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DIMENSIONAMENTO DE TUBULAÇÕES PARA ESCOAMENTO DE GASES. Introdução O dimensionamento aqui apresentado contempla o lado fluido dinâmico da tubulação, e não o dimensionamento estrutural que será abordado em outro capítulo da disciplina. O estudo de escoamento de gases em dutos será dividido em dois casos: 1-ESCOAMENTO EM DUTOS LONGOS Esta consideração é aplicada na maioria dos casos às linhas de gasodutos onde as distâncias ligadas pelos dutos são medidas em km. Em termos termodinâmicos o escoamento será considerado como isotérmico (ocorre a temperatura constante). Para o dimensionamento da vazão em dutos longos aplicam-se fórmulas empíricas desenvolvidas na prática e que mostraram funcionar no cálculo destas tubulações. Podemos utilizar a fórmula simplificada que se apresenta da seguinte forma: qh = 0,01361 , , onde qh = vazão em m3/h P’1=pressão absoluta no início da linha (bar) P’2=pressão absoluta no final da linha (bar) f=coeficiente de atrito para escoamento turbulento tabelado em função do diâmetro Lkm=comprimento da linha em km T = temperatura absoluta da linha Sg= gravidade específica do gas = onde Mgas=massa molecular do gas e Mar=massa molecular do ar. d = diâmetro interno do tubo em mm Exemplo numérico: Uma linha de gás natural feita com tubo diâmetro nominal 14 polegadas schedule 40 tem um comprimento de 160 km. A pressão no início da linha é igual a 90 bar, a pressão no final da linha é igual a 20 bar, a temperatura média ao longo da linha é igual a 4°C, e a gravidade específica do gás natural é igual a 0,71. Determine a vazão do gás na linha em m3/h. A fórmula simplificada para determinação da vazão é qh = 0,01361 , , Como o duto é diâmetro nominal 14 polegadas schedule 40 Da tabela de tubos schedule em polegadas o diâmetro interno pode ser calculado da seguinte forma: d=14 – 2 x 0,438 = 13,1 pol ou 333,3mm Portanto o coeficiente f retirado da tabela correspondente ao diâmetro igual a 333,3mm é f=0,013 A temperatura na escala absoluta é T = 273 + 4 = 277 na escala Kelvin Assim substituindo os valores na fórmula temos: qh = 0,01361 , . . . , 333,3 qh = 120606 m3/h 2-ESCOAMENTO EM DUTOS CURTOS Os dutos são considerados curtos quando os comprimentos corresponderem a uma dimensão entre 130d e 220d, onde d=diâmetro interno do tubo. Esta classificação aplica-se aplica na maioria dos casos às linhas de alimentação de queimadores de gases combustíveis onde o gás na extremidade final do duto é descarregado para a atmosfera. Em termos termodinâmicos o escoamento será considerado como adiabático (ocorre sem troca de calor). Para entendermos as considerações feitas para o cálculo do escoamento vamos rever o conceito descrito abaixo. Consideremos um duto por onde escoa uma gas. Início da linha final da linha P1 P2 ∆P = P1 - P2 A vazão é proporcional à ∆P Se diminuirmos P2 , como P1 não se altera, ∆P aumenta e portanto a vazão aumenta. A velocidade máxima de um fluido compressível em um tubo é limitada pela velocidade de propagação de uma onda de pressão que viaja na velocidade do som no fluido. Como a pressão cai e a velocidade aumenta à medida que o fluido prossegue a jusante (final da linha) no tubo de seção transversal uniforme, a velocidade máxima ocorre na extremidade a jusante do tubo. Se a queda de pressão for suficientemente alta, a velocidade de saída atingirá a velocidade do som. Uma diminuição adicional na pressão de saída nunca será traduzida a montante (início da linha). A queda de pressão excedente após a descarga máxima já ter sido atingida ocorre além do final do tubo. Essa pressão é perdida em ondas de choque e turbulência do fluido escoado. Considerada uma determinada instalação o escoamento poderá ser sônico ou subsônico. Para avaliar em qual situação o escoamento se classifica vamos comparar a relação ∆ , calculada com os dados da instalação, (onde ∆P = , - , , , é o valor da pressão absoluta no início da linha, e , é o valor da pressão absoluta no final da linha ) com a mesma relação tabelada conforme mostrado abaixo. Os valores da tabela representam, em função dos coeficientes de perda de carga total da instalação, qual é o valor máximo (limite superior) da relação ∆ , para os quais o escoamento é sônico (dados obtidos na prática/laboratório). O coeficiente de perda de carga total KT é obtido pela somatória dos coeficientes correspondentes a cada singuralidade (curva 90°, válvulas, entrada do duto, saída do duto, e etc.) apresentada pela instalação, e cujas formulas de cálculo seguem abaixo Onde : L = comprimento do tubo (m) d = diâmetro interno do tubo (m) fT =coeficiente de atrito do tubo na condição de turbulência do gás, o qual é dado pela tabela a seguir em função do diâmetro interno do tubo. A fórmula empírica para cálculo da vazão em um duto curto é: Onde: qh= vazão em m3/h do gás Y= coeficiente de adaptação da fórmula (ver tabela) d= diâmetro interno do tubo (mm) ∆P = P’1 - P’2 P’1=pressão absoluta no início da linha (bar) P’2=pressão absoluta no final da linha (bar) K= somatória dos coeficientes de perda de carga T1=Temperatura absoluta do gas no início da linha (escala Kelvin) Sg= gravidade específica do gas = onde Mgas=massa molecular do gas e Mar=massa molecular do ar. Seguem abaixo exemplos numéricos para cálculo de vazão. 1º. Exemplo – Escoamento Sônico Dados da instalação: Um gás combustível com gravidade específica igual a 0,42, contido em um vaso de pressão com pressão interna igual a 8,0 bar (pressão relativa), e à temperatura de 60°C, escoa através de um duto de diâmetro de 3 polegadas schedule 40 para descarregar na atmosfera. O coeficiente de calor específico ɣ é igual a 1,4, e a pressão atmosférica local é igual a 1,013 bar. Determine a vazão em m3/h. L L=6 metros Pressão interna =8barg (pressão relativa) Vamos determinar inicialmente a relação ∆ , com os dados da instalação , = 8,0 + 1,013 = 9,013 bar pressão absoluta no vaso que contém o gás , = 1,013 bar (pressão atmosférica) ∆P = , , portanto ∆P = 9,013 – 1,013 = 8,0 bar ∆ , = , , =0,8876 Vamos determinar o coeficiente de perda de carga total KT Para o tubo reto K= K=0,018 6 0,0779 d é o diâmetro interno do tubo de 3 polegadas schedule 40 da tabela em polegadas d = 3,5 – 2 x 0,216 = 3,06 pol ou 77,9mm o coeficiente f retirado da tabela correspondente ao diâmetro de 77,9 é f=0,018 Calculando a expressão de k indicado acima temos kTUBO=1,38 8,0 barg K=0,5 para a entrada da tubulação K=1,0 para a saída da tubulação Assim o k total é KT=1,38+0,5+1,0 = 2,88 Com KT=2,88 vamos entrar na tabela de ∆ , em função de K Interpolando para o valor de KT=2,88 na tabela encontramos ∆ , = 0,656 Como ∆ , calculado com os dados da instalação = 0,8876 é maior que o encontrado na tabela (0,656), que é o máximo, fica assim caracterizado o escoamento sônico, vale assim o valor da tabela. Diante disso devemos calcular o novo ∆P para aplicar na fórmula do cálculo da vazão. Assim: ∆P= 0,656 x ,= 0,656 x 9,013 = 5,91bar Na mesma tabela acima entrando com o valor de KT , interpolando podemos encontrar Y=0,636 A temperatura absoluta é T = 60 +273 = 333 na escala Kelvin A fórmula para cálculo da vazão é Assim substituindo na fórmula temos qh= 19,31 x 0,636 x 77,9 , , , , 2º. Exemplo – Escoamento Subsônico Ar comprimido escoa por uma tubulação feita com tubo diâmetro nominal de ½ polegada schedule 80 com uma temperatura de 40°C. A uma distância de 3 metros da extremidade foi montado um manômetro que indica uma pressão de 1,33 bar. Considerandoa pressão atmosférica igual a 1,013bar calcular a vazão em m3/min de ar obtida com a extremidade da linha aberta para a atmosfera. 1,33 barg L L=3 metros Para calcularmos o coeficiente de perda de carga total devemos considerar o tubo reto e a saída do ar. Para o tubo K= Ktubo = 0,027 3 0,0138 d é o diâmetro interno do tubo de 1/2 polegadas schedule 80 qh =27078 m3/h da tabela em polegadas d = 0,84 – 2 x 0,147 = 0,54 pol ou 13,8mm o coeficiente f retirado da tabela correspondente ao diâmetro de 13,8 é f = 0,027 Calculando a expressão de k indicado acima temos kTUBO= 5,84 K=1,0 para a saída da tubulação Assim o k total é KT=5,84 + 1,0 = 6,84 Com KT=6,84 vamos entrar na tabela de ∆ , em função de K Interpolando para o valor de KT=6,84 na tabela encontramos ∆ , = 0,747 Calculando com os dados da instalação: , = 1,33 + 1,013 = 2,343 bar pressão absoluta no ponto a 3m da extremidade , = 1,013 bar (pressão atmosférica) ∆P = , , portanto ∆P = 2,343 – 1,013 = 1,33 bar ∆ , = , , =0,567 Como ∆ , calculado com os dados da instalação = 0,567 é menor que o encontrado na tabela, caracteriza-se o escoamento subsônico, vale portanto o valor da instalação, devendo portanto ser considerado ∆P da instalação = 1,33bar. Como o escoamento é subsônico para determinar o valor de Y que entrará na fórmula devemos usar o gráfico abaixo: Entramos com o valor de ∆ , = 0,567 no eixo do x do gráfico e traçamos uma vertical até encontrar a reta interpolada de K= 6,84, desse ponto traçamos uma horizontal até chegar ao eixo do Y onde encontramos Y=0,76. A temperatura absoluta é T = 273 + 40 = 313 na escala Kelvin. A para calculo da vazão em m3/min é qmin = , Y , Sg= 1 pois o gás é o próprio ar 0,76 0,567 Assim substituindo os valores: qmin = , 0,76 13,8 , , , 3º. Exemplo – Escoamento de vapor Um vaso de pressão contendo vapor saturado com pressão de 12 bar absoluto alimenta um digestor de celulose através de um tubo de comprimento igual a 10 metros e um diâmetro nominal de 2 polegadas schedule 40. A linha inclui também um cotovelo de 90°, e uma válvula globo totalmente aberta. O digestor está submetido à pressão atmosférica igual a 1,013 bar. Para o vapor ɣ = 1,3. Determine a vazão em kg/h do vapor. A fórmula empírica que permite calcular a vazão em massa de vapor (kg/h) levando em conta os mesmos fatores físicos considerados para o gás é qhora = 1,265 Y onde Y = coeficiente de adaptação da fórmula (tabelado em função de KT) d = diâmetro interno da linha (mm) ∆P = , , , = pressão absoluta no início da linha (bar) , = pressão absoluta no final da linha (bar) KT = coeficiente de perda de carga total = volume específico do vapor na pressão do início da linha qmin = 1,78 m3/min Para a pressão de 12 bar absoluto entrando numa tabela de propriedades do vapor saturado = 0,1632 m3/kg Vamos calcular KT Para o tubo K= Ktubo = 0,019 10 0,0525 para o tubo diâmetro nominal de 2 pol schedule 40 temos: d = 2,375 – 2 x 0,154 = 2,06 pol o que corresponde a 52,5 mm da tabela de f em função do diâmetro para d=52,5 mm temos f = 0,019 Assim Ktubo = 3,62 Para a válvula globo Kglobo=340 f (ver formulário) Portanto Kglobo= 6,46 Para o cotovelo de 90° Kcotov = 30 f (ver formulário) Portanto Kcotov= 0,57 Para a entrada do tubo Kentr = 0,5 Para a saida do tubo Ksaida = 1,0 Assim Ktotal = 3,62 + 6,46 + 0,57 +0,5 +1,0 = 12,15 Com KT=12,15 vamos entrar na tabela de ∆ , em função de KT = 12,15 Interpolando para o valor de KT=12,15 na tabela encontramos ∆ , = 0,786 Vamos determinar inicialmente a relação ∆ , com os dados da instalação: , = 12 bar pressão absoluta no vaso que contém o vapor , = 1,013 bar (pressão atmosférica) ∆P = , , portanto ∆P = 12 – 1,013 = 10,987 bar ∆ , = , =0,916 Como ∆ , calculado com os dados da instalação = 0,916 é maior que o encontrado na tabela (0,786), que é o máximo, fica então caracterizado o escoamento sônico, assim vale o valor da tabela. Diante disso devemos calcular o novo ∆P para aplicar na fórmula do cálculo da vazão. Assim: ∆P= 0,786 x ,= 0,786 x 12 = 9,43bar Entrando na tabela com KT= 12,15 , interpolando encontramos Y = 0,71 Aplicando-se a fórmula de cálculo da vazão e substituindo os valores temos qhora = 1,265 0,71 52,5 , , , qhora = 5398 kg/h