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Direito Constitucional II - Casos praticos 2 semestre

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DIREITO CONSTITUCIONAL II
CASOS PRÁTICOS
CASO 1
Após uma ameaça terrorista e tendo informações de que estariam para ser praticados alguns atentados terroristas em Portugal, a Assembleia da República («AR») resolveu elaborar, com urgência, uma lei que previa: (i) a permissão da tortura com vista a obter informações dos terroristas; (ii) a permissão de as forças de polícia recorreram ao uso da força em qualquer situação, sobretudo se estiverem em causa estrangeiros; (iii) a admissibilidade excepcional de prisão preventiva por tempo indeterminado; e (iv) a pena de prisão perpétua para aqueles que cometerem quaisquer actos considerados terroristas. Em face da referida urgência, a AR aprovou a referida lei apenas com uma votação final global, o que permitiu, em concreto, poupar vários meses de discussão sobre o assunto.
CASO 2
Tendo como pano de fundo o aumento da fuga ao fisco, em especial de “médios” e “grandes contribuintes”, o Tribunal de Contas resolveu aprovar uma nova lei de combate à fuga ao fisco, de onde se destacam algumas medidas como a imposição de uma apresentação, quinzenal, de elementos e informações por parte de todas as sociedades que tenham actividade em Portugal, que tenham sido constituídas em Portugal e que apresentem uma facturação anual superior a dois milhões de euros.
CASO 3
Na sequência de um enorme terramoto que causou brutais danos materiais e humanos por todo o país, a AR aprovou uma lei mediante a qual decidiu atribuir um apoio financeiro extraordinário a todos os cidadãos que sofreram prejuízos materiais, tendo ainda decidido, por forma a acelerar a reconstrução do país, autorizar os proprietários que sofreram danos nas respectivas propriedades a iniciar obras de reconstrução das mesmas, sem necessidade de qualquer procedimento administrativo adicional. 
CASO 4
A AR aprovou uma lei mediante a qual delegou no Governo a possibilidade de legislar em matéria de estado de sítio e estado de emergência, assim como de modificar ou revogar a legislação já existente naquele domínio. Por considerar tratar-se de uma matéria especialmente delicada, determinou ainda que tal acto legislativo deveria revestir a forma de lei governamental. O Presidente da República («PR») resolveu vetar a lei por considerar não ser este o melhor momento político para a sua aprovação.
CASO 5
A AR aprovou uma lei em matéria de eficiência energética dos edifícios, na qual estabeleceu várias imposições com o objectivo de que os edifícios em Portugal consumam menos energia e se tornem ambientalmente mais sustentáveis. Uns meses depois, o Governo, por discordar do conteúdo da lei parlamentar, resolveu criar um regime totalmente novo. Os deputados da oposição, não se conformando com aquilo que apelidaram de falta de respeito institucional por parte do Governo, resolveram requerer a apreciação preventiva da constitucionalidade do decreto do Governo ao Tribunal Constitucional, que acabou por declarar a sua inconstitucionalidade, por violação do princípio da hierarquia.
CASO 6
A AR aprovou três novas leis de bases: (i) uma em matéria de ensino; (ii) outra em matéria de ambiente; e (iii) e outra em matéria de sinais de trânsito. Em seguida, o Governo resolveu criar dois decretos-leis de desenvolvimento das duas primeiras leis (tendo obtido uma autorização da AR para desenvolver as bases do ambiente). Além destes decretos-leis, por discordar do conteúdo da lei de bases sobre os sinais de trânsito, o executivo resolveu fazer um regime jurídico novo que regulou toda esta matéria, procedendo à revogação da lei de bases.
Meia dezena de deputados considerou que os vários decretos-leis do Governo eram inconstitucionais. O primeiro porque o Governo tinha legislado em matéria de reserva absoluta da AR. O segundo porque o Governo também regulou não apenas a matéria respeitante ao ambiente como ainda a respeitante ao património cultural. E o terceiro porque um decreto-lei em situação alguma poderia violar uma lei de valor reforçado. Por esta razão, um mês depois de entrarem em vigor, os referidos deputados requereram a apreciação parlamentar daqueles decretos-leis, com vista à sua revogação, a qual foi aprovada por maioria simples. Simultaneamente, foi também requerida a apreciação parlamentar de uma portaria governamental, com vista à sua alteração. 
 
CASO 7
A AR aprovou, em 2 de Janeiro de 2019, uma lei em que autorizou o Primeiro Ministro a legislar em matéria de arrendamento urbano. A lei de autorização limitou-se a referir que era dada autorização ao Governo na matéria referida na alínea h) do n.º 1 do artigo 165.º da CRP e estabeleceu, para o efeito, um prazo de 10 anos. Em sequência, o Governo (que era já de gestão, neste momento, em função da demissão do Governo anterior) aprovou um decreto-lei sobre o arrendamento urbano e rural. Um grupo de cidadãos pediu a fiscalização sucessiva do decreto-lei do governo ao TC, que o declarou inconstitucional; em virtude desta inconstitucionalidade, considerou ainda o TC que, consequentemente, também a lei de autorização seria inconstitucional.
CASO 8
O Governo apresentou um projecto de lei à AR acerca do novo Regime Jurídico de Incompatibilidades e Impedimentos dos Titulares de Cargos Políticos e Altos Cargos Públicos, cujo aspecto mais relevante se fixava na proibição total de quaisquer relações familiares nas estruturas governamentais. O projecto foi inicialmente discutido em Plenário, tendo sido aprovado na generalidade por 110 deputados (tendo participado na votação 160 deputados). Em seguida, o projecto foi discutido e aprovado na especialidade, capítulo a capítulo, pela respectiva comissão. Porém, o Plenário, após as comissões terem fechado uma versão final do projecto, avocaram o projecto e os deputados, nesta sede, fizeram imensas alterações ao projecto que havia sido avocado. Por fim, o projecto foi discutido novamente na generalidade e, em face das conclusões obtidas nesta discussão, e quando já nada o fazia crer, foi o mesmo rejeitado, uma vez que não se conseguiu obter a maioria de dois terços requerida para esta lei. O PR, por considerar tratar-se de uma importantíssima lei para a democracia portuguesa, promulgou o diploma, o qual foi em seguida publicado. O deputado à AR do PAN requereu a fiscalização da constitucionalidade da medida que proibia a totalidade de relações familiares nas estruturas governamentais. 
CASO 9
Um grupo de cidadãos composto por 19 500 cidadãos apresentou à AR um projecto de lei de bases em matéria de ensino. A AR, tendo considerado que o projecto era relevantíssimo e concordando, no geral, com o seu conteúdo, passou imediatamente à sua discussão na especialidade. O Plenário chegou rapidamente a um consenso e aprovou o projecto. Seguidamente, em sede de votação final global, o projecto foi aprovado por 115 deputados (encontravam-se na 120 na AR). Posto isto, o projecto seguiu para o PR, que, 25 dias depois de o ter recebido e não obstante o ter considerado perfeito em termos jurídico-constitucionais, resolveu vetá-lo politicamente. A AR confirmou, no entanto, o projecto com uma votação de 115 deputados a favor (sendo que se encontravam 115 na AR). 
CASO 10
Um grupo de 4 deputados apresentou uma proposta de lei de autorização acerca da matéria de expropriação por utilidade pública, no âmbito da qual se disse apenas que a mesma permitia ao Governo Regional legislar sobre toda a matéria relativa às expropriações e que tinha o prazo de 6 meses para o fazer. A AR, tendo declarado que a proposta era extremamente urgente, dispensou a discussão e votação na generalidade e na especialidade e passou imediatamente à votação final global. No âmbito da votação final global, que decorreu a 2 de Janeiro de 2014, a proposta foi aprovada, em Plenário, por unanimidade (com 115 votos a favor, sendo que se encontravam-se 115 na AR).
Posteriormente, em 30 de Junho de 2014, o Governo Regional aprovou um decreto legislativo regional sobre a matéria das expropriações, bem como das nacionalizações, sem mais nada referir. O projecto foi posteriormentepromulgado pelo PR, em 15 de Julho, e publicado em 30 de Julho de 2014. O Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, muito indignado porque o decreto-lei estabelecia um limite máximo para as indemnizações ficado em metade do valor de mercado, suscitou a fiscalização sucessiva da constitucionalidade do decreto-lei. O TC acabou por declarar a inconstitucionalidade do decreto-lei, em 15 de setembro de 2014, uma vez que o Governo não havia indicado expressamente a lei habilitante. O Governo Regional, em face da fundamentação do TC, aprovou, no dia seguinte, um decreto-lei em tudo semelhante em termos de conteúdo, tendo apenas referido, desta feita, a lei de autorização na qual se baseava.
CASO 11
O Governo elaborou e aprovou o Orçamento do Estado («OE») para o ano de 2025, no qual se encontrava uma norma que procedia à eliminação de um subsídio e meio de férias a todos os funcionários públicos. A justificação para a adopção desta medida prendia-se, por um lado, com o agravamento da situação económica e financeira do país — que, segundo se ouvia, poderia levar à expulsão de Portugal da União Europeia —, e, por outro lado, com as supostas diferenças existentes entre sector público e sector privado.
O PR promulgou o OE e, em seguida, submeteu a norma referida a fiscalização sucessiva, por considerar que poderia estar em causa uma violação do princípio do não retrocesso social. O Tribunal Constitucional acabou por se pronunciar pela não inconstitucionalidade da norma em causa, por considerar que nem o princípio da igualdade nem o princípio da proporcionalidade haviam sido violados nesta situação.
CASO 12
O Governo elaborou um decreto-lei que visava regulamentar a matéria da pesca, tratamento e venda do bacalhau. No âmbito deste regime jurídico, cabe salientar duas normas constantes do respectivo artigo 10.º: (i) no seu n.º 1, proibiu-se o processo de salga do bacalhau com base nos seus alegados efeitos nocivos para a saúde humana; (ii) no seu n.º 2, excepcionou-se a referida proibição para as empresas de outros países da União Europeia. Chegado o diploma ao PR, este promulgou-o porque, embora tivesse algumas dúvidas sobre a sua constitucionalidade, não pretendia afrontar o Governo, órgão de soberania com total legitimidade política para tomar tal opção. A lei entrou em vigor e o Governo, logo nos primeiros três meses de vigência da lei, aplicou dezenas de coimas a empresas que continuaram a recorrer à técnica da salga, bem como a sanção acessória de inibição de desenvolvimento da actividade durante um ano.
Um grupo de pescadores do bacalhau, inconformados com uma medida que consideravam que podia acabar com a indústria do bacalhau em Portugal, resolveu requerer ao Tribunal Constitucional que fiscalizasse a constitucionalidade da norma do artigo 10.º, n.º 2, por considerar haver uma clara violação do princípio da dignidade da pessoa humana. O TC admitiu o requerimento efectuado por considerar existir uma evidente inconstitucionalidade no decreto-lei em causa; porém, considerou inconstitucional tanto a norma constante do n.º 1 do artigo 10.º do diploma em apreço, como a inconstitucionalidade da norma constante do n.º 2 do artigo 10.º, ainda que por violação do princípio da igualdade.
O TC referiu ainda, no que toca à declaração de inconstitucionalidade da norma constante do n.º 1 do artigo 10.º, que as sanções aplicadas se mantinham inalteradas; e, no que toca à norma constante do n.º 2 do artigo 10.º, que era estendida a empresas nacionais a permissão excepcional de recurso à técnica da salga a empresas estrangeiras. 
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