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COMUNIDADES VIRTUAIS COMO FONTE DE SUPORTE EMOCIONAL PARA MÃES DE CRIANÇAS


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UNAMA ANANINDEUA
PSICOLOGIA
ANA SHIRLEY DOS SANTOS RABELO
VANDILMA PAIXÃO DUTRA
EWELLYN SILVA VASCONCELOS NONATO
ALDINEIA DO SOCORRO OLIVEIRA MAIA PEREIRA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
COMUNIDADES VIRTUAIS COMO FONTE DE SUPORTE EMOCIONAL PARA MÃES DE CRIANÇAS
ATÍPICAS
Ananindeua
2023
ANA SHIRLEY DOS SANTOS RABELO
VANDILMA PAIXÃO DUTRA
EWELLYN SILVA VASCONCELOS NONATO
ALDINEIA DO SOCORRO OLIVEIRA MAIA PEREIRA
COMUNIDADES VIRTUAIS COMO FONTE DE SUPORTE EMOCIONAL PARA MÃES DE CRIANÇAS
ATÍPICAS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como
requisito parcial para conclusão do curso de PSICOLOGIA da
UNAMA ANANINDEUA
Ananindeua
2023
Ficha catalográfica gerada pelo Sistema de Bibliotecas do REPOSITORIVM do Grupo SER EDUCACIONAL
P436c
Pereira, Aldineia do Socorro Oliveira Maia. 
 Comunidades Virtuais Como Fonte de Suporte
Emocional Para Mães de Crianças Atípicas / Aldineia do
Socorro Oliveira Maia Pereira, Ana Shirley dos Santos
Rabelo, Ewellyn Silva Vasconcelos Nonato [et al.].. -
UNAMA: Ananindeua - 2023
 64 f. : il
 TCC (Curso de Psicologia) - Unama Ananindeua -
Orientador(es): Dr(a) Giane Silva Santos Souza
 1. Análise do Discurso. 2. Comunidades Virtuais. 3.
Dispositivos de Acolhimento Social. 4. Maternidade Atípica.
5. Suporte Emocional. 6. Atypicaç Motherhood. 7. Emotional
Support. 8. Social Reception Devices. 9. Speech Analysis.
10. Virtual Communities. 
I.Título 
II.Dr(a) Giane Silva Santos Souza
UNAMA - ANA CDU - 159.9
ALDINÉIA DO SOCORRO OLIVEIRA MAIA PEREIRA 
ANA SHIRLEY DOS SANTOS RABELO 
EWELLYN SILVA VASCONCELOS NONATO 
VANDILMA PAIXÃO DUTRA 
COMUNIDADES VIRTUAIS COMO FONTE DE SUPORTE EMOCIONAL PARA MÃES 
DE CRIANÇAS ATÍPICAS 
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) como 
requisito parcial para obtenção do título de 
Bacharel em Psicologia pela Universidade da 
Amazônia - UNAMA, campus Ananindeua.
Orientadora: Dra. Giane Silva Santos Souza
BANCA EXAMINADORA 
___________________________________________________________________________ 
Profa. Dra. Giane Silva Santos Souza (Orientadora) - Universidade da Amazônia 
___________________________________________________________________________ 
Marina Baia de Sena (Banca interna) - Especialista em Desenvolvimento Infantil 
Intervenção ABA para Transtorno do Espectro Autista. 
___________________________________________________________________________ 
Wania Lúcia Fonseca Bastos (Banca externa) - Especialista em Avaliação Psicológica 
e Neuropsicológica.
DEDICATÓRIA 
À todas as mulheres, mães e cuidadoras que enfrentam os 
desafios da maternidade atípica, cada uma constituída por 
narrativas e contextos únicos. Estas mulheres precisam mais 
do que elogios; merecem uma atenção cuidadosa voltada 
para suas próprias necessidades, muitas vezes ofuscadas 
pelas exigências da maternidade. Não são apenas objetos de 
estudo; são indivíduos a serem percebidos, compreendidos 
e dignificados. Que a análise acadêmica das suas 
experiências neste trabalho aponte o lugar daquelas que 
cuidam e que necessitam de cuidado, atenção, respeito e 
dignidade por meio de ações e políticas verdadeiramente 
direcionadas às suas necessidades.
AGRADECIMENTOS 
Expressamos profunda gratidão a Deus pela dádiva da vida e pela beleza que permeia 
este mundo. 
À Professora Dra. Giane Souza, nossa orientadora, por sua paciência, respeito e apoio 
na realização deste estudo. Agradecemos especialmente por criar um espaço onde 
compartilhamos nossas fragilidades e enfrentamos os desafios da construção teórica. 
Aos nossos familiares e amigos, estendemos nossos sinceros agradecimentos pelo apoio 
fundamental durante todo o processo. 
Por fim, manifestamos nossa sincera gratidão aos docentes e discentes do curso de 
Psicologia da Universidade da Amazônia. As trocas e oportunidades de aprendizado foram 
verdadeiramente enriquecedoras, proporcionando um ambiente propício para nosso 
desenvolvimento acadêmico e profissional. 
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
(Milton Nascimento)
RESUMO 
Este estudo investiga a relação entre Dispositivos de Acolhimento Sociais e o suporte 
emocional a mães de crianças atípicas em comunidades virtuais, considerando os desafios 
inerentes à maternidade atípica. Essas mulheres enfrentam a necessidade de equilibrar 
responsabilidades familiares, muitas vezes abrindo mão de suas trajetórias profissionais, o que 
destaca a complexidade de suas experiências ao explorar os recursos disponíveis nessas 
comunidades virtuais. A pesquisa tem como foco analisar o papel das comunidades virtuais e 
seu impacto nas interações relacionadas à saúde mental. O objetivo geral é identificar os 
dispositivos de Acolhimento Social na relação entre as Comunidades Virtuais e as mães de 
crianças atípicas. Para atingir esse propósito, os objetivos específicos são compreender o papel 
das comunidades virtuais no suporte emocional, investigar os tipos de conteúdo compartilhados 
e analisar como as interações online podem influenciar a saúde mental. O estudo adotou uma 
abordagem qualitativa, concentrando-se em uma comunidade virtual do Facebook. A 
metodologia empregou a perspectiva foucaultiana para analisar discursos, destacando como as 
interações online formam redes de cuidado para a saúde mental. As escolhas metodológicas 
incorporaram conceitos foucaultianos, como a noção de poder como algo não apenas opressor, 
mas produtivo, atuando em níveis microfísicos, influenciando normatividades e condutas. A
análise foucaultiana enfatiza as comunidades virtuais como dispositivos fundamentais de 
acolhimento social para mães de crianças atípicas, oferecendo suporte emocional e contribuindo 
para a formação de novas subjetividades e redes de cuidado. Dessa forma, este estudo aprimora 
a compreensão das dinâmicas sociais nesses grupos, ampliando o debate sobre os Dispositivos 
de Acolhimento como suporte emocional à saúde mental das mães de crianças atípicas. 
Palavras-chave: Maternidade atípica; Comunidades virtuais; Dispositivos de acolhimento 
social; Análise do discurso; Suporte emocional. 
ABSTRACT 
This study explores the relationship between Social Support Devices and emotional 
support for mothers of atypical children in virtual communities, considering the challenges 
inherent to atypical motherhood. These women grapple with balancing family responsibilities, 
often sacrificing their professional trajectories, highlighting the complexity of their experiences 
as they navigate available resources in virtual communities. The research focuses on analyzing 
the role of virtual communities and their impact on interactions related to mental health. The 
overall objective is to identify Social Support Devices in the relationship between Virtual 
Communities and mothers of atypical children. To achieve this, specific objectives include 
understanding the role of virtual communities in emotional support, investigating shared 
content types, and analyzing how online interactions can influence mental health. The study 
adopts a qualitative approach, focusing on a Facebook virtual community. The methodology 
employs a Foucauldian perspective to analyze discourses, emphasizing how online interactions 
form care networks for mental health. Methodological choices incorporate Foucauldian 
concepts, viewing power not only as oppressive but also as productive, operating at 
microphysical levels, influencing norms, and behaviors. Foucauldian analysis underscores 
virtual communities as fundamental devices for social support for mothers of atypical children, 
offering emotional support and contributing to the formation of new subjectivities and care 
networks. Thus, this study enhances understanding of social dynamics in these groups, 
expanding the discourse on Support Devices as emotional support for the mental health of 
mothers of atypical children. 
Keywords: Atypical motherhood; Virtual communities; Social reception devices; Speech 
analysis;Emotional support. 
SUMÁRIO 
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 9 
2. MATERNIDADE ATÍPICA: CUIDADO FEMININO, CONSTRUÇÃO 
SOCIAL DA IMAGEM DA MULHER E SAÚDE MENTAL ........................................ 12 
2.1 MATERNIDADE ATÍPICA: DESAFIOS E REFLEXÕES .............................. 12 
2.2 O CUIDADO DA IMAGEM FEMININO E A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA 
MULHER ............................................................................................................................. 13 
2.3 A MULHER-MÃE E O MERCADO DE TRABALHO .................................... 15 
2.4 DESENVOLVIMENTO ATÍPICO EM CRIANÇAS ........................................ 16 
2.4.1 Transtorno do Espectro Autista (TEA) ................................................... 17 
2.5 MATERNIDADE ATÍPICA: DESAFIOS, NECESSIDADES E A 
IMPORTÂNCIA DO SUPORTE INTEGRAL À SAÚDE MENTAL ................................ 18 
3. DISPOSITIVOS DE ACOLHIMENTO SOCIAL E COMUNIDADES 
VIRTUAIS ............................................................................................................................... 20 
3.1 DISPOSITIVOS DE ACOLHIMENTO SOCIAL: PERSPECTIVAS E 
DEFINIÇÕES ....................................................................................................................... 20 
3.2 COMUNIDADES VIRTUAIS ........................................................................... 23 
3.2.1 Redes Sociais .............................................................................................. 24 
3.3 RELAÇÃO ENTRE DISPOSITIVOS DE ACOLHIMENTO SOCIAL E 
COMUNIDADES VIRTUAIS ............................................................................................. 25 
3.4 O PAPEL DAS COMUNIDADES VIRTUAIS NO SUPORTE EMOCIONAL A 
MÃES DE CRIANÇAS ATÍPICAS..................................................................................... 26 
4. ANÁLISE DO DISCURSO UMA VISÃO FOUCAULTIANA DAS RELAÇÕES 
DE PODER .............................................................................................................................. 28 
4.1 CONCEITO ANÁLISE DO DISCURSO .......................................................... 28 
4.2 CONCEITO DE BIOPODER ............................................................................. 29 
4.3 BIOPODER E DISPOSITIVOS DE ACOLHIMENTO PARA MÃES DE 
CRIANÇAS COM DESENVOLVIMENTO ATÍPICO: RELAÇÕES DE PODER E 
ANÁLISE DO DISCURSO.................................................................................................. 30 
5. ANÁLISE DE DADOS ........................................................................................... 32 
5.1 METODOLOGIA ............................................................................................... 32 
5.2 CATEGORIAS UTILIZADAS PARA ANÁLISE DO DISCURSO ................. 34 
5.2.1 Categoria 1. Suporte Emocional As comunidades Virtuais como Locais 
de Acolhimento ............................................................................................................... 34 
5.2.2 Categoria 2: Emprego, Demissões e Angústias Como fatores que 
provocam o adoecimento mental ................................................................................... 43 
5.2.3 Categoria 3: Comunidades Virtuais e a busca de informações ............. 45 
5.2.4 Categoria 4: Estado; Dispositivos Sociais e Desamparo (O estado e a 
ausência de dispositivos de acolhimento sociais) ......................................................... 48 
5.2.5 Categoria 5: Medicalização e Normalização do Corpo .......................... 51 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 54 
7. REFERÊNCIAS...................................................................................................... 56 
9
1. INTRODUÇÃO 
O presente estudo tem como foco principal abordar como as mães de crianças com 
desenvolvimento atípico buscam suporte emocional nas comunidades virtuais. O termo vem 
sendo empregado para indicar indivíduos com necessidades educativas especiais que 
manifestam limitações físicas ou intelectuais, ou prejuízo no acompanhamento do processo de 
ensino e aprendizagem por dificuldades e/ou deficiências que podem não estar vinculadas a 
uma causa orgânica, mas que requerem código de comunicação diferente do usado pela maioria 
dos estudantes. (CALLONERE; ROLIM; HÜBNER, 2011). 
Pais e/ou responsáveis por crianças atípicas frequentemente lidam com elevados níveis 
de estresse e carga física e mental excessiva. A mãe, em particular, a quem é socialmente 
atribuído o papel predominante de cuidadora, renuncia a sua carreira profissional, vida social e 
relações afetivas em favor dos cuidados maternos ao filho, que demanda atenção especial. Desse 
modo, surgem para ela sentimentos como incerteza, tristeza e desamparo (HILÁRIO, 2019). 
Assim, dispositivos de suporte tornam-se necessários para a preservação da saúde 
mental dessas mulheres, pois elas frequentemente dedicam-se quase que exclusivamente à 
maternidade, o que pode resultar em sofrimentos psicológicos em aspectos emocionais, sociais 
e relacionais (SMEHA; CEZAR, 2011). 
Sendo assim, como ser social, a mãe está inserida em grupos que se formam ao longo 
de sua vida: na esfera familiar, educacional, na comunidade, no ambiente de trabalho e nos 
relacionamentos que desenvolve. São essas relações que podem oferecer suporte e assistência 
nos cuidados com o filho atípico. Nesse contexto, as redes sociais de suporte se configuram 
como espaços de acolhimento, reconhecimento e enfrentamento para as questões que surgem 
durante a experiência da maternidade, podendo ser estruturadas nos âmbitos familiar, 
educacional, comunitário ou entre mulheres-mães que enfrentam desafios semelhantes 
(NUNES, 2021). 
Para Castells (2005), a sociedade em rede possui uma estrutura social que é 
fundamentada em tecnologias de comunicação, particularmente em redes digitais. Essas redes 
digitais desempenham um papel fundamental na geração, processamento e distribuição de 
informações. Na sociedade em rede, as pessoas integram essas tecnologias em suas vidas 
cotidianas e as conectam à realidade virtual. Isso implica que a tecnologia digital desempenha 
10
um papel central na forma como as pessoas se comunicam, obtêm informações e interagem na 
sociedade contemporânea. 
A disponibilidade da internet permitiu que as pessoas se mantenham atualizadas sobre 
uma ampla variedade de assuntos de seu interesse. As redes sociais, em particular, 
desempenham um papel importante nesse processo, pois oferecem diversas possibilidades onde 
as pessoas podem consumir notícias, informações e conteúdo de maneira personalizada, de 
acordo com seus interesses e preferências (CASTELLS, 2005). 
Segundo Christmann et al. (2017), é imprescindível reconhecer que, para enfrentar esses 
desafios, as mães de crianças atípicas devem buscar suporte. Isso pode incluir a busca de 
recursos e redes de apoio dentro da comunidade, como grupos de pais de crianças atípicas, 
terapeutas, profissionais de saúde e educação, e outros pais que enfrentam desafios semelhantes. 
Portanto, nesta pesquisa, exploramos como as mães de crianças com desenvolvimento atípico 
buscam suporte emocional nas redes sociais. Nosso objetivo geral foi identificar os Dispositivos 
de Acolhimento Social na relação entre as Comunidades Virtuais e as mães de crianças atípicas. 
Isso nos conduziu a objetivos específicos, incluindo compreender o papel das comunidades 
virtuais no suporte emocional a mães de crianças atípicas, investigar os tipos de conteúdo mais 
compartilhados por essas mães, e analisar como as interações nas comunidades virtuais podem 
influenciar a saúde mental dessas mães, explorando os possíveis impactos dessas interações em 
seu bem-estar psicológico. 
Diante do exposto, o problema de pesquisa levantado foi: Quala relação entre 
Dispositivos de Acolhimento Social e as Comunidades Virtuais no suporte às mães de crianças 
atípicas? 
Este trabalho está subdividido em quatro capítulos. O primeiro Capítulo corresponde ao 
Maternidade Atípica: Cuidado Feminino, Construção Social da Imagem da Mulher e 
. Este capítulo é subdividido em cinco subitens, abordando a Maternidade 
Atípica, o Cuidado Feminino, a Construção Social da Imagem da Mulher e sua inserção no 
mercado de trabalho, o Desenvolvimento Atípico em Crianças, com ênfase no Transtorno do 
Espectro Autista (TEA), que foi o transtorno mais prevalente em nossa pesquisa e a importância 
do suporte à saúde mental dessas mulheres. 
No segundo capítulo, abordamos a dinâmica dos "Dispositivos de Acolhimento Social e 
Comunidades Virtuais" no contexto do suporte emocional oferecido às mães de crianças 
atípicas. Inicialmente, na seção 2.1, revisamos as perspectivas e definições associadas aos 
"Dispositivos de Acolhimento Social", incorporando uma abordagem foucaultiana para 
compreender sua influência nas dinâmicas sociais e na promoção da saúde mental. A seção 2.2 
11
explora a evolução das "Comunidades Virtuais", com foco nas "Redes Sociais" (2.2.1), 
destacando o papel de plataformas como o Facebook na formação de comunidades online. A 
seção 2.3 estabelece a "Relação entre Dispositivos de Acolhimento Social e Comunidades 
Virtuais", unindo dimensões físicas e virtuais de suporte. Por fim, na seção 2.4, discutimos "O 
Papel das Comunidades Virtuais no Suporte Emocional a Mães de Crianças Atípicas",
enfatizando como essas comunidades se tornam centros de identidade, resistência e diálogo 
político. 
O terceiro capítulo discutirá os conceitos de Análise do Discurso e do Biopoder e a 
relação desses conceitos com os Dispositivos de Acolhimento para mães de crianças atípicas. 
Por fim, no quarto capítulo, Análise dos Dados, apresentamos a metodologia utilizada e 
conectamos a teoria consultada a análise do discurso feito na comunidade virtual escolhida. 
12
2. MATERNIDADE ATÍPICA: CUIDADO FEMININO, CONSTRUÇÃO SOCIAL DA 
IMAGEM DA MULHER E SAÚDE MENTAL 
2.1 MATERNIDADE ATÍPICA: DESAFIOS E REFLEXÕES 
A experiência da maternidade atípica, que descreve a vivência de mães cujos filhos
fogem do desenvolvimento convencional, apresenta grandes desafios. Estas mães enfrentam 
jornadas maternas marcadas por demandas que ultrapassam as expectativas tradicionais, 
englobando desafios cognitivos, emocionais e físicos. Almeida (2023) destaca que o
adoecimento mental delas não decorre apenas do cuidado com os filhos atípicos, mas também 
da exaustão ao terem que lutar cada vez que buscam acessar seus direitos como mães atípicas. 
Neste cenário, emerge a representação social da mulher-mãe pronta para atender às 
necessidades daqueles que dependem dela, destacando a relevância de compreender e apoiar a 
singularidade da maternidade atípica. Walchan (2023) sustenta que muitas mulheres-mães 
buscam a idealização de atender a uma variedade de exigências impostas pela sociedade 
contemporânea, o que as leva a assumir duplas jornadas de trabalho. Esse esforço resulta em 
esgotamento físico e mental, na tentativa de cumprir tantas responsabilidades. 
Historicamente, as mulheres foram direcionadas para ocupações relacionadas ao 
cuidado, como trabalhadoras domésticas, babás, cuidadoras de idosos, enfermeiras e 
professoras. Essas funções foram atribuídas às mulheres, e aquelas que buscaram avanço em 
suas carreiras frequentemente enfrentam julgamentos. No contexto da maternidade atípica, 
muitas mães dedicam integralmente seus dias ao cuidado dos filhos, o que as impede de buscar 
emprego ou participar de outras atividades. Essa dedicação extrema resulta na renúncia da 
carreira profissional, afetando também a vida social e as relações afetivas dessas mães 
(CONSTANTINIDIS; PINTO, 2020). 
Ao longo das décadas, o papel da mulher na sociedade tem sido alvo de intensas 
mudanças e evoluções, refletindo não apenas transformações culturais, mas também 
reconfigurações significativas nas estruturas familiares. Como observou Beauvoir (2014, p. 09), 
"Não se nasce mulher: torna-se mulher." Nesta afirmação, Beauvoir encapsula a ideia de que 
os papéis de gênero não são inerentes, mas construções sociais que as mulheres têm desafiado 
e transformado ao longo do tempo. Essa metamorfose social abrange desde a busca por direitos 
civis até a redefinição das expectativas familiares, permitindo que as mulheres desempenhem 
papéis mais diversificados e complexos na sociedade contemporânea. 
13
Neste contexto, iniciaremos nossa exploração pelas raízes históricas e culturais do 
cuidado feminino, examinando como a tradição do cuidado estabeleceu uma base para a 
compreensão das demandas adicionais enfrentadas por essas mães. Em seguida, direcionaremos 
nosso olhar para a interseção entre a participação feminina no mercado de trabalho e os desafios 
associados à maternidade, delineando as tensões inerentes a essa dualidade de papéis. 
Finalmente, adentraremos a esfera da maternidade atípica, explorando não apenas o 
desenvolvimento atípico em crianças, mas também os impactos emocionais e psicológicos que 
essas mães enfrentam diariamente. 
2.2 O CUIDADO DA IMAGEM FEMININO E A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA MULHER 
Na construção histórica e social, destaca-se a tendência para a feminização nas 
dinâmicas de cuidado. Esse fenômeno implica que as mulheres assumem uma série de 
responsabilidades no ambiente familiar, desde o lar e os filhos até o cuidado de idosos, doentes, 
animais de estimação e qualquer pessoa necessitada de assistência ou atenção. As incumbências 
associadas a esse cuidado abrangem desde a preparação e o serviço de refeições até a 
manutenção e organização da casa, lavagem de roupas, compras no supermercado, 
planejamento e gestão das finanças domésticas, gerenciamento de guarda-roupas, contratação 
de serviços domésticos ou babás, até mesmo a aquisição de novos itens para o lar, entre outras 
atividades cotidianas (SILVA, 2020). 
Zanello (2016) destaca que, mesmo quando uma mulher não tem filhos biológicos, a 
sociedade ainda a percebe como uma cuidadora inata, dotada de um "instinto materno". Essa 
percepção a habilita para exercer o papel de mãe em diversas esferas, seja em relação aos pais, 
irmãos, sobrinhos ou membros doentes da família. Esse padrão de cuidado contribui para a 
naturalização das responsabilidades domésticas, muitas das quais continuam a recair em grande 
medida sobre as mulheres, incluindo os afazeres domésticos. Não raro, uma mulher que não 
prioriza o cuidado com os outros (filhos, marido, família) é frequentemente avaliada como 
egoísta. Segundo o mesmo autor, esse padrão consolidou-se historicamente, especialmente a 
partir do século XVIII, quando a capacidade de cuidar foi associada ao desdobramento da 
capacidade reprodutiva. 
No contexto deste século, a implementação da biopolítica, conforme analisada por 
Foucault (2008), introduziu uma inovadora tecnologia de poder. A biopolítica, entendida como 
a expressão do poder estatal sobre a vida da população, visa estabelecer regras e normas que 
regem a sociedade. Essa abordagem caracterizou-se pela incorporação das características 
14
biológicas essenciais da espécie humana, resultando na estatização da vida sob uma perspectiva 
biológica. Este controle estatal abrange não apenas as ações individuais, mas também a própria 
vida da população, uma vez que aspectos biológicos passam a ser objetos de regulação. 
Dentro desse panorama biopolítico, a sexualidade emergiu como um dispositivo para o 
controle e normalização dos sujeitos. É importante destacar que, segundo Foucault (2008), o 
propósito não é reprimir a população, mas estabelecer diretrizes em suas vidas. A sexualidade 
torna-se uma área na qual o poder pode atuar, não para sufocar, mas para criar normas e padrões 
que moldam o comportamento individuale coletivo. Nesse novo cenário de poder, o indivíduo 
feminino tornou-se um dos alvos das estratégias emergentes de normalização, ampliando a 
ênfase na atenção voltada para seu corpo e saúde. Esse redirecionamento do foco para a saúde 
e o corpo feminino é uma das maneiras pelas quais a biopolítica se manifesta na vida cotidiana. 
Guizzo (2012) aprofunda essa análise, destacando que a construção da imagem da 
mulher nesse período não se baseia apenas em suas características biológicas, mas é forjada por 
meio de um discurso que enfatiza sua condição de gênero culturalmente construído. Isso 
concentra-se, por exemplo, na questão da reprodução e das responsabilidades domésticas, 
consideradas exclusivamente femininas. Essa construção cultural do papel feminino, conforme 
discutido pelo mesmo autor, integra a figura feminina a uma esfera de poder recém-criada, 
atribuindo-lhe funções específicas derivadas tanto de seu corpo biológico quanto de seu papel 
social. Nesse contexto, as dinâmicas reforçam o dispositivo da sexualidade e dão origem a 
novas tecnologias de produção de gênero. 
Foucault (2010) ressalta a importância da análise da população com base em 
determinados dados como uma estratégia global de dominação. Uma das estratégias é a 
histerização do corpo feminino, na qual o corpo da mulher é examinado, categorizado e 
desqualificado como um corpo saturado de sexualidade. Esse corpo é incorporado ao âmbito 
das práticas médicas e conectado ao corpo social (responsabilidade pela fecundação), ao espaço 
familiar e à vida das crianças (responsabilidade biológica e moral). Esse processo faz com que 
o corpo feminino se torne um local para o exercício dos micropoderes, que investem, modelam 
e criam novos corpos sexuados, bem como novas construções de gênero. 
Gilligan (2011) traz uma perspectiva ética importante, diferenciando a "ética do 
cuidado" da "ética da justiça". Enquanto a "ética da justiça" prioriza os direitos individuais, 
noções de justiça e normas universais, a "ética do cuidado" fundamenta-se na empatia, na 
consideração pelo próximo, na promoção do bem comum e na preservação das relações de 
cuidado ao tomar decisões. Essa diferenciação destaca que, dentro de uma estrutura patriarcal, 
o cuidado é associado a uma ética tipicamente feminina. Nesse sentido, percebe-se que, na nossa 
15
sociedade, as mulheres foram historicamente direcionadas para as tarefas de cuidado de tal 
forma que essas funções se transformaram em princípios éticos internalizados, frequentemente 
adotados sem serem alvo de questionamentos, uma vez que esses valores moldam a nossa
percepção ética do feminino (SILVA et al., 2020). 
2.3 A MULHER-MÃE E O MERCADO DE TRABALHO 
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), publicados em 2021 na 
segunda edição do estudo "Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil", 
referentes a 2019, revelam uma disparidade significativa na distribuição das responsabilidades 
de cuidado. Nesse período, as mulheres dedicavam, em média, 21,4 horas semanais a afazeres 
domésticos e cuidados, enquanto os homens contribuíam com apenas 11,0 horas nessas 
atividades (IBGE, 2021). A amplitude da tarefa de cuidar engloba diversos aspectos, como 
educação, orientação, acompanhamento e zelo pela saúde. Essa desigualdade na distribuição de 
responsabilidades de cuidado não apenas reflete uma sobrecarga para as mulheres, mas também 
perpetua a naturalização do trabalho doméstico e de cuidado. Esse cenário impacta diretamente 
a experiência da maternidade, desencadeando nas mulheres um processo de adoecimento 
devido à sobrecarga, muitas vezes invisibilizando a pessoa que existe para além do papel de 
mãe e de suas obrigações (WALCHAN, 2022).
A partir da década de 70, houve um aumento notável na participação das mulheres no 
mercado de trabalho remunerado e no acesso à educação. Essas conquistas permitiram que as 
mulheres fossem em busca de formação profissional, e ingressarem no mercado de trabalho, 
tendo a oportunidade de construírem carreiras sólidas. Contudo, mesmo diante desses avanços, 
as mulheres continuam a enfrentar a sobrecarga de responsabilidades para além de suas carreiras 
e estudos, o que pode impactar negativamente sua saúde física e mental (ALVES, 2021). 
Ao integrar a função materna, a mulher enfrenta desafios distintos, cuja complexidade 
é acentuada no contexto da maternidade atípica (Bosa, 2006). Mães de crianças atípicas, além 
de lidarem com as demandas tradicionais associadas à maternidade, encaram responsabilidades 
adicionais no cuidado de seus filhos, sujeitando-se a incertezas decorrentes do diagnóstico e 
experimentando elevados níveis de estresse (Bosa, 2006). Essa realidade impacta 
consideravelmente a dinâmica da relação de trabalho, à medida que as mães de crianças atípicas 
frequentemente se veem compelidas a equilibrar as exigências laborais com a necessidade 
premente de atender às particularidades e demandas inerentes à condição atípica de seus filhos. 
16
A luta por equidade de gênero no ambiente de trabalho e na distribuição de 
responsabilidades de cuidado é indispensável para criar uma sociedade justa e saudável. O 
reconhecimento e a valorização do trabalho materno, aliados a políticas públicas eficazes, assim 
como o acesso a informações seguras e corretas sobre seus direitos estabelecidos em leis e 
serviços amenizam desgaste e exaustão dessas mães. Estes são passos importantes para mitigar 
a sobrecarga enfrentada pelas mulheres-mães, permitindo uma vida mais equilibrada e 
saudável. Estes são aspectos da biopolítica através do controle dos corpos, disciplina e 
vigilância, sendo possível manter a subjetividade do sujeito FOUCAULT (2021). 
2.4 DESENVOLVIMENTO ATÍPICO EM CRIANÇAS 
O desenvolvimento atípico refere-se a um atraso e/ou prejuízo significativo no 
desenvolvimento do indivíduo em relação à sua faixa etária, resultando em desafios físicos, 
cognitivos e psicossociais. O nível de desenvolvimento depende consideravelmente do grau de 
comprometimento da criança e do estímulo que recebe, caracterizando-se por um 
comprometimento biológico vinculado a um ambiente desfavorável ou a uma deficiência física 
e/ou cognitiva do indivíduo (CONCEIÇÃO, 2021). 
O Manual de Diagnóstico e Estatística de Doenças Mentais (American Psychiatric 
Association, 2014), também referido como DSM-V, classifica os transtornos do 
neurodesenvolvimento como um conjunto de condições que têm início durante o período de 
desenvolvimento, manifestando-se precocemente no processo de desenvolvimento, geralmente 
antes da criança ingressar na fase escolar. Esses distúrbios são caracterizados por déficits no 
desenvolvimento que impactam no desempenho pessoal, social, acadêmico ou profissional. 
As crianças com desenvolvimento atípico apresentam características e habilidades 
diferentes daquelas consideradas dentro dos padrões esperados pela sociedade, abrangendo 
desde superdotação até limitações que dificultam o acompanhamento das atividades 
curriculares, conforme mencionado por Minetto e Löhr (2016). Em cada área do 
desenvolvimento humano há padrões esperados fundamentados na maturação biológica do 
indivíduo, mas esses são influenciados pela estimulação do ambiente. O desenvolvimento que 
não segue a norma caracteriza-se como atípico. Diversos elementos podem estar associados ao 
progresso atípico, e um deles é a presença de transtornos mentais na infância. De acordo com 
Ebert, Lorenzini e Silva (2015), estima-se que, no Brasil, entre 10% e 20% das crianças e 
adolescentes apresentem transtornos mentais, sendo que aproximadamente de 3% a 4% 
necessitam de tratamentos intensivos. 
17
Ao analisarmos a composição do grupo estudado, notamos que uma parcela significativa 
das mães, se identifica como cuidadora de crianças autistas. Essa predominância suscitou a 
necessidade de destacarmos em nosso estudo o TEA, evidenciando sua relevânciana dinâmica 
das comunidades virtuais de mães. Ressaltamos, entretanto, que nossa escolha de enfatizá-lo 
não implica a intenção de conduzir uma investigação mais aprofundada sobre o autismo, apenas 
uma breve apresentação, já que o nosso foco primordial reside nas mães que vivenciam diversas 
formas de atipicidade em seus filhos. 
2.4.1 Transtorno do Espectro Autista (TEA) 
O Transtorno do Espectro Autista (TEA), conforme classificado pelo Manual de 
Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (DSM-V, APA, 2014), é um transtorno global 
do neurodesenvolvimento que se manifesta precocemente na infância. Crianças com TEA 
apresentam um desenvolvimento atípico que compromete a comunicação e interação social, 
acompanhado por padrões de comportamento repetitivos e estereotipados, além de 
apresentarem interesses ou atividades restritos (BRASIL, 2023). Para critérios diagnósticos, os 
déficits devem ser persistentes além de apresentar e causarem prejuízo clínico significativo, de 
acordo com o DSM-V (APA, 2014). 
As causas/ origens desse transtorno, ainda não estão totalmente esclarecidas, no entanto 
de acordo com estudos e várias evidências, as causas são multifatoriais, como alterações de 
ordem genéticas associados a fatores ambientais (BRASIL, 2023). 
O TEA é considerado um espectro de transtorno, por apresentar graus, tipos e gravidade 
variados. Dados do censo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2021, 
apontam que cerca de 2 milhões de Brasileiros apresentam o transtorno atualmente, o que 
significa que 1% da população brasileira estaria dentro do espectro, sendo quatro vezes mais 
comuns e prevalentes em meninos do que em meninas (IBGE, 2021). 
O TEA apresenta alguns sinais como dificuldades na interação social, dificuldade em 
compartilhar pensamentos e sentimentos; restrições na comunicação, podendo ser classificado 
como não verbal, ausência de contato visual e comprometimento de linguagem corporal e 
expressões faciais; resistência e inflexibilidade na mudança de rotinas; Interesses restritos e 
intensos; excessiva sensibilidade sensorial física, intolerância a texturas, cheiros e gostos desde 
os primeiros meses de vida (INSTITUTO NEUROSABER, 2020). 
Ainda de acordo com o mesmo Instituto; outra característica que algumas vezes passam 
despercebidas por seus cuidadores (as), são as restrições alimentares, provenientes da 
sensibilidade a estímulos, como os cheiros, gostos, textura, temperaturas e cores, fazendo com 
18
que a criança recuse certos tipos de alimentos, ou recusa da alimentação em horários e locais 
diferentes do seu habitual. 
O diagnóstico do TEA é realizado por meio de uma avaliação com psicólogos, 
neuropsicólogos, através de testes padronizados (Questionário de Comunicação Social, para 
crianças e a Lista de Verificação Modificada para Autismo, em crianças) para a triagem do 
espectro, e junto aos relatos de pais e cuidadores, observados cuidadosamente (BRIAN, 2022). 
O acompanhamento deve iniciar precocemente, através da estimulação precoce de 
terapias adequadas e de forma contínua desde os primeiros sinais, até mesmo antes do 
diagnóstico para promover o melhor desenvolvimento da criança, assegurando melhor 
qualidade de vida (ANDRADE, 2022). 
A análise do Comportamento Aplicada (ABA), é uma terapia bastante utilizada com 
crianças autistas, pois estas são estimuladas através de reforçamento de habilidades funcionais 
e redução dos comportamentos inadequados. Estas crianças têm a oportunidade de adquirir e 
ou reforçar habilidades cognitivas, sociais de linguagem, comunicação e comportamento 
(MARQUES,1998). 
2.5 MATERNIDADE ATÍPICA: DESAFIOS, NECESSIDADES E A IMPORTÂNCIA DO
SUPORTE INTEGRAL À SAÚDE MENTAL
Lidar com a atipicidade de um filho é uma jornada que transcende expectativas, 
transformando-se em um desafio que se assemelha a um processo de luto, com fases que 
incluem negação, tristeza, culpa e busca por explicações (Almeida, 2023). A vivência da 
maternidade associada a uma deficiência intensifica as pressões internas e externas sobre as 
mulheres que desempenham o papel de mães de crianças atípicas. Essas demandas são 
agravadas por necessidades financeiras, frequentemente resultando em jornadas de trabalho 
mais longas ou no abandono de trajetórias profissionais, além de enfrentarem desafios no 
cuidado com a criança, incertezas relacionadas ao diagnóstico e níveis elevados de estresse 
(FERREIRA, 2018). 
No estudo de Fávero e Santos (2005), feito através de uma revisão de literatura acerca 
do autismo infantil e estresse familiar, demonstrou-se que o impacto nos pais está vinculado ao 
prejuízo cognitivo, gravidade dos sintomas e comportamentos agressivos das crianças com 
Transtorno do Espectro Autista. A demora no diagnóstico, as dificuldades de compreensão e 
manejo do diagnóstico, o acesso limitado a serviços de saúde e a falta de suporte social 
contribuem significativamente para a sobrecarga emocional (GOMES et al., 2015). 
19
As mães, em especial, enfrentam desafios diários decorrentes da falta de informações, 
da ausência de políticas públicas e da carência de apoio social. Essa realidade leva a uma 
dedicação exclusiva ao cuidado do filho atípico, resultando na perda de identidade, papéis e 
vínculos sociais (Almeida, 2023). A sobrecarga materna está intrinsecamente ligada à gestão 
contínua de comportamentos, enfrentamento de dificuldades na comunicação e lidar com 
padrões repetitivos e restritivos (Carvalho, 2019). O isolamento social, muitas vezes perpetuado 
pelo preconceito e estigma, acentua o sofrimento emocional das mães e de suas crianças atípicas 
(ZANATTA et. al, 2014). 
Num contexto tão desafiador, a indagação que se impõe é: qual o suporte disponível 
para aquelas que se dedicam ao cuidado constante? Enfrentar questões relacionadas à 
reabilitação, terapias e à qualidade de vida das crianças atípicas torna-se uma tarefa árdua 
quando as próprias cuidadoras estão fragilizadas. Reconhecer a importância da saúde mental 
dessas mães é essencial para garantir a concretização dos seus direitos e para proporcionar uma 
qualidade de vida que vai além do simples papel de mãe-cuidadora (VIVAS, 2021). 
Nesse sentido, ressalta-se a necessidade de suporte integral a essas mães para lidar com 
a complexidade da maternidade atípica. Este suporte inclui não apenas auxílio emocional, mas 
redes de apoio financeiro, social e familiar. Torna-se evidente a necessidade de políticas 
públicas específicas que compreendam e atendam a essas demandas, garantindo um ambiente 
propício para o desenvolvimento saudável da criança e o bem-estar integral da mãe-cuidadora. 
20
3. DISPOSITIVOS DE ACOLHIMENTO SOCIAL E COMUNIDADES VIRTUAIS 
Este capítulo tem como objetivo aprofundar a compreensão das relações entre 
dispositivos de acolhimento social e comunidades virtuais, especialmente no contexto do 
suporte emocional voltado para mães de crianças atípicas. Inicialmente, abordaremos as 
perspectivas e definições relacionadas aos dispositivos de acolhimento social, indo além das 
estruturas físicas para contemplar discursos, práticas e tecnologias que desempenham papéis 
fundamentais na construção do suporte social. 
Em seguida, exploraremos o universo das comunidades virtuais, destacando o papel em 
ascensão das redes sociais e sua influência na formação de laços online. A análise não se 
restringirá apenas às perspectivas tradicionais, mas também examinará como esses espaços 
digitais oferecem um terreno fértil para o desenvolvimento de redes de apoio emocional. A 
interseção entre dispositivos de acolhimento social e comunidades virtuais será explorada, 
delineando como esses dois domínios interagem e se complementam. 
Por fim, será enfatizado o papel das comunidades virtuais no fornecimento de suporte 
emocional às mães que enfrentam desafios específicos associados à criação de crianças atípicas. 
Este capítulo busca ofereceruma compreensão integrada desses elementos, lançando luz sobre 
as complexas redes de suporte que se manifestam tanto no mundo físico quanto no ambiente 
digital. 
3.1 DISPOSITIVOS DE ACOLHIMENTO SOCIAL: PERSPECTIVAS E DEFINIÇÕES 
O termo "dispositivo" assume significados amplos e múltiplos, como observado no 
Dicionário Online de Português (2019), sua definição abrange funções diversas, podendo 
representar instrumentos, mecanismos de ação para mudanças, aparelhos adaptados, peças, 
prescrições, ordens ou instrumentos para executar ações ou funções.
Na perspectiva foucaultiana, o termo "dispositivo" vai além de meras mudanças, 
abarcando o exercício de controle, organização e o uso de ferramentas de poder em contextos 
sociais. Sales (2016), aprofunda essa compreensão, destacando-o como um elemento dual: um 
instrumento de poder que normatiza subjetividades e uma potência que ensaia modos 
experimentais de subjetivação. 
Nesse contexto teórico, o conceito de "dispositivo" transcende as definições 
convencionais, incorporando discursos, instituições, regulamentações e práticas que exercem 
influência na dinâmica social. Essa concepção ampliada, intrinsecamente ligada ao exercício 
21
do poder, manifesta-se como uma ferramenta multifacetada capaz de induzir transformações e 
exercer controle (FOUCAULT, 2008b). 
No âmbito de nossa pesquisa, o termo "dispositivo" é empregado para descrever uma 
ferramenta metodológica e institucional destinada a acolher mães de crianças atípicas em suas 
vivências, experiências e subjetividades, sendo concebido como um mecanismo de acolhimento 
social. Paralelamente, é possível observar sua aplicação como um instrumento multifuncional 
que desempenha papéis tanto no controle quanto na promoção e manutenção da saúde mental 
dessas mães. Jorge et al. (2009) sugerem que os dispositivos presentes nos serviços de saúde 
mental proporcionam uma compreensão mais profunda das experiências vivenciadas no espaço 
micropolítico, permitindo que os indivíduos se apropriem desses conceitos e potencializem suas 
subjetividades. 
Os autores Romanini, Guareschi e Roso (2017) descrevem o termo Dispositivo como 
uma prática de acolhimento social. Definem o acolhimento como um encontro entre as partes 
envolvidas, ressaltando sua capacidade de construir o comum, manifestando-se nos encontros 
diários entre profissionais e usuários. 
No contexto brasileiro, a noção de acolhimento não é recente, especialmente após 2004, 
quando o Ministério da Saúde reconheceu a prática do acolhimento como estratégia de recepção 
no SUS (Sistema Único de Saúde). Destacado na Implementação da Política Nacional de 
Humanização (PNH) e do Humanizasus, o acolhimento é considerado uma das diretrizes éticas, 
estéticas e políticas mais relevantes. A prática de acolher está intrinsecamente relacionada à 
ideia de "estar com" e "estar próximo", onde a escuta e o vínculo constituem um processo de 
promoção de saúde nos serviços públicos (BRASIL, 2010). 
A prática e a ideia de acolhimento não são novas na psicologia e na saúde mental, 
remontando às reformas sanitária e psiquiátrica. Constituem uma tecnologia de cuidado que 
visa aliviar imediatamente situações de sofrimento, reconhecendo problemas principais e 
recursos pessoais acionáveis em contextos específicos. Em alguns casos, a recepção é percebida 
a partir de uma lógica hierarquizante, como uma ação de menor status no campo da psicologia 
e da saúde (QUADROS, 2020). 
Em suma, o acolhimento social é compreendido como uma ferramenta de apoio e 
cuidado. Aplicado em diversos contextos sociais, especialmente na área da saúde, busca 
humanizar o atendimento, garantir o acesso, escutar as necessidades dos usuários e oferecer 
respostas efetivas para seus problemas. Pesquisas realizadas por Oliveira, Tunin e Silva (2008) 
evidenciam a relevância do acolhimento social como um dispositivo fundamental para a 
22
promoção do bem-estar, autonomia, qualidade de vida e produção de subjetividade, criando 
ambientes acolhedores, empáticos e solidários. 
Nessa perspectiva, Jorge et al. (2009) destacam o acolhimento como um direito à 
singularidade, possibilitando o acesso às tecnologias que melhoram a vida e a construção da 
autonomia dos sujeitos. Ressaltam que o acolhimento não está necessariamente ligado a um 
espaço físico, mas sim a um encontro entre diferentes setores, proporcionando uma escuta atenta 
e experiências vividas que promovem intervenções no cuidado, estabelecendo uma conexão 
significativa entre a pessoa e o mundo vivido. 
Dessa forma, os dispositivos de acolhimento são compreendidos como mecanismos que 
constroem subjetividades, oferecendo olhares livres de julgamento, escuta atenta e espaços 
adequados que promovem o bem-estar dos sujeitos em sofrimento, atendendo às suas demandas 
em um ambiente acolhedor e terapêutico. No estudo de Faro (2019), que analisou mães de 
crianças autistas, evidenciou-se que participar de grupos terapêuticos e de apoio a mães atípicas 
é um fator que reduz o estresse. Diante disso, os dispositivos de acolhimento social 
desempenham um papel crucial na vida das mães de crianças atípicas, oferecendo suporte diante 
da sobrecarga diária resultante dos cuidados com seus filhos. 
A Rede de Apoio Psicossocial (RAPS) é citada como exemplo de dispositivo de 
acolhimento, orientada por diretrizes específicas do Ministério da Saúde (2018). No entanto, é 
necessário investir na infraestrutura desses locais, especialmente aqueles destinados às mães 
atípicas, por meio de políticas públicas que promovam e ofereçam suporte adequado aos 
usuários da RAPS (BRASIL, 2015). 
Em vista desse cenário, a disponibilidade de dispositivos de acolhimento social 
adequados é fundamental. Esses dispositivos devem ser espaços seguros, acolhedores e 
terapêuticos, nos quais as mães possam compartilhar experiências, receber orientação e trocar 
informações com outras pessoas em situações semelhantes. Minetto (2010) ressalta a 
necessidade de redes de apoio específicas e eficientes para pais de filhos com desenvolvimento 
atípico, a fim de reduzir o estresse e orientar práticas educativas. 
Além disso, é essencial que haja investimentos em políticas públicas voltadas para o 
fortalecimento e ampliação desses dispositivos, garantindo acesso igualitário e de qualidade a 
todas as mães atípicas que necessitam de apoio. Ao promover um acolhimento adequado, é
possível contribuir significativamente para a saúde mental, bem-estar e qualidade de vida não 
apenas dessas mães, mas também de seus filhos e famílias. Programas dessa natureza colaboram 
para a redução do estresse parental, favorecendo a elaboração de estratégias de enfrentamento 
23
de situações adversas e contribuindo para a vida social e educacional (MINETTO; LÖHR, 
2012). 
A falta de investimento do Poder Público nessas iniciativas leva, contudo, muitas mães 
a buscar outras formas de apoio. As comunidades virtuais se apresentam, nessa perspectiva, 
como alternativas de suporte para lidar com as adversidades do cotidiano do cuidado de uma 
criança atípica (COLOMÉ; DANTAS; ZAPPE, 2023).
3.2 COMUNIDADES VIRTUAIS 
Historicamente, o ser humano buscou estratégias de sobrevivência para assegurar a 
continuidade de sua espécie, estabelecendo conexões com outros indivíduos e formando 
pequenos agrupamentos, comunidades e, eventualmente, uma civilização. Com o advento da 
Internet e da World Wide Web (www), esse conceito de comunidade transcendeu os limites 
físicos e geográficos, ganhando destaque nos novos ambientes virtuais, conhecidos como 
ciberespaço. Nesses espaços de virtualidade, as pessoas podem construir laços sociais sem a 
necessidade de estarem conectadas fisicamente (LISBÔA; COUTINHO, 2011). 
A expressão "comunidade virtual" tornou-se proeminente desde os primeiros anos deste 
século, especialmente com o avanço da economia digital. No entanto, a falta de consenso na 
definição desse termoé evidente, dada sua inserção em um campo de conhecimento 
multidisciplinar, o que resulta em diversas interpretações moldadas por perspectivas 
sociológicas e tecnológicas distintas (NUNES, 2020). 
Uma das definições mais amplamente aceitas para "comunidade virtual" é oferecida por 
Rheingold (1996). Ele descreve uma comunidade virtual como um conjunto social que emerge 
na rede digital, quando um grupo de indivíduos inicia uma conversa pública com extensão e 
vigor adequados para criar conexões pessoais no ciberespaço. A partir dessa definição 
observamos uma notável expansão na produção de textos que exploram o conceito de 
comunidades virtuais. Embora a expressão seja de compreensão acessível, sua delimitação 
revelou-se desafiadora. 
No artigo de Nunes (2020), mesmo diante da ausência de um consenso consolidado 
sobre a definição, diversos autores de distintas áreas do conhecimento sustentam os elementos 
fundamentais que caracterizam uma sociedade digital, incluindo: comunidades de aprendizado, 
que se referem a grupos de indivíduos reunidos no espaço virtual com a intenção de realizar 
uma atividade específica e alcançar resultados definidos; comunidades orientadas para a prática, 
que são aquelas em que uma extensa coletividade de indivíduos compartilha interesses em uma 
24
prática comum, promovendo a troca de experiências e conhecimentos especializados; e 
comunidades voltadas para o desenvolvimento do conhecimento, que buscam especificamente 
avançar o conhecimento científico através de processos de discussão e intercâmbio de ideias. 
Observa-se que comunidades virtuais orientadas para a prática, como as redes sociais, 
tornam-se uma manifestação dessas transformações, constituindo coletivos de indivíduos com 
interesses comuns. Um exemplo notório é encontrado nas redes sociais de compartilhamento 
de vivências, onde mães atípicas dividem suas dificuldades e angústias, buscando apoio e 
solidariedade com pessoas que compartilham experiências semelhantes. Esses espaços virtuais 
não apenas ampliam as possibilidades de interação, mas também desempenham um papel 
fundamental na construção de redes de apoio e na promoção do compartilhamento de vivências 
(LISBÔA; COUTINHO, 2011). 
3.2.1 Redes Sociais 
O termo "rede social" foi inicialmente empregado em 1954 por Barnes em uma análise 
sociológica das conexões interpessoais. Segundo Barnes (1987), uma rede social é definida pela 
análise e descrição dos processos sociais que englobam conexões além dos limites de grupos e 
categorias. A ideia surge a partir de interações interpessoais entre indivíduos que buscam 
compreender eventos específicos. A universalização de interesses em uma discussão pode ser 
discernida dessas interações, exigindo a reconstrução de um espaço crítico, aberto e plural. 
As redes sociais são caracterizadas com base nessas interações, considerando atores 
(sujeitos) e suas conexões (relações interpessoais). Quando fundamentadas em intercâmbios de 
informações, suporte emocional e apoio afetivo (e/ou financeiro), são identificadas como redes 
de apoio social. A concepção de rede social é uma metáfora para observar um conjunto social, 
configurado pelos vínculos sociais que integram o grupo (MORAIS; LACERDA, 2010).
As redes sociais online têm sido amplamente utilizadas globalmente, facilitando o 
compartilhamento de experiências e conhecimentos, configurando-se como ambiente propício 
para a interação entre usuários e promovendo a aprendizagem colaborativa. As tecnologias 
digitais desempenham papel estratégico de suporte (Cabral, 2020), organizando-se como 
estruturas de relações pautadas em associações. Participantes nas interações encontram 
oportunidades para discutir e fortalecer identidades políticas e sociais, guiadas por afinidades. 
Uma rede social fortalecida, para além de afinidades e interesses compartilhados, 
organizada para proporcionar respaldo, é crucial para a promoção da saúde mental. A expressão 
de afetividade é indispensável para a construção do coletivo (Carvalho, 2019), pois o apoio 
25
social e emocional ganha destaque, configurando-se como um intrincado conjunto de conexões 
interpessoais. 
Essa malha une pessoas e facilita o fluxo de suporte, atuando como proteção contra os 
riscos de doenças relacionadas ao estresse (FERREIRA, 2018). Portanto, vamos explorar não 
apenas a função das redes sociais, mas também sua capacidade de transcender o virtual e
influenciar nossa realidade de maneiras significativas. 
Ao considerarmos esse papel complexo, torna-se essencial diferenciar as plataformas 
rotuladas como redes sociais das verdadeiras redes sociais. Conforme destaca Araújo (2012), 
as plataformas digitais servem como meios de expressão dessas redes, construídas sobre 
relações reais de conexão e interação, desmistificando a concepção de virtualidade. Num mundo 
cada vez mais interconectado, em que a influência das redes sociais ultrapassa as barreiras 
físicas e molda interações sociais e emocionais, é fundamental compreender como esse 
fenômeno impacta coletiva e individualmente, fortalecendo a inteligência coletiva. 
Conforme ressaltado pela mesma autora, é fundamental destacar a diferença entre as 
redes sociais e os sites e aplicativos rotulados como tais. Essas plataformas são simplesmente 
meios digitais usados para expressar uma rede social, ou seja, os laços sociais, e não constituem 
redes sociais em si. As verdadeiras redes sociais residem nas relações de conexão e interação 
que abrigam e proporcionam. 
Destacamos o Facebook, considerado por Recuero (2009) não apenas como uma 
plataforma, mas como um verdadeiro hospedeiro de redes sociais autênticas. Hine (2016) 
ressalta o papel significativo do Facebook como facilitador essencial em pesquisas realizadas 
em grupos digitais. Essa plataforma dinâmica, acessível por diversos equipamentos,
desempenha uma função importante na análise de comunidades, conforme discutido por 
Markham (2017). Aprofundaremos essa análise para compreender como o Facebook transcende 
as fronteiras da conectividade digital. 
3.3 RELAÇÃO ENTRE DISPOSITIVOS DE ACOLHIMENTO SOCIAL E COMUNIDADES 
VIRTUAIS 
Ao abordarmos a natureza dos dispositivos de acolhimento social nas comunidades 
virtuais, é necessário considerar uma interpretação ampla do conceito de "dispositivo", 
conforme apresentado anteriormente. Sob a definição expandida de Foucault (2008b), que 
engloba não apenas mecanismos físicos, mas também discursos, práticas, instituições e 
26
tecnologias que moldam relações de poder e subjetividades, as comunidades virtuais podem ser 
enquadradas nessa categoria. 
Dessa perspectiva, as comunidades virtuais, ao oferecerem espaços de interação online, 
transcendem meramente a função de plataformas tecnológicas. Esses ambientes configuram-se 
como palcos para diversas práticas discursivas, trocas de experiências e construção de 
identidades. Ademais, eles proporcionam um terreno onde formas específicas de poder e 
controle podem se manifestar, ainda que de maneira sutil. Assim, as comunidades virtuais 
podem ser compreendidas como dispositivos que exercem influência nas dinâmicas sociais e 
subjetivas de seus participantes (ALENCAR, 2021). 
Os estudos de Pereira Neto et al. (2015) destacam a capacidade única das comunidades 
online em oferecer suporte, resolver dúvidas e proporcionar um espaço para a troca de apoio. 
O anonimato e a distância desempenham papéis relevantes na influência das interações e na 
comunicação entre os participantes desses ambientes. Nesse sentido, as comunidades virtuais 
podem configurar-se como ambientes seguros ou espaços para a expressão de estilos de vida e 
identidades. 
Na dinâmica das comunidades virtuais, destaca-se a relevância da troca de experiências 
entre os membros, especialmente quando relacionadas ao enfrentamento de desafios, como é o 
caso das situações envolvendo mães de crianças atípicas. A partilha de saberesnesses ambientes 
online não apenas envolve informações práticas e objetivas, mas vai além, conectando-se ao 
universo empírico e cultural dos participantes (FERNANDES; CALADO E ARAÚJO, 2018). 
Dentro desse contexto, os grupos virtuais emergem como espaços propícios não apenas 
para o compartilhamento de informações, mas também para a expressão de narrativas pessoais 
e a valorização das nuances, promovendo uma abordagem mais integrada e sensível aos 
desafios enfrentados pelos participantes. 
3.4 O PAPEL DAS COMUNIDADES VIRTUAIS NO SUPORTE EMOCIONAL A MÃES 
DE CRIANÇAS ATÍPICAS 
A presença de uma condição crônica, inevitavelmente impacta as interações do 
indivíduo com seus círculos sociais, que incluem família, comunidade, escola e profissionais 
de saúde (Ferreira e Smeha, 2011). Nessas situações, as mães de crianças atípicas buscam 
suporte em redes sociais para enfrentar as dificuldades, uma vez que os espaços físicos de 
acolhimento são escassos. Essas redes virtuais oferecem um ambiente onde compartilham 
experiências, desabafam sobre suas sobrecargas e encontram suporte emocional. 
27
Essas comunidades virtuais assumem um papel crucial para essas mulheres, 
proporcionando suporte, reconhecimento, conexão e estabilidade na experiência materna. Além 
de serem pontos de identidade psicológica e apoio emocional, as redes sociais focadas em mães 
que compartilham realidades semelhantes também se configuram como um movimento político 
de conscientização e ampliação das discussões sobre a inclusão de pessoas com deficiência na 
sociedade (CASSELATO, 2015). 
Nesse sentido de resistência, as comunidades virtuais se tornam não apenas locais de 
apoio individual, mas também espaços de diálogo e engajamento social. Ao participarem de 
redes sociais centradas na maternidade atípica, as mães encontram fortalecimento emocional, 
sentindo-se parte de um grupo organizado que busca seus direitos nas esferas social, acadêmica 
e política (Soares e Carvalho, 2017). As conexões formadas nessas comunidades variam, 
envolvendo diferentes dinâmicas, perspectivas e interações. Embora amizade, compreensão e 
companheirismo possam ser elementos presentes, é relevante destacar a diversidade de opiniões 
e experiências que caracterizam esses ambientes. 
Constantinidis e Pinto (2020), em seu estudo sobre mães de crianças com autismo, 
enfatizam a identificação através do sofrimento, resultando na formação de uma rede de apoio. 
Em vez de permanecerem resignadas diante dos desafios, o grupo de mães atua de maneira 
ativa, envolvendo-se com sua dor e respondendo às situações angustiantes. O compartilhamento 
da experiência de maternidade atípica em comunidades virtuais contribui para a saúde mental 
dessas mães, ampliando conexões e fortalecendo a noção de uma rede de apoio. Esse 
compartilhamento não apenas favorece o suporte emocional individual, mas cria uma 
resistência coletiva contra estigmas e preconceitos relacionados à maternidade atípica.
Nessa perspectiva de comunicação, as redes sociais associadas às políticas públicas 
apresentam um potencial para uma comunicação dialógica entre o Estado e a sociedade civil. 
Essa dinâmica vai além da disseminação de informações, focando na co-criação de espaços 
colaborativos para a troca de experiências e reflexão coletiva sobre a realidade da rede de saúde 
e suas complexidades (CARVALHO, 2019). 
Sob uma abordagem pragmática, as redes sociais podem desempenhar funções como 
dispositivos de capacitação, criação de comunidades, estímulo ao diálogo e ativação de redes 
construídas a partir da experiência. A análise destaca que essas redes podem ser instrumentos 
essenciais para a formação em saúde, construção de acervo de experiências/conhecimentos, 
colaboração clínica, disseminação e co-criação de espaços para compartilhar experiências no 
desenvolvimento das políticas públicas de saúde (FERIGATO, 2018). 
28
4. ANÁLISE DO DISCURSO UMA VISÃO FOUCAULTIANA DAS RELAÇÕES DE 
PODER 
4.1 CONCEITO ANÁLISE DO DISCURSO 
De acordo com a visão de Foucault (2008a), a linguagem desempenha um papel 
fundamental como uma das principais ferramentas de poder. Nessa perspectiva, a análise do 
discurso se torna uma maneira relevante de compreender como essa ferramenta é utilizada para 
controlar as ideias e ações das pessoas. Foucault também destaca que o discurso não é apenas 
uma expressão das lutas ou sistemas de dominação existentes, mas é o próprio objeto das 
relações de poder que permeiam a sociedade. Dessa forma, a análise do discurso desempenha 
um papel importante ao revelar os mecanismos de poder presentes nos discursos que circulam 
em nossa sociedade. 
Sob esse olhar, é fundamental compreender que o discurso não pode ser encarado como 
algo neutro, mas sim como uma construção profundamente influenciada pelo contexto social e 
histórico em que é produzido e recebido. Segundo Foucault (2008b, p. 08), "O discurso não é 
simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo 
que se luta, o poder do qual 
poderosa ferramenta utilizada para moldar e manter relações de poder na sociedade, indo além 
de uma simples transmissão de informações de forma neutra e objetiva. 
De acordo com Foucault em "A Ordem do Discurso" (1996), o discurso não se resume 
a uma mera representação de conflitos ou sistemas de dominação; é, na verdade, uma batalha 
pela conquista do poder almejado. O discurso emerge como uma ferramenta poderosa para 
moldar e perpetuar relações de poder na sociedade, indo além da simples transmissão neutra e 
objetiva de informações. Essa perspectiva ampliada nos leva a reconhecer que as palavras não 
são apenas veículos de comunicação, mas instrumentos ativos que participam ativamente na 
construção e negociação do poder dentro das dinâmicas sociais. 
Ainda em sua obra acerca do discurso, Foucault indica a existência de um "discurso de 
verdade" que está presente em nossa sociedade. Este discurso emana de indivíduos que detêm 
expertise em determinado tema ou ocupam uma posição de privilégio e poder, fazendo 
referência aos pensadores da Grécia Antiga (Foucault, 1996). Para aqueles desprovidos de 
poder ou controle sobre suas palavras, ou que não filtram e investigam os conteúdos e 
informações que consomem, resta o senso comum. O senso comum ouve repetidamente a 
mesma declaração e a aceita como verdade, mesmo sem compreender seus contextos. 
29
Nesse entendimento, a análise do discurso, fundamentada nas contribuições teóricas de 
Foucault (2008b), nos possibilita uma compreensão mais aprofundada das dinâmicas de poder 
presentes nos discursos e das formas como eles influenciam nossas vidas e relações sociais. Ao 
desvelar os mecanismos de poder subjacentes aos discursos, podemos desenvolver uma 
consciência crítica e promover transformações que visem a construção de uma sociedade mais 
justa e igualitária. 
4.2 CONCEITO DE BIOPODER 
O conceito de biopoder desenvolveu-se a partir do século XVII em duas formas 
principais, as quais não são excludentes, mas sim complementares (Foucault, 1988; Dreyfus, 
1995) A primeira surgiu no século XVII e assumiu a forma da anatomopolítica do corpo e dos 
procedimentos disciplinares. Esses procedimentos tinham como objetivo extrair do corpo sua 
força útil, utilizando uma tecnologia de poder centrada no corpo enquanto máquina. Ou seja, o 
corpo era visto como passível de ser treinado e ampliado para gerar força de trabalho para o 
sistema econômico, resultando na produção de um corpo dócil direcionado à produção. Esse 
controle sobre o corpo individual caracteriza o poder disciplinar (RABINOW, 2006). 
A segunda forma emergiu um pouco mais tarde, por volta da metade do século XVIII, 
e concentrou-se na retirada da vida da espécie do corpo individual. Nesse caso, o poder passou 
a se interessar pela vida do ser vivo em seus processos biológicos, como a capacidade de 
reprodução, taxas de natalidade/mortalidade,longevidade, entre outros fenômenos relacionados 
à vida, que passaram a ser objetos de intervenção política. Esse controle sobre o corpo-espécie 
caracteriza a biopolítica. A conexão entre o poder sobre o corpo-individual e o poder sobre o 
corpo-espécie, estabelecida a partir do século XIX, define o termo "biopoder". Trata-se de um 
poder cuja tecnologia integra dois elementos fundamentais para o controle da vida: os 
desempenhos do corpo e os processos vitais (ZORZANELLI E CRUZ, 2018).
O conceito de biopoder, conforme abordado por Maria Muhle (2021) em seu artigo 
"Uma genealogia da biopolítica: a noção de vida em Canguilhem e Foucault", baseia-se nas 
ideias desenvolvidas por Michel Foucault ao longo de sua obra. Segundo a autora o biopoder 
refere-se ao exercício do poder sobre a vida e os processos vitais da população, e representa 
uma mudança significativa em relação ao poder soberano, que se concentrava na punição e na 
morte. 
O biopoder é um poder produtivo, além de repressivo. Ele não apenas controla e regula 
a vida, mas também busca maximizar a eficiência e a produtividade da população. Nesse 
30
sentido, as políticas de saúde pública, os programas de assistência social e os dispositivos de 
controle populacional são exemplos de estratégias biopolíticas que visam melhorar a qualidade 
de vida e garantir a sobrevivência da sociedade como um todo (MUHLE, 2021). 
No entanto, o biopoder também levanta questões éticas e políticas importantes. A 
centralização do poder sobre a vida coloca em risco a autonomia e a liberdade individual, uma 
vez que impõe normas e padrões que nem sempre correspondem aos desejos e necessidades das 
pessoas. Além disso, o biopoder cria relações assimétricas de poder, nas quais alguns grupos 
são privilegiados em detrimento de outros (MUHLE, 2021). 
centralizado apenas no Estado, mas está disperso em várias instituições e práticas sociais. Ele 
explora como o conhecimento é uma forma de poder e como as instituições, incluindo o Estado, 
exercem controle através do saber. Isso se manifesta nas instituições disciplinares, como 
escolas, prisões e hospitais, onde o conhecimento é utilizado como uma ferramenta para 
normalizar e controlar corpos e comportamentos. Além disso, Foucault discute a biopolítica, 
onde o Estado exerce poder sobre a vida da população, não apenas nos níveis individuais, mas 
também nas questões relacionadas à saúde, reprodução e gestão populacional. Nesse contexto, 
o saber torna-se uma ferramenta crucial para governar e regular a vida. 
Diante disso, o conceito de biopoder proposto por Foucault (1975) e explorado por 
Muhle (2021) nos convida a uma reflexão crítica sobre as implicações do poder sobre a vida e 
os corpos. Ele nos alerta para a necessidade de questionar as estratégias de controle e regulação 
implementadas, bem como de buscar formas de resistência e de reivindicar a autonomia e a 
liberdade diante do poder biopolítico. 
4.3 BIOPODER E DISPOSITIVOS DE ACOLHIMENTO PARA MÃES DE CRIANÇAS 
COM DESENVOLVIMENTO ATÍPICO: RELAÇÕES DE PODER E ANÁLISE DO
DISCURSO 
A aplicação da análise do discurso de Foucault e do conceito de biopoder no estudo dos 
dispositivos de acolhimento social para mães de crianças com desenvolvimento atípico abre 
espaço para uma investigação crítica das dinâmicas de poder presentes nesse contexto. Através 
da análise do discurso, é possível examinar como práticas e discursos institucionais constroem 
noções de normalidade e anormalidade, influenciando as expectativas em relação às mães e 
suas crianças (Muhle, 2021). 
31
Foucault (1975) argumenta que os dispositivos de poder não se restringem apenas à 
repressão, mas também operam por meio da regulação e produção da vida. Nessa perspectiva, 
os dispositivos de acolhimento social para mães de crianças com desenvolvimento atípico 
podem ser entendidos como estratégias biopolíticas que visam normatizar e controlar essas 
vidas, buscando a regulação dos corpos e comportamentos das mães, bem como a maximização 
da eficiência e da normalização social. 
Ao examinarmos os dispositivos de acolhimento social sob a ótica da análise do discurso 
de Foucault, podemos compreender como práticas e discursos presentes nesses espaços 
constroem noções de normalidade e anormalidade, moldando as expectativas em relação às 
mães e suas crianças. Conforme apontado por Muhle (2021), esses discursos têm o poder de 
influenciar a percepção das mães sobre si mesmas e sobre seus filhos, podendo contribuir para 
a criação de identidades estigmatizadas ou patologizadas. 
O conceito de biopoder, segundo Foucault (1975), nos incita a questionar como esses 
dispositivos atuam na gestão da vida. O biopoder de acordo com o referido autor refere-se, 
nesse sentido, ao controle exercido sobre a vida dos indivíduos e das populações, com o objetivo 
de moldar e regular a vida em termos de eficiência, produtividade e normalização. No contexto 
dos dispositivos de acolhimento social para mães de crianças com desenvolvimento atípico, 
podemos perceber a presença desse biopoder, que não se limita apenas a oferecer apoio, mas 
também busca moldar comportamentos e atitudes das mães. 
É importante considerar que a regulação da vida materna por meio desses dispositivos 
pode restringir a liberdade e a autonomia das mães, impondo expectativas sociais e limitando 
suas escolhas, conforme nos alerta o estudo de Muhle (2021). O biopoder envolve a sujeição 
dos corpos individuais e a gestão das populações, com o propósito de buscar a normalização e 
a maximização da vida. Nesse sentido, os dispositivos de acolhimento social podem ser vistos 
como mecanismos de poder que visam governar e regular as vidas das mães e suas crianças, 
estabelecendo padrões e normas de conduta. 
Assim, ao abordar os dispositivos de acolhimento social para mães de crianças com 
desenvolvimento atípico à luz dos conceitos de Foucault, desvelamos não apenas práticas 
regulatórias, mas também o impacto significativo dessas dinâmicas nas vidas das mães. Essa 
compreensão mais profunda é essencial para fomentar reflexões críticas e propor alternativas 
que respeitem a diversidade de trajetórias maternas, afastando-se de padrões normativos que, 
muitas vezes, perpetuam desigualdades e estigmas. 
32
5. ANÁLISE DE DADOS
5.1 METODOLOGIA 
Para a metodologia optamos por uma abordagem qualitativa e exploratória com análise 
do discurso utilizando como base a teoria de Michel Foucault. Para entender como funciona a 
dinâmica das comunidades virtuais de apoio às mães atípicas, fizemos o estudo em uma rede 
social, o Facebook como plataforma de investigação devido a eficaz interação entre membros 
e à organização das postagens, que simplifica a identificação de grupos de apoio e movimentos 
relacionados por meio de perfis especializados. Essa característica facilitou a localização de 
comunidades relevantes para a nossa pesquisa, justificando a escolha do Facebook em 
detrimento de outras plataformas. 
A finalidade do estudo foi compreender o papel das comunidades virtuais no suporte 
emocional a mães de crianças atípicas e analisar as interações entre as mães de crianças atípicas 
como rede de cuidado para a saúde mental. 
Como observadoras não participantes, aplicamos a análise do discurso influenciada pela 
perspectiva de Michel Foucault para desvendar os significados subjacentes e as complexas 
dinâmicas de poder presentes nessas interações online. Nesse contexto, a abordagem 
foucaultiana para a análise do discurso se revelou fundamental, ao destacar a importância das 
práticas discursivas na construção de objetos de conhecimento e como os discursos produzem 
verdades que afetam as subjetividades e os modos de existir dos sujeitos (Foucault, 2008). Além 
disso, nossas escolhas metodológicas incorporaram conceitos foucaultianos, como a noção de
poder como algo não apenas opressor, mas produtivo, que age em nível microfísico, 
influenciandoas normatividades e condutas (FOUCAULT, 2008b). 
dessa comunidade no Facebook decorreu de uma pesquisa orientada pelas palavras-chave 
"apoio a mães atípicas". A decisão de focar nesse grupo específico foi motivada por diversas 
características distintivas. Dentre essas, destaca-se o considerável número de membros, 
contando com aproximadamente 13,2 mil participantes, o que reflete uma comunidade ativa e 
significativa. Adicionalmente, é relevante mencionar a continuidade de suas atividades ao longo 
de um ano, demonstrando estabilidade e consistência. 
A confiabilidade das discussões no grupo foi reforçada pelas diretrizes que proíbem a 
divulgação de conteúdo relacionado a questões religiosas, políticas e quaisquer manifestações 
de preconceito. Essas orientações tornaram o grupo relevante para nossa pesquisa, e sua 
33
característica de ser de acesso público simplificou a obtenção de conteúdo sem a necessidade 
de aprovação prévia. 
Para coletar dados dentro da comunidade escolhida, realizamos uma pesquisa utilizando 
a ferramenta de busca do Facebook com palavras-chave específicas, tais como 'apoio 
selecionamos postagens e comentários dos últimos 6 meses do ano de 2023- maio a outubro - 
devido ao curto prazo para análise de dados para realização do TCC. 
Neste prazo foram coletados 27 postagens de acordo com os descritores e critérios de 
inclusão adotados que foram as postagens e comentários que abordassem claramente o uso das 
redes sociais para apoio emocional e busca de informação e os critérios de exclusão foram 
postagens e comentários de perfis comerciais; as que não tinham o intuito de buscar 
informações e apoio emocional; e as que não eram publicadas por mães atípicas. Após essa 
etapa, fizemos o recorte e seleção de 18 postagens e 18 comentários. 
A extração de dados foi feita por meio de prints de tela do computador. Ao realizar esse 
processo, tivemos o cuidado de preservar o anonimato do pesquisador e dos integrantes da 
comunidade virtual. Por essa razão, foram apagados nomes, fotos e dados de endereço e telefone 
presentes nas postagens e comentários de todos os participantes. Para seleção configuramos os 
filtros de pesquisa para abranger qualquer data de publicação, dentro deste período estabelecido 
independentemente do autor, em qualquer local dentro do grupo, incluindo publicações que 
tínhamos e não tínhamos visualizado, bem como publicações recentes e não recentes. Essa 
abordagem foi adotada com o propósito de assegurar a precisão e a abrangência da coleta de 
dados, além de mitigar possíveis ambiguidades na seleção dos conteúdos pertinentes. 
Consideramos as questões éticas relacionadas à coleta e análise de dados. Como essa 
pesquisa foi conduzida em uma comunidade pública e não identificamos membros específicos, 
não foi necessário obter consentimento individual. Isso é consistente com o princípio de 
preservação da privacidade dos participantes, pois não divulgamos informações pessoais. 
Diante de muitas narrativas de mulheres-mães devido ao engajamento dos membros no 
grupo, as falas lidas serão analisadas por meio da análise do discurso, de cunho foucaultiano. 
Os discursos foram separados em 5 categorias: Categoria 1 - Suporte Emocional As 
comunidades virtuais como locais de acolhimento; Categoria 2 - Emprego, Demissões e 
Angústias Como fatores que provocam o adoecimento mental; Categoria 3 - Comunidades 
Virtuais e a busca de informações; Categoria 4 - Estado; Dispositivos Sociais e Desamparo (O 
Estado e a ausência de dispositivos de acolhimento sociais); e Categoria 5 - Medicalização e 
Normalização do Corpo. 
34
A escolha dessa abordagem metodológica permitiu uma análise aprofundada das 
interações nas comunidades virtuais de apoio a mães atípicas, contribuindo para uma 
compreensão mais detalhada das dinâmicas de poder, da construção discursiva e das práticas 
sociais presentes nesse contexto. A segmentação dos discursos em categorias específicas 
ofereceu uma visão mais completa das diferentes dimensões das experiências das mães, 
enriquecendo nosso entendimento sobre o papel dessas comunidades no suporte emocional e 
nas estratégias de enfrentamento diante das complexidades do desenvolvimento atípico infantil. 
5.2 CATEGORIAS UTILIZADAS PARA ANÁLISE DO DISCURSO 
5.2.1 Categoria 1. Suporte Emocional As comunidades Virtuais como Locais de 
Acolhimento 
As postagens revelam um cenário complexo em que mães compartilham suas 
experiências emocionais, destacando a sobrecarga, a solidão e o esgotamento físico e 
psicológico enfrentado no cuidado de filhos com necessidades especiais. A teoria foucaultiana 
pode ser aplicada para entender como esses discursos refletem dinâmicas de poder e construção 
de conhecimento dentro do grupo.
Postagem 1 
Comentário 1 
35
Comentário 2 
Nessa primeira postagem podemos ver o desabafo de uma mãe atípica e que houve uma 
grande quantidade de comentários (46) e de reações (72) demonstrando mobilização e 
acolhimento de outras mães do grupo para respondê-la e apoiá-la. 
Esta narrativa apresenta o discurso de uma mãe angustiada e esgotada psicologicamente. 
Essas mães atípicas vivem e são as protagonistas da experiência e compartilham 
simultaneamente essas vivências através de postagens e comentários em um espaço público 
como a Comunidade do Facebook, que acaba funcionando como o ambiente virtual comunitário 
de muitas mulheres-mães. Em outras palavras, é a contextualização de uma experiência que se 
desenrola fora de nós (por ocorrer no Facebook), mas que também encontra seu lugar na pessoa 
que vivencia a experiência e, por conseguinte, é capaz de narrar. Notavelmente, ambas as mães 
que comentam a Postagem 1 trazem consigo relatos de suas experiências de maneira subjetiva. 
São vivências singulares, reflexivas e que não são consideradas como verdades universais e 
absolutas. 
Considerando os comprometimentos e atrasos que pode acarretar no desenvolvimento 
da criança, de acordo com Russa et al. (2015), o autismo pode ser considerado como um 
estressor potencial, sendo observado que famílias de crianças com esse diagnóstico tendem a 
apresentar maiores níveis de estresse comparativamente a famílias de crianças típicas ou 
com outros tipos de deficiência. Portanto percebe-se no discurso dessas mães esses estressores 
do dia a dia. 
Pesquisadores de diferentes regiões e países identificam a presença de estresse agudo 
em famílias que contam com um membro diagnosticado com autismo. Particular destaque tem 
sido dado ao estresse enfrentado pelas mães de crianças com Transtorno do Espectro Autista 
(TEA), devido ao papel central de cuidadora que ainda lhes é designado em nossa sociedade 
(CHRISTMANN, et.al, 2015). 
Essas mulheres-mães trazem em suas narrativas o contexto da experiência nos seus 
lares, as dificuldades que carregam consigo e por isso buscam externalizar para outras pessoas 
que podem estar passando por vivências parecidas, a fim de encontrar apoio. Diante disso, as 
postagens revelam um cenário complexo em que mães compartilham suas experiências 
emocionais, destacando a sobrecarga, a solidão e o esgotamento físico e psicológico enfrentado 
no cuidado de filhos com necessidades especiais. Foucault (2002) argumenta que o poder não 
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é apenas coercitivo, mas também produtivo, moldando subjetividades e criando normas. Nesse 
contexto, as mães, ao compartilharem suas experiências, participam na criação de uma narrativa 
coletiva que influencia a percepção do que é ser mãe de uma criança atípica. 
A citação, "Juro que estou além do meu limite," expressa a intensidade do estresse 
vivenciado por essa mãe. Ao analisar a fala à luz da teoria foucaultiana, podemos entender que 
a mãe está envolvida em um discurso que não apenas descreve suas dificuldades, mas também 
participa na construção de uma narrativa coletiva sobre as pressões enfrentadas pelas mães de 
crianças atípicas. O compartilhamento

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