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1 Pesquisas Contábeis no Brasil: Métodos de Pesquisa Segundo os Critérios do Congresso Anual da European Accounting Association Autoria: Paulo Roberto Barbosa Lustosa, Vanessa Paiva Dias RESUMO Este artigo utiliza os critérios do Congresso Anual da EAA – European Accounting Association para classificar pesquisas contábeis brasileiras quanto ao método de pesquisa. Foram analisados o conteúdo de 372 resumos de artigos apresentados nos Congressos ANPCONT e EnANPAD, e os publicados na Revista de Contabilidade e Finanças da USP, no período de 2005 a 2008. As categorias escolhidas para a seleção dos periódicos foram: Contabilidade para Usuários Externos; e Educação e Pesquisa em Contabilidade. Os dados foram coletados nos anais dos congressos e no sítio da revista, e organizados em um banco de dados. O método de pesquisa adotado na realização deste trabalho, de acordo com classificação do Congresso Anual da EAA, foi o empírico em base de dados e a técnica de análise utilizada foi a análise de conteúdo. Os resultados revelam que: (i) em 38,4% dos trabalhos não é possível inferir-se o método de pesquisa no resumo, o que contraria a norma NBR 6028/2003, da ABNT; (ii) dentre os 6 métodos de pesquisa previstos no Congresso da EAA, o empírico em base de dados foi o mais utilizado; e (iii) o Congresso EnANPAD foi o que apresentou maior diversidade de métodos de pesquisa. Como resultado secundário, observou-se aumento no número de pesquisas apresentadas no período de 2005 a 2007 e uma queda no ano de 2008. Palavras–chave: Metodologia. Métodos de pesquisa. Pesquisas contábeis. 1 INTRODUÇÃO O The American Heritage Dictionary define a palavra método como “o jeito ou maneira de se proceder, especialmente a forma regular e sistemática de se fazer algo”. No mesmo dicionário, a palavra técnica é definida como “um procedimento sistemático por meio do qual uma tarefa científica ou complexa é realizada”. E, em uma nota de esclarecimento sobre a tendência indevida de uso comum da palavra método no lugar de metodologia, o tradicional dicionário afirma: [...] cada vez se usa mais a palavra metodologia como substituta de método nas áreas técnica e científica. Talvez isso se deva ao fato de o adjetivo metodológico significar o que se refere aos métodos. A palavra metodológico pode ter assumido esse sentido porque as pessoas vêm utilizando o adjetivo metódico no sentido de algo ordenado, sistemático. A diferença sutil de significado envolvendo as palavras técnica e método e por vezes até a extensão indevida do escopo dessa última palavra para metodologia, pode explicar porque é tão comum, nas pesquisas em ciências contábeis (e talvez em outras áreas do conhecimento), a denominação de um mesmo objeto metodológico, por exemplo Estudo de Caso, ser adotado em diferentes pesquisas e por diferentes autores, como técnica, método, metodologia ou outras denominações. Para complicar ainda mais a ausência de uniformidade terminológica no uso dessas palavras em pesquisas, alguns autores, por exemplo Walliman (2001), denominam de estratégia da pesquisa as categorias de estudos empíricos do tipo Estudo de Caso, Survey, Experimentos etc. Talvez por isso, alguns congressos e revistas estrangeiros da área contábil preferem especificar o que consideram método de pesquisa para o autor enquadrar o seu 2 trabalho no momento da submissão. Por exemplo, o tradicional congresso anual de contabilidade da EAA – European Accounting Association define seis possíveis métodos de pesquisa, sendo quatro empíricos e dois teóricos, que serão adiante explorados neste trabalho. É tênue a distinção de significado entre as palavras método e técnica. Uma possível interpretação, que será adotada neste trabalho, é que a palavra método se refere à descrição da maneira de se fazer algo, ex ante à execução da ação; e que técnica é a maneira sistematizada como as coisas são executadas, o que requer habilidade das pessoas que executam a tarefa. O método, nessa interpretação, descreve os passos que serão seguidos pela técnica, mas esta retroalimenta o método, aperfeiçoando-o. No Brasil, os congressos e revistas da área de contabilidade ainda não requerem que o autor especifique o método (estratégia? metodologia? técnica?) da sua pesquisa no momento de submeter o trabalho. Além disso, as quatro usuais áreas temáticas em que se dividem as pesquisas (CUE – Contabilidade para Usuário Externos; CCG – Controladoria e Contabilidade Gerencial; CMC – Contabilidade e Mercado de Capitais; e EPC – Estudos e Pesquisas em Contabilidade) são bastante agregadas quando comparadas com os modelos mais analíticos adotados internacionalmente. Por exemplo, o já citado congresso anual da EAA adota 13 áreas temáticas, e o Asian-Pacific Conference on International Accounting Issues especifica nada menos do que 42 áreas de pesquisa. Talvez seja necessário no futuro que os congressos e revistas brasileiros da área de contabilidade sigam a tendência internacional no sentido de desdobrar as áreas temáticas atuais em níveis mais analíticos e de pré-especificar os métodos de pesquisa para enquadramento dos trabalhos. A prévia identificação desses elementos pode ajudar na formação de um banco de dados que ajudará na elaboração de futuras pesquisas e no processo de gestão dos congressos e revistas, por exemplo, na destinação mais qualificada dos trabalhos para revisão dos ad hoc. Tendo em vista o exposto, o objetivo deste trabalho é classificar os métodos de pesquisa utilizados nas pesquisas contábeis brasileiras segundo os critérios definidos no tradicional congresso anual de contabilidade realizado pela EAA e verificar quais desses métodos são mais usuais. Para tanto, foi aplicada a técnica de análise de conteúdo aos resumos de 372 artigos apresentados nas áreas Contabilidade para Usuários Externos e Educação e Pesquisa em Contabilidade dos congressos ANPCONT e EnANPAD dos anos de 2005 a 2008, e também nas pesquisas publicadas na Revista de Contabilidade e Finanças da USP no mesmo período. Haja vista a quantidade de eventos e periódicos na área, a pesquisa foi delimitada a observar apenas os três previamente mencionados: ANPCONT, EnANPAD e RCF/USP. É importante esclarecer, que esse mesmo critério foi utilizado na escolha das categorias CUE e EPC. Ademais, cabe ressaltar, que a idéia de elaborar esta pesquisa surgiu da necessidade de se entender, de forma mais objetiva, como classificar metodologicamente uma pesquisa, principalmente quanto aos métodos de pesquisa. Portanto, o intuito deste estudo não é criticar a estrutura dos congressos brasileiros ou os autores de bibliografias existentes sobre o tema, mas sim despertar a atenção de estudiosos para um problema que tem dificultado o desenvolvimento de pesquisas acadêmicas que é a ausência de rigor metodológico, devido à diversidade e a controvérsia dos conceitos e terminologias atribuídas ao tema. O presente trabalho está estruturado em cinco seções. Além desta introdução, há a revisão da literatura na segunda seção, com a apresentação de trabalhos relacionados ao tema. Na terceira seção, estão os fundamentos teóricos, com a consulta de bibliografias especializadas que dão um maior embasamento ao estudo. Na quarta e quinta seções apresentam-se, respectivamente, a metodologia utilizada na elaboração do trabalho e os resultados da pesquisa. 3 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Conceitos sobre Metodologia, Método e Técnica Há certa confusão entre os autores consultados sobre a definição de metodologia, pois o termo é utilizado com diferentes significados. Parte dos autores entende metodologia como sendo o estudo dos métodos científicos, como por exemplo, Theóphilo (2000). Já Richardson (1999) a entende como sendo procedimentos e regras utilizadas por determinado método. Demo (1995, p. 11) define que Metodologia é: [...] estudo dos caminhos, dos instrumentos usados para se fazer ciência. É umadisciplina instrumental a serviço da pesquisa. Ao mesmo tempo que visa conhecer caminhos do processo científico, também problematiza criticamente, no sentido de indagar os limites da ciência, seja com referência à capacidade de conhecer, seja com referência à capacidade de intervir na realidade. Por outro lado, Asti Vera (1983) define que metodologia tem dois significados: o primeiro, que é uma disciplina chamada metodologia e, o segundo, que é o estudo analítico e crítico dos métodos de investigação e de prova. Ele define metodologia como sendo “[...] a descrição, análise e avaliação crítica dos métodos de investigação” (Asti Vera, 1983, p. 8). Barros e Lehfeld (2000, p. 1) entendem Metodologia como: [...] uma disciplina que se relaciona com a epistemologia. Consiste em estudar e avaliar os vários métodos disponíveis, identificando suas limitações ou não em nível das implicações de suas utilizações [...] corresponde a um conjunto de procedimentos a serem utilizados na obtenção do conhecimento, [...]. É a aplicação do método através de processos e técnicas que garantem a legitimidade do saber obtido. Desta forma, observa-se que existem basicamente duas vertentes para conceituar metodologia. A primeira entende que Metodologia estuda a forma como é apreendida a realidade social, numa perspectiva de discussão teórico-filosófica. Nesse sentido, existem várias metodologias, pois cada uma está aliada a uma concepção filosófica de mundo. A segunda defende que Metodologia é uma disciplina que estudará e definirá qual o melhor método a ser empregado, portanto, existe a disciplina de metodologia, que escolhe num conjunto de procedimentos disponíveis, o melhor a ser utilizado. Além da discussão sobre os conceitos de Metodologia, ainda há outra polêmica, que é a relação entre metodologia, método e técnica. Para Demo (1995), metodologia distingue-se de método e técnica, pois considera que os dois últimos tratam da realidade empírica, enquanto a metodologia prende-se mais às discussões problematizantes. Com isso, a metodologia situa-se no nível da discussão teórica, discutindo criticamente sobre as maneiras de se fazer a ciência. Por outro lado, Asti Vera (1983) diferencia método e técnica por “[...] uma diferença semântica análoga à que distingue o gênero da espécie”. Como se pôde observar, quando se trata de definir conceitos e aspectos metodológicos não existe consenso e alguns autores sugerem tratamentos bastante distintos em termos do que seja uma metodologia, um método, uma técnica etc. Portanto, para a condução deste trabalho será utilizado o conceito de metodologia como um conjunto de métodos, técnicas e instrumentos necessários à elaboração de uma pesquisa, ou seja, é a descrição de todo o procedimento realizado pelo pesquisador para o desenvolvimento da pesquisa e obtenção de resultados. Com vistas a facilitar o entendimento, seguem os conceitos de método, técnica e instrumento, considerados na elaboração deste artigo: 4 • Método: “Forma ordenada de proceder ao longo de um caminho. Conjunto de processos ou fases empregadas na investigação, na busca do conhecimento.” (BARROS; LEHFELD, 2000, p. 3). É em geral “o que fazer”. Por exemplo, os métodos de pesquisa1. • Técnicas: “Procedimentos [...] que operacionalizam os métodos, mediante emprego de instrumentos adequados.” (SEVERINO, 1996, p. 130). É em geral “como fazer”. Por exemplo, a análise de conteúdo (BARDIN, 1977, p. 42). • Instrumentos: Meios utilizados na coleta dos dados. Como exemplo, questionários, formulários, entrevistas etc. Em resumo, o método é a fase inicial da pesquisa. Primeiro é necessário traçar as estratégias da pesquisa para depois partir para a execução. Essa etapa, da operacionalização do método, será concretizada pelo emprego da técnica, com o auxilio de instrumentos adequados para viabilizar a extração ou coleta dos dados necessários à pesquisa. 2.2 Diversidade de conceitos nas classificações metodológicas Como mencionado anteriormente, há uma polêmica quanto à dificuldade de classificação das pesquisas acadêmicas devido à grande variedade de conceitos e nomenclaturas atribuídas aos termos relacionados à metodologia. A fim de exemplificar tal fato, fez-se uma comparação entre os conceitos utilizados por alguns autores a respeito das abordagens metodológicas (Quadro 1) e das bases de classificação dos tipos de pesquisa (Quadro 2). No Quadro 1, estão apresentadas as classificações e nomenclaturas atribuídas por Martins (1994) e Theóphilo (2007) com relação às abordagens metodológicas, definidas por eles como Nível metodológico e Pólo metodológico, respectivamente. O termo definido por Martins (1994) como nível metodológico, foi dividido em: empirista, positivista, sistêmica, funcionalista, fenomenológica, hermenêutica e crítico- dialética. Já Theóphilo (2007) o definiu como pólo metodológico e o dividiu em: empirismo, positivismo, abordagem sistêmica, estruturalismo, fenomenologia, dialética e abordagens não- convencionais. O quadro abaixo, mostra de forma explícita essas diferenças: Martins (1994) Theóphilo (2007) Empirista Empirismo Positivista Positivismo Sistêmica Abordagem sistêmica Funcionalista Estruturalismo Fenomenológica Fenomenologia Hermenêutica Dialética Nível Metodológico Crítico-dialética Pólo Metodológico Abordagens não-convencionais Quadro 1 - Terminologia atribuída às abordagens metodológicas segundo Martins (1994) e Theóphilo (2007). Fonte: NOSSA; FIÓRIO; SGARBI (2006) O que Martins (1994) e Theóphilo (2007) tratam como “nível ou pólo metodológico”, Demo (1995) chama de Metodologia, dividindo-a em: Metodologia dialética, Estruturalismo, Abordagem sistêmica e Funcional, além disso, atribui o conceito de metodologias alternativas para: Hermenêutica, Fenomenologia, Pesquisa Participante e Pesquisa-ação. Demo (1995), pois, em seu tratamento contradiz a lógica a respeito do conceito de metodologia que vem sem sendo seguido neste trabalho, visto que ele limita a definição do termo metodologia a um assunto específico. Ressalta-se também que os dois últimos conceitos, Pesquisa Participante e Pesquisa- ação, tratados por Demo (1995) como um tipo de Metodologia, não foram abordados por 5 Martins (1994) e Theóphilo (2007) no sentido de abordagem metodológica, porém, foram identificadas por Gil (2002), como um tipo de pesquisa inserida na base de classificação dos procedimentos técnicos. No Quadro 2, estão apresentados os tipos de pesquisas mais usuais, de acordo com a base de classificação proposta por Collis e Hussey (2005) e Gil (1999; 2002): Base de Classificação Itens Tipos de Pesquisa Collis e Hussey Gil 1 Exploratória, Descritiva, Analítica ou Preditiva Objetivo da Pesquisa Objetivo da Pesquisa 2 Quantitativa ou Qualitativa Processo da Pesquisa Abordagem 3 Dedutiva, Indutiva, Hipotético-dedutiva, etc. Lógica da Pesquisa Lógica da Investigação 4 Aplicada ou Básica Resultado da Pesquisa Natureza da Pesquisa 5 Bibliográfica, Experimental, Estudo de Caso, etc. Método (metodologia) de Pesquisa Procedimentos Técnicos Quadro 2: Classificação dos tipos de pesquisa segundo Collis e Hussey (2005) e Gil (1999; 2002). Com este quadro é possível observar que para determinado tipo de pesquisa atribuem- se variadas formas de classificação. No caso da nomenclatura atribuída pelos autores acima, apenas o item 1 dos tipos de pesquisa apresenta a mesma base de classificação, os demais, recebem denominações muito distintas, impossíveis de serem relacionadas se vistas individualmente. Entretanto, há divergência nos critérios adotados por Collis e Hussey (2005) e Gil (2002) quanto aos objetivos da pesquisa (item 1). Collis e Hussey dividem as pesquisas quanto os seus objetivos em: exploratórias, descritivas, analíticas e preditivas, enquanto Gil as divide em: exploratórias, descritivas e explicativas. No item 2, o que Collis e Hussey (2005) definiram comoProcesso de Pesquisa, Gil (1999) definiu como Forma de Abordagem, gerando um certa confusão com o termo “abordagem metodológica”, classificado por outros autores em: empirismo, positivismo, estruturalismo etc. No item 3, Collis e Hussey (2005) consideram como Lógica da Pesquisa apenas as pesquisas tipificadas em: dedutiva e indutiva. Entretanto, Gil (1999) e Santos, Schmidt e Machado (2005), são mais abrangentes e classificam as pesquisas, respectivamente, quanto a lógica da investigação ou método de investigação/pesquisa, em: dedutiva, indutiva, hipotético-dedutiva, dialética e fenomenológica. Estas bases de classificação ainda podem receber denominações muito mais diversificadas se consideradas as taxonomias utilizadas por outros autores. Dentre as bases apresentadas, a de maior polêmica é o “Método de Pesquisa”, pois é utilizado para conceituar vários tipos de pesquisas. Por exemplo, o item 3 do Quadro 2, que é classificado por Collis e Hussey (2005) como Lógica da Pesquisa e por Gil (1999) como Lógica da Investigação, é classificado, segundo Santos, Schmidt e Machado (2005), como Método de Pesquisa ou Investigação. Seguindo essas nomenclaturas, tanto as pesquisas do item 3 quanto as do item 5 seriam classificadas como métodos de pesquisa, mesmo pertencendo à grupos distintos, já que o primeiro refere-se ao tipo de raciocínio lógico utilizado e o segundo à forma de investigação ou coleta dos dados. Os exemplos citados confirmam a idéia de que, apesar do elevado conhecimento dos autores acerca do tema, não há uma uniformidade na classificação e conceituação no âmbito da metodologia, o que dificulta o desenvolvimento das pesquisas acadêmicas tendo em vista a diversidade de bibliografias sobre o tema e a ausência de padrão metodológico no qual os pesquisadores possam fundamentar suas pesquisas. 6 2.3 Revisão da literatura O aumento substancial de instituições de ensino superior e o desenvolvimento de novos cursos de pós-graduação2 no Brasil têm intensificado a produção de trabalhos acadêmicos, visto que, além da crescente exigência de elaboração de pesquisas científicas para a conclusão da graduação, um dos requisitos para a obtenção do título de pós-graduado é a elaboração de artigos, monografias, dissertações ou teses, colaborando para a inserção dos alunos nas tarefas de pesquisa. A área de Ciências Contábeis também está inserida neste contexto e devido à evolução da pesquisa científica nesta área, surgiu a necessidade de se avaliar a qualidade da classificação metodológica dessas pesquisas, visto que esse crescimento quantitativo das pesquisas muitas vezes não é acompanhado pelo devido rigor teórico. Tal fato compromete, em alguns casos, a qualidade dos trabalhos acadêmicos, o que justifica o crescimento no número de pesquisas da área contábil, voltadas aos aspectos da metodologia científica. Tem-se observado com as pesquisas desenvolvidas na área, que há uma grande dificuldade por parte dos pesquisadores em classificar metodologicamente seus trabalhos, em função da grande variedade de conceitos e terminologias atribuídos a este assunto. Theóphilo (1998), em artigo publicado na RCF/USP, comentou que as terminologias e classificações utilizadas na literatura a respeito de metodologia científica variam bastante entre os autores. Para demonstrar o quanto alguns conceitos podem ser contraditórios, citou o exemplo do termo “empírico”, que possui diversos significados, podendo receber a conotação de conhecimento popular, adquirido sem a aplicação de um método ou designar a abordagem que caracteriza a própria pesquisa científica, a qual utiliza métodos em sua elaboração. Theóphilo (2004), avançando em sua dissertação de mestrado, analisou aspectos epistemológicos das pesquisas em contabilidade realizadas entre 1994 e 2003. Com sua pesquisa, constatou que há predominância de trabalhos positivos, porém com características normativas. Dando seqüência a este trabalho, Theóphilo e Iudícibus (2005) deram maior ênfase aos aspectos epistemológicos da pesquisa, e, posteriormente, Coelho, Soutes e Martins (2007) utilizaram este enfoque no exame de 77 artigos da área Contabilidade para Usuários Externos do Congresso EnANPAD, no anos de 2005 e 2006. Por meio da técnica de análise de conteúdo, os autores constataram que 77% dos trabalhos eram empírico-analíticos, enquadrados nas categorias caracterizadas por Theóphilo e Iudícibus (2005), como: Positivistas, Empiricista ou Estruturalista, porém, também com características normativas (55%) na subárea Eficiência das Demonstrações Financeiras. Nossa, Fiório e Sgarbi (2006), pesquisaram sobre as metodologias e técnicas aplicadas nas pesquisas em contabilidade, sobre os temas Balanço Social e Demonstração do Valor Adicionado, por meio da análise de 31 pesquisas, sendo 14 dissertações, 1 tese e 16 artigos defendidos/publicados no período de 1997 a 2005, pelos programas de pós-graduação (teses e dissertações) e revistas nacionais na área contábil. Concluíram que a abordagem metodológica empírica e a positivista não foram encontradas nas pesquisas, enquanto que a fenomenológico-hermenêutica foi observada em 3%, as sistêmicas foram verificadas em 6,5%, as crítico-dialéticas em 35,5%, as funcionalistas em 26% e outras em 29% das pesquisas analisadas. Perceberam também que o uso de técnicas de pesquisas é maior entre as dissertações do que dentre os artigos. No que se refere aos artigos, 56% não atenderam aos requisitos de relatório-técnico-científico. Ribeiro Filho et al. (2006), procederam uma pesquisa epistemológica e metodológica onde analisaram 54 dissertações, no período de 2001 a 2004, produzidas no âmbito do Programa Multiinstitucional e Inter-Regional em Ciências Contábeis UnB, UFPB, UFPE e UFRN. Os autores concluíram que existe a necessidade de um aprimoramento na formação básica do pesquisador, quanto ao aprofundamento de conhecimento sobre metodologia 7 cientifica, no intuito de ampliar os conhecimentos relacionados com os fundamentos filosóficos e epistemológicos da pesquisa, bem como no que diz respeito às técnicas de investigação. Ponte et al. (2007) discutiram as metodologias e técnicas de pesquisa adotadas nos artigos publicados no Brasil nas áreas de Administração e Contabilidade elegendo como tema central o Balanced Scorecard. Tomaram por base 54 artigos publicados no período de 1999 a 2006. Verificaram com a pesquisa que aspectos metodológicos considerados elementares na apresentação de trabalhos científicos não estão sendo observados pelos pesquisadores, por exemplo, a explicitação do problema, dos objetivos e do detalhamento da metodologia empregada. Ressaltaram também que as classificações apresentadas resultaram da análise de conteúdo dos trabalhos investigados, já que a maioria dos autores não mencionava explicitamente as classificações das pesquisas. Concluíram que há necessidade em avançar na construção de trabalhos científicos de qualidade nas áreas de Administração e Contabilidade. Considerando o exposto, a presente pesquisa poderá auxiliar o avanço em relação ao estado de conhecimento existente, já que abordará a questão da dificuldade de classificação metodológica das pesquisas contábeis no Brasil, quanto ao método de pesquisa, devido à grande variedade de conceitos e terminologias utilizadas, muitas vezes, para se referir a um mesmo termo ou assunto. 2.4 Situação das pesquisas contábeis no Brasil Tendo em vista o que foi mencionado sobre a grande variedade de abordagens, terminologias e conceitos no âmbito da metodologia, leva-se a pensar que isto ocorre devido à ausência de um órgão central ou uma associação que regulamente a questão da pesquisa em relação aos seus aspectos metodológicos, como ocorrem quanto os aspectos formais, regulamentados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Nos últimos anos, o número de pesquisas científicas na área de contabilidade tem aumentado, no entanto,no que tange ao rigor metodológico, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Observa-se que muitos pesquisadores da área contábil, apesar de possuírem considerável conhecimento na área de atuação, não abordam de forma desejável os aspectos metodológicos em suas pesquisas. Esta falha, porém, não pode ser completamente atribuída aos pesquisadores, pois muitos deles só passam a ter um contato maior com o tema quando ingressam em cursos de pós-graduação, como especialização, mestrado, doutorado etc, o que gera dificuldade em absorver os conceitos metodológicos, visto que são vastos e controversos. Conseqüentemente, a dificuldade em classificar suas pesquisas é inevitável Considerando esta realidade, deveria haver por parte dos congressos e periódicos da área, uma orientação maior aos pesquisadores que utilizam esses veículos para apresentar seus trabalhos, começando por uma categorização mais específica das pesquisas, visto que os congressos adotam poucas categorias e estas são muito abrangentes. Por exemplo, o Congresso ANPCONT apresenta apenas quatro categorias, que são elas: CUE, CGC, MFC e EPC. A primeira engloba uma infinidade de pesquisas que, muitas vezes, poderiam até ser alocadas em algumas das outras três categorias. O próprio nome atribuído a ela é genérico e dependendo do entendimento, uma variedade de pesquisas poderia ser nela enquadrada. Tal situação, além de ser complicada para o pesquisador, que muitas vezes não sabe em qual categoria seu trabalho será alocado, é complicada também para os usuários que necessitam consultar assuntos específicos nos anais dos congressos. Outra questão que deveria ser considerada pelos Congressos e periódicos nacionais é a orientação aos pesquisadores quanto à classificação metodológica de seus trabalhos quanto ao método de pesquisa. Haja vista a controvérsia de conceitos no âmbito da metodologia no 8 Brasil, os eventos nacionais poderiam adotar um padrão terminológico a respeito do tema, auxiliando, desta forma, os pesquisadores na classificação metodológica de seus trabalhos. 2.5 Metodologia adotada pelo Congresso Anual da EAA No item anterior foram relatadas algumas deficiências encontradas nos Congressos e periódicos da área contábil no Brasil e levantou-se a questão de haver, por parte destes, maior colaboração com os pesquisadores no sentido de especificar mais as categorias onde eles enquadrarão seus trabalhos e orientá-los na classificação metodológica, quanto ao método de pesquisa utilizado. A sugestão apresentada aos Congressos e periódicos brasileiros, já é uma realidade em alguns eventos internacionais. Para exemplificar tal fato, escolheu-se o Congresso Anual da European Accounting Association. A escolha desse Congresso como um exemplo a ser adotado pelos congressos nacionais se deu porque, além de ser reconhecido internacionalmente, o mesmo, visando manter um padrão nos trabalhos eleitos, orienta os pesquisadores quanto à apresentação de suas pesquisas, enfatizando a necessidade de se prezar por um rigor metodológico. O primeiro passo dos pesquisadores ao enviarem seus trabalhos para este Congresso é enquadrá-los em categorias, assim como é feito nos congressos brasileiros, porém, as categorias adotadas pelo EAA são mais específicas. Atualmente, a divisão é realizada em treze categorias, o que favorece e facilita a consulta de pesquisas nos anais do Congresso. Além da classificação por categoria, o Congresso exige que os pesquisadores definam o método de pesquisa, ou seja, as estratégias de investigação utilizadas para se coletar os dados, de acordo com as opções apresentadas no quadro abaixo: Quadro 3: Resumo da classificação, quanto ao método de pesquisa, dos trabalhos a serem enviados ao EAA. Ademais, há a opção “Outros”, utilizada para classificar as pesquisas que não se enquadram em nenhum dos critérios acima. Desta forma, conclui-se que, segundo critérios adotados pela EAA, há apenas dois grandes grupos para classificar as pesquisas quanto aos seus métodos: empíricas ou não- empíricas; e a especificação delas, em survey ou estudo de caso, por exemplo, dependerá das técnicas e instrumentos utilizados na coleta de dados. 3 PROCEDER METODOLÓGICO Ante a controvérsia na classificação metodológica utilizada nas pesquisas brasileiras, a descrição dos métodos de pesquisa será baseada nos critérios estabelecidos pelo Congresso da EAA, visto que é uma classificação mais objetiva. Para a elaboração desta pesquisa, foram selecionados os Congressos ANPCONT e EnANPAD e a Revista de Contabilidade e Finanças da USP. Dentre as categorias apresentadas nos congressos, duas foram selecionadas: Contabilidade para Usuários Externos e Educação e Pesquisa em Contabilidade. No caso da revista, como não possui divisão em Classificação Tipo Descrição Em Base de Dados ou em Arquivo Realizado em uma base de dados ou em um arquivo pré-existente. Experimento Realizado por meio de experimento. Em Campo ou Estudo de Caso Realizado por meio de uma pesquisa de campo ou estudo de caso. Empírico Survey Realizado por meio de inspeção detalhada - questionários estruturados ou amostras e opiniões que possam ser tomadas pelo todo. Analítico Ensaio em que ele manifesta seu ponto de vista. Não-empírico Teórico Proposição de uma nova teoria ou modelo teórico. 9 categorias, fez-se uma correspondência dos trabalhos nela apresentados, de acordo com o assunto, com as categorias adotadas pelos Congressos. Após esta seleção, extraíram-se dos Congressos e da revista alguns dados que serviram de base para a elaboração de um banco de dados. Estes dados foram organizados em uma planilha elaborada em Excel, que foi dividida em três pastas: a primeira para os dados coletados no ANPCONT, a segunda para o EnANPAD e a terceira para a RCF/USP. Nestas pastas montaram-se tabelas que continham os seguintes campos: • Congresso – nome do congresso; • Ano – ano de apresentação do trabalho em congresso ou de publicação na revista; • Categoria – categorias de classificação dos trabalhos, que poderia ser: CUE ou EPC; • Título do artigo; • Autor (es); • Resumo – fez-se um “resumo do resumo”, de modo a extrair o método de pesquisa utilizado; • Classificação dos métodos de pesquisa – classificação dos artigos segundo os critérios adotados pela EAA. Concluída a elaboração da estrutura do banco de dados, iniciou-se a consulta aos resumos dos trabalhos apresentados nos Congressos e os publicados na RCF/USP, no período de 2005 a 2008. Por meio da técnica de análise de conteúdo, fez-se uma leitura desses resumos, a fim de verificar qual metodologia foi utilizada na elaboração das pesquisas, visto que, segundo a Norma da ABNT NBR 6028:2003, é obrigatório que o método seja apresentado no resumo. Para classificar os trabalhos quanto ao método de pesquisa, ou seja, a forma como os dados foram coletados, utilizou-se os critérios adotados pela a EAA, que divide os métodos de pesquisa em: empírico em base de dados ou em arquivo, experimento empírico, empírico em campo ou estudo de caso, survey empírico, não-empírico analítico, não-empírico teórico e outros. Para o preenchimento do banco de dados adotou-se os seguintes critérios: • Quando identificada descrição do método de pesquisa no resumo do artigo: extraía-se o trecho em que mencionava o método e colava-se no campo “Resumo” e no campo “Classificação dos métodos de pesquisa” realizava classificação segundo critérios adotados pela EAA; • Quando não identificada descrição do método de pesquisa no resumo do artigo: o campo “Resumo” era preenchido com a informação: “Não menciona o método” e o campo “Classificação dos métodos de pesquisa” com a informação: “Não identificado”. Finalizado o banco de dados, com o preenchimento de todos os campos, apurou-se a quantidade de trabalhos analisados, segundo disposição na tabela a seguir: Tabela 1: Total de trabalhos apresentados no período de 2005a 2008. Congresso / periódico Quantidade % ANPCONT 44 11,83 EnANPAD 243 65,32 RCF 85 22,85 Total 372 100 4 RESULTADOS 4.1 Evolução quantitativa das pesquisas contábeis 10 Com o objetivo de evidenciar a evolução das pesquisas contábeis no Brasil, no período de 2005 a 2008, realizou-se uma busca nos anais dos Congressos ANPCONT e EnANPAD e na RCF/USP pelas pesquisas enquadradas nas categorias: Contabilidade para Usuários Externos (CUE) e Educação e Pesquisa em Contabilidade (EPC). Verificou-se que o número total de trabalhos apresentados neste período foi de 372 artigos. Considerando os três eventos, houve crescimento na quantidade de trabalhos apresentados para o período de 2005 a 2007 e uma leve queda no ano de 2008, representando uma redução em torno de 4% em relação a 2007. Isto pode ser explicado pelo ano de 2008 ainda não ter chegado ao fim, portanto, apesar das apresentações nos Congressos ANPCONT e EnANPAD já terem ocorrido, ainda haverão publicações na Revista de Contabilidade e Finanças da USP. Dos três eventos, o mais significativo em termos quantitativos é o EnANPAD. Isto se deve, provavelmente, por ser o mais tradicional, visto que acontece desde 1976, apesar de ter começado a apresentar trabalhos relacionados à área de contabilidade somente a partir de 1999 e, especificamente, nas categorias de CUE e EPC a parir de 2005. Dentre as categorias CUE e EPC, observou-se que há uma concentração das pesquisas na primeira categoria (75,5%), possivelmente, por esta englobar pesquisas de assuntos variados, enquanto que a EPC (24,5%) abrange apenas os trabalhos voltados ao tema de educação, ensino e pesquisa na área de contabilidade e como foi abordado anteriormente, este tema ainda não é muito explorado pelos pesquisadores da área. Analisando a situação das pesquisas em cada evento, em termos percentuais, verificou-se que: no Congresso ANPCONT, 75% das pesquisas apresentadas foram enquadradas na categoria CUE, contra 25% da categoria EPC. No EnANPAD, 72% das pesquisas pertencem a categoria CUE e 28% à categoria EPC. Já na RCF/USP, 86% dos trabalhos considerados fazem parte da categoria CUE contra apenas 14% da categoria EPC. Na Tabela 2, a seguir, pode-se observar, além da evolução quantitativa das pesquisas no período mencionado, a discrepância entre a quantidade de trabalhos apresentados nas categorias CUE e EPC, em todos os eventos. Tabela 2: Evolução quantitativa das pesquisas contábeis nos Congressos ANPCONT e EnANPAD e na RCF/USP, distribuídas nas categorias CUE e EPC Congresso/ Periódico Categoria 2005 2006 2007 2008 Total CUE - - 16 17 33 ANPCONT EPC - - 5 6 11 Subtotal - - 21 23 44 CUE 38 38 55 44 175 EnANPAD EPC 12 18 18 20 68 Subtotal 50 56 73 64 243 CUE 15 30 19 9 73 RCF EPC 3 1 4 4 12 Subtotal 18 31 23 13 85 Total 68 87 117 100 372 4.2 Pesquisas que abordam aspectos metodológicos Considerando o fato de que ainda não há ênfase às pesquisas relacionadas ao tema de EPC e que este trabalho discorre sobre a abordagem dos aspectos metodológicos nas pesquisas contábeis no Brasil, fez-se um levantamento, dentro da categoria mencionada, sobre a quantidade de trabalhos apresentados que são relacionados ao tema de metodologia, como mostra a Tabela 3, a seguir: 11 Congresso/Periódico 2005 2006 2007 2008 Total ANPCONT - - 2 0 2 EnANPAD 1 2 1 4 8 RCF 0 0 0 0 0 Total 1 2 3 4 10 Nesta tabela pode-se verificar uma evolução da quantidade de trabalhos que abordam os aspectos metodológicos da pesquisa no ano de 2005 a 2008, porém, esta evolução não foi tão considerável se observado o total de pesquisas apresentadas e publicadas no período. Das 91 pesquisas da categoria EPC, dos três eventos, apenas 10 são relacionadas a aspectos metodológicos, o que representa, em termos percentuais, 11% do total de pesquisas em EPC e 2,7% do total geral de pesquisas. Para o período em análise, a RCF/USP não publicou nenhum trabalho relacionado ao tema de metodologia, o que chamou atenção tendo em vista que a revista é um dos periódicos mais influentes da área acadêmica. Dos 11 trabalhos apresentados na categoria EPC do Congresso ANPCONT no período de 2007 a 2008, apenas 2 (18,2%) abordam temas relacionados a metodologia e este número refere-se apenas ao ano de 2007, visto que em 2008 não houve apresentação de nenhuma pesquisa sobre o assunto em questão. Já no Congresso EnANPAD, dos 68 trabalhos enquadrados na categoria em questão, apenas 8 (11,8%) abordaram aspectos metodológicos em pesquisas contábeis. Entretanto, considerando a evolução anual do quantitativo dessas pesquisas no Congresso EnANPAD, pode-se ter certo otimismo em relação aos períodos subseqüentes, pois, exceto no ano de 2007, houve crescimento no número de pesquisas apresentadas. Em termos percentuais, a representatividade dessas pesquisas em relação ao total de trabalhos apresentados em EPC, por ano, foi de: 8,33% em 2005, 11,11% em 2006, 5,55% em 2007 e 20% em 2008. Portanto, como se pode observar, o ano de 2008 foi o mais significativo do período em análise, gerando uma expectativa positiva para os anos seguintes em relação ao aumento contínuo do número de pesquisas voltadas a esse tema. 4.3 Métodos de pesquisa mais usados nas pesquisas contábeis Por ser a classificação metodológica das pesquisas contábeis no Brasil muito controversa, surgiu a curiosidade de se verificar qual método de pesquisa é mais utilizado pelos pesquisadores. Devido à diversidade bibliográfica sobre o tema, adotou-se a classificação usada pelo Congresso Anual da EAA para identificar as pesquisas selecionadas nas categorias de CUE e EPC dos Congressos ANPCONT e EnANPAD e da RCF/USP, no período de 2005 a 2008. Na tabela abaixo está evidenciada a quantidade de trabalhos classificados em cada método de pesquisa, no período em questão. Tabela 4: Quantitativo dos trabalhos, segundo classificação adotada pela EAA Métodos de Pesquisa 2005 2006 2007 2008 Total % Empírico em Base de Dados ou em Arquivo 16 21 40 35 112 30,1 Survey Empírico 13 15 17 18 63 16,9 Empírico em Campo ou Estudo de Caso 4 6 6 5 21 5,7 Experimento Empírico 1 0 1 2 4 1,1 Não-Empírico: Analítico 7 1 6 8 22 5,9 Não-Empírico: Teórico 0 0 0 1 1 0,3 Outros 1 2 0 3 6 1,6 Não Identificado 26 42 47 28 143 38,4 Total 68 87 117 100 372 100 12 Dos 372 trabalhos analisados, foi possível identificar nos resumos de 229 artigos (61,6%) os métodos de pesquisa utilizados pelos pesquisadores, enquanto que em 143 artigos (38,4%) os métodos de pesquisa não foram identificados porque não constavam no resumo ou não estavam descritos explicitamente. No período de 2005 a 2008, verificou-se uma preferência dos pesquisadores pelas pesquisas empíricas, com 53,8% das pesquisas apresentadas, em relação às pesquisas não- empíricas, com apenas 6,2%. Os 1,6% restantes - considerando o universo de 61,6% dos artigos nos quais os métodos foram identificados - pertencem a classificação “Outros”, a qual engloba as pesquisas que, apesar de apresentarem o método no resumo, não se encaixam em nenhuma das classificações anteriores. Dentre os métodos considerados, o mais adotado foi o empírico em base de dados ou em arquivo, tanto no grupo dos empíricos quanto no universo total das pesquisas, com 30,1% da quantidade total de artigos. Os demais métodos empíricos apresentaram a seguinte representatividade considerando o total das pesquisas: survey empírico – 16,9%, empírico em campo ou estudo de caso - 5,7% e experimento empírico - 1,1%. Já em relação ao grupo dos métodos não-empíricos, o mais adotado foi o não-empírico analítico, classificado em 5,9% das pesquisas, seguido do não-empírico teórico com 0,3%. Um dos métodos que mais chamou atenção foi o empírico em campo ou estudo de caso. Este foi utilizado pelos pesquisadores em apenas 5,7% dos trabalhos considerados, todavia, em muitos casos, observou-se nos títulos desses trabalhos a presençado termo “um estudo de caso”, quando na realidade, não é o que método descrito nos resumos representa. Outro fato que merece destaque é a questão da quantidade de trabalhos que não mencionaram no resumo o método de pesquisa utilizado em sua elaboração. Isto evidencia desatenção dos pesquisadores com relação à norma da ABNT, a qual rege os aspectos formais do artigo e ressalta que no resumo deve constar o método. 4.4 Representatividade dos métodos de pesquisa nos Congressos ANPCONT, EnANPAD e na RCF/USP Além da curiosidade em se verificar qual método de pesquisa foi mais utilizado pelos pesquisadores, no período de 2005 a 2008, buscou-se também evidenciar entre os eventos escolhidos como fonte de pesquisa, qual o método de pesquisa é predominante nos trabalhos apresentados em cada um deles. A tabela abaixo relaciona os métodos de pesquisa e a quantidade de trabalhos apresentados em cada evento: Tabela 5: Quantitativo dos trabalhos, segundo classificação adotada pela EAA, nos Congressos ANPCONT e EnANPAD e na RCF/USP, no período de 2005 2008 Métodos de Pesquisa Anpcont % Enanpad % RCF % Total Empírico em Base de Dados ou Arquivo 14 31,8 85 35,0 13 15,3 112 Survey Empírico 5 11,4 47 19,3 11 12,9 63 Empírico em Campo ou Estudo de Caso 2 4,5 17 7,0 2 2,4 21 Experimento Empírico 0 0 4 1,7 0 0 4 Não-Empírico: Analítico 3 6,8 13 5,4 6 7,1 22 Não-Empírico: Teórico 0 0 1 0,4 0 0 1 Outros 0 0 3 1,2 3 3,5 6 Não Identificado 20 45,5 73 30,0 50 58,8 143 Total 44 100 243 100 85 100 372 13 De um total de 44 trabalhos apresentados no Congresso ANPCONT, nos anos de 2007 e 2008, 31,8% foram classificados como empírico em base de dados ou em arquivo, 11,4% em survey empírico, 4,5% em empírico em campo ou estudo de caso e 6,8% em não-empírico analítico. Não houve pesquisas classificadas nos métodos: experimento empírico, não- empírico teórico e outros. Os 45,5% restantes correspondem às pesquisas enquadradas no critério “Não identificado”, visto que não foi possível identificar o método de pesquisa, pois não constava descrição ou esta não estava explícita. O Congresso EnANPAD apresentou nos anos de 2005 a 2008 um total de 243 pesquisas, sendo que 35% foram classificadas como empírico em base de dados ou em arquivo, 19,3% em survey empírico, 7% em empírico em campo ou estudo de caso, 1,7% em experimento empírico, 5,4% em não-empírico analítico, 0,4% em não-empírico teórico e 1,2% em outros. O percentual de pesquisas classificadas em “Não identificado” foi de 30%. Na Revista de Contabilidade e Finanças da USP constatou-se certa semelhança com o Congresso ANPCONT, considerando os métodos de pesquisa encontrados. Assim como no ANPCONT, também não houve na RCF/USP pesquisas classificadas nos métodos: experimento empírico e não-empírico teórico. Do total de 85 trabalhos para o período em questão, 15,3% foram classificados como empírico em base de dados ou em arquivo, 12,9% em survey empírico, 2,4% em empírico em campo ou estudo de caso, 7,1% em não-empírico analítico e 3,5% em outros. Já as pesquisas enquadradas no critério “Não identificado” representaram o percentual de 58,8% das pesquisas publicadas neste evento, ou seja, mais da metade desses trabalhos não mencionaram em seus resumos o método utilizado. Verificou-se, portanto, que o Congresso EnANPAD foi o que apresentou maior diversidade de métodos de pesquisa nas pesquisas, visto que este continha pelo menos uma pesquisa classificada em cada método, diferentemente do que ocorreu no Congresso ANPCONT que não possuía nenhuma pesquisa classificada nos métodos: experimento empírico, não-empírico teórico e outros, no total dos quatro anos, bem como a RCF/USP, que não possuía nenhuma pesquisa classificada no método experimento empírico ou não-empírico teórico. Além disso, o EnANPAD também foi o que apresentou o melhor resultado em relação à quantidade de pesquisas que continham em seus resumos a descrição do método de pesquisa. Considerando os percentuais apresentados pelo Congresso ANPCONT e pela RCF/USP para o critério “Não identificado”, que foram respectivamente, 45,5% e 58,8%, o EnANPAD ficou a frente, com o percentual de 30%. Contudo, esse resultado não significa uma situação favorável, visto que o ideal seria que 100% dos trabalhos descrevessem no resumo o método de pesquisa utilizado. Quanto aos métodos de pesquisa e sua representatividade nos eventos, constatou-se que os métodos: empírico em base de dados ou em arquivo, survey empírico, empírico em campo ou estudo de caso, experimento empírico e não-empírico teórico, foram mais representativos no Congresso EnANPAD, já os métodos: não-empírico analítico e outros foram mais representativos na RCF/USP. No geral, pode-se dizer que a preferência dos pesquisadores em relação aos métodos de pesquisa é: 1) empírico em base de dados ou em arquivo; 2) survey empírico; 3) não- empírico analítico; 4) empírico em campo ou estudo de caso; 5) outros; 6) experimento empírico; e 7) não-empírico teórico. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando o exposto neste trabalho, constatou-se que há necessidade de se dar mais ênfase as pesquisas contábeis realizadas no Brasil, principalmente com relação aos seus aspectos metodológicos, visto que ainda há muita controvérsia nos conceitos e terminologias 14 relacionados ao tema. Este é um dos grandes problemas enfrentados pelos pesquisadores da área que por não possuírem bibliografias com um padrão terminológico em que possam se basear para realizar suas pesquisas, muitas vezes acabam fazendo confusão no momento de classificá-las metodologicamente. No que tange a diversidade de classificações, terminologias e conceitos a respeito dos aspectos metodológicos, pode-se considerar que isto acontece devido à ausência de um órgão ou associação que pudesse dar as diretrizes a respeito destas questões, como ocorre, por exemplo, com a regulamentação dos aspectos formais das produções textuais pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Uma alternativa para reduzir as dificuldades por parte dos pesquisadores seria as instituições de ensino superior darem mais ênfase às questões metodológicas desde a graduação, pois assim, os alunos poderiam assimilar mais cedo o conteúdo de metodologia e aprender a lidar com as contradições que ele apresenta. No entanto, o que ocorre, normalmente, é que estes alunos só passam a ter contato com temas relacionados à metodologia quando ingressam em cursos de pós-graduação, enfrentando assim, dificuldades ao discorrer sobre o assunto. Além disso, há também a questão da falta de orientação aos pesquisadores, por parte dos congressos e periódicos da área, quanto à classificação das pesquisas. Tal fato deveria ser repensado por estes eventos, podendo até mesmo seguir o exemplo de congressos e periódicos internacionais, como o Congresso Anual da European Accounting Association, que dá aos pesquisadores o direcionamento necessário quanto à classificação metodológica dos trabalhos, apresentando não só as categorias como também os métodos de pesquisa nos quais eles deverão enquadrar suas pesquisas. Com relação aos resultados obtidos na pesquisa, verificou-se uma evolução no número de pesquisas apresentadas no período de 2005 a 2007, com uma leve queda no ano de 2008. Quanto aos métodos de pesquisa, o empírico em base de dados foi o método mais utilizado pelos pesquisadores da área contábil, considerando os Congressos ANPCONT e EnANPAD e a Revista de Contabilidade e Finanças da USP, no período de 2005 a 2008. Todavia, o Congresso EnANPAD foi o que apresentou em seus trabalhos a maior diversidade de métodos de pesquisa, tendo pelo menos uma pesquisa classificada em cada método. Além disso, verificou-se que 38,4% dos trabalhos apresentados não descreveram, ao menos não de forma explícita, o método de pesquisa no resumo, desobedecendo a Norma da ABNT NBR 6028, de novembro de 2003, a qual dispõe no item 3.1 que“[...] o resumo deve ressaltar o objetivo, o método, os resultados e as conclusões do documento.” (grifo nosso). Por fim, é válido ressaltar a importância das pesquisas contábeis para o crescimento dos estudos na área, bem como a necessidade de serem observadas as questões relacionadas aos aspectos metodológicos, visto que esse ainda não é um tema muito abordado na área acadêmica e possui alguns problemas que precisam ser sanados para que essas pesquisas possam evoluir cada vez mais e de forma mais estruturada. 15 REFERÊNCIAS ASSOCIAÇAO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 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All rights reserved. THEÓPHILO, Carlos Renato; IUDICIBUS, Sérgio. Uma Analise Crítico-epistemologica da produção cientifica em contabilidade no Brasil. In: Encontro da Associação Nacional de Pós- graduação e Pesquisa em Administração. EnANPAD, XXIX. 2005, Brasília, Anais... p. 1-16. THEÓPHILO, Carlos Renato. Algumas Reflexões sobre Pesquisa Empírica em Contabilidade. Caderno de Estudos, São Paulo, FIPECAFI, v.10, n. 19, p.9 - 15, setembro/dezembro 1998. Disponível em: http://www.eac.fea.usp.br/cadernos/completos/cad19/algumas_reflexoes.pdf THEÓPHILO, Carlos Renato. Pesquisa científica em contabilidade: desenvolvimento de uma estrutura para subsidiar análises crítico-epistemológicas. In: I Congresso ANPCONT, 2007, Gramado - RS. Anais... São Paulo: ANPCONT, 2007. Disponível em: http://www.furb.br/congressocont/_files/EPC%20454.pdf THEÓPHILO, Carlos Renato. Pesquisa em contabilidade no Brasil: uma análise crítico- epistemológica. 212 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Controladoria e Contabilidade da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2004. THEÓPHILO, Carlos Renato. Uma abordagem epistemológica da pesquisa em contabilidade. 131 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Controladoria e Contabilidade da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2000. WALLIMAN, Nicholas. Your Research Project: a step-by-step guide for the first-time researcher. SAGE Publications, 1st. Edition, 2001. 1 O conceito e a classificação dos métodos de pesquisa serão abordados no item 2.5 Metodologia adotada pelo Congresso Anual da EAA. 2 Este termo está no sentido de cursos posteriores a graduação, como especialização, mestrado, doutorado etc. << /ASCII85EncodePages false /AllowTransparency false /AutoPositionEPSFiles true /AutoRotatePages /None /Binding /Left /CalGrayProfile (Dot Gain 20%) /CalRGBProfile (sRGB IEC61966-2.1) /CalCMYKProfile (U.S. Web Coated \050SWOP\051 v2) /sRGBProfile (sRGB IEC61966-2.1) /CannotEmbedFontPolicy /Error /CompatibilityLevel 1.4 /CompressObjects /Tags /CompressPages true /ConvertImagesToIndexed true /PassThroughJPEGImages true /CreateJDFFile false /CreateJobTicket false /DefaultRenderingIntent /Default /DetectBlends true /DetectCurves 0.0000 /ColorConversionStrategy /CMYK /DoThumbnails false /EmbedAllFonts true /EmbedOpenType false /ParseICCProfilesInComments true /EmbedJobOptions true /DSCReportingLevel 0 /EmitDSCWarnings false /EndPage -1 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