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Sentido e Propósito na Vida

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Conteudista: Prof.ª Dra. Suliane Beatriz Rauber
Revisão Textual: Prof.ª Dra. Selma Aparecida Cesarin
 
Objetivos da Unidade:
Compreender a noção de sujeito que escolhe e realiza no mundo;
Compreender os conceitos de vontade de sentido e sentido para a vida.
˨ Contextualização
˨ Material Teórico
˨ Material Complementar
˨ Referências
Sentido e Propósito para a Vida
Para iniciar nossa conversa sobre o sentido e o propósito para a vida, precisamos revisitar um olhar sobre
o ser humano. 
O que nos torna essencialmente humanos? E quando vivenciamos situações aversivas, como a
experiência de Viktor Frankl em um campo de concentração nazista, o que nos faz querer continuar
vivendo? 
Talvez muitos de nós tenhamos ouvido, quando crianças, a clássica pergunta: o que você pretende ser
quando crescer? 
E, então, construímos respostas que acreditamos ser socialmente aceitas. O que realmente queremos é
sufocado pelo que deveríamos querer. 
Vamos para a Escola, depois, quem sabe, para uma Universidade e/ou para um Trabalho. Devemos ser
produtivos, construir um lar, uma família, ter filhos, e o novo ciclo recomeça. 
Hoje, alguns podem ter rompido esse ciclo, mas a pergunta permanece: por que fazemos o que fazemos?
A resposta a essa pergunta nos leva a indagações existenciais e filosóficas sobre o sentido de nossa
existência. E essa questão tem sido alvo de debates sobre a busca de significado frente ao vazio
existencial que muitos vivenciam. 
O alto índice de suicídio entre os jovens de sua época (1930) levou Frankl a construir Centros de
Aconselhamento para a juventude, em Viena, que se expandiram rapidamente para Zurique, Berlim e
Hungria, entre outros lugares.
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˨ Contextualização
Observamos que passados mais de setenta anos após o término da Segunda Guerra Mundial, esse tema
continua atual. 
Ao vivenciar situações extremas de morte e sofrimento no Campo de Concentração em Auschwitz, Frankl
vai além para pensar o sentido para a vida – é preciso também encontrar um sentido para o sofrimento e
para a morte.
Nesta Unidade, vamos ter a oportunidade de compreender um pouco mais sobre a noção de sujeito que
inspirou Viktor Frankl a construir uma nova abordagem psicoterapêutica, que trouxe novamente à cena o
debate sobre o sentido e o propósito para vida: a Logoterapia. E o que ele denominou de última liberdade,
essencial para a vontade de sentido. 
Pensar um sentido para a vida é ampliar para a existência! 
Perceba que isso nos leva a refletir sobre a dor e o sofrimento, sobre como escolhemos agir diante de cada
evento que a vida nos traz e, acima de tudo, sobre o ideal de ser humano.
As Dimensões do Ser Humano – Homo Humanus
Para começar nossa reflexão sobre o Homo Humanus, vamos observar a imagem e o poema a seguir:
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˨ Material Teórico
- HSIN, W. s. d. 
“É visto que a dor é uma experiência física e o sofrimento é uma experiência mental.
Essa é a percepção de que as coisas deveriam ser diferentes do que são. O antídoto para
isso é a aceitação.”
Figura 1
Fonte: Adaptada de Getty Images
Como nos sentimos ao ver um belo Pôr do Sol? Ao ouvir uma bela música ou apreciar uma obra de arte?
Os gregos acreditavam que as Artes inspiravam o que há de mais sublime no Homem: sua essência ao
Divino, ao Bem, ao Belo e ao Justo. 
Na República, de Platão (2020) a linha tênue que diferenciava um assassino de um Guardião (responsável
pela defesa da Pólis) era a sua sensibilidade. Por isso, a educação dos jovens, para os filósofos gregos,
deveria trabalhar as qualidades físicas e as psíquicas. 
Para o corpo, a Ginástica e o Esporte, para a alma (psique), a Literatura, as Artes e as Fábulas, que
inspirariam o ideal heróico e divino. 
Quando Viktor Frankl relata sua experiência em Auschwitz, observa a perda dessa sensibilidade. 
Já na entrada, os prisioneiros perdem tudo, seus pertences, suas roupas e seu nome! Cada qual é
identificado por um número. Assim, Frankl passa a ser o prisioneiro nº 119104, como ele mesmo se
denomina, um prisioneiro “comum” que tentou descrever o que vivenciou no campo de concentração. A
perda do nome é simbólica para pensarmos a despersonalização e a desumanização. A perda da
sensibilidade, apatia e indiferença, passa a ser a “couraça que reveste em tempo a alma dos prisioneiros”
(FRANKL, 2011). 
A dor física cede espaço à dor psicológica:
 Ao relatar sua experiência, Frankl nos convida para algumas reflexões sobre nossa condição humana. O
que nos torna essencialmente humanos? O que nos diferencia de um animal?
Abraham Maslow (1968), psicólogo humanista, ao falar sobre as motivações humanas, relembra que na
base da pirâmide, as necessidades fisiológicas, como alimento e segurança, são essenciais para o
homem, mas não suficientes para alcançar a autorrealização. 
A luta pela sobrevivência é básica de toda espécie. Mas o ser humano vai além disso: o desejo de viver
convida a encontrar um sentido em meio ao sofrimento. 
- FRANKL, 2011, p. 18
“O que me dói agora, apesar de tudo e a despeito da insensibilidade crescente, não é a
perspectiva de alguma carraspana ou bordoada, e sim o fato de que para aquele guarda
essa figura decrépita e esfarrapada, que só de longe lembra vagamente um ser humano,
não merece sequer uma repreensão. Ao invés, ele não faz mais do que levantar uma
pedra do chão e, como se estivesse brincando, atira-a em minha direção. Desse jeito –
foi o que senti – chama-se a atenção de um bicho qualquer, assim se adverte o animal
doméstico de seu dever.”
Nossos ancestrais, desde a Antiguidade, buscavam um significado para a vida, criando cultura,
desenvolvendo a linguagem e sacralizando eventos como o nascimento, os períodos das colheitas, os
casamentos e a morte. 
Por meio dos mitos, o homem narrava sua história em diferentes tradições e povos, conferindo à
existência valores transcendentais, valores esses que podemos encontrar no mito de Hércules e seus
doze trabalhos.
A cada vitória de Hércules, ocorre a transformação do Homo animalis no Homo deus, da barbárie ao divino,
até se libertar da existência humana para o mundo “super-humano” de valores transcendentais. 
A jornada do herói simboliza, portanto, o esforço humano diante de suas próprias imperfeições:
Hércules mata a Hidra de Lerna 
Clique no botão para conferir o conteúdo. 
ACESSE
- ELIADE, 2004, p. 9
“Os mitos, efetivamente, narram não apenas a origem do Mundo, dos animais, das
plantas e do homem, mas também de todos os acontecimentos primordiais em
consequência dos quais o homem se converteu no que é hoje.”
https://bit.ly/3rtTJkt
Mas o que é o homem? Seguindo nossa reflexão sobre o Homo Humanus, antes de responder a essa
pergunta, Viktor Frankl nos convida a questionar “Onde está o homem?’’ Em que dimensão a humanidade
de um ser humano pode ser encontrada? É na biológica? Na mente?
Inspirado na visão filosófica de Husserl, Heidegger, Max Scheler e Hartmann, bem como na
Fenomenologia, Frankl compreende o homem em sua unidade, o “Ser único” que confere sentido no aqui e
agora, constituído de uma dimensão física (soma), anímica (psíquica) e espiritual (noético). 
Figura 2
Na cosmologia de Platão, observamos a dimensão triádica entre o mundo sensível (soma, corpo), a alma
(psique) e o nous (espírito). 
Na ontologia de Hartmann, as três dimensões do ser humano são: a corporal, a mental (psíquica) e a
espiritual (nous), sendo essa a dimensão superior por incluir as anteriores. Ressalta-se que a dimensão
superior não é julgamento de valor, apenas denomina uma dimensão mais inclusiva e abrangente. 
Scheler, por sua vez, compreende as dimensões de forma concêntrica, nas quais o núcleo é o espiritual. 
Esses autores contribuíram para Frankl propor uma unidade antropológica do homem, o unitas multiplex,
definindo o homem como unidade apesar da multiplicidade, uma unidade bio-psico-socio-espiritual. A
pessoa humana é construída, portanto, pelas relações com o outro que transformam o ser e o social, mas é
no complexo
da relação consigo, com os outros e com o Cosmos que o humano se reflete, se forma em sua
inteireza (FRANKL, 2011).
A unidade bio-psico-socio-espiritual do ser humano apresenta, por sua vez, os seguintes fenômenos
concomitantes:
O homem precisa de valores e sentido para a sua vida e, para sobreviver, deve transcender. 
Frankl indaga como pode o homem (sobre)viver à realidade do campo de concentração de tal forma que
não seja um joguete das circunstâncias, renunciando à sua liberdade e à sua dignidade? 
Plano Físico: Produz o fenômeno somático, biológico;
Plano Psicológico: Produz o fenômeno psíquico;
Plano Sociológico: Produz o fenômeno social;
Plano Noético: Produz o fenômeno da autotranscendência, no qual os valores universais se
encontram, como o amor, a fraternidade, a bondade.
Observou que alguns de seus companheiros, exaustos dos recursos físicos, perderam seus princípios
morais, buscando todos as formas para evitar o sofrimento. Outros, porém, apesar dos riscos e da
exaustão física, escolheram consolar os demais, ir na direção do outro. 
Assim fez Frankl: preferiu ajudar como médico aos seus colegas, mesmo correndo risco de morrer com
febre tifoide, pois essa escolha dava sentido à sua morte. Portanto, cada prisioneiro podia renunciar ou não
à sua liberdade, à sua dignidade. 
A essa decisão íntima, Frankl chamou de poder de resistência do espírito, apoiado no amor e na
consciência:
Para sustentar as atrocidades no campo de concentração, Frankl se apoiou em valores universais como o
amor, a compaixão, a fraternidade, o respeito, a ética e a experiência da autotranscendência:
- FRANKL, 2011, p. 29
“O amor e a consciência são as duas mais surpreendentes manifestações de outra
capacidade exclusivamente humana, a capacidade de autotranscendência. O homem
transcende a si mesmo tanto na direção a um outro ser humano, quanto em busca de
sentido.”
Figura 3 – Campo de concentração de Auschwitz
Fonte: Freepik
A experiência do amor: buscava a lembrança das pessoas que amava,
de sua família para ter força e sustentar a adversidade. Compreendeu
que o amor é a meta mais elevada e essencial para todo ser humano
e o caminho pelo qual pode se realizar;
A vivência da natureza: mesmo durante os trabalhos forçados, conseguia contemplar o pôr
do sol;
A arte: nos poucos momentos livres, reunia-se com os colegas para recitar poesias, cantar
ou lembrar de uma peça de teatro;
O sentido do passado: buscava, na lembrança de sua história, bons momentos que
permitissem manter a esperança na Humanidade;
O sentido e o significado que damos às nossas experiências revelam um aspecto do ser humano que está
além da dualidade entre o mundo das formas, que é a matéria, e o mundo das ideias, que nos é intangível. 
Revela o que há de essencialmente humano: a liberdade de escolha apoiada na nossa capacidade de
autotranscendência. É nesse momento que os condicionamentos psicofísicos podem ser enfrentados e
que afirmamos nossa existência livre e responsável. 
Podemos perceber que a liberdade de escolha, baseada no amor e na consciência, proposta por Frankl,
representa na filosofia estoica nossa capacidade de discernir entre o que depende de nós e o que não
depende: 
A espiritualidade: orava todos os dias, sozinho ou em grupo, pois compreendia ser um diálogo
íntimo e profundo com quem habita dentro de si;
O bom humor: buscava nas piadas e na alegria o alívio e a leveza nos momentos difíceis, pois
sabia que ao ouvir as sirenes que anunciavam os bombardeios, interrompiam o trabalho
forçado momentaneamente.
Reflita 
“Quem tem por que viver agüenta quase qualquer
como” (NIETZSCHE apud FRANKL, 2017, p. 57).
“A felicidade e a liberdade começam com a clara compreensão de um princípio: algumas
coisas estão sob nosso controle e outras não. Sob nosso controle estão nossas
A Vontade de Sentido na Perspectiva da Logoterapia
Uma vez que o homem é livre para escolher como se posicionar no mundo, a vontade de sentido é o
esforço mais básico que ele precisa para encontrar e realizar os sentidos e propósitos em sua vida. O
essencial para Frankl não é a duração da vida, mas como se escolhe vivê-la em sua plenitude. 
A vontade de sentido se contrapõe ao princípio do prazer (vontade do prazer) de Sigmund Freud, e à
vontade de poder, de Alfred Adler. 
Frankl discorda que o ser humano é impulsionado pela luta ou pela gratificação de seus impulsos.
Considera que, em condições normais, o prazer não é o fim último da atividade humana, mas sim, um
efeito. Já o poder, mais do que um fim em si mesmo, constitui um meio para um fim.
- EPICTETO, 2018, p. 21
- FRANKL, 2017, p. 70
opiniões, aspirações, desejos. Temos sempre a possibilidade de escolha quando se trata
do conteúdo e da natureza de nossa vida interior.”
“Eu não estaria disposto a viver em função dos meus “mecanismos de defesa”. Nem
tampouco estaria pronto a morrer simplesmente por amor às minhas “formações
reativas”. O que acontece, porém, é que o ser humano é capaz de viver e até de morrer
por seus ideais e valores!”
Para Adler, os seres humanos são motivados por impulsos sociais e não apenas pela satisfação de seus
desejos, conforme a Teoria Psicanalista. O objetivo maior é do “desejo de poder” ou superioridade como
parte da autorrealização. No entanto, para a pessoa neurótica, essa busca de poder é voltada para o
autoengrandecimento, com metas egoístas. Essa busca do poder ou superioridade em si mesmo é
criticada por Frankl pois considera ser resultado e não fim em si mesmo. O sujeito que busca ou exige o
poder, cedo ou tarde será “repudiado por parecer um caçador de status” (FRANKL, 2011, p. 49). 
O princípio do prazer (responsável por reduzir a tensão que o id produz), juntamente com o princípio da
realidade (quando o ego avalia a realidade), constitui o fundamento básico da estrutura da personalidade
para Sigmund Freud. 
Todos os seres vivos procuram o prazer e evitam a dor, o sofrimento ou a tensão, mas, no ser humano, os
processos psíquicos inconscientes buscam o prazer e podem governar o comportamento, estimulando
essa busca do prazer a qualquer custo. 
O desejo instintivo de satisfação somente é modificado pelo princípio da realidade. Isso ocorre quando o
ego elabora uma estratégia para satisfazer as necessidades e impulsos do id, controlando a ação e
selecionando as solicitações do mundo exterior às quais irá responder. 
Viktor Frankl discorda do determinismo instintivo da Teoria Psicanalítica, pois a considera limitada na sua
compreensão de ser humano como ser unitário, bem como insuficiente para explicar o comportamento do
homem em sua criatividade, capaz de orientar para os valores e o sentido. 
- FRANKL, 2011, p. 48
“O princípio do prazer é auto-anulativo. Quanto mais se faz do prazer um alvo, mais se
erra a mira (...) em condições normais, o prazer nunca é a finalidade última da atividade
humana, mas, sim – e deve continuar sendo, um efeito, mais especificamente, um efeito
colateral da consecução de uma meta.”
Na Sociedade contemporânea, a busca pelo prazer imediato faz com que as relações humanas se tornem
vazias de sentido. O afeto pelo outro, que deveria estar presente na relação, é substituído por simples
conexões. 
A amizade e os relacionamentos amorosos são substituídos por relações superficiais que, a qualquer
momento, podem ser desfeitas. 
Para Zygmunt Bauman (2004), o surgimento da modernidade líquida transformou o sujeito em objeto, pois o
imperativo passou a ser a busca por prazer a qualquer custo, associado ao consumo e à felicidade. 
Como é passageiro, os sentimentos dos sujeitos se tornam irreais, pois o vazio de sua existência não
consegue ser preenchido por prazeres passageiros sem entrega e dedicação:
Reflita 
“Se há uma razão para ser feliz, a felicidade se
apresenta automática e espontaneamente” (FRANKL,
2011, p. 48).
“Amar significa abrir-se ao destino, a mais sublime de todas as condições humanas, em
que o medo se funde ao regozijo numa amálgama
irreversível. Abrir-se ao destino
significa, em última instância, admitir a liberdade no ser: aquela liberdade que se
incorpora no outro.”
Temos responsabilidades sobre nós e diversas possibilidades de escolha, mas, o que fazer? Por que
escolhemos? Para quê? 
Por vezes, agimos igual aos demais, com atitudes que não nos representam e acabamos por renunciar à
nossa autenticidade, ao ser único que somos. 
Então, seguimos o que os outros fazem ou acreditam ser “o melhor”, e nos tornamos um joguete das
circunstâncias e do meio. Com isso, deixamos de ir além de nossas capacidades e possibilidades e
esquecemos que o significado para cada pessoa é único. 
Se não podemos controlar os acontecimentos que estão além de nossa vontade ou responsabilidade,
podemos escolher como nos posicionar perante os fatos. 
Essa liberdade de escolha sobre como decidimos agir é fundamental na Logoterapia de Viktor Frankl. É
nesse momento que exercemos nossa capacidade de transcendência, que buscamos, na dimensão
noética ou espiritual, os valores que podem orientar nossas decisões, abrindo-nos para a liberdade e
responsabilidade e, assim, encontrar sentido no que fazemos e na vida. 
- BAUMAN, 2004, p. 21
Reflita 
“Sem humildade e coragem não há amor” (BAUMAN,
2004, p. 22).
Na Logoterapia, o amor é o valor maior que nos permite apreender outro ser no íntimo da sua
personalidade, em sua singularidade, e contribui para nossa capacidade de autotranscendência. 
O vazio existencial e a angústia ocorrem quando temos dificuldade de exercer essa transcendência. Nós
nos rendemos diante dos dilemas morais e dos conflitos entre a nossa verdadeira consciência e as
exigências do meio, ou das expectativas que acreditamos que o outro tenha sobre nós! E nos sentimos no
vazio existencial, ficamos frustrados em nossa vontade de sentido. Sentimento que Frankl denominou de
neurose noogênica.
O ser humano é sempre capaz de responder, mesmo no extremo sofrimento. 
Na visão da Logoterapia de Frankl, somos responsáveis e não vítimas do acaso, possuímos a liberdade de
escolha. 
Decidimos como vamos agir diante das circunstâncias. Frankl vivenciou situações extremas no campo de
concentração no qual foi prisioneiro e buscou um sentido mesmo para o sofrimento, apoiando-se na
esperança pós-guerra. Há um sentido, até o último momento, inclusive naquilo que Frankl (2017) chamou
de “tríade trágica” – a dor, a culpa e a morte. 
O sentido da vida difere de pessoa para pessoa e para cada momento da vida. Portanto, a questão não é
encontrar um sentido para a vida de modo geral, mas o sentido específico que podemos dar para o
momento que estamos vivendo: 
- FRANKL, 2017, p. 05
“A vida é sofrimento, e sobreviver é encontrar significado na dor, se há, de algum modo,
um propósito na vida, deve haver também um significado na dor e na morte. Mas pessoa
alguma é capaz de dizer o que é este propósito. Cada um deve descobri-lo por si
mesmo, e aceitar a responsabilidade que sua resposta implica.”
Figura 4
Fonte: Getty Images
Que Tal Estimular a Observação para Nossa Vontade de Sentido?
Faça alguma coisa que você nunca fez antes, mas que, de alguma forma, sempre sentiu
vontade e esteja alinhado com o bem além de você mesmo;
Aja de modo contrário a todas as expectativas. Faça algo que esteja coerente com seus
valores e não uma ação para responder ao que você acredita que os outros esperam de você,
ou você mesmo exige de si. Apenas se permita ser você mesmo;
O Sentido para a Vida
Uma história conhecida no Oriente fala sobre Nasrudin, um sábio que vivia experiências cômicas e, por
meio delas, convida-nos à reflexão. Certa vez, ele estava andando a cavalo. Seu cavalo, com fome, sentiu-
se atraído pelas verduras expostas na frente de um armazém. Não teve dúvidas, foi comer as verduras. O
dono do armazém, enfurecido, deu um violento golpe na traseira do animal, que saiu correndo. Estava com
tamanha velocidade que Nasrudin perdeu o controle das rédeas. Um amigo, ao vê-lo passar tão depressa,
gritou: “Onde é que você vai assim?...  Eu não sei!...Ele é que sabe!...”, mostrando o cavalo (WEIL, 2011, p.
53).
Essa história nos convida a olhar para o quanto estamos despertos em nossas ações, pensamentos e
sentimentos. 
Comporte-se de modo independente em relação ao que as pessoas possam pensar ou falar;
Medite sobre como está e se pergunte o que teria para compartilhar de si para a vida.
- FRANKL, 2017, p. 75
“Não se deveria procurar um sentido abstrato da vida. Cada qual tem sua própria
vocação ou missão específica na vida; cada um precisa executar uma tarefa concreta,
que está a exigir cumprimento. Nisto a pessoa não pode ser substituída, nem pode sua
vida ser repetida. Assim, a tarefa de cada um é tão singular como a sua oportunidade
específica de levá-la a cabo.”
Temos consciência de onde estamos? E para onde vamos? Ou nosso controle sobre nós mesmos é quase
nulo? Somos arrastados pelas demandas que a vida nos traz, de tal forma que vivemos em velocidade sem
nos questionar o sentido do que fazemos?
Para pensar um sentido para a vida, é preciso estar consciente do lugar que estamos. O estado de
consciência, para a Psicologia Transpessoal, refere-se ao modus operandi da consciência no momento da
experiência, favorecendo a percepção dos diferentes níveis da realidade e do Ser (ACCIARI; SALDANHA,
2019). 
Podemos dizer que a consciência é uma experiência subjetiva e que envolve atenção.
O sentido para Frankl (2011) não é arbitrário, mas resultado da busca consciente de cada ser. A
consciência deve guiar e, sendo intuitiva, ela também é criativa. Portanto, se atento a sua consciência, o
homem pode encontrar sentido rompendo padrões e contradizendo valores estabelecidos. 
Ao considerar a capacidade intuitiva do ser humano e, portanto, sua transcendência, Frankl percebe a
consciência como o órgão de sentido para o qual é possível encontrar o sentido da vida. 
Esse, por sua vez, é realizado no “aqui e agora” de cada ser.
Quando saímos de nós mesmos ao encontro do outro, exercendo a alteridade, podemos encontrar o
sentido de forma única, pois cada um é capaz de realizar sua experiência de vida. 
- XAUSA, 2011, p.167
“O logos ou o sentido não é algo que nasce da própria existência e sim, algo que se faz
frente à existência.”
Assim, para Frankl, podemos descobrir o sentido da vida por meio de três caminhos fundamentais:
Os valores criadores podem ser situados na área do trabalho, da criatividade e até na escolha de nos
doarmos no tempo e na atenção a algo ou alguém. 
A finalidade é dar algo ao mundo, uma tarefa, uma obra, um trabalho, a atenção. Representam a
manifestação de nosso potencial intelectual e criativo. Quando frustrados, sentimos o ócio, a
desvalorização e a impossibilidade de realização do trabalho criativo. 
Reflita 
“Qualquer que seja o trabalho de sua vida, faça-o benfeito. Tão benfeito que
ninguém possa fazê-lo melhor. Se seu quinhão for ser um varredor de rua, varra
ruas como Michelangelo pintava quadros, como Shakespeare escrevia poesia,
como Beethoven compunha música, varra ruas tão bem que todas as hostes
do céu e da terra parem para dizer: ‘Ali viveu um grande varredor de ruas’” (KING
JR. apud MILLMAN, 2013, p. 13).
Quando percebemos que somos capazes de dar algo de nós ao mundo, vivenciando valores
de criação;
Quando além de dar, permitimo-nos receber algo, desenvolvemos valores de experiência;
Quando diante de circunstâncias e limitações de diferentes ordens –
biológica, psicológica ou sociológica, sem poder dar ou receber, ainda
podemos assumir uma atitude frente à situação, desenvolvendo
valores de atitudes.
Já os valores vivenciais, da experiência do compartilhar com o outro, acontecem na entrega ao amor, à
arte e à beleza. Podemos vivenciá-los na contemplação da natureza, nas experiências místicas e na
perspectiva transpessoal, favorecendo um estado de plenitude.
E, finalmente, os valores de atitude, que representam nossa capacidade de escolha
frente às situações
limites. Geralmente, são fatos irreparáveis e se apresentam acima da capacidade humana. São
sintetizados, por Frankl, na tríade trágica: a dor, a culpa e a morte. 
Os valores de atitude lembram os fundamentos da Filosofia Estoica, que nos convida a escolher como
queremos nos posicionar frente às situações e ao sofrimento da vida. Lembram também os ensinamentos
da Filosofia Budista, por meio das quatro nobres verdades. 
Segundo o Dhammapada – O Caminho da Verdade (2015):
Diante disso, a Logoterapia de Frankl nos convida a encontrar o sentido inclusive no sofrimento, ao
compreender que suportamos o sofrimento por algo ou alguém. 
Apesar de vivenciar as situações extremas de dor no campo de concentração, Frankl encontrou sentido no
sofrimento por meio da esperança de rever amigos além das grades da prisão, da finitude da guerra e na
intenção de escrever seu manuscrito, compartilhando com o mundo sua experiência. 
A primeira nobre verdade é que existência do sofrimento, de dukha;
A segunda nobre verdade é que para todo sofrimento, há uma causa;
A terceira nobre verdade é a existência do Nirvana, da paz, indicando ser possível superar o
sofrimento;
A quarta nobre verdade é o caminho para superação, realizado pelas oito nobres virtudes:
palavra correta, ação correta, meio de vida correto, esforço (mental) correto, atenção correta,
concentração correta, pensamento correto e compreensão (visão interior, sabedoria) correta.
 
Para ter um sentido, portanto, a existência tem referência a algo ou a alguém que não seja nós mesmos! E
pela virtude da autotranscendência, buscamos e somos capazes de encontrar um sentido para a vida. 
Em Síntese 
Chegamos ao final desta Unidade. Espero que você esteja gostando e aproveitando bastante os conteúdos
apresentados até aqui.
Como visto, a Logoterapia proposta por Viktor Frankl nasce como uma resposta frente aos
questionamentos da condição humana pós-guerra. 
As situações extremas vivenciadas no campo de concentração e a vontade de sentido para sustentar o
sofrimento e encontrar sentido mesmo na dor, exercendo a liberdade de espírito, contribuíram para uma
visão de homem que se realiza na sua transcendência. 
É nas situações limites que a consciência pode se elevar, naquilo que Frankl denominou a dimensão
noética do ser, encontrando sentido diante das situações que a vida pode apresentar. Os valores de
criação, de experiência e de atitudes contribuem, portanto, para a construção de um caminho para o
Sentido da Vida. 
Perceber o Homo humanus como uma unidade bio-psico-socio-espiritual resgatou os valores e a
transcendência como parte essencial do homem, muito além dos condicionamentos biológicos e sociais,
aspecto que lhe confere a liberdade de escolha, mesmo diante das dificuldades e dos desafios da
existência. 
Assim, trilhamos algumas reflexões sobre o ser humano em sua jornada na busca de sentido e de
propósito para a vida, compreendendo que todos temos a liberdade de escolha.
Podemos seguir esse caminho, meditando sobre quem somos e o que temos em nós para compartilhar
com a vida!
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
  Livros  
Ame, ria, viva e colabore: quatro propósitos para você encontrar rumo
e significado na sua vida 
Dan Millman condensa décadas de pesquisa e experiência num esquema daquilo que estamos aqui para
realizar durante a nossa jornada, oferecendo um novo significado e propósito a todos que têm de escolher
o caminho certo nas encruzilhadas da vida. Os quatro propósitos de vida trarão mais luz à sua vida,
revelando o valor dos desafios diários nos relacionamentos, na saúde, no trabalho e na vida financeira,
além de dicas para alcançar o propósito mais importante de todos: viver uma vida plena de significado. 
MILLMAN, D. Ame, ria, viva e colabore: quatro propósitos para você encontrar rumo e significado na sua
vida. São Paulo: Pensamento, 2013.
O Poder do Propósito: como viver com mais sentido e potencializar
resultados por meio do Método IKIGAI 
ALMEIDA, E.; KISLANSKY, K. O Poder do Propósito: como viver com mais sentido e potencializar resultados
por meio do Método IKIGAI. Curitiba: Doyen, 2019.
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˨ Material Complementar
  Vídeo  
Ikigai: O Princípio Japonês que Todo Mundo Precisa Seguir 
O princípio japonês que todo mundo precisa seguir. A palavra “ikigai” significa ‘‘razão de viver”, ou “um
motivo que o faz acordar todos os dias”. Segundo essa Filosofia, você só estará verdadeiramente feliz e
realizado(a) com sua vida quando encontrar esse motivo. Um estudo feito pela Universidade de Tohoku
descobriu que as pessoas que têm a sorte de encontrar seus ikigais têm uma saúde melhor e levam uma
vida ativa e alegre. Obviamente, encontrar essa coisa especial, a sua razão de viver, é um processo longo
e demorado. Ainda bem que especialistas japoneses criaram 4 perguntas essenciais para ajudar nisso.
  Filme  
Poder Além da Vida 
Baseado no livro Way of the Peaceful Warrior, de Dan Millman – A história é baseada em fatos reais, sobre
Ikigai: O Princípio Japonês Que Todo Mundo Precisa Seguir
https://www.youtube.com/watch?v=8zrv-sQ5hBc
a vida de Dan Millman, um ginasta com sonhos Olímpicos, que muda sua visão de mundo após sofrer um
acidente e conhecer “Sócrates”, que o ajuda a se descobrir e resignificar sua vida, encontrando um
propósito para além das medalhas.
ACCIARI, A. SALDANHA, V. Abordagem Integrativa Transpessoal. São Paulo: Inserir, 2019.
BAUMAN, Z. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.
DHAMMAPADA: O caminho da Lei. São Paulo: Pensamento, 2015.
ELIADE, M. Mito e realidade. São Paulo: Perspectiva, 2004
EPICTETO. A Arte de Viver. Rio de Janeiro: Sextante, 2018.
FRANKL, V. A vontade de Sentido. São Paulo: Paulus, 2011.
________. Em busca de Sentido. Petrópolis: Vozes, 2017.
GALVÃO, L. H. Para entender o Caibalion: A vivência da filosofia hermética e sua prática nos dias de hoje.
São Paulo: Editora Pensamento, 2021. 
HALL, C. S. Teorias da Personalidade. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
HSIN, W. ESCRITOS DE WU HSIN – Projeto Luz do Oriente. Disponível em:
<https://mega.nz/file/MmQikKYY#n8bLQZFpuoDHmTixcJX9xcrYfRcdvQm3Hhb12DIwLa0>. Acesso em:
01/08/2021.
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˨ Referências
MILLMAN, D. Ame, ria, viva e colabore: quatro propósitos para você encontrar rumo e significado na sua
vida. São Paulo: Pensamento, 2013.
PLATÃO. A República de Platão. [livro eletrônico]; tradução, textos complementares e notas Edson Bini –
São Paulo: Edipro, 2020.
PLEGER, W. Antropologia Filosófica: os conceitos mais importantes de Homero a Sartre. Petrópolis: Vozes,
2019.
WEIL, P. A arte de viver a vida. Petrópolis: Vozes, 2011.
XAUSA, I. A. M. A Psicologia do Sentido da Vida. Campinas: Vide Editorial, 2011.

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