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Diálogos Acadêmicos IESCAMP – ReDAI. vol. 4, nº.2, ago-dez, 2020 57 RESENHA DE: COSTA, Wanderley Messias da. Geografia política e geografia: discursos sobre o território e o poder. São Paulo: Hucitec, 1992. GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA Paulo Anderson Fugulin1 Nesta obra, autor faz uma introdução a respeito da questão terminológica da geopolítica, dando ênfase às raízes, diferenciações e significados, e apresenta a contextualização histórica a que se deu a formulação do termo. Logo em seguida, irá tratar sobre o imperialismo e suas concepções desenvolvendo o tema com bases históricas, e por último, irá fazer uma comparação sobre a teoria de A.T. Mahan e H.J. Mackinder. A geopolítica a que hoje está presente nos debates, sobretudo televisivos e midiáticos, constitui, conforme o autor, em uma espécie de esvaziamento do discurso mais aprofundado da geografia política, que levará em conta aspectos da formação territorial e as formas de representação. A geografia, como ciência que estuda a transformação da natureza realizada pelo homem, sendo este último também transformado por esta relação, a Geografia Política surge como um grande apoio de complementação teórica à Geografia Econômica, uma vez que é o ser humano o principal protagonista desta dinâmica. Conforme Costa (1992), a geopolítica tal como a conhecemos, resulta de um empobrecimento da análise da geografia política desenvolvida por autores clássicos como: “Ratzel, Vallaux, Bowman, Gottmann, Hartshorne, Wittlesey, Weigert, e tantos outros”. No entanto, a questão relativa à terminologia, não é tão simples, isto se exemplifica pelo fato de haverem estudos e análises que utilizam a terminologia geopolítica a geografia política, por simples modismo ou comodismo. Rudolf Kjéllen, foi o primeiro a utilizar o termo geopolítica para designar a relação entre o Estado e o território: Concebia a geopolítica como um ramo autônomo da ciência política, distinguindo-a da geografia política, para ele um sub-ramo da geografia. Tomando de Ratzel a ideia de Estado como organismo territorial, o reduz a um organismo de tipo biológico. (COSTA, 1992, p. 56) Para Kjéllen, tal disciplina seria orientada para os chamados “estados-maiores” da Europa, com destaque para a Alemanha. Essa orientação a serviço do Estado como uma forma 1 Possui graduação em Administração pela FACECAP - Faculdade Cenecista de Capivari (SP), licenciatura e mestrado em Geografia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Atualmente é professor de geografia no Instituto Educacional “Nova Escola” e no Instituto Educacional “Raphael Di Santo” é, também, professor mestre na IESCAMP - Instituto de Educação e Ensino Superior de Campinas (SP). E-mail: pafugulin@gmail.com. Diálogos Acadêmicos IESCAMP – ReDAI. vol. 4, nº.2, ago-dez, 2020 58 de estratégia, iria ficar conhecida como a “geografia política da guerra, ou a geopolítica”, o que acabou por influenciar centros de estudos estratégicos de diversos países como: Alemanha, Itália, Argentina, Chile e Brasil, Costa (1992). As estratégias dos países dominantes em expandir seu domínio, seja via mar ou terrestre e seus pontos nevrálgicos de conflitos desencadeou na Primeira Guerra mundial. A divisão territorial como foco das disputas geopolíticas, teria levado Lenin a interpretar tal fato como um novo imperialismo, pois estaria de acordo com os ditames capitalistas. Desta forma, Hobsbawm irá salientar: A essa altura torna-se difícil separar os motivos econômicos para a aquisição de territórios coloniais da ação política necessária para este fim, pois o protecionismo de qualquer tipo de economia operando com ajuda política. (COSTA, 1992 apud HOBSBAWM, 1989) Mais adiante, Costa (1992) irá fazer um rápido resgate histórico e conceitual acerca do conceito do imperialismo e destacar as razões pelas quais os Estados Unidos realiza ações caracterizadas como imperialistas, na busca pela conquista de novos territórios desde a história de sua fundação. O novo panorama apresentado com os EUA sendo uma nova potência, juntamente com as do leste europeu, tornam-se prerrogativas globais e nas quais as estratégias seriam lançadas ou por terra ou por mar. A partir de 1890, surge a visão americana de geopolítica com A.T. Mahan, “reconhecido como precursor das teorias geopolíticas sobre o poder marítimo na época contemporânea”. A popularização de suas ideias, fez com que democratas e republicanos as defendessem, pois não viam oposição entre o imperialismo e a democracia. O que Mahan traria de novo, seria a concepção integrada das peculiaridades marítimas: Para ele, é fundamental a natureza e o grau de envolvimento de toda a população de um país com as atividades marítimas, decorrendo daí as possibilidades concretas de constituição de um poder de fato nessa área. (COSTA, 1992, p. 70) Para Mahan, segundo o autor, o poder marítimo estaria baseado nas seguintes vantagens: posição geográfica, império colonial como apoio e marinha mercante ostensivamente desenvolvida. Muito embora Mahan leve em consideração em sua análise outros fatores terrestres, coloca o poder marinho em primeiro plano. Em 1904, H.J. Mackinder, irá apresentar uma nova teoria geopolítica baseada no que ele chamava de realismo continental. Enquanto o teórico anterior dava maior importância para as vias marítimas, este último dava maior ênfase ao continente. Defende ainda, a geografia como uma disciplina estratégica a ser disseminada, uma população que deveria viver sob regras e que as aspirações deveriam, até certa medida, serem padronizadas. Ao desenvolver sua teoria, Mackinder, irá dar enfoque a pontos centrais de conquista, a qual denominara de área coração ou coração continental (no caso, a então URSS). Em seu desenvolvimento teórico, chega a deduzir a formação de um império mundial, caso houvesse uma aliança entre a Rússia e a Alemanha. E ainda conclui: [...] o poder político e militar só pode ser perseguido quando a potência puder contar com uma sólida base técnico-científica e industrial, o que certamente diminui a importância relativa da sua posição geográfica. (COSTA, 1992, p. 84) Diálogos Acadêmicos IESCAMP – ReDAI. vol. 4, nº.2, ago-dez, 2020 59 Vários acontecimentos históricos contribuíram para que Mackinder reformulasse sua teoria em 1904, dando maior ênfase a novos territórios que iriam extrapolar a URSS. Faz uma análise ao rápido crescimento alemão e compara com o crescimento inglês, apontando que este último negligenciara questões navais, que segundo ele, seriam essenciais para a manutenção do crescimento: [...] o modo de operar das sociedades democráticas é menos eficaz que o das autocracias. [...] ele não tem dúvidas de que a disputa imperialista leva às guerras, sejam impérios inspirados pelo livre comércio “laissez-faire”, sejam os protecionistas de tipo predatório. [...] . A seu ver, havia um grande problema para a Liga das Nações resolver: como conciliar um sistema político baseado na criação e controle de pequenos Estados para povos e línguas tão distintos [...] e com demandas nacionais de toda ordem? (COSTA, 1992, p. 90-91) E ao final, do capitulo o autor destaca uma orientação de Mackinder que, mediante iminente ameaça soviética, “é mister que as democracias ocidentais mantenham a sua coesão e disciplina. De maneira bastante prática, o autor descreveu a teoria dando uma boa introdução acerca do termo e depois desenvolveu muito bem as conceituações acerca do tema proposto. Uma característica, a nosso ver positiva, foi o caráter bastante honesto quanto à redação de modo a deixar bastante claro quando se tratava da opinião do autor e em relação às opiniões dos teóricos. Trata-se de um texto bastante esclarecedor, e altamente recomendávela aqueles interessados ao tema. *** REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COSTA, Wanderley Messias da. Geografia política e geografia: discursos sobre o território e o poder. São Paulo: Hucitec, 1992.
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