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55 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 4 Diversidade na universidade No contexto abordado nesta obra, ou seja, a inclusão universitária, faz-se necessário o entendimento sobre a relação entre alteridade, dife- rença e igualdade. Conceitos que serão tratados neste capítulo. As considerações e discussões sobre a diversidade na educação são processadas por meio do entendimento da complexidade da diversida- de humana, presente em todas as esferas da sociedade, principalmente nos espaços universitários. Acredita-se que, nesses locais, é possível promover a diversidade além de uma perspectiva não só humanista, mas também tecnológica 56 Educação inclusiva e diversidade no ensino superior M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . e científica, contribuindo para a proteção dos direitos fundamentais da pessoa humana. Portanto, com base nesse entendimento, busca-se estimular as refle- xões sobre as práticas excludentes e como alicerçar as ações educacio- nais inclusivas considerando a pedagogia da alteridade, criando oportu- nidades e condições favoráveis e igualitárias para que todos aprendam. Acredita-se que as temáticas abordadas contribuirão para a amplia- ção das reflexões sobre a diversidade no contexto acadêmico, buscan- do entendê-la como um elemento importante diante do paradigma da inclusão, que vem se tornando cada vez mais presente nas práticas do- centes universitárias. 1 A diversidade na universidade A sociedade contemporânea é plural e diversa. Essa heterogeneida- de tem contribuído para a construção da identidade dos sujeitos a partir da sua cultura e das suas singularidades, assim como faz referência às diferenças individuais e tem como aporte os grupos sociais dos quais os sujeitos fazem parte. Os estudos sobre a diversidade na educação têm se dividido em di- ferentes vertentes e estabelecido distintos focos, tais como: deficiência, raça, etnia, gênero, classe social, orientação sexual, pessoas em situa- ção de refúgio, entre outros. É importante destacar, com relação a esses estudos, que os espaços do ensino superior se constituem como um lócus significativo para o de- senvolvimento do conhecimento sobre a diversidade e para a diversidade, graças a ações desenvolvidas no ensino, pesquisa e extensão, as quais possuem significados e funções sociais distintas (XERRI, 2012, p. 197). Embora os estudos sobre a universidade tenham um arcabouço de concepções a serem analisadas, evidencia-se nesses trabalhos que o 57Diversidade na universidade M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. surgimento da formação no nível superior contribuiu de forma decisiva tanto para o desenvolvimento da ciência, política e economia, quanto para ampliar as discussões sobre as questões culturais e sociais. Segundo Neves (2012), além de ser um lugar por onde circulam sa- beres científicos, a universidade é um espaço de socialização de va- lores, de formação de condutas, de estabelecimento e entendimento sobre os lugares sociais, de gênero, de etnias, entre outros. Dessa forma, é dentro do ensino superior que são colocadas as tare- fas mais importantes da agenda atual, ou seja, corresponder às neces- sidades de democratização e responder aos novos desafios trazidos pela globalização (DIAS, 2010). Percebe-se que os desafios são diversos, e mesmo os que se refe- rem à área educacional não se configuram da mesma forma dentro de um mesmo território. Isso nos faz entender que é preciso compreendê- -los a partir do papel que cada esfera governamental possui dentro do sistema educacional brasileiro. No âmbito do ensino superior, o entendimento dessas demandas gerais perpassa as questões éticas, tanto para as instituições públicas quanto para as instituições privadas, pois, como afirma Dias (2010), em ambas reside o sentido social de suas funções. IMPORTANTE Sobre a organização do sistema educacional no Brasil, é competência dos estados a oferta dos ensinos fundamental e médio. Aos municí- pios, cabe a responsabilidade pelo ensino fundamental e pela educação infantil. Por sua vez, o governo federal atua na oferta do ensino supe- rior e presta assistência técnica e financeira aos estados e municípios (NEVES, 2012, p. 228). 58 Educação inclusiva e diversidade no ensino superior M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . No cenário universitário é que são enfrentados novos desafios diários e é a partir das ações desenvolvidas nele, como os processos de pesqui- sa, ensino e extensão, que se buscam grandes transformações sociais. Por meio desses processos se desenvolvem o conhecimento sobre a realidade e as formas de como significá-la e impactá-la. Entende-se que é nas universidades que são constituídos os espaços significativos para o desenvolvimento das reflexões e ações. Nesses espaços, dá-se a opor- tunidade para que sujeitos oriundos de diferentes classes, etnias e gêne- ros convivam, se relacionem, se conheçam e estudem juntos. Xerri (2012) explica que esses centros de saber, ao desenvolverem processos investigativos, extensionistas e de ensino com significados e funções sociais, são responsáveis por alargar e aprofundar o conhe- cimento. Entende-se que, como local privilegiado de fomento do conhe- cimento, a universidade demanda questionamentos constantes sobre suas funções sociais e, portanto, há a necessidade de fazer-se presente e atuante nas sociedades diante da diversidade (XERRI, 2012). Como afirma Dias (2010, p. 93): Para que uma instituição educativa não se descaracterize, é fun- damental que o exercício de sua responsabilidade social e de per- tinência seja sempre fundado na autonomia e na crítica, que cons- tituem as bases para a identificação das prioridades e do sentido social das demandas e carências. Os estudos sobre diversidade na educação têm se debruçado sobre as diferenças individuais e de identidade dos grupos sociais associadas a deficiência, raça/etnia, gênero/orientação sexual e grupos ou pessoas em situação de refúgio. Em síntese, essas vertentes são especificadas da seguinte forma: • Pessoas com deficiência: pessoas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua 59Diversidade na universidade M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condi- ções com as demais pessoas (BRASIL, 2015). • Etnia: conjunto de características comuns a um determinado gru- po, como: língua, tradições, costumes e cultura. • Raça: conjunto de elementos físicos e que são hereditários, tais como formato dos olhos, nariz, cabelos e tom de pele. • Gênero: representa a diferençasocial e psicológica com a qual uma pessoa se identifica, tal como homem ou mulher. • Pessoas LGBTQIA+: sigla que representa os diversos comporta- mentos e orientações relativos a gênero e sexualidade. • Pessoas que estão no país em situação de refúgio: pessoas que se deslocam de seu país de origem devido a conflitos ar- mados, dificuldades econômicas e/ou que tenham vivenciado violências de diversas naturezas, entre elas a violação dos seus direitos humanos. 2 A pedagogia da alteridade e da diversidade No presente cenário, considerando as questões que envolvem a in- clusão e a diversidade, buscou-se problematizar as relações entre ética, educação e formação universitária com base na concepção filosófica da alteridade de Emmanuel Lévinas (1980). Como Síveres e Melo (2012) defendem, é premente a necessidade de refletir sobre o conceito de alteridade, tendo em vista a efetividade da inclusão. Os autores esclarecem que, embora o conceito de alteridade tenha ocupado inúmeros espaços de discussão, é necessário inseri-lo em uma práxis compreensiva de uma educação aberta e libertadora. 60 Educação inclusiva e diversidade no ensino superior M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . É importante frisar que a alteridade, nesse contexto, não deve ser entendida simplesmente como se colocar no lugar do “outro” ou ter compaixão e empatia, mas sim aprender com o outro, valorizar suas diferenças e reconhecer suas potencialidades. Entende-se, a partir de Síveres e Melo (2012), que essa concepção nos faz compreender que é preciso partilhar e conviver em mundos e pers- pectivas diferentes que se cruzam e se entrelaçam na interioridade do universo educativo. Para os autores, a alteridade pautada em Lévinas é vista como uma ressignificação da relação do “eu” com o “outro”. Assim, é preciso considerar que o outro tem o direito de ser. Portanto, o desafio da educação inclusiva é nos libertar desse conceito aprisionador. A reflexão acerca da alteridade é um dos grandes problemas a ser pensado pela educação. Deve-se ter o cuidado para não fazer o dis- curso da inclusão, falseando a realidade reflexiva, tendo o Eu como possibilidade de encontro, ou seja, discursar até com certa lógica sobre alteridade, mas ao invés de falar do Outro, falar de si mesmo. (SÍVERES; MELO, 2012, p. 2012) Com base nessa ideia e em busca de uma aproximação entre ética e educação, Alves e Ghiggi (2012) refletem sobre um outro modo de ensinar e aprender com o “outro” e explicam que a pedagogia da alteridade, pauta- da em Lévinas, surge como contraposição ao modelo tradicional de produ- ção de conhecimento. Trata-se de uma pedagogia do acolhimento que se responsabiliza pelo “outro”, considerando suas singularidades e diferenças. Entende-se, com base nos autores, que essa pedagogia exige um compromisso ético que se traduz em acolhimento da alteridade, legiti- mado no ensinamento procedente do “outro”, como condição ético-críti- ca do saber, ou seja, uma relação que respeita e resguarda a alteridade do “outro” enquanto “outro” (ALVES; GHIGGI, 2012). Para Lévinas (1980, p. 26), o outro metafísico é o outro de uma alteri- dade que não é formal, de uma alteridade que não é um simples inverso da identidade, nem de uma alteridade de resistência ao mesmo. 61Diversidade na universidade M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Portanto, Síveres e Melo (2012) defendem que os processos inclusi- vos precisam renunciar à atitude em que o “eu” lança o convite para o “outro”. Para os autores, esse convite corre o risco de se tornar vazio e sem sentido. “Para uma inclusão a partir da alteridade, é necessário que o sujeito social não deseje discípulos, não queira ser dono da verdade e do caminho, mas permita que o outro se revele na sua autonomia e na sua liberdade” (SÍVERES; MELO, 2012, p. 45). Para os autores, a inclusão: […] parte de um movimento no qual as pessoas e instituições to- mam consciência da realidade externa, sentindo-se motivados a participar da vida do Outro, precisando se modificar e se libertan- do para entrar no círculo do convidante. Assim, parece que pou- cas modificações externas não fazem uma efetiva inclusão, mas devem acolher no interior de quem é convidado e ir ao encontro de quem convida. No caso específico de uma inclusão escolar, por exemplo, mais que modificar a estrutura física é necessário mu- dar a linguagem e a consciência do Eu egoísta. A abertura do Eu proporciona, portanto, uma inclusão social nas dimensões escolar, familiar e grupal, ou seja, cria possibilidades de novas relações hu- manas. (SÍVERES; MELO, 2012, p. 45) As relações humanas no âmbito universitário têm sido impactadas pelos diferentes perfis dos ingressantes no ensino superior, os quais vêm sendo modificados constantemente, tendo em vista as ações desenvol- vidas graças a políticas públicas na educação, a partir das quais foram criados e disseminados programas, projetos federais e legislações, que, ao longo dos últimos anos, contribuíram para o acesso à universidade de sujeitos que historicamente foram excluídos desse espaço. Porém, é importante lembrar que essas ações investem fortemente no acesso à universidade, mas pouco na permanência dos sujeitos nos ambientes acadêmicos (NEVES, 2012, p. 230), cabendo à universidade estabelecer ações estratégicas para que os universitários progridam em sua formação. 62 Educação inclusiva e diversidade no ensino superior M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . PARA SABER MAIS Assista aos documentários O silêncio dos homens (2019), que destaca como os estereótipos de gênero influenciam a forma como os homens li- dam com as suas emoções, e Laerte-se (2017), sobre a célebre cartunista Laerte Coutinho, que, após 60 anos se expressando e sendo identificada como homem, decidiu revelar a sua identidade como mulher transexual. Além disso, o Senac São Paulo disponibiliza o curso Diversidades: Edu- cação Antirracismo, que tem como objetivo difundir a cultura inclusiva e o conceito de diversidade como valor, por meio de uma série de do- cumentários nos quais os protagonistas compartilham informações e experiências significativas em torno do tema. Não deixe de conferir! 3 Ações estratégicas com condições de oportunidade iguais para todos Entre os princípios fundamentais sobre os quais a Constituição Federal (BRASIL, 1988) se pauta, está a dignidade da pessoa humana (Título I, art. 1o, item III), que estabelece como objetivo promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (Título I, art. 3o, item IV). Além disso, considera-se também que todos são iguais perante a lei (Título II, art. 5o). Nesse sentido, não deve ocorrer distinção de qualquer natureza. Esse dispositivo garante, tanto aos brasileiros quanto aos estrangei- ros residentes no Brasil, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (Título II, art. 5o). Dessa forma, está prevista punição diante da discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais (TítuloII, art. 5o, item XLI). Entre esses direitos, está o da educação, que é reconhecido por dis- posições declaradas e normativas internacionais aderidas por diversos países e que estão inscritas em suas legislações locais. Essas disposi- ções significam “os direitos, os deveres, as proibições, as possibilidades 63Diversidade na universidade M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. e os limites de atuação, mesmo que nem sempre elas estejam cons- cientes de todas as suas implicações e consequências” (CURY, 2002, p. 246). No entanto, para Cury (2002), em muitos casos, a aplicação des- ses dispositivos entra em confronto com a antagônica realidade social para a qual esses documentos foram pensados, em face dos estatutos de igualdade política por ela reconhecidos, por isso que: […] a importância da lei não é identificada e reconhecida como um instrumento linear ou mecânico de realização de direitos sociais. Ela acompanha o desenvolvimento contextualizado da cidadania em todos os países. A sua importância nasce do caráter contra- ditório que a acompanha: nela sempre reside uma dimensão de luta. Luta por inscrições mais democráticas, por efetivações mais realistas, contra descaracterizações mutiladoras, por sonhos de justiça. Todo o avanço da educação escolar além do ensino primá- rio foi fruto de lutas conduzidas por uma concepção democrática da sociedade em que se postula ou a igualdade de oportunidades ou mesmo a igualdade de condições sociais. (CURY, 2002, p. 247) Diante disso, concorda-se com Santos (2003), quando afirma que todos têm o direito a ser iguais quando a diferença os inferioriza. Assim como todos têm o direito a ser diferentes quando a igualdade os des- caracteriza. O autor justifica que reside nesse ponto a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades. Nessa expectativa de igualdade de oportunidades e de condições sociais é que reside o fazer docente. De acordo com Cury (2002), esses atores e cidadãos notaram que, apesar de toda a adversidade vivencia- da, é a educação o instrumento viável de luta. Por meio dela, como afir- ma o autor, podem ser proporcionadas condições mais propícias não só para a democratização da educação, mas também para a socialização de gerações mais iguais, menos injustas e mais emancipadoras. Com base nesses posicionamentos, acredita-se que os princípios de igualdade possam ser traduzidos em práticas educacionais, que, por 64 Educação inclusiva e diversidade no ensino superior M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . sua vez, possam contribuir com mudanças mais amplas em relação às desigualdades e exclusão presentes na atualidade. Tais princípios têm na modernidade um significado totalmente distin- to do que tiveram nas sociedades anteriores. Portanto, são sempre ne- cessárias a contextualização das práticas e a compreensão do lugar de fala de cada grupo social. A igualdade, a liberdade e a cidadania são reconhecidas como princí- pios emancipatórios da vida social (SANTOS, 2003). Por isso, é preciso refletir sobre a diversidade, igualdade e inclusão como sujeitos políticos e sociais, entendendo os elementos que abrangem esses significados e identificando os princípios que norteiam tais concepções. PARA PENSAR Dada a diversidade presente em sala de aula, no papel de docente uni- versitário, como planejar de forma estratégica e que resulte em ações mais igualitárias, sejam elas no âmbito presencial, virtual ou híbrido? De acordo com Dias (2010, p. 92), a formação realizada no âmbito universitário, além de contribuir para a qualificação profissional dos su- jeitos, também os prepara para o desenvolvimento dos aspectos práti- cos da vida. Para o autor, isso quer dizer alicerçar valores, potencializan- do aspectos morais e intelectuais, além da automatização do sujeito e sua participação na vida social e na cidadania. Esta é a formação que se configura como a razão essencial da edu- cação. Ela é constituída pelas relações que os sujeitos estabelecem entre si e com o outro, as quais são mediadas pelo conhecimento e orientadas por valores, que são patrimônios públicos (DIAS, 2010). Nessa conjuntura formativa são firmados o direito à igualdade e o direito à diferença, enten- dendo que entre elas está o dever do Estado e o direito do cidadão, o que, para Cury (2002), não se trata de uma relação simples. 65Diversidade na universidade M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. De um lado, é preciso fazer a defesa da igualdade como princípio de cidadania, da modernidade e do republicanismo. A igualdade é o princípio tanto da não discriminação quanto ela é o foco pelo qual homens lutaram para eliminar os privilégios de sangue, de etnia, de religião ou de crença. Ela ainda é o norte pelo qual as pessoas lutam para ir reduzindo as desigualdades e eliminando as diferen- ças discriminatórias. Mas isto não é fácil, já que a heterogeneidade é visível, é sensível e imediatamente perceptível, o que não ocorre com a igualdade. Logo, a relação entre a diferença e a heterogenei- dade é mais direta e imediata do que a que se estabelece entre a igualdade e a diferença. (CURY, 2002, p. 255) Como já foi destacado nos capítulos anteriores, é possível constatar, por meio dos dados apresentados anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que as ma- trículas de estudantes público-alvo da educação especial têm aumenta- do, bem como está presente na política educacional a atuação em prol da contemplação de ações que reconheçam a diversidade cultural, do mesmo modo que o sistema de reserva de vagas tem contribuído para o aumento da inserção de estudantes negros em cursos universitários. Porém, considera-se que a situação relacionada à equidade e à qualida- de da educação necessita de práticas mais efetivas. NA PRÁTICA No papel de docente universitário, contemple sobre a diversidade em sua prática. Você pode começar, por exemplo, valorizando: • As diferentes perspectivas, ideias e pensamentos apresentados pelos alunos a partir dos referenciais de estudo. • As experiências e histórias de vida, quando oportunizar exercícios práticos. • As características diversas na composição de grupos colaborativos. 66 Educação inclusiva e diversidade no ensino superior M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Nas práticas educacionais, Rodrigues e Maranhe (2010) explicam que entender o outro, enquanto diferente, não deve passar pela aceita- ção do que ele difere de nós, mas sim pelo reconhecimento de sua di- ferença. Nesse sentido, é preciso pôr em prática ações que contribuam para a criação de um ambiente mais inclusivo. As autoras identificam algumas intervenções que podem ser desenvolvidas de modo a consi- derar esses preceitos. São elas: • Promover a mudança nas atitudes discriminatórias,as quais le- vam as pessoas a agir negativamente em relação à diversidade, trabalhando com quebra de tabus, estigmas, desinformação e ignorância. • Valorizar as diferenças e esclarecer que ser diferente e único é um traço de todo ser humano. • Identificar e valorizar as potencialidades que cada sujeito possui. • Valorizar o cooperativismo por meio da promoção da solidarieda- de entre os colegas. • Trabalhar com metodologias diversificadas, avaliando permanen- te e qualitativamente. A sala de aula (presencial ou virtual) precisa ser compreendida como um espaço de encontro de diferentes culturas e de valorização da diferen- ça. A docência é uma prática social e, portanto, é preciso aproximá-la de forma estratégica às temáticas sobre diversidade, igualdade, alteridade e cultura inclusiva, junto aos demais conteúdos curriculares. Considerações finais Complementando as questões trabalhadas nos capítulos anteriores, que abordaram a educação inclusiva no âmbito do ensino superior, o papel docente diante no fortalecimento da cultura inclusiva e a valoriza- ção do multiculturalismo, neste capítulo, avançamos mais um passo e 67Diversidade na universidade M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. situamos a diversidade no contexto da alteridade, frisando a necessida- de de se promover no ambiente universitário oportunidades igualitárias para todos. As temáticas abordadas neste texto ajudam a refletir sobre a vida em sociedade e sobre as relações tecidas no espaço social da universidade. Pois, embora a sociedade em que vivemos seja vista como civilizada, os preconceitos que historicamente mantiveram parte dos indivíduos em condições de desfavorecimento social, principalmente em situações pre- cárias de escolarização, ainda provocam prejuízos na formação da popu- lação brasileira. Portanto, é importante esclarecer e ao mesmo tempo estimular ações individuais e coletivas no âmbito das práticas docentes, a fim de promover mudanças nesse cenário e no combate a comportamentos discriminatórios. Espera-se que este conteúdo sirva de instrumento para informar, for- mar e conscientizar sobre a valorização e o respeito à diversidade em todos os espaços sociais, entre eles o ambiente acadêmico, contribuin- do assim para fomentar o desenvolvimento de uma cultura da diversi- dade e para a inclusão no ensino superior. Referências ALVES, M. A.; GHIGGI, G. Pedagogia da alteridade: o ensino como condição éti- co-crítica do saber em Lévinas. Educação & Sociedade, v. 33, n. 119, p. 577-591, abr./jun. 2012. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_Livro_ EC91_2016.pdf. Acesso em: 27 set. 2021. BRASIL. Lei no 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). 2015. 68 Educação inclusiva e diversidade no ensino superior M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/ L13146.htm. Acesso em: 15 ago. 2021. CURY, C. R. J. Direito à educação: direito à igualdade, direito à diferença. Cadernos de Pesquisa, n. 116, jul. 2002. DIAS, S. J. Dilema da educação superior no mundo globalizado: sociedade do co- nhecimento ou economia do conhecimento? São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010. LAERTE-SE. Direção: Lygia Barbosa e Eliane Brum. Roteiro: Eliane Brum. (100 min.). Brasil: Netflix, 2017. LÉVINAS, E. Totalidade e infinito. 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Sobre a autora Cícera Aparecida Lima Malheiro é doutora em educação (UFSCar), mes- tra em educação especial (UFSCar), especialista em gestão educacional (Unesp) e em planejamento e implementação e gestão da educação a distância (UFF), graduada em educação física (Unesp) e licenciada em pedagogia (Uninove). Docente no mestrado profissional em educação inclusiva (PROFEI/Unesp). Colaboradora no curso de graduação em tec- nologia em design educacional (Unifesp) e em pesquisas sobre acessi- bilidade e inclusão no ensino superior. Membro dos grupos de pesquisa credenciados pelo CNPq: Núcleo de Educação e Colaboração (NEC/ Unesp) e Comunicação, Design e Tecnologias Digitais (CODE/Unifesp). Autora do livro Sala de recursos multifuncionais: formação, organização e avaliação (2017). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9594089174735076.
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