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MÉTODOS E TÉCNICAS O caminho utilizado pelo professor para atingir a aprendizagem, enquanto objetivo maior do ensino é o Método. Mas a busca por métodos e técnicas requer investigação, experimentação, principalmente conhecimento de que um único método não é suficiente para se chegar ao aprendizado, sendo necessário extrair aspectos positivos de cada um, aliando-os às mais modernas técnicas de ensino, especialmente num momento em que a tecnologia implementa mais e mais recursos, e em que as imagens, com suas formas e cores, tendem a atrair os educandos mais que as palavras escritas e faladas (FERREIRA, 2004). Combinar métodos e adotar modernas técnicas de ensino tem constituído uma das principais estratégias para se atingir o compromisso de ministrar um ensino de qualidade e, ao mesmo tempo, proporcionar aos alunos o exercício da cidadania, preparando-os para atuar na realidade de maneira crítica e consciente, a fim de promover mudanças. Ao se falar sobre proposta e reflexão acerca de ensino, não há como deixar de evidenciar Métodos e Técnicas – elementos primordiais a serem analisados como subsídios da reestruturação de um processo de construção do conhecimento – viabilizadores da busca de novas formas de pensar, pesquisar e investigar. Pedro Demo (2001) considera a pesquisa o princípio científico e educativo que abrange todo o campo educacional, uma vez que na sala de aula interessa investigar, procurar conhecimentos, ir além do ato exclusivo de ensinar. Entretanto, quem ensina precisa pesquisar, questionar a realidade, não aceitar tudo como lhe é passado, mas se propor conquistar, ir adiante, criar, o que nem sempre tem sido constatado nas escolas. Só a pesquisa possibilita ao professor deixar de reproduzir, de imitar, levando-o a prosseguir em sua atitude de descobertas, tornando-o, antes de tudo, o motivador do aluno. É ele quem vai despertar no seu aluno a intenção de participar, de reagir, de criar e de questionar (DEMO, 2001). Ao diferenciar Método e Método de Ensino, o discurso pedagógico tem distorcido o próprio sentido etimológico da palavra método: do grego méthodos, de metá (pelo, através) e hodós (caminho), como um caminho ou procedimento consciente, organizado racionalmente, com a finalidade de tornar o trabalho mais fácil e mais produtivo para o alcance de determinada meta (RAYS, 1975). Nesse sentido, a atividade metódica possibilita uma relação de forma mais adequada com o mundo da natureza e com o mundo da cultura. Isso posto, sugere que o método direciona o alcance de um propósito, não se tratando, porém, de uma direção qualquer, mas daquela que leva de forma mais segura à consecução de um propósito estabelecido. O método implica, pois, um processo ordenado e uma integração do pensamento e da ação ou da reação para se atingir tudo aquilo que foi previamente planejado. A ideia de organização nele contida implica também o planejamento e replanejamento de procedimentos coerentes e coesos para o seu desenvolvimento integral (RAYS, 1975). Além disso, de acordo com Merani (1977) os métodos estão em função da experiência empírica; portanto, devem ser superados por uma nova experiência. É a partir dessa visão de método, aliada ao pressuposto de que todo processo de ensino ordena princípios e normas para o seu desenvolvimento, que surge a importância do método de ensino no âmbito da educação escolar. Confirma-se, então, a necessidade do método de ensino, desde que seja um meio concreto para o alcance de metas educativas e coadjuvantes na transmissão e na assimilação do conhecimento elaborado - da ciência - de forma mais coerente e organizada. O método de ensino passa a ser, assim, um dos elementos estruturadores dos caminhos a serem percorridos pela ação didática, objetivando motivar e orientar o educando para a assimilação do saber veiculado no processo escolar e na sua relação com os meios: natural, cultural, socioeconômico, etc. Dessa forma, considera-se não só a realidade vital da escola, mas também a realidade sociocultural em que está inserida. Presume- se, portanto, que a tarefa educativa é variável e não há como a metodologia do ensino seguir dogmaticamente a definição geral de métodos como percurso linear para a consecução dos objetivos da situação didática. No entendimento de Ferreira (2004) o desafio educacional tem sido conceber uma metodologia de ensino que minimize as discriminações econômicas e sociais geradas fora da escola, porém refletidas e expressadas na escola pela pessoa do educando. Assim, a todo método de ensino deve corresponder um correto método de aprendizagem, considerando principalmente a gama de diferenças entre os alunos que frequentam uma mesma série na escola. Na totalidade educativa, os destinos do processo educativo e metodológico são traçados, portanto, a partir da inter-relação e integração do educador e do educando, no ato educativo. O método é intencional e não se atrela a formas de agir determinadas aprioristicamente, mas fazendo a mediação entre a estrutura da matéria de ensino e as reais condições de aprendizagem do educando. A metodologia do ensino necessita evitar métodos que fazem da ação didática uma rotina pedagógica. Para isso, é imprescindível que a ação didática seja guiada pela perspectiva histórica e pela dialética dos fatos e fenômenos socioeducativos (FERREIRA, 2004). 1 FACILITAÇÃO DA APRENDIZAGEM Segundo Caetano (2004) a metodologia da facilitação da aprendizagem é um laboratório pedagógico no qual se pressupõe, obrigatoriamente, ações em co-parceria (professor-alunos) quanto: • a um planejamento cuidadoso da aprendizagem, construído em grupo a fim de que o aluno possa externar suas expectativas, dificuldades, interesses, tomando consciência das especificidades da disciplina, ainda que os conteúdos se apresentem estruturados logicamente, sendo bem flexível para que possa ser ajustado sempre que necessário; • à priorização dos conteúdos, estabelecida através de um pacto mútuo de corresponsabilidade entre professor e aluno com vistas à aquisição de um conhecimento socialmente construído e capaz de gerar novas tecnologias; • à gama de estratégias de ensino que são discutidas, analisadas e selecionadas, considerando os objetivos propostos, a natureza dos conteúdos e as características afetivas, cognitivas e sociais dos envolvidos no processo ensino e aprendizagem, perpassando por ações individuais, grupais e coletivas à semelhança de problematizações enfrentadas no cotidiano de qualquer ser humano; • ao ambiente sala de aula visto como favorecedor na busca de ligações significativas entre teoria e prática e da relação interativa entre professor, aluno e conhecimento, solidificados através de uma prática construída em um clima "[...] de abertura, com possibilidades de questionamentos, de respeito mútuo entre alunos e professor, de trabalho descontraído e espírito democrático" (MASETTO, 1992, p.24). • À avaliação da aprendizagem, percebida como busca contínua de resultados qualitativos tanto do professor quanto do aluno, ou seja, professor e alunos devem trabalhar considerando a necessidade permanente de “feedback”, afim de poderem identificar progressos e corrigirem deficiências e não como uma via unilateral a serviço do professor “notista” no final de um período predeterminado: [...] a avaliação é um processo de verificação da aprendizagem e coleta de dados para a análise de um trabalho já desenvolvido, para reflexão e planejamento de um trabalho a desenvolver. Deve ser uma atividade conjunta entre professor e aluno, com responsabilidade mútua, tendo sempre como meta a aprendizagem enquanto processo de transformação(desenvolvimento) individual e social, tanto cognitivo como emocional (QUELUZ, 1996, p.26.) • à postura do professor como mediador que: [...] deve conhecer as competências associadas ao papel do mediador do processo da aprendizagem. Costuma-se dizer que não basta saber matemática, português, ciências, história, geografia, etc. para ser professor dessas áreas do saber. Esta condição é necessária, mas não suficiente. É preciso que o professor conheça as tecnologias disponíveis para apoio pedagógico e as melhores técnicas de intervenção pedagógica, de modo a criar as melhores condições para que o aluno aprenda. Essas condições [...] estão ligadas às características do aluno, às da disciplina e às do próprio professor (MORETTO, 2002, p.115.) • à vivência e experienciação de conhecimentos através da metodologia da facilitação da aprendizagem. Segue abaixo uma sugestão de planejamento para um primeiro encontro que tem como objetivo facilitar a aprendizagem, com duração de aproximadamente 50 minutos e programada para 10 encontros. 1- Preparação da sala de aula • Aula com cadeiras em círculo; • Na entrada, caixa contendo balas de diferentes sabores e cores, conforme número de alunos (balas podem ser substituídas por quebra- cabeça com diferentes desenhos geométricos, flores, figuras humanas etc.), acima da caixa, um cartaz: “Retire aqui seu passaporte para permanecer em sala de aula”. • Afixar, aleatoriamente, sob as cadeiras, questões numeradas sobre os conteúdos programáticos listados para a disciplina, a fim de sondar o conhecimento prévio a respeito dos temas previstos. A última questão deve conter o texto: “Peça ao professor para retirar-se da sala de aula. Promova uma 'tempestade cerebral' ou brainstorm sobre expectativas, dúvidas, interesses etc. em relação à disciplina. Ao finalizar, solicite ao professor que retorne e exponha as conclusões obtidas”. 2- O professor (início da aula) • Pergunta se todos estão com o “passaporte”; • Apresenta-se; • Expõe os objetivos da disciplina, justifica sua importância na grade curricular do curso e, para a formação do profissional e do cidadão, apresenta os conhecimentos que serão discutidos durante os encontros. • Solicita que os alunos verifiquem sob suas cadeiras quem possui questões. Na sequência, por ordem numérica, pede que se posicionem quanto às questões encontradas. Ao último, cabe fazer uma análise comparativa entre a fala inicial do professor e a “tempestade cerebral” realizada. 3- Os alunos • O professor solicita que, através das balas do “passaporte”, procurem seus parceiros de trabalho, formando grupos. • A seguir, usando a técnica “Quartetos que se descobrem”, entrevistem seus colegas para posterior apresentação destes ao grande grupo. • Na sequência, já vivenciadas as condições mínimas de relações interpessoais, professor e alunos estabelecem uma co-parceria, através de “pacto psicológico”, e discutem o planejamento da disciplina; priorizam os conteúdos e a bibliografia, organizando-os, logicamente e por complexidade, em unidades; selecionam as várias estratégias que serão vivenciadas com vistas a uma aprendizagem significativa; desenham o ambiente de sala de aula; combinam os procedimentos de avaliação, feedback e auto avaliação da verificação da aprendizagem e, por fim, clarificam as corresponsabilidade e as funções dos sujeitos do processo ensino e aprendizagem, aluno-aprendiz e professor- mediador. Segundo Masetto (1992, p.30), [ ...] o passo seguinte compete ao professor: ou seja, organizar todas estas discussões e sugestões em um Plano de Curso, tecnicamente bem feito, que seja apresentado à classe num encontro seguinte para uma discussão e esclarecimentos finais, visando assumir-se conjuntamente um compromisso quanto à realização. Aprovado o plano pelo grupo de trabalho, passamos à sua execução. Em conclusão, poderíamos acrescentar que o essencial é estar aberto para o novo, para o inesperado, para o inusitado. Nossa necessidade de segurança não pode fazer com que nos mobilizemos. É preciso aceitar o novo como um desafio, é preciso desafiar-se ou, em outras palavras, é preciso arriscar-se a viver, apesar de o mundo não ser um lugar “exatamente” seguro (CAETANO, 2004). 2 OS DIVERSOS PORTADORES DE TEXTOS Desde o primeiro ciclo é preciso que os alunos leiam diferentes textos que circulam socialmente. A seleção do material de leitura deve ter como critérios: • a variedade de gêneros, • a possibilidade de o conteúdo interessar, • o atendimento aos projetos de estudo e pesquisa das demais áreas, • o subsídio aos projetos da própria área. Por exemplo, para o desenvolvimento de uma proposta de produção de um diário sobre uma viagem imaginária, é importante que se leiam diferentes materiais: textos informativos sobre como se pode chegar ao lugar escolhido, como é a fauna e a flora da região, qual a localização geográfica do continente, qual o clima, quais roupas são adequadas para o trajeto, qual o tempo de duração da viagem e o meio de transporte escolhido, etc. Também é importante que se leiam textos como os encontrados num diário, para aprender como são escritos, caso a classe tenha conhecimento insuficiente do gênero para produzi- lo (BRASIL, 1997). Por outro lado, se ao produzirem textos escritos os alunos utilizarem recursos inadequados para indicar a fala dos diferentes personagens, é desejável que o professor selecione, para leitura, textos nos quais seja possível identificar como diferentes autores resolveram essa questão. Esse trabalho — de análise linguística — amplia o repertório, permitindo escolhas mais adequadas. No primeiro ciclo, é fundamental que os alunos comecem a aprender a utilizar a língua para aprender. Isso só será possível (sobretudo quando ainda não sabem escrever com autonomia) se receberem ajuda constante do professor para fazer anotações sobre os assuntos tratados na aula organizando-as no caderno; utilizar as anotações posteriormente, quando necessário; consultar o dicionário ou outras fontes escritas para resolver problemas ortográficos; pesquisar em enciclopédias; preparar a fala para uma exposição oral; organizar argumentos para um debate; buscar, num texto, elementos que validem determinadas interpretações. Além disso, precisam de ajuda para desenvolver procedimentos e atitudes que contribuam para o convívio no espaço público: • saber escutar ativamente o que o outro diz, respeitando tanto a sua forma de falar quanto a sua opinião; • utilizar uma forma de falar que lhe permita discordar do outro sem ofendê-lo; • saber selecionar argumentos coerentes para poder discordar; • saber compreender o que ouve, podendo perceber a intenção de quem fala; • ter flexibilidade para mudar de opinião quando necessário; • compartilhar conhecimentos adquiridos em diferentes situações (BRASIL, 1997). Segundo Magda Soares, em entrevista à Revista Nova Escola (2001, p. 35) “ensinar hoje a leitura e a escrita é desenvolver habilidades de ler, compreender, interpretar diferentes tipos e gêneros de textos, escritos em diferentes modalidades de língua, formal, informal, de interagir com diferentes portadores de textos; e habilidades de escrever os tipos de textos que as práticas sociais de escrita exigem dos indivíduos”. Necessário se torna explicar o que vem a serem os diversos portadores de textos, conhecidos até então somente como livro. Hoje são reconhecidos diversos tipos de portadores de textos tais como: revistas, jornais, volantes, outdoors, contratos, contas, notas fiscais e porque não dizer, a tela do computador e a tela da televisão. Como cada portador carrega gêneros diferentes e específicos de textoe, portanto, formas igualmente específicas de leitura, é preciso que a escola assuma a responsabilidade de desenvolver nos alunos algumas habilidades de ler e interpretar estas variedades. Fato igualmente importante é entender que não somente o professor da língua portuguesa, mas os professores das demais disciplinas estejam preparados para trabalhar com o aluno uma vez que, no mundo contemporâneo em que o avanço e a mudança dos conhecimentos são tão rápidos, o que se está ensinando hoje pode estar ultrapassado no próximo ano e a pessoa não tem propriamente de aprender conteúdos, mas aprender a aprender, aprender a identificar e a usar as fontes do conhecimento, e essas fontes são em sua grande maioria fontes escritas – mesmo quando são fontes eletrônicas. Portanto, professores de todas as áreas devem ser hoje, essencialmente, professores de leitura, pois é por meio dela que os alunos constroem e irão construir conhecimento, tanto na escola quanto fora dela, no presente e no futuro. Freire (1991, p.11) já dizia que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto”. Ainda segundo Calkins (1989, p.37), a abordagem ao processo de escrita requer um ritmo radicalmente diferente daquele utilizado por nós. “O tempo, porém, é nosso recurso mais escasso. Se desejamos que os estudantes se tornem profundamente investidos em sua escrita, se desejamos que esbocem e revisem, compartilhando seus textos com os outros, enquanto escrevem, estas crianças necessitam de tempo.” É preciso ajudar na compreensão de que a escrita é mais do que uma mostra das capacidades de uma criança para escrever corretamente; é uma oportunidade para criar e compartilhar suas criações, e “sabemos que o tornar- se leitor adulto, é aprender a fazer cada vez melhor o movimento de entrada e saída: ir para dentro de nós mesmos, em busca das nossas significações pessoais, e sair desse mergulho trazendo para fora algo novo, elaborado por nós” (STEFANY, 1997, p.11). O foco da escrita não deve ser interpretado como algo pequeno a se retratar. Não é para ser uma limitação e sim de uma dimensão muito maior. Embora seja visto como um ritmo rápido, acelerado, com pressa de chegada sem elaborações. Mas sabemos que quando as crianças crescem, crescem igualmente a sofisticação dos processadores e produtos relativos aos componentes da boa escrita. Assim, a leitura e a escrita são produtos da cultura, que faz delas certos usos, que define seus modos de ensino e seus processos de aprendizagem. Elas são, portanto, produzidas por relações sociais, por formas culturais que delas se apossam e definem seus modos de transmissão e assimilação. Do mesmo modo que caracterizam o trabalho escolar da língua escrita (a cópia, o ditado, os exercícios, as formas de compreensão do texto, etc.), juntamente é uma construção teórica sobre a língua, produzida por gramáticos, pelas relações de poder e interesses políticos. E assim, seu aprendizado na escola é apenas uma das formas de introdução das crianças ao mundo da cultura. 3.1 Gêneros textuais “É impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum gênero, assim como é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum texto.” Essa posição defendida por Bakhtin (1997) e também por Bronckart (1999) citados por Paolinelli e Costa (2007) é adotada pela maioria dos autores que tratam a língua em seus aspectos discursivos e enunciativos e não em suas peculiaridades formais. Essa visão segue uma noção de língua como atividade social, histórica e cognitiva. Nesse contexto, os gêneros textuais se constituem como ações sócio- discursivas para agir sobre o mundo e dizer o mundo, constituindo- o de algum modo. O trabalho com gêneros textuais é uma excelente oportunidade de se lidar com a língua em seus mais diversos usos no dia-a-dia, pois nada do que fizermos linguisticamente está fora de ser um gênero (PAOLINELLI E COSTA, 2007). Travaglia (1991) diz que o gênero textual se caracteriza por exercer uma função social específica. Para ele, estas funções sociais são pressentidas e vivenciadas pelos usuários. Isso equivale dizer que, intuitivamente, sabemos que gênero usar em momentos específicos de interação, de acordo com a função social dele. Quando vamos escrever um e-mail, sabemos que ele pode apresentar características que farão com que ele “funcione” de maneira diferente. Assim, escrever um e-mail para um amigo não é o mesmo que escrever um e-mail para uma universidade, pedindo informações sobre um concurso público, por exemplo. No trabalho com produção de textos é importante ainda fazer-se uma distinção entre gêneros textuais e tipos textuais. O primeiro é usado para designar uma espécie de construção teórica definida pela natureza linguística de sua composição, ou seja, aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas. Cada tipo textual possui pistas linguístico-discursivas características e as sequências linguísticas são norteadoras. Já a expressão gênero textual refere-se a textos materializados, encontrados em nossa vida diária e que representam características sócio comunicativas definidas por seus conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição próprios. Enquanto os tipos textuais são apenas meia dúzia, os gêneros são inúmeros, devido à enorme diversidade das atividades enunciativo-discursivas das esferas sociais, ou seja, domínios discursivos. Esses domínios não são textos nem discursos, mas propiciam o surgimento de discursos bem específicos. Assim, fala-se em discurso religioso, discurso jurídico, discurso jornalístico. As atividades sociais é que dão origem a vários deles, constituindo práticas discursivas dentro das quais se podem identificar um conjunto de gêneros textuais. Os domínios discursivos são as grandes esferas da atividade humana em que os textos circulam. Os textos muitas vezes são classificados e/ou sistematizados em função de sua forma ou estrutura. De acordo com Kaufman e Rodriguez (1995), estas tipologias refletem, em maior ou menor medida, nossas próprias intuições como falantes/ouvintes de uma língua: podemos, sem dúvida alguma, agrupar os textos a partir da identificação de certos traços que precedemos como comuns. Abaixo se tem o organograma adotado por Kaufman e Rodriguez (1995): • Textos literários: conto, novela, obra teatral, poemas; • Textos jornalísticos, notícia, artigo de opinião, reportagem, entrevista; • Textos de informação científica, definição, nota de enciclopédia, relatos de experimentos científicos, monografias, biografias, relato histórico; • Textos instrucionais: receita, instrutivo; • Textos epistolares: carta, solicitação; • Textos humorísticos: históricas em quadrinho; • Textos publicitários: aviso, folheto, cartaz. Embora a divisão clássica dos textos seja: narrativos, descritivos e dissertativos, Cadore (2004) prefere classificá-los de maneira mais funcional e didática, ou seja, em textos verbais (literários e não literários), não verbais, verbivovisuais. • Verbais seriam aqueles que representam a mensagem predominantemente através da palavra. • Não verbais – uma charge sem palavras, por exemplo. • Verbivocovisuais – surgiu com o concretismo da semana de arte moderna de 1922. São poéticos, criativos, inspiradores para produção textual dos alunos. 3.2 O uso de textos na sala de aula No entendimento de Cadore (2004), a sala de aula semprefoi, ainda é (mas não sabe se continuará sendo) o ambiente próprio e significativo para professores e alunos realizarem o ato primordial da escola: ensinar e aprender. Até concordamos em parte com ele, que a sala de aula seja um laboratório permanente de experiências didático-pedagógicas, mas acreditamos que em cada esquina, em cada palavra, outdoor, jornal, revistas em quadrinho, na leitura de uma conta de água ou uma receita de um bolo, também seja local de aprendizagem. A escola aprimora, mas a vivência do dia a dia também é laboratório de prática e experiência. Seguindo a linha de pensamento de Cadore, o uso do texto em sala de aula requer estabelecer critérios para seu uso, analisar-lhes os aspectos relevantes, saber onde buscá-los, como interpretá- los. Ensinar e treinar leitura podem ser entendidos como um processo significativo, complexo e interativo (entre leitor e autor), devendo ser a preocupação constante tanto no ensino fundamental como no ensino médio. Os próprios Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) quando se referem ao Português destacam o trabalho com textos diversos como fundamental para desenvolver o hábito e o prazer da leitura, para fugir da gramática puramente normativa. Segundo Costa (1996) aprender a agarrar rapidamente o tema do texto, reconhecer indicadores importantes para a sua compreensão, variar a velocidade de leitura em função dos objetivos da tarefa, aprender a saltar excertos e saber recuperá-los sempre que necessário, controlar predições e antecipações, assegurar-se da boa compreensão da mensagem são objetivos para o final do ensino médio. 3.3 Revisando textos na sala de aula Ensinar a revisar textos é um conteúdo que deve ser tratado desde as séries iniciais. O aluno precisa incorporar tais conhecimentos gradativamente, ampliar e fazer uso deles com o objetivo de deixar seus textos mais comunicativos, ou seja, objetivos na comunicação de ideias. Para isso, é necessário que o professor: • Utilize diferentes tipos de textos pertinentes à série, colocando seus alunos em contato com bons modelos; • Selecione em qual aspecto da revisão (coerência, ortografia, acentuação ou aspectos coesivos e de pontuação) o aluno focará a atenção, já que não é possível tratar de todos os aspectos ao mesmo tempo. A revisão é um procedimento difícil para escritores iniciantes, pois requer distanciamento do próprio texto. As crianças nas séries iniciais são capazes de corrigir textos produzidos por outras pessoas, mas, em se tratando dos seus próprios, dificilmente fazem uso desse conhecimento. Por isso, é interessante propor que as crianças comparem seus textos com os produzidos por outras pessoas e os analise em grupo. Isso deve ser feito em parceria e com quem já sabe fazer uso do procedimento da revisão. Abaixo apresentamos uma sugestão de aula que pode se tornar uma atividade permanente, desde que se trabalhe com diferentes gêneros textuais a cada aula. Nem sempre os alunos chegam à correção plena dentro do que havia sido proposto. Mas o objetivo não é alcançar a perfeição. O que importa é apresentar questões pertinentes nas situações didáticas, fazendo com que a turma reflita e avance. O professor deverá orientar o trabalho lançando questões que façam os alunos refletir e avançar, tais como: Onde começa e termina a fala de tal personagem? Por que você usou este ponto neste lugar? O trecho pontuado por vocês está fazendo sentido? Explique o sentido desta frase. Faz diferença usar a vírgula ou o ponto neste trecho? Por quê? Depois, cada agrupamento deve apresentar seu texto pontuado. Trata-se de uma ocasião rica para discutir e refletir, pois certamente surgirão diferentes formas de pontuar. Os alunos terão oportunidade de argumentar a validade ou não de cada trabalho apresentado (NOVA ESCOLA, 2001). Tradicionalmente, a gramática ensina que a pontuação é um conjunto de sinais que orienta a entonação da leitura em voz alta. Informações do tipo: “Usem o ponto final quando estiverem cansados. A vírgula serve para indicar uma paradinha. Usa-se ponto de interrogação para perguntar...”, provavelmente estão embasadas na história da escrita, quando os livros eram escritos à mão, sem espaços entre as palavras e a leitura era feita em voz alta. Quem pontuava e dava um sentido ao texto era o leitor. “A prática de leitura silenciosa disseminou- se a partir da produção de livros em escala industrial... Hoje, quando o texto impresso é formatado para ser lido diretamente pelo olho, sem precisar passar pela sonorização do que está escrito, esta função, de estreitar o campo das possibilidades de interpretação indicando graficamente as unidades de processamento e sua hierarquia interna, pertence ao escritor” (BRASIL, 1997). Com esta atividade o aluno deve ser capaz de: • Construir um comportamento revisor em relação a seu próprio texto e ao dos outros; • Perceber que a pontuação é um recurso utilizado pelo autor para orientar o entendimento do leitor; • Constatar que, na maioria das vezes, há mais de uma possibilidade de pontuação; • Desenvolver a capacidade de argumentação; • Desenvolver a atitude de colaboração. 3.4 Projetos de trabalho A escola vive, nos tempos modernos, um redimensionamento na organização dos conteúdos que compõem a busca do conhecimento, diferentemente do que ocorria nas escolas da Antiguidade. Isso porque, de acordo com Gimeno Sacristán e Pérez Gómez (1998, p.183), “nas escolas da Antiguidade, os filósofos aspiravam à distribuição de sabedoria; nos colégios modernos, o propósito é mais humilde: ensinar matérias”. Essa forma de ensinar vem deflagrando um processo de gradativa queda dos ideais que inspiravam a aquisição do conhecimento. Hodiernamente, tal aquisição apresenta, ainda, uma tendência à compartimentação na organização das disciplinas componentes do currículo, resultando dessa forma de agir um conhecimento mais estanque. Tal prática vem apresentando resultados sujeitos a questionamentos quanto a sua validade de propósito, especialmente numa época em que a globalização é um imperativo. Acredita-se que, nesse contexto, não mais seria aconselhável a organização do conhecimento por matérias de ensino isoladamente consideradas. Ao contrário, o que se deveria buscar seria a sua integração pela interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. Uma metodologia indicada para esse fim seria a adoção dos projetos de trabalho, uma vez que experiências de ensino têm demonstrado sua viabilidade e relevância. Como requisitos para o uso dessa metodologia, os autores citados consideram importantes os seguintes princípios: 1) Sentido significativo da aprendizagem, que considera o conhecimento prévio do aluno; 2) Atitude favorável para o conhecimento, por parte dos alunos, em conexão com os interesses do trabalho do professor; 3) Estrutura lógica e sequencial dos conteúdos, por parte dos docentes, como ponto de partida para facilitar a compreensão do aluno; 4) Funcionalidade do objeto da aprendizagem, sendo fundamental a relação com os procedimentos que exigem tal princípio; 5) Atribuição de valor à memorização compreensiva, que poderá alavancar novas aprendizagens; 6) Avaliação como subsidiária do processo, com vistas a antecipar decisões, estabelecer relações ou inferir novos problemas. Esses princípios evidenciam a importância da motivação dos alunos e da consequente necessidade de o professor considerá-la para que seja atingido o propósito do trabalho em questão. Segundo Hernández e Ventura (1998, p.63), “a organização dos projetos de trabalho se baseia fundamentalmente numa concepção de globalizaçãoentendida como um processo muito mais interno do que externo”. O que, evidentemente, solicita uma pertinência entre a intenção dos alunos em relação à busca da aprendizagem e a postura do professor, enquanto profissional da educação que deve estar aberto a aceitar a bagagem cultural do aluno, considerando- a significativa nesse processo. A tomada de decisões como resultado da conquista da autonomia no ensino por projetos de trabalho: Com o advento das novas ideias em educação, originadas por estudos teóricos de pensadores como Rousseau, Dewey e Decroly, a capacidade de pensar passou a incorporar o elenco dos objetivos educacionais, apontando para a possibilidade do desenvolvimento da autonomia dos sujeitos. Nessa perspectiva metodológica, a pedagogia do ensino deveria pautar- se em ações que colocassem o aluno em situações de contato real com os problemas, para poder buscar soluções concretas, a fim de chegar a conclusões mais ordenadas. Dessa forma, estaria o professor seguindo a pedagogia de Dewey (Alarcão, 1996), consagrada como “aprender fazendo”. Ao se optar pela metodologia de ensino por projetos de trabalho, deve- se considerar que a questão da autonomia por parte dos alunos está associada às relações oferecidas pelo professor em termos de participação, inovação e qualidade. Isso requer que ele próprio já tenha conquistado a sua autonomia enquanto pessoa e profissional. É importante, também, que o trabalho pedagógico que objetiva a busca da autonomia do aluno considere a diferença entre o conceito de autonomia do sujeito e o de liberdade individual. Esses não se confundem, pois, segundo Alarcão (1996, p.67), “um indivíduo a quem faltem recursos intelectuais, culturais ou psicomotores poderá teórica e politicamente ser livre sem que, no entanto, essa liberdade aparente lhe confira autonomia”. A questão da autonomia, portanto, diz respeito diretamente à relação entre o pensar e o agir do sujeito como fundamento para o alcance dos resultados pretendidos. Nesse sentido, a autonomia estaria ligada ao processo mesmo de aprendizagem, uma vez que, com o desenvolvimento do projeto de trabalho, o sujeito exercita a dimensão do agir por vontade própria, valorizando-a inclusive em relação a sua vida pessoal. Significa dizer que essa metodologia centra-se no aluno, sujeito da construção de seu saber, ficando para o professor o papel de orientar e mediar esse processo. Com vistas a objetivar a importância da tomada de decisões para a conquista da autonomia no ensino por projetos de trabalho, apresenta-se, a seguir, a figura que caracteriza os percursos necessários para essa autonomia Fonte: Alarcão (1996, p.73). Analisando o contexto da figura apresentada, percebe-se que a autonomia do aluno, numa atividade por projetos de trabalho, fundamenta-se em quatro grandes áreas, a saber: a) área socioafetiva; b) área cognoscitiva; c) área da consciência crítica; d) área do autoconhecimento. O conjunto dessas diferentes competências conduz à aquisição da autonomia que, por sua vez, leva o sujeito à liberdade como fator de realização individual e social (SCHERMER; COSTA, 2004). Não há dúvidas que o contato com diferentes tipos de texto, desde cedo, é fundamental não só para formar o gosto pela leitura, como para transformar os indivíduos em leitores competentes. Entretanto, para a maior parte de nossos alunos, esse contato só é possível na escola, e mesmo assim, raramente é prazeroso; quase sempre, os momentos de leitura são seguidos de cobranças que impedem a livre fruição do texto (CENPEC, 2003). Por outro lado, a escola não pode deixar a critério do aluno a decisão de ler ou não: é sua função mostrar que a leitura pode ser uma fonte inesgotável de lazer e novos conhecimentos. Para isso, é possível criar na escola uma situação que deixe livre a escolha dos títulos de leitura, bem como os comentários dos alunos e, ao mesmo tempo, incentive-os a empenharem-se na busca de qualidade da sua leitura. Antes de iniciar os projetos, é necessário e positivo, que se converse com os alunos para saber o que já leram. A partir dessa conversa, se terá uma ideia sobre a familiaridade deles com a leitura, se gostam ou não de ler, o quê e por quê. Com esses dados, melhor será a orientação das atividades de leitura durante o ano. Entre outras propostas, existe a formação de Clubes de leitura, utilizando os livros da biblioteca da escola, que segundo Ribeiro (1994, p.61) “possibilita acesso à literatura e as informações para dar respostas suscitar perguntas aos educandos, configurando uma instituição cuja tarefa centra-se na formação não só do educando como também do apoio informacional ao pessoal docente....” ou a que tiver sido organizada na sala: os alunos se escolhem para formar o clube, combinam o que vão ler fora do horário de aula e, a cada quinzena, reúnem-se para comentar o que leram. Essa reunião será uma boa ocasião para convidar os alunos que ainda não tiveram aderido ao clube. Outros projetos a serem sugeridos seriam: ✓ Histórias que a Família Conta: destinado a recuperar as tradições orais da família, representadas pelas narrativas de ficção, passadas de pai para filho, bem como a memória de fatos realmente vividos pelos antepassados. É comum, nas famílias, alguém gostar de contar histórias, que todos gostam de ouvir. Propõe-se, neste projeto, que a classe monte um livro com histórias trazidas pelos alunos. Para incentivá-los, apresenta-se algumas histórias do tipo de trabalho que se pretende. ✓ Conhecendo Medicamentos, Ervas Medicinais e Receitas Caseiras: projeto que além de trabalhar o texto numa situação significativa, alerta os alunos contra o uso indiscriminado de medicamentos. Para isso, irão conhecer e analisar bulas de remédios, como preparar ervas caseiras, quando podem ser usadas, atentando para aspectos como indicações, contra indicações, posologia, composição, etc., com o intuito também de familiarizá-lo com o tipo de organização deste discurso. Ele trabalhará com embalagens, bulas, propagandas de rádio, TV, podendo este projeto ser desenvolvido durante um certo tempo, que poderá ser maior ou menor, dependendo do interesse dos alunos. Ao longo do ano, podem ser feitas adaptações consideradas necessárias de acordo com o andamento, aceitação e resultado dos mesmos. Faz-se necessário, antes do início de cada projeto, sua leitura, sua explicação, para que comece tendo-se em mãos todo o material necessário, as etapas bem delimitadas para que não parem no meio do caminho por falta de planejamento (CENPEC, 2003). 3.5 Ensinando ortografia, pontuação e aspectos gramaticais De acordo com os PCNs para a Língua Portuguesa, um modo geral o ensino da ortografia dá-se por meio da apresentação e repetição verbal de regras, com sentido de “fórmulas”, e da correção que o professor faz de redações e ditados, seguida de uma tarefa onde o aluno copia várias vezes as palavras que escrever errado. E, apesar do grande investimento feito nesse tipo de atividade, os alunos – se bem que capazes de “recitar” as regras quando solicitados – continuam a escrever errado. Ainda que tenha um forte apelo à memória, a aprendizagem da ortografia não é um processo passivo: trata-se de uma construção individual, para a qual a intervenção pedagógica tem muito a contribuir. É importante que as estratégias didáticas para o ensino da ortografia se articulem em torno de dois eixos básicos: ✓ o da distinção entre o que é “produtivo” e o que é “reprodutivo” na notação da ortografia da língua, permitindo no primeiro caso o descobrimento explícito de regras geradoras de notações corretas e, quando não, a consciência deque não há regras que justifiquem as formas corretas fixadas pela norma; e ✓ a distinção entre palavras de uso frequente e infrequente na linguagem escrita impressa. Em função dessas especificidades, o ensino da ortografia deveria se organizar de modo a favorecer o aluno, levando-o a refletir sobre as possíveis alternativas de grafia, comparando com a escrita convencional e progressivamente tomando consciência do funcionamento da ortografia (BRASIL, 1997). Quanto à aprendizagem da ortografia das palavras irregulares – cuja escrita se orienta por regularidades da norma – exige-se mais uma vez que primeiramente o aluno tome consciência de que nada é fixo e imutável. Neste sentido, a posição que se defende é a de que, independentemente de serem regulares ou irregulares, as formas ortográficas devem ser aprendidas o quanto antes, liberando o aluno o mais cedo possível para que dê atenção a outros aspectos gramaticais. Embora existam regras a serem seguidas para uma escrita correta, o ensino da ortografia pode ser desenvolvido por meio de atividades que tenham o texto como fonte de reflexão, como atividade que tenha palavras não necessariamente vinculadas a um texto específico. O ensino da pontuação tem-se confundido com o ensino dos sinais de pontuação. A uma apresentação do tipo “serve para” ou “é usado para” segue- se uma exemplificação cujo objetivo é servir de referência ao uso. Desse momento em diante costuma-se esperar que os alunos incorporem a pontuação a seus textos. A partir da compreensão de que o procedimento de pontuar é parte da atividade de textualização, essa abordagem se mostra inadequada e indica a necessidade de rever algumas ideias, nem sempre explícitas, sobre as quais esta didática se apoia. A primeira delas é que a pontuação serviria para indicar as pausas na leitura em voz alta e a segunda é que o que se pontuam são as frases (BRASIL, 1997). Aprender a pontuar é aprender a partir e a reagrupar o fluxo do texto de forma a indicar ao leitor os sentidos propostos pelo autor, obtendo assim efeitos estilísticos. O escritor indica as separações (pontuando) e sua natureza (escolhendo o sinal) e com isso estabelece formas de articulação entre as partes que afetam diretamente as possibilidades de sentido. A única regra obrigatória da pontuação é a que diz onde não se pode pontuar: entre o sujeito e o verbo e entre o verbo e seu complemento. Tudo o mais são possibilidades. Por isso – ao contrário da ortografia – na pontuação a fronteira entre o certo e o errado nem sempre é bem definida. Há, quase sempre, mais de uma possibilidade de pontuar um texto. Aprender a pontuar não é, portanto, aprender um conjunto de regras a seguir e sim aprender um procedimento que incide diretamente sobre a textualidade. Um procedimento que só é possível aprender sob tutoria, isto é, fazendo juntamente com quem sabe. É no interior da situação de produção de texto, enquanto o escritor monitora a própria escrita para assegurar sua adequação, coerência, coesão e correção, que ganham utilidade os conhecimentos sobre os aspectos gramaticais. Saber o que é substantivo, adjetivo, verbo, artigo, preposição, sujeito, predicado, etc., não significa ser capaz de construir bons textos, empregando bem esses conhecimentos. Quando se enfatiza a importância das atividades de revisão é por esta razão: trata-se de uma oportunidade privilegiada de ensinar o aluno a utilizar os conhecimentos que possui ao mesmo tempo em que é fonte de conteúdos a serem trabalhados. Isso porque os aspectos gramaticais – e outros discursivos como a pontuação – devem ser selecionados a partir das produções escritas dos alunos. O critério de relevância dos aspectos identificados como problemáticos – que precisam, portanto, ser ensinados prioritariamente – deve ser composto pela combinação de dois fatores: por um lado, o que pode contribuir para maior adequação e legibilidade dos textos e, por outro, a capacidade dos alunos em cada momento (BRASIL, 1997). O critério do que deve ser ou não ensinado é muito simples: apenas os termos que tenham utilidade para abordar os conteúdos e facilitar a comunicação nas atividades de reflexão sobre a língua excluindo-se tudo o que for desnecessário e costuma apenas confundir os alunos. Por exemplo, torna-se necessário saber, nas séries iniciais, o que é “proparoxítona”, no fim de um processo em que os alunos, sob orientação do professor, analisam e estabelecem regularidades na acentuação de palavras e chegam à regra de que são sempre acentuadas as palavras em que a sílaba tônica é a antepenúltima. Também é possível ensinar concordância sem necessariamente falar em sujeito ou em verbo. Isso não significa que não é para ensinar fonética, morfologia ou sintaxe, mas que elas devem ser oferecidas à medida que se tornarem necessárias para a reflexão sobre a língua. Finalmente, é preciso voltar a enfatizar o papel que o trabalho em grupo desempenha em atividades de análise e reflexão sobre a língua: é um espaço de discussão de estratégias para a resolução das questões que se colocam como problemas, de busca de alternativas, de verificação de diferentes hipóteses, de comparação de diferentes pontos de vista, de colaboração entre alunos para a resolução de tarefas de aprendizagem. É necessário partir do que o aluno já sabe, ajudando-o a evoluir não só como usuário, mas como cidadão que pode assumir, progressivamente, o monitoramento da própria atividade linguística. 3.6 A era digital Falar em leitura na era digital é muito complexo porque envolve também o debate sobre conceitos de leitura, escrita, a apropriação do livro e condições de acesso à cultura letrada e mesmo porque em se tratando de Brasil, nossas reflexões sequer teriam sentido, visto que ainda precisamos caminhar muito para chegarmos à condição ótima em termos de oportunidades e acesso ao livro. Mas quem diria que basta ligar um aparelho na tomada e em rede em qualquer ponto do mundo para se ter acesso a informações infinitas quase no mesmo instante em que são enviadas? Pois bem, a era digital chegou e os adolescentes dominam com muita maestria e com mais facilidade que qualquer outro sujeito, os portadores da tecnologia digital. Muitos deles encaram a tela da televisão e do computador com mais facilidade do que o suporte em papel e precisamos, então, oferecer esse suporte com foco pedagógico. Nesse campo de suportes temos o hipertexto que pode ser definido como a apresentação da informação na forma de uma rede de nós ou links conectados, em que os leitores são livres para navegar de uma forma não linear (ROLLA, 2004). O hipertexto permite autores múltiplos, bem como um embaralhamento das funções do leitor e do autor e uma leitura que segue muitos caminhos, mas por mais liberdade que o leitor tenha, ele não tem todo o poder, porque é o autor que o monitora. Nesse sentido é preciso orientar as atividades dos internautas porque existem muitos jogos e programas que se dizem educativos, mas são desprovidos de significado, o que vem nos mostrar que a leitura digital traz exigências maiores para os que leem e escreve, como por exemplo, a escrita conhecida como internetês. Embora saibamos que o livro de papel não vai desaparecer tão cedo e que o livro eletrônico é apenas outro suporte, o importante é a significação daquilo que se quer dizer. Ler sempre! Mas realmente não podemos nos enganar que a tecnologia está ai, que os jovens, adolescentes e mesmo as crianças se interessam muito pelo computador, portanto, na medida em que tivermos condições, vamos usá-la, com consciência, e reformular nossos conceitos que muitas vezes já estão cristalizadospara as novas competências em leitura. 3 O PROFESSOR COMO MEDIADOR NA FORMAÇÃO DO LEITOR Aos professores cabe a nobre missão e, enquanto profissionais que são, a responsabilidade de fazer os alunos descobrirem o universo da literatura, ajudando-os a perceber a maravilha que a humanidade nos legou. Assim, quando ele tem um projeto de formação de leitores, mesmo que seja com ações simples e pelo interesse demonstrado, os resultados positivos podem surgir, pois, embora o aluno não seja um leitor nato, é com certeza, um leitor potencial e o professor colaborando para que aflore seu gosto pelo mundo literário, estará buscando um resultado positivo (MACHADO, 2001). Neste contexto, a sala de aula é um reduto imprescindível à construção do processo de ensino-aprendizagem da leitura; é onde acontece a educação formal, onde “há uma intencionalidade, uma consciência por parte do educador quanto aos objetivos e tarefas que deva cumprir [...]” (LIBÂNEO, 1994, p. 17). Isso porque a ideia de leitor está claramente vinculada ao processo de alfabetização e, nesse contexto, emerge a importância da prática do professor na formação do leitor. O objetivo maior do educador, no que diz respeito ao ato de ler, deve ser o de formar leitores proficientes, inserindo-os no mundo letrado através da multiplicidade de textos existentes e das diferentes modalidades de leitura; mostrando aos alunos que os objetivos da leitura podem ser muitos e diferentes, dependendo da ocasião e do interesse do leitor. A busca por essa inserção deve ser intermediada pelo professor, fazendo o aluno entender que a leitura é um processo de interlocução entre leitor/autor intermediado pelo texto (GERALDI, 1997, p. 91). Quanto ao planejar um trabalho de leitura, o professor deve levar em conta três fatores: • Textos Diversificados – Trazer para a sala de aula os mais variados tipos de texto para serem lidos. • Enfoques – desenvolver um trabalho de compreensão do texto que envolva o conteúdo, a superestrutura esquemática e o discurso. No enfoque conteudístico, as perguntas encontram respostas no próprio texto. No estruturalista, as perguntas ou atividades versam sobre a organização interna de cada texto. E no discursivo, o aluno é convidado a ir além do que está escrito. • Estratégias – Estimular as ações mentais do aluno enquanto lê. Um dos trabalhos do professor, considerando as estratégias, consiste em interromper a leitura num dado momento e fazer perguntas sobre a parte do texto ainda não lida. Ensinar a ler é inferir nas estratégias de leitura do aluno. O professor através do ensino da Língua Portuguesa deve procurar desenvolver no aluno a competência linguística oral e escrita, dentro de uma concepção de ensino e aprendizagem que privilegie a construção do conhecimento por meio do ensino recíproco e de atividade compartilhada, pois, concordando com Silva (1986, p. 39), o desvelar para a criança do que é ser leitor e ser escritor e de como ela se constitui como tal é que permite que se atinja a relação fundamental para uma proposta de ensino de Língua Portuguesa: a relação entre o conteúdo que se propõe e para que ele se proponha. Escrever bem é primordial para a produção de um bom texto e, desde a pré-escola a leitura de imagens – como é o caso das histórias em quadrinhos – ajuda a criança na construção do pensamento, facilitando o processo da leitura e da escrita. Ao produzir a história individual ou coletivamente percebe-se que o aluno une escrita, desenho, e arte, expressando elementos de sua realidade, de sua experiência de vida. A (re) construção do conhecimento é fruto da prática desenvolvida pelo professor, que deve atuar como principal veiculador dessas práticas, acreditando ser uma alternativa válida, promover um diálogo crítico entre a realidade do aluno – como elemento vital de contribuição – e a produção de um conhecimento coletivo, a partir de uma relação positiva entre professor e alunos e, “num movimento contínuo, interdisciplinar por natureza, o professor de português, junto com os alunos, concretiza as mais diversas interações, as quais geram textos, também os mais diversos (verbais, não verbais, orais, escritos...)” (SUASSUNA, 2006 p. 33). Nesse sentido, como um componente fundamental da ação pedagógica, a avaliação funciona como um indicador de qualidade dessa prática e contribui para o aperfeiçoamento do processo de ensino e aprendizagem. É por meio dos métodos avaliativos, que o professor tem a oportunidade de averiguar se realmente houve a apropriação dos conhecimentos. Deve ser feito um acompanhamento constante dos alunos, com registros das informações obtidas sobre os desempenhos, dificuldades e facilidades, interesse, erros e acertos, etc., para que esses dados ajudem a compor o acervo necessário a uma prática reflexiva, levando em consideração, objetivos e métodos preestabelecidos pelo educador, afinal a prática da avaliação da aprendizagem, em seu sentido pleno, só será possível na medida em que se estiver efetivamente interessado na aprendizagem do educando, ou seja, há que se estar interessado em que o educando aprenda aquilo que está sendo ensinado (LUCKESI, 2003, p. 99). Essa postura do educador permite ao aluno se perceber como parte do processo, apreendendo o que foi ensinado, e tornando-se um leitor ativo e autônomo. Afinal, o professor é o intelectual que delimita todos os quadrantes do terreno da leitura escolar. Sem a sua presença atuante, sem o seu trabalho competente, o terreno dificilmente chegará a produzir o benefício que a sociedade espera e deseja, ou seja, leitura e leitores assíduos e maduros (SILVA, 1995, p. 19). Palavras finais O século XXI tem se apresentando como uma época de grandes exigências em termos de conhecimento e discernimento. Requer do indivíduo que saiba ler os produtos da mídia e que seja capaz de questionar suas estratégias. Isso envolve capacidades que vão muito além do que é ensinado nas escolas, da conhecida alfabetização. As conceituações que foram feitas ao longo dessa apostila, bem como as reflexões sobre a importância e as razões para se ler o mundo com um olhar crítico levam a várias inferências. Podemos começar a discorrer sobre elas, falando da formação dos professores que é precária, da escola que precisa repensar sua prática pedagógica, conciliando seus múltiplos papéis na sociedade. Quanto ao educador, este deveria ser o mediador em todo o processo, levando seus alunos a apreender a informação, mas transformá-la em conhecimento crítico para conseguir ler e compreender o mundo em todas suas nuances, pois o simples fato de ter acesso à informação não quer dizer que ele tenha capacidade de entender o mundo onde vive. Os mais variados métodos e técnicas estão por aí, prontos a servir de suporte para a atuação do educador e a escola deveria disponibilizar todo o material e instrumental necessário para proporcionar à criança contato com diferentes tipos de texto (literários, informativos, poéticos,...) para que ela adquira novos conhecimentos e compreenda as inúmeras formas de transmitir algo; levando-as a refletir sobre as informações, concepções, valores, crenças e ideias transmitidas pelos textos para verificar até que ponto essas ideias mostram a realidade; e, orientem o aluno para que compreendam o conjunto de ideias do texto, evitando a mera reprodução oral das palavras escritas. Diante de tudo isso, observa-se que o trabalho com diversos tipos e gêneros textuais na escola só tem a contribuir para que a criança aproprie das formas que circulam socialmente e para que exerça com plenitude e dignidade os seus direitos de cidadã.
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