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LOGÍSTICA REVERSA NO SETOR SUPERMERCADISTA: ESTUDO COMPARATIVO ENTRE DOIS ESTABELECIMENTOS DE MÉDIO PORTE Andreia Marize Rodrigues (FCAV-UNESP ) andreiamarize@fcav.unesp.br Thiago Carlos Zomer Pereirra (FCAV-UNESP ) thiago_zomer@yahoo.com.br Marcelo Giroto Rebelato (FCAV-UNESP ) mgiroto@fcav.unesp.br A Logística Reversa surge no setor supermercadista como uma forma de auferir resultados proveitosos às empresas, já que o reaproveitamento dos resíduos pode se tornar economicamente rentável, além de promover uma imagem de responsabilidade ambiental pela reciclagem e reutilização de produtos que seriam descartados. Este é o caso da reciclagem de embalagens plásticas e de papelão oriundas dos produtos adquiridos e expostos ao consumidor nas prateleiras. A reinserção destes resíduos na cadeia produtiva é uma opção atraente aos supermercadistas, pelo aumento das receitas devido ao redirecionamento destes materiais a postos de reciclagem. Este artigo analisa comparativamente o emprego da Logística Reversa de embalagens plásticas e de papelão em dois supermercados de médio porte do interior do Estado de São Paulo, verificando os efeitos desta prática na gestão financeira e ambiental das empresas e a percepção dos clientes devido às boas práticas ambientais. Nos casos analisados foi possível observar nas duas empresas processos logísticos reversos bastante similares, com resultados financeiros ainda incipientes e baixa percepção dos clientes com relação às práticas ambientais adotadas. Palavras-chaves: Logística Reversa; supermercado; papelão; plástico. XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 2 1. Introdução Segundo a Associação Brasileira de Supermercados o setor supermercadista representa aproximadamente 5,5% do PIB do país, o que ressalta a importância desse comércio na economia brasileira (ABRAS, 2013). Esse panorama, ao mesmo tempo em que ressalta a relevância do setor para a economia brasileira também atrai cada vez mais concorrentes, tornando o setor paulatinamente mais competitivo. O aumento da concorrência tem levado as empresas do setor a procurarem por novas alternativas para melhorarem seu desempenho como, por exemplo, a melhor compreensão do relacionamento com o consumidor, melhor gestão de custos e preços de venda dos produtos e também o melhor aproveitamento de produtos rejeitados. A partir desse contexto, a Logística Reversa surge no setor supermercadista como uma forma de auferir resultados proveitosos às empresas, já que o reaproveitamento dos resíduos pode se tornar economicamente rentável e, além disso, gerar para a empresa uma imagem de responsabilidade socioambiental devido à reciclagem e à reutilização de produtos que seriam descartados (BRAGA JUNIOR, 2007). Este é o caso da reciclagem de embalagens plásticas e de papelão oriundas dos produtos adquiridos e expostos ao consumidor nas prateleiras. A reinserção destes resíduos na cadeia produtiva é uma opção atraente aos supermercadistas, pelo aumento das receitas devido ao redirecionamento destes materiais a postos de reciclagem. Assim, mediante o apelo ambiental e a percepção da possibilidade de ganhos financeiros, alguns varejistas posicionam-se como fornecedores no processo de retorno do papelão e do plástico para a indústria da reciclagem, processo conhecido como um dos fluxos da Logística Reversa na cadeia de suprimentos no varejo. Desta maneira, a utilização da Logística Reversa nas empresas supermercadistas objetiva a reintegração de produtos ao ciclo produtivo, a reutilização de seus componentes e materiais constituintes, atividades que vêm ganhando proporção e importância. No entanto, muitas empresas têm dificuldade ou desinteresse em implantar a Logística Reversa, estando dentre eles problemas medir o impacto dos retornos de produtos ou materiais, o fato do fluxo reverso aparentemente apresentar custos e não receitas e a ausência XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 3 de sistemas informatizados que se integrem ao sistema existente de logística tradicional (LAMBERT et al., 2011; BRAGA JUNIOR 2007; ROGERS e TIBBEN-LEMBKE, 1999). Portanto, se tornam importantes estudos que visem analisar a gestão dos resíduos utilizando Logística Reversa, avaliando os resultados financeiros obtidos pelas empresas para que esta prática possa se difundir, contribuindo ainda mais para redução dos impactos ambientais e satisfazendo aos anseios do consumidor final. Perante este contexto, este artigo busca analisar comparativamente o emprego da Logística Reversa de embalagens plásticas e de papelão em dois supermercados de médio porte do interior do Estado de São Paulo, verificando quais efeitos desta prática na gestão financeira e ambiental das empresas e qual a percepção dos clientes devido às boas práticas ambientais. Para atender os objetivos propostos, este texto encontra-se estruturado em cinco tópicos, a contar com esta introdução. No segundo tópico é realizada uma contextualização sobre a temática a partir da revisão bibliográfica de Logística Reversa e varejo. No tópico três são apresentados os resultados obtidos na pesquisa de campo para cada uma das empresas pesquisadas. Já no quarto tópico é realizada a análise comparativa entre os dois casos estudados. Por fim, considerações finais do trabalho são traçadas no tópico cinco. 1.1 Metodologia de pesquisa A pesquisa científica pode ser definida quanto à abordagem, ao método de pesquisa e aos instrumentos de coleta de dados utilizados (BERTO e NAKANO, 1998). Este estudo tem caráter qualitativo por ter natureza exploratória com uma amostragem não probabilística por conveniência (COOPER e SCHINDLER, 2003). O método empregado no trabalho foi o estudo de casos. A modalidade de estudo de casos é caracterizada pelo estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado (GIL, 2001). Os instrumentos de coleta de dados utilizados tratam-se de dois roteiros semiestruturados aplicados, respectivamente, em: a) entrevistas com os responsáveis pela Logística Reversa em dois supermercados selecionados e b) junto a 160 clientes de cada um dos estabelecimentos. Para a presente investigação foram elencadas sete etapas, descritas a seguir: Etapa 1: realização de um levantamento bibliográfico sobre Logística Reversa e varejo supermercadista; Etapa 2: foram selecionados dois supermercados de médio porte do município paulista de Limeira. A seleção foi feita de forma intencional devido à abertura XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 4 proporcionada pelos estabelecimentos, o que permitiu uma melhor compreensão do fenômeno em estudo; Etapa 3: realização de estudo sobre a forma como seriam coletados os dados necessários, optando-se pela utilização do modelo de roteiro de pesquisa proposto por Braga Junior (2007), que foi complementado com a criação de um roteiro para avaliar a opinião dos clientes quanto à prática da Logística Reversa de resíduos de plástico e de papelão dos estabelecimentos selecionados; Etapa 4: realização das entrevistas com os responsáveis pela operacionalização da Logística Reversa dentro das empresas selecionadas. O período da pesquisa foi de sete meses (janeiro a julho de 2011); Etapa 5: realização das entrevistas com os clientes dos dois supermercados para avaliar o impacto na imagem da empresa quanto à responsabilidade socioambiental; Etapa 6: análise qualitativa dos casos estudados; Etapa 7: foram traçadas as considerações finais do trabalho. 2. A Logística Reversa e o varejo Segundo Leite (2009), a Logística Reversa consiste na área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo de materiais e informações logísticas correspondentes ao retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos. Os canais de distribuição reversos funcionam como um processo onde produtos que possuem pouca ou nenhuma função após sua comercialização e utilização são inseridos novamente em um ciclo produtivo ou de negócios, ganhando novamente valor em mercados denominados secundários seja pela reciclagem ou pelo reuso. O fluxo reverso agrega valor de diversas naturezas para a empresa, como econômica, ecológica, legal, logística e de imagem corporativa (ROGERS e TIBBEN- LEMBKE, 1999). O foco de atuação da Logística Reversa envolve a reintrodução dos produtos ou materiais à cadeia de valor através do ciclo produtivo ou de negócios, sendo um produto descartado somente em último caso. Esta função empresarial teve seu surgimento na década de 1970, referindo-se neste primeiro momento apenas à reciclagem, eliminação de resíduos e gerência de materiais perigosos. Porém, atualmente os fluxos reversos de produtos tornaram-se bastante viáveis e sua XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 5 importância tem se ampliado, desde o reaproveitamento de materiais até práticas que afetam as percepções da marca e da imagem das empresas pelos consumidores, ficando esses mais propensos a comprar produtos de organizações socialmente responsáveis (MARANGONI, 2007). Com a evolução dos conceitos associados à Logística Reversa, Lacerda (2002) e Chaves e Batalha (2006) relatam que a escala das atividades de reciclagem e reaproveitamento de produtos e embalagens tem aumentado consideravelmente. Dentre as razões para esta ocorrência estão as vantagens podem ser alcançadas com a estruturação de seus canais reversos: Questões ambientais: existe a tendência de que a legislação ambiental caminhe no sentido de tornar as empresas cada vez mais responsáveis por todo ciclo de vida de seus produtos; a logística deve procurar a minimização do impacto ambiental ao longo do ciclo de vida dos produtos; Concorrência: acredita-se que os clientes valorizem as empresas que possuem políticas mais liberais de retorno de produtos. Esta é uma vantagem percebida onde os fornecedores ou varejistas assumem os riscos pela existência de produtos danificados; Redução de custo: economias com a utilização de embalagens retornáveis ou com o reaproveitamento de materiais podem trazer ganhos econômicos às empresas, justificando os investimentos realizados na estruturação de canais logísticos reversos; Diferenciação da imagem corporativa: o aumento de consciência ecológica dos consumidores, que esperam que as empresas reduzam os impactos negativos de sua atividade ao meio ambiente, faz com que algumas empresas visem comunicar ao público uma imagem institucional “ecologicamente correta”. O fluxo reverso de produtos já vem sendo aplicado no meio industrial com relativa frequência. Com relação ao varejo especificamente, as empresas deste setor são consideradas como agentes nos canais de distribuição de uma ampla gama de produtos, podendo, desta maneira, se apresentar ainda como membros importantes de canais reversos de produtos como o papelão, o plástico e a madeira, materiais que frequentemente compõem as embalagens. A reutilização destes materiais promoveu um mercado secundário, abrindo espaço para a XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 6 atuação do varejo na alocação dos materiais descartados pelo consumidor final ou pelo próprio varejista e que teriam o lixo como destino final (ROGERS e TIBBEN-LEMBKE, 1999). Assim, Braga Junior (2007) afirma que o volume de lixo produzido nos varejos supermercadistas, sobretudo com o papelão e o plástico, pode diminuir com a venda destes produtos para o mercado secundário e, dessa forma, contribuir com redução do impacto ambiental local, aumentar as receitas e beneficiar a imagem corporativa e a competitividade pelo diferencial de responsabilidade ambiental. 3. Os casos estudados 3.1 Supermercado A O supermercado está instalado em uma área total de 1150 m², possui um total de 15 check- outs e um fluxo médio diário de 2.000 pessoas. Objetivando atender às tendências do mercado e também visando ao aumento dos seus rendimentos, o supermercado iniciou a montagem da estrutura de Logística Reversa. Os colaboradores que repõem os produtos na área de venda foram instruídos e criou-se o hábito de levar o plástico e o papelão para um local específico de armazenamento. O processo de Logística Reversa do papelão e do plástico do supermercado é de responsabilidade do diretor operacional e realizado em parceria com uma empresa de reciclagem, que compra todo o material gerado pela loja. O volume mensal médio de resíduos gerados é de 11 toneladas. Todo volume é separado, sendo o papelão prensado e amarrado em fardos e o plástico alocado em embalagens específicas. Estes resíduos são pesados separadamente e repassados para a empresa de reciclagem, que após este processo comercializa os materiais reciclados com a indústria. Os produtos são vendidos a preços diferentes, o que resulta em um controle do volume individual de cada resíduo. Durante o período do estudo, o valor médio pago pelo quilograma de papelão foi R$ 0,20 e pelo plástico R$ 0,40. O controle individualizado dos volumes de plástico e de papelão gerados pelo supermercado permitiu analisar a distribuição da receita de cada resíduo na receita total originada por suas XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 7 vendas ao longo dos sete meses analisados (Figura 1), assim como a distribuição do volume produzido para os dois resíduos (Figura 2). No período estudado, a produção total de resíduos sólidos foi de 80,12 toneladas. Deste total, aproximadamente 93% é contribuição do papelão e 7% de plástico, com 87% da receita total da venda dos resíduos correspondente ao papelão e 13% ao plástico. A diferença percentual entre a produção total e a receita total é devida aos valores pagos pelo mercado secundário ao varejista para os diferentes resíduos. Figura 1 - Participação no total da receita da venda dos produtos Fonte: Pesquisa de campo Figura 2 - Participação no total do volume de resíduo produzido XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 8 Fonte: Pesquisa de campo Foi também possível analisar a participação da venda do plástico e papelão no lucro líquido da empresa. Osvalores demonstrados pela Figura 3 comparam a venda do papelão e do plástico em relação ao lucro líquido alcançado pelo supermercado durante o período analisado. Considerando que no período o lucro líquido do supermercado foi de 2,10%, as variações na venda do papelão e do plástico contribuíram com uma média de 5,44% deste lucro líquido. Isto demonstra que a contribuição da venda destes resíduos sobre o lucro líquido da empresa é pequena; porém, analisando que estes resíduos seriam descartados, esta participação nos lucros se torna relevante. Além disso, o entrevistado do supermercado salientou a redução de gastos com pulverizações do ambiente devido a um armazenamento de resíduos mais limpo e eficiente. Figura 3 - Participação da receita com reciclagem em relação ao lucro líquido XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 9 Fonte: Pesquisa de campo No setor supermercadista o volume de produtos comprados da indústria que chegam aos estabelecimentos embalados com papelão é consideravelmente maior do que os produtos embalados em plástico. Desta maneira, é evidente que a venda do papelão determina a tendência linear da receita total da venda dos resíduos devido ao maior volume disponível deste material a despeito de seu menor valor financeiro no mercado secundário. Contudo, apesar de mostrar uma tendência linear levemente decrescente, observa-se uma oscilação muito grande na coleta de papelão e uma menor variação na coleta de plástico. Estas variações são consideradas normais, pois o supermercado está sujeito a inúmeros fatores influenciando as vendas e, consequentemente, a reposição de mercadorias que geram os resíduos plásticos e de papelão. Quanto à percepção dos clientes em relação à responsabilidade ambiental do supermercado A relativa à prática da Logística Reversa, os números demonstram que seus consumidores ainda possuem baixa atenção para esta atitude: apenas 7% dos clientes entrevistados se atentam ao fato do supermercado A se preocupar com a questão ambiental. Complementarmente, quando questionados sobre qual o fator maior relevância quando da escolha do estabelecimento em que serão realizadas as compras, a preocupação ambiental do estabelecimento não recebeu nenhuma resposta, sendo relacionados outros fatores, como qualidade (40%), localização (39%), preço (17%) e outras respostas diversas (4%). XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 10 Possíveis explicações encontradas para a baixa preocupação com a questão ambiental são o baixo nível social e de escolaridade dos entrevistados, o que possivelmente os levem a apresentar acesso mais restrito ao conhecimento e, portanto, menor conscientização sobre a questão preservação do meio ambiente. 3.2. Supermercado B O supermercado B está instalado em uma área total de 450 m², possui um total de 9 check- outs e um fluxo médio diário de 700 pessoas. Este supermercadista iniciou o processo de Logística Reversa no intuito de gerar receitas extras com a venda do plástico e do papelão. Os resíduos gerados pelo supermercado B são vendidos sem diferenciação de preço pelo valor médio no período de R$ 0,25 o quilograma de material. Todo o material é alocado em embalagens específicas e armazenado até o recolhimento mensal, realizado por uma empresa de reciclagem. O material é pesado antes da coleta e os dados são repassados para o diretor operacional, responsável pela implantação e controle do processo. No período analisado, a coleta de resíduos total foi cerca de 30 toneladas, o que resultou em uma média mensal de 4,34 toneladas. Do total, aproximadamente 94% provém do papelão e 6% do plástico, conforme pode ser visualizado na Figura 4. Figura 4 - Participação no total do volume de resíduo produzido XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 11 Fonte: Pesquisa de campo No entanto, conforme ilustrado pela Figura 5, foi possível analisar apenas a contribuição total dos resíduos em relação ao lucro líquido da empresa, pois a empresa não fazia, na ocasião da pesquisa, diferenciação de preço dos resíduos. Figura 5 - Participação da receita com reciclagem em relação ao lucro líquido Fonte: Pesquisa de campo XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 12 Na Figura 5, a linha “Total” representa a oscilação das receitas em torno da receita média da venda dos resíduos e em relação ao lucro líquido. Neste supermercado, o percentual de contribuição dos resíduos sobre o lucro líquido da empresa foi de 4,56%. A oscilação das receitas provenientes da venda dos resíduos é considerada normal, pois, assim como no caso anterior, o supermercado está sujeito a inúmeros fatores influenciando as vendas e, consequentemente, a reposição de mercadorias embaladas em plástico e papelão. Para o período em estudo, o lucro líquido foi de 2,36% e os rendimentos provenientes dos resíduos destinados à reciclagem atingiram 4,56% deste valor. Quanto à percepção dos clientes em relação à prática de Logística Reversa, apenas 3% dos entrevistados atentaram ao fato do estabelecimento possuir preocupação com a questão ambiental. Com relação às principais razões de escolha do supermercado, também se notou a valorização de fatores de necessidade mais imediata: qualidade (43% dos entrevistados), localização (32%), preço (23%) e outras respostas (2%). Assim como no supermercado A foi feita a mesma da correlação entre escolaridade, renda e valorização da gestão ambiental para os clientes do supermercado B. Como no caso anterior, possivelmente a baixa preocupação com a questão ambiental esteja diretamente ligada ao baixo nível social e de escolaridade dos entrevistados, já que no supermercado B a escolaridade e a renda eram ainda menores do que as dos clientes entrevistados no supermercado A. 4. Análise comparativa dos resultados Para ambas as empresas analisadas, os resíduos de embalagens de papelão e de plástico são considerados como produtos de venda. A estratégia de gestão ambiental, apesar de estar sendo considerada pelo supermercado A, não surtiu resposta financeira ao negócio. Considerar apenas o recolhimento e destino certo dos resíduos como gestão ambiental não parece ser uma estratégia eficiente e impactante ao consumidor do modo como foi conduzida, não agregando valor ao supermercado. Este fato foi elucidado pela administração da empresa e também pelos clientes consultados. Os clientes escolhem o local de compras pela localização geográfica, pelo preço ofertado e qualidade dos produtos e atendimento. O rendimento financeiro adicional não foi expressivo em nenhum dos dois estabelecimentos, sendo, no entanto, considerável nos dois casos. Para nenhum dos supermercados analisados esse excedente de caixa encontra-se destinado a um fim específico, figurando apenas como XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 13 um ativo circulante. Salienta-se, porém, que a aplicação do montante em uma estratégia de marketingbem definida poderia melhorar o rendimento financeiro ao iniciar um processo de fidelização de clientes ao apresentá-los responsabilidade com o meio ambiente. Apesar dos resultados financeiros apresentados pelos casos serem pequenos quando comparados ao rendimento total e ao lucro líquido, a Logística Reversa pode melhorar os resultados do negócio, desde que todo o processo seja realizado de maneira eficiente, com pessoal treinado, e principalmente se todo o resíduo gerado for identificado, classificado e vendido com o respectivo valor de mercado. Este é o caso do Supermercado A, que apresentou maior controle dos resíduos, vendidos à reciclagem com preços diferenciados. Contudo, o planejamento financeiro de curto prazo já surtiu algum efeito já que a decisão em praticar a Logística Reversa aumentou os ativos circulantes, o que pode permitir projetar um modelo organizado e sistemático que quantifica benefícios financeiros, custos e necessidades de capital ou financiamento para transformar as aspirações das empresas em realidade. A Figura 6 apresenta a comparação da receita proveniente da Logística Reversa do plástico e papelão em relação ao faturamento de cada supermercado. Apesar das oscilações ao longo do período, as duas empresas apresentaram, em média, 0,11% de participação da receita com reciclagem no faturamento total. Figura 6 - Participação da receita com reciclagem em relação ao faturamento de cada supermercado XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 14 Fonte: Pesquisa de campo Pelo fato do supermercado A ter uma estrutura para a Logística Reversa mais organizada, com preços diferenciados na venda dos diferentes resíduos, este apresentou resultados ligeiramente superiores aos do supermercado B. Uma possível explicação encontra-se no fato do supermercado B possuir menor porte e, consequentemente, menor volume de resíduos gerados, ou seja, 69 Kg/m² para o supermercado A e 67 Kg/m² para o supermercado B. Como o supermercado A apresenta uma Logística Reversa com controle individual dos resíduos, seus resultados financeiros foram ligeiramente superiores, salvas as proporcionalidades, aos resultados obtidos pelo supermercado B. Analisando a Figura 7 é possível, ainda, notar que o supermercado B apresenta uma participação inferior das receitas provenientes da Logística Reversa no lucro líquido quando comparado ao Supermercado A. Figura 7 - Participação da logística reversa em relação ao lucro líquido dos supermercados XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 15 Fonte: Pesquisa de campo Quanto aos problemas identificados nos casos estudados, destaca-se a estruturação da Logística Reversa, os fracos canais de comunicação entre os setores administrativo, financeiro e operacional, e também a condução da gestão ambiental realizada pelas empresas. Entende- se que os resíduos vão além de mais um produto comercializado pelos varejistas. Reforça-se, mais uma vez, que a definição de estratégias de marketing que reforcem a responsabilidade ambiental dos estabelecimentos possa ser utilizada para atrair clientes, representando um ponto importante para sucesso dos negócios. 5. Considerações finais A ascensão da variável ambiental no ambiente dos negócios levou muitas empresas a adotarem práticas voltadas ao reaproveitamento e à reciclagem de materiais. Além de diminuir impactos ambientais, estas práticas vêm auferindo às empresas ganhos financeiros e possuem reflexo positivo na imagem da empresa junto a seus clientes. A partir desse contexto, o setor de varejista vem buscando novas oportunidades a partir do reaproveitamento de produtos, como no caso de abertura de restaurantes internos aos estabelecimentos para aproveitamento de alimentos não consumidos pelos clientes, ou mesmo a aplicação de embalagens, fato da venda de resíduos de plástico e de papelão que envolvem os produtos para a indústria da reciclagem. Nesse estudo apresentaram-se os resultados iniciais da implantação de Logística Reversa de embalagens de plástico e de papelão em dois supermercados. Nos casos analisados foi XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 16 possível observar que as atitudes que foram apresentadas levam em consideração principalmente o aspecto econômico. E quanto a este fator, os resultados alcançados até o momento da pesquisa podem ser considerados satisfatórios, principalmente considerando que estes resíduos seriam descartados pelas empresas, não gerando qualquer receita às mesmas. O supermercado A tentou explorar também a questão ambiental para agregar valor à marca, mas o perfil de clientes da localidade não considerou relevante em sua decisão de compra o fato do supermercado apresentar responsabilidade ambiental. A partir da pesquisa foi possível notar que a gestão ambiental ainda não atinge a percepção imediata dos consumidores dos estabelecimentos. Uma estratégia de marketing voltada a vincular os supermercados às suas responsabilidades ambientais poderia ser uma opção para a atração de clientes. Já supermercado B considerou os resíduos como mercadorias, comercializando-os como tal. Porém, um aperfeiçoamento do processo logístico reverso, controlando os canais de comunicação, pode melhorar os resultados deste último. Destaca-se que, apesar da crescente conscientização ambiental, é necessário levar em consideração o público alvo das empresas analisadas. Os quesitos ligados à renda familiar e grau de escolaridade influenciam na baixa importância que os consumidores de ambos os estabelecimentos dispensam ao tema, sendo necessário realizar um estudo para entender de maneira mais detalhada a decisão sobre o local de compra do consumidor. As empresas precisam dominar boas estratégias de marketing, para que seja possível divulgar de maneira adequada suas ações e, por consequência, fidelizar os clientes. Apesar das empresas estudadas ainda se encontrarem em um estágio inicial do potencial que pode ser alcançado com o reaproveitamento de produtos, é relevante aperfeiçoar o processo logístico reverso para que sejam alcançados resultados mais robustos, já que a adoção da Logística Reversa bem estruturada pelo setor supermercadista pode ser uma alternativa interessante para gerar ganhos financeiros e ambientais. REFERÊNCIAS ABRAS, 2013. Disponível em: <http://www.abras.com.br/economia-e-pesquisa/ranking-abras/os-numeros-do- setor/>. Acesso em 04 de janeiro de 2013. XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 17 BERTO, R. M. V. S.; NAKANO, D. N. Metodologia da pesquisa e a engenharia de produção. Anais do XVIII Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Niterói/RJ, 1998. BRAGA JUNIOR, S. S. 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