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Fundamentos de leiaute e desenho de móveis

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Leiaute e desenho de
móveis residenciais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 Identificar os fundamentos de leiaute e desenho para móveis
residenciais.
 Definir os padrões de representação gráfica de mobiliário.
 Reconhecer o uso de leiaute e desenho de móveis em um projeto
hipotético.
Introdução
Passamos a maior parte do tempo dentro de edificações. Seja em casa,
na escola ou no trabalho, o interior dos edifícios faz parte de nossas vidas.
Esse simples fato basta para evidenciar a importância da concepção
desses espaços de maneira adequada e agradável. Além disso, o modo
como configuramos esses espaços inteiros afeta de forma direta o comportamento e o relacionamento das pessoas dentro deles.
Neste capítulo, você reconhecerá os fundamentos do leiaute e do
desenho de móveis residenciais, identificará padrões e boas práticas na
representação desses espaços, bem como diferentes momentos, etapas
e maneiras de representar os espaços interiores de projetos residenciais.
Fundamentos de leiaute e desenho de móveis
residenciais
A arquitetura das edifi cações trata das relações entre o construído e o espaço
público, mediando as conexões entre espaço aberto e interior do edifício.
Por outro lado, a arquitetura de interiores é responsável pela relação entre
usuário e edifício, com o potencial de transformar a experiência de uso de um
espaço. Muitas vezes, a arquitetura de interiores é considerada um subproduto
da arquitetura do edifício e, embora os interiores inexistam sem o edifício,
esses projetos têm o poder de transformar visual e sensorialmente os espaços
(Figura 1).
Figura 1. Transformação de uma casa por meio da arquitetura de interiores.
Fonte: Ching e Binggeli (2019, p. 7).
Em intervenções da arquitetura de interiores, o arquiteto tem a oportunidade de explorar estruturas visuais e manipular os elementos internos de
modo a gerar espaços que transcendam a estrutura existente no edifício.
Ching e Binggeli (2019, p. 16) defendem essa capacidade transformadora da
arquitetura de interiores ao afirmar que “[...] embora o sistema estrutural de
uma edificação determine a forma básica e o padrão de seus espaços internos, esses espaços são, em última análise, estruturados pelos elementos de
arquitetura de interiores”.
Em arquitetura de interiores, a organização espacial pode ocorrer pela
construção de elementos fixos, como paredes e muros, contudo, na maioria
dos casos, a estruturação dos espaços é dada pela distribuição do mobiliário
no ambiente. Essa distribuição recebe o nome de leiaute, uma adaptação da
expressão inglesa layout, que significa arranjo de elementos em um meio, seja
ele a página de uma revista ou um ambiente interno.
O leiaute deve responder, em primeira instância, ao conforto e à usabilidade
dos usuários. Em arquitetura de interiores residencial, esses usuários são os
moradores do local, que precisam sentir-se confortáveis em todas as atividades
da casa, seja na preparação de alimentos na cozinha, seja assistindo a um
filme no sofá. Para determinar as dimensões e os atributos desses ambientes,
é preciso conhecer as demandas de conforto. Atualmente, estão disponíveis
aos arquitetos guias que apresentam as dimensões ideais para diversos tipos
de equipamentos e mobiliários, além de exemplos de combinações de móveis.
2 Leiaute e desenho de móveis residenciais
Ergonomia é a área de conhecimento que estuda o conforto dos usuários com base
nas dimensões do ser humano, ou antropometria. Com os dados ergonômicos, é
possível maximizar o conforto de uma peça de mobiliário para um uso específico.
Um dos parâmetros ergométricos mais importantes para os leiautes de
móveis são as distâncias das relações interpessoais, ou espaço pessoal (CHING;
BINGGELI, 2019). Essas zonas referem-se às distâncias em que as pessoas se
sentem à vontade para conviver com outros, em variados níveis de intimidade.
Na Figura 2, é possível ver como essa distância aumenta quanto menor for
a intimidade entre as pessoas que se relacionam. Uma distância curta entre
cadeiras, por exemplo, só é confortável entre pessoas com elevados níveis de
intimidade.
Figura 2. Zonas de intimidade.
Fonte: Ching e Binggeli (2019, p. 51).
Embora seja provável que em um ambiente residencial convivam apenas
pessoas com níveis de intimidade elevados, as zonas propostas por Ching e
Binggeli (2019) são úteis para fazer o lançamento de leiautes de mobiliários.
Em uma sala de estar, por exemplo, deve haver espaço suficiente para que as
pessoas consigam se sentar cada qual em seu lugar, preferencialmente, sem
que uma atrapalhe a outra, como demonstra a Figura 3.
Leiaute e desenho de móveis residenciais 3
Figura 3. Leiautes de sofás e poltronas.
Fonte: Ching e Binggeli (2019, p. 52).
Outros espaços onde as dimensões de uso têm grande importância são os
ambientes de preparo e consumo de alimentos: cozinhas, balcões e salas de
jantar. Em uma casa, esses espaços são utilizados por períodos prolongados
em atividades repetitivas — cortar alimentos, fazer refeições ou lavar louças
são alguns exemplos. Para isso, é imprescindível que esses locais tenham
suas dimensões otimizadas para as atividades ali realizadas. A Figura 4a
traz algumas dimensões recomendadas para uma mesa de jantar confortável.
Geralmente, as mesas de jantar são compradas prontas em uma loja. No entanto, nas cozinhas, existe grande possibilidade de personalização, o que dá
liberdade ao arquiteto para adaptações ao espaço existente, entretanto, cria
o risco de se realizar um projeto com dimensões não otimizadas. A Figura
4b mostra quais são as dimensões recomendadas para cozinhas residenciais.
Observe a distância entre os balcões que, de modo geral, deve ser suficiente
para que duas pessoas possam operar os equipamentos ao mesmo tempo.
Assim, o leiaute e a escolha de mobiliário para um projeto de interiores são
formas mais efetivas de se manipular a estrutura espacial de um ambiente. Cabe
ao arquiteto tomar as decisões de maneira racional e otimizada, garantindo o
conforto e bem-estar dos usuários daquele ambiente.
4 Leiaute e desenho de móveis residenciais
Figura 4. Dimensões recomendadas (a) para a mesa de jantar e (b) para cozinhas.
Fonte: Ching e Binggeli (2019, p. 53–54).
Representação gráfica de mobiliário
A representação do mobiliário em Arquitetura depende de alguns fatores
como escala do desenho, necessidade de detalhamento e tipo de representação.
Imagine que você está desenhando o leiaute de uma residência, e sua ideia é
apresentar um zoneamento de atividades e algumas possibilidades de organização de planta. Nesse cenário, os mobiliários podem ser representações
simplifi cadas — geralmente formas simples, como círculos e retângulos — que
transmitam a informação dimensional do mobiliário e nada mais. Observe a
Figura 5 para compreender a diferença entre uma representação simbólica e
uma representação complexa.
Leiaute e desenho de móveis residenciais 5
Figura 5. Diferenças entre representação simbólica e representação complexa.
O limite da representação é o do próprio objeto, podendo seguir refinando
o desenho agregando cores, texturas, juntas, parafusos. É fácil perceber que, a
partir de certo grau de fidelidade (definido de acordo com cada situação), o excesso de informação é desnecessário e, eventualmente, prejudicial. Retomando
o exemplo anterior, ao utilizar uma representação com grau de definição além
do necessário, corre-se o risco de o objetivo do desenho (discutir estratégias de
organização da planta) se desvirtuar para temas como o modelo da poltrona,
da mesa e do sofá, algo que deveria ser discutido em momento posterior.
No entanto, há situações em que a fidelidade ao objeto representado é
essencial. Em projetos residenciais, e em todos os projetos de arquitetura de
interiores, a escolha do mobiliário exerce um papel significativo na adequação
do projeto ao seu objetivo. Nesses casos, é correto utilizar
as ferramentas
disponíveis para a representação arquitetônica (como modeladores em três
dimensões, renderizadores e programas de edição de imagem), a fim de reproduzir da maneira mais fiel possível a intenção do projetista. Na Figura 6,
observe que o modelo de cadeiras muda entre a primeira e a segunda imagem.
Esse tipo de representação ajuda o projetista a escolher o modelo que julga
mais adequado e também o cliente, que pode tomar uma decisão mais segura.
Isso acontece, principalmente, naqueles desenhos que Ching e Juroszek (2012)
chamam de desenhos de apresentação, que devem comunicar com clareza
e maior precisão possível as características tridimensionais de um projeto.
6 Leiaute e desenho de móveis residenciais
Figura 6. Renderizações mostrando diferentes opções de mobiliário.
A migração do desenho à mão para o computador possibilitou um avanço
incrível na representação arquitetônica. Quando os projetos eram desenhados
à mão em pranchetas de desenhos, arquitetos e demais projetistas usavam
gabaritos para representar os tipos mais comuns de mobiliário. Obviamente,
a técnica era bastante limitada, objetos diferentes eram tratados da mesma
maneira, e boa parte da informação era escrita em forma de especificações.
Parte das referências sobre representação — como a NBR 6492: Norma Técnica
para Representação de Projetos de Arquitetura (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS [ABNT], 1994) — se atém a padrões de
representação dessa época, motivo pelo qual, embora sejam um bom ponto
de partida, não devem servir de guia absoluto para a maneira como se deve
representar um projeto.
Atualmente, é comum que os próprios fabricantes disponibilizem seus
produtos modelados em diversos formatos (dwg, fbx, skp, gsm) para serem
utilizados em diversos software de desenho (Figura 7), de modo que o projetista possa ter uma representação fiel dos objetos escolhidos para o projeto.
Leiaute e desenho de móveis residenciais 7
Figura 7. Perfil do fabricante Deca para modelos de torneiras no site 3D Warehouse. Modelos
disponibilizados pelo próprio fabricante do produto.
Fonte: Deca Catálogo (2020, documento on-line).
Exemplo de leiautes e mobiliários residenciais
A partir do estudo sobre características marcantes da arquitetura de interiores e
sobre as possibilidades e usos da grafi cação para esse tipo de projeto, veremos
alguns exemplos e usos da representação para ambientes residenciais. Segundo
Ching e Eckler (2014, p. 200):
[…] nas etapas de geração e desenvolvimento de um processo de projeto, o
desenho tem natureza claramente especulativa. Os pensamentos vêm à mente
conforme observamos um desenho em progresso, o que pode alterar nossas
percepções e sugerir possibilidades ainda não concebidas.
Por isso, dada essa natureza especulativa e o grande nível de indefinição
das etapas iniciais, é desejável que se desenvolva os desenhos de maneira mais
livre, em forma de esboços e croquis (Figura 8). Essa abordagem também
tem uma justificativa pragmática que é a possibilidade de gerar um grande
número de alternativas em pouco tempo, uma vez que o projetista pode lançar
opções de desenvolvimento sem ater-se a modelos de cadeira, alinhamentos
e dimensões, por exemplo. Cabe lembrar que a liberdade dessa etapa não
se confunde com insipiência; é possível conceber um desenho impreciso
8 Leiaute e desenho de móveis residenciais
em termos dimensionais, mas com profunda consciência construtiva. Um
bom exemplo disso são os croquis do arquiteto brasileiro Paulo Mendes da
Rocha que, com algumas linhas, era capaz de sintetizar a solução estrutural
de projetos complexos.
Figura 8. Croqui de uma residência: observe que o mobiliário indicado tem dimensão
coerente, mas imprecisa.
Atualmente, o desenho no computador é a realidade no desenvolvimento
de projetos de arquitetura. Em programas de CAD ou em programas que
utilizam a metodologia BIM, os projetos são desenvolvidos em um ambiente
computacional que permite alto grau de precisão e agilidade na investigação
de alternativas. Nessa etapa, o projeto ganha um dimensionamento mais
próximo do real, e os objetos representados nos leiautes e mobiliários ganham
definição (Figura 9). Em projetos de arquitetura de interiores, em geral, há
uma preocupação maior na representação de elementos de ambientação e
com uma definição maior do mobiliário. Isso deve-se à natureza do trabalho:
na arquitetura de interiores, boa parte do trabalho consiste na escolha desses
elementos, materiais de revestimento e acabamento (Figura 10).
Leiaute e desenho de móveis residenciais 9
Figura 9. Desenvolvimento de um projeto residencial em CAD: elementos construtivos e
mobiliário ganham precisão e definição.
Os projetos de arquitetura de interiores não se limitam aos ambientes e
às peças de mobiliário sob medida. É muito comum que haja uma mescla de
elementos projetados exclusivamente para os espaços, como móveis de marcenaria, bancadas em pedra, entre outros, com objetos e peças soltas, como
mesas, cadeiras e luminárias, por exemplo. Muitos dos objetos especificados
para os projetos possuem desenho bastante difundido e são conhecidos como
peças de mobiliário clássicas da arquitetura. Alguns arquitetos reconhecidos
mundialmente possuem em seu repertório de obras alguns itens de decoração
e mobiliário. O arquiteto francês Jean Prouvé, por exemplo, criou uma série de
luminárias que são muito utilizadas em projetos de arquitetura de interiores
no mundo todo. Lina Bo Bardi, Paulo Mendes da Rocha e Oscar Niemeyer
também têm peças clássicas de design em seu catálogo de obras.
Objetos de design brasileiro têm sido amplamente utilizados
em projetos de arquitetura de interiores residencial. No link a
seguir, conheça 10 poltronas clássicas assinadas por designers
brasileiros.
https://qrgo.page.link/mPKsx
10 Leiaute e desenho de móveis residenciais
Assim, o limite para a representação de um objeto é ele próprio, e nem
sempre a representação precisa conter todas as características do objeto representado. Algum nível de abstração é necessário para que o desenho não se
torne confuso e demasiadamente complexo. Mesmo assim, há situações em
que é preciso especificar a maneira e a forma como os materiais se encontram.
Figura 10. Planta perspectiva de um apartamento: compare com o grau de definição do
mobiliário da Figura 9.
Nesses casos, é comum fazer uso de detalhes e ampliações, ou seja, desenhos
parciais em escala ampliada que demonstram pontos de interesse especial no
projeto. Exemplos de detalhes e ampliações podem ser transições de materiais
(de madeira para pedra, por exemplo), modo de encontro com as paredes,
desenhos específicos em acabamento, entre outros (Figura 11).
Leiaute e desenho de móveis residenciais 11
Figura 11. Detalhes de um armário: conjunto de cortes parciais ilustrando as transições
entre diferentes peças e materiais.
Fonte: Ching e Binggeli (2019, p. 342).
Um tipo diferente de representação, complementar aos anteriores, são
as perspectivas (Figura 12). Antigamente, a criação de perspectivas para a
representação de projetos de arquitetura era um trabalho complexo e demorado
que, não raro, ficava a cargo de um desenhista. Hoje, há software que permitem
elaborar boas perspectivas com pouco esforço.
12 Leiaute e desenho de móveis residenciais
Figura 12. Perspectiva renderizada.
Esse tipo de representação é especialmente interessante para a apresentação ao público leigo, uma vez que pode haver dificuldades na compreensão
de desenhos técnicos. É importante ressaltar que não há verdades absolutas
quando se trata de representação para arquitetura. Recomenda-se observar
variadas referências e, antes de começar um desenho, refletir sobre qual seria
a melhor maneira de representar aquilo que você deseja comunicar.
Leiaute e desenho de móveis residenciais 13
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6492: representação de
projetos de arquitetura. Rio de Janeiro, 1994.
CHING, F. D. K.; BINGGELI, C. Arquitetura
de interiores ilustrada. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2019.
CHING, F. D. K.; ECKLER, J. F. Introdução à arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2014.
CHING, F. D. K.; JUROSZEK, S. P. Desenho para arquitetos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman,
2012.
DECA Catálogo. Disponível em: https://3dwarehouse.sketchup.com/by/decaoficial.
Acesso em: 09 jan. 2020.
Leitura recomendada
MARADEI, G. 10 poltronas clássicas assinadas por famosos designers brasileiros. 2018. Disponível em: https://casavogue.globo.com/Design/Moveis/noticia/2018/09/10-poltronasclassicas-assinadas-por-famosos-designers-brasileiros.html. Acesso em: 09 jan. 2020.
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