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Conteudista: Prof.ª Dra. Suliane Beatriz Rauber Revisão Textual: Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Objetivos da Unidade: Autoconhecer-se de modo que possa se perceber, entender as suas habilidades, os seus condicionamentos e as suas crenças; Conhecer e aplicar estratégias para reconhecer o sentido da vida. ˨ Contextualização ˨ Material Teórico ˨ Material Complementar ˨ Referências O Encontro da Bússola Interior Para iniciar a nossa conversa sobre o encontro da bússola interior relembraremos o papel de uma bússola: consiste em um instrumento muito utilizado em navegações e atividades de orientação, por ajudar a encontrar ou determinar direções. Ou seja, contribui para que o seu usuário possa se localizar e saber a direção a seguir de acordo com os seus objetivos. Portanto, encontrar a sua bússola interior é o primeiro passo para uma direção com sentido e propósito de vida e autorrealização. Afinal: “Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve” – Alice no País das Maravilhas (Lewis Carroll). A ideia de que qualquer caminho serve é perigosa, pois você pode passar anos da sua vida sendo levado(a) e de repente se perceber infeliz, frustrado(a) com as decisões que tomou. Se é o seu caso, mergulhe nos conteúdos, pois podem lhe ajudar e reencontrar o seu caminho. Acolha-se e aceite com respeito e amor, pois você fez o melhor que podia com os recursos que tinha. Alimentaremos a bússola interior caminhando pelo autoconhecimento, observando a perspectiva de conhecimento, percepção e autotranscedência. Trata-se da construção de um olhar interior, que vai além de você conhecer os seus talentos e as suas forças e as perceber, mas sim a busca pela autoconsciência. Encontrar a voz do “Mestre Interior”, representado nas diversas tradições culturais, como uma consciência superior. Para isso é fundamental que você se conecte com a sua história e construa o seu mapa de realidade pessoal, que demanda uma descrição da sua história até o seu estado atual como ser humano. Esse caminho contribuirá para você identificar o que lhe impede de ser feliz hoje, ou se você tem colocado a sua felicidade como dependente das circunstâncias externas. 1 / 4 ˨ Contextualização A busca do sentido e propósito de vida acontece à medida que você amplia sua autoconsciência e atua diante dos seus “valores de ser” e compreende o valor de cada experiência que a vida lhe traz, aprendendo as lições que têm para aprender, acolhendo os desafios, as dificuldades e conquistas como oportunidades de conhecimento e estimuladores para o desenvolvimento de habilidades. Que seja uma jornada próspera e que ao final você esteja entusiasmado(a), com novas perspectivas para a sua existência. Bom estudo! Conhecer a Si – Conhecimento Versus Percepção Compreendido o conceito de homem como uma unidade biopsicossocioespiritual, possuidor de uma liberdade de escolha apoiada na capacidade de autotranscendência, seguiremos rumo ao encontro da nossa bússola interior pelo autoconhecimento. A história dos povos em seus ritos, lendas e tradições ressalta a importância do autoconhecimento como parte do desenvolvimento humano. Assim, encontramos no hinduísmo, budismo, na Grécia, no zoroastrismo, cristianismo, islamismo, entre muitos outros a ênfase no aprimoramento das ações, dos pensamentos e sentimentos humanos a fim de superar o sofrimento. É a construção de um olhar interior – a autoconsciência. Encontrar a voz do “mestre interior”, representado nas diversas tradições culturais como uma consciência superior, o self, de Carl Jung, ou a voz de Brahman, no hinduísmo, é direcionar o olhar para o mundo interior, a escuta de si que possibilita construir o caminho para a felicidade e Verdade. 2 / 4 ˨ Material Teórico - KHALIL GIBRAN “Vossos corações conhecem, em silêncio, os segredos dos dias e das noites. Mas vossos ouvidos têm sede de ouvir o saber de vossos corações.” Para o filósofo grego Aristóteles (2013), em sua obra Ética a Nicômaco, toda ação humana possui um fim último: o Sumo Bem, que representa o mais alto de todos os bens e se realiza no coletivo. Alcançar a felicidade, compreendida como o Sumo Bem requer aprimorar as virtudes morais e intelectuais ao longo da vida e, para tanto, o autoconhecimento é essencial. - PRABHAVANANDA, 1975, p. 38 “Aquele que é o Eu no homem, e aquele que é o Eu no Sol, são um só. Verdadeiramente, aquele que conhece essa verdade conquista o mundo; transcende o invólucro físico, transcende o invólucro vital, transcende o invólucro mental, transcende o invólucro intelectual, transcende o invólucro do ego.” Figura 1 – Estátua do Senhor Krishna encorajando o sombrio Arjuna com o seu sábio sermão no Viswashanti Ashram, perto de Bengaluru, Karnataka, Índia, Ásia Fonte: Getty Images Podemos encontrar no épico indiano Bhagavad Gita um exemplo de narrativa sobre a conquista das virtudes na grande batalha da vida, da qual todo ser humano é chamado a confrontar: suas limitações, seus medos e seu destino. Inspirado nos ensinamentos do Vedas, o Bhagavad Gita narra o diálogo entre Krishna (Suprema Consciência Divina) e o herói Arjuna (discípulo guerreiro) no campo de batalha de Kuruksetra (Kuru-kshetra: campo dos Kuru). Para compreendermos essa batalha entre os desejos do ego e os anseios da alma humana que o épico nos convida a refletir, segue um trecho da observação feita por Huberto Rohden (2011, p. 5): A realização de si pressupõe, portanto, um olhar interno para as nossas emoções, os nossos pensamentos, as nossas habilidades, os nossos receios. Enfim, para a nossa complexidade. Diante disto podemos perguntar qual é o destino do ser humano? Por que nascemos? O que viemos realizar nesta jornada da vida? Saiba Mais Para a filosofia hinduísta, a alma é o “eu" verdadeiro do ser humano, denominada ātman (OS UPANISHADS, 1975). “O jovem príncipe Arjuna perdeu seu trono e reino, usurpados por seus parentes. Desanimado, recusa-se a lutar pela reconquista. Aparece então Krishna e faz ver a Arjuna que deve reconquistar o seu trono e reino, mesmo matando os usurpadores. [...] as palavras de Krishna em sentido simbólico, como aliás toda a luta de Arjuna contra os usurpadores, [representam] o Eu humano [Arjuna] cujo reino foi usurpado pelo ego, e Krishna é o Eu plenamente realizado, que convida Arjuna a fazer a sua autorrealização, derrotando seus parentes – os sentidos, a mente e as emoções –, que, no homem profano, usurpam injustamente o domínio do divino Eu. E como essa reconquista só é possível pelo conhecimento da verdadeira natureza humana, os 18 capítulos do Bhagavad Gita se resumem numa extensa explicação do autoconhecimento humano, indispensável para a sua autorrealização.” Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Nascemos em um ambiente que tem em si o legado das tradições, crenças familiares e sociais. A diversidade cultural favorece as diferentes formas de ver o mundo exterior e se relacionar nele. Compreender que a personalidade é construída pela nossa interação com o meio e pessoas constituiu uma chave importante para o autoconhecimento e, por conseguinte, autotransformação. Como sujeito em transformação pela interação com o meio e o outro, o ser humano sente, pensa e age e aqui é um ponto importante para a nossa reflexão: o que orienta o meu pensar, sentir e agir? O anseio de todo ser humano é a felicidade, o Sumo Bem – como já mencionamos. Mas como compreendermos a conquista da felicidade? Ou melhor, o que nos impede de alcançá-la? A felicidade pessoal depende das circunstâncias externas? Culpa-se o destino, as circunstâncias ou pessoas pela falta desta felicidade? Ou compreende-se que as circunstâncias externas são criadas a partir do sentir, pensar e, portanto, das ações? Saiba Mais De acordo com a entrevista da professora e filósofa Lúcia Helena Galvão para a Rádio TRT FM: “É importante a gente olhar para dentro de nós mesmos porque se você não sabe quem você é vai ser é muito difícil tornar-se feliz, já que é uma pessoa estranha para você mesma”. Veja a entrevista na íntegra a seguir. https://portal.trt23.jus.br/portal/noticias/entrevista-%E2%80%93-fil%C3%B3sofa-fala-sobre-como-ter-uma-vida-mais-feliz-e-com-significado Neste ponto perceberemos que o autoconhecimento está intrinsicamente relacionado à autoconsciência. Há, portanto, seres conscientes e autoconscientes. Conhecer a si está além da percepção de si. Como os animais, somos regidos por necessidades básicas que compõem as leis naturais, capazes de garantir a sobrevivência da espécie. Enquanto os instintos orientam a vida animal, no ser humano a referência deveria ser os valores de ordem moral e psíquica – e não uma ordem moral enrijecida pelas crenças culturais, sociais e familiares, que muitas vezes levam ao adoecimento psíquico do sujeito, mas aquilo que Maslow (1968) denominou valores do ser, tais como serenidade, gentileza, coragem, honestidade, amor, altruísmo e bondade. E quando o homem é levado a agir por seus impulsos instintivos e passa a ser dominados por eles – o que o diferencia de um animal? Uma vida sem finalidade, orientada ao “[...] que se pode gozar, evitar as coisas desagradáveis [...]” (ROHDEN, 2005, p. 9) leva a uma frustração crescente e ao vazio existencial. Para além das necessidades básicas, presentes também nos animais, há em todo ser humano uma bússola interior capaz de orientar, mesmo em casos de extremas necessidades. É o que Viktor Frankl (2017) denominou vontade de sentido. - MASLOW, 1968, p. 192 “O verdadeiro, o bom e o belo correlacionam-se um pouco, mas somente nas pessoas sadias se correlacionam fortemente. [...] Os valores da individuação como metas existem, são reais, mesmo que não estejam ainda concretizados. O ser humano é, simultaneamente, o que é e o que anseia ser.” A Ciência tem tentado explicar os aspectos da consciência e, ao observar o comportamento animal e a anatomia do cérebro, alguns neurocientistas perceberam que para ter consciência não é necessário um cérebro tão complexo quanto o do ser humano. Em julho de 2012 foi proclamada, em Cambridge, Reino Unido, a Declaração sobre a Consciência em Animais Não Humanos, tornando oficial que “[...] os animais não humanos, incluindo todos os mamíferos e pássaros, e muitas outras criaturas, incluindo polvos [...]” são conscientes (JABR, 2012). O desdobramento desses estudos foi compreender o ser humano além da sua consciência: como ser capaz de autoconsciência. Neste sentido, o autoconhecimento vai além da percepção de si. Podemos compreender a consciência como uma experiência subjetiva de mundo e resultado de atividades cerebrais que favorecem a percepção de seu corpo e ambiente; enquanto a autoconsciência é o reconhecimento dessa consciência – e não apenas se perceber, mas estar ciente de sua existência. Reflita “O que é tão essencial ao homem que, sem isso, ele não poderia continuar sendo definido como homem?” (MASLOW, 1968). “[...] eu não estaria disposto a viver em função dos meus “mecanismos de defesa”. Nem tampouco estaria pronto a morrer simplesmente por amor às minhas “formações reativas”. O que acontece, porém, é que o ser humano é capaz de viver e até de morrer por seus ideais e valores.” A capacidade de, não só conhecer, mas aprender a pensar sobre si confere ao ser humano a possibilidade de encontrar a si, a sua identidade maior, o que Carl Jung (1991) denominou self (si-mesmo). É o caminho para o centro de si, para a integração com a sua própria divindade. - JABR, 2012 “[...] to be conscious is to think; to be self-aware is to realize that you are a thinking being and to think about your thoughts. Presumably human infants are conscious–they perceive and respond to people and things around them–but they are not yet self-aware. In their first years of life, children develop a sense of self, learning to recognize themselves in the mirror and to distinguish between their own point of view and the perspectives of other people. (JABR, 2012) [...] estar consciente é pensar; ter autoconsciência é perceber que você é um ser pensante e pensar sobre seus pensamentos. Presumivelmente, os bebês humanos são conscientes – eles percebem e respondem às pessoas e coisas ao seu redor – mas ainda não são autoconscientes. Nos primeiros anos de vida, as crianças desenvolvem um senso de identidade, aprendendo a se reconhecer no espelho e a distinguir entre seu próprio ponto de vista e a perspectiva de outras pessoas]. (Tradução nossa)” “Si-mesmo, que deve ser compreendido como a totalidade da esfera psíquica. O Si-mesmo não é apenas o ponto central, mas também a circunferência que engloba tanto a Para Carl Jung (1991) o self é o centro da personalidade e a meta de vida na busca de integralidade e autorrealização. Para que o self possa emergir, faz-se necessário desenvolver e transformar aspectos da personalidade. Neste caminho, compreender a história pessoal – ontogenia – e a história da espécie humana – filogenia nos permite construir um mapa sobre a nossa realidade pessoal. Reforçando que o autoconhecimento como autoconsciência vai além da percepção de si – sendo um resgate da voz interior pela compreensão do ser em sua unidade biopsicossocioespiritual. Mapa de Realidade Pessoal - JUNG, 1991, p. 51 - TAYLOR, 2015 consciência como o inconsciente. Ele é o centro dessa totalidade, do mesmo modo que o eu sou o centro da consciência.” “Quando o futuro está cheio de pavor e o passado está cheio de arrependimento, onde você pode se refugiar, exceto no presente? Quando redemoinhos de pensamentos atormentadores empurram as barricadas de sua sanidade, o presente é o centro calmo onde você pode descansar. E lentamente, enquanto você descansa lá, os pensamentos mesquinhos e medos se dissolvem como sombras encolhendo sob o Sol do meio-dia até que você não precise mais de refúgio. O presente é o único lugar onde não há dor criada pelo pensamento. O presente é o único lugar.” Cada um é único em nossa natureza interior e, em parte, universal como espécie humana (filogenia). Por isso compreender a história é levantar um primeiro véu sobre nós. Muitas vezes são as “vozes” de nossos antepassados, de nosso sistema familiar e social orientando as nossas ações, os nossos pensamentos e as nossas emoções. Você já se perguntou sobre a origem de seu nome? Quantos nomes se repetem no seu sistema familiar? Por exemplo: Fulano de Tal Filho, Fulano de Tal Neto; ou já ouviu expressões do tipo: você é igualzinha à sua tia. Você é a “cara” de sua avó. Ou a qualquer outro membro da sua família. Sem perceber, recebemos informações sobre o nosso agir e acerca da imagem de si; mas isso realmente lhe define? O maior desafio do autoconhecimento é que ele é uma jornada solitária. Você mesmo deve encontrar as respostas dentro de si. Um primeiro movimento é resgatar a sua história e, diante disso, tecer reflexões sobre o porquê você faz o que faz, a saber: - ANDRADE, 2016, p. 9 Há em você uma necessidade de corresponder a uma imagem familiar? Ou responder a uma expectativa que você mesmo criou sobre como deveria ser para se sentir amado(a), sentir-se parte de sua família ou de um grupo? “Todos nós fazemos parte de uma teia de relações interpessoais cujo princípio perde-se na trilha da História. Nossa família tem origens remotas e nem sempre sabemos de onde viemos, o que é aquisição nossa ou um traço familiar herdado que atravessa gerações e nos alcança hoje. [...] Vivemos numa inconsciência às vezes nociva a respeito de quem realmente somos, de onde viemos, para onde caminhamos e do que nos acontece. Somos, como família, parte de um sistema em processo evolutivo contínuo que vem de longe no tempo e que segue tecendo uma rede invisível de relações [...].” Esse primeiro passo lhe ajudará a separar as informações que você recebeu externamente. Compreender como você se coloca dentro das redes de relações familiares e o que realmente faz sentido para você é uma etapa fundamental para o autoconhecimento. Quais são os valores e objetivos comuns do seu sistema familiar? O que você considera importante? Figura 2 – Árvore genealógica em fundo de papel velho, em estilo vintage Fonte: Getty Images Você pode fazer uma árvore genealógica de seu sistema familiar, chegando aos seus avós. Anote as datas de nascimentos/mortes, a profissão e atividades de cada membro da família e o que aconteceu com cada um. Chegou o momento de observar a sua história, de modo que seguem algumas perguntas que podem lhe ajudar: Quais raízes você tem em sua vida? Quão importantes são elas? O seu passado influencia quem você é hoje? Você tem alguma lembrança favorita? A percepção de suas raízes mudou com o tempo? Onde você nasceu? Onde você estudou? Em seguida, observe a si: como costuma agir diante de algumas situações de estresse, por exemplo? Situações estressoras são indicativos interessantes sobre os nossos limites, as nossas necessidades e dificuldades. A auto-observação é essencial neste caminho. Uma sugestão é criar um diário de bordo, registrando: Os fatos de forma clara – o que aconteceu? Descreva objetivamente. Isto pode ser para eventos que causaram desconforto e para ocasiões agradáveis. É importante perceber o que faz bem para você; 1 Como você se sentiu em relação ao evento? Quais emoções estavam presentes?2 O que você pensou sobre o ocorrido? Teceu julgamentos, críticas? De que ordem? Compare com as suas crenças familiares e a sua história pessoal; 3 Finalmente, como você agiu? O que você fez? Qual foi o seu comportamento frente ao ocorrido? 4 Você consegue perceber uma correlação entre o que fez, sentiu e pensou em relação ao fato? Foram coerentes ou não? 5 Talvez você descubra o que lhe faz bem, assim como comportamentos que não gosta em si. Neste sentido é importante compreender que no caminho do autoconhecimento nos confrontamos com aspectos do eu que temos vergonha e queremos esconder a todo custo. A isso Carl Jung (2014, p. 68) denominou sombra, Reflita Faça o exercício de coerência interna para os seus valores (aquilo que é importante para você). Exemplo: Valor da confiança, pondere quais pensamentos, sentimentos e atitudes são coerentes, quais são incoerentes com esse valor e quais são as novas atitudes para fortalecer esse valor no meio em que você vive e se relaciona. Valor: confiança. Pensamentos, sentimentos e atitudes coerentes? Por exemplo, “penso que os meus colegas de trabalho podem me ajudar com um trabalho, de modo que me sinto mais sereno e peço ajuda a eles”. Pensamentos, sentimentos e atitudes incoerentes? Por exemplo, “penso que ninguém entenderá quando eu explicar os motivos pelos quais me atrasei com o trabalho, de modo que me sinto com vergonha e ansioso e sumirei do grupo”. Novos pensamentos, sentimentos e atitudes que posso adotar? Por exemplo, “penso que se eu me comunicar de forma assertiva as pessoas entenderão que preciso de apoio e compreensão, de modo que me sinto mais tranquilo e seguro, o que me ajudou a manifestar as minhas necessidades na reunião com os meus gestores”. Faça com outros valores importantes para você, podendo ser integridade, empatia, amor, respeito etc. sendo “[...] a parte inferior da personalidade. Por isso, é reprimida, devido a uma intensa resistência [...]”; isso também é parte do seu caminho de autoconhecimento. Compreender que somos humanos e, portanto, falíveis é parte da aceitação de nossas imperfeições. Carl Rogers (2017) diz que: “Negar nossas imperfeições não nos transforma. Não podemos mudar, não podemos nos afastar do que somos enquanto não aceitarmos profundamente o que somos”. Conhecer-se é encarar as características que não são lisonjeiras sobre a verdade das intenções que orientam as nossas ações e, portanto, afetam os nossos relacionamentos e a nossa interação no mundo. Para alcançar a felicidade é necessário eliminar a causa de nossa infelicidade. É importante trabalhar os aspectos da personalidade (máscara) para chegar ao self, conquistando-se. Que tal estimular a observação sobre si? Vejamos: Finalmente, examine como se sentiu com estas observações e o que concluiu. O que sou eu? O que realmente significam minhas reações – não apenas meus atos e pensamentos. Começaremos com a respiração – sente-se de forma confortável e faça 3 inspirações/expirações profundas; 1 Coloque atenção sobre o seu ser – percorra todas as partes: o seu corpo, os seus sentimentos e as suas emoções, os seus pensamentos e pergunte a cada parte – “Isto sou eu?” 2 Pergunte-se sobre a origem de seu nome e sobrenome e questione – “Eu sou o meu nome?”3 Observe o que você gosta de fazer – o que lhe parece mais “leve” e fácil de realizar;4 Se você pudesse ser qualquer coisa, o que gostaria de ser?5 Observe como percebeu a si, como se sentiu ao questionar o seu nome, o que gosta de fazer e o que gostaria de ser. Muitas vezes trazemos uma ideia distorcida sobre quem somos ou deveríamos ser e crenças rígidas acerca de como a vida deve ser vivida. Construir as notas da auto-observação no diário de bordo, por meio de meditação autoconsciente sobre o sentir, pensar e agir auxilia na construção de um mapa sobre a realidade interior e, com isso, capacita-nos a tomar decisões mais conscientes. Autoconsciência é, portanto, essencial para o autoconhecimento, pois possibilita uma visão mais clara de nossa personalidade, incluindo pontos fortes/fracos, pensamentos, crenças, julgamentos, emoções e de que maneira criamos resistência para as mudanças. Aprender essa habilidade pode auxiliar na qualidade de vida e nos relacionamentos. A Busca do Sentido e Propósito de Vida - MILLMAN, 2013 ““Compreendi que aquilo de que todos precisamos, mais ainda que a sensação de ser feliz, é um propósito claro – uma missão ou meta significativa que nos ligue a outros seres humanos.” Figura 3 – Um homem altruísta divide um guarda-chuva com outro homem triste e em pé, na chuva. Conceito de altruísmo na sociedade Fonte: Freepik As informações que descobrimos sobre si, no exercício de autoconsciência e autoconhecimento trazem pistas valiosas sobre o mapa de nossa realidade interior. Com isso podemos dar mais um passo: compreender o propósito de vida. Quando olhamos para as nossas histórias, o que aprendemos? Quais lições percebemos de cada experiência compartilhada e vivenciada? Nas pesquisas sobre tanatologia são significativas as experiências de ressignificação da vida frente a ideia da morte. Bruce Greyson (2007), revisando a literatura sobre as Experiências de Quase-Morte (EQM), apontou estudos que identificam profundas transformações nos sujeitos que vivenciaram estados próximos à morte, como um maior apreço pela vida, a renovação do sentido da vida, confiança diante das dificuldades e a valorização do amor, da espiritualidade e do serviço ao próximo. Vídeo: Se você soubesse o dia que morreria, o que faria? Continuaria realizando as mesmas atividades? Pare um pouco e assista ao TEDtalk que aborda o resgate da biografia de pacientes em cuidados paliativos. A morte é um dia que vale a pena viver | Ana Claudia Quintana Ara… https://www.youtube.com/watch?v=ep354ZXKBEs Para Dan Millman (2013) o primeiro propósito da vida é compreender o valor de cada experiência, é aprender as lições da vida. Desafios, dificuldades e conquistas trazem conhecimento e estimulam o desenvolvimento de habilidades. No mesmo sentido, Elisabeth Kübler-Ross e David Kessler (2004) trazem mais luz sobre a reflexão de nosso propósito na vida, ao afirmarem que: Figura 4 – Visualização de detalhes dos olhos castanhos da mulher, para o horizonte “Nosso crescimento consiste em trabalhar os aspectos negativos, livrando-nos de suas manifestações, e descobrir e desenvolver o que há de melhor em nós e nos outros. Aprender as lições capazes de curar nosso espírito – nossa alma – e de trazer à tona a pessoa que realmente somos. Estamos na Terra para curar uns aos outros e a si.” Fonte: Freepik “Uma vida com propósito é aquela em que eu entenda as razões pelas quais faço o que faço e pelas quais claramente deixo de fazer o que não faço” (CORTELLA, 2016). Quando olhamos as nossas histórias e trazemos reflexões sobre o que cada experiência nos acrescentou, damos significação para os eventos da vida. À medida que reconhecemos a si nas atividades que realizamos, vamos construindo sentido e isto é uma questão-chave. Cada ser é único. Podemos indagar o sentido de uma flor, de uma árvore não ser ela mesma? Então, qual é o sentido para o ser humano, se não ser o “eu-mesmo”, o self que Carl Jung nos convida e refletir? Talvez a pergunta que pode auxiliar neste momento é a seguinte: o que a sua presença na vida contribuiu à sua volta e para si? O que a vida espera de você? Para a logoterapia de Viktor Frankl (2017) não há um sentido para a vida, mas vários sentidos para a vida, os quais vivenciados em cada momento de nossa história. Talvez isso possa nos ajudar a romper a angústia diante da busca de um sentido para a vida. Se você trouxer atenção para o agora e se perguntar o que tem Reflita “Muitas pessoas existiram, mas na verdade nunca viveram” (KÜBLER-ROSS; KESSLER, 2004). hoje para contribuir e aprender, talvez encontre o sentido do seu momento atual. É uma diferença importante entre o existir e viver. Pergunte-se: como investi o meu tempo para viver mais plenamente até hoje? Elisabeth Kübler-Ross e David Kessler (2004) observaram em seus pacientes de Oncologia que, diante da notícia do pouco tempo de vida, muitos se percebiam diante da vida com questões inacabadas e revisando como viveram, o que deixaram de realizar, o que fariam de diferente. Existir é possível com a vida, mas viver é como você escolhe tornar o seu tempo útil, com significado. “Eu não estou preocupado com a morte, porque ela é um fato. Eu estou preocupado com a vida, isto é, enquanto a minha morte não ocorre, o que eu faço até lá para a minha vida não ser inútil, descartável” (CORTELLA, 2017, p. 8). A vida pode ser uma grande jornada, com momentos agradáveis e outros desafiadores. Mas ao final, o que tudo isso contribuiu para sermos pessoas melhores? Que tal reservar alguns instantes para avaliar o seguinte? Diante deste caminho, examine os seus padrões de comportamento e o que realmente você fez que lhe trouxe felicidade ou desagrado. Então, faça as mudanças internas e externas que podem contribuir para ser você mesmo nesta vida. O que me impede de ser eu mesmo? Do que eu tenho medo? O que faço naturalmente, sem esforço – quais são as minhas habilidades? Quais lições aprendi nos eventos e nas circunstâncias que vivenciei até agora? “Precisamos tomar consciência no correr da vida da bondade que existe dentro de nós e Podemos observar que o encontro de “si-mesmo” é o propósito do ser humano compreendido em sua unidade biopsicossocioespiritual, que se autorrealiza ao conhecer a si e ao se colocar a serviço da vida. - KÜBLER-ROSS; KESSLER, 2004, p. 164 Em Síntese Chegamos ao fim desta Unidade na expectativa de que você esteja aproveitando os conteúdos apresentados até aqui. Como visto, conhecer a si está além da consciência que atua por meio da percepção do ambiente e do próprio corpo, é um movimento de autoconsciência. Um chamado para o encontro com o “mestre interior”, esse aspecto de nosso self que traz em si o que Abraham Maslow (1968) denominou valores do ser e, portanto, todo potencial que torna cada ser único em sua contribuição na vida. Ao conhecer a própria história, tornamo-nos mais autoconscientes das crenças que trazemos, de nossos pontos fortes e fracos. Assim, vamos construindo o mapa de nossa realidade pessoal para, enfim, encontrar a si- mesmo e perceber que o sentido e propósito de vida é a realização de quem realmente somos, de tal forma que a nossa convivência com todos os seres seja repleta de significado ajudar os outros a se darem conta de que são preciosos, únicos e capazes de ações que contribuem para a felicidade deles mesmos e de todos os que os cercam. Trazendo à tona o que temos de melhor, poderemos agir de acordo com essa visão e fazer do mundo um lugar melhor para todos.” e, quando partirmos da vida, tenhamos deixado parte de nós com cada um que cruzou o nosso caminho. Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos InnSæi: O Poder da Intuição Este documentário traz uma história de busca da alma, Ciência, natureza e criatividade. InnSæi leva-nos por uma viagem mundial que busca compreender a arte de como o ser humano se conecta com a sua essência. 3 / 4 ˨ Material Complementar Como diferenciar intuição de ilusão? A Monja Coen comenta sobre a linha tênue que existe entre a intuição e ilusão. A intuição é essa sabedoria imprevisível que nos sussurra a maneira correta de trilhar nosso caminho. É a voz que existe dentro de nós que não conhece o ego e que nos empurra rumo ao nosso crescimento espiritual. O problema é que as nossas projeções e ilusões também são sussurros na nossa mente nos empurrando para as vontades e demandas do ego. Como diferenciar? Como saber se os palpites que surgem na nossa mente são produtos da sabedoria maior ou de desejos inconscientes? O poder além da vida A história é baseada em fatos sobre a vida de Dan Millman, um ginasta com sonhos olímpicos, que muda sua visão de mundo após sofrer um acidente e conhecer “Sócrates”, quem o ajuda a se descobrir e ressignificar sua vida, encontrando um propósito para além das medalhas. Depois de assistir a esse filme mergulhe em uma perspectiva filosófica com a professora Lucia Helena Galvão, quem traz ricos comentários. Como diferenciar intuição de ilusão? | O Indivíduo | Monja Coen Re… O PODER ALÉM DA VIDA. Série FILOSOFILME - Comentários �losó… https://www.youtube.com/watch?v=S1JtOVlZzOw https://www.youtube.com/watch?v=n708CzRvFFA Eu maior Este documentário aborda o autoconhecimento e a busca da felicidade. Foi produzido a partir de entrevistas de 30 personalidades com perfis distintos, compondo um rico mosaico de ideias e experiências. Pessoas como a monja budista Coen, o filósofo Mario Sérgio Cortella e o físico Marcelo Gleiser deram depoimentos sensíveis, instigantes e por vezes até engraçados sobre temas que inquietam a humanidade desde sempre. EU MAIOR (Higher Self) https://www.youtube.com/watch?v=V0gquwUQ-b0 ANDRADE, L. A família e suas heranças ocultas. 1. ed. Fortaleza: Edição da Autora, 2016. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. [1. ed.] São Paulo: Martin Claret, 2013. CORTELLA, M. S. Por que fazemos o que fazemos? [1. ed.] São Paulo: Planeta, 2016. CORTELLA, M. S. Viver em paz para morrer em paz: se você não existisse, que falta faria? [1. ed.] São Paulo: Planeta, 2017. FRANKL, V. Em busca de sentido. [1. ed.] Petrópolis: Vozes, 2017. GREYSON, B. Experiências de quase-morte: implicações clínicas. Arch. Clin. Psychiatry, São Paulo, v. 34, p. 116-125, 2007. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rpc/a/G7pXsG6jmdTwFjch37w9gtB/?lang=pt>. Acesso em: 05/10/2021. JABR, F. Self-awareness with a simple brain: case studies suggest that some forms of consciousness may not require an intact cerebrum. Scientific American, 01/11/2012. Disponível em: <https://www.scientificamerican.com/article/self-awareness-with-a-simple-brain>. Acesso em: 02/10/2021. JUNG, C. G. Psicologia e alquimia. [1. ed.] Petrópolis: Vozes, 1991. v. 12. ________. Psicologia do inconsciente: dois escritos sobre Psicologia Analítica. [1. ed.] Petrópolis: Vozes, 2014. v. 7/1. 4 / 4 ˨ Referências KHALIL, G. O profeta. [1. ed.] Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011. KÜBLER-ROSS, E.; KESSLER, D. Os segredos da vida. [1. ed. S.l.]: Sextante, 2004. MASLOW, A. H. Introdução à Psicologia do ser. [1. ed. S.l.]: Livraria Eldorado, 1968. MILLMAN, D. Ame, ria, viva e colabore: quatro propósitos para você encontrar rumo e significado na sua vida. [1. ed.] São Paulo: Pensamento, 2013. PRABHAVANANDA, S. Os upanishads. [1. ed.] São Paulo: Pensamento, 1975. ROGERS, C. R. Tornar-se pessoa. [1. ed. 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