ampl. São 
Paulo: Atlas. 2016, p. 140. 
74 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. V. 6: Direito as Sucessões. 38. ed. 
São Paulo: Saraiva, 2011, p. 116. 
39 
Para o cônjuge viúvo, explica, Silvio de Salvo Venosa75, o direito real de 
habitação foi uma proteção conferida pelo Estatuto da Mulher Casada, estampado 
no §2º do artigo 1.611 do Código Civil de 1916, com o intuito de assegurar um teto 
ao viúvo se houvesse um único imóvel residencial na herança, sendo certo que na 
ausência deste dispositivo, os herdeiros poderiam entrar na posse direta do bem, ou, 
ainda, aliená-lo, deixando o viúvo ao desamparo e desabrigo. Tanto o usufruto 
vidual, quanto o direito real de habitação conferidos ao cônjuge são direitos 
sucessórios temporários, extinguindo-se pela morte ou pelo término do estado de 
viuvez, quando o domínio pleno passa aos herdeiros. O artigo 1.831 do Código Civil 
de 2002 tornou o direito real de habitação em um direito permanente ao cônjuge, 
não mais vinculado ao estado de viuvez, de modo que o advento de um novo 
casamento ou de uma nova união não mais cessa este direito. Mas não foi expresso 
em relação ao companheiro. Entende-se que o casamento produz um 
reconhecimento automático do direito ao cônjuge supérstite, ao passo que, para o 
companheiro, há possibilidade de discussão judicial, por meio da instauração de um 
processo, não havendo imediato reconhecimento. 
Alimentos: 
Aduz José Luiz Gavião de Almeida76 que embora não tratado no título 
referente à união estável, há obrigação alimentar entre conviventes, que decorre do 
artigo 1.694 do Código Civil de 200277. Incluído o companheiro no mesmo dispositivo 
que trata dos alimentos a parentes e entre cônjuges, a obrigação alimentar entre 
eles não se difere. Não é possível, porém, valer-se do rito da lei de alimentos, visto 
que no casamento, a mera certidão comprova o vínculo, da relação para o fim de 
concessão de alimentos provisionais, o que, na união estável, por sua vez, demanda 
dilação probatória. 
Direito sucessório: 
Sob a ótica sucessória, o legislador apresentou reformulações em relação aos 
dispositivos encontrados nas Leis de 1994 e 1996, retirando alguns direitos, 
concedendo outros, ou ainda, não abordando novamente o tema. Para abordar a 
 
75 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Direito das sucessões.

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