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ENTREGA DE COISA CERTA I

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EXECUÇÃO EM ESPÉCIE: EXECUÇÃO PARA ENTREGA DE COISA 
 
 
O Código de Processo de 2015 trata, no Livro II, do processo de execução fundada 
em título extrajudicial. A execução fundada em título judicial, que corresponde a 
cumprimento de sentença, encontra-se no Livro I, Título II. Agora, serão abordadas 
as espécies procedimentais, a começar pela execução de título extrajudicial cujo objeto 
será a entrega de coisa. Algumas informações sobre esse tema, no entanto, estão 
contidas na parte de cumprimento de sentença do CPC. 
 
 A execução para entrega de coisa é tratada pelo art. 806: 
 
Art. 806. O devedor de obrigação de entrega de coisa certa, constante de título executivo extrajudicial, 
será citado para, em 15 (quinze) dias, satisfazer a obrigação. 
§ 1º Ao despachar a inicial, o juiz poderá fixar multa por dia de atraso no cumprimento da obriga- ção, 
ficando o respectivo valor sujeito a alteração, caso se revele insuficiente ou excessivo. 
§ 2º Do mandado de citação constará ordem para imissão na posse ou busca e apreensão, confor- me se 
tratar de bem imóvel ou móvel, cujo cumprimento se dará de imediato, se o executado não satisfizer a 
obrigação no prazo que lhe foi designado. 
 
O caput do art. 806 especifica se tratar de “coisa certa”, que é diferente de coisa incerta. 
No Direito Civil, também se fala em dar (no sentido de “entregar”, que é o termo usado 
pelo CPC) coisa certa ou incerta. Nesse caso, coisa incerta é aquela tratada pelo 
gênero, quando não há individualização do bem pelo ato da escolha. A coisa 
incerta, no Direito Civil, não é perecível. 
A coisa certa, por sua vez, é o bem que já foi escolhido, que já foi individualizado, 
não se tratando mais apenas de gênero. 
O caput também especifica se tratar de título de execução extrajudicial. Não é, portanto, 
um cumprimento de sentença. Nesta, o ato de comunicar o devedor que ele tem uma 
obrigação para satisfazer é a intimação. 
 
 
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A intimação é um aviso sobre algo que ocorre no processo e é dirigida a alguém 
que já participa do processo ou que, não participando, não necessita ser incluída 
nele. 
Na execução de coisa certa, por ser um título de execução extrajudicial, o 
devedor deve ser citado, e não intimado. A citação inaugura um processo de 
execução, ou seja, uma nova relação processual (ver art. 238 do CPC). Essa 
citação pode ser feita de todas as formas (eletrônica, correios, oficial de justiça, 
edital, etc.), sendo preferencialmente por meio eletrônico, conforme art. 247. Não 
há mais, portanto, aquela restrição prevista pelo art. 222 do Código de Processo 
Civil de 1973, que definia, na sua alínea “d”, que a citação por cor- reios era 
vetada a execução de título extrajudicial. 
 
A citação ficta (por hora certa ou por edital) merece, nesse caso, um pouco de 
atenção. Nas ações de conhecimento, em que a premissa é a dúvida e a lide 
ainda não foi resolvida, se o réu tornar-se revel após citação ficta, o juiz deve 
nomear um curador especial. Nas execuções de título extrajudicial, que 
trabalham com uma certeza e em que a lide já foi resolvida, se o executado 
quedar-se após a citação ficta, não entregando ou embargando, ainda haverá 
necessidade de nomear um curador especial, conforme Súmula 196 do STJ. 
O caput do art. 806 também define um prazo de 15 dias para o executado 
satisfazer a obrigação após a citação. Ele não menciona a intimação, 
aparentando ter misturado os dois tipos de comunicação. Os 15 dias devem ser 
úteis, e não corridos, por se tratar de um prazo processual. 
 
Petição Inicial 
 
A petição inicial de uma ação de conhecimento é descrita nos arts. 319 e 320, 
do Livro I do CPC. Os equivalentes a esse dispositivo, no Livro II, são os arts. 
798 e 799, que são essenciais para entender a execução de títulos 
extrajudiciais. 
O art. 798 trata especificamente da petição inicial de execução por quantia certa, 
mas traz pontos válidos para a petição inicial de execução para entrega de coisa. 
As informações requeridas na alínea “b” do inciso II podem ser obtidas mediante 
requerimento ao juiz de que se faça consulta no banco de dados do Poder 
Judiciário. 
 
Art. 798. Ao propor a execução, incumbe ao exequente: 
I – instruir a petição inicial com: 
a) o título executivo extrajudicial; 
 
 
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b) o demonstrativo do débito atualizado até a data de propositura da ação, quando se tratar de 
execução por quantia certa; 
c) a prova de que se verificou a condição ou ocorreu o termo, se for o caso; 
d) a prova, se for o caso, de que adimpliu a contraprestação que lhe corresponde ou que lhe asse- 
gura o cumprimento, se o executado não for obrigado a satisfazer a sua prestação senão mediante a 
contraprestação do exequente; 
II – indicar: 
a) a espécie de execução de sua preferência, quando por mais de um modo puder ser realizada; 
b) os nomes completos do exequente e do executado e seus números de inscrição no Cadastro de 
Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica; 
c) os bens suscetíveis de penhora, sempre que possível. 
Parágrafo único. O demonstrativo do débito deverá conter: 
I – o índice de correção monetária adotado; 
II – a taxa de juros aplicada; 
III – os termos inicial e final de incidência do índice de correção monetária e da taxa de juros 
utilizados; 
IV – a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso; 
V – a especificação de desconto obrigatório realizado. 
Art. 799. Incumbe ainda ao exequente: 
I – requerer a intimação do credor pignoratício, hipotecário, anticrético ou fiduciário, quando a pe- 
nhora recair sobre bens gravados por penhor, hipoteca, anticrese ou alienação fiduciária; 
II – requerer a intimação do titular de usufruto, uso ou habitação, quando a penhora recair sobre 
bem gravado por usufruto, uso ou habitação; 
III – requerer a intimação do promitente comprador, quando a penhora recair sobre bem em relação 
ao qual haja promessa de compra e venda registrada; 
IV – requerer a intimação do promitente vendedor, quando a penhora recair sobre direito aquisitivo 
derivado de promessa de compra e venda registrada; 
V – requerer a intimação do superficiário, enfiteuta ou concessionário, em caso de direito de super- 
fície, enfiteuse, concessão de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito real de uso, 
quando a penhora recair sobre imóvel submetido ao regime do direito de superfície, enfiteuse ou 
concessão; 
VI – requerer a intimação do proprietário de terreno com regime de direito de superfície, enfiteuse, 
concessão de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito real de uso, quando a penhora 
recair sobre direitos do superficiário, do enfiteuta ou do concessionário; 
VII – requerer a intimação da sociedade, no caso de penhora de quota social ou de ação de socie- 
dade anônima fechada, para o fim previsto no art. 876, § 7º; 
VIII – pleitear, se for o caso, medidas urgentes; 
IX – proceder à averbação em registro público do ato de propositura da execução e dos atos de 
constrição realizados, para conhecimento de terceiros. 
X – requerer a intimação do titular da construção-base, bem como, se for o caso, do titular de lajes 
anteriores, quando a penhora recair sobre o direito real de laje; (Incluído pela Lei n. 13.465, de 2017) 
 
 
 
 
 
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XI – requerer a intimação do titular das lajes, quando a penhora recair sobre a construção-base. 
(Incluído pela Lei n. 13.465, de 2017) 
 
 
 
 
 
 
 
 
Após realizada a petição inicial, que deve preencher os requisitos apresentados 
nos arts. 798 e 799, haverá distribuição (registro) da petição inicial e o juiz dará 
um despacho deter- minando a citação do executado, que, como visto acima, 
pode ocorrer por qualquer modali- dade, sendo preferencialmente citação 
eletrônica (conforme art. 246, com redação definida pela Lei n. 14.195de 2021). 
Lembrando que o art. 247 do CPC de 20215 difere do art. 222 do CPC de 1973, 
ao qual equivalia, por não mais restringir a citação de execução de título 
extrajudicial à modalidade oficial de justiça. Um enunciado do Conselho da Justiça 
Federal (CJF), inclusive, tratou sobre essa novidade: 
 
Enunciado 85 da I Jornada de DPC do CJF: na execução de título extrajudicial ou judicial (art. 
515, § 1º, d CPC) é cabível citação postal. 
 
Por fim, após a citação, passa a vigorar o prazo de 15 dias úteis, como vista 
acima.

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