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R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 57 C ap ít u lo 2 • C iv ili za çõ es d o N ilo e d a M es op ot m ia ANALISAR UM DOCUMENTO HISTÓRICO • Desdita. Má sorte, infortúnio. O escriba egípcio Na sociedade egípcia, os escribas ocupavam uma posição de prestígio. Para se tornar um ser- vidor do Estado, o escriba estudava cerca de doze anos, aprendendo escrita, aritmética, história, geografia, literatura e administração. O texto abaixo faz parte da chamada literatura de sabedoria, gênero literário divulgado por escri- bas e constituído de conselhos sobre a maneira correta de viver. O texto pode ser utilizado pelos historiadores para compreender os valores que orientavam ou deveriam orientar a sociedade egípcia ou, pelo menos, uma parte dela. “O encarregado da fornalha tem os dedos imundos e seu cheiro é o de cadáveres. Seus olhos congestionam- -se pelo excesso de fumaça e ele não consegue livrar-se de sua sujeira. Leva o dia a cortar juncos (para queimar) e suas roupas são repugnantes (até) para ele. O sapateiro padece muito com suas cubas de verniz. Sente-se tão bem como um homem entre cadáveres. Seus dentes só cortam couros. O lavadeiro lava na margem (do rio) com os crocodi- los (muito) próximos. Quando o pai entra na correnteza na época da enchente, seu filho (sequer) pode aproximar- -se dele. Esta não é uma boa ocupação para ti, não é (com certeza) a melhor das profissões. [...] O passarinheiro padece muito ao procurar os habi- tantes do céu. Quando a revoada passa, ele diz: ’Se eu tivesse uma rede!’ Mas o deus não deixa que isso aconteça e ele fica irado com sua sorte. Também falarei sobre o pescador, (pois) tem a pior das ocupações. Eis que labuta no rio, misturado aos crocodilos. Na hora da contagem (do que pescou) enche- -se de lamentações e sequer pode alegar que havia um crocodilo (à espreita). [...] Eis que não há profissão sem chefe, exceto a do escriba: ele é o chefe. Por isso, se souberes escrever, esta será para ti melhor que as outras profissões que te descrevi em sua desdita. Atenta para isso, não se pode chamar um camponês de ser humano. Em verdade eu te fiz ir para a Residência, em verdade fiz isso por amor a ti, (pois) um dia (que seja) na escola, será proveitoso para ti. Suas obras duram como as montanhas.” Sátira das profissões (2060-1991 a.C.). In: ARAÚJO, E. Escrito para a eternidade: a literatura no Egito faraônico. Brasília: Editora da UnB, 2000. p. 220-223. Para compreender o documento Para desenvolver a habilidade da leitura, é impor- tante aprender a reconhecer os diferentes gêneros de texto que se expressam em nosso cotidiano. Os gêne- ros textuais apresentam características defi nidas por seu estilo, função, composição, conteúdo, entre ou- tros. Exemplos: carta, e-mail, telegrama, conto, fábu- la, anedota, poema, cartaz, crônica, receita, manual, ofício, charge, texto científi co etc. 1. O texto se expressa por meio do gênero carta ou depoimento, justifi cando o tom intimista e pessoal de exposição do narrador. 2. O narrador apresenta uma série de argumentos com o intuito de demonstrar a sua tese. Trata-se de um texto argumentativo. 3. O narrador compara diferentes profi ssões, enfati- zando os aspectos negativos de cada uma delas. 4. O texto termina com uma assertiva, ou seja, uma de- claração enfática que expressa o pensamento do autor. 1. “Eis que não há profi ssão sem chefe, exceto a do escriba: ele é o chefe. Por isso, se souberes escre- ver, esta será para ti melhor que as outras pro- fi ssões que te descrevi.” Qual o signifi cado dessa argumentação no contexto da sociedade egípcia? 2. A quem se destinavam as recomendações do ve- lho escriba? Você acredita que elas sejam válidas nos dias atuais? QUESTÕES Escultura representando um escriba egípcio, encontrada em Sacara, no Egito, datada de c. 2500 a.C. Museu do Louvre, Paris. HIST_PLUS_UN_A_CAP_02.indd 57 17.08.10 14:34:41 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 59 C ap ít u lo 2 • C iv ili za çõ es d o N ilo e d a M es op ot m ia R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 59 C ap ít u lo 2 • C iv ili za çõ es d o N ilo e d a M es op ot m ia No solo fertilizado pelo húmus, os camponeses plantavam trigo, cevada, ervilha, lentilha, verduras e outros produtos. Após a vazante, o solo se tornava enriquecido pelo húmus, material orgânico formado pela decomposição de plantas e animais. Os canais de irrigação transportavam a água para regiões distantes, e os reservatórios garantiam o fornecimento de água quando a inundação terminava. Nível do rio Os escribas controlavam a cobrança de impostos, realizavam censos populacionais e registravam informações relativas à produção agrícola e ao comércio. Em alguns pontos, as margens férteis do Nilo alcançavam 20 quilômetros de extensão. Novembro/junho: época da vazante Durante a vazante, os camponeses semeavam, colhiam e debulhavam os cereais. Uma boa produção agrícola garantia a subsistência da população nos períodos de estiagem. Fonte: CASSON, Lionel. O antigo Egito. Rio de Janeiro: José Olympio, 1983; HERÓDOTO. História. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d. Gizé Mênfi s Carnaque Tebas Luxor Abu-Simbel MAR MEDITERRÂNEO Rio Nilo VERM ELHO M AR 170 km O gito antigo Pirâmides Templos 1. Com base nos dados desta ilustração, problematize a frase atribuída a Heródoto, ex- plicando o papel do meio físico e da ação hu- mana na formação da civilização egípcia. 2. Por que nos dias de hoje, nas grandes cidades do Brasil, o transbordamento dos rios resulta em graves problemas? QUESTÕES HIST_PLUS_UN_A_CAP_02.indd 59 17.08.10 14:34:52 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 58 U n id ad e A • D a P ré -h is tó ri a às p ri m ei ra s ci vi liz aç õe s do O ri en te R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 58 U n id ad e A • D a P ré -h is tó ri a às p ri m ei ra s ci vi liz aç õe s do O ri en te Egito: dádiva do Nilo “O Egito é uma dádiva do Nilo.” A frase, atribuída ao historiador grego Heródoto, mostra a estreita relação entre o Rio Nilo e a civilização que se desenvolveu às suas margens. Porém, a sociedade egípcia não foi obra da natureza. O planejamento realizado pelo Estado e o trabalho dos camponeses foram fundamentais para o bom aproveitamento dos recursos naturais da região. Grandes blocos de pedras calcárias eram utilizados para a construção das pirâmides. Extraídos das pedreiras do deserto, eram transportados de barco até o local das construções. Chegando lá, os trabalhadores carregavam esses blocos utilizando toras de madeira e trenós. Além de cuidar da casa e dos fi lhos pequenos, as mulheres teciam panos, moíam trigo e trabalhavam nas plantações. As áreas desérticas difi cultavam as viagens por terra. Normalmente, em uma viagem do sul para o norte, com a correnteza a favor, as embarcações usavam seus remos, e na volta, com o vento a favor, utilizavam suas velas. O papiro crescia às margens do rio. Com a planta, os egípcios fabricavam grande quantidade de produtos: papel, cordas, cestos, caixas, sandálias e pequenas embarcações. Nível do rio Representação atual de como o Rio Nilo e o trabalho humano tornaram possível o desenvolvimento do Egito antigo. Cores-fantasia, sem escala. Julho/outubro: época das cheias O nível do rio subia e inundava as margens. Nesseperíodo, muitos camponeses eram recrutados pelo Estado para o trabalho nas construções públicas, como pirâmides, templos, diques e canais de irrigação. AMPLIANDO CONHECIMENTOS HIST_PLUS_UN_A_CAP_02.indd 58 17.08.10 14:34:47 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Seção 2.3 Objetivo Reconhecer a importância do estudo da civilização núbia. Termos e conceitos • Civili ação • scrita • Candace 60 U n id ad e A • D a P ré -h is tó ri a às p ri m ei ra s ci vi liz aç õe s do O ri en te A civili ação n ia A redesco erta de uma civili ação MAR MEDITERRÂNEO 1ª Catarata 2ª Catarata 3ª Catarata 4ª Catarata 5ª Catarata SINAI NÚBIA NÚBIA KUSH ANTIGO EGITO PENÍNSULA ARÁBICA Meroé Napata Kerma Abu-Simbel M A M A M R VEVEV RM E M E M LELE HO Rio Nilo Limites atuais dos países Fonte: i- erbo, . (org.) História geral da África. São Paulo Ática Unesco, 19 2. v. 2, p. 22 . A região da iaDOC. 1 690 km DOC. Cena de batalha entre núbios e egípcios. Túmulo do faraó Tutanc mon, século XIV a.C. Tebas, Egito. Museu Egípcio, Cairo. Durante muito tempo, o estudo da civili ação núbia permaneceu ignora- do. Parte disso se deve ao preconceito racista que imperou desde o final do século XIX e que associava os povos africanos de pele negra à inferioridade, ao atraso civilizatório e à inexistência de história. De acordo com estudiosos contempor neos, as origens da civilização etíope (os “homens de pele queimada”, como eram conhecidos pelos gregos e pelos romanos) são tão ou mais antigas que as do Egito. Os primeiros indí- cios da ocupação da região por povos caçadores, agricultores e pescadores datam de cerca de 000 a.C. O chamado “corredor núbio” constituiu um elo importante no contato entre a África subsaariana e as zonas mediterr neas, controladas pelo Egito. Por esse motivo, a Núbia região do atual Sudão ocupou uma posição estratégica no mundo antigo, tanto nas trocas comerciais quanto nos contatos culturais entre povos distintos [doc. 1]. O eino de ush Para os estudiosos, os vestígios arqueológicos de erma são testemu- nhos de uma cultura núbia nativa e sede de uma dinastia local. provável que erma fosse a capital do eino de ush, que se estendeu de 1730 a 1570 a.C. O advento do eino relacionou-se à centralização do poder político nas mãos de reis, à criação de um exército real e ao processo de formação de camadas sociais distintas. O poder e a autonomia de erma oscilaram ao longo dos séculos. Em determinadas épocas o reino foi submetido ao poder dos faraós, pagando tributos e fornecendo escravos [doc. 2]. Em outras, os núbios estenderam seu domínio em direção às áreas mais ao norte, transformando-se eles próprios em faraós. O domínio do Egito sobre toda a Núbia iniciou-se por volta de 1570 a.C. e durou cerca de quinhentos anos. Nesse período, erma foi transformada numa província do Império, seus habitantes, reserva de mão de obra para os em- preendimentos egípcios, e seus guerreiros, soldados do exército faraônico. O domínio ushita Essa situação se inverteu no século VIII a.C. O Império Egípcio se fragmentou em pequenas unidades políticas, que passaram a disputar o poder entre si. O eino de ush aproveitou para conduzir seus próprios representantes ao trono egípcio. Os faraós ushitas estabeleceram a capital em Napata e governaram durante 450 anos. As tradições faraônicas foram preservadas nos templos, na cer mica e nos textos escritos. HIST_PLUS_UN_A_CAP_02.indd 60 17.08.10 16:20:58