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Inventário Participativo Apresentação ..........................................................................................................3 Introdução ...............................................................................................................4 Patrimônio Cultural no Brasil ...................................................................................7 Linha do tempo ........................................................................................................11 Cultura e Referências Culturais ..............................................................................17 Museus: Conceitos e Práticas em Transformação ..................................................22 Museologia Social .................................................................................................28 Preservação do Patrimônio Cultural em sua Diversidade ........................................29 Instrumentos de Preservação e Salvaguarda do Patrimônio Histórico-Cultural Brasileiro ..................................................................................................................30 Referências ...........................................................................................................35 Sumário Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 3 Apresentação Olá! Que bom ter você no Curso de Inventário Participativo! Este conteúdo é um convite para refletirmos sobre os inventários enquanto metodo- logia de organização, registro e comunicação das referências culturais patrimoniais. Módulo a módulo, vamos aprofundar a compreensão de conceitos e noções que es- tão envolvidas nesta metodologia. Nosso desejo é que você conheça os aspectos gerais mais importantes para a reali- zação do inventário participativo e aprenda os métodos para inventariar (junto com seu grupo, sua comunidade) o patrimônio cultural que os circundam. O conteúdo está dividido em quatro módulos: § Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas; § Módulo 2 – Inventário participativo: metodologias de identificação, registro e difusão do patrimônio cultural local; § Módulo 3 – O uso da história oral na elaboração dos inventários participativos; § Módulo 4 – Etapas para a elaboração de um inventário participativo. Então, vamos ao primeiro módulo! Bons estudos. Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 4 Introdução A memória social, como representação coletiva, é fruto das imagens produzidas acerca do passado e das maneiras pelas quais essas imagens são transmitidas e recebidas. É por meio do exercício da memória que um grupo social qualquer pode refletir sobre sua trajetória, sobre suas transformações, alargando no tempo e no espaço a sua compreensão sobre si mesmo. A memória, estruturada coletivamente, possibilita que se firmem laços capazes de perdurar por gerações. Museu da Inconfidência - Ouro Preto (MG) Museu Nacional de Belas Artes - Rio de Janeiro (RJ) Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 5 Museu Casa da Princesa (Casa Setecentista) – Pilar de Goiás (GO) Museu Imperial - Petrópolis (RJ) O patrimônio cultural é uma das faces visíveis dessa organização coletiva da memó- ria. Até meados do século XX, foi associado apenas ao bem material, especialmente a monumentos e exemplares da arquitetura. No século passado, houve avanços signifi- cativos nessa compreensão, tornando a noção de patrimônio mais ampla e sofistica- da ao abranger valores e bens culturais que não estão necessariamente contidos em vestígios materiais (ainda que também possam se valer de suportes dessa natureza). Noções como patrimônio, cultura e museu são sempre relativas à realidade social que as produz e reproduz. Assim, no Brasil dos últimos 50 anos (acompanhando as transformações sociais internas e externas), esses sentidos mudaram ao passo que se buscava tornar o patrimônio, as memórias e os museus mais representativos de uma sociedade culturalmente diversa, com múltiplas identidades culturais. Ou seja, transformam-se as sociedades e também se alteram as noções de cultura e patrimônio, em uma relação de causa e efeito. Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 6 Palácio Rio Negro – Petrópolis (RJ) Museu Regional de Caeté – Caeté (MG) Museu Forte Defensor Perpétuo – Paraty (RJ) Para refletir sobre esses aspectos, neste Módulo 1, vamos conversar sobre cultura, patrimônio, território, museu, identidade cultural e sobre como essas noções contri- buem para estruturar ações participativas de salvaguarda. http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/cartilha2salvaguarda_bensculturaisregistrados_web.pdf Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 7 Vamos descobrir como a ideia do que é patrimônio se ampliou para incluir o saber-fa- zer de diferentes povos e culturas, como as funções do museu se alteraram ao longo do tempo e como essa temática dialoga com a diversidade cultural brasileira. Para apresentar exemplos de como esses conceitos se realizam socialmente, além de tratar do Programa de Patrimônio Imaterial (instituído pelo Decreto 3.551 de 2000), também vamos refletir sobre as práticas da museologia social, ecomuseus, pontos de memória e grupos afins. Vamos prosseguir? Patrimônio Cultural no Brasil Você concorda que o que é considerado hoje no Brasil digno de ser lembrado como expressão da memória nacional é diferente daquilo que seria há um século? Da mesma maneira, ao longo do século XX, no Brasil, pessoas e instituições altera- ram o sentido e o uso das palavras cultura e patrimônio. Estes e os demais conceitos são revistos sempre à luz da realidade presente e devem ser pensados em sua histo- ricidade. Vamos agora observar alguns dos sentidos da noção de patrimônio para compreen- der como exercitá-lo em nossos inventários participativos. A etimologia da palavra patrimônio remete à herança, ao conjunto dos bens, princi- palmente materiais, mas também simbólicos e genéticos, que são legados de uma geração para outra (POULOT, 2009). Como sabemos, esse uso da palavra se mantém e ainda contribui para a construção do sentido de patrimônio cultural. A noção de patrimônio e de museus vigente no Brasil, assim como em grande parte do mundo ocidental, foi muito influenciada pelo ambiente da França pós-revolucio- nária no século XVIII. Naquele contexto, o patrimônio passou a ser pensado enquanto bem comum, e buscou-se a socialização das coleções. Com esse espírito, é que no século XIX o tema passou a constar nas legislações nacionais nos países da Europa, dando ao patrimônio um amparo legal e oficial até então inédito. Ou seja, o Estado assumiu a responsabilidade de preservar e dar a co- nhecer os vestígios materiais, em favor dos indivíduos que compõem a nação (POU- LOT, 2009). Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 8 Como exemplo do processo histórico através do qual o Estado passou a assumir a responsabilidade de coletar, preservar e divulgar coleções de interesse público, vejamos a trajetória do Museu Nacional de História Natural da França. Sua origem encontra-se no “Jardim real das plantas medicinais”, criado por Luís XIII, em 1635, dirigido e administrado pelos médicos da realeza. Em 1718, o jovem rei Luís XV transformou-o em um jardim voltado para a história natural, conhecido como “Jardim do rei”. Entre 1739 e 1788, o jardim foi dirigido por Georges-Louis Leclerc, conde de Buffon, um dos principais naturalistas do iluminismo, trazendo fama e prestígio internacional à instituição. Com o advento da Revolução Francesa, esse jardim é transformado em “Museu Nacional de História Natural” em 1793, abrindo as portas ao pú- blico em 1794. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_Nacional_de_Hist%C3%B3ria_ Natural_(Fran%C3%A7a) Assista também ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=wYYn- VeantaI&t=19s Curiosidades Quando o Estado assume a função de resguardaro patrimônio, também assume a responsabilidade pela elaboração de um determinado discurso sobre aquilo que deve ser lembrado e como deve ser lembrado. Da mesma maneira, também se incumbe do poder de escolher o que será esquecido. A Revolução Francesa foi um marco no estabelecimento dessas relações, mas a História segue dando inúmeros testemu- nhos de como os Estados utilizam o poder da lembrança e do esquecimento frente a instabilidades políticas e sociais. O Brasil contemporâneo dá mostras desta disputa em torno da memória, por exem- plo, com os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, que teve por finalidade apu- rar graves violações de Direitos Humanos ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988 e encontrou resistência de setores conservadores. https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_Nacional_de_Hist%C3%B3ria_Natural_(Fran%C3%A7a) https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_Nacional_de_Hist%C3%B3ria_Natural_(Fran%C3%A7a) https://www.youtube.com/watch?v=wYYnVeantaI&t=19s https://www.youtube.com/watch?v=wYYnVeantaI&t=19s http://cnv.memoriasreveladas.gov.br/ Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 9 Outro bom exemplo de disputas políticas em torno da memória, é o caso das mudanças de nome da Ponte Costa e Silva, em Brasília, obra de Oscar Niemeyer: Ponte vista da praça dos orixás, na margem oeste (FOTO: Nevinho) https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pte_costa_e_silva.JPG Uma das três ligações entre o Plano Piloto e o Lago Sul, a ponte foi inau- gurada em 1976. Projetada por Oscar Niemeyer com o nome de “Ponte Monumental”, ela foi rebatizada pelo ex-presidente militar Ernesto Geisel para homenagear o antecessor, Costa e Silva. No entanto, em agosto de 2015, o tributo ao general passou para Hones- tino Guimarães – perseguido pelo regime militar e dado como desapa- recido em 1972. A lei foi aprovada pela Câmara Legislativa do DF e san- cionada pelo então governador, Rodrigo Rollemberg (PSB). Curiosidades https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pte_costa_e_silva.JPG Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 10 Dois meses depois, um grupo de moradores da capital entrou na Justiça pedindo a anulação da mudança. A estrutura chegou a ficar sem nome, até que, em 6 de novembro, o Conselho Especial do Tribunal de Justiça do DF decidiu que a ponte voltaria a se chamar Costa e Silva. Na visão do tribunal, a mudança do nome da ponte para Honestino Gui- marães foi inconstitucional, porque não houve “consulta popular” sobre o tema. Em 2018, o nome do marechal Costa e Silva foi pichado de verme- lho na placa. No dia 14 de março de 2019, uma placa com o nome da vereadora carioca Marielle Franco – assassinada há um ano, junto de seu motorista, Ander- son Gomes – foi colocada sobre o nome do general que governou o país entre 1967 e 1969, durante a ditadura militar. A ação foi uma homenagem conjunta do Movimento de Mulheres Olga Benário, do Observatório da Mulher contra a Violência, da União da Juven- tude Rebelião e de feministas de Brasília. Em nota à imprensa, as ativistas pediram respostas sobre o crime e criticaram o hábito brasileiro de batizar locais públicos com nomes de “presidentes que restringiram nossa liber- dade de expressão, cassaram direitos do povo, torturaram e assassina- ram opositores, inclusive mulheres que jamais fugiram da luta”. Fonte: http://www.memoriasreveladas.gov.br/index.php/ultimas-noti- cias/697-ponte-de-brasilia-e-rebatizada-com-nome-de-marielle-franco No Brasil das primeiras décadas do século XX, um dos artifícios utilizados para a le- gitimação de um projeto de Estado forte e centralizador foi a elaboração do passado, que buscava nas tradições da cultura brasileira a expressão de uma suposta autên- tica identidade nacional, visando produzir discursos de coesão (MAGALHÃES, 2004). Foi nessa conjuntura que a proteção ao patrimônio emergiu como algo politicamente relevante e que deveria ser, pela primeira vez no Brasil, assumido legalmente como dever de Estado. Havia o interesse em observar as diferentes representações cultu- rais do país, considerando suas regionalidades, mas o objetivo fundamental era a elaboração de um discurso que minimizasse as diferenças em favor da ideia de uma identidade nacional coesa, capaz de produzir o sentimento de pertencimento coletivo. http://www.memoriasreveladas.gov.br/index.php/ultimas-noticias/697-ponte-de-brasilia-e-rebatizada-com-nome-de-marielle-franco http://www.memoriasreveladas.gov.br/index.php/ultimas-noticias/697-ponte-de-brasilia-e-rebatizada-com-nome-de-marielle-franco Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 11 História da estátua de Dom Pedro I na Praça Tiradentes Acesse: https://diariodorio.com/histria-da-esttua-de-dom-pedro-i-na- -praa-tiradentes/ Monumento a Dom Pedro I na Praça Tiradentes no Rio de Janeiro. (FOTO: Halley Pacheco de Oliveira) https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Monumento_a_Dom_Pedro_I.jpg Curiosidades Nos anos 1920, com o desejo de elaborar um discurso sobre o passado nacional os debates em torno da construção de uma política pública patrimonial para o Brasil ganharam espaços em diferentes estados. Dão evidência disso, por exemplo, a criação do Museu Histórico Nacional e do Museu Paulista e as iniciativas regionais de criação das Inspetorias Estaduais de Monumentos Históricos em Minas Gerais, na Bahia e em Pernambuco. Linha do tempo 1920 Debates em torno da política pública patrimonial 1922 Criação do Museu Histórico Nacional https://diariodorio.com/histria-da-esttua-de-dom-pedro-i-na-praa-tiradentes/ https://diariodorio.com/histria-da-esttua-de-dom-pedro-i-na-praa-tiradentes/ https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Monumento_a_Dom_Pedro_I.jpg Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 12 Criado em agosto de 1922, o Museu Histórico Nacional (MHN) formou o maior acervo sob a guarda do Ministério da Cultura e transformou-se em importante centro gerador de conhecimento. Abrigando o primeiro curso de museologia do país e servindo como ponto de partida para a constituição de importantes museus brasileiros, o MHN passa a ser conhecido internacionalmente na década de 40. Acesse o vídeo no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=Kl- wmsCcEFSw Assista 1922 Criação do Museu Paulista 1926 Criação da Inspetoria Estadual de Minas Gerais 1927 Criação da Inspetoria Estadual da Bahia 1928 Criação da Inspetoria Estadual de Pernambuco O desejo de constituição de um sentimento de pertencimento nacional, apontando para as características de uma suposta brasilidade não era tarefa fácil, tampouco harmoniosa e consensual. Essa elaboração se deu a partir de disputas políticas acir- radas, que defendiam – cada qual a seu modo – visões de mundo sobre o passado, sobre o presente e, principalmente, sobre seus projetos de poder para o futuro da República. Na prática, intelectuais tradicionalistas e modernistas confrontaram seus projetos de memória e os últimos tiveram êxito ao conseguir dar corpo institucional ao seu projeto, criando o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - SPHAN, am- https://www.youtube.com/watch?v=KlwmsCcEFSw https://www.youtube.com/watch?v=KlwmsCcEFSw Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 13 parado na primeira lei nacional a esse respeito, o Decreto-Lei nº 25, de 1937, que re- gulamentou a proteção dos bens culturais no país. No artigo 1º deste instrumento le- gal, o Estado brasileiro apresentou pela primeira vez a sua concepção de patrimônio: “Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja preservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.” MITO DE ORIGEM DO SPHAN A curadora Silvana Rubino fala sobre o IPHAN, sobre a ideia de Mário de Andrade de preservar a culturaatravés da arte com o SPHAN, sobre a amplitude do que queria, sobre as diferenças entre o SPHAN e o IPHAN, sobre patrimônio material e sobre a noção de registro para Mário de An- drade. Acesse o link para assistir: http://www.itaucultural.org.br/ocupacao/ma- rio-de-andrade/patrimonio-artistico/ SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922 - 50 FATOS Semana de Arte Moderna de 1922, na verdade três dias que mudaram a arte brasileira. Descubra os antecedentes e qual foi o estopim que fez com que todos os artistas se unissem por um mesmo ideal. Acesse os links para assistir: PARTE I: https://www.youtube.com/watch?v=mL-bzTBQ_80 PARTE II: https://www.youtube.com/watch?v=FezTWhwiB8s&t=264s Assista http://www.planalto.gov.br/CcIVIL_03/Decreto-Lei/Del0025.htm http://www.itaucultural.org.br/ocupacao/mario-de-andrade/patrimonio-artistico/ http://www.itaucultural.org.br/ocupacao/mario-de-andrade/patrimonio-artistico/ https://www.youtube.com/watch?v=mL-bzTBQ_80 https://www.youtube.com/watch?v=FezTWhwiB8s&t=264s Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 14 Observa-se que os critérios para que algo fosse considerado patrimônio era sua con- dição histórica e artística. Eram esses, principalmente, os valores que a política de preservação tinha em conta na elaboração da identidade nacional, a partir dos “fatos memoráveis da história do Brasil”. A quem cabia decidir quais são esses fatos memoráveis? A quem cabe hoje decidir quais são os fatos memoráveis da história do Brasil e dos brasileiros? Pergunta As ações práticas implementadas pelo SPHAN em suas primeiras décadas de atua- ção se relacionaram especialmente com a crescente urbanização: era preciso deci- dir quais prédios, construções e monumentos deveriam permanecer nesses espaços cada vez mais cobiçados. O tombamento foi escolhido pelo SPHAN como o instrumento legal para a proteção. A ideia de valor “excepcional” ou de “vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil” privilegiou a salvaguarda do patrimônio arquitetônico de herança luso- brasileira. Igrejas e edificações do período colonial e vinculadas às classes políticas, religiosas e economicamente favorecidas compunham a grande maioria dos bens tombados neste período. A materialidade desses vestígios arquitetônicos era o principal aspecto a ser salvaguardado para comunicar esse valor histórico e artísti- co. Em alusão a essa escolha, convencionou-se chamar este patrimônio de “pedra e cal”. Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 15 Conjuntos Urbanos Tombados (Cidades Históricas) Acesse o link: http://portal.iphan.gov.br/pagina/de- talhes/123 Livros do Tombo Acesse o link: http://portal.iphan.gov.br/pagina/de- talhes/608 Imagem: Museu do Diamante - Diamantina (MG) (Foto do Acervo do Instituto Brasileiro de Museus) Saiba mais A noção de patrimônio atravessou todo o século XX e segue no século XXI impre- gnada deste sentido de “pedra e cal”. Ainda assim, diversos motivos levaram à am- pliação do conceito e da prática relacionada à preservação. Com a redemocratização e a elaboração da Constituição de 1988, foi possível firmar um novo pacto social a respeito do que é patrimônio, quais são seus critérios, como o Estado e a sociedade civil devem agir para protegê-lo. Conforme estabelece a CF de 1988, Art. 216: Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I. as formas de expressão; II. os modos de criar, fazer e viver; III. as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV. as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V. os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/123 http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/123 http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/608 http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/608 Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 16 Neste contexto de transformação nos anos 1980, o SPHAN promoveu uma revisão radical dos critérios técnicos e políticos envolvidos na definição de patrimônio. Acontece- ram tombamentos de perfis até en- tão inéditos, a exemplo do Terreiro da Casa Branca (Bahia), em 1984 (homologado em 1986), e da Serra da Barriga, sítio histórico que abri- gou o Quilombo dos Palmares (Ala- goas), em 1986. Os bens culturais imateriais passíveis de registro pelo Iphan são aqueles que detêm continuidade histórica, possuem relevância para a memória nacional e fazem parte das referências culturais de grupos formadores da sociedade brasileira. A inscrição desses bens nos Livros de Registro atende ao que determina o Decreto 3.551/2000. Acesse Os Livros de Registro no site do IPHAN http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/122 Importante Assim, entrou oficialmente no discurso do patrimônio a percepção de que este não se constitui apenas dos vestígios materiais e que sua dimensão imaterial também carece de medidas protetivas do Estado. A dimensão material segue sendo importante e valorizada, mas desde os fins do século passado, e especialmente a partir dos anos 2000, acompanhando os rumos do debate internacional, buscou-se uma concepção de patrimônio cultural mais representativa da pluralidade da sociedade. Dia da Consciência Negra, no Parque Memorial Quilombo dos Palmares, localizado na Serra da Barriga, em Alagoas. (Foto: Janine Moraes/MinC) https://www.flickr.com/photos/47979536@ N05/31061753521 https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/ http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/122 https://www.flickr.com/photos/47979536@N05/31061753521 https://www.flickr.com/photos/47979536@N05/31061753521 https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/ Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 17 Entrevista com Márcia Sant’Anna, então Diretora do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan, realizada pela TV Ufop. Acesse o vídeo no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=S2eP- vIcSsH0 Assista Para compreender a lógica do inven- tário participativo, é importante sa- ber que os novos critérios técnicos e políticos para a definição e preser- vação do patrimônio foram fruto da pressão política exercida por grupos, povos e movimentos sociais. Notadamente, as reivindicações do movimento negro e dos povos in- dígenas tornaram inviável pensar a cultura de uma maneira hegemônica, sem tomar em conta a pluralidade de referências culturais no país. Organizados pela defesa e conquista de seus direitos, esses movimentos evidenciaram que seus direitos culturais estão necessariamente atrelados aos seus territórios, ao respeito às suas crenças, respeito à sua língua, aos seus costumes e suas tradições. Cultura e Referências Culturais Segundo Marilena Chauí, o sentido antigo da cultura vigente a partir do século XVIII estava associado ao resultado da formação que os indivíduos recebiam. Entendia-se cultura como o somatório de experiências socialmente validadas, como o acúmulo do saber escolar e o aprendizado de determinadas referências histórico-artísticas. Nes- ses termos, alguns indivíduos têm cultura, outros não têm, de acordo com sua con- Pintura dos troncos que representam os mortos homenageados. Festa do Kuarup, na aldeia Kamayurá. (Foto: Marcello Casal Jr. - Agência Brasil) https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Festa_do_ Kuarup_pintura_dos_troncos_que_representam_os_ mortos.jpg https://creativecommons.org/licenses/by/3.0/br/deed.pt https://www.youtube.com/watch?v=S2ePvIcSsH0 https://www.youtube.com/watch?v=S2ePvIcSsH0 https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Festa_do_Kuarup_pintura_dos_troncos_que_representam_os_mortos.jpg https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Festa_do_Kuarup_pintura_dos_troncos_que_representam_os_mortos.jpghttps://commons.wikimedia.org/wiki/File:Festa_do_Kuarup_pintura_dos_troncos_que_representam_os_mortos.jpg https://creativecommons.org/licenses/by/3.0/br/deed.pt Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 18 dição social para manejar determinados conteúdos e conhecimentos considerados valiosos. Essa noção antiga de cultura marca a divisão das classes entre os cultos e os incultos, e a distinção entre os povos, na medida em que o outro dominado é visto como bárbaro (CHAUÍ, 2006, P. 106). A realidade histórica desse pensamento pode ser vista, por exemplo, nos processos de colonização, quando sociedades inteiras foram obrigadas a mudar seu idioma, costumes, todo seu sistema de crenças, sua forma de se organizar em seu território, sob a alegação de que a cultura do agente dominante era superior. Esse discurso ainda persiste no presente, sempre a favor de processos de domina- ção, que têm como objetivo submeter determinado grupo social ao poder de outro. É o que se passa com relação aos povos indígenas, por exemplo, quando, para justificar violências praticadas contra eles, julga-se que suas culturas sejam inferiores à cul- tura urbana, não-indígena. Escritos de Marilena Chauí | O que é cultura? Marilena Chauí explica sua forma de compreender a cultura. Acesse o vídeo no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=-YQcF- NoiDMw Assista No século XX, especialmente a partir dos anos 1960, a visão antropológica de cultu- ra ganhou espaço, projeção e influenciou diretamente a ampliação da noção de pa- trimônio e também de museus. Essa perspectiva compreende que a cultura é o modo de viver de uma comunidade, um grupo, uma sociedade, e é decorrente das relações materiais e simbólicas que as pessoas desenvolvem entre si, em um determinado território. A cultura da comunidade ribeirinha (das pessoas que vivem às margens dos rios) tem relação com os conhecimentos históricos desse grupo e a sua forma de transmissão entre os indivíduos e, por sua vez, tem relação indispensável com o rio e como a vida se realiza materialmente a partir da pesca, da extração e do comércio de produtos naturais. Exemplo https://www.youtube.com/watch?v=-YQcFNoiDMw https://www.youtube.com/watch?v=-YQcFNoiDMw Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 19 1 A partir deste exemplo, é possível perceber como as dimensões materiais, supostamente concretas, se relacionam com a dimensão simbólica. Podemos observar que a forma como as pessoas se alimentam não diz respeito apenas à necessidade física de comer, mas às diversas relações implicadas nos hábitos alimentares: o ritual do preparo, a ocasião social do consumo, a relação de valor atribuído a determinados alimentos em detrimento de outros, a sociabilidade que se estabelece na distribuição e consumo do alimento etc. Essa relação entre o material e o simbólico também pode ser observada pelas elaborações sobre as forças do rio e seus seres, que se relacionam com as regras que organizam a vida em sociedade, pela maneira como este grupo se expressa artisticamente com suas palavras ditas e canta- das, por suas festas e músicas. Enfim, esses elementos são específicos da cultura ribeirinha, de seu modo de vida. A cultura ribeirinha não é menos nem mais importante que a cultura dos caiçaras, dos povos indígenas, dos quilombolas, das comunidades urbanas, das mulheres, da comunidade LGBTQI+1 ou de outros grupos que desenvolvem um modo de ser específico. Todas essas culturas e tantas mais que poderíamos enumerar são im- portantes, fundamentais. Guardam conhecimentos que levaram séculos para se desenvolver. Assista: Documentário produzido com o apoio do Edital de Apoio à Pro- dução de Documentários Etnográficos sobre o Patrimônio Cultural Ima- terial (Etnodoc). 1 LGBTQI+ É uma sigla criada para abranger uma pluralidade de sexualidades dissidentes (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queer, Intersexo, finalizando com o símbolo + para sinalizar que não se trata de um conjunto fechado), orga- nizadas na luta por direitos iguais e pelo fim da homofobia, da transfobia, e dos preconceitos de forma geral. Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 20 O documentário retrata a história de uma sociedade singular, consti- tuída de botos e homens. Ao longo de gerações, em Laguna, Santa Ca- tarina, pescadores protagonizaram, juntamente com a espécie de boto Tursiops Truncatus, a pesca cooperativa da presa que ambos perseguem: a tainha. Ficha técnica Ano: 2011 Direção: Cristiano Burlan Roteiro: Cristiano Burlan e Marcelo Paes Nunes Produção: Natália Reis Duração: 26 minutos Apoio: Iphan/CNFCP. Acesse o vídeo no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=LWGz- Fcv_jVk Podemos dizer então que o homem modifica o território e é por ele modificado em suas interações sociais, naturais, culturais e políticas. A especificidade dessas rela- ções, experimentadas no que podemos chamar de território simbólico, influencia a formação de identidades que se manifestam em um conjunto comum de referências culturais, que podem ser consideradas relevantes a tal ponto que passem a ser con- sideradas patrimônio para um determinado grupo, comunidade, sociedade. Nos anos 1980, para falar sobre cultura no Brasil, adotou-se o termo “referências culturais”, reconhecendo que são diversas as referências, e que nenhuma é mais im- portante do que as outras. A respeito da noção de referências culturais e o contexto dos anos 1980, Antônio Augusto Arantes afirmou o seguinte: A noção de referências culturais adotada pela Constituição merece destaque. Ela sugere remissão; designa a realidade em relação à qual se identifica, baliza ou esclarece algo. No caso do processo cultural, referências são as práticas e os objetos por meio dos quais os grupos representam, realimentam e modi- ficam a sua identidade e localizam a sua territorialidade. Referências são os marcos e monumentos edificados ou naturais, assim como as artes, os ofícios, as festas e os lugares a que a vida social atribuiu reiteradamente sentido dife- renciado e especial: são aqueles considerados os mais belos, os mais lembra- dos, os mais queridos, os mais executados... (ARANTES, 2009). https://www.youtube.com/watch?v=LWGzFcv_jVk https://www.youtube.com/watch?v=LWGzFcv_jVk Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 21 A noção de referências culturais deu base à de patrimônio cultural, com o sentido revitalizado de cultura como expressão dos modos de vida. Nos anos 2000, diversos países adotaram a expressão “diversidade cultural”, refor- çando a pluralidade não hierárquica entre as culturas. No âmbito da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a diversidade cultural é pensada como o próprio patrimônio da humanidade, nos seguintes termos: Artigo 1º – A diversidade cultural, patrimônio comum da humanidade A cultura adquire formas diversas através do tempo e do espaço. Essa diversi- dade se manifesta na originalidade e na pluralidade de identidades que caracte- rizam os grupos e as sociedades que compõem a humanidade. Fonte de inter- câmbios, de inovação e de criatividade, a diversidade cultural é, para o gênero humano, tão necessária como a diversidade biológica para a natureza. Nesse sentido, constitui o patrimônio comum da humanidade e deve ser reco- nhecida e consolidada em beneficio das gerações presentes e futuras. Artigo 2º – Da diversidade cultural ao pluralismo cultural Em nossas sociedades cada vez mais diversificadas, torna-se indispensável ga- rantir uma interação harmoniosa entre pessoas e grupos com identidades cul- turais a um só tempo plurais, variadas e dinâmicas, assim como sua vontade de conviver. As políticas que favoreçam a inclusão e a participação de todos os cidadãos garantem a coesão social, a vitalidade da sociedade civil e a paz. Defi- nido desta maneira, o pluralismo cultural constitui a resposta política à realidade da diversidade cultural. Inseparávelde um contexto democrático, o pluralismo cul tural é propício aos intercâmbios culturais e ao desenvolvimento das capaci- dades criadoras que alimentam a vida pública. Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 22 Artigo 3º – A diversidade cultural, fator de desenvolvimento A diversidade cultural amplia as possibilidades de escolha que se oferecem a todos; é uma das fontes do desenvolvimento, entendido não somente em termos de crescimento econômico, mas também como meio de acesso a uma existên- cia intelectual, afetiva, moral e espiritual satisfatória. Clique no link para acessar a versão completa da DECLARAÇÃO UNIVERSAL SOBRE A DIVERSIDADE CULTURAL: (http://www.unesco.org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/HQ/CLT/diversity/pdf/ declaration_cultural_diversity_pt.pdf) Museus: Conceitos e Práticas em Transformação Uma prática social que influencia fortemente a razão de ser da instituição museu é o colecionismo, ou seja, a ação de colecionar. Aparentemente, este é um hábito inerente à sociabilidade humana, nos diversos tempos históricos. Talvez a nossa espécie tenha sempre buscado coletar objetos com finalidades que de algum modo se relacionam com as funções dos museus. Colecionou-se e coleciona- -se para estabelecer um universo controlado, possível de ser comparado e estudado. Mas também, para mostrar a coleção e com ela estabelecer uma relação de valor entre o acervo reunido e o colecionador. MUSEU THÉO BRANDÃO DE ANTROPOLOGIA E FOLCLORE Criado em 20 de agosto de 1975, foi instalado provisoriamente na casa nº 3 do Campus Tamandaré, no Pontal da Barra. O nome é uma homenagem ao professor e folclorista Théo Brandão, que doou à Universidade Federal de Alagoas a sua coleção de arte popular. Acesse o vídeo no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=L1vbYoh9JFs&t=239s Assista http://www.unesco.org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/HQ/CLT/diversity/pdf/declaration_cultural_diversity_pt.pdf http://www.unesco.org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/HQ/CLT/diversity/pdf/declaration_cultural_diversity_pt.pdf https://www.youtube.com/watch?v=L1vbYoh9JFs&t=239s Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 23 Na Antiguidade, as coleções eram principalmente resultado dos saques e das pilha- gens. Na Idade Média, todo o poder da Igreja Católica Romana estava diretamente repre- sentado em suas coleções que, entre outros aspectos, também cumpriam uma fun- ção moral. Renascimento Com o Renascimento, por volta do século XVI, o ato de colecionar voltou a ser uma prática laica, impulsionada pela nobreza, que valorizava a história e a esté- tica Clássica e se voltava aos vestígios materiais do Oriente, Grécia e Egito (CÂN- DIDO, 2013, p. 29). Século XVI A partir do século XVI, na Europa, com as viagens de exploração e colonização, a exemplo do que se passou em nosso território dominado por Portugal, o cole- cionismo passou a dar origem aos Gabinetes de Curiosidades, que reuniam ves- tígios da natureza e da realidade cultural dos diversos territórios. Além da prática colecionista, considera-se que os gabinetes têm relação com os museus moder- nos também pela abertura ao público. Um público bastante restrito, composto de uma elite econômica e intelectual, mas de qualquer modo, um ensejo de estudo e produção de conhecimento. Nesse sentido, nos séculos XVII e XVIII, com o Iluminismo, essas funções se am- pliam e as coleções passam a ser cada vez mais compreendidas enquanto “repo- sitórios de conhecimento, comparação e enciclopédias” (CÂNDIDO, 2013, p. 30). Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 24 Séculos XVII e XVIII A Revolução Francesa e os rumos posteriores que o Estado deu aos bens cul- turais móveis e imóveis influenciaram de forma decisiva os museus modernos. Inaugurando um novo tempo, em oposição ao Antigo Regime na França, era necessário aproveitar os objetos para narrar uma “nova” história. O Estado assu- miu esse dever e esse direito de construir a história oficial da nação. Foi a primei- ra vez que o Estado assumiu as funções de zelar pelo patrimônio. A própria ideia de patrimônio como a conhecemos, enquanto expressão de algo que é público, que tem um interesse coletivo, é herdeira desse contexto. O Esta- do francês pós-revolucionário tinha intenção de fundar museus espalhados no território, supondo que a interação com os objetos fosse capaz de produzir uma consciência cívica na população. Século XIX No século XIX, os museus nacionais foram responsáveis pela ampliação das funções da coleção. Os museus se abriram aos públicos não apenas para a pes- quisa em suas coleções, mas também para apresentar seus objetos e, mais do que isso, para comunicar narrativas, discursos organizados por meio das expo- sições. Muitos países colonizadores de outros povos utilizaram os museus para reproduzir o discurso expansionista, forjando sua autoimagem de soberania cul- tural, política e econômica sobre os territórios conquistados. Nesse contexto, o museu torna-se uma instituição a serviço da formação dos Estados Nacionais, na construção da própria ideia de nação e de nacionalidade, especialmente na Europa e nos Estados Unidos. Nas colônias, os museus tam- bém vão cumprir funções análogas, sempre orientando seus discursos na pers- pectiva do colonizador. Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 25 Os primeiros museus no Brasil foram fundados ainda no século XIX e nas primeiras décadas do século XX. O Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro (1818) – vítima do incêndio que destruiu todo seu prédio e grande parte de seu acer- vo, em 2018 – foi o principal herdeiro das coleções portuguesas que desembarcaram no Rio de Janeiro com a Corte, em 1808. Outras instituições pioneiras, como o Museu Paraense Emílio Goeldi, no Pará (1866), e o Museu Paranaense, no Paraná (1882), marcadas pela tradição do colecionismo e dos gabinetes de curiosidades, também espelharam as funções do museu moderno europeu. No século XX, nasceram os grandes museus com discursos nacionalistas: o Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro (1922), e o Museu Paulista, em São Paulo (1922). Ambos, entre outros museus, especialmente aqueles criados até os anos 1950, ti- nham o intuito de promover o sentimento de pertencimento e identidade nacional. Museu Nacional da Quinta da Boa Vista Acesse os links: http://www.museunacional.ufrj.br/videos/museu.html https://artsandculture.google.com/partner/museu-nacional-ufrj Museu Paraense Emilio Goeldi Acesse os links: https://www.youtube.com/watch?v=woN6AQlR5dI https://www.museu-goeldi.br/ Museu Paulista (Museu do Ipiranga) Acesse o link: http://www.mp.usp.br/museu-do-ipiranga Museu Paranaense Acesse o link: http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/conteudo/con- teudo.php?conteudo=48 http://www.museunacional.ufrj.br/videos/museu.html https://artsandculture.google.com/partner/museu-nacional-ufrj https://www.youtube.com/watch?v=woN6AQlR5dI https://www.museu-goeldi.br/ http://www.mp.usp.br/museu-do-ipiranga http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=48 http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=48 Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 26 Museu Histórico Nacional Acesse o link: http://mhn.museus.gov.br No cenário internacional, as transformações sociais e políticas da segunda metade do século influenciaram o pensamento museológico. A função social dos museus passou a ser debatida, à luz do contexto em que estas instituições estavam inseridas, especialmente na América Latina, onde vários países viviam regimes ditatoriais. Um dos momentos em que foi problematizada a função social dos museus foi a Mesa Redonda de Santiago do Chile, em 1972. A Carta de Santiago (documento que regis- tra o que foi debatido, as considerações e encaminhamentos) incentiva a figura do museu integral, que considera que a preservação do patrimônio cultural ocorre de maneira integrada, estando opatrimônio intimamente ligado com a comunidade, que por sua vez vive num território que pode ser musealizado. Outro aspecto destacado neste evento foi o museu como potência de ação, considerado um instrumento dinâ- mico da mudança social ativa e consciente. Ibermuseos: Década del Patrimonio Museológico 2012-2022 Apresentação da iniciativa do Ibermuseus para a promoção da museolo- gia social e a comemoração do 40º aniversário da Mesa Redonda de San- tiago do Chile, em 1972, cujos preceitos deram início a uma nova corrente da museologia, preocupada com o papel social dos museus. Acesse o vídeo no YouTube: https://www.youtube.com/watch?- v=-xLhoxmBeg0&t=34s Acesse os links: https://www.revistamuseu.com.br/site/br/legislacao/ museologia/3-1972-icom-mesa-redonda-de-santiago-do-chile.html http://www.ibermuseus.org/wp-content/uploads/2014/09/Publicacion_ Mesa_Redonda_VOL_I.pdf Saiba mais http://mhn.museus.gov.br https://www.youtube.com/watch?v=-xLhoxmBeg0&t=34s https://www.youtube.com/watch?v=-xLhoxmBeg0&t=34s https://www.youtube.com/watch?v=-xLhoxmBeg0&t=34s https://www.youtube.com/watch?v=-xLhoxmBeg0&t=34s http://www.ibermuseus.org/wp-content/uploads/2014/09/Publicacion_Mesa_Redonda_VOL_I.pdf http://www.ibermuseus.org/wp-content/uploads/2014/09/Publicacion_Mesa_Redonda_VOL_I.pdf Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 27 Também no início da década de 1970, dois franceses, George Henri Rivière e Hugues de Varine (profissionais e intelectuais relacionados ao Conselho Internacional de Museus), elaboraram e empregaram o termo ecomuseu, pensando que no lugar da ideia de coleção deveria estar a noção de patrimônio, no lugar de público, deveria se ter em conta a comunidade, e que ao invés de se restringir ao prédio, o museu deveria se pensar em relação ao território. O pensamento crítico e político em torno da Museologia nunca mais cessou. Outro marco importante foi a Declaração de Quebec (1984), ocasião em que foi criado o Movimento Internacional para uma Nova Museologia (MINOM). Em 1992, foi realizado no Rio de Janeiro o 1º Encontro Internacional de Ecomuseus. Haviam ecomuseus no Brasil desde pelo menos os anos 1980 (GOUVEIA, 2017). E, assim como ocorreu com o patrimônio nos anos 1970-1980, abriu-se espaço para pensar e praticar uma Museologia mais democrática, no sentido da diversidade de tipologias e origens dos acervos. No ano de 2009, essa perspectiva crítica e política em torno dos museus teve uma correspondência prática com as políticas de cultura, quando da criação do Programa Pontos de Memória, nascido no contexto de criação do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). De modo inaugural, o Estado brasileiro assumia a sua responsabilidade pela memória social que historicamente foi esquecida pelos museus: do povo pobre, ne- gro, indígena, LGBTQI+, das mulheres, ribeirinhos, entre diversos outros. http://www.museus.gov.br/acessoainformacao/acoes-e-programas/pontos-de-memoria/programa-pontos-de-memoria/ http://www.museus.gov.br/acessoainformacao/acoes-e-programas/pontos-de-memoria/programa-pontos-de-memoria/ Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 28 Museologia Social Quando falamos em museu social e museologia social, estamos nos referindo a compromissos éticos, especialmente no que diz respeito às suas dimensões científicas, políticas e poéticas; estamos afirmando, radicalmente, a diferença entre uma museologia de ancoragem conservadora, burguesa, neoliberal, capi- talista e uma museologia de perspectiva libertária. Estamos reconhecendo que durante muito tempo, pelo menos desde a primeira metade do século XIX até a primeira metade do século XX, predominou no mundo ocidental uma prática de memória, patrimônio e museu inteiramente comprometida com a defesa dos valores das aristocracias, das oligarquias, das classes e religiões dominantes e dominadoras. A museologia social, na perspectiva aqui apresentada, está comprometida com a redução das injustiças e desigualdades sociais; com o combate aos pre- conceitos; com a melhoria da qualidade de vida coletiva; com o fortalecimento da dignidade e da coesão social; com a utilização do poder da memória, do pa- trimônio e do museu a favor das comunidades populares, dos povos indígenas e quilombolas, dos movimentos sociais, incluindo aí, o movimento LGBT, o MST e outros (CHAGAS, GOUVEIA, 2014, p. 17). Assista: Arte & Cultura - Museologia Social Neste vídeo o Professor Mário Chagas fala sobre o início, a trajetória e as dinâmicas dos museus pelo mundo, e reflete sobre noções da museolo- gia social. https://www.youtube.com/watch?v=HQD_Yc6uZuo&t=156s Assista Os museus deixaram de ser apenas espaços de afirmação da cultura ocidental e pas- saram a ser lugar de transformação e desenvolvimento social, fazendo da memória e da cultura instrumentos para o exercício da cidadania (GOMES, VIEIRA NETO, 2009). https://www.youtube.com/watch?v=HQD_Yc6uZuo&t=156s Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 29 Hoje coexistem no Brasil museus com características tradicionais, que se asseme- lham às instituições do século XIX, museus contemporâneos, tecnológicos, ligados ao consumo cultural, museus das mais diversas tipologias (arte, ciências, virtuais, históricos, literários, museus-casa etc.). Também há cada vez mais ecomuseus, mu- seus sociais, museus comunitários, entre outros. Essas iniciativas de museologia social propõem narrar recortes da experiência vivida por um grupo de pessoas. A seleção de objetos é carregada de significados que são caros àqueles que os selecionaram. Visitantes se relacionam com a narrativa apre- sentada nas exposições a partir da mediação que os objetos promovem, ancorados pela familiaridade do contexto no qual estão inseridos. Museus assim, geralmente e idealmente, são geridos de forma menos vertical e hierarquizada. A construção da narrativa passa pela escuta a vários agentes da comunidade em questão, com ou sem auxílio de técnicos especializados. A respeito dos inventários participativos, é importante termos em conta que sua prática passou a ser cada vez mais frequente no Brasil nos ecomuseus, museus comunitários, sociais, pontos de memória e outros grupos que disputam ativa e conscientemente a memória que lhes importa lembrar e afirmar. Preservação do Patrimônio Cultural em sua Diversidade Agora que compreendemos como foram transformadas as noções de cultura, pa- trimônio e museus, podemos refletir melhor sobre os processos de preservação do patrimônio cultural em sua diversidade. Como vimos, a Constituição Federal de 1988 apontou a necessidade de que os bens de natureza imaterial, relativos às diferentes referências culturais, fossem salvaguar- dados. Apenas nos anos 2000, 12 anos depois que a Constituição entrou em vigor, essa visão expressa na redemocratização do país teve correspondência com a ação contínua de preservação. Por meio do Decreto n.º 3.551, de 4 de agosto de 2000, foi criado o Programa Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI). Esse Programa, que segue vigente, buscou estabelecer critérios, parâmetros, objeti- vos e limites para viabilizar as ações de identificação, reconhecimento e salvaguarda do patrimônio imaterial. O aspecto político e social está presente no PNPI, que visa objetivamente a melhoria das condições de vida das pessoas diretamente relacio- http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3551.htm Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 30 nadas com o bem cultural em questão. Neste sentido, também visa formar uma rede entre instituições do Estado e da sociedade civil capaz de apoiar materialmente as condições que possibilitam que a manifestação cultural em questão siga existindo. Instrumentos de Preservação e Salvaguarda do Patrimônio Histórico-Cultural Brasileiro Bens de natureza material Teatro Municipal No caso dos bens de natureza material, o principal instrumento de salvaguarda continua sendo o tombamento. Quando um bem é tombado,o Estado reconhece e outorga um valor de distinção. Estado e sociedade civil estabelecem um pacto pela conservação das condições físicas daquele bem material, de maneira que seu significado cultural seja mantido pelo máximo de tempo possível, a bem do interesse público. Na prática, o tombamento se inicia com um ato administrativo, em que são elen- cadas as motivações técnicas que serão apreciadas por um Conselho, que res- paldará ou não o encaminhamento para as medidas de acautelamento legal. Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 31 O valor legal do tombamento se dá provisoriamente quando o processo é inicia- do e definitivamente quando o bem é inscrito em um (ou mais de um) dos Livros do Tombo, que são os seguintes: Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, Livro do Tombo Histórico, Livro do Tombo das Belas Artes e das Artes Aplicadas. Sob os efeitos legais da proteção, o proprietário do bem tombado (que pode ser o Estado, a sociedade civil, uma entidade religiosa etc.), fica obrigado a zelar por sua condição material, responsabilizando-se inclusive pelos custos implicados. Isso significa que não pode ser feita nenhuma alteração no bem, nem reparos, nem obras de manutenção (no caso de prédios, por exemplo), sem a autorização do órgão responsável pelo tombamento, seja o IPHAN ou os entes equivalentes nos estados, municípios e Distrito Federal. Bens de natureza imaterial Capoeira Quanto aos bens de natureza imaterial, o procedimento de salvaguarda é outro. Em vez de se proceder o tombamento, o ato formal mais corrente é o Registro, também instituído pelo Programa Nacional de Patrimônio Imaterial. Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 32 As categorias que foram definidas para agrupar os bens de natureza imaterial são: § Saberes; § Formas de Expressão; § Celebração; e § Lugares. Outra diferença importante com relação ao procedimento do bem material é que, no caso do patrimônio imaterial, não se tem a expectativa de que o bem seja “conservado”, ou seja, que suas características sejam mantidas e preservadas. Não há meios de (nem bons motivos para) se congelar o estado atual de uma manifestação cultural. A simples intervenção do poder público, com o reconhecimento da condição de patrimônio, pode por si só provocar mudanças na prática cultural atrelada ao pa- trimônio, influindo em sua possibilidade de seguir sendo praticada, transmitida, celebrada. Para os efeitos de registro e acompanhamento do bem cultural, o IPHAN, também por meio do Decreto n.º 3.551, criou o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC): [...] uma metodologia de pesquisa desenvolvida pelo Iphan para produzir co- nhecimento sobre os domínios da vida social aos quais são atribuídos sentidos e valores e que, portanto, constituem marcos e referências de identidade para determinado grupo social. Contempla, além das categorias estabelecidas no Registro, edificações associadas a certos usos, a significações históricas e a imagens urbanas, independentemente de sua qualidade arquitetônica ou artís- tica. (IPHAN. Inventário Nacional de Referências Culturais. Disponível em: http:// portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/685/) http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/685/ http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/685/ Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 33 Conforme o trecho em destaque, O INRC é uma metodologia desenvolvida e utiliza- da pelo IPHAN para pesquisar o patrimônio imaterial. Ela registra, de modo sistemá- tico, a partir de critérios pré-indicados e em conjunto com os detentores e pratican- tes daquele determinado bem, quais são as suas recorrências, quais saberes estão implicados, quais são os agentes envolvidos, aspectos particulares da manifestação em questão etc. A elaboração do inventário, nesse caso, depende então do trabalho conjunto de téc- nicos e das pessoas que detêm os conhecimentos sobre o bem imaterial em questão. No caso do inventário participativo, como veremos nos próximos módulos, a partici- pação dos detentores e demais agentes envolvidos com o bem em questão é a priori- dade, é a condição para que o inventário seja feito. As categorias também podem ser ampliadas de acordo com as especificidades daquilo que será inventariado e com os interesses do grupo e comunidade em questão. Tudo isso é assunto para as aulas a seguir. Recomendamos que, antes de passar para o próximo módulo, você busque conhecer mais sobre o patrimônio imaterial, observando alguns dos inventários e lendo o Ma- nual do INRC. Patrimônios imateriais inventariados conjuntamente com o IPHAN: Livro de Registro dos Saberes § Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas, nas Regiões do Serro e das Serras da Canastra e do Salitre § Modo de Fazer Cuias do Baixo Amazonas § Modo de Fazer Viola de Cocho § Modo de Fazer Renda Irlandesa - Sergipe § Ofício das Baianas de Acarajé § Ofício das Paneleiras de Goiabeiras § Ofício dos Mestres de Capoeira Saiba mais Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 34 Livro de Registro das Celebrações § Círio de Nossa Senhora de Nazaré § Complexo Cultural do Boi Bumbá do Médio Amazonas e Parintins § Complexo Cultural do Bumba meu boi do Maranhão § Festa do Divino Espírito Santo de Paraty § Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis § Festividades do Glorioso São Sebastião na Região do Marajó § Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio em Barbalha Livro de Registro das Formas de Expressão § Arte Kusiwa – Pintura Corporal e Arte Gráfica Wajãpi § Caboclinho § Carimbó § Cavalo-Marinho § Fandango Caiçara § Frevo § Jongo no Sudeste Livro de Registro dos Lugares § Cachoeira de Iauaretê – Lugar Sagrado dos Povos Indígenas dos Rios Uaupés e Papuri § Feira de Campina Grande § Feira de Caruaru § Tava, Lugar de Referência para o Povo Guarani Fonte: IPHAN. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/deta- lhes/122 Parabéns! Encerramos o módulo 1! Nos encontramos no módulo 2. http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/122 http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/122 Módulo 1 – Patrimônio, cultura e museus: conceitos e práticas 35 Referências ARANTES, António Augusto. A salvaguarda do patrimônio imaterial no Brasil. In: BARRIO, Angel Espina; MOTTA, Antonio; GOMES, Mário Hélio. (Org.). Inovação Cultural, Patrimônio e Educação. Recife: Editora Massangana, Fundação Joaquim Nabuco, 2009, 392 p. Disponível em: http://repositorio.ufpe.br/bitstream/handle/123456789/13882/ galyndo2.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em 21/010/2015. Cândido, Manuelina Maria Duarte. 2013. Gestão de Museus, um Desafio Contemporâ- neo: Diagnóstico Museológico e Planejamento. 1.ª ed. Porto Alegre: Mediatriz. CHAGAS, Mario; GOUVEIA, Inês. Museologia Social. Cadernos do CEOM. Chapecó: Argos, Ano 27, n.41, 2014 p. 47-69. CHAUÍ, Marilena. 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