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GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ ELMANO de FREITAS da Costa GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL - SSPDS SAMUEL ELÂNIO de Oliveira Júnior - DPF SECRETÁRIO DA SSPDS ACADEMIA ESTADUAL DE SEGURANÇA PÚBLICA DO CEARÁ – AESP|CE Clauber Wagner Vieira DE PAULA – CEL PM DIRETOR-GERAL DA AESP|CE KAMILLY Távora CAMPOS Petrola - DPC DIRETORA DE PLANEJAMENTO E GESTÃO INTERNA DA AESP|CE Francisco EDINALDO do Vale Cavalcante – DPC COORDENADOR DE ENSINO E INSTRUÇÃO DA AESP|CE José ROBERTO de Moura Correia – TC PM COORDENADOR ACADÊMICO PEDAGÓGICO DA AESP|CE Francisca ADEIRLA Freitas da Silva – MAJ PM SECRETÁRIA ACADÊMICA DA AESP|CE MÔNICA Pontes Rodrigues ORIENTADORA DA CÉLULA DE ENSINO A DISTÂNCIA DA AESP|CE CURSO DE HABILITAÇÃO A SARGENTO BOMBEIRO MILITAR - CHS BM/2023 DISCIPLINA ATUAÇÃO DO CBM DIANTE DE DESASTRES CONTEUDISTA Aluizio Souza Freitas FORMATAÇÃO JOELSON Pimentel da Silva – 1º SGT PM • 2023 • SUMÁRIO ATUAÇÃO DO CBM DIANTE DE DESASTRES ......................................................................... 1 APRESENTAÇÃO .................................................................................................................. 1 UNIDADE 1 – ESTUDO DOS DESASTRES .............................................................................. 2 1.1 Tipos de Desastres ..................................................................................................... 3 1.2 Desastres no Brasil ..................................................................................................... 4 1.3 Desastres no Ceará ..................................................................................................... 8 UNIDADE 2 – GESTÃO DE DESASTRES ............................................................................... 14 2.1 Atuação Integrada na Gestão de Desastres .............................................................. 16 2.2 Resposta a Desastres ................................................................................................ 24 2.3 Recuperação de Cenários de Desastres .................................................................... 37 2.4 Aspectos Administrativos da Gestão de Desastres ................................................... 40 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 52 ANEXO ÚNICO – Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE) ..................................... 56 1 ATUAÇÃO DO CBM DIANTE DE DESASTRES APRESENTAÇÃO Caro(a) aluno, De forma semelhante ao restante do País, o estado do Ceará é acometido por desastres predominantemente relacionados às chuvas, seja pela sua ausência, seja pela sua intensidade. Para gerir esse cenário, no ano de 2007, o órgão responsável pela proteção e defesa civil no Ceará, a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (CEDEC), passou a integrar a estrutura do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMCE), órgão vinculado à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social. Com a nova missão agregada em 2007, o CBMCE passou a atuar de forma mais abrangente na gestão de desastres no Ceará. Além das atividades tradicionais de combate a incêndios; proteção, busca e salvamento de pessoas e bens; bem como o socorro de emergência pré-hospitalar, a Corporação assumiu a missão de, junto aos órgãos setoriais e de apoio do sistema de proteção e defesa civil, gerir os recursos de resposta e de recuperação de cenários de desastres. Nesse sentido, esta apostila, do componente curricular "Atuação do CBM diante de Desastres", foi produzida com o objetivo de agregar boas práticas e conhecimentos para que você, aluno do Curso de Habilitação a Sargento Bombeiro Militar (CHS BM), possa atuar em desastres com técnica apurada, abnegação e motivação. Para a produção deste conteúdo, foram observadas as disposições da matriz curricular nacional para ações formativas dos profissionais da área de segurança pública, elaborada pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça, em 2014. Esta apostila está dividida em 02 (duas) unidades: (I) Estudo dos desastres; e (II) Gestão de Desastres. Essa divisão foi adotada para facilitar o entendimento dos cenários de desastres locais, bem como da atuação integrada do CBMCE na gestão de desastres, incluindo os aspectos administrativos desse gerenciamento, visando ao célere retorno à normalidade social. 2 Serão necessários esforço e dedicação para a assimilação aprofundada dos assuntos tratados neste material. Contudo, esse processo será facilitado tendo-se em mente que o pleno cumprimento dessa missão confiada ao CBMCE depende da máxima contribuição de todos os seus integrantes. Bons estudos! UNIDADE 1 – ESTUDO DOS DESASTRES Objetivos: • Compreender os conceitos relacionados à definição de desastre; • Conhecer os diferentes tipos de desastres codificados no Brasil; • Conhecer os principais desastres ocorridos no Brasil e suas características; e • Conhecer e saber diferenciar os principais desastres ocorridos no Ceará, bem como suas consequências danosas. Inicialmente serão apresentados a você alguns conceitos importantes para o estudo dos desastres. O que é desastre? Segundo Brasil (2020b), desastre é o “resultado de eventos adversos, naturais, tecnológicos ou de origem antrópica, sobre um cenário vulnerável exposto a ameaça, causando danos humanos, materiais ou ambientais e consequentes prejuízos econômicos”. Os eventos adversos, que podem ser considerados "gatilhos" dos desastres, são os fenômenos naturais ou acontecimentos inoportunos e prejudiciais resultantes da ação ou omissão humana, fugindo da normalidade. São exemplos de eventos adversos: chuvas intensas, vendavais, sismos, incêndios e rompimentos de barragens. Quando ocorrem eventos adversos em áreas vulneráveis, é provável que ocorram danos e consequentes prejuízos associados a esses danos. São os danos e prejuízos que caracterizam a ocorrência do desastre. Ou seja, se um evento adverso natural ou humano ocorrer sem causar danos, não é considerado um desastre. O dano de um desastre é, então, o resultado das perdas humanas, materiais ou ambientais infligidas às pessoas, comunidades, instituições, instalações e aos ecossistemas afetados (BRASIL, 2020b). Assim, há três tipos de danos: humanos, 3 materiais ou ambientais. O prejuízo é a “medida de perda relacionada com o valor econômico, social e patrimonial, de um determinado bem, em circunstâncias de desastre” (BRASIL, 2020b). Logo, o prejuízo é o valor monetário correspondente à recuperação ou reposição do bem atingido pelo desastre, tendo em vista o retorno à normalidade. Os prejuízos podem ser públicos ou privados. Após esse detalhamento dos conceitos relacionados à definição de desastre, você aprenderá a seguir os diferentes tipos de desastres, bem como terá um panorama da ocorrência desses infortúnios no Brasil e no Ceará. 1.1 Tipos de Desastres Para possibilitar estudos fundamentados em estatísticas padronizadas, inclusive em nível internacional, a partir de 2012 o Brasil adotou a Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE), na qual estão tipificados todos os eventos que podem ser considerados desastres no País. Segundo a COBRADE, atualmente estabelecida na Instrução Normativa nº 36/2020, do Ministério do Desenvolvimento Regional (BRASIL, 2020b), os desastres podem ser de duas origens: naturais ou tecnológicos. São denominados naturais os desastres originados por processos ou fenômenos naturais, e tecnológicos aqueles causados por condições tecnológicas ou industriais, incluindo falhas humanas e problemas de infraestrutura. Na COBRADE, os desastres naturais são divididos em cinco grupos (os quais sesubdividem em subgrupos): geológicos (terremoto, emanação vulcânica, movimento de massa e erosão), hidrológicos (inundações, enxurradas e alagamentos), meteorológicos (sistemas de grande escala/escala regional, tempestades e temperaturas extremas), climatológicos (seca) e biológicos (epidemias e infestações/pragas). Cada subgrupo de desastre natural pode conter tipos e subtipos de desastres. Por exemplo, o subgrupo infestações/pragas contém três tipos de desastres: infestações de animais, infestações de algas e outras infestações; sendo que o tipo “infestações de algas” contém dois subtipos de desastres: marés vermelhas e cianobactérias em reservatórios. 4 Os desastres tecnológicos, conforme a COBRADE, também se dividem em cinco grupos, relacionados a substâncias radioativas, produtos perigosos, incêndios urbanos, obras civis e transporte de passageiros e cargas não perigosas. Cada grupo de desastre tecnológico pode conter subgrupos e diferentes tipos de desastres. Por exemplo, o grupo de desastres relacionados a produtos perigosos contém quatro subgrupos, relacionados a: (i) desastres em plantas e distritos industriais, parques e armazenamentos com extravasamento de produtos perigosos; (ii) contaminação da água; (iii) conflitos bélicos; e (iv) transporte de produtos perigosos; sendo que o subgrupo “transporte de produtos perigosos” contém seis tipos de desastres, relacionados ao transporte: rodoviário, ferroviário, aéreo, dutoviário, marítimo e aquaviário. No Anexo Único desta apostila você encontrará a COBRADE completa. Confira nela os diversos tipos desastres codificados. Na seção a seguir, você terá um panorama dos desastres ocorridos no Brasil nas últimas décadas. Esse estudo é necessário para, a partir do contexto nacional, entender a realidade local. 1.2 Desastres no Brasil O estudo dos diferentes tipos de desastres aos quais o país está sujeito é importante para a tomada de decisões técnicas e atualização das políticas de proteção e defesa civil. Em duas décadas recentes, houve um aumento considerável não apenas da frequência de desastres registrados no Brasil, mas também dos danos e prejuízos deles resultantes, com impactos cada vez mais intensos. Esse quadro é consequência de diversos fatores de vulnerabilidade, tais como o crescimento desordenado das cidades – sem ocupação e ordenamento territorial adequados –, isso diante de eventos adversos intensificados pelas mudanças climáticas (UFSC, 2015). No Gráfico 1, extraído do Atlas Brasileiro de Desastres Naturais, é possível observar uma tendência de aumento do percentual anual de registros de desastres naturais no Brasil no período de 1991 a 2012. O total de registros nesse período foi de 38.966. 5 GRÁFICO 1 – Percentual anual de desastres naturais registrados no período de 1991 a 2012 Fonte: UFSC (2013a, p. 34). Segundo a Universidade Federal de Santa Catarina (2013a), a constante evolução da estrutura dos órgãos de proteção e defesa civil, que passaram a registrar as ocorrências de forma mais sistemática, também favoreceu o aumento do registro de desastres nos últimos anos. Outro aspecto relevante para esse aumento da quantidade de registros é a falta de padronização dos dados registrados até o ano de 2001, quando foi adotado o Formulário de Avaliação de Danos (AVADAN), substituído em 2012 pelo Formulário de Informações do Desastre (FIDE). Assim, dados anteriores a 2001 podem não ter sido registrados adequadamente por falta de um instrumento padronizado. GRÁFICO 2 – Quantidade de desastres ocorridos no Brasil no período de 1991 a 2012 Fonte: Adaptado de UFSC (2013a, p. 118). Os desastres registrados com maior frequência no Brasil de 1991 a 2012 foram as estiagens e secas, seguidas das enxurradas, inundações, vendavais e granizo (Gráfico 2). Outros desastres registrados, esses com menor frequência, foram: erosão, incêndios florestais, movimentos de massa, tornados, alagamentos e geadas. 6 Em relação aos danos humanos decorrentes de desastres no Brasil, do total de 126.926.656 pessoas afetadas por desastres no período de 1991 a 2012, a maioria delas (51,31%) foi atingida por estiagens e secas, como se pode observar no Gráfico 3. Esses desastres são mais comuns na região Nordeste do País, frequentemente atingindo também parte da região Sul e o norte de Minas Gerais. GRÁFICO 3 – Percentual de pessoas afetadas por tipo de desastre no período de 1991 a 2012 Fonte: UFSC (2013a, p. 35). As enxurradas e inundações também afetaram uma grande quantidade de pessoas no mesmo período (20,66% do total), sendo esses desastres registrados com considerável frequência em todas as regiões do País, especialmente no Sul e no Sudeste. Conforme se pode observar no Gráfico 4, os desastres que mais resultaram em mortes no Brasil no período de 1991 a 2012 foram as enxurradas (58,15% do total de mortos), seguidas dos movimentos de massa (15,6%) e das inundações (13,4%). A maior parte dessas mortes ocorreu em regiões de alta densidade demográfica, como a Sudeste. GRÁFICO 4 – Mortos por tipo de desastre no período de 1991 a 2012 Fonte: UFSC, 2013a, p. 35. 7 Os desastres naturais, pelo fato de frequentemente resultarem em maiores danos e prejuízos, bem como em mais extensivas áreas afetadas, quando comparados aos desastres tecnológicos, têm tido maior atenção do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil. Contudo, não se pode descuidar da atenção aos riscos de desastres tecnológicos. Elencam-se a seguir, em ordem cronológica, alguns dos principais desastres que marcaram a história brasileira, segundo Brasil (2017c): 1877-1879: seca no Nordeste, provocando a migração de grandes contingentes populacionais para centros urbanos, especialmente no Ceará. Sem infraestrutura básica e acesso à água, alimentos e remédios, cerca de 500.000 pessoas morreram; 1967: deslizamentos de terra em Caraguatatuba/SP, resultando em 436 mortes; 1987: rompimento de cápsula de Césio 137 em Goiânia, com a contaminação de 129 pessoas, das quais 4 morreram; 2008: deslizamentos em Santa Catarina, após fortes chuvas, com 110 mortos e prejuízos estimados em 4,75 bilhões de reais; 2010: enxurradas em Alagoas e Pernambuco, deixando cerca de 48 mil pessoas desabrigados e 56 mortos, além de prejuízos estimados em 5,29 bilhões de reais; 2011: deslizamentos e enxurradas em 7 municípios da região serrana do Rio de Janeiro, afetando cerca de 304.562 pessoas e matando 905, além de deixar prejuízos estimados em 4,8 bilhões de reais; e 2015: rompimento de barragem de rejeitos de minério em Mariana/MG, resultando em 18 mortos, 644 desabrigados e 716 desalojados, além da contaminação do Rio Doce e das áreas marinhas da sua foz, no litoral do Espírito Santo, afetando milhares de pessoas. Mais recentemente, em 25 de janeiro de 2019, rompeu-se uma barragem de rejeitos de minério em Brumadinho/MG, resultando, segundo dados atualizados em 02 de abril de 2021 pela mineradora responsável pelo empreendimento, em 259 mortos e 11 desaparecidos (VALE, 2021), além da contaminação do Rio Paraopeba. Analisando-se esse pequeno histórico, confirma-se que os principais desastres brasileiros não são apenas de origem natural, mas também tecnológica, cujos riscos devem ser geridos principalmente por meio de normas de segurança, fiscalização do 8 Poder Público e preparação da população para se autoproteger. Na seção a seguir é apresentado um panorama dos desastres ocorridos nas últimas décadas no Ceará. Confira atentamente os dados e informações dessa realidade local. 1.3 Desastres no Ceará De forma semelhante ao País como um todo, o estado do Ceará é acometido por desastres predominantemente relacionados às chuvas, seja pela sua ausência, seja pela sua intensidade. TABELA 1 – Quantidade dedesastres registrados no Ceará de 1991 a 2020 Ano Estiagens e Secas Inundações Enxurradas Outros 1991-1992 - - - - 1993 160 - - - 1994-1998 - - - - 1999 49 - - - 2000 16 - 3 - 2001 113 - 10 - 2002 70 2 5 Movimento de massa 2003 75 6 6 Alagamento / Erosão marinha 2004 42 94 2 - 2005 200 1 1 Vendaval 2006 136 - - - 2007 211 - - Erosão marinha 2008 80 56 1 Alagamento / Erosão marinha 2009 7 110 17 Alagamento (2) / Erosão marinha 2010 180 2 Erosão marinha 2011 8 2 3 Erosão marinha (2) / Erosão continental 2012 354 - 1 Incêndio florestal 2013 352 - 1 Erosão marinha 2014 345 - - - 2015 289 - - - 2016 230 - - - 2017 243 - - - 2018 126 - 1 Alagamento (2) / Erosão marinha 2019 122 - - Chuvas intensas / Rompimento de adutora 2020 43 - - Rompimento de barragem (1) / Chuvas intensas (5) / COVID-19 (368) Total 3.451 273 51 395 % 82,76% 6,55% 1,22% 9,47% Fonte: Adaptado de Universidade Federal de Santa Catarina (2013b) e de S2iD (2021). 9 Na Tabela 1, cada unidade corresponde a um registro de desastre em território municipal no período de 1991 a 2021. Foram registrados 4.170 desastres, ao todo. Os registros de 1991 a 2012 foram extraídos do Atlas brasileiro de Desastres Naturais – Volume Ceará. Os demais registros, de 2013 a 2020 foram consultados no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres, tendo sido considerados os registros de emergência ou calamidade pública homologada pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Ceará e/ou reconhecida pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil. Cada emergência ou calamidade pública declarada tem duração máxima de 180 dias. Os desastres com maior número de registros nesse período foram as estiagens e secas, com ocorrências em quase todos os anos, com destaque para o recente período de 2012 a 2017. Também se destacam as inundações ocorridas em 2004, 2008 e 2009, bem como as enxurradas de 2001 e 2009. Registraram-se ainda 9 ocorrências de erosão marinha, 6 de chuvas intensas, 6 de alagamento, além de outros desastres com apenas 1 registro: movimento de massa, vendaval, erosão continental, rompimento de adutora, rompimento de barragem e incêndio florestal. O ano de 2020 foi marcado pela ocorrência da pandemia da COVID-19, que é uma doença infecciosa viral. Esse desastre afetou todos os 184 municípios do estado, com 2 registros cada, totalizando 368 ocorrências registradas. Os desastres de maior recorrência no Ceará são conceituados a seguir, de acordo com Brasil (2020b), bem como sumarizadas suas causas e principais consequências nas áreas por eles afetadas. A estiagem é um período prolongado de redução ou ausência de chuvas, em que a perda de umidade do solo é superior à sua reposição. As estiagens são comuns no Ceará no segundo semestre do ano e seus impactos são maiores quando ocorrem no período conhecido como quadra chuvosa (nos meses de fevereiro a maio), normalmente devido ao fenômeno El Niño, caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico. Estiagens nesse período impedem a preparação para o semestre seguinte, a qual se dá principalmente pela recarga dos mananciais e a produção agrícola de sequeiro (que depende das chuvas). 10 A seca é uma estiagem prolongada, durante o período de tempo suficiente para que a falta de precipitação provoque grave desequilíbrio hidrológico (FIGURA 1). As principais consequências são o colapso dos sistemas de abastecimento d'água potável e extensivas perdas agropecuárias. FIGURA 1 – Açude seco no município de Massapê/CE Fonte: Acervo fotográfico da CEDEC (2016). A maior parte do território cearense está na região semiárida do Nordeste, caracterizada pela má distribuição das chuvas no tempo e no espaço, bem como pelas altas taxas de evaporação, tornando o estado mais vulnerável a esses desastres. No período de 1991 a 2020, houve 3.451 registros de estiagens ou secas no Ceará, atingindo todos os seus 184 municípios, com destaque para a área mais central do estado: os sertões Central e dos Inhamuns e parte das regiões Norte e do Jaguaribe. A título de exemplificação, somente em janeiro de 2017, a seca no Ceará chegou a afetar de alguma forma, principalmente pelo desabastecimento de água potável, 3.370.140 pessoas de 137 municípios (S2ID, 2021), o que corresponde a 37,13% da população estimada do estado em 2018 (IBGE, 2018). A perda econômica resultante das estiagens e secas também impacta negativamente o desenvolvimento do estado. Somente em 2012, ano de intensa estiagem, as perdas da safra de sequeiro, dependente das chuvas, foram de 1,42 bilhões de reais (EMATERCE, 2012). 11 Esse prejuízo corresponde a 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) de 2012, que foi de 94,6 bilhões de reais. O setor agropecuário como um todo registrou uma queda expressiva do seu PIB em 2012, da ordem de 20,11% (IPECE, 2012). As inundações são caracterizadas pela submersão de áreas fora dos limites normais dos cursos de água, isso em zonas que normalmente não se encontram submersas. O transbordamento ocorre de modo gradual, geralmente ocasionado por chuvas prolongadas. Dessa forma, a área afetada pela inundação é geralmente extensa (FIGURA 2), sendo comum sua permanência por semanas e, às vezes, até meses. FIGURA 2 – Inundação no município de Itaiçaba/CE Fonte: Acervo fotográfico da CEDEC (2009). Os registros de inundações no Ceará concentram-se na Mesorregião Noroeste do estado, onde se situam os rios Acaraú e Coreaú. Nessa região houve 70 (25,6%) dos 273 registros do período de 1991 a 2020. Também se destacam os registros nos municípios em que passam os rios Salgado (Icó e Lavras da Mangabeira, por exemplo), Jaguaribe (Aracati, Itaiçaba, Jaguaribe, Jaguaruana, Limoeiro do Norte, Morada Nova e Russas, dentre outros) e Maranguapinho (Caucaia e Fortaleza, principalmente). O município mais atingido por inundações recorrentes é o Crato (5 ocorrências), situado no Sul Cearense, por onde passam os rios Granjeiro e Batateiras. No período de 1991 a 2020, em decorrência de inundações foram registrados 37 mortos, 50.983 desabrigados e 128.975 desalojados. Também nesse período foram danificadas 25.263 habitações e 8.896 ficaram destruídas. 12 Enxurradas configuram-se pelo escoamento superficial de alta velocidade e energia, provocado por chuvas intensas e concentradas (em poucas horas), normalmente em pequenas bacias de relevo acidentado. Apresenta grande poder destrutivo devido à elevação súbita da vazão e o consequente transbordamento brusco da calha fluvial. É comum atingirem áreas menos extensas que as afetadas pelas inundações e permanecerem por curtos períodos (algumas horas). A maior frequência de registros de enxurradas ocorreu nas mesorregiões Metropolitana, Norte e Noroeste cearense, no período de 1991 a 2020. Nesse período, dos 184 municípios cearenses, 38 registraram enxurradas, dos quais a capital, Fortaleza, e Crato apresentaram a maior frequência, com 3 eventos cada. As enxurradas, no estado do Ceará, afetaram aproximadamente 250 mil pessoas de 1991 a 2020, das quais 40% foram atingidas em apenas um evento ocorrido em Fortaleza, em março de 2004, quando também faleceram 5 pessoas. Alagamentos são caracterizados pela extrapolação da capacidade de escoamento de sistemas de drenagem urbana e consequente acúmulo de água em ruas, calçadas ou outras infraestruturas urbanas, em decorrência de precipitações intensas. Embora haja registros de alagamento nos municípios de Amontada [2003], Ipaporanga [2008], Caucaia [2009] e Icapuí [2009], as características do evento registrado são semelhantes às de inundação, o que leva a crer que houve um equívoco no registro. Houve alagamentos registrados em 2018, nos municípios de Irauçuba e Quixeramobim, onde foram desalojadas ou desabrigadas 268 e 46 pessoas, respectivamente.Chuvas intensas são chuvas que ocorrem com acumulados significativos, causando múltiplos desastres como inundações, enxurradas e alagamentos, concomitantemente. Esse desastre foi registrado em 2019 no município de Santana do Cariri e em 2020 nos municípios de Quiterianópolis, Novo Oriente e Crateús, em decorrência das mesmas chuvas, e nos municípios de Hidrolândia e de Pentecoste, devido a chuvas localizadas. As chuvas intensas ocorridas em Hidrolândia em 2020 deixaram 51 casas destruídas ou interditadas definitivamente, um prejuízo de mais de 3,6 milhões de reais. A erosão marinha é o processo de desgaste que ocorre ao longo da linha da costa (FIGURA 3) e se deve à ação das ondas, correntes marinhas e marés. 13 FIGURA 3 – Erosão marinha em Icaraí, Caucaia/CE Fonte: Acervo fotográfico da CEDEC (2009). No período de 1991 a 2020, o município mais afetado por erosão marinha no Ceará foi Caucaia, com registros nos anos de 2007, 2008, 2009, 2011 e 2013. Segundo os registros, foram afetadas por esse desastre no município 52.888 pessoas e 210 habitações. Os demais municípios afetados por erosão marinha foram Icapuí [2003, 2010 e 2018] e Cascavel [2011]. No Ceará são registradas ainda atividades sísmicas, especialmente na região de Sobral, a partir do ano de 2008. Embora de pouca intensidade, não chegando a causar danos significativos, os sismos no estado são relativamente frequentes. Já houve registro desses eventos em 52 dos 184 municípios cearenses até 2017. O maior terremoto já ocorrido no Nordeste brasileiro, de magnitude de 5,2 graus na Escala Richter, aconteceu na região do atual município de Pacajus/CE, em 20 de novembro de 1980; o que justifica a devida preocupação com a prevenção e preparação da população para futuros eventos (MELO, 2017). Não é uma prática o registro, pelos órgãos de proteção e defesa civil cearenses, de desastres tecnológicos, tais como incêndios urbanos e acidentes no transporte de passageiros. Isso porque essas ocorrências são mais pontuais e frequentemente são atendidas somente pelos órgãos de socorro (Corpo de Bombeiros Militar e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, por exemplo), sem a intervenção direta do órgão de defesa civil. 14 Contudo, ocorreram no Ceará desastres tecnológicos que marcaram sua história. Listam-se a seguir, em ordem temporal, alguns desses eventos, segundo Nascimento (2014): 1955: incêndio no Cine-Teatro Majestic, destruindo também as Lojas Brasileiras 4400, no Centro de Fortaleza; 1980: incêndio no terminal da Shell, em Fortaleza, consumindo sete tanques com milhões de litros de combustível; e 1982: acidente aéreo na Serra da Aratanha, em Pacatuba, vitimando 137 pessoas. Todo esse cenário de ocorrência de desastres naturalmente precisa de ser gerido, a fim de que seja dada uma resposta adequada, bem como restabelecida a normalidade. Na unidade a seguir, você conhecerá mais a esse respeito, com foco na atuação do bombeiro militar enquanto agente de proteção e defesa civil, uma vez que a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Ceará atualmente integra a estrutura do Corpo de Bombeiros Militar. UNIDADE 2 – GESTÃO DE DESASTRES Objetivos: • Entender o papel dos agentes e do sistema de proteção e defesa civil na gestão integrada de desastres; • Conhecer a estrutura e o funcionamento de um Sistema de Comando de Operações; • Compreender o conceito e as principais ações de resposta a desastres; • Saber gerenciar ações de apoio material, abrigamento temporário e abastecimento emergencial de água potável para assistência às vítimas de desastres; • Compreender o conceito e as principais ações de recuperação de cenários de desastres; • Compreender o processo legal de declaração de situação anormal; e • Conhecer os principais aspectos relacionados à gestão de recursos financeiros para ações de resposta e recuperação. 15 A gestão de desastres é a organização ou a gestão de recursos e responsabilidades do governo, dos órgãos não governamentais e dos voluntários para dar a resposta adequada aos desastres (ISDR, 2009, p.18, tradução nossa). Na ocorrência de desastres surgem diversas necessidades, desde a resposta inicial, com o socorro e assistência às vítimas, até a recuperação das estruturas afetadas. Essas ações correspondem às fases de resposta e de recuperação, do ciclo de gestão de proteção e defesa civil, e serão detalhadas mais adiante. O processo de gestão do desastre visando o retorno à normalidade compreende o planejamento, a coordenação e a execução de todas as ações concomitantes e posteriores ao desastre. Isso envolve o gerenciamento de recursos humanos, materiais e financeiros, os quais nem sempre estão disponíveis inicialmente e, portanto, deverão ser articulados pelos agentes de proteção e defesa civil, nos três níveis de governo. Segundo Brasil (2012a), consideram-se agentes de proteção e defesa civil: I - os agentes políticos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios responsáveis pela direção superior dos órgãos do SINPDEC; II - os agentes públicos responsáveis pela coordenação e direção de órgãos ou entidades públicas prestadores dos serviços de proteção e defesa civil; III - os agentes públicos detentores de cargo, emprego ou função pública, civis ou militares, com atribuições relativas à prestação ou execução dos serviços de proteção e defesa civil; e IV - os agentes voluntários, vinculados a entidades privadas ou prestadores de serviços voluntários que exercem, em caráter suplementar, serviços relacionados à proteção e defesa civil. Você é um agente de proteção e defesa civil e executa, no exercício da profissão bombeiro militar, diversas ações nessa área, especialmente na fase de resposta a desastres. Você pode também atuar na fase de recuperação pós-desastres, caso seja empregado na CEDEC, que gerencia e executa bastantes ações nesse sentido. A ação integrada de todos os agentes de proteção e defesa civil possibilita a agilidade e a efetividade das ações de resposta e de recuperação em cenários de desastre. 16 Nas seção a seguir você conhecerá as competências de diversos órgãos do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (SINPDEC) com atuação na gestão de desastres. Ciente disso, poderá refletir acerca do seu papel nesse sistema, tanto como bombeiro militar, quanto como agente de proteção e defesa civil. 2.1 Atuação Integrada na Gestão de Desastres Em nível federal, é de responsabilidade do órgão central do SINPDEC, a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC), a gestão de desastres e o apoio complementar aos entes federativos em situação de emergência ou estado de calamidade pública. Para tanto, compete ao Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (CENAD) da SEDEC, dentre outras ações: (i) analisar as solicitações para reconhecimento federal de situação de emergência ou de estado de calamidade pública; (ii) articular o apoio federal para a resposta a desastres, disponibilizando recursos e equipes técnicas e operacionais; e (iii) analisar as solicitações de recursos para ações de assistência a vítimas de desastres, bem como acompanhar a execução dessas ações e a prestação de contas desses recursos (Brasil, 2020a). A equipe técnica multidisciplinar mobilizável pelo CENAD pode ser composta por profissionais de diversos órgãos setoriais federais, como o Serviço Geológico do Brasil, a Agência Nacional de Águas, o Ministério da Saúde e as Forças Armadas. Ainda em nível federal, no âmbito do Ministério da Saúde, de acordo com Brasil (2011), poderá ser declarada, nos casos de epidemias, desastres e desassistência à população, Emergência em Saúde Pública de Interesse Nacional (ESPIN). Nesse caso, o Ministério da Saúde poderá convocar a Força Nacional do Sistema Único de Saúde (FN- SUS) paraapoio ao ente atingido. O apoio do Ministério da Saúde pode ser solicitado pelo ente federado via Secretaria Municipal de Saúde ou através da SEDEC. As Forças Armadas podem apoiar os entes atingidos por desastres disponibilizando recursos humanos, equipamentos e materiais para a execução de transporte de carga e de pessoal, busca e salvamento, assistência social, abrigamento e garantia da lei e da ordem. 17 Esse apoio pode ser solicitado pelo ente federado via SEDEC, que nesse caso arcará com os custos das ações desenvolvidas (Brasil, 2017c). Também no âmbito federal, foi criada a Rede Nacional de Emergência de Radioamadores (RENER), formada por voluntários licenciados pela Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) com o intuito de prover ou suplementar as comunicações quando os meios usuais estiverem prejudicados por desastres (Brasil, 2001b). A RENER pode ser ativada diretamente pelos órgãos de proteção e defesa civil dos três níveis de governo. No Ceará, a coordenação do sistema de defesa civil é de responsabilidade da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (CEDEC), órgão pertencente à estrutura organizacional do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMCE). Compete à CEDEC, na ocorrência de desastres: (...) III - em casos de situação de emergência, estado de calamidade pública, ou na iminência de sua ocorrência, com a homologação do Comandante Geral do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará, requisitar, por determinação do Governador do Estado: a) servidores de outros órgãos do Estado e recursos materiais de órgãos ou entidades integrantes do Sistema Estadual de Defesa Civil - SEDC, necessários para implementação das ações de defesa civil; b) recursos financeiros e bens necessários à eficácia de seu desempenho, obedecida a legislação vigente; (...) VI - propor à autoridade competente a homologação de situação de emergência ou de estado de calamidade pública (...); VII - providenciar a distribuição e o controle dos suprimentos necessários ao abastecimento em situações de desastres (Ceará, 2007). Assim, os recursos necessários para a gestão de desastres no Ceará podem ser solicitados aos órgãos setoriais integrantes do Conselho Estadual de Defesa Civil (COEDEC), que é presidido pelo Coronel Comandante-Geral do CBMCE, tendo como secretário executivo o Coordenador da CEDEC. As competências estabelecidas para os órgãos integrantes do COEDEC na resposta e recuperação de cenários atingidos por desastres são: 18 I - à Secretaria da Fazenda, adotar medidas de caráter financeiro, fiscal e creditício, destinadas ao atendimento de populações situadas em áreas em estado de calamidade pública ou em situação de emergência; II - à Secretaria da Infraestrutura, adotar medidas de preservação e de recuperação dos sistemas viários e terminais de transportes terrestres, marítimos e fluviais, em áreas atingidas por desastres, bem como controlar o transporte de produtos perigosos; III - à Secretaria do Desenvolvimento Agrário, (...) adotar medidas para o atendimento das populações nas áreas atingidas por desastres, providenciando a distribuição de sementes, insumos e alimentos; (...); (...) VI - à Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social [atualmente denominada Secretaria da Proteção Social, Justiça, Mulheres e Direitos Humanos], (...) prestar assistência social às populações em situação de desastre e apoiá-las com suprimentos necessários à sobrevivência, especialmente alimentos; VII - à Secretaria da Saúde, implementar e supervisionar ações de saúde pública, objetivando o suprimento de medicamentos, o controle de qualidade da água e dos alimentos e a promoção da saúde em circunstâncias de desastre; promover a implantação de atendimento pré-hospitalar e de unidades de emergência, supervisionar a elaboração de planos de mobilização e de segurança dos hospitais em circunstâncias de desastre; (...); VIII - à Secretaria de Planejamento e Gestão, dar prioridade à alocação de recursos para assistência às populações e à realização de obras e serviços de (...) recuperação, nas áreas (...) em estado de calamidade pública ou em situação de emergência; (...) X - à Secretaria das Cidades, gerir a aplicação de recursos em políticas de desenvolvimento urbano voltadas para a recuperação e a reconstrução de moradias para a população de baixa renda afetada por desastres (...); (...) XII - à Secretaria do Turismo, propor medidas com o objetivo de reduzir os impactos negativos nas atividades turísticas, em circunstâncias de desastres; XIII - à Secretaria de Controladoria e Ouvidoria Geral, avaliar e fiscalizar os gastos com as ações desencadeadas pela defesa civil; XIV - à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social, coordenar as ações de Segurança Pública, visando a preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio nas áreas em situação de desastre; XV - à Secretaria de Recursos Hídricos, (...) fornecer dados e análises relativas à monitoração de rios e açudes, com vistas às ações de defesa civil e promover o controle de cheias e inundações; (...) 19 XVIII - ao Comando da 10ª Região Militar, cooperar com as ações de resposta aos desastres e reconstrução e de busca e salvamento; participar de atividades de prevenção e de reconstrução; apoiar as ações de defesa civil com pessoal, material e meios de transporte; XIX - ao Comando da Capitania dos Portos, coordenar as ações de redução de danos relacionados com sinistros marítimos e fluviais e participar das ações de salvamento de náufragos; apoiar as ações de resposta a desastres; apoiar as ações de defesa civil com pessoal, material e meios de transportes; XX - ao Comando da Base Aérea de Fortaleza, coordenar as ações de evacuações aeromédicas e missões de misericórdia, cooperar nas ações de busca e salvamento; apoiar as ações de defesa civil com pessoal, material e meios de transporte (Ceará, 2007, grifo nosso). Ressalte-se ainda as competências do próprio CBMCE, que além de presidir o COEDEC e abrigar a CEDEC em sua estrutura organizacional, também: combate incêndios; executa a proteção, busca e salvamento de pessoas e bens; bem como atua no socorro de emergência pré-hospitalar (Ceará, 2018). Segundo Brasil (2012a), compete aos Municípios, na ocorrência de desastres, notificar a CEDEC e a SEDEC, prestando-lhes todas as informações da avaliação dos danos e prejuízos, além de coordenar todas as ações de resposta e de recuperação dos cenários atingidos, devendo, entre outras ações: (i) organizar e administrar abrigos provisórios para assistência à população em situação de desastre, em condições adequadas de higiene e de segurança; (ii) promover a coleta, a distribuição e o controle de suprimentos; (iii) prover solução de moradia temporária às famílias atingidas; e (iv) manter a população informada sobre as ações emergenciais em curso. A integração para a gestão de desastres pode envolver ainda entidades privadas ou prestadoras de serviços voluntários. No Ceará, a filial da Cruz Vermelha Brasileira disponibiliza ajuda humanitária (FIGURA 4) bem como equipe multidisciplinar para apoio às vítimas de desastres. 20 FIGURA 4 – Entrega de ajuda humanitária às vítimas de inundação em Beberibe/CE Fonte: Acervo fotográfico da CEDEC (2009). Em nível comunitário, os Núcleos Comunitários de Proteção e Defesa Civil (NUDECs) também podem desempenhar importante papel de apoio na resposta aos desastres, por meio da organização de planos de chamadas, da evacuação da comunidade em situações de alto risco e na gestão compartilhada dos abrigos temporários, por exemplo. A atuação integrada dos diversos órgãos do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (SINPDEC) na gestão de desastres precisa de ser bem coordenada e liderada. Pode-se destacar como bom exemplo de atuação integrada de órgãos envolvidos na resposta a umdesastre o Comitê Integrado de Combate à Seca, instituído em 2012 por meio de um Decreto do Governo do Estado do Ceará (CEARÁ, 2012). O Comitê é coordenado pela Secretaria do Desenvolvimento Agrário e reúne os órgãos e entidades que, no Ceará, atuam no enfrentamento aos efeitos da seca e amparo à população afetada. Nas reuniões do Comitê, muitas vezes realizadas no Comando-Geral do CBMCE (FIGURA 5), são discutidas as demandas prioritárias e as ações de resposta à seca realizadas pelos diversos órgãos com atuação nessa área, prevenindo o paralelismo dessas ações. 21 FIGURA 5 – Reunião do Comitê Integrado de Combate à Seca no Ceará Fonte: Acervo fotográfico da CEDEC (2012). São ainda constituídos, no âmbito do Comitê, grupos de trabalho para tratar de demandas prioritárias, a exemplo do grupo de segurança hídrica, que trata do abastecimento de água nas sedes municipais. Para a atuação integrada dos órgãos de resposta aos desastres, a SEDEC preconiza a adoção do Sistema de Comando de Operações, ferramenta gerencial detalhada na subseção a seguir. Sistema de Comando de Operações De acordo com Oliveira (2010), o Sistema de Comando de Operações (SCO) é uma ferramenta de gestão que padroniza as ações de resposta em situações críticas. Esse modelo permite que os órgãos e entidades com atuação no cenário de desastre ajam de forma integrada sem prejuízo de suas competências. O SCO pressupõe a adoção de um comando da resposta ao desastre, podendo ser estabelecidas funções de assessoria e seções, conforme o organograma da Figura 6. Para assessoramento do comando poderão ser designados responsáveis pelas seguintes funções: Segurança (avalia e monitora as condições de insegurança da operação); Ligações (incumbido do contato com os representantes dos órgãos envolvidos na operação); 22 Informações ao público (organiza e divulga informações da operação para a mídia); e Secretaria (executa as tarefas administrativas do comando). De acordo com o nível de complexidade da operação, o comando poderá nomear responsáveis pelas seguintes seções: Operações (coordena as atividades operacionais dos órgãos envolvidos em nível tático, executando o plano de ação do comando); Planejamento (prepara e documenta o plano de ação, bem como mantém o registro dos recursos e da operação como um todo); Logística (proporciona o suporte logístico da operação); e Administração/finanças (gerencia os custos, bem como as eventuais compras). FIGURA 6 – Organograma básico de um SCO Fonte: Adaptado de Oliveira (2010, p. 38). Considerando as demandas de resposta ao desastre, bem como os planos previamente estabelecidos, o comando deverá procurar um local adequado para a instalação das seguintes áreas de trabalho, devendo sinalizá-las (Figura 7). 23 FIGURA 7 – Mapa das áreas de trabalho de um SCO devidamente sinalizadas Fonte: Adaptado de Oliveira (2010, p. 57). O comando é responsável por designar um ou mais encarregados pelo seu funcionamento e comunicar sua localização e respectivas responsabilidades a todos os órgãos envolvidos na operação: Posto de comando [PC]; Área de espera [E] (onde serão recepcionados e cadastrados os recursos operacionais, permanecendo ali disponíveis até o seu emprego); Heliponto [H1] (local de pouso de aeronaves); Helibase [H] (área de suporte às aeronaves); Centro de informações ao público [I] (local para atendimento da imprensa e demais interessados); Área de concentração de vítimas [ACV] (local para triagem e atendimento inicial das vítimas); Base de apoio [B] (local para as atividades logísticas); e Acampamento [A] (local para alojamento, alimentação e higiene das equipes em operação). Também deverão ser delimitadas as áreas: quente (local de maior risco e acesso restrito), morna (zona intermediária não totalmente segura, também com acesso restrito) e fria (local seguro onde ficarão as instalações e recursos empregados na operação). 24 Apresenta-se a seguir uma roteiro básico para a adoção do SCO como ferramenta gerencial da resposta ao desastre: (i) análise do cenário; implementação das primeiras ações de segurança; e comunicação, à central de operações, da instalação do SCO; tudo isso sob o comando do chefe da primeira equipe a chegar ao local do desastre – posteriormente o comando poderá ser transmitido a outrem ou ainda instituído um comando unificado composto por representantes dos órgãos envolvidos na operação e especialistas; (ii) instalação do posto de comando em local adequado; (iii) delimitação da área de espera em local apropriado e designação de um encarregado pela mesma; (iv) coleta de mais informações sobre o desastre; (v) implementação de um plano de ação inicial, em sintonia com os planos previamente estabelecidos, se houver; (vi) desenvolvimento do plano de ação, com a instalação das demais áreas de trabalho, bem como o estabelecimento das assessorias e seções do SCO, de acordo com a complexidade da operação; e (vii) desmobilização dos recursos empregados, conforme o retorno à normalidade. O SCO pode ser estabelecido mesmo em ocorrências de menor gravidade, como incêndios e operações de busca e salvamento, podendo suas estruturas serem adaptadas às necessidades de cada cenário operacional. Na seção a seguir são detalhadas as principais ações de resposta a desastres, com foco na atuação integrada do SINPDEC, cujas ações, no âmbito do Estado do Ceará, são coordenadas pela CEDEC/CBMCE. 2.2 Resposta a Desastres A resposta envolve o conjunto de ações emergenciais que visam a socorrer e assistir as pessoas atingidas por desastres, durante ou após sua ocorrência, bem como garantir o retorno dos serviços essenciais prejudicados (BRASIL, 2020b). 25 FIGURA 8 – Ações de resposta aos desastres Fonte: Brasil (2017c, p. 34). Assim, pode-se considerar que a resposta aos desastres se dá por meio de ações de socorro, de assistência às vítimas e de restabelecimento de serviços essenciais (Figura 8). Segundo Brasil (2017c), as ações de socorro são realizadas imediatamente após os desastres, incluindo a busca e salvamento, os primeiros-socorros, o atendimento pré- hospitalar, bem como o atendimento médico e cirúrgico de urgência. A assistência às vítimas de desastres visa a garantir condições de incolumidade e cidadania aos atingidos. São exemplos de ações de assistência: a provisão de água e alimentos; o suprimento de material de abrigamento, de vestuário, de limpeza e de higiene pessoal; a instalação de abrigos temporários; a atenção integral à saúde; e o manejo de mortos. As ações de restabelecimento de serviços essenciais têm o objetivo de restaurar as condições de segurança e habitabilidade da área atingida pelo desastre, por meio de ações como: a desmontagem de infraestruturas comprometidas; a limpeza urbana; a drenagem de águas pluviais; bem como a retomada da distribuição de energia elétrica, do abastecimento de água potável, do esgotamento sanitário, das comunicações e das condições de trafegabilidade. Nas subseções a seguir são apresentadas as principais ações de resposta ocorridas no Ceará nos últimos anos sob a gestão ou orientação da CEDEC/CBMCE. 26 Apoio Material Para Assistência às Vítimas de Desastres O apoio material para assistência às vítimas de desastres, também chamado de “ajuda humanitária”, se dá por meio da provisão de água e alimentos; o suprimento de material de abrigamento (madeira e lona, por exemplo), vestuário, dormitório (tais como colchão e lençol, conforme demonstrado na Figura 9), limpeza (tais como balde, vassoura e água sanitária) e higiene pessoal (sabonete, creme dental, entre outros). Essa assistência às vítimas de desastres é de competênciado Município, podendo contar com o apoio complementar do Estado e da União (BRASIL, 2012). Nesse sentido, os Municípios devem prever no seu orçamento anual uma dotação que contemple as ações de assistência às vítimas de desastres, bem como alocar recursos financeiros para a aquisição de um estoque mínimo de materiais. Como estratégia para a rápida aquisição de materiais de ajuda humanitária, podem ser realizados, anualmente, procedimentos licitatórios (pregão eletrônico) para registro de preços dos materiais e suprimentos geralmente utilizados, em quantidade suficiente para o atendimento das possíveis demandas. Nesse caso, no período de vigência do registro de preços – um ano, prorrogável por igual período (BRASIL, 2021a) – poderá ser mantido um estoque mínimo para pronto emprego em situações emergenciais, bem como realizados pedidos ao fornecedor para a continuidade da assistência à população afetada. FIGURA 9 – Colchões e lençóis armazenados pela CEDEC-CE para assistência às vítimas de desastres Fonte: Acervo fotográfico da CEDEC. 27 Para atender as demandas de ajuda humanitária após a ocorrência de desastres, o Município, por meio de assistentes sociais, deve cadastrar os desabrigados e desalojados, bem como outros afetados que se enquadrem no perfil socioeconômico para receber doações. A entrega da ajuda humanitária às vítimas devidamente cadastradas deve ser feita em local seguro, próximo da área afetada, e amplamente divulgado aos interessados. Recomenda-se a presença de profissionais de segurança, bem como de um representante de órgão de controle externo. É importante que cada beneficiário assine um comprovante do recebimento do material, para prestação de contas. Para complementar a assistência à população, o Município pode ainda organizar uma campanha de arrecadação de donativos. Brasil (2017c), elenca alguns pontos a serem observados para o sucesso da campanha: Identificar claramente os agentes responsáveis pela arrecadação, montagem de kits e distribuição das doações, sempre sob a orientação de assistentes sociais; Definir o local adequado para o armazenamento das doações (seguro, limpo e ventilado), mantendo-o sob vigilância diuturna; Fazer a triagem do material recebido, verificando as condições de uso ou de consumo, a integridade da embalagem e o prazo de validade, conforme o caso; e Estabelecer um canal oficial de comunicação com os doadores, a exemplo de um sítio eletrônico, por meio do qual seja divulgado o tipo de material de que as vítimas necessitam, bem como a prestação de contas da campanha. A imprensa é uma importante parceira na divulgação da campanha de arrecadação, informando o local para a entrega dos donativos, bem como as principais orientações sobre os bens a serem doados, por exemplo: 1. Doe apenas o que é solicitado. 2. Doe itens em boas condições de uso. 3. Doe itens apropriados para a situação. 4. Doe somente o que você usaria. 5. Não se trata de descarte de bens inservíveis. 6. Doe itens com validade de uso (BRASIL, 2017c). 28 Reflita um pouco: você já participou da organização de uma campanha de arrecadação de donativos? Essas orientações foram seguidas? Espera-se que em uma oportunidade futura, você possa aplicar esses conhecimentos com maior segurança. Para apoio complementar aos Municípios na assistência às vítimas de desastres, a CEDEC/CBMCE também busca manter vigentes atas de registro de preços de materiais de uso comum em situações emergenciais, podendo realizar pedidos desses materiais ao fornecedor de acordo com as demandas dos Municípios e a disponibilidade financeira do Estado. FIGURA 10 – Setor de logística da CEDEC/CBMCE Fonte: CEDEC, arquivo interno. A CEDEC gerencia ainda uma campanha permanente de arrecadação de donativos, a “Força Solidária”, que recebe donativos diuturnamente nos quartéis do CBMCE em todo o estado. Os donativos recebidos são encaminhados ao setor de logística da CEDEC (Figura 10), onde são triados, organizados em cestas ou kits e armazenados. Esse material é entregue aos órgãos de proteção e defesa civil dos Municípios de acordo com as demandas oficializadas e verificadas “in loco” pelo setor de resposta aos desastres da CEDEC. A prestação de contas do material recebido pelo Município é feita por meio da entrega de: (i) Formulário de Prestação de Contas padronizado; (ii) Fichas dos Beneficiários, assinadas individualmente; e (iii) Relatório Fotográfico, com no mínimo três registros da entrega dos materiais. 29 A SEDEC, a fim de prestar apoio complementar aos Estados e Municípios, também mantém vigentes atas de registro de preços de kits de materiais de ajuda humanitária às vítimas de desastres ocorridos em qualquer Unidade da Federação. As solicitações desses materiais pelos entes federados são realizadas por meio do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID). No S2ID também podem ser solicitados recursos financeiros para a assistência às vítimas de desastres. O Estado ou Município também pode, a qualquer momento, solicitar à SEDEC a adesão à ata para aquisição, com seus próprios recursos, desses materiais de ajuda humanitária. O Governo Federal, por meio do Ministério da Cidadania, estabeleceu ainda a Ação de Distribuição de Alimentos (ADA) - em caráter emergencial - destinada às famílias em situação de insegurança alimentar e nutricional, residentes em localidades com declaração de situação de emergência ou estado de calamidade pública reconhecidos pelo Governo Federal por meio da SEDEC (BRASIL, 2021b). Por vezes, além de apoio material, as vítimas de desastres necessitam de um local para se abrigarem temporariamente. Na subseção a seguir são detalhadas as orientações para a organização e administração desses locais de acolhimento de pessoas desabrigadas. Abrigamento Temporário Segundo Brasil (2012), a organização e administração de abrigos temporários é de responsabilidade do Município, o qual deve mantê-los em condições adequadas de higiene e segurança. Considerando a organização sistêmica da defesa civil brasileira, os demais órgãos componentes do SINPDEC podem apoiar o Município nesse mister. No ano de 2009, após inundações e enxurradas ocorridas no estado do Ceará, resultando em cerca de 11.915 desabrigados, a CEDEC/CBMCE auxiliou, tecnicamente e com materiais de ajuda humanitária, a implementação de abrigos em diversos Municípios do estado. Essa experiência estimulou uma maior preocupação dos agentes de proteção e defesa civil do Estado com a capacitação técnica para a melhor gestão de abrigos temporários. 30 O abrigo temporário, na ocorrência de desastres, é o local ou instalação adaptado para a hospedagem de desabrigados, com condições adequadas de temperatura, segurança e privacidade. Consideram-se desabrigadas as pessoas que tiveram suas moradias inviabilizadas por destruição, dano ou contaminação resultante do desastre e que não têm como se alojar em instalações diferentes daquelas ofertadas pelo Poder Público. Esta subseção abordará os aspectos essenciais da gestão de abrigos temporários, a fim de facilitar seu planejamento e execução com profissionalismo e capacidade técnica, de acordo com a publicação “Administração para Abrigos Temporários” (RIO DE JANEIRO, 2006), que considera os indicadores do Projeto Esfera, da Organização das Nações Unidas. No planejamento municipal de abrigos temporários devem constar, em formulários- padrão, os locais disponíveis para abrigamento, bem como as equipes de trabalho e os respectivos recursos necessários para a manutenção do abrigo. FIGURA 11 – Abrigo temporário organizado em uma escola de Irauçuba/CE em 2009 Fonte: Acervo fotográfico da CEDEC. A análise das edificações aptas para o abrigamento temporário fixo – em escolas (Figura 11), ginásios,hotéis ou quartéis, por exemplo – deve considerar alguns requisitos básicos: (i) possibilidade de compartimentação do espaço para servir de alojamentos, setor de triagem, cozinha e refeitório; (ii) disponibilidade de área apropriada para a realização de serviços de lavanderia, recreação e para os animais; (iii) existência de banheiros com lavatórios, chuveiros e sanitários masculino e feminino; e (iv) disponibilidade de água potável, esgotamento de resíduos, energia elétrica, bem como do serviço de coleta de lixo. 31 Pode ser considerada a necessidade de instalação de outras áreas e compartimentos, de acordo com as características sociais da comunidade. FIGURA 12 – Abrigo montado em um parque de tancagem de Porto Velho/RO em 2014 Fonte: Cedido por Paiva Júnior. Para a definição dos locais apropriados para a implementação de abrigos temporários móveis – em barracas montadas em campos de futebol, áreas descampadas (Figura 12) ou quadras descobertas, por exemplo – deve ser analisada a topografia do terreno, que facilite a drenagem e evite o acúmulo de lama, além dos mesmos aspectos verificados para o abrigamento temporário fixo. As barracas do abrigo móvel devem ser adequadas ao clima e com proteção contra insetos e animais peçonhentos. Recomenda-se o espaço mínimo de 10m² na barraca por família e distância mínima de 3m entre as barracas. Para a melhor gestão do abrigo temporário, sugere-se a implantação de um sistema de comando nos moldes do SCO, propício para a organização dos dados do abrigo, das demandas, bem como da oferta e controle de recursos dos múltiplos órgãos em integração até a desmobilização do abrigo. Inicialmente, é importante que seja realizado, utilizando-se formulários padronizados, o cadastro e triagem das pessoas a serem abrigadas. O cadastro pode ser realizado por uma equipe de agentes de proteção e defesa civil e/ou de assistentes sociais. No cadastro serão verificadas as vulnerabilidades sociais das pessoas e realizados os encaminhamentos necessários ao atendimento pelos programas sociais existentes. 32 A equipe de triagem deve ser composta por profissionais de saúde. As pessoas com problemas de saúde que requeiram cuidados não disponíveis no local de abrigamento deverão ser encaminhadas pela equipe de triagem às unidades de referência no tratamento específico. A acomodação das pessoas no abrigo deve respeitar seus vínculos sociais, familiares e de vizinhança anteriores. As famílias que têm idosos e pessoas com necessidades especiais devem ficar em locais de fácil acesso ao banheiro, cozinha e refeitório. Para a segurança do abrigo, deve ser solicitada a intensificação das rondas da Polícia Militar, bem como a presença da Guarda Municipal. Pode-se ainda eleger um responsável pelo registro e guarda de bens de maior valor em local mais seguro, bem como se organizar uma ronda noturna. É necessário que se tenha uma pessoa responsável pelo controle permanente de entrada e saída do abrigo, a fim de prevenir furtos, bem como a apropriação indevida dos benefícios designados para as pessoas cadastradas no abrigo. Em atenção aos cuidados com a saúde, a equipe de gestão do abrigo temporário deve planejar visitas regulares de agentes de vigilância sanitária, de saúde, de endemias e de orientação nutricional, especialmente para acompanhamento dos grupos mais vulneráveis (crianças menores de 5 anos, gestantes, idosos, adultos com déficit nutricional, hipertensos e diabéticos). Para evitar a proliferação de doenças, deve ser providenciada, pelos profissionais de saúde ou de vigilância sanitária, a vacinação dos animais e alojamento destes em local cercado e higiênico. O lixo gerado no abrigo deverá ser colocado em sacos plásticos e mantido em local afastado das instalações e protegido de animais, até que seja coletado. Em abrigos que possuam estrutura e mão-de-obra para o preparo de refeições, deve ser designado um responsável pelo gerenciamento da cozinha, preferencialmente um nutricionista. Uma outra alternativa é a contratação de uma empresa especializada no preparo de refeições transportadas (quentinhas). Deve-se ainda organizar o horário de funcionamento da cozinha, tendo-se o cuidado de atender as necessidades das mães que preparam leite (mamadeiras) para seus filhos. Para o apoio psicossocial, favorecendo o processo de retorno à normalidade após o estresse causado pelo desastre, é importante que haja o acompanhamento das pessoas por profissionais de assistência social e psicologia. 33 Recomenda-se também a capacitação de voluntários para atuarem na área de recreação das crianças, com atividades lúdicas e de aprendizagem. O abrigo deve funcionar seguindo uma rotina preestabelecida, sempre se levando em conta o contexto sociocultural em que a comunidade afetada está inserida. Como são famílias com hábitos distintos e que nem sempre têm um contato habitual, é necessário que sejam estabelecidas normas comuns para que a convivência seja a mais harmoniosa possível. Nesse sentido, as regras devem ser claras, válidas para todos e estar afixadas em locais de fácil visibilidade. FIGURA 13 – Quadro de tarefas e avisos de um abrigo em Porto Velho/RO Fonte: Acervo fotográfico da CEDEC (2014). A participação dos abrigados na produção de refeições, bem como em outras atividades deve ser estimulada, pois ajuda a aumentar a autoestima e acelera o retorno à rotina normal. Contudo, deve-se evitar o desempenho de funções de distribuição de recursos, para evitar favorecimentos indevidos. Em comum acordo com as famílias, pode ser organizada uma escala de grupos responsáveis pela limpeza, manutenção e uso das áreas comuns (Figura 13). Atividades religiosas e educativas também podem ser estimuladas, assim como a formação de grupos de apoio mútuo, possibilitando a socialização dos ocupantes do abrigo e sua participação no processo de retorno à normalidade. Concluindo, foram apresentados nesta seção os aspectos básicos a serem tratados na gestão de um abrigo temporário. Vale lembrar que embora a gestão do abrigo se inicie com a sua implantação, ela deve ser planejada e articulada anteriormente, para a participação integrada de todos os órgãos com alguma atuação no local de abrigamento. 34 Na subseção a seguir são apresentadas algumas ações de resposta referentes ao abastecimento emergencial de água potável. Abastecimento Emergencial de Água Potável Diante das estiagens e secas, desastres mais prevalentes no Ceará, o abastecimento emergencial de água potável é a maior demanda de assistência à população afetada. Nesse sentido, são executadas no Ceará as denominadas Operações Carro-Pipa (OCP), sob gestão federal, estadual ou municipal. De acordo com Brasil (2012b), a OCP federal trata-se de uma mútua cooperação técnica e financeira entre a SEDEC e o Exército Brasileiro para a distribuição de água potável, em caráter complementar, à população do semiárido nos municípios em situação de emergência por estiagem ou seca reconhecida pela União. A solicitação da OCP federal é feita pelo Município, à SEDEC, por meio do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD). Aprovada a solicitação, é encaminhada ao Exército Brasileiro uma autorização da SEDEC para o início da operação. Os recursos financeiros para a execução da OCP federal são descentralizados pela SEDEC para o Exército, que se responsabiliza pela contratação e fiscalização dos pipeiros, que são os proprietários de caminhões pipa que fazem o transporte da água potável do ponto de captação até a comunidade a ser abastecida. Quando a água transportada não é proveniente de órgão responsável pelo fornecimento de água para consumo humano, cabe ao Município o monitoramento da qualidade da mesma. Para se ter uma amostra da dimensão da OCP federal, somente no mês de outubro de 2018,no estado do Ceará, foram beneficiadas 313.514 pessoas da área rural de 60 municípios, por meio de 716 carros-pipa contratados pelo Exército, segundo o Portal da Operação Pipa (2019). As demandas de abastecimento emergencial complementar em sedes municipais (áreas urbanas) ou nos municípios que não integram o semiárido são atendidas pela CEDEC/CBMCE por meio da OCP estadual (Figura 14). Quando o recurso financeiro para a execução da OCP estadual é proveniente de transferência obrigatória da SEDEC, é necessário que o Município beneficiário esteja em situação de emergência por estiagem ou seca reconhecida pela União. 35 FIGURA 14 – Atendimento da OCP estadual Fonte: Acervo fotográfico da CEDEC. Para execução da OCP estadual, a CEDEC contrata pipeiros devidamente credenciados e selecionados por meio de sorteio. A CEDEC não autoriza a captação de água que não seja oriunda de órgão responsável pelo fornecimento de água para consumo humano. A solicitação da OCP estadual é feita por meio de ofício da Prefeitura. Quando o pedido se refere ao atendimento de sedes municipais (áreas urbanas), deve ser acompanhado de documento, emitido pelo órgão responsável pelo fornecimento de água, atestando o colapso hídrico (CEARÁ, 2015). A OCP municipal é executada por meio de caminhão da carga do Município ou por ele alugado, sendo gerenciada e custeada com recursos da própria Prefeitura. Como se trata de um abastecimento emergencial, a água da OCP deve ser utilizada apenas para o consumo humano, sendo sua quantidade dimensionada multiplicando-se o número de pessoas a serem atendidas por 20 litros por dia, conforme o padrão internacional de assistência às vítimas de desastres. O Poder Público deve considerar ainda outras possibilidades para o abastecimento emergencial da população afetada pelas estiagens e secas, como a instalação de poços profundos e de adutoras de engate rápido. Nesse sentido, essas alternativas são consideradas ações de resposta a desastres, pois têm o objetivo de restabelecer o abastecimento de água potável. A partir da instalação de poços profundos são construídos sistemas simplificados de abastecimento de água (Figura 15), para o atendimento de pequenas comunidades. Quando a água do poço profundo contém alto teor de sal, o sistema pode contar com um aparelho dessalinizador, tornando a água própria para o consumo humano. 36 FIGURA 15– Sistema simplificado de abastecimento de água Fonte: Acervo fotográfico da CEDEC. As adutoras de engate rápido (Figura 16) são instaladas emergencialmente ao longo de estradas, desde o ponto de captação da água nos reservatórios ainda com volume suficiente para o abastecimento de grandes populações, até as estações de tratamento de água das sedes municipais em situação de colapso hídrico. FIGURA 16 – Adutora de engate rápido Fonte: Acervo fotográfico da CEDEC. Após a recarga do reservatório de água da cidade, a adutora de engate rápido pode ser desmontada e armazenada, bem como transferida para outra região que esteja em colapso hídrico. Entre 2013 e 2016, anos de grave seca no Ceará, a CEDEC/CBMCE contratou empresas para a instalação de 642 sistemas simplificados de abastecimento de água, bem como para a montagem de 10 adutoras de engate rápido, beneficiando 85 municípios e 11 sedes municipais, respectivamente. 37 Visando ao retorno da normalidade social da área afetada pelo desastre, concomitantemente ou após a execução das ações de resposta, por vezes é necessária a implementação de ações de recuperação. Este tema é tratado na seção a seguir. 2.3 Recuperação de Cenários de Desastres A recuperação de cenários de desastres é a última fase do ciclo de gestão de proteção e defesa civil e abrange o conjunto de ações destinadas à reconstrução da infraestrutura danificada ou destruída, à reabilitação da economia e do meio ambiente da comunidade atingida, propiciando o seu retorno à condição de normalidade e o bem- estar social (BRASIL, 2020b). As ações de recuperação devem levar em conta a prevenção e a mitigação de novos desastres. Segundo Brasil (2017b), são exemplos de ações de recuperação: a abertura de linhas de crédito subsidiado ou a isenção de impostos para recompor a capacidade produtiva; a reconstrução de casas populares em condições e áreas seguras, bem como de canais danificados ou destruídos; e a reedificação de pontes permanentes e capazes de resistir à magnitude dos eventos adversos recorrentes na região afetada. Para a recuperação econômica das áreas afetadas por desastres, foram criados os seguintes benefícios pela legislação federal: Possibilidade de movimentação da conta do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) pelo seu titular residente em áreas atingidas por determinados desastres naturais que ensejem situação anormal reconhecida pelo Governo Federal (BRASIL, 2004); Redução do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) de até 90% no caso de o imóvel ter sido atingido por causa determinante de estado de calamidade pública decretado pelo Poder Público (BRASIL, 1980); Antecipação do cronograma de pagamento e do valor correspondente a uma renda mensal aos beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) domiciliados nos Municípios em estado de calamidade pública reconhecida pelo Governo Federal (BRASIL, 2010a); e 38 Liberação de linhas de crédito especiais, com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste, destinadas a atender os setores produtivos rural, industrial, comercial e de serviços dos Municípios em situação de emergência ou estado de calamidade pública reconhecida pelo Poder Executivo federal (BRASIL, 2001a). A legislação federal também determina a prioridade de atendimento no Programa Minha Casa Minha Vida às famílias residentes em áreas de risco, insalubres, que tenham sido desabrigadas ou que perderam a moradia em razão de enchente, alagamento, transbordamento ou em decorrência de qualquer desastre natural do gênero (BRASIL, 2009). Você tinha conhecimento desses benefícios? A maioria deles só é possível a partir do reconhecimento federal de uma situação de emergência ou de estado de calamidade pública. Esse reconhecimento federal normalmente é feito após uma homologação estadual dessas situações, a qual, no Ceará, é de responsabilidade da CEDEC/CBMCE. As obras de reconstrução pós-desastres, que contribuem decisivamente para o retorno à normalidade social, devem estar fundamentadas no princípio de tornar as infraestruturas mais resistentes aos eventos adversos, ou seja, torná-las mais resilientes. Assim, essas obras são uma oportunidade para “reconstruir melhor”, sendo esta uma das quatro prioridades estabelecidas no Marco de Sendai, acordo vigente no período de 2015 a 2030, do qual o Brasil é signatário (UNISDR, 2015). Nesse sentido, os Estados e Municípios devem dispor de profissionais qualificados e habilitados para planejar e fiscalizar a execução das ações de reconstrução, por vezes obras de grande valor e complexidade. FIGURA 17 – Casas populares reconstruídas em Itatira/CE Fonte: Acervo fotográfico da CEDEC. 39 A título de exemplificação, somente em 2008 e 2009, para a reconstrução de casas populares (Figura 17) e recuperação da infraestrutura pública (estradas, passagens molhadas e bueiros, por exemplo) danificada ou destruída por inundações e enxurradas em 133 municípios, a CEDEC/CBMCE gerenciou o montante de 93,87 milhões de reais. Nesse período, a CEDEC/CBMCE realizou 23 contratações de empresas da construção civil, tendo a interveniência técnica da Secretaria da Infraestrutura e da Secretaria dos Recursos Hídricos, órgãos com expertise em obras rodoviárias e hidráulicas, respectivamente. Também foram firmados convênios para a transferência de recursos para 132municípios a fim de serem reconstruídas casas populares, bem como recuperadas estradas vicinais e passagens molhadas. FIGURA 18 – Canal do rio Granjeiro no Crato/CE, reconstruído após enxurrada ocorrida em 2011 Fonte: Acervo fotográfico da CEDEC. Logo em seguida, no ano de 2011, a CEDEC/CBMCE foi gestora de recursos financeiros de transferência obrigatória da União para obras de reconstrução de parte do canal do rio Granjeiro (Figura 18), o qual fora parcialmente destruído devido a uma enxurrada ocorrida naquele ano no município do Crato/CE (Figura 19). 40 FIGURA 19 – Canal do rio Granjeiro no Crato/CE, destruído parcialmente após enxurrada em 2011 Fonte: Acervo fotográfico da CEDEC. Essa obra contratada pela CEDEC/CBMCE foi executada com o apoio técnico do Departamento de Arquitetura e Engenharia, órgão vinculado à Secretaria da Infraestrutura do Ceará. A partir desses exemplos, infere-se que apesar de o gerenciamento de obras não ser uma expertise da CEDEC, como esta coordenadoria é o órgão estadual responsável pela gestão de recursos financeiros para a execução de ações de defesa civil no Ceará (CEARÁ, 2007), cabe a ela firmar acordos de cooperação técnica com outros órgãos do Estado a fim de cumprir o seu mister. Nesse sentido, são detalhados na seção a seguir os principais aspectos administrativos a serem observados pelos integrantes da CEDEC/CBMCE na gestão de desastres. 2.4 Aspectos Administrativos da Gestão de Desastres Nesta seção são discriminados os principais aspectos administrativos a serem observados pelos agentes da CEDEC/CBMCE na gestão de desastres, desde a declaração ou homologação de situação anormal até a prestação de contas de recursos transferidos pela União para ações de resposta e de recuperação de áreas atingidas por desastres no Ceará. 41 Processo Legal de Declaração de Situação Anormal Ocorrido o desastre, para facilitar a gestão administrativa e captar recursos complementares para ações de resposta e recuperação da área afetada, é necessário confeccionar um processo legal de declaração de situação anormal, cujos critérios e procedimentos são estabelecidos por Brasil (2020b). O primeiro passo para a instrução desse processo é constituir uma equipe de avaliação de danos e prejuízos, formada por agentes de proteção e defesa civil, bem como por outros especialistas, conforme o caso, para determinar o nível do desastre. A caracterização do nível do desastre definirá a situação anormal a ser declarada pelo Poder Executivo do ente federativo atingido pelo desastre: situação de emergência ou estado de calamidade pública. Situação de Emergência (SE) é a “situação anormal, provocada por desastres, causando danos e prejuízos que impliquem o comprometimento parcial da capacidade de resposta do poder público do ente federativo atingido”. Já o Estado de Calamidade Pública (ECP) é caracterizado quando há o comprometimento substancial da capacidade de resposta do Poder Executivo do ente federativo atingido. A equipe de avaliação de danos e prejuízos deverá dividir tarefas, definir meios e equipamentos, bem como organizar o trabalho de reunião de informações visando à celeridade do processo sob sua responsabilidade, haja vista a necessidade de resposta emergente à situação anormal. Para se determinar o nível do desastre são avaliados os danos e prejuízos dele resultantes em comparação com a capacidade de resposta local. São três os níveis de intensidade dos desastres: I (pequena intensidade): quando há somente danos humanos consideráveis e a situação de normalidade pode ser restabelecida com os recursos mobilizados em nível local ou complementados com o aporte de recursos estaduais e federais. II (média intensidade): quando os danos e prejuízos são suportáveis e superáveis pelos governos locais e a situação de normalidade pode ser restabelecida com os recursos mobilizados em nível local ou complementados com o aporte de recursos estaduais e federais. Esses desastres são caracterizados pela ocorrência de ao menos dois danos – sendo um deles obrigatoriamente dano humano – que importem no prejuízo econômico 42 público, ou no prejuízo econômico privado, que afetem a capacidade do poder público local em responder e gerenciar a crise instalada. III (grande intensidade): quando os danos e prejuízos não são superáveis e suportáveis pelos governos locais e o restabelecimento da situação de normalidade depende da mobilização e da ação coordenada das três esferas de atuação do SINPDEC e, em alguns casos, de ajuda internacional. Esses desastres são caracterizados pela concomitância na existência de óbitos, isolamento de população, interrupção de serviços essenciais, interdição ou destruição de unidades habitacionais, danificação ou destruição de instalações públicas prestadoras de serviços essenciais e obras de infraestrutura pública. Os desastres de nível I e II ensejam a declaração de SE, enquanto os desastres de nível III, a de ECP. Finalizada a avaliação dos danos e prejuízos, bem como da resposta efetuada, o órgão de proteção e defesa civil do ente atingido determinará o nível do desastre. Em seguida, considerando os critérios e procedimentos estabelecidos por Brasil (2020b), emitirá um Parecer Técnico fundamentando a necessidade da declaração da situação anormal. Com base nesse Parecer Técnico, o chefe do Poder Executivo municipal ou estadual poderá declarar a situação anormal. Quando os desastres forem resultantes de um mesmo evento adverso e atingirem mais de um município concomitantemente, a declaração de situação anormal poderá ser feita pelo Poder Executivo estadual. A declaração da situação anormal é feita por meio de um Decreto, publicado para estabelecer uma situação jurídica especial a fim de agilizar a execução das ações de resposta e de recuperação das áreas atingidas pelo desastre. Com base nesse Decreto, poder-se-á, por exemplo, dispensar a licitação, conforme o previsto na Lei nº 14.133/2021: Art. 75. É dispensável a licitação: (...) VIII - nos casos de emergência ou de calamidade pública, quando caracterizada urgência de atendimento de situação que possa ocasionar prejuízo ou comprometer a continuidade dos serviços públicos ou a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou particulares, e somente para aquisição dos bens necessários ao atendimento da situação emergencial ou calamitosa e para as parcelas de obras e serviços que possam ser concluídas no prazo máximo de 1 (um) ano, 43 contado da data de ocorrência da emergência ou da calamidade, vedadas a prorrogação dos respectivos contratos e a recontratação de empresa já contratada com base no disposto neste inciso (BRASIL, 2021a). O prazo máximo de vigência do Decreto de declaração de situação anormal é de 180 dias a contar da data da sua publicação. A seguir são descritos os procedimentos para requerimento da homologação estadual, bem como do reconhecimento federal da situação anormal. O requerimento de reconhecimento federal da situação anormal decretada deve conter a fundamentação legal desse processo, a necessidade comprovada de auxílio complementar federal, bem como a especificação dos recursos ou benefícios federais a serem pleiteados para a resposta e recuperação da área afetada pelo desastre. Esse requerimento deve estar acompanhado dos seguintes documentos: Formulário de Informações do Desastre (FIDE), contendo os dados do(s) ente(s) federado(s) atingido(s) e informações do desastre, tais como o tipo, as causas, a área afetada, os danos e os prejuízos; Declaração Municipal/Estadual de Atuação Emergencial (DMATE/DEATE), contendo os dados da resposta dada pelo Município/Estado para o restabelecimento da normalidade; Relatório fotográfico, demonstrando a relaçãodireta do desastre com os prejuízos econômicos e, quando possível, com os danos declarados; Parecer Técnico do órgão municipal/estadual de proteção e defesa civil, contemplando a avaliação dos danos e prejuízos, bem como da resposta efetuada e fundamentando a necessidade de declaração de situação anormal, de acordo com os critérios e procedimentos estabelecidos na norma vigente; Decreto de declaração da situação anormal (SE ou ECP); Outros documentos ou registros, assinados pelos seus emissores, que comprovem as informações declaradas, tais como: laudos de chuvas e do nível dos reservatórios d’água, relatórios de perdas agrícolas e comprovantes das ações de resposta já realizadas. 44 O prazo máximo para envio do requerimento de reconhecimento federal é de 10 dias, contados da data da ocorrência do desastre, no caso de desastres súbitos, ou contados da data do Decreto, no caso de desastres graduais ou de evolução crônica. O envio do requerimento e seus anexos se dá por meio do S2ID (BRASIL, 2012c) (FIGURA 20), ficando acessível simultaneamente para análise da União e do Estado. FIGURA 20 – Tela inicial do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD) Fonte: S2iD (2021). Após análise técnica do processo pela União, realizada por equipe do CENAD, o Secretário Nacional de Proteção e Defesa Civil poderá efetivar o reconhecimento federal por meio de Portaria publicada no Diário Oficial da União (DOU). Semelhantemente, o Estado do Ceará, após análise técnica do processo pela CEDEC, poderá homologar a situação anormal decretada pelo Município. Para fortalecer o SINPDEC, é uma prática da SEDEC, para fins de reconhecimento federal, solicitar a prévia análise e homologação estadual dos processos registrados no S2ID pelos Municípios do respectivo estado. Assim, na Figura 21 apresenta-se um fluxograma do processo de declaração de situação anormal (SE ou ECP), desde a ocorrência do desastre até seu envio para o reconhecimento federal. 45 FIGURA 21 – Fluxograma do processo de declaração de situação anormal Fonte: Adaptado de Brasil (2020b). Homologada e/ou reconhecida a situação anormal, o ente federado atingido poderá solicitar recursos materiais e financeiros para a gestão do desastre, conforme o exposto na subseção a seguir. Recursos Financeiros Para Ações de Resposta e Recuperação A transferência de recursos financeiros do Governo do Estado do Ceará solicitados pelos entes municipais para ações de resposta e de recuperação de cenários de desastres dá-se mediante a formalização de convênio com o CBMCE, que é o órgão ao qual é vinculada a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (CEDEC), gestora do Fundo de Defesa Civil do Estado do Ceará (FDCC). Para tanto, é necessária a homologação estadual da situação anormal (CEARÁ, 2010). Apesar dessa possibilidade de transferência de recursos financeiros do Estado para os Municípios, para fins de execução de ações complementares de resposta e de recuperação de cenários de desastres, os entes federativos cearenses têm a prática de recorrer à União para receber esses recursos. 46 Isso porque, segundo Brasil (2010c), são obrigatórias as transferências de recursos da União aos entes federativos para a execução de ações, tanto de intervenção em áreas de risco a fim de mitigar a ocorrência de desastres, quanto de resposta e de recuperação em áreas atingidas por desastres. O montante a ser transferido pela União é definido pela SEDEC, de acordo com a disponibilidade orçamentária e financeira e as informações do ente atingido pelo desastre. Para a transferência obrigatória de recursos de resposta e de recuperação é necessário o reconhecimento federal da situação anormal; exceto quando compreender exclusivamente o socorro e a assistência às vítimas, mediante solicitação motivada e comprovada do fato pelo ente beneficiário. Nesse caso, o ente recebedor do recurso fica responsável pela posterior apresentação dos documentos e informações necessárias para análise do reconhecimento federal. Existem procedimentos específicos para a solicitação de recursos financeiros de resposta e de recuperação, a qual deve ser obrigatoriamente realizada por meio do S2ID (BRASIL 2017a). A solicitação de recursos financeiros para resposta aos desastres deve conter: os dados do proponente; as informações do desastre; a descrição e justificativa das metas e itens da proposição, bem como seus respectivos valores requisitados. No ato da solicitação deve ser assumido o compromisso de aplicar os recursos financeiros estritamente na execução das ações propostas. Também deve ser indicada a conta bancária em que os recursos deverão ser depositados. Essa conta deverá, obrigatoriamente, ter um Cartão de Pagamento de Defesa Civil (CPDC) a ela vinculada, conforme detalhado mais adiante. A solicitação de recurso é analisada por uma equipe técnica do CENAD e, estando de acordo com a legislação, encaminhada ao Secretário da SEDEC para deliberação. Se aprovada, a transferência do recurso é autorizada por meio de uma Portaria publicada no DOU (Figura 22). Nessa portaria também é determinado o prazo para a execução do recurso. Em seguida, o recurso é transferido para a conta informada pelo ente, que a movimentará utilizando o CPDC. 47 FIGURA 22 – Exemplo de Portaria de autorização de transferência obrigatória de recursos da União Fonte: Brasil (2015). Segundo Brasil (2020e), o CPDC (Figura 23) é um “instrumento de pagamento, isento de taxa de adesão e anuidade, emitido em nome do órgão ou entidade do Estado, Distrito Federal ou Município beneficiário, operacionalizado por instituição financeira oficial federal, utilizado exclusivamente pelo portador nele identificado”. Esse cartão foi criado para dar mais transparência e agilizar o controle dos recursos para resposta aos desastres, pois os gastos, quando efetuados, em poucos dias são demonstrados no Portal da Transparência do Governo Federal. 48 FIGURA 23 – Modelo de Cartão de Pagamento de Defesa Civil (CPDC) Fonte: Brasil (2017c). Os entes federados beneficiários de transferências obrigatórias da União para execução de ações de resposta devem firmar contrato de prestação de serviços com a instituição financeira responsável pela operacionalização do CPDC, atualmente o Banco do Brasil, e ficam responsáveis por todas as transações efetuadas com o uso do cartão. No Estado do Ceará, adotou-se a prática de o Portador do CPDC ser o oficial superior bombeiro militar Coordenador da CEDEC, por ser ele o gestor do FDCC, cujas contas são destinadas para o recebimento de recursos de transferências obrigatórias da União. A conta de vinculação do CPDC permanece zerada, sem custo algum, até que haja a transferência obrigatória de recursos federais para ações de resposta. Vale ressaltar que o CPDC é um instrumento de pagamento, não substituindo ou desobrigando o devido processo legal para aquisição ou contratação de quaisquer bens ou serviços, bem como a devida prestação de contas dos recursos recebidos. Durante a execução do recurso financeiro de resposta, deverá ser encaminhado trimestralmente à SEDEC o relatório de execução parcial. Esse relatório é exigido para a liberação de parcelas subsequentes do recurso empenhado, quando for o caso. Em até 30 (trinta) dias após o término do prazo para a execução dos recursos, o ente beneficiado deve encaminhar à SEDEC os documentos da prestação de contas final: (i) relatório de execução física, instruído com fotografias datadas e georreferenciadas; (ii) declaração de cumprimento do objeto e atingimento dos objetivos; (iii) cópia do termo de aceitação definitiva da obra ou serviço de engenharia, quando for o caso; e (iv) outros documentos solicitados, quando necessário (BRASIL, 2020d).Os documentos são analisados quanto aos aspectos técnicos e financeiros e contábeis, verificando-se o cumprimento do objeto e do atingimento dos objetivos aprovados pela SEDEC. 49 Para solicitação de recursos financeiros para reconstrução de cenários de desastres, é necessário apresentar, no S2ID, em até 90 (noventa) dias após o desastre, um Plano de Trabalho e o Relatório de Diagnóstico. O Plano de Trabalho deve conter os dados cadastrais do ente solicitante e de outros partícipes, os dados bancários da conta específica para receber os recursos, a descrição sumária das obras a reconstruir, o custo global estimado das obras, bem como o compromisso de aplicar os recursos financeiros estritamente na execução das ações propostas. O Plano deve ser assinado por autoridade do ente federativo solicitante do recurso, bem como por seu responsável técnico, que responde pelo orçamento estimativo que subsidiou o valor global do recurso solicitado (BRASIL, 2020c). O Relatório de Diagnóstico deve demonstrar, de forma inequívoca, que a necessidade de realização de cada obra é decorrente do desastre. Com base no que é informado no Plano de Trabalho e no Relatório de Diagnóstico é feita uma análise técnica da solicitação pelo Departamento de Obras de Proteção e Defesa Civil da SEDEC. Essa análise verifica: (i) a localização de cada meta em relação à delimitação das áreas afetadas e descritas no FIDE; (ii) a adequabilidade de cada meta à classificação funcional-programática da ação orçamentária de recuperação, verificando a coerência das informações contidas no Relatório de Diagnóstico; e (iii) o custo global estimativo de cada meta, baseado em valores pagos pela administração pública em serviços e obras similares ou aferido mediante orçamento sintético ou metodologia expedita ou paramétrica. Aprovada a solicitação, o recurso financeiro correspondente é pré-empenhado, momento em que o ente solicitante é informado oficialmente que está autorizado a iniciar a seleção da empresa que será contratada para executar as obras previstas no Plano de Trabalho. Selecionada a empresa, o ente beneficiário deverá encaminhar à SEDEC o Plano de Trabalho atualizado com as metas aprovadas e os respectivos valores a serem contratados, bem como documentos que atestem a regularidade técnica e legal do processo de contratação das obras, de acordo com os modelos estabelecidos por Brasil (2020c). 50 Em seguida, o recurso financeiro para a execução do Plano de Trabalho atualizado é autorizado por meio de uma Portaria da SEDEC (Figura 22) publicada no DOU e transferido para uma conta específica do ente solicitante. Nesse caso os gastos não são efetuados pelo CPDC. No Estado do Ceará, esses recursos são destinados a uma conta do FDCC, gerido pela CEDEC/CBMCE. Recebido o recurso, o ente efetivará a contratação da empresa para a execução das obras de reconstrução previstas no Plano de Trabalho. Durante a execução do Plano de Trabalho, para o pagamento das demais parcelas do recurso, deverá ser encaminhado à SEDEC o relatório de progresso da obra e a declaração do fiscal do contrato de que a execução da obra está de acordo com a legislação vigente. Ressalte-se que o ente beneficiário do recurso de transferência obrigatória da União somente poderá executar qualquer despesa com esses recursos financeiros após integrá- los ao seu orçamento público, conforme estabelece Brasil (1964). Essa integração se dará por meio de: (i) suplementação orçamentária, no caso de já existir rubrica orçamentária adequada para a execução do recurso recebido; ou (ii) por abertura de crédito extraordinário ou especial no orçamento vigente, caso não exista rubrica orçamentária adequada. O acompanhamento, a fiscalização e o controle da execução das ações de resposta e de recuperação custeadas por recursos de transferências obrigatórias da União são de inteira responsabilidade do ente beneficiado. Não obstante, podem ocorrer visitas técnicas da SEDEC, dos órgãos de controle e do fiscal designado pelo órgão contratante. Caso necessite de prorrogação do prazo estabelecido para a execução do recurso de resposta ou de recuperação, o ente deverá solicitá-la por meio de ofício, com as justificativas do pleito, enviado à SEDEC com antecedência mínima de 30 (trinta) dias do término do prazo vigente. Após o término da execução do objeto ou do prazo para a execução do recurso de resposta ou de recuperação, o ente beneficiário deverá encaminhar à SEDEC, em até 30 dias, a prestação de contas final, composta dos seguintes documentos: I - relatório de execução físico-financeira; II - demonstrativo da execução da receita e despesa, evidenciando os recursos recebidos e eventuais saldos; III - relação de pagamentos e de bens adquiridos, produzidos ou construídos; 51 V (sic) - extrato da conta bancária específica do período do recebimento dos recursos e conciliação bancária, quando for o caso; VI - relação de beneficiários, quando for o caso; VII - cópia do termo de aceitação definitiva da obra ou serviço de engenharia, quando for o caso; e VIII - comprovante de recolhimento do saldo de recursos, quando houver. Não são enviados, para a prestação de contas, os contratos, notas fiscais e nem cópias desses documentos (BRASIL 2010b). A prestação de contas é analisada quanto aos aspectos técnicos e financeiros, podendo ser solicitada complementação. Caso a prestação de contas não seja enviada, ou não seja complementada no prazo estipulado, é instaurada uma Tomada de Contas Especial (TCE), que tramita no âmbito do Tribunal de Contas da União (TCU). Nesse caso, o ente poderá ser incluído em cadastro de inadimplentes, quando ficará impedido de receber recursos financeiros da União, podendo seu gestor ser responsabilizado, tendo de devolver, com seu próprio patrimônio, os valores recebidos. Os entes beneficiários deverão manter, pelo prazo de 5 (cinco) anos, contados da data de aprovação da prestação de contas, os documentos a ela referentes, ficando obrigados a disponibilizá-los, sempre que solicitado por órgão competente (BRASIL, 2010b). Assim, o coordenador da CEDEC/CBMCE, enquanto gestor do FDCC, com o apoio de sua equipe técnica, tem uma grande responsabilidade quanto à aplicação dos recursos financeiros transferidos ao Fundo pela União. Para se ter uma dimensão dessa responsabilidade, somente nos anos de 2012 a 2018, o FDCC recebeu 212,8 milhões de reais da União para a execução de ações de proteção e defesa civil no Ceará (PORTAL DA TRANSPARÊNCIA, 2019). A boa gestão desses – e de outros – recursos de proteção e defesa civil, além de abnegação, empenho e capacidade de articulação do gestor do FDCC – e de sua equipe de trabalho, composta por bombeiros militares –, requer bastante conhecimento técnico dos temas tratados nesta apostila. Aqui se finaliza o conteúdo desta disciplina. Espera-se que, de posse desse conhecimento, você esteja mais preparado para atuar em situações de desastres, especialmente como agente de proteção e defesa civil. 52 REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto nº 5.113, de 22 de junho de 2004. Regulamenta o art. 20, inciso XVI, da Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990, que dispõe sobre o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 24 jun. 2004. BRASIL. Decreto nº 7.223, de 29 de junho de 2010. Altera os arts. 19 e 169 do Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999, e o art. 3º do Decreto nº 6.722, de 30 de dezembro de 2008. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 29 jun. 2010. 2010a. BRASIL. Decreto nº 7.257, de 04 de agosto de 2010. Dispõe sobre o Sistema Nacional de Defesa Civil - SINDEC, sobre o reconhecimento de situação de emergência e estado de calamidade pública, sobre as transferências de recursospara ações de socorro, assistência às vítimas, restabelecimento de serviços essenciais e reconstrução nas áreas atingidas por desastre, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 05 ago. 2010. 2010b. BRASIL. Decreto nº 7.616, de 17 de novembro de 2011. Dispõe sobre a declaração de Emergência em Saúde Pública de Interesse Nacional – ESPIN e institui a Força Nacional do Sistema Único de Saúde – FN-SUS. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 18 nov. 2011. BRASIL. Decreto nº 10.290, de 24 de março de 2020. Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções de Confiança do Ministério do Desenvolvimento Regional e remaneja e transforma cargos em comissão e funções de confiança. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 24 mar. 2020. 2020a. BRASIL. Decreto nº 84.685, de 06 maio de 1980. Regulamenta a Lei nº 6.746, de 10 de dezembro de 1979, que trata do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural – ITR, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 07 mai. 1980. BRASIL. Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 23 mar. 1964. BRASIL. Lei nº 10.177, de 12 de janeiro de 2001. Dispõe sobre as operações com recursos dos Fundos Constitucionais de Financiamento do Norte e Nordeste, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 15 jan. 2001. 2001a. BRASIL. Lei nº 11.977, de 07 de julho de 2009. Dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida – PMCMV, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa 53 do Brasil, Brasília, 08 jul. 2009. BRASIL. Lei nº 12.340, de 1º de dezembro de 2010. Dispõe sobre as transferências de recursos da União aos órgãos e entidades dos Estados, Distrito Federal e Municípios para a execução de ações de prevenção em áreas de risco de desastres e de resposta e de recuperação em áreas atingidas por desastres; e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 02 dez. 2010. 2010c. BRASIL. Lei nº 12.608, de 10 de abril de 2012. Institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil - PNPDEC; dispõe sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil - SINPDEC e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil - CONPDEC; e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 11 abr. 2012. 2012a. BRASIL. Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021. Lei de Licitações e Contratos Administrativos. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 01 abr. 2021. 2021a. BRASIL. Ministério da Cidadania. Portaria MC nº 618, de 22 de março de 2021. Dispõe sobre procedimentos para a Ação de Distribuição de Alimentos (ADA) nas localidades em situação de emergência ou estado de calamidade pública. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 22 mar. 2021. 2021b. BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Ministério da Defesa. Portaria nº 01/MI/MD, de 25 de julho de 2012. Dispõe sobre a mútua cooperação técnica e financeira entre os Ministérios da Integração Nacional e da Defesa para a realização de ações complementares de apoio às atividades de distribuição de água potável às populações atingidas por estiagem e seca na região do semiárido nordestino e região norte dos Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo, denominada Operação Carro-Pipa. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 26 jul. 2012. 2012b. BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Portaria nº 215, de 4 de abril de 2017. Estabelece a utilização do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres - S2ID na transferência de recursos federais para as ações de resposta e de recuperação para Estados e Municípios afetados por desastres. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 06 abr. 2017. 2017a. BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Portaria nº 526, de 6 de setembro de 2012. Estabelece procedimentos para a solicitação de reconhecimento de Situação de Emergência ou de Estado de Calamidade Pública por meio do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres - S2ID. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 10 set. 2012. 2012c. BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa Civil. Portaria nº 143, de 20 de junho de 2015. Autoriza empenho e transferência de recursos para ações de Defesa Civil ao Estado do Ceará. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 01 jul. 2015. 54 BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa Civil. Portaria nº 302, de 24 de outubro de 2001. Cria a Rede Nacional de Emergência de Radioamadores - RENER. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 26 out. 2001. 2001b. BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil. Departamento de Prevenção e Preparação. Recuperação: gestão de recursos federais em proteção e defesa civil para reconstrução: livro base. Brasília: Ministério da Integração Nacional, 2017. 2017b. BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil. Departamento de Prevenção e Preparação. Resposta: gestão de desastres, decretação e reconhecimento federal e gestão de recursos federais em proteção e defesa civil para resposta: livro base. Brasília: Ministério da Integração Nacional, 2017. 2017c. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Regional. Instrução Normativa nº 36, de 4 de dezembro de 2020. Estabelece procedimentos e critérios para o reconhecimento federal e para declaração de situação de emergência ou estado de calamidade pública pelos municípios, estados e pelo Distrito Federal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 07 dez. 2020. 2020b. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Regional. Portaria nº 3.033, de 4 de dezembro de 2020. Define procedimentos a serem adotados pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil para as transferências de recursos da União aos órgãos e entidades dos estados, Distrito Federal e municípios para a execução de ações de prevenção em áreas de risco de desastres e de recuperação em áreas atingidas por desastres. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 7 dez. 2020. 2020c. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Regional. Portaria nº 3.036, de 4 de dezembro de 2020. Estabelece procedimentos para análise técnica da prestação de contas final, pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, dos recursos transferidos pela União aos órgãos e entidades dos estados, Distrito Federal e municípios para a execução de ações de resposta em áreas atingidas por desastres, disciplinadas pela Lei n. 12.340, de 1º de dezembro de 2010, e respectiva regulamentação. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 7 dez. 2020. 2020d. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Regional. Portaria nº 3.040, de 4 de dezembro de 2020. Regulamenta o uso do Cartão de Pagamento de Defesa Civil (CPDC). Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 07 dez. 2020. 2020. 2020e. CEARÁ. Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará. Portaria nº 108, de 08 de outubro de 2015. Disciplina os procedimentos operacionais para celeridade na inclusão de Município cearense na Operação Carro Pipa – OCP, coordenada pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil – CEDEC. Diário Oficial do Estado [do] Ceará, Fortaleza, 09 nov. 2015. CEARÁ. Decreto nº 28.656, de 26 de fevereiro de 2007. Reorganiza o Sistema Estadual de Defesa Civil – SEDC e o Conselho Estadual de Defesa Civil, dispõe sobre a Coordenadoria 55 Estadual de Defesa Civil e dá outrasprovidências. Diário Oficial do Estado [do] Ceará, Fortaleza, 06 mar. 2007. CEARÁ. Decreto nº 30.909, de 02 de maio de 2012. Institui o Comitê Integrado de Combate à Seca, e dá outras providências. Diário Oficial do Estado [do] Ceará, Fortaleza, 03 mai. 2012. CEARÁ. Lei nº 16.710, de 21 de dezembro de 2018. Dispõe sobre o modelo de gestão do poder executivo, altera a estrutura da administração estadual. Diário Oficial do Estado [do] Ceará, Fortaleza, 27 dez. 2018. CEARÁ. Lei Complementar nº 88, de 09 de março de 2010. Cria o Fundo de Defesa Civil do Estado do Ceará – FDCC, e dá outras providências. Diário Oficial do Estado [do] Ceará, Fortaleza, 12 mar. 2010. EMATERCE. Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará. Relatório de Situação da Safra no Estado do Ceará - 2012. Disponível em http://www.ematerce.ce.gov.br/index.php/publicacoes/category/21-situacao-da- producao-2012. Acesso em: 18 nov. 2016. 2012. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Ceará. Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ce/panorama. Acesso em: 11 jun. 2019. 2018. IPECE. Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará. PIB Trimestral do Ceará: 4º trimestre e acumulado de janeiro a dezembro de 2012. Disponível em http://www.ipece.ce.gov.br/estudos_economicos/pib/PIB_2012.pdf. Acesso em 09 out. 2016. 2012. ISDR. Estratégia Internacional para la Redución de Desastres. Terminología sobre Reducción del Riesgo de Desastres. Geneva: ONU, 2009. Disponível em: http://www.unisdr.org/files/7817_UNISDRTerminologySpanish.pdf. Acesso em: 21 jun. 2017. 2009. MELO, Francisco das Chagas Brandão. A importância da educação comunitária para o enfrentamento de abalos sísmicos. 2017. Dissertação (Curso de Mestrado em Ciências da Educação). Florida Christian University, João Pessoa, 2017. NASCIMENTO, José Luciano Viana do. História do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (Dos seus primórdios aos dias atuais). Fortaleza: RDS Editora, 2014. OLIVEIRA, Marcos de. Livro texto do Projeto Gerenciamento de Desastres – Sistema de Comando em Operações. Florianópolis: Ministério da Integração Nacional, Secretaria Nacional de Defesa Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres, 2010. PORTAL DA OPERAÇÃO PIPA. Exército Brasileiro. Resumo Geral. Ceará. Disponível em http://sedec.5cta.eb.mil.br/. Acesso em: 21 jun. 2019. PORTAL DA TRANSPARÊNCIA. Governo Federal. Convênios e outros acordos. Disponível em http://www.transparencia.gov.br/convenios/. Acesso em: 22 jun. 2019. 56 RIO DE JANEIRO. Secretaria de Estado da Defesa Civil do Rio de Janeiro. Administração para Abrigos Temporários. 1ª ed. Rio de Janeiro: SEDECRJ, 2006. S2ID. Sistema Integrado de Informações sobre Desastres. Relatórios. Disponível em https://S2iD.mi.gov.br/paginas/relatorios/. Acesso em: 02 abr. 2021. UFSC. Universidade Federal de Santa Catarina. Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres. Atlas Brasileiro de Desastres Naturais 1991 a 2012. 2 Ed. rev. ampl.. Florianópolis: CEPED UFSC, 2013. 2013a. UFSC. Universidade Federal de Santa Catarina. Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres. Atlas brasileiro de Desastres Naturais 1991 a 2012: Volume Ceará. 2 Ed. rev. ampl..Florianópolis: CEPED UFSC, 2013. 2013b. UFSC. Universidade Federal de Santa Catarina. Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres. Capacitação em Gestão de Riscos: livro texto. 1 Ed. Porto Alegre: CEPED/ UFRGS, 2015. UNISDR. Oficina de las Naciones Unidas para la Reducción del Riesgo de Desastres. Marco de Sendai para la Reducción del Riesgo de Desastres 2015-2030. Disponível em https://www.unisdr.org/files/43291_spanishsendaiframeworkfordisasterri.pdf. Acesso em: 08 jun. 2019. Genebra, 2015. VALE. Companhia Vale do Rio Doce. Reparação e Desenvolvimento: Listas atualizadas. Disponível em http://www.vale.com/brasil/PT/aboutvale/servicos-para- comunidade/minas-gerais/atualizacoes_brumadinho/Paginas/listas-atualizadas.aspx. Acesso em: 02 abr. 2021. ANEXO ÚNICO – Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE) CATEGORIA (primeiro dígito) GRUPO (segundo dígito) Subgrupo (terceiro dígito) Tipo (quarto dígito) Subtipo (quinto dígito) 1. NATURAIS A categoria Desastres Naturais subdivide-se em cinco Grupos, treze Subgrupos, vinte e quatro Tipos e vinte e três Subtipos: 57 1.1 GEOLÓGICOS 1.1.1 Terremoto 1.1.1.1.0 Tremor de terra 1.1.1.2.0 Tsunami 1.1.2.0.0 Emanações vulcânicas 1.1.3 Movimentos de massa 1.1.3.1 Quedas, tombamentos e rolamentos. 1.1.3.1.1 Blocos 1.1.3.1.2 Lascas 1.1.3.1.3 Matacões 1.1.3.1.4 Lajes 1.1.3.2 Deslizamentos 1.1.3.2.1 Deslizamentos de solo e ou rocha 1.1.3.3 Corridas de massa 1.1.3.3.1 Solo/lama 1.1.3.3.2 Rochas/detritos 1.1.3.4.0 Subsidências e colapsos 1.1.4 Erosão 1.1.4.1.0 Erosão costeira/marinha 1.1.4.2.0 Erosão de margem fluvial 1.1.4.3 Erosão continental 1.1.4.3.1 Laminar 1.1.4.3.2 Ravinas 1.1.4.3.3 Boçorocas 1.2 HIDROLÓGICOS 1.2.1.0.0 Inundações 1.2.2.0.0 Enxurradas 1.2.3.0.0 Alagamentos 1.3 METEOROLÓGICOS 1.3.1 Sistemas de grande escala / escala regional 1.3.1.1 Ciclones 1.3.1.1.1 Ventos Costeiros (mobilidade de dunas) 1.3.1.1.2 Marés de tempestades (ressacas) 58 1.3.1.2.0 Frentes frias / Zona de convergência 1.3.2 Tempestades 1.3.2.1 Tempestade local/convectiva 1.3.2.1.1 Tornados 1.3.2.1.2 Tempestade de raios 1.3.2.1.3 Granizo 1.3.2.1.4 Chuvas intensas 1.3.2.1.5 Vendaval 1.3.3 Temperaturas extremas 1.3.3.1.0 Onda de calor 1.3.3.2 Onda de frio 1.3.3.2.1 Friagem 1.3.3.2.2 Geadas 1.4 CLIMATOLÓGICOS 1.4.1 Seca 1.4.1.1.0 Estiagem 1.4.1.2.0 Seca 1.4.1.3 Incêndio Florestal 1.4.1.3.1 Incêndios em Parques, Áreas de Proteção Ambiental e Áreas de Preservação Permanente Nacionais, Estaduais ou Municipais 1.4.1.3.2 Incêndios em áreas não protegidas, com reflexos na qualidade do ar 1.4.1.4.0 Baixa umidade do ar 1.5 BIOLÓGICOS 1.5.1 Epidemias 1.5.1.1.0 Doenças infecciosas virais 1.5.1.2.0 Doenças infecciosas bacterianas 1.5.1.3.0 Doenças infecciosas parasíticas 1.5.1.4.0 Doenças infecciosas fúngicas 1.5.2 Infestações/Pragas 1.5.2.1.0 Infestações de animais 1.5.2.2 Infestações de algas 1.5.2.2.1 Marés vermelhas 1.5.2.2.2 Cianobactérias em reservatórios 59 1.5.2.3.0 Outras Infestações 2. TECNOLÓGICOS A categoria Desastres Tecnológicos subdivide-se em cinco Grupos, quinze Subgrupos e quinze Tipos: 2.1 DESASTRES RELACIONADOS A SUBSTÂNCIAS RADIOATIVAS 2.1.1 Desastres siderais com riscos radioativos 2.1.1.1.0 Queda de satélite (radionuclídeos) 2.1.2 Desastres com substâncias e equipamentos radioativos de uso em pesquisas, indústrias e usinas nucleares 2.1.2.1.0 Fontes radioativas em processos de produção 2.1.3 Desastres relacionados com riscos de intensa poluição ambiental provocada por resíduos radioativos 2.1.3.1.0 Outras fontes de liberação de radionuclídeos para o meio ambiente 2.2 DESASTRES RELACIONADOS A PRODUTOS PERIGOSOS 2.2.1 Desastres em plantas e distritos industriais, parques e armazenamentos com extravasamento de produtos perigosos 2.2.1.1.0 Liberação de produtos químicos para a atmosfera causada por explosão ou incêndio 2.2.2 Desastres relacionados à contaminação da água 2.2.2.1.0 Liberação de produtos químicos nos sistemas de água potável 2.2.2.2.0 Derramamento de produtos químicos em ambiente lacustre, fluvial, marinho e aquíferos 2.2.3 Desastres relacionados a Conflitos Bélicos 2.2.3.1.0 Liberação de produtos químicos e contaminação como consequência de ações militares 2.2.4 Desastres relacionados a transporte de produtos perigosos 2.2.4.1.0 Transporte rodoviário 2.2.4.2.0 Transporte ferroviário 2.2.4.3.0 Transporte aéreo 2.2.4.4.0 Transporte dutoviário 2.2.4.5.0 Transporte marítimo 2.2.4.6.0 Transporte aquaviário 602.3 DESASTRES RELACIONADOS A INCÊNDIOS URBANOS 2.3.1 Incêndios urbanos 2.3.1.1.0 Incêndios em plantas e distritos industriais, parques e depósitos 2.3.1.2.0 Incêndios em aglomerados residenciais 2.4 DESASTRES RELACIONADOS A OBRAS CIVIS 2.4.1.0.0 Colapso de edificações 2.4.2.0.0 Rompimento / colapso de barragens 2.5 DESASTRES RELACIONADOS A TRANSPORTE DE PASSAGEIROS E CARGAS NÃO PERIGOSAS 2.5.1.0.0 Transporte rodoviário 2.5.2.0.0 Transporte ferroviário 2.5.3.0.0 Transporte aéreo 2.5.4.0.0 Transporte marítimo 2.5.5.0.0 Transporte aquaviário (BRASIL, 2020b).