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Vírion Envelope viral em formação Capsídio sendo envolvido pela membrana Membrana plasmática CITOPLASMA Capsídios MEIO EXTRACELULAR Proteínas virais Célula infectada liberando vírions Vírions FORMAÇÃO DE VÍRIONS R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 54 U n id a d e B • Ví ru s, m o n e ra s, p ro to ct is ta s e f u n g o s A partícula viral, quando está fora da célula hospedeira, é denominada vírion; cada tipo de vírus apresenta vírions de formato característico. (Fig. 2.4) Tanto o capsídio (no caso de vírus não envelopados) como o envelope lipoproteico (no caso de vírus envelopados) contêm proteínas, denominadas ligantes, capazes de se encaixar em determina- das proteínas presentes na membrana da célula hospedeira, denominadas receptores virais. Para invadir uma célula, um vírus tem de se encaixar perfeitamente nos receptores presentes na membrana celular, como uma chave se encaixa em uma fechadura. É justamente a necessidade dessa associação exata às proteínas celulares que torna os vírus tão específicos: eles só conseguem infectar células que possuam receptores compatíveis com os ligantes de seu envoltório. Por exemplo, o ligante do vírus da gripe é a hemaglutinina, substância que se liga especificamente a receptores presentes principalmente em células do epitélio das vias respiratórias e dos pulmões. Consequen- temente, esse vírus penetra e se multiplica mais facilmente nesses tipos de célula. O vírus da raiva, por sua vez, liga-se a receptores presentes em células nervosas de diversos mamíferos, como cães, morcegos e seres humanos. Como as membranas plasmáticas das células nervosas dessas espécies têm o mesmo tipo de receptor, o vírus da raiva pode infectá-las e ser transmitido entre elas. Depois de se ligar aos receptores da membrana, o vírus infecta a célula; isso se dá por meio de processos que variam conforme os diferentes tipos de vírus. Alguns deles, como os bacteriófagos, injetam apenas o ácido nucleico na bactéria, ficando o capsídio proteico do lado de fora. Figura 2.4 Acima, representação esquemática do processo de formação do envelope lipoproteico viral e da liberação dos vírions. Proteínas virais são adicionadas à membrana plasmática da célula hospedeira; o capsídio é envolvido pela membrana, que passa a constituir o envelope viral. (Imagens sem escala, cores-fantasia.) À direita, micrografias ao microscópio eletrônico de transmissão, colorizadas artificialmente, mostrando etapas da liberação do HIV por uma célula hospedeira (aumento 66.700 3). INJEÇÃO DE DNA Bactéria hospedeira Receptores celulares do vírus MEIO EXTERNO CITOPLASMA Ligantes Receptores celulares do vírus CapsídioCapsídio Ácido nucleico viral Envelope Célula hospedeira FUSÃO DO ENVELOPE VIRAL Ácido nucleico viral Ácido nucleico viral Receptores celulares do vírus Ligantes Envelope Célula hospedeira ENDOCITOSE Capsídio A B C R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 55 C a p ít u lo 2 • Ví ru s Certos vírus envelopados, entre eles o HIV, penetram na célula por meio da fusão de seu envelope membranoso com a membrana celular. Nesse caso, a membrana do vírus incorpora-se à membrana plasmática da célula hospedeira, da qual passa a fazer parte, e apenas o nucleo- capsídio penetra no citoplasma, onde as proteínas virais são degradadas por enzimas celulares e o ácido nucleico é liberado. Outros vírus penetram na célula por endocitose, processo em que são englobados ativamente pela membrana celular, após esta ter sido estimulada pelos ligantes virais. Uma vez no citoplasma, a bolsa membranosa com o vírus englobado funde-se a lisossomos, estruturas celulares ricas em enzimas, que digerem os componentes proteicos virais e libertam o ácido nucleico. (Fig. 2.5) Figura 2.5 Os vírus podem penetrar na célula hospedeira basicamente de três maneiras: A. injetando apenas o ácido nucleico, como os bacteriófagos; B. por fusão do envelope viral à membrana plasmática, como o HIV; C. por endocitose, como o vírus da gripe. (Imagens sem escala, cores-fantasia.) AMPLIE SEUS CONHECIMENTOS AMPLIE SEUS CONHECIMENTOS R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 56 U n id a d e B • Ví ru s, m o n e ra s, p ro to ct is ta s e f u n g o s A descoberta dos vírus A história da descoberta dos vírus começou em 1883, com os trabalhos do pesquisador alemão Adolf Mayer (1843-1942). Ele estudava, então, a doença conhecida como mosaico do fumo, em que as folhas da planta Nicotiana tabacum (fumo, ou tabaco) desenvolvem manchas irregulares e despigmentação. (Fig. 2.6) Figura 2.6 Folha de tabaco com áreas despigmentadas devido ao vírus mosaico do tabaco. Figura 2.7 Martinus Beijerinck. Mayer descobriu que o mosaico do fumo podia ser transmitido de uma planta a outra quando uma plan- ta sadia era pulverizada com um macerado de folhas doentes. Isso o levou a concluir que a enfermidade era causada por um agente infeccioso. Como conhecedor dos trabalhos de Pasteur e Koch, que haviam identi- ficado bactérias causadoras de doenças em animais, Mayer supôs que a doença das folhas de fumo seria causada por um microrganismo. Entretanto, depois de inúmeras tentativas, Mayer não conseguiu identificar o agente infeccioso do mo- saico do fumo ao microscópio, o que o levou a supor que tal agente devia ser extremamente pequeno. Na época, Mayer dispunha apenas de microscópios ópticos para sua pesquisa; o microscópio eletrônico ainda não havia sido inventado. Os estudos de Mayer despertaram o interesse do biólogo russo Dimitri Ivanovski (1864-1920), que ima- ginou uma estratégia para determinar o tamanho do agente infeccioso do mosaico do fumo, mesmo sem visualizá-lo. No final do século XIX já se conhecia uma técnica de produzir filtros de porcelana com poros finíssimos, cujas dimensões podiam ser determinadas com precisão por métodos físico-químicos. Ivanovski planejou, então, a seguinte experiência: um macerado de folhas doentes seria forçado a passar por filtros de porcelana de diferentes tamanhos de poro, antes de ser pulverizado sobre plantas sadias; se o agente causador do mosaico fosse maior que os poros do filtro, ele ficaria retido e o filtrado seria não infeccioso, isto é, não transmitiria a doença; por outro lado, se o agente infeccioso fosse menor que os poros do filtro, ele passaria através deles e o filtrado seria infeccioso, produzindo a doença. A experiência, realizada em 1892, mostrou que o agente causador do mosaico do fumo era capaz de atravessar todos os filtros de porcelana, mesmo os de menor poro possível. Dessa constatação resulta- ram duas hipóteses: ou tratava-se de algo realmente pequeno ou a doença seria causada por uma toxina eliminada por algum microrganismo, sem necessitar de sua presença direta. A segunda possibilidade foi logo descartada pelo botânico holandês Martinus Beijerinck (1851-1931) que, em 1897, demonstrou que o agente infeccioso conti- do nos filtrados era capaz de se multiplicar e de ser transmitido de planta para planta indefinidamente, mesmo depois de o extrato ter sido bastante diluído. Se fosse apenas uma toxina, e não um agente infeccioso capaz de se reproduzir, a diluição do extrato levaria à dimi- nuição dos sintomas da doença. (Fig. 2.7) O agente infeccioso causador do mosaico do fumo tinha diversas semelhanças com o agente causador da raiva em animais, identificado alguns anos antes pelo cientista francês Louis Pasteur, mas que também nunca havia sido visualizado ao microscópio. Esse tipo de agente infeccioso foi chamado de vírus, palavra de origem latina que significa veneno. Mesmo sem visualizá-los, os cientistasprosseguiram na identifica- ção de diversas doenças virais em animais, em plantas e mesmo em bactérias. Finalmente, em meados do século XX, com a invenção e o aperfeiçoamento do microscópio eletrônico nas décadas de 1930 e 1940, a visualização dos vírus tornou-se possível.