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1 EDUCAÇÃO ESPECIAL E AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS Prof. Dr. Carlos Eduardo Candido Pereira Profª. Me. Elisia Maria de Jesus Santos 2 EDUCAÇÃO ESPECIAL E AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS PROF. DR. CARLOS EDUARDO CANDIDO PEREIRA PROFª. ME. ELISIA MARIA DE JESUS SANTOS 3 Diretor Geral: Prof. Esp. Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: Prof. Dr. William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Profa Esp. Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Profa. Esp. Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Profa. Esp. Izabel Cristina da Costa Profa. Esp. Imperatriz Matos Revisão técnica: Profa. Ph.D Fabiana Grecco Revisão/Diagramação/Estruturação: Bruna Luíza mendes Leite Maria Eliza P. Campos Prof. Esp. Guilherme Prado Design: Aline De Paiva Alves Bárbara Carla Amorim O. Silva Élen Cristina Teixeira Oliveira Taisser Gustavo Soares Duarte © 2021, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autoriza- ção escrita do Editor. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. 4 EDUCAÇÃO ESPECIAL E AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS 1° edição Ipatinga, MG Faculdade Única 2021 5 Educação Escolar na área de Política e Gestão Educacional (FCLAr/UNESP/SP). Mes- trado em Educação Escolar na linha Formação de Professores, Trabalho Docente e Práticas Pe- dagógicas (FCLAr/UNESP/SP). Graduado em Li- cenciatura em Pedagogia (FCLAr/UNESP/SP). É docente substituto no curso de graduação em Pedagogia do Instituto Federal de Goiás(IFG) – Campus Goiânia Oeste se dedica ao estudo/ pesquisa/extensão nas seguintes áreas: Políti- cas Educacionais, Organização da Educação, Gestão Educacional, Educação Especial e In- clusiva, Formação de Professores e Práticas de Ensino e, Educação a Distância (EAD). Atua na Educação a Distância, na prestação de serviços como tutor e professor, bem como, na criação de cursos online, elaboração de guias de es- tudo, desenvolvimento de banco de questões e leitura crítica (revisão/curadoria) para cursos de formação, capacitação e especialização para instituições / grupos de ensino. Em sua trajetó- ria profissional já esteve em funções como as de Coordenador Pedagógico do Ensino Funda- mental e Médio. Professor Conteudista EAD CARLOS EDUARDO CANDIDO PEREIRA Para saber mais sobre a autora desta obra e suas quali- ficações, acesse seu Curriculo Lattes pelo link : http://lattes.cnpq.br/7698913311024550 Ou aponte uma câmera para o QRCODE ao lado. 6 Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (2008) e mestra- do na pós - graduação de Ciências Sociais na Universidade Federal da Bahia. Orientada por Miriam C.M. Rabelo, com concentração da pes- quisa na área da Sociologia da Religião. Tem se dedicado ao estudo de questões sócio-culturais e raciais relativas à religião e educação, desen- volvendo pesquisas sobre as relações entre reli- gião, práticas corporais e modos de tratamento no contexto do candomblé e pentecostalismo. Tem interesse especial no desenvolvimento de abordagens fenomenológico no campo das ci- ências sociais, particularmente nas discussões contemporâneas sobre corporeidade, experiên- cia e vida cotidiana. É pesquisadora do Núcleo de Estudos em Ciências Sociais e Saúde (ECSAS) da Universidade Federal da Bahia. Atualmente está cursando sua segunda graduação em His- tória e desenvolve materiais pedagógicos para FTC e UNYLEYA, além de ser professora e tutora destas duas instituições. ELISIA MARIA DE JESUS SANTOS Para saber mais sobre a autora desta obra e suas quali- ficações, acesse seu Curriculo Lattes pelo link : http://lattes.cnpq.br/0039721705011949 Ou aponte uma câmera para o QRCODE ao lado. 7 LEGENDA DE Ícones Trata-se dos conceitos, definições e informações importantes nas quais você precisa ficar atento. Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros da biblioteca virtual, relacionados ao conteúdo apresentado no livro. Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada unidade, associando-os a suas ações. Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos conteúdos abordados no livro. Apresentação dos significados de um determinado termo ou palavras mostradas no decorrer do livro. FIQUE ATENTO BUSQUE POR MAIS VAMOS PENSAR? FIXANDO O CONTEÚDO GLOSSÁRIO 8 UNIDADE 1 UNIDADE 2 UNIDADE 3 UNIDADE 4 SUMÁRIO 1.1 Introdução ............................................................................................................................................................................ ..............................................................................................................1 0 1.2 Diferenciação entre ética e moral .....................................................................................................................................................................................................................................10 1.3 Estigma e preconceito ...............................................................................................................................................................................................................................................................13 1.4 Deficiência ou deficiente? ......................................................................................................................................................................................................................................................14 FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................................................................................................................................................................................................17 2.1 Introdução ..........................................................................................................................................................................................................................................................................................21 2.2 Breve percurso histórico sobre a deficiência ............................................................................................................................................................................................................21 2.3 A pessoa com deficiência século XX ..............................................................................................................................................................................................................................23 2.4 A pessoa com deficiência século XXI ............................................................................................................................................................................................................................26 FIXANDO O CONTEÚDO ...............................................................................................................,................................................................................................................................................29 3.1 Introdução .........................................................................................................................................................................................................................................................................................333.2 Paradigmas (segregação, integração e inclusão) .................................................................................................................................................................................................33 3.3 Barreiras de inclusão .................................................................................................................................................................................................................................................................36 3.4 Direito da pessoa com deficiência .................................................................................................................................................................................................................................38 FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................................................................................................................................................................................................41 CONCEPÇÕES SOBRE A DIFERENÇA ENTRE AS PESSOAS HISTÓRIA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA DEFICIÊNCIA, INCLUSÃO E DIREITOS HUMANOS 4.1 Introdução ........................................................................................................................................................................................................................................................................................45 4.2 Educação Especial .....................................................................................................................................................................................................................................................................45 4.3 Educação Inclusiva ....................................................................................................................................................................................................................................................................48 4.4 Recursos de acessibilidade em educação ................................................................................................................................................................................................................49 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................52 EDUCAÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E ACESSIBILIDADE 5.1 Introdução .........................................................................................................................................................................................................................................................................................56 5.2 Formação de professores ......................................................................................................................................................................................................................................................56 5.3 Relação entre escola, professor e família no atendimento educacional ..............................................................................................................................................57 5.4 Adaptações Curriculares .......................................................................................................................................................................................................................................................59 FIXANDO O CONTEÚDO ..............................................................................................................................................................................................................................................................62 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO - AEE UNIDADE 5 6.1 Introdução ........................................................................................................................................................................................................................................................................................67 6.2 Mercado de Trabalho ................................................................................................................................................................................................................................................................67 6.3 Cultura e lazer ...............................................................................................................................................................................................................................................................................69 6.4 Turismo ..............................................................................................................................................................................................................................................................................................70 FIXANDO O CONTEÚDO.................................................................................................................................................................................................................................................................72 A REALIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA EM OUTROS CONTEXTOS SOCIAIS UNIDADE 6 9 UNIDADE 7 UNIDADE 8 UNIDADE 9 UNIDADE 10 SUMÁRIO 7.1 A História Dos Direitos Humanos ......................................................................................................................................................................................................................................79 7.2 A Construção Da Cidadania E Dos Movimentos Sociais ..................................................................................................................................................................................83 7.3 O Desenvolvimento Das Políticas Públicas ..............................................................................................................................................................................................................84 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................86 8.1 A Construção Dos Direitos Humanos Na Atualidade ..........................................................................................................................................................................................91 8.2 A Cultura E Identidade No Século XXI ..........................................................................................................................................................................................................................92 8.3 A Globalização Da Cultura E A “Dromocracia” ........................................................................................................................................................................................................95 FIXANDO O CONTEÚDO ...............................................................................................................,..............................................................................................................................................100 9.1 Análise Sobre Corpo, Sexualidade E Gênero ...........................................................................................................................................................................................................104 9.2 Cultura, Identidade E Alteridade Nas QuestõesDe Gênero E Sexualidade .....................................................................................................................................106 9.3 Diversidade: Raça, Gênero, Desvios E Desafios Na Perspectiva Descolonial ...................................................................................................................................106 FIXANDO O CONTEÚDO ..............................................................................................................................................................................................................................................................109 DIREITOS HUMANOS DIREITOS HUMANOS NA ATUALIDADE HISTÓRIA DA CONSTRUÇÃO DO GÊNERO E DA SEXUALIDADE 10.1 Gênero, Configurações Familiares E Parentalidade .........................................................................................................................................................................................114 10.2 As Abordagens Religiosas Sobre Gênero ................................................................................................................................................................................................................116 10.3 A Cultura E Suas Construções De Gênero ..............................................................................................................................................................................................................117 FIXANDO O CONTEÚDO ...............................................................................................................................................................................................................................................................119 GÊNERO E SUAS CONFIGURAÇÕES 11.1 Um Aprofundamento Na Identidade Cultural E Multiculturalismo .......................................................................................................................................................124 11.2 Os Movimentos Sociais E O Reconhecimento Identitário ...........................................................................................................................................................................129 11.3 Algumas Reflexões Sobre Parâmetros De Identificação De Gênero ....................................................................................................................................................132 FIXANDO O CONTEÚDO ...............................................................................................................................................................................................................................................................135 IDENTIDADE, RELAÇÕES DE GÊNERO E DIREITOS HUMANOS UNIDADE 11 12.1 Gênero E Violência Contra A Mulher .........................................................................................................................................................................................................................140 12.2 Gênero E Sexualidades No Ambiente Escolar .....................................................................................................................................................................................................146 12.3 Gênero, Raça/Etnia E Feminismos ..............................................................................................................................................................................................................................148 FIXANDO O CONTEÚDO...............................................................................................................................................................................................................................................................151 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO......................................................................................................................................................................................................................155 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................................................................................................................................................................157 GÊNERO, DIVERSIDADE E DIREITOS HUMANOS UNIDADE 12 10 O N FI R A N O L I C V RO UNIDADE 1 Dentro do tema Concepções Sobre A Diferença Entre As Pessoas será compreendida a diferenciação entre ética e moral. O estigma e preconceito, bem como, a deficiência ou deficiente. UNIDADE 2 Por meio desta unidade será compreendida a História Da Pessoa Com Deficiência. Para isso, será estudado um breve percurso histórico sobre a deficiência e, no avanço da linha do tempo serão estudadas as condições da pessoa com deficiência no século XX e XXI. UNIDADE 3 Nesta unidade sobre Deficiência, Inclusão E Direitos Humanos. Serão tratados assuntos conceituais como os paradigmas (segregação, integração e inclusão), as barreiras de inclusão e o direito da pessoa com deficiência. UNIDADE 4 A quarta unidade é sobre a Educação da Pessoa Com Deficiência e a Acessibilidade. Compõe este tópico a Educação Especial, a Educação Inclusiva e os Recursos de Acessibilidade em Educação. UNIDADE 5 A quinta unidade tem por tema o Atendimento Educacional Especializado (AEE) focado na formação de professores, na relação entre a família e a escola no AEE e as adaptações curriculares. UNIDADE 6 A última unidade versa sobre a Realidade da Pessoa com Deficiência em outros contextos sociais, como: mercado de trabalho, cultura e lazer e turismo. 11 UNIDADE 7 Esta unidade introdutória está dividida em três tópicos: 1- A História dos Direitos Humanos; 2- A construção da cidadania e dos Movimentos sociais e; 3- O desenvolvimento das Políticas Públicas. Nela, iremos abordar as dimensões históricas e os principais conceitos relacionados ao tema geral, além de pontuar questões atuais e pertinentes ao nossos estudos. UNIDADE 8 Esta unidade esta organizada em três tópicos: 1- A construção dos direitos humanos na atualidade; 2- A cultura e identidade no século XXI e; 3- A globalização da cultura e a “dromocracia”. Nela, aprofundaremos os nossos estudos com perspectivas críticas acerca dos Direitos Humanos no contexto global atual, além de abordar o conceito de dromocracia, relacionado às tecnologias. UNIDADE 9 Esta unidade esta dividida em três tópicos: 1- Análise sobre corpo, sexualidade e gênero; 2- Cultura, identidade e alteridade nas questões de gênero e sexualidade e; 3- Diversidade: raça, gênero, desvios e desafios na perspectiva descolonial. Nela iremos estudar as perspectivas críticas relacionadas ao grande tema de gênero e sexualidade, com ênfase nas suas especificidades. As categorias cultura, identidade, raça e colonialidade serão abordadas. UNIDADE 10 Esta unidade esta organizada em três tópicos: 1- Gênero, configurações familiares e parentalidade; 2- As abordagens religiosas sobre gênero e; 3- A cultura e suas construções de gênero. Nela iremos estudar as perspectivas críticas relacionadas ao grande tema de gênero e suas configurações, com destaque nos aspectos da cultura, da instituição família e as noções de parentalidade. UNIDADE 11 Esta unidade esta organizada em três tópicos: 1- Um aprofundamento na Identidade cultural e Multiculturalismo; 2- Os movimentos sociais e o reconhecimento identitário e; 3- Algumas reflexões sobre parâmetros de identificação de gênero. Iremos abordar a temática das identidades e as relações de gênero na perspectiva dos Direitos Humanos, será pertinente abordar a organização dos movimentos sociais com reivindicações identitárias. UNIDADE 12 Esta unidade esta organizada em três tópicos: 1- Gênero e violência contra mulher; 2- Gênero e sexualidades no ambiente escolar e; 3- Gênero, raça/etnia e feminismos.Iremos tratar a temática de gênero com aprofundamento na categoria de raça e feminismos, no plural, indicando a diversidade de vertentes e discussões, além da abordagem do tema nas escolas. O N FI R A N O L I C V RO 12 CONCEPÇÕES SOBRE A DIFERENÇA ENTRE AS PESSOAS 13 1.1 INTRODUÇÃO Prezado estudante, você já parou para pensar que existe no mundo bilhões de pessoas e, por mais que sejam parecidas, elas não são idênticas ou iguais? Essa diferença, entretanto, nem sempre tem a mesma compreensão no que concerne a grupos ou mesmo à sociedade. Assim, ao se fazer referência sobre o brasileiro em um pais no exterior, talvez, pela referência sobre carnaval ou futebol, poder-se-iam expressar que todas as pessoas do país soubessem jogar futebol ou mesmo dançar samba. A realidade, todavia, pode ser diferente, pois não é possível aplicar isso a todas as pessoas do Brasil, uma vez que, nem todos realizam tais ações. Na verdade, o samba e o futebol são aspectos da cultura nacional que criam uma imagem, mas não que, necessariamente, seja algo comum a todos. Por outro lado, expressões como “direitos para todos” são derivadas de organizações sociais e políticas. Quando as pessoas se agrupam em um território, ali se relacionam e buscam atingir no mínimo seus objetivos humanos (comer, dormir, descansar etc.) e criam regras. Por consequência, ao longo dos anos, pensar nas formas de viver bem coletivamente com interpretações sobre o que é ou não é possível remete às formas de organizações sociais cujos filósofos da Grécia Antiga explicam por meio dos conceitos como ética e moral. Tais conceitos também permitem pensar, dentro de uma sociedade, as razões sobre a ocorrência do estigma e do preconceito, já que a organização da sociedade se traduz em aspectos comuns a todos os membros que a ela pertencem. Assim, a diferença aparece como algo que foge aos padrões, caso das pessoas com deficiência. Sobre este público, o cuidado conceitual também se torna objeto de muito cuidado para não se cair em situações pejorativas ou mesmo discriminatórias. Então, deficiente e deficiência são conceitos próximos, mas não sinônimos. Todos estes temas e suas particularidades serão mais compreendidos nos tópicos que compõem esta unidade. Bons estudos!!! Estes dois conceitos são pertencentes à Filosofia pois derivam desde Sócrates, Platão e Aristóteles nos longínquos séculos III a V a.C. Vale relembrar que esta ciência (Filosofia) trouxe à humanidade os primeiros registros sobre o conhecimento de mundo e sociedade e se dividia, por exemplo, em: metafísica, epistemologia, ética, estética, história, lógica e política. 1.2 DIFERENCIAÇÃO ENTRE ÉTICA E MORAL Saiba mais sobre a filosofia e conceitos filosóficos ao acessar a biblioteca virtual Pearson: Mattar, J. Introdução à Filosofia. Editora Pearson, 2010. Disponível em: https://bit.ly/3K7P0M3. Acesso em: 15 set. 2021. BUSQUE POR MAIS 14 Com o passar dos anos a Filosofia foi sendo desdobrada em outros ramos de conhecimento dando o surgimento a outras ciências, como a Sociologia, Psicologia e outras mais. Mas qual a importância da filosofia e dos conceitos de moral e ética? De modo a se situar na história, na época dos filósofos da Grécia Antiga, a ideia de cidade (pólis) foi sendo desenvolvida, bem como, da política. Essa organização se dava de maneira crescente, uma vez que, com o aumento das cidades e das pessoas que nela viviam também cresciam o choque de interesses entre todos os residentes. Basta transpor essa linha de raciocínio para a atualidade e expandir o pensamento. Por consequência, seria possível perguntar: todas as pessoas podem fazer o que quiserem na minha cidade, no meu prédio, na minha casa? A resposta seria um efetivo: não! Afinal, na atualidade há regras para se ouvir som alto até determinada hora em um condomínio residencial. As pessoas não podem ofender umas às outras em espaços coletivos (em alguns casos a ofensa é considerada crime). Os fumantes só podem fazê-lo em espaço público reservado para isso, bem como outras regras sociais existentes. Assim posto, na concepção de cidade, as pessoas que nela vivem e sua organização vão demandar meios de se pensar em regras para o bem-estar e o bem viver entre todos. Logo, não se podendo fazer tudo o que se quer ou da forma que se deseja se aplicam aí os conceitos de ética e moral. A ética (ethos) e a moral (morale) são conceitos derivados do grego e são pensados por vários filósofos ao longo da história. Na obra Ética e Nicômacode Aristóteles, o filosofo mostrou ter observado o próprio pai e com ele verifica as virtudes de um homem com bom comportamento e, por assim ser, pensa numa concepção prática deste tipo de conduta como sendo algo positivo e amistoso nas relações humanas. Essa percepção do bem-viver coletivo leva ao desenvolvimento humano e é a raiz do conceito de ética. Quando, então, se observa a expressão “tal pessoa é muito ética”, significa que essa tem um bom comportamento reconhecido pelos demais. Nesta direção, com vistas a racionalidade do comportamento entre os homens na pólis, Chauí (2002) aponta que o conceito de ética para Aristóteles se torna algo prático porque: [...] deve definir a felicidade, a natureza humana como ethos e as virtudes, ou, como diz Aristóteles, um trata- do de filosofia prática não pretende apenas conhecer o que é o bem, mas visa, sobretudo, saber como nos tor- namos bons (CHAUÍ, 2002, p. 441). Por essa razão, a ética permite os homens viverem bem na relação com os demais membros da sociedade. Assim, na relação com o outro, se pode buscar a virtude e a felicidade. A ética, de acordo Buckingham (2011) pode ser definida como: Ramo da filosofia que trata as questões sobre como devemos viver e, portanto, sobre a natureza de certo e errado, bem e mal, dever, obrigação e outros conceitos (BUCKINGHAM, 2011, p. 341). No que tange ao conceito de moral, por vezes, na linguagem popular se ouve falar: “certa pessoa não tem moral para isso” ou mesmo se ouve em letras de música, como a da banda Jota Quest o refrão: “Na moral, na moral, só na moral”. No primeiro caso, a expressão diz respeito a uma pessoa que aparentemente não 15 tem honra ou mesmo caráter para falar ou executar algo. Já a segunda palavra, pela letra da canção seria possível explicar e identificar que alguns comportamentos como o certo ou errado, estão previstos dentro de um nível de aceitabilidade social. A própria canção reafirma essa ideia quando num dos trechos se identifica o texto: “Vivendo de folia e caos. Quebrando tudo, para variar. Vivendo entre o sim e o não. Levando tudo na moral.”. Isso significa dizer que algumas regras são feitas para se seguir, mas algumas delas, dentro do considerado anormal, podem ser aceitáveis. Ainda sobre a moral na filosofia, Agostinho e Aquino, tinham cuidado em zelar pela moral da igreja (cristianismo) por meio da integridade do homem enquanto um ser justo e temente as leis de Deus. Observa-se que a moral tem relação com um conjunto de regras que são aceitáveis ou não pelos sujeitos de uma determinada cultura ou sociedade, assim como, impactam a forma de pensar do homem, pois pode ser socialmente aceito ou não ou numa perspectiva cristã pode ser do agrado ou desagrado (pecado) de Deus. A moral refere-se ao conjunto de normas e regras baseadas na cultura e nos costumes de determinado grupo social. Já a ética é o estudo e reflexão sobre a moral. FIQUE ATENTO Assim sendo, cabe destacar que ética e moral parecem ser a mesma coisa, pois tratam o comportamento e o desenvolvimento humano. Todavia, ética se preocupa com o comportamento humano e a moral com as regras que condicionam o comportamento humano. Em termos de política, é possível aproximar as leis da moral, pois são um conjunto de regras consideradas importantes por uma determinada sociedade. Assim, em sociedade, é possível definir o que é certo ou errado, o que cabe ou não punição, o que pode e o que nãopode fazer. Por tudo isso, quando se pensa na ética e na moral ligadas à educação, para além da expressão “a escola deve formar cidadãos”, a ética e a moral, por vezes, são ensinadas por meio de valores. Cabe destacar valor como sendo a relação entre o que o indivíduo precisa para viver (comer, respirar, relacionar etc.) e o que pode utilizar enquanto objeto da natureza humana (comer) ou social (relacionar). Os valores são conceitos ligados a ética. Assim, para além do conteúdo escolar, os valores que a escola amplia ao que o estudante traz do seio familiar é uma função inerente no desenvolvimento e no trabalho pedagógico da ética e da moral. Valores como: respeito, honestidade, tolerância, caridade, igualdade são apenas alguns de outros tantos que se somam a formação humana. No que tange a pessoa com deficiência sabe-se que assim como outros grupos (como do movimento afro, LGBTQI+ ou indígena) existe um certo preconceito pela sua condição dadas diferenças observadas por condições físicas e sensoriais. Isso é caracterizado por uma cultura de desconhecimento de potencialidades e por questões culturais e socioeconômicas. Dentro do campo da moral há a tendência do exercício do direito e do dever ao público com deficiência por meio das leis e, por outro lado, a ética deve levar em conta 16 a melhor forma de lidar com questões de desrespeito a esses grupos tendo instituições como família e a escola a incumbência de educar e ensinar os homens por meio da ética. Por último, destaca-se que ética e moral são conceitos relevantes que possuem uma história bem antiga, sendo objeto de estudo de vários filósofos e pensadores, como: Aristóteles, Aquino, Agostino e Kant. No Brasil, no tema, destacam-se alguns filósofos como: Marilena Chauí, Leandro Karnal, Mario Sérgio Cortella e Clóvis de Barros Filho. Para além deles e de tais conceitos, o próximo tópico vai apontar mais dois conceitos importantes em que será possível adentrar ao universo da pessoa com deficiência: estigma e preconceito. 1.3 ESTIGMA E PRECONCEITO Como verificado no tópico anterior os valores são construídos com base na relação entre a ética e moral. Cabe a questão: e quando tais valores são complexos? Para compreender isso, pense na seguinte situação: dentro dos valores de nossa sociedade, um jogador de futebol é “bom” porque faz muitos gols pelo seu clube/seleção. Todavia, esse mesmo profissional, fora de campo é uma pessoa completamente antissocial, omissa de opinião e não gosta de conversar com seus fãs ou admiradores. Em alguns casos é flagrado “batendo boca” com as pessoas. Reflita: esse mesmo jogador pode ser considerado bom? Repare que temos um jogador bom na profissão que escolheu, mas não é tão bom assim no relacionamento com as pessoas que o admiram. Daí aparece um paradoxo: como ele pode ser bom, se nem sempre é bom? A generalização quando relacionada a pessoas pode ter significado de tornar algo comum a todos. Assim, dizer que todo brasileiro gosta de futebol pode desconsiderar outras possi- bilidades. FIQUE ATENTO Posto dessa maneira, é possível tratar o conceito de generalização que significa a propagação de uma ideia aceita pela maioria. Com isso, ao se referir a uma pessoa com deficiência, ainda é comum, se ter uma perspectiva diminuída de sua participação na sociedade. O fato é que as pessoas nascem, crescem e se desenvolvem de maneiras diferentes entre si. Todavia, algumas delas, fogem ao padrão de normalidade estabelecido pela cultura. Para compreender este padrão de sociedade, basta imaginar, por exemplo, a situação seguinte: se numa torcida de futebol todos vestem branco e este é um comportamento aceitável, e se de repente aparece uma pessoa vestida de grená? Como esta diferença poderia ser enfrentada? Em adendo a essa reflexão, se, numa escola, os comportamentos de um estudante são considerados destoantes dos demais ou se um aluno se mostra com dificuldade de aprendizagem ou mesmo extrema facilidade de aprendizagem, o que isso pode significar? Superdotação? Dificuldade de aprendizagem? Deficiência? Outra situação: se existisse uma sociedade composta apenas por pessoas com deficiência, uma pessoa sem limitações inserida neste contexto seria considerada 17 normal ou diferente? O mesmo raciocínio se aplica na lógica inversa, pois as vivências em nossa sociedade, na sua maioria, são compostas por pessoas sem deficiência e quando se nota alguém fora do padrão, tal diferença é destacada e ressaltada (e aqui vale incluir outras condições como obesidade, gênero sexual, questões raciais etc.). Por isso a generalização de ideias deve ser tratada de maneira ética, sendo a escola uma instituição que deve estar atenta a sua função social, pois do contrário se acentua comportamentos de discriminação, sendo as pessoas com deficiência um dos públicos- alvo desta falta de conhecimento geral. Expressões como: “mudinho, ceguinho, aleijado, mongol” estão culturalmente presentes em nossa sociedade, mas, são de teor altamente pejorativo. Isso explica o conceito de estigma. Para Goffman (2004): Os gregos, que tinham bastante conhecimento de re- cursos visuais, criaram o termo estigma para se referi- rem a sinais corporais com os quais se procurava evi- denciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava. Os sinais eram feitos com cortes ou fogo no corpo e avisavam que o portador era um escravo, um criminoso ou traidor uma pessoa marcada, ritualmente poluída, que devia ser evi- tada; especialmente em lugares públicos. Mais tarde, na Era Cristã, dois níveis de metáfora foram acrescentados ao termo: o primeiro deles referia-se a sinais corporais de graça divina que tomavam a forma de flores em erupção sobre a pele; o segundo, uma alusão médica a essa alusão religiosa, referia-se a sinais corporais de dis- túrbio físico. Atualmente, o termo é amplamente usado de maneira um tanto semelhante ao sentido literal ori- ginal, porém é mais aplicado à própria desgraça do que à sua evidência corporal. (GOFFMAN, 2004, p. 4) Dado o exposto, o estigma é uma marca social aplicada à pessoa com deficiência em vista daquilo que sinaliza a sua limitação sensorial, física ou ambas. O estigma, às vezes, é confundido com a noção de estereótipo, porém, este conceito destaca apenas os pontos negativos das pessoas com deficiência. Trata-se de um conhecimento de opinião das pessoas (senso comum) sem que, necessariamente, estas conheçam, se relacionem ou mesmo compreendam o que é a deficiência. Alguns exemplos de estereótipos comuns voltados as pessoas com deficiência são descritos a seguir: I. São pessoas que sofrem pela sua condição II. Desenvolvem outras habilidades para compensar suas limitações. III. São como seres infantis, divinos ou angelicais. IV. Dependem sempre de outras pessoas, políticas e governo. V. São pessoas revoltadas, egoístas, exigentes. VI. São pessoas incapacitadas de aprender, ir à escola, namorar, casar, trabalhar, passear, dirigir etc. 18 Essa lista de estereótipos poderia ser somada a outros equívocos conceituais. Por sua vez, a concepção de preconceito sugere por si a seguinte ideia: pré-conceito, ou seja, fazer juízo de valor antes de se ter mais informações ou conhecer a realidade. Assim, o pré-julgamento pode influenciar o comportamento ético e moral para com a pessoa com deficiência, seja no sentido de destacar suas qualidades ou mesmo em ampliar seus estigmas, seus estereótipos e assim promovendo a discriminação. Com efeito didático, o quadro a seguir faz uma síntese destes conceitos: Conceito Característica Estigma Marca social dada a pessoa ou grupo por conta de um pa- drão socialmente estabelecido. Estereótipo Atributo negativo e discriminativo. Preconceito Juízo de valor pautado em opinião de senso comum, sem qualquer conhecimento técnico ou cientifico. Generalização Propagação de uma ideia defendida pela maioria. Quadro 1: Síntese conceitual Fonte: Elaborado pelo Autor (2021)Por último, com relação aos conceitos apontados no quadro, é importante ressaltar que, por vezes não se tem consciência da conduta que se adota dia a dia. Isso não significa que se é uma pessoa antiética ou desumana no caso de uma expressão indesejada. Infelizmente, pode ser comum se expressar ou manifestar comportamentos de preconceito ou estereótipo. Todavia, admitir que isso é algo inapropriado é o primeiro passo superar a cultura da discriminação, da exclusão ou do termo mais recente “cancelamento” das pessoas na sociedade. Este tema é muito bem abordado por Júlio Groppa Aquino, o que você pensa de colocar uma indicação de leitura PARA SABER MAIS? Segue a referência. AQUI- NO, J. G.(Org.) Diferenças e Preconceito na Escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1998.Disponível em: https://bit.ly/3NMtL4r. Acesso em: 15 set. 2021. BUSQUE POR MAIS 1.4 DEFICIÊNCIA OU DEFICIENTE? Os conceitos de deficiência e deficiente dizem respeito a práticas sociais. Logo, para Sassaki (1999) compreender conceitos são fundamentais para o entendimento de tais práticas. O conceito de deficiência no senso comum pode ser entendido como falta, falha ou mesmo fraqueza, já deficiente diz respeito a algo que pode não ser o suficiente e do ponto de vista quantitativo, bem como, pode significar algo incompleto. Logo, as ciências utilizam este termo para tratar temas como: deficiência nutricional, deficiência na coagulação sanguínea, deficiência de vitamina, dentre outros. Assim, no trabalho escolar, é necessário trabalhar tais conceitos, uma vez que, é 19 uma instituição formativa com necessidade de atuar de modo social. O conceito mais indicado para trabalhar este termo é o de “necessidades especiais”, pois é um termo mais amplo. Isso se explica porque em algum momento da escolarização, qualquer pessoa pode vir a ter dificuldades na aprendizagem. Isso não quer dizer que tais dificuldades signifiquem limitação ou deficiência. Por isso, o termo mais indicado seria “necessidades educacionais especiais”. Este conceito pode ser utilizado de maneira ampla e em várias circunstâncias. O Bullying surge neste contexto como sendo a prática de atos violentos, repetidos e com a intenção de diminuir uma pessoa indefesa. Isso pode ocasionar à vítima danos físicos e psicológicos. VAMOS PENSAR? O mesmo poderia ser aplicado ao tratamento à pessoa com deficiência. Tratar essa pessoa como “deficiente” é muito constrangedor, por isso, pessoas com necessidades especiais é bem diferente. Faça uma reflexão: você sendo ou não uma pessoa com deficiência, gostaria de ser chamado por “deficiente”? O mesmo poderia ser aplicado no caso de algum apelido indesejável. Consegue perceber a deselegância no tratamento? De acordo com Sassaki (1999, p. 15), o autor aponta que na literatura, em palestras e conversas informais pode ser encontrado algumas expressões que são mais bem utilizadas em comparação a outras como exibido no quadro 2. Expressão mais convencionais Expressões menos convencionais Pessoas portadoras de necessidades especiais Pessoas portadoras de deficiência Pessoas com necessidades especiais Pessoa com deficiência Portadores de necessidades especiais Portadores de deficiências Quadro 2: Uso de expressões sobre necessidades especiais Fonte: Adaptado de Sassaki (1999) Para Sassaki (1999), o termo “necessidades especiais” também não significa “deficiências”. Somado a isso, seria interessante evitar o uso da palavra “deficiência” pois soa desagradável ou pejorativa. Isso não significa que a palavra seja equivocada, pois, por exemplo, a maioria da legislação brasileira trata o termo “pessoa com deficiência” com efeito de fazer definições e direcionamento. Assim, a legislação não usa o termo “deficiência” como vocábulo (deficiente), mas sim como substantivo para o contexto explicativo. Somado a isso o termo “portador” dá a ideia de posse, ou seja, a pessoa portaria algo, como um objeto e isso não se aplica as pessoas. Por último, é importante compreender o conceito de pessoa com deficiência segundo a legislação brasileira. Assim, o Estatuto da Pessoa com Deficiência (BRASIL, 2015) no seu artigo 2º descreve: Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. (BRASIL, 2015) 20 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (ENADE-2014). Descrevo a ética, é o humano, enquanto humano. Penso que a ética não é uma invenção da raça branca, da humanidade que leu os autores gregos nas escolas e que seguiu certa evolução. O único valor absoluto é a possibilidade humana de dar, em relação a si, prioridade ao outro. Não creio que haja uma humanidade que possa recusar este ideal, mesmo que se deva declará-lo ideal de santidade. Não digo que o homem é um santo, digo que é aquele que compreendeu que a santidade era incontestável. É o começo da filosofia, é o racional, é o inteligível. (LÉVINAS, E. Entre nós – Ensaios sobre a alteridade. Petrópolis: Vozes, 1997, p. 149-150 Adaptado). Considerando o texto acima, avalie as afirmações a seguir: I. O humano está além da inteligibilidade fundada no logos. II. A pessoalidade do humano é algo único, inscrevendo-se no universo do ser e na generalidade de uma espécie. III. Os pilares da fundação grega da ética inauguraram uma tradição de pensamento voltada para "o humano enquanto humano". IV. A prioridade dada ao outro marca um horizonte de inteligibilidade do homem constituído fundamentalmente pela ética. É correto apenas o que se afirma em: a) I e II b) I e IV c) II e III d) I, III e IV e) II, III e IV 2. Metafísica, epistemologia, ética, estética, história, lógica e política são campos de conhecimento ligados ao que está na alternativa: a) Filosofia b) Sociologia c) Pedagogia d) Artes e) Biologia 3. Qual das alternativas a seguir apresenta os termos ética e moral de acordo com a etimóloga grega? a) Pólis e Ethos b) Ethos e Sophia c) Ethos e Morale 21 d) Pólis e Morale e) Morale e Sophia 4. O excerto a seguir refere-se ao conceito de: Ramo da filosofia que trata as questões sobre como devemos viver e, portanto, sobre a natureza de certo e errado, bem e mal, dever, obrigação e outros conceitos. (BUCKINGHAM, 2011, p. 341). a) Ética b) Estigma c) Preconceito d) Deficiência e) Moral 5. O estigma, às vezes, é confundido com a noção de estereótipo, que destaca apenas os pontos negativos das pessoas com deficiência. Trata-se de um conhecimento de opinião das pessoas (senso comum) sem que, necessariamente, estas conheçam, se relacionem ou mesmo compreendam o que é a deficiência. Com base nisso observe as frases a seguir: I. São pessoas que sofrem pela sua condição II. Desenvolvem outras habilidades para compensar suas limitações. III. São como seres infantis, divinos ou angelicais. IV. Dependem sempre de outras pessoas, políticas e governo. V. São pessoas revoltadas, egoístas, exigentes. VI. São pessoas incapacitadas de aprender, ir à escola, namorar, casar, trabalhar, passear, dirigir etc. O estereótipo à pessoa com deficiência está corretamente identificado na alternativa: a) I apenas. b) I, II e III apenas. c) I, V e VI apenas. d) I, II, V e VI apenas. e) Todas as alternativas, 6. Conecte corretamente o conceito representado pela coluna com os números I, II e III com seu respectivo significado na coluna com as letras A, B e C: Conceito Característica I. Generalização A) Preocupa-se com o comportamento humano. II. Ética B) Propagação de uma ideia defendida pela maioria.. III. Moral C) Preocupa-se com as regras que condicionam o comportamento humano. 22 a) I-A, II-B, III-C. b) I-B, II-A , III-C. c) I-B, II-C, III-A. d) I-C, II-B, III- A. e) I-C, II-A , III-B. 7. Conecte corretamente o conceito representado pela coluna com os números I, II e III com seu respectivo significadona coluna com as letras A, B e C: Conceito Característica I. Estigma A)Juízo de valor pautado em opinião de senso comum, sem qualquer conhecimento técnico ou cientifico II. Estereótipo B) Atributo negativo e discriminativo. III. Preconceito C) Marca social dada a pessoa ou grupo por conta de um pa- drão socialmente estabelecido. . a) I-A, II-B, III-C. b) I-B, II-A , III-C. c) I-B, II-C, III-A. d) I-C, II-B, III- A. e) I-C, II-A , III-B. 8. Complete as lacunas com as palavras correspondentes: “[...] seria interessante evitar o uso da palavra “_____” pois soa desagradável ou _____. Isso não significa que a palavra seja equivocada, pois, por exemplo, a maioria da legislação brasileira trata o termo “_____ com deficiência” com efeito de fazer definições e direcionamento. a) deficiente pejorativa, pessoa. b) deficiente, ilustrativa, pessoa. c) estigma, pejorativo, público. d) preconceito, conotativo, público. e) preconceito, pejorativa, pessoa. 23 HISTÓRIA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 24 2.1 INTRODUÇÃO Compreender todos os fatos da história seria tarefa complexa dado as várias interpretações que são dadas pelos eventos históricos por visões totalmente distintas. Basta imaginar narrar um fato da história de sua família, você explicaria de uma maneira e outra pessoa de outro modo. Assim sendo, a história narra um fato e a cada informação nova, busca-se situar e contextuar todas as etapas na compreensão de um assunto ou fenômeno. O filósofo político Edmund Burke dizia: “Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la”. Em outras palavras, conhecer a história significa evitar cometer erros do passado e construir um futuro mais virtuoso. Dado isso, a história da pessoa com deficiência tem uma narrativa de muita dor e solidão. Foi preciso muitos séculos para que se pudesse dedicar a ela um olhar mais integrativo na sociedade. Nesta unidade você verá, no primeiro tópico, um pouco desta historicidade desde os primeiros registros no ocidente advindos da Grécia Antiga e com a progressiva extensão até a Idade Média e o início do século XX. No século XX, segundo tópico de estudo, será estudado a concepção da deficiência sofre influencias do modelo médico em vista de experiências europeias. Neste contexto, no Brasil, aumentam-se as instituições especializadas, sobretudo aquelas que se dedicam em nível educacional. O último tópico, em referência ao século XXI verifica-se o alcance da legislação e a política em prol da pessoa com deficiência. Nesta época consolida-se a compreensão de sua condição na sociedade, assim como, se inicia os debates sobre a igualdade e inclusão social. Para isso, verificara algumas leis que são direcionadas a tal público, em especial, na educação. 2.2 BREVE PERCURSO HISTÓRICO SOBRE A DEFICIÊNCIA Tratar a história da pessoa com deficiência é um exercício constante de situar a própria história humana e, doravante a isso, a história de vida de cada pessoa. Assim, com as várias possíveis linhas do tempo a serem construídas paralelamente também é possível situar aquela referente ao das pessoas com deficiência em âmbito nacional e mundial. Para iniciar observe a seguinte figura: Figura 1: Leito de Procusto Fonte: Daiponível em: https://bit.ly/3x3yEQQ. Acesso em: 15 set. 2021. 25 Essa figura trata a cena da mitologia grega denominada leito de pro custo. Segundo a mitologia, pro custo era um bandido que vivia numa floresta e ele tinha uma cama grande. Quando ele sequestrava e saqueava as pessoas levava todas até a cama em seu esconderijo. Assim, colocava-as no móvel e, para aquelas que tinha as pernas e braços maior do que a cama, os membros eram cortados e as que tinham tais membros pequenos eram esticados (cena da figura 1). Em outras palavras, a cama (leito) era a medida certa. Com essa cena mitológica os primeiros relatos sobre a história da pessoa com deficiência, na Grécia Antiga, revelam que as crianças, ao nascer “eram medidas no leito de pro custo” e, mediante o padrão estabelecido, eram consideradas aptas para a sociedade ou, caso contrário, eram eliminadas. A percepção da deficiência se altera muito ao longo da história, pois da Grécia Antiga até o contexto vigente é possível tratar a questão dos direitos e dos deveres, bem como, trazer aspectos do desenvolvimento da ciência em prol do auxílio a tal público. O fato é que muito se desconhecia sobre a saúde e a própria deficiência e o estigma, dessa maneira, prevaleciam sobre outros tantos aspectos. Assim, nas guerras do passado, o soldado que tinha algum membro amputado ou tinha uma perda sensorial era considerado inválido e, em certos casos, ele dava cabo da própria vida com a intenção de não sofrer ou se tornar um desafio para a família. Na Idade Média (476 d.C. a 1453) consolidou-se na Europa o feudalismo, que foi o sistema econômico predominante. Em paralelo houve o advento do cristianismo e com ele, por meio de estudiosos (no geral os padres) houve o desenvolvimento da moral religiosa e outras explicações sobrenaturais sobre o funcionamento da vida e da sociedade. Por assim ser, a diferença entre algumas pessoas eram atribuídas a causa divina, como sendo um castigo ou mesmo uma possessão demoníaca. No período da inquisição , por exemplo, as pessoas desviantes do padrão eram mortas na fogueira. Por se tratar de uma época em que a concepção religiosa predominou, uma contradição do cristianismo passou a ganhar força: a caridade. Ela tinha por essência o amor ao próximo, assim, o comportamento desviante passou a ser considerado como condição de santificação. Somado a isso, para Mendes (2009): Com o desenvolvimento da ciência, descobriu-se que as pessoas muito diferentes haviam tido um histórico de alguma doença que deixará sequelas. Começaram, en- tão, as descobertas e classificações das deficiências em função da área de habilidade perdida – visual, auditiva, motora, intelectual etc. a partir daí a deficiência começa a ser uma área de domínio e tratamento da medicina, e as pessoas com deficiências passaram a ser conside- radas doentes, sendo institucionalizadas em hospitais, hospícios, sanatórios etc. (MENDES, 2009, p. 25) TCom a ciência, seu desenvolvimento e a criação de tecnologias percebeu-se que as pessoas com deficiência podiam aprender e se beneficiar da Educação. Daí deriva algumas possibilidades de atendimento educacional com a criação de instituições para internato, sanatórios, manicômios, hospitais, escolas especializadas e até mesmo métodos pedagógicos. Alguns nomes surgem neste contexto como sendo referências aos trabalhos na Educação e Educação Especial. 26 Em alguns casos, foram os primeiros a desenvolver estudo na área de alguma deficiência ou mesmo criar um instituto para essas pessoas. O Quando 3 a seguir exibe algumas informações: Cientista Ano/local Tipo de produção Tipo de deficiência Jean-Paul Bonet 1620 – França Livro: Redação das Letras e Ar- tes de Ensinar os Mudos a Falar. Auditiva Chales M. Eppée 1776 - França Livro: A Verdadeira Maneira de Instruir Surdos-Mudos Auditiva Valentin Hauy 1784 - França Criou o Instituto Nacional dos Jovens Cegos Visual Louis Braille 1829 – França Criador do sistema braile Visual Jean Marc Itard 1801 - França Livro: Da Educação do Homem Selvagem Intelectual Edward Seguin 1846 - França Livro: Traitement Moral, Hygiè- ne et Éducations des Idiots Intelectual Maria Montessori Século XVIII Século XIX Criou o método da autoeducação Intelectual Quadro 3: Síntese de autores da história da deficiência Fonte: Adaptado de Mazzota (2005) Do que foi exposto, é notório perceber que as primeiras experiências de atendimento educacional as pessoas com deficiência se realizaram no continente europeu. Isso se explica porque foi lá que ocorreu o desenvolvimento cientifico. No Brasil, por sua vez, com um certo atraso na linha temporal, as experiências concretizadas na Europa caracterizaram-se como iniciativas do período monárquico ,por meio de iniciativas oficiais e particulares que ocorriam de maneira isolada, em especial, nas santas casas de misericórdia. Por fim, o atendimento às pessoas com deficiência, com destaque ao campo educacional, passou a ser objeto de política pública no pais a partir do século XX. 2.3 A PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO SÉCULO XX No século XX, o desenvolvimento das ciências propiciou mudanças significativas na compreensão das condições de deficiência. Para além da Europa, os Estados Unidos da América se configura como um polo importante no desenvolvimento de estudos e pesquisas. Parte disso se explica mediante a fuga dos cérebros da Europa para aquele país durante o período de vigência das duas guerras mundiais e o seu fortalecimento enquanto potência bélica. No que tange a aspectos econômicos, este século consolidou as Revoluções Industriais e iniciou uma expansão da rede de comunicação jamais visto na história da humana com o advento da internet. As mudanças causadas por tais avanços trouxeram outros dilemas sociais como aumento de acidentes (por guerra, trânsito ou terrorismo) que ampliou, como exemplo, a oferta de serviços para pessoas com deficiência física. Ainda no início do século XX, a educação das pessoas com deficiência acontecia em 27 instituições especificas. Destaca-se duas delas, da época do império: o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, que mudou de nome em 1890 para Instituto Nacional dos Cegos e, no ano seguinte passando a ter a nomenclatura Instituto Benjamim Constant (IBC) presente até a atualidade na cidade do Rio de Janeiro e o Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES) que obteve essa nomenclatura após cem anos de sua fundação (em 1957), sendo o nome original Imperial Instituto dos Surdos-Mudos. Na época do surgimento do INES e o IBC, de acordo com Mazzota (2005), o ensino era voltado para a educação literária e o ensino profissionalizante. Esta última modalidade pode ser explicada pela entrada dos modelos de produção fabril no Brasil, onde a mão- de-obra era escassa e a pessoa com deficiência passou a ser vista como um potencial econômico de: a) ou baixo preço para atuar no desenvolvimento de funções básicas ou b) de preço alto, no caso dos acidentes de trabalho e as lutas dos sindicatos para defesa dos interesses dos trabalhadores. Vale ressaltar que o próprio processo de escolarização não era expandido para toda população. Em vista do modelo médico, no início do século XX a deficiência era tida causa sanitária e o surgimento de algumas ciências, como a Psicologia, passou a buscar compreender os fenômenos de comportamento humano. Em vista disso, a deficiência intelectual passou a ser alvo de muitos estudos e pesquisas. Todavia, até os anos 1950 o Brasil não teve muitos avanços nos estudos das pessoas com deficiência ou mesmo em políticas educacionais, salvo pela criação de várias instituições de internação com desenvolvimento de propostas de ensino. Por sinal, por falta do conhecimento sobre a deficiência e por falta da modalidade de educação especial causava a separação entre estudantes com ou sem deficiência nas escolas regulares. O Quadro 4 exibe algumas destas instituições que realizaram atendimento escolar por tipo de deficiência: Instituição Ano/Local de criação Tipo de deficiência Instituto Benjamin Constant 1890 – Rio de Janeiro/ RJ Visual Instituto de Cegos Padre Chico 1928 – São Paulo/SP Visual Fundação para o livro do Cego no Brasil (Fundação Dorina Nowill) 1946 – São Paulo/SP Visual Instituto Santa Terezinha 1929 – Campinas/SP Auditivo Escola Municipal Helen Keller 1951 – São Paulo/SP Auditivo Instituto Educacional de São Paulo 1954 – São Paulo/SP Auditivo Santa Casa de Misericórdia de São Paulo 1931 – São Paulo/SP Física Lar-Escola São Francisco 1943 – São Paulo/SP Física Associação de Assistência à Crian- ça Defeituosa (AACD) 1950 – São Paulo/SP Física Instituto Pestalozzi de Canoas 1927 – Canoas/RS Mental Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais 1935 – Belo Horizonte/ MG Mental 28 Sociedade Pestalozzi do Estado do Rio de Janeiro 1948 – Rio de Janeiro/ RJ Mental Sociedade Pestalozzi de São Pau- lo 1952 – São Paulo/SP Mental Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE – Rio de Janeiro 1954 – Rio de Janeiro/ RJ Mental Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE – São Paulo 1961 – São Paulo/SP Mental Quadro 4: Instituições para a educação de pessoas com deficiência 1900-1950 Fonte: Adaptado de Mazzota (2005) É possível observar que essas são algumas das instituições que ganharam notoriedade no contexto nacional. O trabalho de algumas delas foi relevante para o debate de questões políticas envolvendo as pessoas com deficiência no Brasil. Portanto, a segunda metade do século XX, se destaca pelos movimentos de igualdade e reconhecimento de direitos nas políticas públicas. De acordo com Mazzota (2005) em 1960 a Sociedade Pestalozzi e a APAE influenciaram junto ao Ministério da Educação e Cultura uma campanha denominada Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes Mentais (CADEME) que tinha a finalidade de promover em território nacional a educação, treinamento, reabilitação e assistência educacional das crianças com deficiência intelectual em todas as faixas etárias, independente do gênero. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1971, em seu artigo 9º deu um avanço ao prever na escola básica “tratamento especial aos excepcionais”, mas como se sabe, a cultura não era de inclusão e as instituições especializadas tinham preferência de atendimento na opinião popular. Em 1973, no período da ditadura militar, foi criado o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP) que em 1983 foi transformado em Secretaria de Educação Especial (SESPE), órgão que passou a responder pelas políticas sobre pessoas “excepcionais”. De volta ao período democrático, a Constituição Federal de 1988, no seu artigo art. 206, §1º, estabeleceu a igualdade de condições de acesso e permanência na escola como um dos princípios para o ensino e garante, como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino. (BRASIL, 1988). Em 1990, com a reestruturação do Ministério da Educação a SESPE é extinta e é criado o Departamento de Educação Supletiva e Especial (DESE) que dura até a saída do presidente Fernando Collor de Melo em 1992, sendo posterior a isso uma nova reorganização do MEC com o reaparecimento da Secretaria de Educação Especial SEESP onde estava contida a Coordenadoria Nacional Para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE), órgão este que promoveu até a primeira década dos anos 2000 várias políticas e orientações à sociedade brasileira. A Educação Básica contempla três etapas escolares, a primeira conhecida como Educa- ção Infantil, o Ensino Fundamental para crianças de seis a quatorze anos e o Ensino Médio VAMOS PENSAR? 29 que contempla a escolarização de jovens entre quinze e dezoito anos de idade. Em todas estas etapas a Educação Especial atua de modo paralelo, inclusive, no Ensino Superior. 2.4 A PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO SÉCULO XXI O início de um novo século e de um novo milênio colocou a pessoa com deficiência em um patamar jamais visto na história. Tal público, após um século de muito debates e lutas passaram a ser consideradas como cidadãos de direitos e deveres em âmbito mundial e nacional. Isso se explica, de acordo com Pereira (2010) em vista do jusnaturalismo que fez avançar o reconhecimento das particularidades e especificidades das pessoas com deficiência. O jusnaturalismo é um conceito que deriva do direito e reconhece as especificidades políti- cas e de direito de grupos minoritários, caso das pessoas com deficiência FIQUE ATENTO Para além disso, ainda na primeira década houve muitos avanços ao direito da educação e ao avanço da educação especial. Se antes a escolarização ocorria apenas em instituições especializadas,a partir de então, ela passa ocorrer também nas escolas regulares sob a égide da inclusão e por meio das políticas públicas. O quadro 5 aponta algumas das principais legislações que garantem direito da escolarização à pessoa com deficiência. Lei Título Característica Resolução CNE/CEB nº 2/2001 Diretrizes Nacionais para a Educação Espe- cial na Educação Básica Amplia o caráter da educação es- pecial para realizar o atendimento educacional especializado comple- mentar ou suplementar à escolari- zação Resolução CNE/CP nº 1/2002 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Forma- ção de Professores da Educação Básica As instituições de ensino superior devem prever, em sua organização curricular, formação docente vol- tada para a atenção à diversidade e que contemple conhecimentos sobre as especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais Lei nº 10.436/2002 LIBRAS Reconhece a Língua Brasileira de Sinais – Libras como meio legal de comunicação e expressão Portaria nº 2.678/2002 Braille Trata as diretrizes e normas para o uso, o ensino, a produção e a difu- são do sistema Braille em todas as modalidades de ensino, compre- endendo o projeto da Grafia Braille para a Língua Portuguesa. 30 Resolução CNE/CEB n° 4/2009 Atendimento Educacio- nal Especializado Complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recur- sos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendiza- gem. Lei Federal n.º 13.005/2014 Plano Nacional de Edu- cação 2014-2024 A Meta 4 aponta a intenção de uni- versalizar, para a população de 4 a 17 anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou Superdotação, o acesso à educação básica e ao aten- dimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de siste- ma educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados Quadro 5: Principais legislações no âmbito educacional para as pessoas com deficiência Fonte: Adaptado de Mazzota (2005) Vale ressaltar mais duas conquistas. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva de 2008 que considerando uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento educacional especializado, disponibiliza os serviços e recursos próprios desse atendimento e orienta os alunos e seus professores quanto a sua utilização nas turmas comuns do ensino regular. O Estatuto da Pessoa Com Deficiência é um documento que deve ser conhecido, estudado e promovido socialmente. Disponível em: https://bit.ly/3NI4NU1. Acesso em: 15 jun. 2021. BUSQUE POR MAIS Por último, a maior conquista, até o momento para a pessoa com deficiência é a Lei Federal n. º 13.146/2015, conhecido como Estatuto da Pessoa com Deficiência. Trata- se de uma legislação que atende a vários temas requeridos pelos movimentos em prol da pessoa com deficiência desde o século XX. A legislação trata temas como: igualdade e não discriminação, atendimento prioritário, direitos fundamentais (vida, trabalho, reabilitação, saúde, moradia, transporte), dentre outros. No que tange a Educação sinaliza para sistemas de ensino inclusivo durante toda trajetória escolar. Ela também define a pessoa com deficiência como aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. (BRASIL, 2015) 31 Vale apontar que, mesmo diante de várias legislações e políticas públicas que no contexto atual protegem as pessoas com deficiência, na prática, ainda é preciso mudar um pouco a cultura que ainda carece de exemplos e modelos. De todo modo, a sociedade brasileira está em uma crescente de maturidade e exemplo disso são os ídolos que surgem nos esportes paraolímpicos que mostra o potencial e as histórias de vida que inspiram, bem como a participação de tal público nos meios de comunicação e redes sociais como influenciadores digitais. 32 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (UFSC–2018). Sobre a história da educação especial, indique se as afirmativas abaixo são verdadeiras (V) ou falsas (F) e assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. ( ) Atualmente considera-se que o termo mais adequado para se referir aos estudantes com alguma deficiência é “portador de deficiência”. ( ) A educação especial sempre se caracterizou e se organizou em uma perspectiva inclusiva. ( ) A história da educação das pessoas com deficiência no Brasil mostra que o poder público assumiu integralmente o atendimento educacional dessas pessoas desde o período imperial. ( ) Por muito tempo a educação especial foi ofertada como atendimento educacional especializado, substitutivo ao ensino comum, em instituições especializadas, escolas especiais e classes especiais. a) F – V – V – F b) V – F – F – V c) F – F – F – V d) V – V – F – F e) V – F – V – F 2. (UFSC-2018). Na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), a educação especial é: a) uma modalidade de educação escolar oferecida, preferencialmente, na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais. b) uma modalidade que deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral de educação, a fim de integrar os alunos com deficiência na comunidade. c) uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento educacional especializado, disponibiliza os serviços e recursos próprios desse atendimento e orienta os alunos e seus professores quanto a sua utilização nas turmas comuns do ensino regular. d) específica para atender crianças e jovens que apresentem deficiências físicas ou mentais, os que se encontrem em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados. e) específica para crianças e jovens com deficiência que possuem condições de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais. 3. (UFSC-2018) 21) De acordo com a Lei n. 13.146/2015 (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência), a pessoa com deficiência é aquela que apresenta: a) perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou 33 anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano. b) impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. c) déficit de atenção, hiperatividade, transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades e dificuldades de aprendizagem, não correspondendo aos padrões de ritmo e aprendizagem referentes à maioria das pessoas da mesma idade. d) limitações de participação na sociedade e de desenvolvimento em função de sua condição orgânica que causem impedimentos permanentes. e) deficiência física ou mental, ou que se encontra em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula. 4. A Resolução CNE/CEB n. 4/2009 institui que o Atendimento Educacional Especializado (AEE) tem como função: a) substituir a formação do aluno em sala de aula comum pela disponibilização, em Salas de Recursos Multifuncionais, de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e para o desenvolvimento de sua aprendizagem. b) complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação nasociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem. c) reforçar os conteúdos trabalhados na sala de aula comum. d) promover adaptações curriculares para os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. e) garantir condições de igualdade no acesso ao conhecimento por parte dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. 5. (UFSC-2018). Assinale a alternativa que completa corretamente a lacuna da frase abaixo. A Lei nº 13.146/2015 (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência) indica que a educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurado ___________ em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem. a) aulas de reforço escolar b) escolas especializadas c) classes especiais d) segundo professor e) sistema educacional inclusivo 6. No leito de pro custo, se constatado que a pessoa não possuía os padrões esperados ou mesmo possuía algum tipo de deficiência, o resultado era o que está na alternativa: a) Encaminha a especialistas da área da saúde. b) Eliminada ou morta. 34 c) Devolvida aos pais/responsáveis com orientações sanitárias d) Sacrificada em nome dos deuses em rituais religiosos. e) Queimada na fogueira pela inquisição religiosa. 7. No Brasil Império foram criadas duas instituições voltadas, uma para o atendimento de pessoas com deficiência visual e outros para deficiência auditiva. No momento de sua fundação foram fundados, respectivamente com o nome Instituto Nacional dos Cegos (1854) e Imperial Instituto dos Surdos-Mudos (1857) que existem até os dias atuais, na cidade do Rio de Janeiro, porém, com uma nova nomenclatura que esta corretamente apresentada na alternativa: com os nomes que estão na alternativa: a) Associação de Assistência à Criança Defeituosa (AACD) e Sociedade Pestalozzi de São Paulo. b) Instituto Benjamim Constant (IBC) e Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES). c) Sociedade Pestalozzi de São Paulo e Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – (APAE) d) Associação de Assistência à Criança Defeituosa (AACD) e Instituto Benjamim Constant (IBC) e Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES) e) Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES) e Associação de Assistência à Criança Defeituosa (AACD) 8. Em vista do modelo médico, no início do século XX a deficiência era tida causa sanitária e, graças aos avanços de estudos sobre o tema, houve o surgimento de algumas ciências. Uma delas, em especial, passou a buscar compreender os fenômenos de comportamento humano. Em vista disso, a deficiência intelectual passou a ser alvo de muitos estudos e pesquisas. A ciência referida no excerto está corretamente apresentada na alternativa: a) Psicologia. b) Pedagogia. c) Sociologia d) Educação Especial. e) Fisioterapia. 35 DEFICIÊNCIA, INCLUSÃO E DIREITOS HUMANOS 36 Nesta unidade você vai estudar a consolidação dos direitos e da inclusão da pessoa com deficiência na sociedade. Tal processo, não foi tão simples e mudanças significativas na cultura ou no paradigma da deficiência só foram conquistadas por meio de muitas formas de se conhecer as especificidades de tal público. Dentro dos paradigmas, você verá que a segregação perdurou por muito tempo e as pessoas com deficiências eram colocadas à parte da sociedade. Na integração, grosso modo, este público era moldado ao contexto da sociedade e, na inclusão, a sociedade é que se molda às especificidades da deficiência. Já na perspectiva da sociedade inclusiva verifica-se a existência de algumas barreiras que impedem a participação ativa das pessoas com deficiência na sociedade. Todavia, em vista de leis que regulam os direitos a este público, verifica-se que a participação efetiva ainda depende de sintonia entre os diferentes atores. Sobre o direito das pessoas com deficiência você verificará alguns instrumentos de ordem mundial e nacional que permitiram garantir direitos e deveres a este público como parte de movimentos que lutaram pela igualdade. 3.1 INTRODUÇÃO 3.2 PARADIGMAS (SEGREGAÇÃO, INTEGRAÇÃO E INCLUSÃO) O conceito de paradigma, dentre as mais variadas definições pode ser compreendido como um modelo ou um padrão a ser seguido. Como estudado anteriormente os conceitos de estigma e preconceito constroem na cultura um imaginário de padrão ideal. Por causa disso, o objeto desviante, ou seja, algo identificado como diferente ou incomum pode ser destacado de maneira positiva ou negativa. Como sabido, no caso das pessoas com deficiência, houve no passado a cultura do estranhamento de maneira mais evidente em comparação aos dias atuais. Por essa razão, a quebra de paradigma, ou mesmo, a mudança de cultura sobre determinado aspecto é uma ação construída em prol dos oprimidos e que demanda muito tempo e muito trabalho de mudança de pensamento. Na história da pessoa com deficiência, a mudança de paradigma ocorreu em vários momentos. Para compreender isso, de acordo com Sassaki (1999) tais etapas de mudança de paradigma podem ser explicadas pelos conceitos pré-inclusivistas e pelos conceitos inclusivistas. Você pode conferir um exemplo ilustrativo de como se configurava o tipo de vida da pessoa com deficiência segregada no (1974) ” filme: “O Enigma de Kaspar Hauser”. Você pode obter mais informações no artigo: SABOYA, M. C. L. O ENIGMA DE KASPAR HAUSER (1812?-1833): UMA ABORDAGEM PSICOSSOCIAL. Psicologia USP [online]. 2001, v. 12, n. 2 [Acessado 17 Fevereiro 2022] , pp. 105-117. Disponível em: https://bit.ly/3K8CThv. Acesso em: 15 set. 2021 BUSQUE POR MAIS 37 Antes, porém, é importante relembrar que do início da história até o século XIX a pessoa com deficiência era segregada, ou seja, era afastada da convivência com outras pessoas. Na Grécia Antiga, por exemplo, era colocada à própria sorte. Na Idade Média poderia ser compreendida como detentora de possessão demoníaca e poderia ser queimada na fogueira pela inquisição, mas, ainda nesta época, passou por uma mudança de paradigma (também dada pela religião) que passou a compreender ela como um ser humano comum a todos os outros e que deveria ser considerada enquanto um ser que merece o mesmo amor que Jesus amou aos homens. Com isso, relatos históricos apresentam que eram colocadas em instituições, manicômios ou sanatórios. Tal fato permitiu desenvolver algumas ciências que passou a estudar a condição de tais impedimentos e limitações, fato que culmina com o primeiro conceito pré-inclusivista, o modelo médico. De acordo com Sassaki (1999) os principais conceitos pré-inclusivistas são: • Modelo médico da deficiência. • Integração social • Normalização • Mainstreaming O modelo médico da deficiência considerava a pessoa com deficiência como doentes, incapazes e os considerava dependentes. Na sociedade contemporânea, o efeito deste tipo de modelo é responsável pela manutenção deste tipo de paradigma na cultura, bem como, cria resistências, no caso da educação inclusiva. Afinal, para Sassaki (1999): É sabido que a sociedade sempre foi, de um modo geral, levada a acreditar que, sendo a deficiência um proble- ma existente exclusivamente na pessoa com deficiente, bastaria prover-lhe algum tipo de serviço para solucio- ná-lo. (SASSAKI, 1999, p. 29). Por meio desta percepção foi possível observar o aumento no número de instituições especializadas às pessoas com deficiência no século XX, bem como, os centros de reabilitação. O modelo médico, em sua essência “tenta melhorar” tal público para que elas possam se adequar à sociedade. A integração social é um conceito que surgiu para combater a secular exclusão à pessoa com deficiência. Desde a segunda metade do século XX, após o surgimento de instituições oriundas do modelo médico, houve um aumento considerável