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Teoria Crítica e Literatura

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30/04/2024, 13:34 Teoria Crítica e Literatura
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html?brand=estacio# 1/57
Teoria Crítica
e Literatura
Profª. Elaine Zeranze
Descrição
Pressupostos e legado da Teoria Crítica para a construção do
pensamento ocidental e a teoria literária.
Propósito
Compreender aspectos históricos e conceituais da Teoria Crítica e sua
contribuição para os estudos literários para ampliar conhecimentos
pertinentes à Teoria da Literatura.
Preparação
Tenha em mãos um dicionário de literatura para compreender o
vocabulário específico da área. Na internet, você acessa gratuitamente o
E-Dicionário de Termos Literários, de Carlos Ceia, e o Dicionário de
Cultura Básica, de Salvatore D’Onofrio.
Objetivos
Módulo 1
A Teoria Crítica
Reconhecer o contexto e as principais temáticas da Escola de
Frankfurt.
30/04/2024, 13:34 Teoria Crítica e Literatura
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Módulo 2
Walter Benjamin
Identificar os principais conceitos em Walter Benjamin.
Módulo 3
A Teoria Crítica no Brasil
Reconhecer algumas aplicações da Teoria Crítica no contexto
brasileiro.
A Teoria Crítica é uma escola de pensamento que foi decisiva para
a revolução do pensamento científico no século XX e que possui
grande influência, sobretudo nas ciências humanas, até os dias
atuais.
Com críticas pungentes a outros pensadores e tradições filosóficas,
a Teoria Crítica lançará mão de escritas fragmentárias e
inacabadas, mediante aforismos e ensaios, por exemplo, como
forma de provocar o pensamento crítico e evitar, assim, o
pensamento fechado e dogmático.
Com temática variada, a Teoria Crítica, também chamada de Escola
de Frankfurt, que conta com os pensadores alemães Theodor
Adorno (1903-969), Walter Benjamin (1892-1940), Max Horkheimer
(1895-1973) e Herbert Marcuse (18998-1979), traz à tona questões
importantes, como a sociedade totalitária, a cultura de massa, a
falsa ideia de progresso e o mundo da técnica, sempre sob um viés
político, afinal, para esses intelectuais, o pensamento crítico é
também político.
Introdução
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1 - A Teoria Crítica
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer o contexto e as
principais temáticas da Escola de Frankfurt.
Contexto histórico e
�losó�co da Teoria Crítica
Memorial Karl Marx em Berlin-Stralau, em Berlim, na Alemanha.
Antes de pensarmos a Teoria Crítica como escola filosófica, é
importante demarcar o seu caminho de formação.
A rápida modernização da Alemanha e de outros países europeus, como
também a efervescência intelectual de meados do século XIX, são o
germe da Teoria Crítica.
Nas raízes da Teoria Crítica, encontramos o pensamento marxista, que
é a sua pedra de toque, portanto será nossa primeira abordagem. Em
seguida veremos nomes como Lukács e Weber com os célebres
conceitos de consciência de classe e desencantamento do mundo,
respectivamente.
O marxismo: a “grande narrativa”
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O marxismo poderia ser visto como uma teoria “pau para toda obra”,
servindo para tratar de qualquer tema, em qualquer época (SIM; VAN
LOON, 2019).
Já é mais que sabida a importância da crítica ao capitalismo de Marx
para pensarmos a modernidade. A figura do velho barbudo já está
“viralizada”, e alguns de seus principais conceitos foram banalizados –
como alienação e luta de classes – de tanto utilizados e reutilizados,
algumas vezes apropriadamente, mas em boa parte fora de contexto.
Karl Marx em 1875.
Além desses conceitos mais célebres, veremos o importante método
dialético materialista. Por uma questão metodológica, começaremos
pelo método dialético.
A dialética hegeliana (idealista) x
dialética marxista (materialista)
Desde os gregos, com Heráclito e depois Platão, a dialética é pensada
como um método filosófico que busca resolver as contradições do Ser e
do Universo.
É a partir da filosofia idealista de Hegel que virá a
lógica da dialética materialista. Logo, para
compreendermos o método marxista, precisamos
conhecer um pouco do pensamento hegeliano.
Para Hegel, toda Ideia/realidade (tese) inevitavelmente traz em si a sua
negação (antítese), o que nomeou de princípio da contradição.
A partir do princípio da contradição, ficaria explicado o devir/vir a
ser/transformação. E dessa contradição inevitavelmente viria a sua
resolução (síntese).
Um dos exemplos dados por Hegel para ilustrar esse princípio é o da
flor:
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Dialética Idealista
Tese Antítese Síntese
Semente Flor Fruto
Ideia em si Ideia fora de si
Ideia em si e
para si
Segundo Hegel, a Flor é a negação da Semente, assim como o Fruto é a
negação da Flor, ou ainda, a negação da negação. Partindo dessa lógica,
da superação das contradições, Hegel pretende resolver o devir
contínuo, ou seja, as constantes transformações.
A síntese se transformaria numa nova tese, que geraria sua antítese e
caminharia para uma nova síntese, numa espiral contínua. A essa lógica,
Hegel chamou de método dialético.
Comentário
A grande questão é a defesa de Hegel do método dialético como um
inevitável caminho da mente humana para um nível mais elevado de
síntese/autoconsciência, o que transmite a ideia de progresso da mente
humana e, consequentemente, da humanidade.
Nesse ponto irá divergir a dialética marxista, ao negar essa evolução
histórica e, ainda, a própria concepção de história.
Hegel
A história é concebida
como jornada do
espírito no mundo, ou
seja, a autoconsciência
do Espírito/Ideia.
Marx
A consciência é, já no
princípio, uma
construção social. E
segue na direção da
construção de uma
dialética que dê conta
da vida material e não
abstrata/Ideal.
A dialética hegeliana serviu perfeitamente aos ideais progressistas da
burguesia revolucionária, que naquele momento estava então
estabelecida. Contudo, não dava conta dos dilaceramentos que
acompanharam todas as mudanças, o revés do progresso.

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Para o filósofo húngaro Georg Lukács (1885-1971), o materialismo
histórico vem para dissolver esta última grande filosofia burguesa, o
hegelianismo, a partir da decadência política dos partidos na Revolução
de 1848.
Sem descartar o método hegeliano, Marx tenta invertê-lo:
Revolução de 1848
Trata-se de uma série de acontecimentos revolucionários também
denominados de Revolução Francesa de 1848, com o fim da Monarquia de
Julho e o início da Segunda República Francesa.
O processo de pensamento – que
ele transforma em sujeito autônomo
sob o nome de ideia – é o criador do
real, e o real é apenas sua
manifestação externa. Para mim, ao
contrário, o ideal não é mais do que
o material transposto para a cabeça
do ser humano e por ela
interpretado.
(MARX, 1994, p.17)
Marx lançará mão de sua dialética materialista para chegar a uma
interpretação dialética da história, não como evolução, mas para
analisar as contradições de classes, e a própria mercadoria, que seria a
síntese da contradição de valor de uso X valor de troca:
Dialética Materialista (Mercadoria)
Tese Antítese Síntese
Valor de uso Valor de troca
Valor de
uso e
Valor de
troca
Subjetivo/qualitativo Mensurável/quantitativo
Produção
de
riqueza
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Ao pensar valor de uso X valor de troca, chegamos a outro grande
importante conceito na teoria marxista – o de alienação. Se Marx tira de
Hegel a raiz do método dialético, é em Feuerbachque irá buscar o
conceito de alienação, como veremos a seguir.
Alienação em Feuerbach x
Alienação em Marx
A filosofia de Feuerbach se voltava para uma crítica mais focada para a
questão da religião em Hegel. Em Feuerbach, encontramos o conceito
de alienação.
Prometeu roubando o fogo, por Jan Cossiers (1637).
A religião seria uma projeção, em que a ideia mitológica de Deus seria
uma “gigantografia” do homem, uma potencialização do homem ideal,
basicamente a projeção de valores humanos idealizados numa
construção artificial. Ainda que algo criado pelo homem, com o passar
do tempo, essa ideia se desgarra de seu criador e se torna
independente. O que segue é o controle do criador pela própria criatura.
Em outras palavras, a ideia de Deus se torna autônoma e passa a
escravizar o homem. A esse fenômeno que Feuerbach dá o nome de
alienação.
Marx transporta a ideia de Deus para a lógica do trabalho. No contexto
do capitalismo, o trabalho se torna autônomo e independente do homem
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em diversos processos.
Esses processos podem ser resumidos da seguinte forma:
Alienação do produto do seu
próprio trabalho
O produto do trabalho não pertence ao trabalhador, mas ao dono dos
meios de produção.
Alienação do processo de
produção
O trabalhador é reduzido a uma etapa da produção, e sua atividade é
vendida e controlada por outra pessoa.
Alienação de sua própria natureza
humana
O trabalho, antes o diferencial humano, agora está a serviço, assim
como o trabalhador, da lógica capitalista.
Alienação do homem de sua
própria espécie
Mercantilização das relações sociais (SELL, 2014).
Lukács e a Consciência de Classe
Em contraste com a práxis soviética, Lukács traz a luta de classes por
um viés menos dogmático e mais teórico, voltado para a filosofia e
críticas literária e cultural.
Seu trabalho mais emblemático, História e Consciência
de Classe (1923), será fundamental para a Teoria
Crítica e de grande influência para o filósofo Walter
Benjamin, que teve acesso a Marx por meio dessa
obra.
Em A Teoria do Romance (1916), Lukács aponta a fratura do indivíduo
com o mundo (desenraizamento transcendental), sem conseguir
identificar precisamente quando ocorre essa separação, e cuja falta de
sentido da existência poderia ser compensada apenas pela arte. É a
esse desenraizamento que o romance como forma responde, dando
conta de representar a subjetividade do indivíduo de uma nova classe e
de uma nova dinâmica social que se estabelece – o burguês e a vida
burguesa.
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Georg Lukács em 1952.
No entanto, Lukács modifica sua postura em História e Consciência de
Classe (1923), sugerindo que a transcendência, agora não mais
espiritual, deveria ocorrer no seio da própria sociedade. Para o filósofo,
as classes sociais são responsáveis pela história, assim a filosofia
deveria dar conta de pensar nas condições de produção e reprodução
da vida material no intuito de favorecer a consciência de classe.
Lukács via na expressão artística uma possibilidade de perspectiva
histórica. E, embora possua um volume considerável de textos em que
trata dos movimentos artísticos, seus escritos se deram de forma mais
intensa no campo da Crítica Literária.
Ilustração de autoria de Franz Kafka.
É falando a respeito dos movimentos artísticos que encontramos uma
das questões mais controversas do pensamento de Lukács, quando o
filósofo faz a defesa do realismo em detrimento dos movimentos de
vanguarda, o que o leva, inclusive, a condenar artistas como Franz Kafka
e James Joyce.
Comentário
Para Lukács, que denominou as vanguardas de correntes de evolução
burguesa, esses movimentos significaram o declínio da literatura e da
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arte, tornando-se naturezas mortas representadas com artifício e
refinamento.
Na outra ponta situa-se o realismo do romancista alemão Thomas
Mann, a quem Lukács toma como modelo de romance, e o situa lado a
lado com o escritor, pensador e escritor alemão Wolfgang von Goethe.
Para Lukács, o caminho criativo dos dois autores são condicionamentos
das modificações históricas, em que conseguem a representação do
progresso da humanidade sem deixar de revelar o contraditório de suas
manifestações.
Outro tema importante em Lukács, que podemos ler no ensaio Thomas
Mann e A Tragédia da Arte Moderna, está relacionado com dois
aspectos:
A pintura a óleo A fonte, por Ludwig von Hofmann (1913), que Mann comprou em 1914 e
pendurou em seu escritório.
o declínio do ato de narrar, que segundo o autor tem início na
revolução de 1848;
o isolamento do artista e da arte, que, em Thomas Mann, como
afirma Lukács, é um processo concluído, refletindo o que, no
íntimo da sociedade capitalista, já é fato.
Mais tarde, Walter Benjamin aprofundará essas questões no célebre
ensaio O Narrador (1936).
Weber: Racionalização e
desencantamento do mundo
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Weber aborda o vasto processo histórico-social de racionalização pelo
qual o mundo estava passando e suas consequências. Se por um lado a
produtividade era aumentada, pelo outro, a perda da liberdade era uma
possibilidade.
A modernidade trazia consigo a vida ascética capitalista, ou seja, uma
dedicação rigorosa e disciplinada voltada para o mundo do trabalho. Um
processo gradual, resultado do desencantamento do mundo.
A hiper-racionalização desgasta o mundo mítico,
eliminando a magia e, por consequência, a crença nas
forças divinas é eliminada da vida moderna capitalista,
o que, juntamente com a ciência e a técnica, conduz a
uma vida cada vez mais burocratizada, racionalizada,
num mundo administrado.
Outro ponto importante apontado por Weber, como consequência do
desencantamento do mundo, é o da des-divinização da natureza.
Para entendê-la, é preciso saber que, na teoria weberiana, o
desencantamento do mundo tem duas dimensões:
Dimensão
religiosa
Aponta o interior da
própria religião como
ponto de partida do
processo de eliminação
da magia, que será
levado a cabo pela
ciência e técnica
ocidentais.
Dimensão
cientí�ca
O saber racional do
homem des-diviniza a
natureza, logo, agora,
carente de sentido,
passa a estar a serviço
do homem.
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É essa natureza desmistificada que veremos mais à frente na Teoria
Crítica como revés do progresso, ou seja, na dialética capitalista o
progresso intimamente relacionado à destruição da natureza.
A Escola de Frankfurt
Edifício do Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt, na Alemanha, fotografado
em 2007.
Vamos agora procurar entender a Teoria Crítica como método de análise
e crítica da sociedade.
O que é a Escola de Frankfurt?
Devemos pensar a Escola de Frankfurt não como uma instituição física,
pois trata-se de um termo para designar uma linha filosófica e de teoria
social adotada por membros ligados ao Instituto de Pesquisas Sociais
de Frankfurt.
Max Horkheimer (à esquerda) cumprimenta Theodor Adorno (à direita) em frente ao Instituto de
Pesquisa Social, em 1964.
De orientação socialista e materialista, seu trabalho se direcionava para
a produção e divulgação de uma teoria crítica da sociedade por meio de
uma perspectiva dialética. Ganha maior repercussão a partir da
nomeação de Max Horkheimer como diretor do Instituto.
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Conta na sua composição comafiliados e associados do Instituto, em
sua maior parte dissidentes do marxismo ortodoxo e partidário. Por
isso, ganham a denominação de neomarxistas.
Num período em que vigorava a defesa do marxismo
como práxis, a Escola de Frankfurt suspende a
unificação entre teoria e práxis em busca de uma
renovação teórica, que só é possível por conta da
autonomia do Instituto.
Embora sua teoria não tenha exercido grande impacto na República de
Weimar e no exílio que se segue, ela se torna no pós-guerra a
revitalização do marxismo na Europa Ocidental. Marcuse, que após o
fim da guerra fixa residência nos EUA, teve grande influência para a
Nova Esquerda norte-americana.
República de Weimar
Corresponde a um período histórico da Alemanha entre o final da Primeira
Guerra Mundial e a ascensão do partido nazista ao poder, ou seja, entre
1919 e 1933. Esse período de transição entre a Grande Guerra e o Nazismo
se caracterizou por um governo que procurava resolver os graves
problemas do pós-guerra. É um governo que nasce da Carta Constitucional
elaborada a partir da assembleia constituinte, que se instalou em fevereiro
de 1919 na cidade de Weimar. O modelo de governo republicano
parlamentarista que nasce dessa constituição se mostrou fragilizado e
acabou convivendo com vários radicalismos, como o nacionalismo que deu
origem ao nazismo.
Saiba mais
A Escola de Frankfurt, além de inspiração marxista, era composta
basicamente por pesquisadores judeus. Por isso, o Instituto acabou
sendo fechado pelos nazistas, tendo seus livros confiscados.
Esses autores, que dão nome à Teoria Crítica, são críticos do socialismo
soviético tanto quanto do capitalismo nas ideias e na forma.
No âmbito das ideias
Procuram fugir do caráter dogmático dos pensadores positivistas.
Na instância da forma
Dão preferência ao inacabado, como os textos na forma de ensaio e de
aforismos (textos concisos e densos), em oposição à tradição filosófica
e o pensamento fechado.
Atenção
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A escola de Frankfurt apresenta o dilema do intelectual de esquerda do
século XX. Como críticos da cultura, os membros do Instituto tinham
diante de si a máquina capitalista que tudo absorvia, cooptava e
esvaziava. Era um período em que a alienação se torna mercadoria
lucrativa, a arte moderna cai nas graças da massa consumidora,
atingindo, inclusive, as vanguardas, que se faz ornamento da vida
cultural.
As pesquisas ligadas a essa escola refletem o contexto em que foram
produzidas. Seus teóricos escrevem sobre um período turbulento, que
compreende o pós-guerra, com todo o empobrecimento econômico e
humano que desemboca, de um lado, no fascismo e no nazismo, e do
outro, no stalinismo. Viveram ainda o horror da Segunda Guerra Mundial
que, com todo o aparato tecnológico e sociedade “hiper-racionalizada”,
produziu os campos de concentração e extermínio nazistas.
A Dialética do Esclarecimento de
Adorno e Horkheimer
Mito e Esclarecimento
Comício do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães em Nuremberg, em1936.
A Dialética do Esclarecimento (1985) é uma obra em que Adorno e
Horkheimer levantam questionamentos acerca do Esclarecimento
(Iluminismo) que promove a barbárie. Tratam de um contexto em que
uma sociedade extremamente racionalizada e ordenada, como a
Alemanha do início do século XX, tem como produto o antissemitismo e
o fascismo. Aqui, é possível enxergar a dialética weberiana que trata das
sociedades hiper-racionalizadas que trazem a regressão junto ao
progresso.
O programa do
esclarecimento era o
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desencantamento do
mundo.
(ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p.18)
Para os autores de Dialética do Esclarecimento, o fundamento do
esclarecimento era a dominação. Saber e poder, nessa concepção, são
sinônimos, logo a desmistificação da natureza, apontada já em Weber,
tinha como propósito a dominação da própria natureza, tanto quanto a
do homem. Desmistificar para dominar:
O mito converte-se
em esclarecimento, e
a natureza em mera
objetividade.
(ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p.21)
No ensaio Ulisses ou o Mito do Esclarecimento, os mesmos autores vão
buscar em Homero as sementes do desencantamento do mundo.
Na Odisseia de Ulisses, assistimos à vitória da astúcia sobre o mito. A
astúcia era uma marca da razão ou de uma racionalidade. Os
pensadores da Teoria Crítica analisam o célebre episódio em que
Ulisses, para não sucumbir ao canto das sereias, pede para ser
amarrado, assim, diferentemente de seus companheiros que estariam
com os ouvidos tapados com cera, ele poderia ouvir o maravilhoso
canto e não ceder a ele.
Tal como esse, outros episódios da Odisseia representam desvios que
impedem que o herói retorne à sua pátria, no entanto, o astucioso
Ulisses sai vitorioso de todos eles, representando a vitória da
racionalidade.
A Indústria Cultural
No ensaio Indústria Cultural, cujo subtítulo é o Esclarecimento como
Mistificação das Massas, Adorno e Horkheimer apresentam o célebre
conceito de indústria cultural. Nesse texto, os autores condenam os
meios de comunicação de massa devido ao seu caráter totalizante, que
impossibilita o direito à escolha.
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A indústria cultural, composta essencialmente pela mídia (como o
cinema, o rádio, a televisão), é responsável pela difusão de valores e
padrões de comportamento. Funciona como aparelhos que criam
necessidades genéricas e constituem os indivíduos também como
seres genéricos, logo substituíveis.
O processo de padronização provocado pela indústria cultural está
relacionado com uma sociedade alienada de si mesma, cuja
compulsividade impele as massas a consumir aquilo que é produzido
em larga escala, vinculando-se ao sentimento de que esses bens
respondem a uma demanda, ou seja, nascem das necessidades dos
próprios consumidores. A arte, nesse contexto, assume um caráter
declaradamente mercantil, renuncia à sua autonomia e se lança como
bem de consumo.
Os Beatles desembarcando no Aeroporto JFK em Nova Iorque, em 1964.
Adorno e Horkheimer tratam ainda da questão específica do cinema e
do rádio, que já nascem dentro dessa lógica, logo não necessitam se
apresentar como arte, pois não passando de um negócio: “utilizam uma
ideologia destinada a legitimar o lixo que propositalmente produzem”
(ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p.100).
Resumindo
A condenação enfática de Adorno e Horkheimer a essas mídias vem do
seu caráter puramente de entretenimento, tomando o lugar do tempo
livre, do ócio criativo, da liberdade. As massas, em seu tempo livre,
agora estão anestesiadas se divertindo uniformemente, sendo
bombardeadas por imagens ou notícias que não provocam o
pensamento crítico, ao contrário, promovem anestesiamento e
alienação.
Adorno e o ensaio como forma
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Theodor Adorno em 1964.
O ensaio adota uma perspectiva não totalizante do que se fala. Ele
termina no instante em que se acredita suficiente e não quando mais
nada se resta a dizer. O ensaio se afirma como uma forma não
dogmática e fechada em si, ele não cria, mas recria a partir de algo já
existente.
Enquanto a tradição parte do universal para explicar o particular, o
ensaio fará o caminho reverso. Adorno pondera que, ao contrário do que
dizem aqueles que atacam o ensaio por uma suposta falta de rigor, a
forma aberta do ensaio não significa falta de rigidez acadêmica.
O ensaio adota uma perspectiva não totalizante do que se fala. Ele
termina no instante em que se acredita suficiente e não quando mais
nada se resta a dizer. O ensaio se afirma comouma forma não
dogmática e fechada em si, ele não cria, mas recria a partir de algo já
existente.
Enquanto a tradição parte do universal para explicar o particular, o
ensaio fará o caminho reverso. Adorno pondera que, ao contrário do que
dizem aqueles que atacam o ensaio por uma suposta falta de rigor, a
forma aberta do ensaio não significa falta de rigidez acadêmica.
Adorno e outros companheiros defendem o
desnudamento do texto científico, afinal, passando ao
largo da falsa objetividade a que se pretende a ciência,
que, embora escondida pela máscara da neutralidade
científica, sempre carrega uma posição política, o
ensaio afirma seu posicionamento.
Além disso, a descontinuidade é fundamental ao ensaio.
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O ensaio é tanto aberto quanto fechado, tornando-se coeso em sua
forma, pois é aberto no instante em que nega qualquer sistemática, no
entanto, torna-se fechado, pois trabalha de forma enfática no modo de
exposição. O ensaio se aproxima tanto da arte, em razão de sua
dinâmica, quanto da teoria, em razão dos conceitos que apresenta.
Max Horkheimer e a crítica da
razão instrumental
A crítica da razão instrumental de Horkheimer diz respeito a uma
sociedade em que a razão abre mão de sua autonomia para servir de
instrumento e estabelecer uma ordem para aqueles que detêm o poder.
A razão se mostraria algo doentio porque teria nascido da necessidade
que o ser humano tem de dominar a natureza.
A hiper-racionalização pensada por Weber ganha com Horkheimer a
particularidade de instrumento, com isso, não serve mais ao homem
como meio de emancipação, mas submete o homem a suas próprias
leis.
Max Horkheimer com Rose Riekher no 1º Congresso de Críticos Culturais de Munique (1958).
Essas leis não têm mais a ver com a razão e busca por verdades
objetivas e universais, mas com o alcançar um propósito, seja ele bom
ou mau.
Como produto da razão instrumental, Horkheimer denuncia:
a decadência do pensamento;
a razão a serviço da produção industrial;
a cultura de massa;
a deificação do trabalho;
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a natureza concebida como instrumento a serviço do homem;
a relação de utilidade em detrimento da relação de
necessidade.
Para o diretor do Instituto, o maior serviço que a filosofia poderia prestar
diante de um cenário aterrador é o de denúncia da própria razão e contar
a história dos anônimos desse processo, a quem chamou de
“verdadeiros mártires”.
Entre os mártires a quem Horkheimer se refere estão aqueles que
pereceram nos campos de concentração, vítimas dessa razão
instrumental, logo, a função da filosofia traduzir suas vozes, que foram
silenciadas pela tirania.
Herbert Marcuse e o homem
unidimensional
Herbert Marcuse em 1955.
Em 1964, Marcuse escreve o célebre trabalho O Homem Unidimensional,
este homem diz respeito àquele que vive numa sociedade de uma única
dimensão, ou seja, uma sociedade sem oposição, totalizada.
O espaço da sociedade total, resultado do mundo racionalizado e da
técnica, fecha o horizonte para o pensamento crítico e obedece à lógica
do domínio por aqueles que detêm o poder e usam a razão a serviço de
seus interesses.
Segundo Marcuse, a sociedade industrial avançada
produz um mecanismo de controle que comanda todos
os aspectos da vida, das ocupações aos desejos
individuais, da esfera pública à privada. A organização
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e “homogeneização” da sociedade tem, no entanto,
uma única finalidade, a dominação.
Para Marcuse, a barreira totalitária não pode ser derrubada por meios
tradicionais de protesto, como acreditava Marx, mas a sua
desestabilização acontece por meio daqueles que a sociedade
unidimensional deixa à margem, como os marginalizados, os
estrangeiros, os refugiados, as minorias perseguidas, os
desempregados etc.
Contexto e temáticas da
Escola de Frankfurt
Está na hora de falarmos sobre os principais temas abordados pela
Teoria Crítica. Vamos lá!

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Assinale a alternativa que contém uma afirmativa correta sobre o
contexto filosófico implicado na origem da Teoria Crítica.
A
O marxismo é a fonte teórica da Escola de Frankfurt,
por isso mesmo a Teoria Crítica manteve intocados
os conceitos e o pensamento marxistas, tendo seus
principais pensadores rotulados de marxistas
radicais.
B
Embora o marxismo seja a pedra de toque da Teoria
Crítica, a Escola de Frankfurt se caracteriza por uma
renovação teórica do marxismo, por isso seus
integrantes foram chamados de neomarxistas.
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Parabéns! A alternativa B está correta.
A origem da Teoria Crítica está relacionada com o pensamento
marxista, além do diálogo com o pensamento de Lukács e Weber.
No entanto, a Teoria Crítica propõe uma renovação teórica, inclusive
superando alguns aspectos do marxismo, como a unificação entre
teoria e práxis. A forte influência marxista e a postura não
dogmática em relação ao pensamento de Marx levaram os teóricos
da Escola de Frankfurt a serem denominados de neomarxistas.
Questão 2
Considere a enumeração a seguir tendo em vista as principais
temáticas abordadas pela Escola de Frankfurt.
I. Cultura de massa
II. O mundo transcendente
III. Sociedade totalitária
IV. Crítica do capitalismo
V. Niilismo
A partir desta enumeração, assinale a alternativa correta:
C
Lukács, com o conceito de consciência de classe, e
Weber, com a ideia de desencantamento do mundo,
influenciaram o marxismo, mas não fazem parte do
contexto filosófico da Escola de Frankfurt.
D
A Teoria Crítica surge num momento anterior à
República de Weimar, quando a filosofia na
Alemanha ainda não lidava com os desafios do pós-
guerra.
E
Os pensamentos de Adorno, Horkheimer, Benjamin e
Marcuse têm em comum uma origem filosófica
preocupada com questões metafísicas e
transcendentais.
A Apenas os itens I e II estão corretos.
B Apenas os itens II e III estão corretos.
C Apenas os itens I, II e III estão corretos.
D
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Parabéns! A alternativa D está correta.
A Escola de Frankfurt tem como principais temas a cultura de
massa, a sociedade totalitária e a crítica ao capitalismo, por isso os
itens I, III e IV são os únicos corretos. Os itens II e V estão
incorretos porque o mundo transcendente, preocupação de
filósofos como Kant, e o Niilismo, temática muito cara a Nietzsche,
não eram temas com os quais a Teoria Crítica da Escola de
Frankfurt se ocupava.
2 - Walter Benjamin
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os principais
conceitos em Walter Benjamin.
Biogra�a de Walter
Benjamin
Walter Benjamin nasceu em 15 de julho de 1892. De temperamento
melancólico e de difícil enquadramento, Benjamin dizia-se regido sob o
signo de Saturno.
De origem judaica, Benjamin desperta o interesse pelo judaísmo
influenciado por seu amigo sionista Gershon Scholem (1897-1982).
O messianismo judaico é bastante expressivo nos
escritos de Benjamim, e possui particular atenção pela
Apenas os itens I, III e IV estão corretos.
E Apenas os itens III, IV e V estão corretos.
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mística judaica, que se manifesta mais precisamente
nos seus textos maismaduros.
Walter Benjamin era de uma família burguesa e abastada. Em 1917,
casa-se com Dora Sophie Pollak. O autor se torna pai na Suíça, país em
que se refugia com sua esposa para não ser convocado pelo exército
alemão durante a Primeira Guerra. Em 1919, defende sua tese de
doutoramento na Universidade de Berna, com o título O conceito de
crítica de arte no romantismo alemão.
Politicamente, Benjamin manifestava espírito livre e, embora tenha se
aproximado bastante do marxismo, não se filia a nenhum partido, como
teria feito boa parte dos intelectuais da esquerda marxista.
Walter Benjamin em 1928.
Seu pensamento livre e sui generis o deixou numa espécie de limbo
acadêmico. Sua atuação como escritor, de 1925 a 1934 (quando se
torna colaborador e bolsista do Instituto de Pesquisas Sociais) são os
trabalhos de freier schiriftsteller (uma espécie de free-lance) e, após esse
período, mesmo com a bolsa no Instituto, a sua situação financeira
encontrava-se cada vez mais precária.
O cenário se tornava cada vez pior. Com a ascensão do nazismo, os
jornais e as revistas alemãs recusam seus trabalhos, Benjamin perde a
cidadania alemã e começa a sofrer perseguições como inúmeros
judeus. Refugiado na França, junto com outros milhares de judeus, é
transferido para um “campo de trabalho voluntário”, pois a França entra
na guerra contra a Alemanha e declara os cidadãos alemães,
refugiados ou não, inimigos do país.
Liberto com a ajuda de amigos franceses, permanece em Paris e
escreve em 1940 as teses Sobre o conceito de história. Em junho de
1940, a Alemanha ocupa a França e, após um pacto de armistício, ela se
compromete a entregar os refugiados alemães. O que segue é uma
penosa jornada em que Benjamin tenta asilo em outro país.
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Sem cidadania e um visto para sair da França ou entrar em outro país se
torna inviável. Ilegalmente chega a Portbou, na Espanha, e lá descobre
que seria obrigado a retornar à França, o que significava ser entregue à
Gestapo. Mediante a possibilidade quase irreversível de ser enviado aos
campos nazistas, Benjamin se suicida com uma dose letal de morfina,
que carregava junto a si como última saída para não cair nas mãos dos
nazistas.
A obra benjaminiana
Embora tenha seu nome vinculado à Escola de Frankfurt, a produção
teórica de Walter Benjamin merece um capítulo à parte do Instituto. Sua
relação com a academia, em alguns momentos, assemelha-se à sua
relação com a vida, errante, cheia de revezes e inacabada. Seu estilo
original lhe negou uma vida financeira e acadêmica estáveis. Mesmo
entre amigos, seu trabalho era visto de forma ambígua, ganhando
divulgação e reconhecimento merecidos apenas após sua morte.
Comentário
É uma tarefa difícil enquadrar o pensamento benjaminiano, sendo
assunto de discordância entre seus comentadores ainda nos dias
atuais. Isso se dá pelo fato de o teórico alemão, apesar de sua formação
filosófica, ter uma produção considerável em temas que abrangem a
literatura e a arte.
Para além da filosofia ou da crítica, por meio de seus escritos, Benjamin
projeta fazer uma nova escritura da História, que ganha amplo sentido
na metáfora de “escovar a História a contrapelo”. Seria uma escritura
contada pelo lado dos vencidos. Anos mais tarde, Marcuse verá nessa
camada dos vencidos, a que classifica como os que estão à margem da
sociedade unidimensional, o desequilíbrio da barreira totalitária
responsável pela homogeneização da sociedade. A classe dos vencidos
como condição revolucionária perpassa boa parte da obra benjaminiana,
entretanto, trabalha mais a fundo esse tema nas suas teses Sobre o
conceito de história.
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Depois de visitar uma exposição de Paul Klee, em abril de 1921, Benjamin comprou a aquarela
Angelus Novus.
Na forma, assim como seus companheiros da Escola de Frankfurt,
Walter Benjamin tem preferência pelo inacabado, seja pela forma do
ensaio, pelo fragmento ou pela montagem por meio de citações, levada
a cabo de forma mais intensa em Das Passagen-Werk.
O livro Passagens é uma obra inacabada composta por 4.234
fragmentos, separados por temas e suas notas organizadas de A-Z.
Nesse projeto, encontramos, no arquivo “N” intitulado de “Teoria do
Conhecimento – Teoria do Progresso”, o seu valioso conceito de
imagem dialética. Sua intenção era deixar vir à tona os sentidos por
meio do choque provocado pela montagem de citações.
Das Passagen-Werk
Livro Passagens.
Entre os temas frequentes em seus ensaios literários e especialmente
no livro sobre a vida em Paris no século XIX, podemos listar o labirinto,
as ruas, os passeios cobertos, o trânsito, entre outros.
Lemos em Benjamim a crítica ao progresso e a ideia de
desencantamento do mundo provocado pela sociedade racional e
técnica. Também vemos uma forte crítica ao capitalismo como
estrutura que mecaniza, reifica e quantifica a vida.
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É importante ressaltar a presença da teologia em seu
trabalho. Contudo, é preciso olhá-la por um viés
romântico do messianismo judaico, esclarecido na
seguinte citação a Friedrich Schlegel: “O desejo
revolucionário de realizar o Reino de Deus é... o
começo da história moderna” (LÖWY, 2005, p. 22).
Para Löwy, a combinação das duas imagens utópicas, do reino
messiânico e da revolução, não é à toa, e busca nos textos do jovem
Benjamin a ponte dialética pela seguinte sentença: “a busca da
felicidade da humanidade livre” (LÖWY, 2005, p. 22). Benjamin, nessa
imagem, faz a mediação entre as lutas libertadoras históricas,
“profanas” e a realização da promessa messiânica.
Na síntese da obra do autor, encontramos a estética, o historicismo e a
teologia como três esferas que, atravessadas pelo marxismo, numa
combinação improvável, conferem originalidade a Walter Benjamin.
A modernidade e a
degradação da experiência
A obra benjaminiana é perpassada por uma elaborada teoria da
experiência, e ainda que não possua uma sistematização, o conceito de
Erfahrung (Experiência) aparece em alguns trabalhos de uma forma
mais direcionada, como nos ensaios Experiência (1913); Experiência e
pobreza (1933); e O Narrador (1936).
O primeiro passo é entender o que Benjamin infere por experiência.
Segundo Sergio Paulo Rouanet (2008), importante tradutor e
comentador da obra benjaminiana, podemos compreendê-la à luz da
teoria freudiana do trauma.
Nesta teoria, Freud prega a existência de dois mecanismos psíquicos
distintos, a consciência e a memória. A consciência seria responsável
pelo estágio de alerta do indivíduo, servindo como defesa e filtro para as
inúmeras excitações externas a que ele está submetido. No sentido
oposto, a memória ficaria no encargo de guardar as experiências,
aquelas não captadas pela consciência.
A partir dessa tese, Benjamin traça um
paralelo entre memória/experiência e
consciência/vivência. A primeira estaria
situada na tradição, enquanto a segunda é
produto da modernidade.
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Em Experiência e pobreza (1933), Benjamin inicia seu ensaio com uma
conhecida parábola judaica – O tesouro enterrado no vinhedo.
Na parábola, a ideia de experiência transmitida é a de uma sabedoria
compartilhada entre gerações.
O tesouro enterrado no vinhedo
Conta-se que um velho no leito de morte revela aos filhos a existência de
um tesouro enterrado no vinhedo da família. Diante daquela revelação, os
filhos, então, reviram e trabalham a terra incansavelmente, contudo, não
encontram tesouro algum. No outono, as vinhas produzem mais do que
qualquer outra da região. Nessemomento, os filhos percebem que o
tesouro ao qual o pai se referiu era a experiência.
A experiência dos mais velhos, passada de geração para geração, traz
consigo o pressuposto da tradição e da temporalidade como
continuidade, em que o aprendizado será perpetuado.
A narração como transmissão de sabedoria não é mais uma
possibilidade no mundo desencantado, este, nos diz Benjamin em O
Narrador, seria o responsável pela decadência da memória e a
impossibilidade de narrar.
A desintegração da persistência da memória, por Salvador Dalí (1954).
Há uma célebre passagem em Experiência e pobreza que se repete
quase integralmente em O Narrador, onde Benjamin reflete sobre o fato
de os combatentes da Primeira Guerra voltarem silenciosos dos campos
de batalha.
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Porque nunca houve experiências
mais radicalmente desmoralizadas
que a experiência estratégica pela
guerra de trincheiras, a experiência
econômica pela inflação, a
experiência do corpo pela fome, a
experiência moral pelos
governantes. Uma geração que
ainda fora à escola num bonde
puxado por cavalos viu-se
abandonada, sem teto, numa
paisagem diferente em tudo, exceto
nas nuvens, e em cujo centro, num
campo de forças de correntes e
explosões destruidoras, estava o
frágil e minúsculo corpo humano.
(BENJAMIN, 1996, p. 115)
No silêncio, real e simbólico dos combatentes, vemos as experiências
incomunicáveis, não apreendidas por meio das palavras. Para a
literatura, na encruzilhada do inenarrável com a urgência de contar, que
se vê diante de uma crise da representação, Benjamin deixa algumas
pistas, que não seja silenciamento nem redenção. Uma delas pode ser
lida na narrativa do absurdo em Kafka.
As criações de Kafka são pela
própria natureza parábolas. A
miséria e a beleza delas, porém, é
que tiveram de se tornar mais que
parábolas. Elas não se deitam pura
e simplesmente aos pés da doutrina
[...]. Uma vez deitadas elas se
levantam contra esta,
inadvertidamente, uma pata de
peso.
(BENJAMIN, 1996, p. 105)
No contexto em que a Experiência (Erfahrung) se esvazia, surge um novo
conceito na teoria benjaminiana, o de Vivência (Erlebnis).
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Quanto maior é a participação do
fator do choque em cada uma das
impressões, tanto mais constante
deve ser a presença do consciente
no interesse em proteger contra
estímulos; quanto maior for o êxito
que ele operar, tanto menos essas
impressões serão incorporadas à
experiência, e tanto mais
corresponderão ao conceito de
vivência.
(BENJAMIN, 2010, p.111)
Em oposição à noção do Erfahrung que pressupõe uma vivência
coletiva, virá o Erlebnis que “reenvia à vida do indivíduo particular, na sua
inefável preciosidade, mas também na sua solidão” (GAGNEBIN, 2007,
p.59).
Voltando à teoria de Freud, esse esquema ficaria:
Erfahrung
(Experiência)
Memória
Erlebnis (Vivência)
Consciência
A Experiência, que necessita do coletivo, do ritual e da tradição, na
modernidade cede lugar à Vivência, em que o indivíduo, para fugir do
exterior anônimo, hostil e com excessos de excitações, se refugia no
interior da casa.
Em outros termos, o homem moderno sem identidade coletiva está
desenraizado e num mundo desmistificado. No mundo desencantado
fica o esvaziamento de sentido que é preenchido pela lógica do trabalho,
do capital e da propriedade privada.
Para Benjamin, a experiência do choque torna-se determinante para a
lírica em Baudelaire, e traz a imagem do esgrimista na sua obra de
maturidade, Sobre alguns temas em Baudelaire (1939):

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O espaço público que abarcava a coletividade e os rituais é tomado por
uma massa anônima que se acotovela. Uma multidão na qual as
pessoas não são em relação às outras nem completamente opacas
nem totalmente nítidas.
Assim, o particular sensível, do interior burguês, dos objetos pessoais,
da família burguesa, é como fuga da multidão, não na direção de um
reencantamento do mundo, pois este já está perdido, mas por uma frágil
possibilidade de personalização da vida.
A obra de arte na era da
técnica
A base da crítica cultural benjaminiana encontra-se na teoria do choque
em Freud, que se desdobra em diversas camadas.
Como esfera subjetiva, temos a decadência da memória, provocada
pelos choques onipresentes da vida na cidade. O resultado é a
padronização das necessidades, massificação e solidão.
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A esfera econômica é representada pela produção em série, em que o
tempo quantificado é supremo. Na cadência da cadeia de produção das
fábricas, como autômato, o operário responderá ao ritmo da máquina.
Ele não tem mais domínio do tempo e nem da técnica, pois está
alienado de uma etapa da cadeia de produção, e não guarda relação
teleológica (relação de finalidade) com o que produz.
Na arte, vemos o produto das esferas subjetiva e econômica, pois esta
responderá a uma demanda massificada por meio da produção em
série.
A arte sempre foi reprodutível, diz Benjamin em A obra de arte na era de
sua reprodutibilidade técnica (1936), contudo, a sua reprodução era
ensinada por um mestre e repetida pelos discípulos. Com o avanço da
técnica, cada vez mais o homem é retirado do processo. Da xilogravura
e litografia à fotografia, o que vemos é vitória da máquina sobre o
homem.
Pela primeira vez no processo de
reprodução da imagem, a mão foi
liberada das responsabilidades
artísticas mais importantes, que
agora cabiam unicamente ao olho.
Como o olho apreende mais
depressa do que a mão desenha, o
processo de reprodução das
imagens experimentou tal
aceleração que começou a situar-se
no mesmo nível que a palavra oral.
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(BENJAMIN, 1996, p.167)
É nesse ensaio que surgirá o importante conceito benjaminiano de aura,
elemento que confere unicidade à obra e que é perdido por meio da
reprodução técnica.
Mas afinal, o que é a aura para Walter Benjamin?
É uma figura singular, composta de
elementos espaciais e temporais: a
aparição única de uma coisa
distante, por mais perto que ela
esteja.
(BENJAMIN, 1996, p.170)
A aura, no entanto, é elemento inserido na tradição, ou seja, a sua
autenticidade tem fundamento teológico, está diretamente ligada à sua
função ritualística.
A obra de arte reproduzida tecnicamente adquire caráter serial e ganha
status de mercadoria, indo de encontro ao espectador, que tem cada vez
mais a necessidade de possuir objetos. O seu fim, logo, não é arbitrário,
mas condicionado socialmente. Benjamin aponta para o declínio da aura
como finalidade política e não meramente estética, daí a mudança de
seu valor de culto para valor de mercadoria.
Teses sobre o conceito de
História
No ano crítico de 1940, Walter Benjamin redigiu o texto Sobre o conceito
de história. A pretensão era de escrever uma história que rompesse com
o positivismo, seja o historicismo conservador ou o marxismo vulgar.
O contexto que levou Benjamin às teses foi a Segunda Guerra em seu
momento mais terrível, no qual o autor se via perseguido, sem cidadania
e na iminência de a qualquer tempo ser pego e entregue aos nazistas.
Sobre o conceito de história é composto por dezenove aforismos e, nas
palavras de Löwy, o que de início nos aparece como hermético e opaco,
após uma imersão nessas proposições podemos entendê-las na sua
infinita profundidade. De fato, são fragmentos de difícil compreensão a
priori, contudo de profunda coerência com o pensamento benjaminiano.
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Tese II
[...] a imagem da felicidade está
indissoluvelmente ligada à da
salvação. O mesmo ocorre com a
imagem do passado, que a história
transforma em coisa sua. O
passado traz consigo um índice
misterioso, que o impele à
redenção.
(BENJAMIN, 1996, p. 223)
Nesse fragmento, podemos ler uma passagem que vai do particular ao
coletivo. A redenção coletiva, segundo Michael Löwy, refere-se à
rememoração das vítimas do passado, pois não é possível pensar numa
redenção no presente sem evocar as vítimas do passado.
Existe um cunho claramente teológico no fragmento, mas que se realiza
no profano, apontado no fechamento da tese ao sugerir que cabe ao
materialista histórico esse papel.
O materialismo histórico traz a concepção marxista de
que a história da humanidade é a história da luta de
classes, ou seja, da sucessão de opressões. Logo, o
poder messiânico de redenção não estaria na espera
de um Messias, mas se cumpriria na imanência. Nas
palavras de Löwy, “somos nós o Messias, cada geração
possui uma parcela do poder messiânico e deve se
esforçar para exercê-la” (LÖWY, 2005, 51).
A redenção das vozes caladas pela história oficial viria, então, segundo
análise de Löwy, por uma história rememorada pelo lado dos vencidos,
escovada à contrapelo.
Tese IX
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Na alegoria do anjo da história, Walter Benjamin encerra o aforismo
falando do progresso que impede que o anjo acorde os mortos e junte
os destroços nas ruínas.
As ruínas simbolizam as catástrofes que a humanidade acumula e são
apagadas pela ideia positivista de progresso. Em Aviso de incêndio,
Löwy entenderá essa crítica ao progresso como confronto à filosofia de
Hegel, “essa imensa teodiceia racionalista que legitimava cada “ruína” e
cada infâmia histórica [..] como momento inevitável do Progresso da
humanidade” (LÖWY, 2005, p.92).
Tese XII
O sujeito do conhecimento histórico
é a própria classe combatente e
oprimida. Em Marx, ela aparece
como a última classe escravizada,
como a classe vingadora que
consuma a tarefa de libertação em
nome das gerações de derrotados.
(BENJAMIN, 1996, p.228)
A classe de que Marx falava e que seria responsável pela tarefa de
libertação é o proletariado. Benjamin nos apresenta o proletariado como
sujeito de ação e de conhecimento. Contudo, como apontado na tese II,
a libertação só pode ser coletiva, ou seja, é necessário buscar a
libertação, mas sem esquecer das classes oprimidas anteriormente.
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Através da memória coletiva dos vencidos, rompe-se com a ideia linear
de progresso, que somada à decadência da memória e apagamento do
passado produziu o fascismo.
O pensamento de Walter
Benjamin
Está na hora de falarmos sobre os principais conceitos desenvolvidos
por Walter Benjamin. Vamos lá!
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Levando em conta que a teoria da experiência de Walter Benjamin
busca suas bases na teoria do choque freudiano, aponte quais das
proposições abaixo faz uma leitura contrária a essa relação.
A
A vida na cidade eleva ao paroxismo (aos extremos)
as situações de choque, o que conduz à decadência
da memória.
B
A multidão nas ruas da cidade produz choque e
conduz a um novo sentimento de coletividade e,
inevitavelmente, ao reencantamento do mundo.
C
O choque excessivo da vida moderna obriga o
indivíduo a estar sempre alerta para filtrar essas
excitações externas.
D
Erfahrung é um termo alemão que corresponde à
memória, enquanto Erlebnis se refere à consciência.
E
A modernidade impossibilita a experiência, por isso
mesmo ela inaugura a vivência.
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Parabéns! A alternativa B está correta.
Na modernidade, não é possível um reencantamento, pois ele
depende da tradição e o mundo já estaria perdido, na visão de
Benjamin. A multidão se caracteriza por uma massa de anônimos,
não sendo percebida por Benjamin como um novo tipo ou
sentimento de coletividade. Assim, as afirmações na alternativa B
se opõem à relação que Benjamim estabelece entre sua teoria da
experiência e a teoria do choque de Freud.
Questão 2
Segundo Benjamin, a obra de arte sempre foi reprodutível, contudo,
o capitalismo inaugura a produção em série. Sobre a
reprodutibilidade técnica da obra de arte, assinale a afirmativa que
traz uma proposição correta.
Parabéns! A alternativa D está correta.
A aura entra em declínio com a reprodução técnica, por isso a obra
de arte perde seu valor de culto, que provém da tradição. Assim,
prevalece na obra de arte, na modernidade, o valor comercial ou de
mercadoria.
A
A obra reproduzida tecnicamente e de modo serial
já nasce com sua aura.
B
O indivíduo moderno não tem a necessidade de se
apropriar da arte, por isso a arte não tem o sentido
de mercadoria.
C
Com o avanço da técnica, o homem foi cada vez
mais fazendo parte diretamente do processo de
reprodução da obra de arte.
D
O valor de culto inserido na tradição cede lugar ao
valor de mercadoria na modernidade.
E
A aura, para Walter Benjamin, está presente na obra
de arte e tem um fundamento profano e científico.
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3 - A Teoria Crítica no Brasil
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer algumas
aplicações da Teoria Crítica no contexto brasileiro.
A recepção da Teoria Crítica
em terras brasileiras
A Teoria Crítica chega ao Brasil em meados da década de 1960. A
recepção da Escola de Frankfurt chega de forma difusa, interessando a
diferentes campos do conhecimento nas Ciências Humanas, mas seus
estudos se dão de modo mais intenso nas áreas da crítica literária e da
comunicação.
Em 1968, saem as primeiras traduções em Língua Portuguesa
veiculadas pela Revista Civilização Brasileira, espaço de publicação e
propagação das obras dos intelectuais de esquerda. O primeiro texto a
ser traduzido é A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, de
Walter Benjamin. Logo em seguida vieram algumas traduções de
Adorno e Marcuse.
As poucas traduções dos frankfurtianos limitaram um conhecimento
mais amplo da Escola de Frankfurt na época. Contando com escassos
textos de Adorno, Marcuse e Walter Benjamin, este pode ter sido um dos
motivos pela predileção a certos temas, como os da crítica de arte e da
indústria cultural.
Sobre a contextualização histórica, o Brasil acabara de sofrer um golpe
militar, e os estudos da Teoria Crítica interessam também à classe
artística de esquerda à procura por uma arte engajada e de resistência
ao autoritarismo que se instalara, então, no país. Os icônicos
movimentos de contracultura que surgiam pretendiam ser ao mesmo
tempo revolucionários e identitários.
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Tanques patrulham a Esplanada dos Ministérios, em 1964, após o golpe militar.
Nos estudos sociais, a questão da identidade brasileira, assunto que já
fervilhava desde a década de 1940, agrega-se ao legado da Teoria
Crítica para os estudos de periferia e subdesenvolvimento.
Grosso modo, os pensadores da Teoria Crítica que caíram nas graças
dos intelectuais brasileiros foram Walter Benjamin e Theodor Adorno. Já
Marcuse teve uma importante influência nos artistas da contracultura e
do irracionalismo, mas acaba por desinteressaraos acadêmicos por seu
status pop e, ainda nos dias atuais, boa parte dos estudos teóricos
sobre o autor de O Homem Unidimensional segue esse caminho, da sua
forte influência sobre os movimentos artísticos.
Neste primeiro momento de recepção à Escola de Frankfurt, dois nomes
se destacam.
Gabriel Cohn
Nas Ciências Sociais.
Roberto Schwarz
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Nos estudos literários.
O relevo desses intelectuais não é apenas pela sistematização ou larga
divulgação de uma corrente até então pouco ou nada conhecida, mas
principalmente pela contribuição teórica original que prestam à
academia brasileira.
Enquanto os estudos sociais da época se dedicavam
quase exclusivamente às pesquisas de brasilidade e
identidade nacional, Gabriel Cohn se concentra no
conceito de Indústria Cultural. Segundo o pesquisador,
o interesse se deu por um desconforto que o
acometeu, “com aquilo que se revelaria, em termos
adornianos, a instalação plena da indústria cultural no
país” (MUSSE; KLEIN, 2018 p. 291).
Cohn passa por uma trajetória semelhante à dos frankfurtianos, enfrenta
uma espécie de dogmatismo metodológico, que defende a
compreensão da realidade brasileira a partir de conceitos periféricos.
Embora tenha sofrido críticas, defende-se dizendo que quanto mais
bruta é a sociedade, mais fina deve ser a análise. Diz isso no sentido de
acrescentar à reflexão conhecimento novo e inesperado, e, de fato, o fez
nas suas pesquisas de modo preciso e original.
No campo dos estudos literários, Roberto Schwarz, de forte influência
adorniana, pode ser considerado o correspondente brasileiro da Escola
de Frankfurt. Tanto no conceito quanto no método, sua análise imanente
pede uma leitura atenta, pois passa ao largo da interpretação fechada e
pronta.
Em A sereia e o desconfiado (1981), num ensaio cujo curioso título figura
“Uma barata é uma barata é uma barata”, Schwarz se dedica à análise
da novela kafkiana A Metamorfose, narrativa que apresenta um homem
que se vê transformado num inseto. Sobre a vida e a obra de Kafka,
Schwarz comenta:
Desta consistência absoluta de vida
e palavra, em que o tempo e os atos
não fazem violência à linguagem
mas antes aceitam a sua imagem
que nela coagulou, nasce um
homem que sofre o seu produto:
regrado pelas significações que
criou, não tem como escapar ao seu
horror.
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(SCHWARZ, 1981, p.60)
A passagem transcrita aqui é um poderoso exemplo da dialética
negativa do esclarecimento, na qual a razão em que a linguagem se faz
instrumento coloca o homem como servo de sua criação. Emancipado
pela razão, encontra nela também os limites da significação, do qual
seus sentidos coagulados não dão conta de compreender o horror de
sua condição atual.
O horror de ter se metamorfoseado em um inseto daninho. Para além
dos limites da linguagem, o que lemos é também a crítica da razão
como regressão, que na sua forma mais organizada conduziu ao
nazismo e ao fascismo.
Gabriel Cohn e a indústria cultural
A importância de Gabriel Cohn para a difusão da Teoria Crítica no Brasil
é inegável. Em uma simples pesquisa sobre o tema, seu nome, sem
dúvida, figurará entre os primeiros. Apesar da ousadia de se lançar aos
estudos frankfurtianos num período em que vigorava o nacionalismo
acadêmico, sua originalidade segue carreira própria.
No que se refere à relevância de sua pesquisa para os estudos de
indústria cultural, Cohn desvenda a dialética adorniana atualizando o
conceito mediante um percurso histórico que vai desde a sua
concepção até a contemporaneidade.
Para o crítico, na época de sua formulação, a indústria cultural estava
mais preocupada em entender a produção e difusão de material
simbólico. Com as tecnologias digitais, essa cadeia, apesar do potencial
de intensificação pelas redes e real aumento de escala, provoca,
contudo, mudanças no processo de massificação, através da variação
no padrão de consumo.
Os consumidores que a teoria crítica
veria como meramente submetidos
ao império das grandes
organizações da indústria cultural
estariam na realidade equipados,
por diferenças de socialização e de
inserções grupais, não só para
efetuar seleções no interior da
massa de material simbólico
oferecido no mercado cultural como
também, e principalmente, para
submeter o material selecionado a
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interpretações eventualmente
discrepantes daquelas esperadas
pelos controladores da sua
produção e difusão.
(COHN, 2020, p.252)
Para Gabriel Cohn, o questionamento citado é respondido no seio da
indústria cultural, onde a sua essência não é homogeneizar ou
“desdiferenciar” o mercado, mas sim manter a iniciativa do processo.
Levando adiante a problematização, chega ao ponto central da recepção
das mensagens simbólicas, que inevitavelmente passariam por alguns
filtros de cunho social ou subjetivo, causando descompasso no
processo.
Comentário
Com essa fineza de análise, Cohn pretende mostrar o conceito de
indústria cultural em sua potência e limitações e com isso produzir o
fermento que faz crescer a verdadeira teoria que se propõe crítica.
O conceito de Adorno e Horkheimer é de grande valia para a
compreensão da produção de mercadorias, pluralidade de produtos e
consumo culturais; contudo, uma pretensa liberdade do sujeito
demanda reflexão mais à frente. Mais no campo da interrogação, Cohn
dirá que há mais sentido na espontaneidade e fugacidade da ação do
que uma possível racionalização das escolhas.
Essa diferenciação que toma o lugar da homogeneização na indústria
cultural contemporânea segue a lógica da dominação e exclusão, nas
palavras de Domingues, que delineia uma linha do tempo desde Marx;
conseguimos visualizar as etapas deste processo até chegar a Gabriel
Cohn.
Podemos sugerir que, se Marx
enfrentou o mundo da modernidade
liberal em expansão e sobre os
frankfurtianos desabou uma
formação em que grandes
organizações buscavam controlar e
homogeneizar o mundo, hoje nos
deparamos com outra fase da
modernidade, a terceira, em que os
processos de dominação, exclusão
e seleção têm lugar [...]
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(DOMINGUES, 2011, p.103)
Para essa terceira fase, as redes sociais prestam um valioso serviço,
pois, se antes absorviam ou excluíam o divergente, agora o
instrumentaliza, e numa lógica perversa do capital esvazia e conduz na
direção do lucro e da dominação.
Roberto Schwartz: Literatura e
Sociedade
Importante intelectual do século XX, Roberto Schwarz se dedicou como
poucos ao estudo do processo social brasileiro. Sociólogo de formação
e crítico literário por afinidade, seus ensaios magistrais sobre as obras
de Machado de Assis conferiram ao professor um lugar de destaque.
Antonio Candido em 2011.
Discípulo do professor e crítico literário Antônio Cândido, Schwarz traz
o legado frankfurtiano para os estudos brasileiros, que lucra com novas
feições conceituais e metodológicas, principalmente por meio do
ensaio, forma presente desde seus primeiros escritos.
Na periferia do capitalismo, Schwarz pega a fórmula já conhecida de se
entender a sociedade pela literatura ou a literatura pela sociedade e
tensiona esses polos. Ou seja, à sua dialética não interessa o óbvio, não
é fazer da literatura alegoria da sociedade.
O verdadeiro espírito crítico, para o autor, habita na dúvida, na recusa e
na investigação.
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Na contramão da crítica positivista, que busca apenas
a confirmação direta e recíproca da sociedadena arte
ou o seu contrário, Schwartz se faz herdeiro do método
dialético, estabelecendo sua função na crítica literária,
como a de explicar o que antes situava-se no domínio
da “vida extra-artística” que, ao adentrar o espaço da
fantasia, carrega-se de forças estruturais que até então
estavam ocultas. O caminho é o da análise da forma
artística mediada pela realidade social e histórica.
Leitor de Lukács, Schwarz compreende a formação social brasileira do
século XIX e XX à luz de seus estudos sobre a forma do romance e sua
relação com a modernidade. O resultado dessa empreitada é a sua tese
de doutoramento, Ao vencedor as batatas: Forma literária e processo
social nos inícios do romance brasileiro.
Nessa tese, ele reflete sobre o processo de má-formação nacional
devido à indigesta combinação histórica de um regime colonial
escravocrata com liberalismo. Para ele, quando o Brasil é inserido na
nova ordem capitalista, responde de modo profundamente coerente
com sua raiz colonial e escravocrata, mantendo traços arcaicos e
legitimando uma nova economia de barbárie.
O escravismo desmente as ideias
liberais; mais insidiosamente o
favor, tão incompatível com elas
quanto o primeiro, as absorve e
desloca, originando um padrão
particular. O elemento de arbítrio, o
jogo fluido de estima e autoestima a
que o favor submete o interesse
material, não podem ser
integralmente racionalizados.
(SCHWARZ, 2012, p.17)
Neste caso, o progresso chega às terras brasileiras, assim como a
outros países de realidade semelhante, de modo particular, em que o
moderno e o não moderno convivem no mesmo tempo histórico na
intenção de conservar as relações de exploração, que na própria
essência contraria os princípios do liberalismo burguês.
Para Roberto Schwarz, antes mesmo de haver romancistas brasileiros, o
romance já existia em nossas terras.
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Com esse escopo teórico, ele começa sua análise apontando nas obras
de José de Alencar e nos primeiros romances de Machado de Assis o
desalinho à realidade nacional, pois essas obras estariam importando o
modelo do romance realista europeu que não dá conta das
particularidades dos países de terceiro mundo. Afinal, o cotidiano
brasileiro era regido pelos mecanismos do favor, incompatível com a
trama realista de influência romântica (SCHWARZ, 2012)
Contudo, diz Schwarz, a situação é ajustada numa segunda fase
machadiana que tem como marco o romance Memórias Póstumas de
Brás Cubas, em que, pela voz do narrador defunto, ficam evidentes as
contradições desse processo de modernização pelo qual o Brasil
passava, em que “o quiproquó das ideias não podia ser maior”
(SCHWARZ, 2012, p.41).
Candido Portinari produziu uma série de ilustrações para a obra Memórias Póstumas de Brás
Cubas, como O primeiro Beijo.
Em terras brasileiras, os ideais burgueses da razão e da cultura
convertem-se em adorno e marca de fidalguia, e as relações de poder se
mantêm por trás de uma sensível ideia de liberdade, podendo ser
entendida como uma espécie de economia de favores.
Marcuse e a contracultura
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A década de 1960 foi emblemática por conta dos movimentos e ensaios
revolucionários marcados pela contestação de ordem política e cultural.
Esses movimentos de natureza heterogênea pululavam. Defensores da
revolução armada, anarquistas, movimentos de contracultura eram
algumas correntes que davam um novo rosto aos descontentes com a
nova ordem. No que antes se viam as classes proletárias reivindicando
mudanças, na década de 1960 a juventude, de modo globalizado, vai às
ruas à procura de mais liberdade.
O então presidente Costa e Silva e seus ministros, em cujo governo foi instituído o AI-5.
No Brasil, essa década foi cortada por um golpe militar e um Ato
Institucional de natureza extremamente repressora (AI-5). Num
momento em que vigorava a censura e o cerceamento das liberdades
individuais, a obra de Marcuse cai como uma luva àqueles que resistiam
à ditadura.
A recepção do autor de O Homem unidimensional se deu de forma
ambígua no cenário brasileiro.
Essa recusa, principalmente, da ortodoxia marxista levou à
compreensão equivocada de uma falta de rigor metodológico em seus
trabalhos, e com essa justificativa acabou por ser deixado de lado pelos
intelectuais brasileiros.
Sempre conectado ao ideal revolucionário, Marcuse
defendia uma profunda transformação do capitalismo
e emancipação completa do homem. Via na tecnologia
uma saída para a redução da jornada de trabalho, e
com isso o indivíduo teria mais tempo para dedicar-se
ao processo de autoconhecimento e desalienação.
Na dimensão estética defendeu a obra de arte autônoma em detrimento
da arte ideológica. Sua posição denuncia rejeição à reducionista
concepção marxista ortodoxa de arte, como podemos ler no fragmento
a seguir.
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A minha crítica desta ortodoxia
baseia-se na teoria marxista, na
medida em que esta também encara
a arte no contexto das relações
sociais e atribui à arte uma função
política e um potencial político. [...]
vejo o potencial político da arte na
própria arte, como qualidade da
forma estética. [...] a arte é
absolutamente autônoma perante
as relações sociais.
(MARCUSE, 2007, p.9)
No ensaio A dimensão estética, Marcuse se dedica à análise crítica da
literatura dos séculos XVIII e XIX, saindo em defesa de uma arte de
vanguarda com potencial revolucionário.
Por tudo isso, agradou e respondeu aos anseios dos movimentos
estudantis e culturais de vanguarda que se mobilizavam na
emblemática década de 1960 em diversos países do globo.
Em terras brasileiras, a contracultura tem início já na década de 1950
por meio da Bossa Nova e do Cinema Novo. E, com o tempo, novos
representantes defensores da arte autônoma vão surgindo. Contudo,
conforme a repressão ia se aprofundando, os movimentos artísticos
passaram a agir na clandestinidade para fugir da censura e perseguição
que se aproximava cada vez mais da classe artística.
A arte engajada respondia ao projeto estético brasileiro de uma arte
nacionalista e anti-imperialista, mas que passasse ao largo do
ultranacionalismo de cunho fascista. Em tal empreitada vimos emergir o
movimento tropicalista.
A Tropicália abarcou diversos setores artísticos, mas se desenvolveu de
forma mais produtiva na música. Nela, vemos representada a realidade
brasileira urbano-industrializada e seu processo de modernização, tudo
isso como expressão da crise.
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Os Mutantes em 1968.
Em Verdade Tropical, Caetano Veloso descreve o movimento
antropofágico tropicalista:
Na música, é lançado o célebre álbum Tropicália, ou Panis et circencis
(1968), que conta com a cooperação de vários músicos numa espécie
de manifesto musical, em que vemos na prática artística a antropofagia
da qual falara Caetano, numa mistura de coisas, palavras, ritmos, cultura
e moral nacionais e estrangeiras.
Uma das faixas de colaboração entre Gilberto Gil e Torquato Neto em
“Geleia Geral” exibe os contornos da Tropicália.
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Capa do álbum Tropicalia ou Panis et Circencis.
O poeta desfolha a bandeira
E a manhã tropical se inicia
Resplendente, cadente, fagueira
Num calor girassol com alegria
Na geleia geral brasileira
Que o Jornal do Brasil anuncia
[...]
Minha terra onde o sol é mais lindo
E Mangueira onde o samba é mais
puro
Tumbadora na selva-selvagem
Pindorama, país do futuro
Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mêsque foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi
[...]
É a mesma dança na sala
(No Canecão), na TV
E quem não dança, não fala
Assiste a tudo e se cala
Não vê no meio da sala
As relíquias do Brasil
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Doce mulata malvada
Um LP de Sinatra
Maracujá, mês de abril
Santo barroco baiano
Super poder de paisano
Formiplac e céu de anil
[...]
(O poeta desfolha a bandeira, de Torquato Neto,
Compilação Rio Arte, 1985, n.p.)
Embora tenha sido mais fortemente ligado à música, o tropicalismo
também se manifestou nas artes plásticas cujo maior representante foi
o artista plástico e performático Hélio Oiticica, no projeto artístico
Parangolés (1964-1979).
Saiba mais
Parangolés é fruto de um processo de experiências de Oiticica com a
comunidade da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Ao
entrar em contato com o samba, a dança, o corpo, ele trouxe para o
universo da arte contemporânea vestimentas improvisadas, capas e
túnicas, que ele denominou de Parangolés. Essas roupas não estavam
previstas para serem exibidas em um cabide, mas para serem usadas
por passistas, pelo público, por quem quisesse experimentar a leveza
desses materiais reaproveitados, que voavam com os movimentos da
dança. As pessoas, dessa forma, ao usarem o parangolé, também se
tornavam parte da obra de arte.
Hélio Oiticica leva a fundo a teoria estética de Marcuse na direção da
“antiobra” de arte que promove a experiência estética para além das
belas artes.
Esse trabalho, além da clara influência de Marcuse, remonta à imagem
do trapeiro (chiffonnier) a que Benjamin se refere nos estudos sobre
Baudelaire, em que pensará numa reconstrução da memória histórica a
partir de tudo o que é julgado como refugo.
Podemos ler em Oiticica essa escrita que é ao mesmo tempo inscrição
e rememoração da história periférica, feita a partir da montagem de
fragmentos que contam com a mistura de cores, tecidos, estandartes,
memórias, bandeiras etc.
Contribuição da Teoria
Crítica no Brasil

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Acompanhe os comentários e exemplos sobre a influência dos estudos
da Teoria Crítica em temáticas relacionadas à arte no Brasil. Confira!
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Para Gabriel Cohn, as redes sociais prestam um grande serviço à
indústria cultural. De que modo isso ocorre?
Parabéns! A alternativa D está correta.
Com as tecnologias digitais e o fenômeno das redes sociais,
podemos identificar processos em que os divergentes não são
excluídos ou absorvidos nesse meio. Ao contrário, no meio digital e
dos produtos culturais que por ele circulam, os usurários são
instrumentalizados, ou seja, fazem parte dos interesses e da lógica
do lucro que alimentam as redes. Assim, as redes sociais
instrumentalizam o divergente, esvaziando-o e usando-o para o
lucro.
Questão 2
Em Ao vencedor as batatas, Roberto Schwarz aponta uma
particularidade da realidade social moderna brasileira. Que
particularidade é esta?
A
Excluindo tudo aquilo que destoa da sociedade
homogeneizada.
B Divulgando o igual e criminalizando o diferente.
C Produzindo necessidades iguais.
D Instrumentalizando o divergente.
E Produzindo corpos dóceis.
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Parabéns! A alternativa A está correta.
A herança escravocrata combinada com o liberalismo produziu a
particularidade social brasileira que é a de conservar a dominação
ao combinar o moderno e o não moderno, através de uma espécie
de economia de favores.
Considerações �nais
Você pôde verificar, ao longo deste conteúdo, que a Teoria Crítica ou
Escola de Frankfurt se constitui numa importante corrente filosófica a
partir da contribuição do pensamento e das obras de autores como
Adorno, Horkheimer, Benjamin e Marcuse.
Revisitando e renovando conceitos marxistas, os frankfurtianos
desenvolveram críticas teóricas e elaboraram conceitos relacionados
com o papel da razão ou da racionalidade que marca nosso tempo, com
a indústria cultural, com a arte transformada pela tecnologia, entre
outros aspectos.
Você viu, ainda, que no Brasil a Teoria Crítica contribui para a reflexão
sobre diversos temas, embora tenhamos destacado a sua influência no
pensamento sobre a arte. A partir dos estudos de Roberto Schwarz, no
campo literário, e de Gabriel Cohn, nas ciências sociais, você percebeu
que os conceitos dos teóricos frankfurtianos têm sido atualizados e
A
A combinação de moderno e do não moderno
representada na política de favores.
B
O ideal de liberdade levado a cabo de modo mais
intenso no Brasil do que nos países europeus.
C Conservação das marcas tradicionais, como o ritual.
D Adesão ao liberalismo sem qualquer reserva.
E
Rejeição dos ideais liberais em nome de uma cultura
ultranacionalista.
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aplicados na reflexão sobre a música, a literatura, as redes sociais e
outras dimensões ou aspectos da contemporaneidade.
Podcast
Para encerrar, ouça os comentários que exemplificam as contribuições
da Teoria Crítica na reflexão sobre arte e literatura no Brasil.

Explore +
Leia os seguintes textos de Walter Benjamin, disponíveis na Web: A obra
de arte na era de sua reprodutibilidade técnica e O narrador:
considerações sobre a obra de Nikolai Leskov.
Leia o verbete “Teoria Crítica”, escrito por Manuel Frias Martins, e
publicado no E-Dicionário de Termos Literários, de Carlos Ceia, disponível
na Web.
Para conhecer uma abordagem da literatura a partir de um referencial da
Teoria Crítica, feita por Roberto Schwarz, assista ao vídeo Machado de
Assis: um mestre na periferia, disponível no Portal Domínio Público e no
YouTube.
Aprofunde os estudos sobre a Teoria Crítica e sua relação com a teoria
literária assistindo à palestra Introdução à Teoria da Literatura #17 com
Paul Fry, de Yale, disponível no canal da Univesp no YouTube.
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Referências
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literatura I. Trad. Jorge de Almeida. São Paulo: Ed. Duas Cidades; Ed. 34,
2003.
ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do Esclarecimento:
fragmentos filosóficos. Tradução de Guido Antonio de Almeida. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
BENJAMIN, W. Experiência e pobreza. In: BENJAMIN, W. Magia e
técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São
Paulo: Brasiliense, 1996.
BENJAMIN, W. Sobre alguns temas em Baudelaire. In: Charles
Baudelaire um lírico no auge no capitalismo. Tradução: José Martins
Barbosa, Hemerson Alves Baptista. São Paulo: Brasiliense, 2010.
COHN, G. As duas faces da indústria cultural. Revista A Terra é
Redonda, 30 jun. 2020.
DOMINGUES, J. M. Dominação e diferença na crítica de Gabriel Cohn.
instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ), set. 2011.
GAGNEBIN, J. História e narração em Walter Benjamin. Perspectiva. São
Paulo, 2007.
LÖWY, M. Walter Benjamin: aviso de incêndio: uma leitura das teses
“Sobre o conceito da história”. São Paulo: Boitempo, 2005.
MARCUSE, H. A dimensão estética. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
MARX, K. O capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 1994 (3 volumes).
MUSSE, R.; KLEIN, S. Um olhar sobre a teoria crítica no Brasil: entrevista
com Gabriel Cohn. Tempo Social,

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